Deeply Darker escrita por Malu


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Enjoy it!



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O ano era 1978. Sirius acabara de se mudar para a casa que seu tio Alfardo lhe tinha deixado em testamento; estava enfim, começando sua vida adulta. Lilian e Tiago já haviam se mudado para Grodic's Hollow, seu casamento seria dali alguns dias e Sirius ainda não pensara em um presente de casamento decente para eles, mas a despedida de solteiro já era certa, claro.

Enquanto ajeitava os enfeites de jardim, observava o movimento na rua. Era um bairro tranquilo aquele, não era inteiramente bruxo mas era seguro. Além do mais, não haviam famílias de puro sangue ali, o que deixava o homem de muito melhor humor.

Ao terminar de tirar algumas fadas mordentes de cantos inusitados do terreno, se ergueu cheio de terra molhada nas mãos de tanto tentar arrumar o jardim ao lado da casa, até que seu nariz percebeu um odor de flores e orvalho, vindo de trás dele.

— Finalmente alguém para cuidar deste jardim, era de dar dó que uma terra tão boa e com esse espaço, fosse tão precariamente cuidada.- Sirius virou-se rápido com a varinha em riste na direção da voz suave que o envolvia.

A mulher parou abruptamente no lugar, arregalou os olhos e suas maçãs do rosto coraram.

— Por favor, me perdoe, não foi minha intenção assustá-lo. - Ela disse baixo, olhando para os lados, conferindo se mais alguém os observava.

— Quem é você? - Perguntou ele cauteloso. Já havia visto muitas coisas das quais os comensais da morte eram capazes de fazer, para não suspeitar de alguém que chega tão sorrateiro.

— Sou Aurea Clarke, sua mais nova vizinha. - Disse estendendo uma das mãos para o bruxo.

Sirius olhava da mão da bruxa para seu rosto, analista. Seus olhos eram de um castanho mel profundo, que contrastavam fortemente com seus cabelos dourados. Levava sardas pelo nariz e sua boca, ele não deixou de notar, tinham um contorno desejável. Era com certeza uma mulher muito bonita. Viu sinceridade no que ela dizia e então baixou a varinha para apertar sua mão.

— Em momentos como este, você não deveria assustar as pessoas deste jeito. - Sirius tinha agora um sorriso divertido nos lábios.

— Mais uma vez, me perdoe. - Aurea olhava para baixo desconcertada. O estômago do bruxo, de repente, pareceu dobrar ao meio. Os dois demoraram a perceber as mãos cobertas de terra.

— Ah, me desculpe por isso, espere um instante.- Ele puxou um pano limpo de dentro do bolso da calça e entregou a bruxa que sorriu abertamente. Ela pegou o tecido e, ao invés de limpar suas próprias mãos, segurou as de Sirius e, cuidadosamente, tirou o excesso de terra que ali havia. O bruxo, que raramente ficava constrangido, corou levemente. Os dois encontraram seus olhares novamente.

— Quer dizer, então que terei o prazer de vê-la sempre por aqui?

— Acredito que sim, senhor...?

— Sirius. - Respondeu rápido, surpreendentemente mais alto do que tinha a intenção de soar. - Sirius Black. - Suas mãos, agora limpas, entraram para os bolsos, a fim de conter o que quer que fosse aquilo que estava sentindo.

— Agora sim, é um prazer conhecê-lo Sirius. - Disse Aurea, estendendo de novo uma das mãos, agora limpas, para o bruxo que segurou-a rapidamente.

 

Na manhã das semanas seguintes, os dois já acordavam juntos, seus corpos entrelaçados no quarto de Sirius, que mal havia desfeito as malas desde que chegara. Até no casamento de Tiago ele só conseguia pensar no momento em que poderia voltar para casa, cedo pela manhã e encontrá-la dormindo na janela ao lado, a um jardim de distância. Tinha enfim se apaixonado.

Certa manhã, Aurea lhe fez tomar a decisão que mudaria completamente a vida dos dois.

— Sirius, preciso te contar uma coisa...- O bruxo olhou para baixo, para encarar a mulher que mantinha em seu peito envolvida em seus braços.

— Não me diga que é casada, por favor! - Os dois riram juntos e ela deu um leve tapa em seu peito, divertida.

— Não é nada disso seu bobo. É que semana que vem eu volto para os Estados Unidos... Fui convidada pelo Ministério da Magia de lá para trabalhar para eles. - Ela falava agora sem encará-lo nos olhos.

