Garotas de Anime Não Deveriam Existir escrita por Fukurou


Capítulo 3
Clichê da irmãzinha


Notas iniciais do capítulo

Ninguém gosta de irmãzinhas incestuosas



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A última coisa que lembro desse dia foi daquele deus dizendo blablabla maldição ou algo assim. Em seguida, meu corpo ficou repentinamente pesado e fui tomado por um sono incontrolável. Senti que caí na cama e logo apaguei. Depois disso, mais nada.

Horas depois, comecei a ouvir um som. Um barulho que começou bem baixinho, meio que de longe, mas que gradativamente foi aumentando e nesse momento já estava perto do insuportável.

"Ok, alarme do celular. Você venceu."

Abri os olhos e percebi que minha visão ainda estava meio turva. Via as coisas do quarto meio que envoltas em névoa. Estiquei minha mão em direção a cabeceira procurando o celular que normalmente deixo ali antes de dormir, mas não o achei.

"Droga! Onde que eu botei isso?"

Fiz uma careta, pois sabia que teria de se levantar pra procurar. Foi aí que quando tentei sair da cama, não consegui. Senti que meu corpo estava como que preso na cama. Mais como se houvesse um peso sobre ele.

"Será que estou passando por aquilo que as pessoas chamam de paralisia do sono?"

Não conseguir levantar... corpo pesado... sinais de alucinação... um demônio em cima de você. Quase todas as características que eu me lembrava batiam. Faltava confirmar a mais bizarra.

Senti que o tal peso vinha de alguma coisa que estava em cima de mim, mas escondido embaixo da coberta. Logo notei que se eu puxasse a coberta pra ver o que era, poderia dar a chance de acontecer aquilo que mais odeio no mundo: uma cena de jumpscare. E ninguém aqui quer um clichê de outro gênero nessa história, certo? Então, essa não é uma opção.

"Melhor deixar o demônio em paz, fazer a egípcia e voltar a dormir."

Tomei a decisão mais sensata e estava prestes a dormir novamente, quando...

"Hummm... m-maninhuu... a-assim... isso... devagarinho, por favorrr..."

De repente, comecei a ouvir murmúrios muito suspeitos vindo de debaixo da coberta. Enfiei minhas mãos por debaixo e comecei a tentar apalpar alguma coisa em busca de algo próximo a um chifre ou um rabo pontudo. Porém, o que encontrei fora, hum, vejamos:

"Bunda"

Bom, embora nunca tenha pensado nisso. Acho que demônios também têm bunda, certo?

"Seios"

Tá bom. Ainda assim, pode ser um demônio feminino, não?

"Orelhas fofas de coelho"

Orelhas fofas de COELHO?!?!

"Ou você é uma súcubo ou isso tudo foi um grade e desnecessário mal-entendido de quatorze parágrafos!"

Finalmente juntei coragem e puxei a coberta de uma só vez.

Ploft! Quem é que estivesse ali caiu com tudo no chão. Em seguida, foi se levantando aos poucos de forma desajeitada formando uma silhueta feminina com os olhos voltados pra mim. Felizmente, minha visão já estava mais nítida nesse momento.

"Hummm? É assim que você trata a sua irmãzinha?!"

Felizmente, a figura que se revelou me era familiar e não tinha nada de demoníaca. Infelizmente, ver quem era me fez questionar se eu preferiria que fosse um demônio.

"O que você está fazendo aqui?"

Conseguia agora ver perfeitamente uma garota com o uniforme da minha escola me olhando com uma das mãos na cabeça.

"B-bom dia pra você também, maninho! Ai! Doeu!"

A garota fazia uma voz manhosa enquanto esfregava a testa.

"O que você fazia na minha cama?"

"Que barulho é esse?"

A garota ignorou minha pergunta, se dirigiu a escrivaninha e desligou o alarme do celular que ainda estava tocando.

"Olha a hora! Já estamos atrasados pro primeiro dia no colégio. Vai pegar muito mal se chegarmos atrasados. Causar uma má impressão de início pode ter consequências negativas irreversíveis na relações interpessoais. Há muitos estudos que..."

"Hum. Muito interessante... Ei! Pare de mudar de assunto! O que estava fazendo na minha cama?"

A garota que até então falava sem parar de forma confiante, desviou o olhar e abaixou o tom de voz. Sinto até que seu rosto ficou levemente... vermelho?

"Eu vi aqui ontem de noite para falar com você. Mas aí como eu vi que você estava dormindo de forma tão fofa, eu fiquei com pena de te acordar."

Como seria dormir de forma "fofa"?

"Como eu vi que você não iria acordar, eu fiquei... e-eu fi-fiquei..."

A garota começou a gaguejar e se contorcer como alguém que estava se forçando a confessar algo.

"E-eu f-fiquei te olhando... por um momento, v-você olhou pra mim ainda meio sonolento e então n-nós... nós!"

Ela travou de vez e seu rosto ficou vermelho igual um pimentão.

"Nós o quê?"

"Você não se lembra?!"

"A única coisa que eu me lembro é de um sonho muito esquisito que quero esquecer."

"Ufa!"

A garota deu um suspiro de alívio. Em seguida, abriu um largo sorriso ao pegar seu arco com orelhas de coelho do chão e colocar de volta na cabeça. Sinto que nesse momento ela voltou a ter aquela confiança de antes, pois logo voltou a falar com o mesmo tom de antes.

"O mais importante é que eu estou novinha em folha e pronta pra começar meu primeiro dia no ensino médio."

Ela dizia isso enquanto fazia movimento de quem está se preparando para correr uma longa distância.

"Queria continuar conversando, mas não quero me atrasar, está bem?!"

"Ei!"

