Deeply Darker escrita por Malu


Capítulo 2
Um estranho em minha porta


Notas iniciais do capítulo

E ai pessoal? Espero que estejam bem.

Quero deixar claro que estou ciente da minha demora para postar os capítulos das duas histórias que tenho em andamento, mas peço a paciência de vocês, pois tenho escrito as duas com muito carinho e atenção, para deixar os fatos mais inteiros quanto possível e para manter a fidelidade com os acontecimentos dos livros originais, claro.

Esse é o capítulo mais longo que já escrevi. Se trata de uma cena cheia de detalhes e muito importante para a ligação entre os personagens. Espero que gostem! Boa leitura.



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Aurea não podia acreditar. Dumbledore lhe enviara uma carta. Estavam mortos, os Potter haviam morrido, e o pior, Sirius fora o culpado, ou pelo menos acusado. Aurea se recusava a acreditar. Tinha quase certeza de que ele não faria isso. Teria sido vítima de uma maldição imperius? Teria sido ameaçado de alguma forma? Não. Nunca faria isso, mesmo à beira da morte, Sirius preferiria morrer. E ela também preferiu que ele tivesse morrido naquele dia.

Alguns anos se passaram e Adhara crescia rapidamente, cada vez mais parecida com o pai. De personalidade ousada e rebelde, não poderia lembrar mais o homem que Aurea nunca esquecera. Ela se culpava disso constantemente, enquanto a filha crescia e perguntava dele, enquanto seus pais a perguntavam dele, enquanto seus amigos perguntavam sobre o seu misterioso e desconhecido amor.

A verdade é que ela nunca aceitara o destino que o havia envolvido. Tentou por meses a fio, secretamente no ministério americano, descobrir qualquer coisa que lhe desse esperanças de, um dia, livrar Sirius de Azkaban, sem nunca obter sucesso.

Quando Adhara fez onze anos, Aurea pensou em levá-la para a europa e permitir que a filha frequentasse Hogwarts, porém teve medo de que, ao conviver no mesmo lugar que Black, descobrisse que a mãe havia escondido por todos esses anos quem era e o que fizera seu pai. Conseguira enrolar a garota por tempo demais, inventou uma história de que ele as amava muito, no entanto lutara na guerra e nunca pôde voltar. A garota claramente não achava que fosse só isso, porém se satisfazia com o pouco que conseguia tirar da mãe sempre que ela dizia que a garota era como o pai, pois ela sempre acabava irritada depois das longas conversas que a filha a entrevistava sobre ele, e Adhara podia ouvi-la chorando pelos cantos após todas as vezes.

O que Aurea não sabia, era que depois de ter entrado para Ilvermorny, em seu segundo ano, sua mãe, cansada de ver a própria filha se enrolar em tantas mentiras, contou a garota quem era seu pai, também omitindo o seu destino final. Tudo que Adhara sabia era que Sirius havia sido impossibilitado de voltar e que era obrigado a viver escondido. Aurea agradeceu mentalmente a Deus quando a menina parou de perguntar sobre o homem. Tudo ia bem. Ou pelo menos ela assim pensava.

Aos dezesseis anos de Adhara, durante suas férias de verão, sua mãe adoeceu rapidamente, depois de uma batalha com um foragido do Ministério. Qualquer que fosse o feitiço jogado contra ela, era muito forte que evoluiu para uma complicação no pulmão e ninguém soube o que havia acontecido. No entanto, a doença se desenvolveu altamente contagiosa e acabou tomando também os seus avós. No dia 02 de junho daquele ano, Aurea morreu nos braços da filha, respirando fracamente, dizendo que a amava, lhe entregando uma carta escrita em um pergaminho amassado.

Seus avós, que já estavam em um coma profundo a duas semanas, não duraram muito mais depois de sua mãe. Adhara tinha ido aos seus leitos e chorado na poltrona entre os dois, falando que tinham sido ótimos cuidadores e ótimos pais, dizendo que sabia que era muito amada por eles e que entendia se eles não quisessem mais viver. Ela sabia, no fundo, que eles apenas suportariam a morte da própria filha por causa dela e não queria isso. Eles saíram do próprio país por elas, mudaram de vida, deixaram tudo que tinham. Ela não achava justo.