Sirius ouviu atentamente e se demorou digerindo as palavras que ouvia.

— Uau, não sabia que nossa alegria duraria tão pouco.- Ele tentou sustentar um tom de brincadeira, mas a bruxa notou que existia certa dor ali.

— Eu também não sabia. Me candidatei a vaga meses atrás e recebi uma resposta ontem, meus pais receberam a carta.

Fez-se silêncio por longos minutos no quarto, banhado de raios dourados de sol.

— Fico feliz por você, Aury. De verdade, você estudou muito, merece uma oportunidade como essa.- Ele disse, beijando a testa da bruxa.

— Venha comigo! - Pediu ela de repente.

Sirius considerou o pedido por breves instantes e então se sentou na cama, puxando Aurea para seu colo.

— Aurea, você é uma bruxa maravilhosa e eu amo o que a gente tem juntos. Me apaixonei por você assim que te vi pela primeira vez. - ele sorriu e selou seus lábios brevemente.-, Mas eu não posso. Não posso deixar Tiago, não posso deixar meus amigos, você sabe. Eles são a minha família. - Ele mantinha o rosto da mulher em suas mãos, tentando transmitir pelo olhar toda a sinceridade que podia.

 

Aurea, no entanto, se levantou e caminhou até a janela do quarto, em silêncio.

— Se eu ficasse...Você acha que ficaríamos juntos? - A pergunta surpreendeu Sirius.

 

Se ele tivesse escutado isto meses atrás, de outra mulher, diria rapidamente que não. Que não procurava relacionamentos duradouros naquele momento, que tinha muitas responsabilidades e que não poderia se preocupar com suas emoções profundamente durante a guerra. Que isso seria irresponsável e egoísta, até para ele. Mas a verdade é que se sentia ainda mais egoísta agora, querendo convencê-la a ficar, por ele, querendo dizer que sim, que se ela ficasse ele faria dela sua esposa e ficariam juntos para o resto de suas vidas.

No entanto, não poderia fazer isso com ela, não com ela. Sirius não sabia dizer que influência era essa que Aurea exercia sobre ele. Ou até sabia, apenas não queria admitir. Mesmo com o curto período em que passaram juntos, ele sentia como se nunca tivesse existido um antes sem a presença dela em sua vida, certamente não queria perdê-la, mas não tinha escolha.

— Não posso lhe garantir isso Aury.- Ele a abraçou por trás, depositando beijos em seu ombro e pescoço.- Além do mais, você não se arrependeria se ficasse?

— Como podemos nos conhecer tão bem e ao mesmo tempo tão pouco? - Disse a bruxa, virando-se para encarar os olhos azuis que mediam cada insegurança que passava pelos castanhos dela.

 

Os dois permaneceram ali, abraçados, por um longo tempo, que nenhum dos dois sabiam estabelecer o quanto.

Naquelas noites que se seguiram eles fizeram amor de novo e de novo.. Se amaram como nunca, como se suas vidas fossem acabar assim que se separassem, como se o ar que respiravam findaria abrupto em questão de instantes.

No dia em que Aurea partiria, Sirius se despediu dela com um beijo carregado de carinho e, antes que ela jogasse o pó de flu na lareira da casa de seus pais, ele irrompeu porta a dentro, sem se importar com os pais da garota, assustados de frente para a filha. Ele tomou-a em seus braços, beijou-a, olhou em seus profundos olhos uma última vez e disse:

— Se nenhum americano parecer digno da bruxa perfeita que é você, me mande uma carta com seu endereço e eu farei o que puder para estar com você o mais rápido possível. - Ele a abraçou mais forte.

— Eu amo você, Sirius.- Aurea disse em um sussurro, enquanto se separavam.

 

Sem que ele tivesse tempo de responder qualquer coisa, ela já partira. Deixando para trás um homem de coração apertado e olhos marejados.

Sirius desejou um bom dia aos Clarke e se retirou rapidamente.

Ele nunca recebeu notícias dela, e nem as procurava. Passava pouco tempo em casa, graças às missões da Ordem, então nunca via os pais de Aurea.

Apenas meses depois, em 1979, ele ouviu batidas em sua porta, o sol ainda não nascera. Quando abriu a porta, deu de cara com a senhora Clarke, estava com uma capa de viagem magenta e os cabelos grisalhos presos em um coque, o senhor Clarke a esperava a alguns metros de distância e, por algum motivo que ele não entendia, se recusava a olhar para Sirius.

