Deeply Darker escrita por Malu


Capítulo 3
Largo Grimmauld, 12


Notas iniciais do capítulo

Tenho me dedicado bastante nessa história pessoal. Espero realmente que gostem.

Boa leitura.



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— Snape -

A viagem foi mais suportável do que o previsto, por ambos.
Depois de aparatarem, Snape pensou que a garota reclamaria por tê-la submetido a péssima experiência de ser pega de surpresa; no entanto, nada. Ao chegarem ao destino, ela tinha apenas uma expressão de enjoo e desconforto no rosto, mas não disse nada. Ele quase se importou em perguntar...quase.
Uma vez no cais, combinado com o transportador, ele parou ao lado do lugar marcado e fitava o céu em busca de algum sinal. Snape poderia dizer que os pensamentos da jovem gritavam para fora de sua cabeça, sem nem olhar para ela. Entrou então no jogo, não diria nada sem que ela perguntasse. E ela o fez.

— Posso perguntar ao senhor se procura por algo no céu ou se apenas o admira por fazer sol, professor? - Ela tentou, claramente, parecer tão sarcástica quanto ele. O bruxo sorriu com escárnio.
— Você faz realmente questão de ser irritante, não é mesmo?
— Somente com quem me irrita, senhor. - Dizendo isso, ela olhou para o céu atrás dele.

Uma carruagem, enorme, em plena Manhattan, diminuía a altitude e se desfazia de sua camuflagem, até chegar a alguns passos de distância dos dois. Um bruxo de cabelos ruivos mal cuidados, olhos castanhos, vestes esquisitas e um cachimbo que fedia a meias velhas desceu da condução. Parecia tudo, menos confiável.

— Está atrasado, mais uma vez, Fletcher. - Pontuou um Snape irritado.
— Ora, mas se Dumbledore tivesse me dito que a carga seria uma moça tão bonita, eu certamente teria dado meu jeito de chegar antes, professor. - Respondeu Mundungo, olhando sugestivamente para a garota, que apenas revirou os olhos e ignorou a provocação do bruxo, depois de corar levemente nas maçãs do rosto.
— Mais uma palavra sua, sobre qualquer coisa, que não seja estritamente sobre a missão, que tenha relevância verdadeira... - Ameaçou o professor, em um tom baixo e cortante, aproximando-se a cada palavra do bruxo que agora se encolhia levemente. -- ...e Dumbledore saberá exatamente o que tem escondido no Largo, que Molly Weasley ainda não descobriu. Fui claro?

Um rubor subiu pelo rosto do bruxo desengonçado, enquanto o mesmo afirmava com a cabeça. Adhara precisou de toda a sua força de vontade para não gargalhar com a cena. Snape  então entrou na cabine, depois de deixar a bagagem de Adhara com o bruxo. A garota não conseguiu, no entanto, segurar uma risada na hora em que ele mostrou a língua para as costas do professor. Comprimindo os lábios no momento seguinte, quando o mesmo virou para ver o que acontecia.

— Faça o favor de não torrar o que resta da minha paciência e entre logo, Clarke.
— Sim, senhor.- Respondeu Adhara.

Mundungo ria baixinho consigo mesmo, e quando a bruxa subia as escadas, pronunciou um "chato" não sonoro,  e sorriu, piscando para ela em seguida.

Nas duas horas que se passaram, ao contrário da expectativa dele, nada foi dito. O que deveria ser um alívio. Mas, ao invés disso, apenas despertou sua curiosidade. Adhara tinha sentado de frente para ele e apoiava a cabeça na lateral da cabine. Seus cabelos, como os de Black, caiam aos ombros, escuros e ondulados. Sua pele tinha um aspecto bronzeado, como a mãe. Tinha, também, as mesmas sardas, reparou o bruxo. Ela aparentava cochilar, mas sabia que ela estava acordada e, novamente, poderia ouvir seus pensamentos, se quisesse. E ele poderia de fato, pensou.