Sua mãe deixou alguma quantia em dinheiro para ela. Foi o suficiente apenas para o funeral dos três, já que não tinham muito dinheiro, mas a garota quis fazer toda a cerimônia com as maiores honrarias que pôde. Sentia que devia isto a eles, em sua total impotência diante do ocorrido.

Se despediu cedo dos conhecidos e amigos da família mais próximos, que ela havia avisado e foi para casa, não tinha amigos com os quais contar em um momento como esse, e ela nem os incomodaria de qualquer forma. Queria apenas sofrer e chorar longe dos olhares de pena. Detestava esse sentimento de exposição excessiva.

Chegando, colapsou em desespero e solidão, sentindo que a vida era injusta e cruel. Se perguntava porque estava sendo castigada daquele jeito e porque ainda viveria, apenas para ficar sozinha no mundo. Passou os dias sentada no chão da cozinha, no escuro, bebendo até a última gota de álcool que conseguiu.

Lá esperaria pelo Ministério e a sua boa vontade de levá-la de seu lar, para ser cuidada por estranhos até os seus dezessete anos e com sorte, continuar a vida “normal” em Ilvermorny pelos próximos dois anos letivos.

No entanto, nada a tinha preparado para o que estava por vir.

— Adhara -

Em 1995 Voldemort ressurgia no Reino Unido e pouco se falava sobre isso, na escola, antes daquelas férias, apenas corriam boatos insanos de um evento popular entre as escolas de lá, um torneio que acontecera recentemente e que ao final, o famoso Harry Potter havia se encontrado de novo com Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Claro que quase ninguém acreditava nisso na América, poucos realmente se importavam se fosse verdade ou não. Mas Adhara acreditava fortemente.

Sua mãe havia contado histórias sobre este terrível bruxo das trevas, até mesmo sua avó sentia arrepios apenas por ouvir o nome do bruxo, “e olha que a velha era durona", pensava a garota. Assim que estas especulações chegaram na escola Adhara sabia, ela sentia que era verdade, e desde que ouviu pela primeira vez sobre o assunto, começou a remoer se agora seu pai poderia aparecer em algum lugar. Chegou a juntar pontos suspeitos em sua mente e pensar que talvez ele tivesse que se esconder durante todos esses anos por ser um comensal da morte…

Não! Ele definitivamente não poderia ser uma pessoa ruim. Sua mãe e avó sempre falaram bem dele, tudo bem que seu avô nem se quer expressava nada sobre o homem além de um olhar perfurante toda vez que falavam sobre o bruxo, mas Adhara pensava que ele não gostava do homem por ter deixado sua filha e neta sozinhas, ela não o culpava, também se sentia assim, mesmo tendo sempre ouvido que ele tivera bons motivos. Mas naquele dia Adhara descobriria tudo.

Havia enterrado sua família três dias atrás, quando terminou a última garrafa de whisky de fogo que seu avô escondia no quarto. Não dormia a várias noites e sabia que a qualquer momento alguém do Ministério apareceria para levá-la de sua casa. Então, não se assustou ao ouvir uma batida na porta da frente, imaginando que seu momento de luto havia passado do prazo de validade do governo.

Ao abrir a porta, no entanto, se deparou com um homem alto e esguio, de rosto fino e pele pálida, que contrastava com a cor inacreditavelmente escura de seus olhos. Seus cabelos lisos e escorridos, igualmente negros, emolduravam sua expressão analítica molhados. Mas ele não se vestia como ninguém da MACUSA. Suas vestes, também pretas, eram acompanhadas de uma longa capa e capuz, que lhe cobria dos pés à cabeça. Estava encharcado, pois chovia lá fora.

— Snape -

Vendo que, obviamente, não receberia convite para entrar, deu um passo à frente no cruzamento da porta, tirando o capuz e dizendo “O professor Dumbledore se encontra muito ocupado e me pediu para que viesse em seu lugar…” e viu que a garota não se mexeria. Olhou então ao redor no cômodo, observando todas as marcas de destruição que lá estavam.

O sofá e a poltrona da sala logo à esquerda estavam rasgados, com seus estofados espalhados pelo chão. Na lareira, restos de grandes porções de madeira ainda ardiam carbonizadas e um tapete ao lado direito desta, abaixo de uma grande janela e de um aparador, onde deveriam ficar os porta-retratos aparentemente carbonizados , o vidro cintilava na luz, estilhaçado como cristal. Algumas marcas vermelhas manchavam o brilho irradiado. Nesse momento, Snape voltou-se rapidamente para a garota em sua frente e perguntou furioso “O que foi que você fez, garota estúpida?”. Ela não se mexeu.