Ela ia quase saindo quando consegui agarra-la pela gola da camisa e a colocar de volta pra dentro.

"Você ainda não me disse o que queria comigo."

"Ah, sim!"

Ela deu um soco na mão como de quem lembra de algo. Depois virou pra mim, fechou os olhos e começou a esfregar as mãos.

"Por favor, maninho! Preciso que me dê dicas de como me apresentar na primeira aula sem parecer uma estranha. Não quero ficar isolada e ser evitada. Me diga algo que eu possa fazer, me dê uma dica."

"Hum... que tal primeiramente começar tirando essa tiara de coelho da cabeça?"

"O quê?! Mas por quê? Isso é tão legal Além disso, esse tipo de coisa está muito na moda entre as garotas do ensino médio!"

"Definitivamente não está!"

"Como é a primeira aula, o professor com certeza vai querer que façamos uma apresentação e eu não sei o que dizer. Estou tão ansiosa que até coloquei o uniforme ontem para ver como ficava e tentar treinar no espelho. Mas isso não deu muito certo."

Ela fez uma cara de real desespero, o que acabou me fazendo ter certa empatia, confesso.

"Olha, não precisa ficar tão preocupada, geralmente é só você dizer seu nome e falar um pouco sobre você, tipo hobbies e outras coisas. Em dez segundos e de forma vaga já que ninguém se importa mesmo."

"Mas tipo o quê?"

"Não precisa pensar muito, apenas seja você mesma, ok?"

"Maninho, pare de ser preguiçoso e me diga algo realmente útil. Sem frases de efeito, por favor."

"Tá! Tá! Não temos muito tempo, mas podemos tentar fazer uma simulação, que tal?"

Sentei na cama e pedi pra ela sentar na cadeira da escrivaninha ficando de frente pra mim.

"Vamos lá. Finja que eu sou o professor. Como você se apresentaria?"

"Hum... deixa eu ver. Que tal: Oi, pessoal! Meu nome é Soraya, mas todos me chamam de Sora. Eu sou nova aqui no colégio, então ainda não conheço muita gente. Na verdade, só o meu irmão que já estuda aqui. Ele, eu conheço muito bem. Nós somos muito íntimos pra falar a verdade. A ponto de dormirmos no mesmo quarto sem problema algum. Inclusive, quando estou dormindo, ele fica me tocando, sabiam? Eu fico com vergonha, mas eu gos..."

"Stop! Acho que estamos desviando do foco aqui e podemos terminar com um relato de um crime. Que tal ao invés de falar de mim, você falar mais sobre você mesma? Seus gostos, hobbies, essas coisas. O foco precisa ser você."

"Hum. Algo que eu goste? Eita! Me deu um branco agora."

"Vou te ajudar a lembrar. Pense como se estivesse naqueles programas de entrevistas, ok?"

"Tá bom!"

"Vamos lá. Me diga uma série que você gosta."

"Game of Thrones"

"Legal! Uma série popular. Essa é uma ótima escolha para puxar conversa. Vamos aprofundar agora, qual o casal que você mais gosta na série?"

"Cersei e Jaime Lannister"

"Er... Vamos mudar! Qual seu filme favorito?"

"Efeito Borboleta: Revelação"

"Uma novela?"

"Sete Vidas"

"Um anime?"

"Yosuga no Sora"

"Ok. Chega. Sinto que estamos indo para um caminho muito perigoso aqui. Olha, esquece tudo o que eu te disse antes, tá?! Minta! Minta sempre. Nunca seja autêntica, se adapte de acordo com o público, agrade a todos, sinta o clima, seja o que as pessoas querem e não o que você é. Entenda que a escola é apenas uma extensão da nossa sociedade, e por isso também se funda sobre o acordo social implícito de sermos todos hipócritas em prol da coesão da maioria!"

Sora apenas ficou me olhando surpresa e em silêncio por algum tempo. Acho que exagerei.

"Hum! Gostei disso! Muito obrigada pela dica, maninho! Vou seguir seu conselho. Me deseje sorte, tá? Tchau, tchau!"

Sora atravessou a porta com um sorriso satisfeito. Ufa! Acho que ela entendeu a ideia e vai se sair bem. Embora não tenha salvação para ser uma pessoa decente, acho que ela pode convencer os outros de que não é um perigo ambulante para a sociedade, assim como todo bom sociopata.

Pensando nessas coisas, antes que me desse conta, eu já estava de uniforme segurando a mochila e trancando a porta de casa. Acho que alguns velhos hábitos meio que fazemos no automático.

Minha escola não ficava muito longe de casa, então eu poderia ir andando sem problemas. Como não morava em uma capital, as ruas da minha cidade eram bem tranquilas e pouco movimentadas. Nesse dia, eu caminhava distraído pela calçada, ainda com aquele sonho do dia anterior na cabeça quando.

"Uuuuhooooo!!! Chaai da fenteee!!!"

Notei que uma estudante do meu colégio vinha correndo em minha direção de forma desenfreada. Nesses poucos segundos de reação, era notável não só a velocidade com que ela corria, quanto como ela fazia isso enquanto segurava um pedaço de torrada na boca.

Vulp! Consegui desviar. Ela passou como um boi por mim. E então: Pow! Esqueci de dizer que atrás de mim estava um poste de luz no qual a garota bateu a cara com tudo. Voou mochila para um lado, torrada pro outro, e a garota se estabacou toda no chão.

Antes de ter a reação de estender a mão para ajudá-la a se levantar, confesso que não pude reprimir o pensamento que logo me veio a mente quando vi aquela cena:

"Calcinha rosa com coraçõezinhos"


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Notas finais do capítulo

Tudo culpa do clichê dos pais ausentes!



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