Se ele tentasse, ela nem notaria, nem saberia que alguém teria passado por ali, não haveriam vestígios, confiava em suas habilidades para isso. Então se concentrou e estreitou os olhos, fixando sua visão na garota e, de repente...nada. Ele entrara mas não via nada; ela sabia blindar a mente. Foi suficiente para chocá-lo e, consequentemente, ser pego em sua artimanha.

— O senhor não pensou realmente que eu deixaria minha guarda baixa, para que qualquer um entrasse em minha privacidade, apenas porque Alvo Dumbledore escreveu que era confiável, não? - Sua voz era baixa, mas as palavras eram afiadas, com a intenção direta de envergonhar Snape.- Aprendemos as artes da mente em Invermorny, como atividade extra.- Esclareceu ela, erguendo a cabeça, agora com os olhos azuis brilhando em desafio, bem abertos.

Snape sustentou o olhar por um breve período, considerando se valia a pena começar essa disputa. Decidiu por respirar fundo, conjurando uma edição do Profeta Diário que havia trazido em suas coisas, e continuou sem dizer nada, mesmo que ela continuasse a encará-lo. O que ela esperava? Que pedisse desculpas? Certamente ainda tinha muito o que aprender do mistério que era o professor.

Depois disso, o tempo passou rápido. Ocasionalmente Adhara perguntava uma coisa ou outra sobre Hogwarts, nada muito significativo, mas já era o suficiente para perturbar a paz de espírito do professor. Então, com um simples aceno da varinha, uma edição antiga e surrada de Hogwarts: uma história apareceu no lugar ao lado da jovem. Snape murmurou um "Fique com isto e não me incomode mais" e voltou a ler seu jornal.
A verdade é que a curiosidade da garota e sua perspicácia eram tamanhas, que Snape não lembrava a resposta para todas as dúvidas, e não querendo revelar isso a ela, apenas entregou sua edição do livro que continha todas as respostas necessárias, por enquanto.

Chegaram a Inglaterra horas depois, camuflados pelo breu noturno. Mundungo os deixou em um beco, algumas ruas antes do Largo.

— Adhara -

    Quando desceu da carruagem e pegou sua mala, olhou ao redor. Estava escuro, mas era fácil reconhecer a arquitetura da cidade. Ela havia imaginado que iriam para Hogwarts de trem, depois que chegaram nos arredores de Londres. No entanto, Snape seguiu para o lado contrário da direção da estação. Então, não podendo se conter, perguntou ao professor.

— Para onde estamos indo, professor?
   
O bruxo suspirou fechando os olhos, concentrando tua a sua energia em não perder a calma, pinçou a ponte do nariz adunco e virou-se para a garota, olhando ao redor e se fazendo ouvir o mais baixo que conseguia.

— Lembra-se do endereço escrito na carta do professor Dumbledore?
   
Ela então puxou a carta do bolso do jeans que usava e olhou rapidamente para o fim da página, onde se encontrava a observação "Largo Grimmauld, número 12". Em um movimento inesperado, Snape pegou a carta com indescritível agilidade e a desfez em brasas azuis em sua mão.

— Ei, isso era meu! Haviam informações importantes aí! - Bradou Adhara, incrédula com a atitude do professor.
— Haviam mesmo! - Respondeu Snape, de punhos e dentes igualmente cerrados.-  Subestimei a sua burrice, pensando que não manteria uma informação confidencial, de tamanha importância, em um lugar de tão fácil acesso.- Seu tom era baixo, porém suas palavras eram capazes de queimar mais que a brasa que sumiram por entre seus dedos.
— E no que isso te dá o direito de pegar algo que é meu? Eu nem sabia que era confidencial! - Ela gesticulava, em vão, pois o bruxo já havia tornado a seu caminho e não parecia dar a mínima importância para o que ela dizia.
— Então sua capacidade de dedução é tão precária quanto o imaginado.- Ele murmurou, virando para uma rua à direita.