Snape então pegou os braços da garota e procurou marcas por seus antebraços e mãos, com cuidado. Sua pele, em contraste com a dele, estava quente demais. Haviam de fato sangue por todas as partes, mas nenhum corte ou ferida, e ela finalmente disse.

— Em Ilvermorny aprendemos feitiços e antídotos simples para tratamentos de saúde, na casa Pukwudgie. - Sua voz era baixa, comedida, mas mesmo assim, sua voz falhava e ondulava, inconstante.

— Usei uma solução simples de ditamno e murtisco.- Continuou ela, estranhamente envergonhada.

Snape soltou as mãos da garota e, sabendo que molhar o chão no estado atual da casa não seria um problema, secou simplesmente suas vestes e entrou em direção a cozinha. O cenário de destruição continuava pelo caminho, utensílios e móveis espalhados por todos os lados.

Pratos e copos foram arremessados várias vezes nas paredes, o lustre perdera metade de sua estrutura e na mesa, algumas garrafas jaziam vazias. O cômodo cheirava a álcool. E a garota também, Snape notou, quando ela parou ao seu lado, olhando para o mesmo ponto em frente.

— A bebida não foi suficiente, sabe? Acabei com elas antes de acabar com a casa.

— Como fez tudo isso? Achei que Ilvermorny não permitisse que os alunos saíssem com as varinhas dos limites da escola.

— Pensou certo, senhor. Não usei varinha. - Ela respondeu indiferente, o que deixou o bruxo certamente chocado, mas ele nunca admitiria, é claro.

Quando ele se virou para encará-la dessa vez, havia lágrimas no mar azul que eram seus olhos. Estavam vermelhos e se destacavam em olheiras profundas. “Ela realmente se parece com o pai, até na idiotice. Mais uma grifinória.”, ele pensou.

— Não me importa o que você faz com seus sentimentos, não vim até aqui para consolar sua tristeza.- Respondeu o bruxo, ríspido.- Mas não há bebida no mundo que faça isso passar, pode ter certeza.

— Narrador -

Dizendo isso, o homem girou nos calcanhares e voltou para a entrada.

— A senhorita já pode pegar seus pertences. Partiremos agora.

Adhara respondeu com um olhar interrogativo para o homem e se lembrou do que ele havia dito ao entrar.

— Senhor, para onde iremos? E o que Alvo Dumbledore tem haver com isso? E, sobretudo, quem exatamente é você?

Snape ergueu uma sobrancelha para ela em resposta, analisando a veracidade de suas palavras. Ela estava confusa, ele claramente não era americano e não parecia ser da MACUSA, porém o mais estranho foi o nome do grande bruxo, Alvo Dumbledore, citado em sua chegada. Por que raios ele teria mandado alguém atrás dela?

— Você não leu a carta? - Snape perguntou, indagador.

Mas é claro! A porcaria de pergaminho que sua mãe havia entregue antes de tudo desmoronar. Ela tinha se esquecido completamente. Correu então, até a escada ao lado direito do hall de entrada, lutando por equilíbrio, para encontrar a roupa que usava naquele dia. Snape seguiu-a momentos depois, não entendendo o que aconteceria em seguida.

Quando chegou ao seu quarto, demorou alguns instantes antes de abrir a porta. Não entrava nele a dias. Tudo parecia estar no lugar, menos suas roupas. “Devem estar no banheiro.” e ao concluir o pensamento e correr para a porta, em direção ao seu destino, a jovem bateu de frente com Snape. Os dois rapidamente buscaram equilíbrio um no outro, ele em seus braços e ela na lapela das vestes do bruxo. Ele era uma cabeça mais alto que a jovem, então não foi difícil para ela encontrar o apoio que precisava.

— Me desculpe, não sabia que estava me seguindo, não era minha intenção...- Respondeu ela, elevando o olhar para encará-lo. Seu cabelo ainda estava molhado e lhe cobria parte do rosto, mas havia algo ali embaixo.

Adhara então, para completo choque e desespero do bruxo, fez o inacreditável. Levou uma das mãos ao rosto dele e tirou o cabelo para o lado, encontrando um corte profundo no supercílio esquerdo, vermelho vivo na pele clara. Parecia recente.

