Deeply Darker escrita por Malu


Capítulo 4
O fim de um longo dia; o início de uma longa jornada.


Notas iniciais do capítulo

Estou me demorando mais nesta parte da história por um único fator: sei para onde a história vai, mas ainda não sei o que vai acontecer agora. Então, tenham paciência pessoal, vai valer a pena.

Este é mais um capítulo explicativo, para muitos fatos, e aberto para novos rumos.

Aproveitem!



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— Snape - 

Ao entrar na cozinha, se dirigiu a ponta do lado esquerdo da mesa, sentando ao lado direito de um sorridente senhor Weasley, que contava algo que considerava engraçado aos filhos mais velhos, à sua frente. Dumbledore se juntou a eles, sentando-se no extremo do móvel, com Lupin ao seu lado.

Demorou alguns instantes para que Clarke e Black entrassem no cômodo, ela de olhos avermelhados e sorriso desconfortável. “Patético” pensou Snape, revirando os olhos.

       Os dois sentaram de frente um para o outro em lados opostos da mesa, próximos aos Weasley, seguidos por Moody e Tonks, que conversavam sobre o trabalho. Kingsley estreitava os olhos para Fletcher, da ponta da mesa, e atrás dele Dédalo e Estúrgio riam das piadas de Arthur.

— Sem mais demora. - Começou Dumbledore, ganhando rapidamente a atenção e o silêncio de todos.- Vamos começar nos apresentando à nossa mais nova convidada. Adhara, primeiramente, seja muito bem vinda. Sabemos que está passando por uma grande mudança e todos nós, da Ordem da Fênix, queremos que se sinta à vontade aqui na sede e conte com a nossa ajuda, no que for necessário.- Ele a encarava através dos óculos de meia lua.- pois, acima de tudo, esta também é a sua casa agora.- Ele disse sorrindo, e a garota apenas concordou, com um pequeno movimento da cabeça.

Snape percebeu o insistente vinco que se formava na testa dela, já prevendo que esta não seria uma reunião tão breve.

 

— Adhara -

 

Casa? Essa mansão, enorme e sombria, era agora a sua casa? E como assim, sede? O que é a Ordem da Fênix? Uma organização? Por que todos me conhecem?

Alguns minutos bastaram para que Dumbledore lhe explicasse o que era a Ordem e para que eles trabalhavam. Apresentou brevemente os membros e citou alguns que não estavam presentes. Explicou sobre suas missões e objetivos. Seu trabalho era muito complexo e minucioso, ela observou, tudo era pensado nos mínimos detalhes. Com tudo esclarecido, Adhara então se questionou o que fazia ali.

— É neste ponto, Adhara, que queremos sua especial atenção. É de extrema importância que você entenda o porquê de nossos esforços e dedicação neste grupo. Assim, você poderá entender os motivos de seu pai para ficar, visto que isso refletiu diretamente em você e em toda a sua infância.

Neste momento, ela olhou para Sirius, que se mexeu desconfortável em seu lugar. Ele havia ficado para lutar, cumprir as missões da Ordem. Não era menos doloroso para ela, nem aliviava o seu rancor, no entanto, agora ela compreendia melhor seus motivos. Ele queria um mundo melhor. E ela não pode evitar de pensar que, talvez em seu lugar, teria feito o mesmo.

Dumbledore continuou a explicar sobre a origem do problema atual, no qual eles se esforçavam em resolver. Contou tudo sobre o famoso Harry Potter, que era afilhado de seu pai e tudo que envolvia o Menino que Sobreviveu. A partir disso…as coisas começaram a ficar mais objetivas para ela.

— Depois de tudo isso Adhara, venho lhe pedir um grande favor, no qual eu e sua mãe conversamos através de cartas, antes de sua morte…

O que? Adhara não gostava nem um pouco do ritmo em que a conversa estava fluindo. Não parava de descobrir as muitas omissões de sua mãe. Olhou para as próprias mãos em seu colo, vendo o mundo ao seu redor girar e o ar ficar rarefeito, por um instante. Estava cansada demais para levar o raciocínio adiante. Antes que entendesse o que se passava, ouviu a voz, já conhecida, do bruxo duas cadeiras ao seu lado.