"O senhor deve ter pensado muito em mim, visto que tenho quebrado tantas expectativas, não?", ela pensou e revirou os olhos, irritada. Seguiu o homem, puxando seu malão, por mais algumas ruas, com bons passos de distância, estabelecidos de propósito pelo bruxo. Apenas para chegar em um aglomerado de pequenos prédios, que ia de esquina à esquina, todos parecendo cópias idênticas uns dos outros.
Parou para admirar a imponência da construção e sua arquitetura, muito diferente da de seu antigo país, Sem que tivesse tempo para observar mais da sequência admirável das construções, foi puxada pelo ombro por um, nada delicado e ranzinza, Snape. Não notara que estava parada no meio da estrada, boquiaberta e estarrecida, como uma boba.

— Quer fazer a bondade de preservar o mínimo de discrição que ainda estamos tentando manter, garota idiota? - Sussurrou ele, não aliviando o peso de sua mão e conduzindo Adhara para o limite entre dois portões.

Ela corou por parecer uma completa descuidada, mas ainda não entendia o que estavam fazendo ali. Ao se aproximarem da divisão entre as construções, sua cabeça já havia trabalhado nas muitas possibilidades por ela e então, se deu conta."O feitiço fidelius?", pensou, já se concentrando na lembrança da informação que fora lida na carta para comprovar sua teoria. E, como um despertar, as construções começaram a se mover, revelando mais uma cópia entre as portas de número 11 e 13. Sorriu satisfeita consigo mesma.

— Às vezes, usar o que chamamos de cérebro, pode vir a dar bons resultados.- Disse Snape, soltando, enfim, a garota com uma expressão beirando ao divertimento, por ver o rosto admirado de Adhara para a mansão que se erguia diante de seus olhos.
   
Assim que a mão de Snape a libertou de seu aperto e se afastou, Adhara sentiu outro apoio no lugar, dessa vez quente e cuidadoso. Estranhando a sensação, virou-se para encarar o professor, já pronta para perguntar alguma coisa, que esqueceu no exato momento em que se deparou com uma expressão de total desprezo e amargura que o bruxo apresentava, olhando para trás da jovem. Com um salto ela se afastou e olhou para o dono da voz forte que se pronunciara a suas costas.

— Você deveria ouvir seu próprio conselho, Ranhoso. - Disse um, agora visível, homem de cabelos castanhos e olhos acinzentados; azuis como os dela.
   
Ele era muito mais alto que Snape e suas feições eram consideravelmente mais agradáveis. Sua pele era de um tom pálido e frio, como se não visse a luz do sol a anos, e seu corpo era magro e debilitado como se tivesse adoecido. Entretanto, seus olhos não mentiam, nem seu nariz, nem seu cabelo e nem seu sorriso, que carregava um calor indescritível. Um calor que agora a abraçava. Era lindo.

— Esperei tanto tempo por este momento, pequena. - Haviam lágrimas em seus olhos, quando ele a envolveu em seus braços.

Era ele. Sirius Black. Seu pai. Não havia dúvidas. Qualquer um que passasse por eles saberia a verdade. E isso a assustou. Sua mãe convivera tanto tempo com uma pequena cópia do homem que a deixou, vendo nela os olhos, os cabelos e o nariz dele, todos os dias. O homem que escolheu uma guerra ao invés de sua família. O homem que não tivera coragem de fazer mais por elas do que escrever meras cartas.
Uma fúria desconhecida cresceu em seu peito. Adhara não entendia o que estava acontecendo. Ele deveria estar preso em Azkaban. A jovem, tampouco, entendia o porquê daquele sentimento que borbulhava seu sangue e embrulhava o seu estômago. Queria gritar, queria azará-lo, queria culpá-lo por todos os anos de mentiras que sua mãe manteve para protegê-lo aos olhos dela. E a troco de que?

Pensando nisso, respirou fundo e se afastou do caloroso enlace, confusa sobre como deveria se sentir naquele momento, sem erguer a cabeça em sua direção em momento algum, sabia que encontraria um espelho em seu olhar, capaz de afogá-la em sentimentos dos quais ela não poderia lidar, não alí. Então, se dirigiu à Snape.

— É aqui que devo me hospedar, professor?
   