— Bom dia querido, espero que você esteja bem, não nos vimos muito, não é mesmo?- Ela sorriu enquanto falava.

— É mesmo. - Ele respondeu sem jeito.

— Escute...eu sei que você e minha filha tiveram um romance no verão passado. Mesmo que breve, eu gostaria de lhe dizer que significou muito para ela, sabe?

 

Ela olhava para Sirius com receio e ternura ao mesmo tempo. Ele começou a ficar incomodado com o rumo pelo qual a conversa seguia, ficou preocupado que algo tivesse acontecido com a mulher que amara.

— O que está acontecendo? Aurea está bem?- Não conseguiu evitar as perguntas que lhe escapavam da boca.

— Ah querido, ela está sim. - Os olhos da senhora Clarke brilharam com a umidade repentina. Ela pegou a mão de Sirius e colocando uma carta nela, a envolveu com suas próprias mãos. O bruxo não pode evitar de perceber como se pareciam com as da filha.

— Nesta carta, Aurea lhe explica tudo. Estamos indo para os Estados Unidos hoje, vamos morar com ela, para ajudá-la e sair do meio desta guerra infindável. Cuide-se bem, garoto.- A senhora Clarke gentilmente acariciou o rosto de Sirius maternalmente.

 

Ele ficou estático à porta, vendo o casal ir embora. Tinha medo do que quer que tivesse naquela carta e por um momento considerou queimá-la, ignorá-la. Esperara tantos dias por notícias de Aurea que, ao desistir, suprimiu todos os seus sentimentos por ela e ignorou eles o máximo que pôde. Agora, já não os continha.

Sirius foi até a mesa da cozinha, ainda era cedo para ir até a sede da Ordem, tinha algumas horas disponíveis antes de precisar sair. Então se sentou e abriu o envelope cuidadosamente, com as mãos trêmulas. Dentro havia um pedaço de pergaminho, dobrado ao meio, e uma foto do rosto inconfundível de Aurea. Ela tinha um sorriso lindo no rosto. Mas além de toda a beleza de seu rosto, algo mais fez o coração de Sirius parar de repente. Em seus braços ela segurava um bebê, de densos cabelos escuros e profundos olhos azuis...como os dele.

 

Caro Sirius,

Antes de tudo, quero lhe pedir desculpas. Primeiramente por não lhe escrever depois que fui embora, pensei que fazendo isso, seria mais fácil para seguirmos em frente. Eu não poderia estar mais enganada. Senti tanto a sua falta, todos os dias, quando acordava e lembrava do seu cheiro, dos seus braços me envolvendo e da sua voz rouca pela manhã, me desejando bom dia. Algumas semanas passaram, mas essa sensação nunca me deixou.

O trabalho no Ministério começou logo depois da minha chegada. Aqui é ótimo, já fiz alguns amigos e você tinha razão, não achei ninguém digno da bruxa maravilhosa que sou eu. Mesmo assim não te escrevi, tive medo de que já tivesse me esquecido, na verdade estou mandando esta carta para você ainda sem saber.

Eu não pretendia escrever realmente, no entanto minha mãe pediu que eu o fizesse, disse que não seria justo com você e este é o segundo motivo pelo qual quero lhe pedir desculpas, Sirius. Eu dei à luz a sua filha, cinco semanas atrás, dia 22 de fevereiro. Ela é tão linda, tão perfeita.

No começo tive medo de que fosse um menino e que se parecesse com você. E mesmo menina, ela se parece tanto com você que, ao contrário do que eu temia, eu a amo ainda mais por isso. Porque eu ainda amo você, Sirius. Com todo o meu coração, que agora não leva só a sua lembrança, mas também uma parte de você que cresceu em mim.

Pedi a minha mãe que entregasse esta carta apenas em suas mãos, já que até onde eu sei você pode estar também com outra pessoa agora, e eu não acho que alguma mulher gostaria de saber que seu par engravidou outra, sem querer.

Meus pais me pediram para voltar, para falar com você. Meu pai até queria obrigá-lo a casar-se comigo, mas eu nunca aceitaria forçá-lo a algo assim. Eu nunca me perdoaria por torná-lo um homem infeliz, atado a obrigações das quais não gostaria, eu não poderia tirá-lo de sua família.

Eu ganho um bom salário aqui e agora meus pais vem morar comigo, para me ajudar com nossa pequena garota. A propósito, o nome dela é Adhara. Eu sei que você não é próximo de sua família biológica, mas acho bonito o costume dos nomes de estrelas e pensei que, já que ela não carregará o nome Black de nascença, pelo menos levará a tradição de sua família. Foi o jeito que encontrei de ligá-la a você.