— Pode me explicar que diabos a senhorita pensa que está fazendo? - Snape perguntou irritado, se afastando alguns centímetros, depois de se recobrar de seu susto inicial, recuperando a postura.

— Você tem um corte próximo ao olho, deveria tratar logo, parece bem profundo e deve estar doendo.- Ela afastou a mão e o observou levar uma de suas próprias à ferida. Pelo visto, nem ele mesmo tinha notado que havia algo ali.

— Não foi isso que eu quis dizer.- Respondeu, rápido e ríspido. - O que está fazendo? O que está procurando?

— Se você me deixar passar, talvez eu possa explicar. - Disse ela, ficando irritada pela primeira vez, com o homem por estar sendo tão inconveniente e arrogante.

— Se a senhorita me soltasse, eu também poderia. - Quando ele terminou a sentença, ambos se soltaram e se afastaram, sem desviar o olhar. Estavam igualmente surpresos. Era como se depois de terem se separado, tivessem notado então o quão estranha era a situação.

Adhara ignorou totalmente a expectativa fracassada de Snape pela sua explicação e rumou ao banheiro, logo do outro lado do corredor. Estavam realmente lá. Ela pegou sua calça atrás da porta e vasculhou os bolsos em busca do pergaminho. Com toda a sorte que ela achou não ter mais, estava lá. Ela se virou para Snape e levantou o pergaminho.

— Estava aqui. Minha mãe me entregou pouco antes…com tudo que houve…eu não quis…não queria lembrar…- Não sabia nem o que dizer, nem o que sentir; nem ao menos entendia porque estava se explicando para um estranho. Então resolveu ignorar a ação, deixada pela metade, desceu as escadas e foi sentar-se na poltrona destruída. Deixando novamente um Snape confuso e furioso a segui-la.

— Desculpe atrapalhá-la em seu momento estúpido de recobrança de memória, mas tenho muito o que fazer, então agradeceria se andasse logo e pegasse seus pertences, para que eu pudesse, enfim, me livrar do encargo de escoltar a senhorita.- Ele falava entre dentes cerrados, lembrando do pedido de Dumbledore de tratar a garota com o máximo de tato que conseguisse, em respeito à sua perda recente. “Velho hipócrita”, pensou ele. Quando perdera Lilian, não ganhou nada além de lições de moral e pedidos de missões suicidas.

Mais uma vez ele foi surpreendido com a capacidade incomum dos jovens de serem insolentes, quando Adhara ergueu uma das mãos em sua direção, enquanto ainda lia a carta. Ele bufou, incrédulo e concentrou todas as suas forças em seus punhos, apertando os próprios dedos e respirando fundo. “A capacidade de reprodução da espécie Black deveria ter sido impossibilitada desde o início dos tempos!”.

E então, sentou-se nos restos do sofá e ali ficou por alguns minutos, até que ouviu os soluços da garota. “Era só o que me faltava.”, ele pensou enquanto passava a mão pela testa, de olhos fechados. Ao abri-los de novo e olhar em direção a poltrona, não a encontrou lá. Deu tempo apenas de olhar para a lareira e ver a carta ardendo em chamas para, logo depois, ouvir mais louças na parede e um grito estridente e agoniante. Ele correu para a cozinha.

Ela estava no chão, de joelhos, com a cabeça baixa, socando o chão. Chorava e soluçava dizendo “Não pode ser” sem parar. Suas mãos tinham sangue fresco novamente e ele se espalhava pela cozinha nas poças de água que se formavam. Chovia lá dentro como se não houvesse um teto sobre suas cabeças.

Snape pronunciou um feitiço para parar o encantamento e se abaixou próximo a Adhara. Pegou-a pelos pulsos, impedindo que ela continuasse a bater no chão e os segurou juntos, firmemente enquanto ela tentava se desvencilhar de suas mãos.

— Como ela pode?... Porque fez isso comigo?...mentiu esse tempo todo pra mim…Me fez acreditar que ele era uma pessoa boa, me fez acreditar que ele voltaria, me fez querer que ele voltasse…Por que?... O que foi que eu fiz pra acabar assim?... agora eu tenho que sair da minha própria casa, do meu próprio país…Tão egoístas…e querem que eu também minta. - Ela soluçava e gritava e chorava e se contorcia e gritava novamente.