Snape, que parecera antes desconfortável, a olhou nos olhos, com uma expressão de surpresa e confusão, que logo se transformou em algum tipo de divertimento quanto ele olhou para um Black estarrecido, não conseguindo conter um meio sorriso carregado de satisfação e maldade. Ele voltou sua atenção para a jovem e deu um breve aceno, caminhando em direção a entrada e gesticulando para que ela entrasse em seguida. "Esse  ar de arrogância lhe parecia tão natural", pensou Adhara.
"Ela é realmente filha de Aurea, ainda pode haver esperança", o professor pensou, fazendo uma anotação mental sobre o fato, enquanto abria a enorme porta do hall com uma simples magia sem varinha.

— Ora Sirius, quantas vezes já não conversamos sobre você sair desse jeito de casa? Dumbledore ficaria doido se soubesse que você anda se descuidando assim e se continuar desse jeito, eu vou contar a ele, estou te avisando pela última v...- Com uma pausa abrupta, um homem de cabelos cor de palha parou ao pé da escada, finalmente erguendo o olhar para perceber que não era seu amigo parado à porta.
— Ele ainda está lá fora e Dumbledore já sabe. Eu contei a ele quando avistei Black perto da estação ontem a noite e ele me disse que já estava ciente e que Minerva também já o havia encontrado dias atrás vagando por Hogsmeade, o que indica que esteve aparatando, sem avisos, igualmente. Imprudente e presunçoso como sempre.- Snape perdera a expressão de satisfação, reunindo, no lugar, todo nojo e desprezo que conseguira,  enquanto continuava seu caminho até o final do longo corredor a frente.- Faltam muitos?- Ele perguntou, com a mão na maçaneta da última porta.
— Não, a maioria já chegou, estávamos à espera de vocês.- Respondeu o bruxo, que não tirara o olhar assustado de Adhara. Decidindo por se mover finalmente, estendeu a mão para a jovem e ofereceu um sorriso acolhedor.
— Sou Remo Lupin, amigo de seu pai. É um prazer conhecê-la, Adhara.- Estranhamente ele já conhecia o seu nome, no entanto, mais estranho foi ouvir alguém falando de seu pai daquele jeito: comum.

Certamente não estava acostumada com esta sensação. A julgar pela sua recém descoberta semelhança com Sirius, era fácil entender porque todos a reconheciam, todos pareciam saber mais da sua vida do que ela mesma, e isso a deixava ainda pior. Afastando o sentimento que insistia em voltar a sua garganta, estendeu a mão de volta para o homem, decidindo por ser o mais agradável possível.
    
Logo depois, a porta atrás dela abriu de novo para revelar uma bruxa de cabelos rosa berrante e ar juvenil, seguida de um homem aterrorizante, coberto de cicatrizes, mancando em uma das pernas e de olhos díspares, um muito maior que o outro olhava em direções aleatórias e diferentes do outro que focou no rosto da jovem assim que entrou, analisando cada traço de seu rosto.

— Ora, vejo que já estão todos aqui, então. Menos mal. Venham logo para a cozinha, não temos todo tempo do mundo.
— Vá com calma, Moody. Eles acabaram de chegar. Adhara, estes são Alastor Moody e Ninfadora Tonks.- Disse Lupin, em uma tentativa de fazer a garota se sentir menos alheia.
— Remo eu já lhe avisei, não me chame de Ninfadora! É Tonks! - A bruxa de cabelos, até então rosa, trocou seu padrão para vermelho vivo e Adhara entendeu que era então uma metamorfomaga, achando o fato incrível, pois nunca havia conhecido um.
   
Ela, que estava incomumente quieta, sorriu para Tonks, que lhe deu uma piscadela divertida antes de olhar para o bruxo mais velho e então de novo para a porta.

— Vá buscá-lo Tonks, precisamos dele na reunião. Dumbledore deve chegar em pouco tempo. Ele pode se lamentar pelos cantos em outra hora.
  
Tonks assentiu e se dirigiu para fora do hall, não sem antes olhar de novo para a jovem e sorrir de forma empática. Será que deveria ir atrás dela? Devia ir atrás dele?. Ela não sabia até que ponto conseguiria manter a compostura, estava muito cansada depois da longa viagem e das muitas turbulências vividas nos últimos meses.
Adhara olhou então para a bagagem em sua mão, e antes que pudesse fazer a pergunta, Remo a respondeu.