— Diretor, se me permite, acredito que não seja o momento ideal para tratar deste assunto. A senhorita Clarke e eu fizemos uma longa viagem e ela não dormiu durante todo o percurso. Me pergunto se a garota estaria em condições de pensar claramente…

Ela ergueu o olhar novamente, para notar todos virados em sua direção, menos Snape, que mantinha o olhar cruzado com Dumbledore, por um tempo estranhamente demorado. O diretor então disse:

— Você tem razão, Severo, me precipitei. Podemos tratar deste assunto em outro momento, certamente.

— Mas, se for importante, eu quero saber! Não há problema em me dizer agora, professor. - Adhara tentou se impor, levantando de seu assento, rápido demais, quebrando seu próprio argumento. Arthur Weasley foi rápido em ajudá-la em seu equilíbrio.

— A pobrezinha está exausta. - Disse a senhora Weasley, ao lado do marido, com um olhar cheio de preocupação.

— Eu a levarei para o quarto.- Disse Sirius, que parecia inquieto, já contornando a mesa.- Este assunto pode esperar pelo seu descanso. Não é nada urgente, por enquanto... - O homem olhou para o diretor, que deu um pequeno aceno em confirmação.

Ele sorriu ao ver a cara de insatisfação da filha, que não ousou discordar, mesmo a contragosto. Ele estendeu o braço para que ela segurasse e então a acompanhou, mansão adentro.

 

— Snape -

 

Assim que a silhueta dos dois desapareceu pela porta, Kingsley se dirigiu a Dumbledore.

—Alvo, tem certeza de que ela é capaz de fazer o que é preciso? Ela parece um pouco frágil demais para mim.

— Você deveria ter visto o que ela faz com sua casa, então.- Snape pensou alto (de mais para o seu gosto) sobrepondo a fala do bruxo e surpreendendo a muitos. Seria cansaço, com certeza, estava de saco cheio de toda essa perda de tempo com a filha de Aurea, ela certamente não aceitará a proposta. Ou pelo menos, ele contava com isto.

— Ela ainda está em luto, Quim. Entretanto, tenho total confiança de que ela é capaz, sim. Agora, Severo, pode nos contar o que você encontrou na casa que o fez mudar de opinião, exatamente?- Perguntou o bruxo, estendendo seu escrutínio sobre Snape.

— Nada. Pelo menos, não inteiro.- Os observadores expressaram não entendimento.- Estava tudo destruído. Ela quebrou os móveis, partiu as louças e deixou o papel de parede em pedaços. Havia marcas de sangue pelo espaço. Os únicos cômodos intactos, eram os quartos. Ela tem passado bêbada por esses dias, pelo que notei das garrafas vazias, além de não comer e nem dormir direito.- Todos na mesa pareciam chocados com a imagem da garota, que acabaram de conhecer, em um cenário como aqueles. Ela parecia saber se controlar, de fato, quando necessário.

— Tão jovem e já sofrendo tanto…- Suspirou Tonks.

— Essas marcas de sangue, ela estava ferida quando você chegou?- Perguntou Dumbledore, mais uma vez.

— Não. Como o senhor havia dito, ela parece ter alguma… habilidade em poções e feitiços de cura e revitalização, mesmo sem varinha. Ela também já conhece a oclumência…- Snape concluiu sua fala, ao mesmo tempo que também avaliava todos os fatos, repassados mentalmente. Detestava admitir seus arrependimentos, ainda mais em frente a tantas pessoas, mas ele não poderia negar nada do que disse sobre a garota. Ela parecia ter talento.

— Se alguém como você pode dizer isso sobre ela, Snape, então eu confio nesta decisão.- Não sabendo se levava a exposição de Shacklebolt como um elogio ou um insulto, optou por se calar e apenas esperar as instruções do diretor.

— Isso é bom. Muito bom, de fato. Ilvermorny me parece estar em boas mãos, pelo nível de magia que tem ensinado...- disse o diretor, pensativo, com o queixo apoiado em uma das mãos. - A mãe dela me contou algumas coisas muito úteis que Adhara poderá fazer por nós, já que possui destreza em cuidados de saúde. Papoula ficará radiante, tenho certeza.

      Depois disso, ele orientou que Snape começasse seus habituais relatórios sobre os recentes passos de Voldemort e tudo que ele planejava. Contou sobre o terror estabelecido entre os trouxas, as capturas recentes de antigos comensais, a caçada por Igor Karkaroff e as infinitas torturas de desgosto por ter perdido a profecia. Todos pagaram pelo erro de Lúcio.

