Adão e Eva no berço dos anjos. Segunda parte escrita por Paloma Her


Capítulo 9
A missão de Eva e Adão


Notas iniciais do capítulo

Em seguida, seus espíritos saíram como uma bala em direção ao centro do Universo. Da mesma maneira que acontecera no dia do casamento. Nenhuma dor. Sequer frio, ou calor, apenas uma sensação de liberdade, flutuando livremente como os pássaros, dando piruetas, girando, pois seus fluidos lhes permitiam inventar loucuras. Lá embaixo, ficaram os corpos imóveis, na espera de algum dia recebê-los para continuar uma existência normal. Seria como renascer. Mas, nunca mais como bebês de colo. Acordariam como quem esteve dormindo, sonhando, apenas com um pouco de frio e tontura.



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Quando Adão com sua família penetrou na pirâmide, um mestre aguardava-os sorridente. Pediu-lhes para descer pela escada, pois a sala das missões estava no último patamar. Desceram numa escada em forma de caracol, e continuaram baixando e abaixando, até chegarem a um lugar, aonde viram com olhos arregalados 440 cabines alinhadas em fileira contra a parede, e em cujo interior havia pessoas em pé. Geladas. Eva se virou ao marido e disse:

— Será que vai doer?

— Claro que não! Venha, vamos nos congelar juntos.

Escolheram uma cabine dupla, adentraram, e o mestre os fechou por fora. Jesus e Paulo adentraram com as esposas Malaqui e Paulina, e Ênio com Madalena repetiram tudo igual. Assim que a porta se fechou, uma luz os envolveu e adormeceram quais bebezinhos. Ao acordarem já não estavam mais no corpo, estavam fora da cabine, em pé, como quem olha para um boneco branco, feito gelo, olhos fechados, com uma eterna neblina em redor. Uma fumaça cósmica, que entrava nessa pirâmide diretamente do espaço e conservaria os corpos pela eternidade.

 Em seguida, seus espíritos saíram como uma bala em direção ao centro do Universo. Da mesma maneira que acontecera no dia do casamento. Nenhuma dor. Sequer frio, ou calor, apenas uma sensação de liberdade, flutuando livremente como os pássaros, dando piruetas, girando, pois seus fluidos lhes permitiam inventar loucuras. Lá embaixo, ficaram os corpos imóveis, na espera de algum dia recebê-los para continuar uma existência normal. Seria como renascer. Mas, nunca mais como bebês de colo. Acordariam como quem esteve dormindo, sonhando, apenas com um pouco de frio e tontura.

Quando adentraram ao castelo de “00” havia gente conhecida os esperando. Além dos donos da casa estavam ali velhos heróis da Terra, Sidarta Gautama e Yasodhara, Moisés e Sêfora, e José e Maria.

Maria desatou em lágrimas assim que viu Jesus entrando, sem acreditar que reencontrara seu filho depois de uma eternidade de saudade. Enquanto Maria e Jesus choravam juntos, José abraçou-se a Madalena, que fora como uma filha para eles nesses dias sofridos na Terra. E Paulo cingia a todos. Em seguida Maria chorou junto com Eva, ambas arrasadas pela surpresa. Mais lá Adão abraçava-se com José, ambos com um nó na garganta, a seguir Moises e Gautama choramingavam juntos, quer disser, formou-se um grupo de anjos lacrimejantes que deram um show de emoção. Todos eles eram homens filhos da amada Terra que ficara para trás. Mas, que um dia visitariam novamente.

“00” deixou-os a vontades, mas, fez a mágica das lembranças esquecidas aparecer do nada. Moisés, Gautama e Yasodhara, Maria e José, Jesus, Paulo e Madalena eram anjos como Eva e Adão, que um dia ficaram na Terra por puro amor pelos descendentes e pelo planeta. Jesus, Moisés e Paulo só encontram o amor eterno depois de lindos e formosos. E Madalena encontrara Ênio, sua alma gêmea, nas últimas encarnações. Mas agora eram todos iguais. E todos os pais verdadeiros, de todos os terráqueos iriam nessa missão como anjos procriadores.  E os velhos entraram, formando um grupo ainda maior de anjos que se abraçavam emocionados, reconhecendo seus antigos filhos com orgulho e emoção. Mas, agora, trabalhariam juntos pela eternidade. Seria um grupo de trabalho. No futuro essa turma engrossaria com mais um filho, ou mais um neto, viajando pelo universo com algum encargo.

  Quando o sentimento das lembranças da Terra acalmou, só então “00” lhes fez o convite para entrarem numa reunião com mais uns 300 anjos velhos. Sentaram-se à mesa, e “00” começou a discursar.