— Ah, que falta de noção a minha! Me siga Adhara, vou lhe mostrar onde vai ficar e pode deixar sua mala lá.- Disse, já subindo novamente as escadas.

Ela subiu os quatro lances, logo atrás de Lupin, observando os infinitos quadros na parede, todos cobertos e os detalhes da casa, que mais parecia um museu mau cuidado. Até que ele parasse no terceiro andar, de frente para duas portas.

— A sua é a da esquerda. Sirius cuidou para que você tivesse o máximo de conforto possível. Sabemos que é difícil estar em um lugar novo e mudar de vida tão de repente.- Ele disse, oferecendo a ela outro sorriso acolhedor.- Fique a vontade, mas não se esqueça que te esperamos lá embaixo, na cozinha, sim?  Dumbledore pediu que você participasse da nossa reunião de hoje.
— Muito obrigada, descerei logo.- Respondeu ela, meio sem jeito, sem saber ainda como se portar, deixando clara a sua intenção de ficar sozinha por um instante. A única coisa que realmente queria era se deitar e esquecer de tudo, fugir da sua realidade. Estava realmente exausta.

Apenas colocou seus pertences ao lado da enorme cama e deitou-se, olhando para o teto; sabia que devia descer logo, mas se permitiu analisar o espaço reservado a ela. Os móveis eram todos de um mogno escuro e as paredes eram enfeitadas por um verde escuro que estava em toda a parte. O cômodo estava muito mais limpo e arrumado do que o resto da casa, com toda a certeza.
Havia uma escrivaninha à esquerda da entrada, seguida pela cama e, à frente, em grande guarda-roupas. Tinha também uma estante com alguns livros, de lombadas pretas, verdes e marrons, ao lado da pequena janela no canto mais distante do quarto. Certamente pertencia a alguém. Adhara perguntou-se quem seria e porque havia sido arrumado para ela.
Antes que pudesse pensar mais sobre suas muitas dúvidas, se lembrou que devia descer para a tal reunião. Ao se levantar, ouviu uma batida em sua porta, imaginando que fosse Remo, dizendo que se demorara. Correu apreensiva para abri-la, com medo de ser repreendida.

— Ah, olá querida! Sou Molly Weasley. É um prazer conhecê-la, mas lamento dizer que devemos nos apressar, Dumbledore já está aqui. - Disse uma animada mulher de cabelos muito ruivos, que usava um avental de flores e tinha nas maçãs do rosto um leve rubor. Se parecia com a sua avó, pensou ela.
— Sim, senhora. - Respondeu Adhara, fechando a porta atrás de si para segui-la. Só então pode-se notar a sigla gravada na madeira escura R.A.B. Guardou a informação no fundo de sua mente para perguntar a alguém sobre ela mais tarde.

Ao chegarem no final do corredor central no térreo, quando a senhora Weasley entrava na cozinha, Adhara pôde ouvir seu nome em uma conversa que acontecia ao lado direito do corredor, em uma pequena sala que tinha uma fresta entreaberta. Snape, Sirius, Remo e outro bruxo, mais velho e dono de uma longa barba prateada, conversavam em um tom nada tranquilo sobre ela.

— Devo concordar com Sirius, professor. Ela ainda é muito jovem e essa missão exigiria muito dela, ainda como estudante. - Disse preocupado Remo, de braços cruzados, encarando o amigo ao seu lado.
— Se me permite, diretor. Eu, para minha total surpresa, também concordo com a opinião de Black, desta vez...- Respondeu Snape, com um ar enojado.
— E quem você pensa que é para achar alguma coisa sobre a minha filha, Ranhoso? - Bradou Sirius, com um olhar furioso.

Snape foi tomado por um rubor incandescente e já se dirigia com o dedo em riste para o homem à sua frente, quando o bruxo mais velho ergueu a mão, os dois paralisaram onde estavam, trocando olhares de mútuo desgosto.