Mais uma vez Sirius, me perdoe. Eu não quero voltar para essa guerra e não quero levar nossa filha muito menos; eu sei que você também não virá para cá, não para ficar. Entretanto, se em algum momento, você tiver tempo e vontade, pode me responder esta carta. Você poderá conhecê-la quando quiser, desde que me avise.

Espero que você esteja e permaneça bem.

P.S. Coloquei uma foto de nós duas no envelope para que você a veja. Ela é linda, não é?

Com carinho,

de sua Aurea.

Sirius releu a carta muitas vezes, tentando gravar em sua mente todos os detalhes que conseguiria de tudo que foi dito. Se sentia culpado e frustrado. Se sentia arrependido. Devia ter ido com ela, com elas. Ou devia ter mantido Aurea ali, em seus braços. 

Ela não terá o seu nome. Não que ele mesmo tivesse orgulho por tê-lo, mas mesmo assim tem o nome de estrelas. Se sentia tão impotente e desprezível. Sempre quisera ser pai, um bom pai, ao contrário do seu, e agora seria um pai ainda mais ausente.

De qualquer modo, a culpa não era dele, Aurea que não contara que estava grávida dele, nunca lhe escreveu. Pensando nisso, sentiu a raiva consumir seus órgãos e sentimentos.

Em meio a todos os amargos pensamentos, ele chorou olhando para a foto de sua filha nos braços da bruxa que, em tão pouco tempo, lhe deu todo amor de que ele precisava, e agora o maior de todos eles: o amor de pai.

Queria sair agora, correr o mais rápido possível para as duas, queria apertá-las em um abraço que nunca mais soltaria, queria protegê-las e dizer que também as amava, mais do que poderia mostrar.

E com esse pensamento, ele se lembrou do maior motivo de não ter ido com Aurea. Destruir Voldemort. Era isso. Ele destruiria Voldemort, doaria todas as suas forças, para que sua pequena crescesse em um mundo melhor, para que ele pudesse ir para perto delas e garantir que fossem felizes. Não poderia ir agora, tinha muito para fazer pela Ordem, mas escreveria para Aurea logo, dizendo que terminaria os serviços de Dumbledore e que depois iria para junto delas. Foi o que ele fez.

Sirius se correspondeu com Aurea por meses. Ela lhe mandava fotos de Dhara, apelido que deram à menina, e ele começou a mandar fotos dos Potter à espera de Harry. Contudo, as tarefas para a Ordem se tornavam cada vez mais necessárias e mais perigosas. Régulo morreu nesse meio tempo e Sirius, junto com os outros membros da Ordem agora, mais que nunca, precisavam se esconder e se proteger. A profecia fora feita, ninguém estava seguro, Dumbledore não perdia um minuto sequer para bolar estratégias contra as forças das trevas, e Sirius ficava, por elas.

Um ano se passou e Aurea escrevia menos, agora. Estava trabalhando mais no Ministério, com as demandas de ações contras as Artes das Trevas, que também afetava o outro continente. Os dois já não conseguiam encontrar maior frequência em sua comunicação. Dhara crescia, inteligente e linda como a mãe. Os cabelos escuros cresciam ondulados e seus olhos agora adotaram um azul vivo, mais intensos que os olhos do pai. Sirius se pegava sorrindo e chorando sozinho muitas vezes, temendo por não poder vê-la nunca, temendo por morrer e não conhecê-la, nunca ouvir o som da sua voz ou sentir o seu cheiro. Tiago uma vez o encontrou bêbado em casa, tendo pesadelos e chamando pelo nome da filha.

O amigo prometeu que quando a guerra acabasse, eles levariam Harry para conhecer sua mais nova amiga e eles brincariam e cresceriam como irmãos. A ideia sempre os fazia rir juntos, a perspectiva esperançosa de futuro era o que os mantinha sãos nesses momentos.

Quando tudo desmoronou, Sirius ruiu por dentro.

Antes que se desse conta, já estava trancafiado em Azkaban, injustiçado, revoltado e acabado. Tiago morrera, Pedro os traíra, mas pelo menos Harry estava vivo. Sua pequena estrela poderia crescer agora em um mundo melhor, sem Voldemort. E ao longo dos anos, estes pensamentos foram as forças do bruxo.




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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Não esqueça de salvar para receber as atualizações sempre;)



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