Falou-lhes que deveriam preparar um planeta selvagem para receber almas de homens reprovados como homens. Nota zero! E uma gargalhada veio a seguir. Mais sério  “00” continuou a falar que os anjos procriadores teriam que dar origem a uma nova raça humana, em alguma espécie inteligente. E acrescentou que desta vez os condenados eram cientistas que brincaram com a medicina, a mais sagrada de todas as ciências.  Indivíduos que se acharam no direto de desafiar as leis naturais, e por causa disso toda uma sociedade humana estava se reproduzindo quais réplicas de monstros. Ada e Adão, como os justiceiros dessa missão, deviam encontrar os responsáveis, dar as sentenças, e fazer a evacuação para esse novo mundo primitivo. O resto dessa equipe ajudaria como conselheiros, pois o justiceiro devia escutar a todos numa reunião como essa, antes de tomar qualquer medida condenatória. Mas, as sentenças eram inquebráveis. Depois de dadas só havia uma coisa a se fazer. Cumpri-las. Todos olharam para Eva, e começaram a rir, pois até esse dia nunca foram informados que o nome dela mudasse para Ada.

Em seguida olharam para um espelho falante, onde a Quinta Dimensão ficou a mostra, com todas as Galáxias que giravam em redor. Ênio, como navegador gravou as características tanto dos planetas selvagens quanto dos mundos civilizados. E finalmente, as características físicas do mundo dos condenados.

Em seguida vestiram as roupas. As damas colocaram uma bata translúcida muito longa, pois tinha uma cauda gigante, com um capuz que escondia os cabelos e protegia a cabeça contra a velocidade. Em seguida botas até os joelhos.

Adão vestiu uma capa diferente com capuz, pois ela se abria na frente. Adão abriu-a por inteiro, Eva encostou-se a ele abraçada pela cintura. Suas botas encostaram-se às botas de Adão, imantadas, enquanto um fecho automático cerrava essa capa desde o pescoço até as botas. Adão abriu os braços e ele parecia um pássaro, pois essa roupa possuía assas que o guiariam na imensidão.

E “00” deu a partida geral.

Eram trinta e quatro anjos em busca de um endereço muito, mas muito distante.

“00” lhes gritou ao sair: - Procurem pelo corredor amarelo! E foi o último que souberam.

Assim que a caravana saiu do castelo de “00”, o mundo invisível os recebeu.  Anjos velhos que nunca encarnaram estavam em todo lugar. Enquanto as roupas, as mulheres vestiam como rainhas. E os longos cabelos as faziam fascinantes. Já os homens preferiam trajar o mínimo, uma calça justa, ou uma bermuda. E muitos machos eram cabeludos com um cinto na testa. Mas o tórax era forte, musculoso, qual um campeão de lutas de mundos inferiores.

Tinha os anjos que faziam piquenique em Luas inóspitas, tinha os que viviam em castelos solitários por cima de Luas miúdas. Pareciam mais uns asteroides de tão minúsculas. Mas, também existiam as cidades encantadas em mundos selvagens, em cujo lugar as baratas eram as espécies maiores. Em compensação as borboletas coloridas estavam em todo lugar junto a mosquitinhos muito esquisitos. E esses mundos eram superpovoados de espíritos, tanto de anjos quanto de espíritos de bestas. Adão deu um giro na esperança de encontrar Belzier, pois era incrível a quantidade de unicórnios, Pégasos e cavalos brancos correndo pelas savanas desses planetas. E os anjos os amavam demais. Afinal, no início dos tempos, foram dos equinos que os anjos nasceram como homens pela primeira vez. Poder-se-ia dizer que os cavalos eram os pais de todos os anjos viventes

Os pais de Adão deram um abraço em alguns anjos, apresentando seu filho, que finalmente retornara para casa. E os amigos os parabenizavam, afinal Adão e Eva eram justiceiros, e nesse grupo de desencarnados só havia espíritos brancos, amarelos e azuis. O maior trabalho deles era semear uns grãozinhos em algum mundo fértil, a cada milhão de anos. Mais ou menos.   

Ênio começou a gargalhar dessa turma de desocupados, discretamente. Ninguém tinha vergonha de assumir a preguiça eterna. Mas, eles eram os pais de todos os homens vivos e mortos de todo um Universo existente. Quem sabe entre eles estava seu tatara- tatara-avô. E como todos os filhos e amigos de Adão abraçavam todo mundo, ele entrou na farra, afinal, Adão era seu irmão.

 Mas, como havia um trabalho a fazer, Ênio começou a examinar as Galáxias e as Constelações, com ajuda de todos esses velhos. Entre a Constelação do Dinossauro e a Constelação das gaivotas viu finalmente um circulo amarelo nítido. Era a saída para a Quinta Dimensão. O canal que o levaria direto ao destino, sem se perder pelo caminho. E os anjos velhos falavam que não havia de esquecer segurar com firmeza a parceira. E riram até sair lágrimas.