Snape podia ser um monstro, mas ainda era humano. Sentiu pena da garota. Não queria admitir e nem demonstrar, porém simpatizava com os sentimentos da bruxa, ainda mais por não terem sido quaisquer uns. Era Aurea, eram os Clarke.

Além disso, ele sabia exatamente o que era sofrer as consequências das péssimas escolhas dos outros, inclusive das próprias; além da dor da perda, do gosto amargo do coração em pedaços. Não era realmente justo; e nunca seria.

Então, depois de notar a exaustão da garota, ele se levantou e a instruiu a fazer o mesmo. Depois levou-a para se sentar na mesa próxima, já que não havia mais cadeiras. Olhou ao redor e achou o ditamno e murtisco próximos da pia, pegou o frasco e voltou para o lugar em que estava a bruxa. Com cuidado, retirou um lenço do bolso interno da capa e pegou cada uma das mãos trêmulas, derramou um pouco do conteúdo do frasco no tecido, deixando-o encharcado e passou pelos nós dos punhos, que cicatrizaram em tempo recorde.

A garota então, tomou o lenço de suas mãos e antes que ele pudesse reagir com algo além das sobrancelhas franzidas, ela novamente tocou no rosto do bruxo, fazendo-o segurar sua mão no meio do caminho e recuar um passo, por reflexo. Não deu tempo para que ele fugisse mais, quando ela estendeu a outra mão, com o tecido e colocou sobre a ferida, pressionando. Ele fez uma careta de desconforto e grunhiu. Pela primeira vez em semanas, Adhara deu um meio sorriso. Depois, removeu o lenço, colocando ele na mesa e conferindo com a mão, agora livre, se a ferida estava fechada. Snape estava paralisado, não se mexera e nem soltara o braço da bruxa. Apenas a encarava como se ela fosse louca e estivesse cometendo um ato absurdo.

— Você ainda não me disse quem é, e a julgar pelo que disse antes e pela descrição na carta da minha mãe, certamente não é o professor Dumbledore.- Disse ela, desviando o olhar intenso que o bruxo a direcionava.

— Você não vai gostar de saber.- Ele respondeu.

— Então como posso confiar em você para sair daqui? Como vou saber que não trabalha para Você-Sabe-Quem e que não veio para me levar para o meu pai? - A bruxa perguntou, mesclando os sentimentos de medo e sarcasmo na sentença.

Snape ponderou a questão, com seriedade. Havia tanto envolvido nas respostas que ele poderia dar a ela. Porém, optou por uma que pouparia aos dois.

— Dumbledore me avisou que pensaria nisso.- Snape então levou a mão novamente a um bolso na capa, tirou um pequeno envelope lacrado e entregou a Adhara.

Cara senhorita Clarke,

Deixo aqui explícitos os meus sinceros sentimentos por suas perdas recentes.

Sua mãe me enviou uma carta a alguns dias atrás, me contando sobre sua história e origens. Me contou sobre sua condição de saúde e me fez um pedido de cuidar para que a senhorita retornasse à Europa, para que terminasse seus estudos em Hogwarts e para que eu lhe contasse tudo que ela sempre manteve em segredo. Temos muito o que conversar e espero que você não veja problema em viajar até aqui.

Cuidei para que tenha onde passar o resto de suas férias, da sua transferência e também de sua estadia até seus dezessete anos completos.

Sua mãe me contou que a senhorita, além de uma bruxa brilhante e talentosa, tem um gênio muito parecido com o do seu pai, então tenho meus motivos para crer de que você não saberá se pode confiar em quem mandei para buscá-la. Peço desculpas por isso, mas são tempos difíceis e eu não conseguiria trazê-la por mim mesmo.

Mas quero que saiba que confio inteiramente no professor Snape para escoltar você durante sua viagem até a Inglaterra, por mais reservado e recluso que ele possa parecer, ele é um bom homem. Sua mãe e Severo se conheciam a muito tempo e tenho certeza que ela concordaria comigo. Porém, devo alertá-la sobre a pouca tolerância que ele pode vir a apresentar, ele e seu pai nunca foram muito amistosos entre si, entretanto não se preocupe.

Espero que a senhorita se encontre bem, na medida do possível, e que faça uma boa viagem.

P.S.: Por favor, lembre-se desta informação: Largo Grimmauld, número 12.

Professor Alvo P W B Dumbledore.

Diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

— Severo Snape, então. É um nome bem diferente. - Ela disse depois de reler a carta e erguer o olhar para o bruxo à frente. Sua mãe nunca havia dito uma palavra sobre ele. Mas também, nunca havia dito uma palavra sobre muita coisa.

— Depois de levar tanto tempo para ler uma simples carta, é a única coisa que tem a pontuar Clarke? Devo dizer que esperava mais de você, depois de tudo que Dumbledore me contou.- Respondeu o homem, com todo o sarcasmo que conseguiu juntar na frase, enquanto sua mente trabalhava no porquê da observação irrelevante da jovem.

— E depois do que Dumbledore contou me contou. - Ela ergueu a carta. - Não vejo porque deveria pontuar outras coisas, visto que, como os outros, você também parece querer esconder informações de mim.

— Primeiramente, não lhe devo informação alguma e, segundo…- Disse Snape se aproximando de novo, com os dentes cerrados. - É senhor ou professor para você.

— E como exatamente a minha mãe chamava você, senhor?- Provocou Adhara, dando um passo à frente, testando os limites do bruxo e sua própria coragem, em igualdade.

Snape congelou, mais uma vez. Não gostava disso, nem um pouco. Ela o fazia reagir como sua mãe fazia. Talvez não fosse assim tão contaminada pelos Black, mas de qualquer forma não poderia aliviar seu humor por isso. Continuava sendo insolente e presunçosa. Optou então por não responder, já que “resmungo” não seria um nome do qual ele gostaria de ser somado ao “seboso”, “morcego” ou “ranhoso” entre os que falavam dele a suas costas.

— Você deveria manter sua curiosidade, perigosamente afiada, longe do conhecimento alheio, para seu próprio bem, Clarke.

— Para você é senhorita, e eu não teria tanta certeza, senhor. - Ela disse, indo para a escada, não precisando olhar para imaginar a cara de desgosto do homem arrogante que a fitava, nem esperando pela resposta venenosa que ele certamente teria.- Pegarei meus pertences e poderemos sair logo, assim o senhor se livra do fardo de seu encargo, tão rápido quanto possível.

“Será uma longa viagem.”, suspirou Snape, olhando para a rua através da janela quebrada, ao lado da lareira. Ao se aproximar, notou um retângulo maior no canto da parede. O último retrato tinha se salvo, por cair atrás do aparador. Aurea sorria, como sempre, achando graça de qualquer bobagem, seus olhos brilhavam e ela abria os braços para receber uma menina alegre, que corria para alcançar a mãe. As duas giravam e sorriam. Elas tinham o mesmo sorriso. “A melhor herança que Adhara poderia ganhar da mãe, certamente.”

Pensando nisso, ele restaurou o porta-retrato e o guardou nas vestes. Entregaria a jovem quando estivesse mais calma e menos propensa a destruir memórias, que um dia, certamente gostaria de ter. Seria bom, em tempos como esses, ter boas lembranças de quem se ama.

— Estou pronta.- Avisou uma voz cheia de certeza, que suspirava aos pés da escada e olhava ao redor, se despedindo do que antes era seu lar. Não levava muitos pertences consigo, apenas uma mala lhe bastou para tudo que teria que levar em uma viagem só de ida. Afinal, não sabia se poderia voltar ali outra vez, e sinceramente, não sabia ao certo se gostaria.

Não tinha muitos amigos com os quais não pudesse conversar ou visitar, mesmo que de longe. Então não encontrava muitos motivos para voltar, a longo prazo. Sentiria falta da escola, com certeza. Muitas matérias que estudavam ali, não eram ensinadas em Hogwarts e vice versa. Entretanto, era uma chance de uma nova vida e também a descoberta de seu próprio passado. Sua avó teria adorado saber que ela finalmente conheceria o Reino Unido.

— Já não era sem tempo.- Respondeu ele, grunhindo.

— Você sempre resmunga assim… - Indagou a jovem, com um tom levemente divertido. Ao notar a cara que o bruxo fez, completou. - …professor?

Votando depois, novamente, por ignorar a garota, abriu a porta para que saíssem. Uma vez fora da casa, Snape, que seguia atrás de Adhara, revirou os olhos para a paciência com a qual a garota andava. Ao passar pelo lado esquerdo, tomou a mala da bruxa e segurou o ombro da mesma, aparatando sem dar nem um aviso prévio.


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Notas finais do capítulo

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