 Enquanto falava, observou Black voltar a ocupar seu lugar na mesa. Passado algum tempo e algumas observações de Dumbledore, ele disse:

— Muito bem, acredito que tenhamos acabado por hoje, não? Severo, por favor, venha comigo, ainda gostaria de discutir alguns pontos.

         Snape já havia alcançado a soleira da porta, quando ouviu o pedido. Relutante, se virou e esperou pelo diretor. Juntos, os dois se dirigiram ao terceiro andar, para uma sala que Balck os garantiu ser segura de Monstro, o elfo enxerido. 

         Uma vez lá dentro, Dumbledore sentou-se em uma das velhas poltronas, perto de uma enorme janela que mostrava o céu cinza de Londres, e a admirou enquanto esperava Snape sentar-se ao seu lado, no sofá antigo de veludo. O cômodo lembrava um pouco a sala comunal da Sonserina em seus tons de verde e preto, porém, como se tivesse sido abandonada por algumas décadas. 

— Severo, eu preciso que você confie no plano inteiramente, para que ele dê certo.- Falou o diretor, sem tirar os olhos da janela, nem alterar seu tom sereno na voz. O bruxo sempre agia assim, como se soubesse de tudo, e isso incomodava o professor profundamente. Contudo, o homem nunca errara em seus palpites, desde que Snape se lembrava, o que era motivo suficiente para levar suas opiniões a sério.

— E o que, exatamente, o senhor espera que eu faça desta vez? Entende que minha posição e minha vida estarão sendo arriscadas duas vezes mais, não?- Respondeu ele ao diretor, massageando a testa em frustração.

    Não queria admitir que também estava exausto da viagem e que não gostaria, igualmente, de ter aquela conversa neste momento. Sabia, no entanto, conhecendo o velho bruxo como conhecia, que ele tinha planos para o futuro da pobre garota. Planos que, a julgar pela escolha de palavras e comportamento do bruxo à sua frente, ele conhecia bem. Dumbledore queria mais um peão em sua partida.

— Precisamos das informações que somente ela pode alcançar e você sabe disso muito bem. Não haja como se não concordasse que tudo isso facilitará todas as nossas previsões dos próximos passos de Voldemort e do que ele pretende para o futuro do mundo bruxo.

— E eu já lhe disse que, quando ele estiver planejando algo, se planejar, eu certamente saberei. Não vejo real necessidade em envolver Clarke nisso. Além do mais, ela poderia estragar tudo e comprometer o que tenho me esforçado, a muito tempo, para conquistar para você, ou será que não pensou nessa possibilidade?

— Ora, não esperava pelo dia em que veria você se compadecer por alguém assim Severo, fico feliz de ver que seu coração ainda não congelou. Aurea estaria orgulhosa.- O velho ofereceu a Snape um divertido sorriso; ele sabia que o comentário o deixaria irritado e o tiraria do rumo da discussão, desarmando-o. Depois de vários minutos em silêncio, Snape disse:

— Você já contou a Black o que pretende pedir a ela? Você sabe que, seguindo por esse caminho, estará levando Clarke na direção oposta do desejo da mãe, não?

— Ela disse que não poderia mais privar a garota de fazer suas próprias escolhas, escondendo dela a verdade dos fatos. Ela sabia que Adhara lutaria como o pai, pelos mesmos valores, e seu pedido foi que eu contasse à filha toda a verdade que ela havia deixado guardada, por tempo de mais, e que a protegesse.

— Mas você não dirá tudo e ainda arriscará a segurança dela, não é? 

— Tudo em seu devido tempo, meu caro amigo. Não queremos sobrecarregá-la.- Snape bufou, incrédulo sobre o que ouvia.

— E eu quem não tenho coração? Você vai manipular a garota como fez comigo.- Bradou, se levantando de seu lugar.

— Você fez o que fez por conta própria; você veio até mim e fez uma promessa!- Pela primeira vez o diretor olhou para Snape nos olhos.

— Minha promessa foi de proteger o filho de Lílian e não abrir uma creche!

— Você viu o que ela é capaz de fazer e a extensão de suas habilidades. Ela, certamente, não é mais uma criança.

— Pouco me importa o que ela sabe ou não fazer. Isso não irá protegê-la dos perigos que a envolverão, se aceitar sua proposta.- Snape passava uma das mãos pelos cabelos, em uma vã tentativa de acalmar seus nervos. 

— Mas você irá.- Respondeu o diretor, se levantando, dando sinais de que a conversa terminaria.