 E partiram.

De dois em dois, em direção do circulo, que aumentava de tamanho à medida que se chegava mais de perto. Assim que Adão entrou, uma corrente os sugou como aspirador de pó, e só atinaram a esconder a cabeça no capuz, pois a velocidade os pegou de surpresa. Era como tomar uma ducha de uma cachoeira furiosa, que batia nas cabeças sem dó.

Quando o túnel amarelo terminou, eles foram jogados em meio de uma Galáxia com tantas estrelas, que doía a vista de se ver. Todos com uma dor de cabeça terrível.

Um a um os casais foram se afastando, pois Jesus fez massagens na testa de todos,  Séfora colocou uma pastilha na boca, enquanto os pais de todos os terráqueos lhes deram massagens nas costas. Falavam que isso era normal. Cruzar a imensidão em pouco tempo dava nisso. Regressar seria diferente, nada de entrar em buracos de minhoca amarelos. Seriam azuis, os canais lentos onde também se podia fazer amor. 

Enquanto a descontração tomava conta, Ênio examinava as Constelações dessa Galáxia. E pouco a pouco viu ao longe uns cinco mundos selvagens, girando em redor de 2 estrelas. Voaram rumo ao primeiro endereço e chegando lá caminharam encantados examinando todas as espécies, pois era um belo lugar.

A besta mais inteligente desse planeta era o porco. Eram tão evoluídos que possuíam manadas com um líder, eram monógamos, cuidavam da prole, tomavam banhos para se mantiver limpos, e se comunicavam através de sons. Os recém-nascidos eram grupos de uns 15 filhotes, que se apinhavam nas tetas das mães, que dava gosto de ver. Mas, para os anjos procriadores, principalmente as mulheres, ver-se sugada em 15 tetas ao mesmo tempo causou calafrios.

Assim que Adão perguntou-lhes se topavam uma vida porca a resposta negativa foi geral. Ênio então marcou a rota para mais um planeta silvícola por ali pertinho.

Desta vez encontraram ursos gigantes, marrons, tão inteligentes que parecia que falavam entre si. Viviam em cavernas, e moravam em dupla até a morte. Eram tão evoluídos que os recém-nascidos viviam no colo e mamavam das fêmeas até os cinco anos. O amor entre eles era selvagem, pois os machos atacavam as fêmeas a toda hora em cavernas escuras como breu. E foi por isso que as mulheres-anjos não gostaram da ideia de ser abusada por um urso selvagem de 300 quilos.

E depois de recusar hipopótamos, gambás, rinocerontes e bichos desconhecidos, um dia chegaram ao planeta dos cavalos alados que era algo de sonho.  Não só os cavalos voavam, também o faziam os porcos, os cachorros e os lagartos, os quais pareciam dragões. Pássaros os havia também aos milhares. Eles revoavam no céu tampando a luz do Sol sobre a mata virgem, num espetáculo encantador. Além das selvas, as águias gigantes se debruçavam das encostas das montanhas num voo majestoso, catando cogumelos, tomates, pepinos, e inúmeros legumes desconhecidos que cobriam o chão com suas cores apetitosas. As borboletas com assas de um metro cada uma, eram os maiores insetos do mato, que revoavam nas copas das árvores. E estudando aos peçonhentos, só havia aranhas pequeninas, que não faziam dano aos mamíferos peludos.

Adão se voltou para os velhos anjos procriadores, e perguntou-lhes onde desejavam nascer. Toda a bicharada era inteligente, herbívora, e encantadora. Afinal, teriam que ficar com eles até quando toda a espécie escolhida virasse homens. E todos escolheram os cavalos. Ainda rindo, pois a chacota por cima de todas as mães foi unânime, pois os cavalos eram ainda mais selvagens que os ursos para dominar as fêmeas, as assaltavam na corrida a toda hora e sem pedir licenças. Adão perguntou-lhes desta vez:

Então, quem quer nascer primeiro?

E um coro sem-vergonhes respondeu: - As damas, é claro!

E um a um, os anjos procriadores deram um abraço carinhoso a todos seus filhos, e em seguida pularam nos ventres das cavalas aladas, no instante em que os machos as cobriam em meio de uma cavalgada. Eram bestas pesadas que não sabiam copular no ar.


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Notas finais do capítulo

Adão se voltou para os velhos anjos procriadores, e perguntou-lhes onde desejavam nascer. Toda a bicharada era inteligente, herbívora, e encantadora. Afinal, teriam que ficar com eles até quando toda a espécie escolhida virasse homens. E todos escolheram os cavalos. Ainda rindo, pois a chacota por cima de todas as mães foi unânime, pois os cavalos eram ainda mais selvagens que os ursos para dominar as fêmeas, as assaltavam na corrida a toda hora e sem pedir licenças.



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