— Lembro-me de já ter pedido para ambos pararem com essas provocações, pelo bem da Ordem, não? Além disso, acredito que, a essa altura, ela já pode responder por si mesma.- Ao terminar sua fala, o professor, que Adhara tinha certeza ser Alvo Dumbledore, olhou diretamente em seus olhos. Fora descoberta.

Julgando ser inútil se esconder agora, Adhara deu um passo à frente e abriu mais a porta do cômodo, se fazendo visível aos outros três.

— Peço desculpas, professor. Ouvi meu nome e não pude evitar...- Ela sentiu suas bochechas arderem e olhou para baixo, envergonhada.
— Claro que não pôde. - Snape revirou os olhos.
— Eu estou lhe avisando! Fale com ela mais uma vez neste tom e lhe arrasto para fora da minha casa pelo nariz, Snape.- Disse Sirius, quase cuspindo o nome do homem.

Adhara achou a cena engraçada. Eles pareciam duas crianças que discutiam por um brinquedo. Não tinham noção do quão infantil pareciam, daquele jeito?

— Não posso deixar de concordar com você, minha cara.- Dumbledore sorriu.- E não se preocupe, a curiosidade não é nenhum pecado, quando moderada.- Ao dizer isso, direcionou um rápido olhar para Snape, que desviou o contato e, mais uma vez, enrubesceu.- Além do mais, também não é certo que falemos do seu futuro sem sua presença, de fato.

Ele a ouviu? Pensara alto? E como assim seu futuro? Por que isso importava, e ainda mais, por que isso era tema da conversa entre eles? Não havia nada de surpreendente em seu futuro, tinha certeza. Seria monótono e comum, como sempre fora toda a sua vida. Não?

— Tenho certeza de que a senhorita tem muitas perguntas, depois de tudo que passou nestas últimas semanas e, sobretudo, depois de descobrir tanto sobre sua própria história. Lhe asseguro de que tenho a resposta para a maioria delas. No entanto, precisamos nos apressar para a reunião agora, sim? - Ele a olhou através dos óculos de meia lua, em sua serenidade.
— Claro, senhor.- Respondeu Adhara, saindo do caminho para que os bruxos pudessem passar.

Um a um, saíram em direção a cozinha, primeiro Dumbledore, seguido de Lupin e Snape, que passara por ela como se não existisse. Por fim, apenas Sirius havia ficado para trás e antes que ela pudesse fugir dele de novo, ele a segurou pelo braço. No azul de seus olhos ela pode notar medo e incerteza.

— Você não deveria estar em Azkaban? - Foi apenas o que ela conseguiu dizer com o nó que se instalara em sua garganta e cérebro.
— Adhara...- O bruxo disse num suspiro.- Entendo que não queira falar comigo por agora, mas preciso que saiba que eu lamento muito por todos esses anos. Me arrependo a cada instante da decisão que tomei de ficar.
— Seu arrependimento não conserta nada, senhor. Devia ter pensado nas consequências de suas escolhas quando teve a chance, e eu soube que teve algumas.- Adhara respondeu, amarga, recusando-se a encará-lo. Seus olhos seguravam suas lágrimas e  suas palavras estavam cheias da dor que sentia.
   
Então, hesitante, Sirius afrouxou sua mão do braço da garota, apenas para substituí-la por um abraço, mais caloroso e cheio de sentimento do que o de antes.
Desta vez, estranhamente, ela não queria se afastar, pois sentiu alguma sinceridade em suas palavras e em seu cuidado. Era difícil não se deixar conquistar pela ideia de não estar mais sozinha no mundo, como se sentia. Era tentador imaginar que ainda havia alguém que olhasse por ela. E ele estava ali, demonstrando a cada segundo que realmente se importava, que estava, de fato, arrependido por tê-las deixado. Por isso ela o abraçou de volta.

— Você pode me chamar de Sirius, por enquanto.- O bruxo disse, com um sorriso brotando de seus lábios, enquanto segurava o rosto da filha em suas mãos e lhe enxugava as lágrimas. Ela apenas assentiu e rumou para a cozinha. Já haviam demorado de mais para a reunião.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima, pessoal!



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