      Snape bufou. Era fácil para ele falar, não era a cabeça dele que estaria em uma bandeja de prata para Nagini, caso a menina cometesse um deslize. Às vezes, Snape se perguntava se Dumbledore realmente se importava com ele, ou se apenas fingia.

— Chamei você aqui para pedir que ensine a ela tudo que sabe. Não gosto de sobrecarregar você, sendo nosso único mestre em poções. Adhara é uma excelente pocionista e será seu braço direito na produção de nossos estoques, assim como ajudará Madame Pomfrey. Seus conhecimentos serão de grande valia para todos da Ordem que necessitarem de ajuda.

          Snape olhou no fundo dos olhos azuis do diretor, em uma última tentativa de fazê-lo entender o absurdo de seu plano. 

— Você viu o que fizeram comigo da última vez, Alvo… Ela pode sofrer apenas por estar perto deles.

— É a sua casa e são seus alunos, Severo. Tenho plena confiança de que você fará o seu melhor para orientá-la a como reagir, em momentos como este.

Após um prolongado silêncio, Snape questionou Dumbledore mais uma vez, num sussurro, como se temesse que as paredes os ouvissem.

— Contou a Black, sobre o que pretende, por inteiro? O senhor sabe que ele dificilmente aceitará os termos do acordo, não sabe? - O diretor virou-se para o professor novamente, sorrindo.

— Você já sabe ambas as respostas. 

Dizendo isto, Dumbledore se dirigiu a porta do cômodo, parando apenas para dizer:

—Ah! Se for de sua vontade contar a ela alguns detalhes do plano, ao longo dos dias, não se sinta contido por mim. Tenho certeza de que seria muito bom para conquistar a confiança dela.

—E por que a confiança dela me importaria?- Snape indagou irritado, olhando, em pé, a chuva que agora caía lá fora, com as mãos nos bolsos.

—Porque, se ela aceitar, vocês estarão juntos nisso e então, confiar um no outro não será mais uma escolha e sim uma necessidade.

    “Mas é claro. Sou um idiota por acreditar que teria alguma escolha, em qualquer momento”. Sua cabeça doía.

—Você já entregou a varinha dela?

—Ainda não.

—Experimente começar por aí.

     O diretor havia partido a algum tempo, até que o homem notasse que ficara ali, parado, tempo de mais. Seguiu então para o corredor e, ao se aproximar da escadaria, lembrou-se que devia devolvê-la outra coisa também e pensou que esse seria o momento ideal, já que ela provavelmente estaria dormindo.

         Resolveu, então, ir para o andar de cima. Chegando no terceiro andar, teve certeza que Adhara estava em um daqueles quartos, pelo cheiro de mel e limão que pairava no ar. O porquê de ele ter guardado a informação do seu cheiro, ele desconhecia. “Não poderia ser menos adorável”, ele pensou, se esforçando para mudar o rumo de seus pensamentos.

Parou em frente a porta, estendeu sua mão direita e nela, labaredas de fogo azul se acenderam, e ao se apagarem, deixaram em seu lugar uma pequena carta e uma varinha escura de azevinho, que ele pretendia passar por baixo da porta de mogno escuro.

— O que você pensa que está fazendo?- Bradou Sirius, de trás dele, empurrando-o contra a parede e sacando a varinha para apontá-la à garganta do bruxo.

— Me poupe da sua imbecilidade, Black. Vim apenas, a pedido de Dumbledore, devolver alguns itens que pertencem à Clarke.- Disse Snape, empurrando Sirius para trás, sacando sua própria varinha.

— Ela é uma Black, ranhoso!

— Ora, diga isso a ela, então. Tenho certeza que ela concordará em ser chamada pelo nome de seu querido pai, que a abandonou, ainda bebê com uma mãe solteira!

— Os senhores poderiam fazer a porcaria do favor de parar com essa discussão ridícula?- Disse uma jovem irritada, escancarando a porta do quarto, sem cuidado e avançava em direção aos dois. 

Adhara estava no meio deles, separando-os, vestindo uma camiseta surrada e comprida de mais, junto de uma bermuda de algodão e meias díspares. Seus cabelos revoltos e selvagens.- Se vocês dois querem se matar e agir como crianças, por mim tudo bem, eu pouco me importo, mas façam isso longe da minha porta! — Falou em um tom de voz que contrariava as leis da física, por sair tão forte e áspero, de um ser tão pequeno. Os dois bruxos estreitaram os olhos mutuamente, pensando a mesma coisa, sem saber.

      Nisso, Adhara encarou um e depois o outro, esperando que se mexessem. Em silêncio, Sirius se moveu para o lado, indicando para que Snape saísse primeiro. O professor, no entanto, limpou a garganta e disse em um tom anormalmente baixo e polido.

— Me permitiria um instante?- Havia um claro desconforto em seu tom, quando ele olhou para a garota, em sua melhor postura de superioridade. Adhara e Sirius olharam para ele ao mesmo tempo, com exatamente a mesma expressão de confusão.

Antes que Sirius pudesse cuspir qualquer comentário ácido, Adhara colocou uma mão no ombro do pai e indicou que ele os deixasse e que estava tudo bem. Relutante, Sirius olhava de um para o outro.

— Estarei em meu quarto, se precisar.- Disse ele, batendo a porta logo depois de entrar, fazendo-se ouvir, pela casa inteira, de propósito.

— Ele estará ouvindo atrás da porta, não é?- Adhara perguntou em um tom divertido para o outro bruxo, o que deixou-o ainda mais desconfortável. Era incomum que as pessoas parecessem se divertir perto dele.

— Sem dúvidas.- Ele mirou a varinha para a porta do bruxo e murmurou algum feitiço inaudível, silenciando-os.

— Certo.- A jovem cruzou os braços e ficou de frente para o professor.- O que o senhor quer agora? Achei que seu principal objetivo era se livrar do encargo que era me escoltar.- Snape observou o divertimento sumir da voz da garota, que agora voltara a carregar sarcasmo e aspereza. O bruxo respirou fundo, antes de começar.

— Dumbledore me pediu que lhe entregasse isto.- Ele estendeu o par de itens em sua mão para a garota. 

—Como conseguiu minha varinha?- Perguntou ela, feliz e desconfiada na mesma medida. Snape considerou não responder, virar em seus calcanhares e ir embora, mas então lembrou de sua conversa anterior com o velho bruxo…

—Fui a Ilvermorny, antes de buscá-la. O diretor tem sua rede de contatos e neste continente, os bruxos menores de idade podem permanecer com suas varinhas, desde que não a utilizem fora da escola ou sem a supervisão de um responsável, em casos extremos.- Respondeu ele, em um tom monótono.

— E por que o senhor não me entregou durante a viagem?

        Ali, ela notou pelos seus olhos negros que havia esgotado a paciência do homem, quando ele finalmente passou por ela em direção a escada. Ela segurou o braço dele neste instante. O gesto pareceu ser feito de modo automático, porém, resultou em um desconforto enorme para ambos. Snape se virou para ela e deu um passo buscando distância, se libertando do contato inesperado.

— Me desculpe, senhor… E obrigada…por tudo que tem feito por mim…- A jovem apressou-se em dizer e lhe ofereceu um pequeno sorriso.

         “Mais uma vez, não foi como se eu pudesse escolher não fazer o que o velho pediu.” Ele pensou, analisando as palavras da garota, em busca de algum sinal de mentira em suas intenções. Não os encontrou.

 

—Narrador-

 

         Para sua total surpresa, o professor voltou a se aproximar e então buscou algo no bolso interno de sua enorme capa. Ela quase se afastou. Snape não era tão alto quanto Sirius, mas, de perto, ela precisava erguer a cabeça consideravelmente para encará-lo. Ele lhe estendeu, então, um objeto retangular de tamanho pequeno. Um porta retrato. O último que restara da sua destruição. 

— Pensei que, no futuro, em melhores… condições emocionais, você se arrependeria de não ter nenhuma lembrança.- Ele não esperou por resposta ou agradecimento, pois o profundo azul de seus olhos transbordavam lágrimas silenciosas, de todos os sentimentos que ela havia trazido em sua mala, da vergonha, da sensação de fraqueza e inutilidade. Ele tinha razão, ela se arrependera.

—Vá dormir, Clarke. - E dessa vez ele apressou seus passos pela escada, apenas para ouvir uma baixa e chorosa voz, vinda de suas costas, murmurar um “Obrigada, senhor”. Ele assentiu com a cabeça, sem olhá-la, e seguiu seu caminho. Adhara fez o mesmo.

           Colocou os outros objetos na mesa do quarto, afundou-se em sua nova cama, abraçada ao retrato e adormeceu minutos depois, com o rosto manchado de saudade e tristeza. O dia amanhecia lá fora, no entanto para ela, tinha finalmente terminado.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram?



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