Lua Negra - EPOV de Lua Nova escrita por rkpattinson


Capítulo 7
Capítulo 6 - Novidades


Notas iniciais do capítulo

OLHA QUEM VOLTOU?

Quem pensou que ficaria sem a continuação desse epov se enganou! Avisa que a att de Lua Negra chegou!



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O CLIMA ERA OUTRO EM OHIO E EU CONTINUAVA O MESMO DESDE FORKS.

Meu corpo não estava cansado por dirigir tantas horas seguidas, mas a cabeça ia no sentido contrário. Se não tivesse certeza que estava em uma incessante imortalidade, poderia dizer que as veias estavam pulsando sob a pele de minhas têmporas. O veneno encharcou minha boca evidenciando a sede. 

 

Relaxei o pé do acelerador quando entrei na zona urbana. As luzes das ruas ainda estavam desligadas e as pessoas começavam a voltar para suas residências nas primeiras horas da noite. Essa era a hora dos monstros saírem dos buracos que viviam. Buscando não atrair atenção, mantive o carro na velocidade permitida. 

 

Parado em um dos semáforos no centro da cidade, sangues menos adocicados inundaram minha cabeça. Sentia-me quase tonto. Fui guiado pelo falatório do outro lado da avenida. Um grande grupo de estudantes conversavam aos berros. 

 

Tentei não prestar atenção nos pensamentos aleatórios e alvoroçados. Aos poucos, começaram a atravessar sob a faixa de pedestre. Como se precisasse daquilo, abaixei o vidro da janela e virei o rosto para fora do carro, inconscientemente, procurando o cheiro fresco dela no meio da multidão. 

 

Havia uma combinação de perfumes florais e amadeirados. Gotículas de transpiração brotavam das peles quentes fervidas por sangue. Nada do que eu realmente precisasse. Tinha nada aqui. Uma lufada de carne processada e tomate dominou o ar. Apressadamente, um homem de meia idade que empurrava um carrinho com uma placa vermelha escrito “cachorro-quente”, atravessou a pista no sentido contrário. O sangue dele era mais febril. 

 

Antes que o aroma da ferrugem tirasse um pouco mais do autocontrole, fechei a janela e acelerei o sinal verde, deixando para trás o grupo de adolescentes inquietos e o vendedor. 

 

Mesmo sentindo a sede se alastrar a cada centímetro do corpo, o ardor não era como antes. A dor estava ali, mas era praticamente imperceptível. Poucos momentos de verdadeira irritação. Existia algo dentro de mim obstinado em doer com muito mais afinco. Era permanente e eu merecia sentir. Muito ainda seria pouco. 

 

Inspirei profundamente, preenchendo o pulmão e me concentrando no cheiro de Bella, ainda forte em mim. Era tudo que conseguia sentir — lembrando-me da escolha que fiz. 

 

Não existe ninguém igual a ela. Teria que me convencer disso por toda eternidade.

 

Os montes de areias estavam se desfazendo.

 

Inúmeras vezes durante a viagem tive certeza que cederia. Desapareceria. Apesar de ser tarde para implorar pela salvação — já estava condenado de todas as formas possíveis —, imaginei que ter o número de quebra de promessas maior que o das realizadas, não ajudaria em nada. Por eles, continuei. Sabia que isso seria importante para Carlisle e Esme. Imaginei que para Alice, Emmett e Jasper também. Rosalie fingiria não notar minha existência como fez desde quando Bella descobriu nosso segredo. 

 

Não era recíproco e me sentia egoísta por isso. Talvez essa fosse minha maior característica, o egoísmo. Egoísta por insistir que ela abdicasse de tanto por minha natureza, por ser irresponsável com a própria vida ao se arriscar em estar ao meu lado, por aceitar um monstro em sua vida. Eu era grotesco por pedir que minha família largasse tudo que construiu nos últimos anos do dia para noite por meus sentimentos miseráveis. Egoísmo puro ao obrigar Alice abandonar a melhor amiga. 

 

Rosalie nunca esteve tão errada. Isso tudo não era apenas por uma “humana”. Era por ter permitido que o egoísmo tomasse as rédeas da minha vida desde quando conheci o amor. Bella não tinha culpa de nada. Estava voltando para casa com a intenção de não me sentir um fracasso maior do que provei ser. E não porque queria ficar perto deles. Era arrogante demais por querer ela de volta.

 

* * *

 

Ao chegar em Ithaca, irritado, apertei as mãos no volante quando percebi que não sabia o exato endereço dos Cullens. Vasculhei minha memória, procurando a localização que Esme me passou uma vez sem perceber. Cada segundo mais longe, ficava mais difícil encontrar foco em alguma coisa. Dirigi confiando completamente em meus instintos e sentidos, torcendo para que não me traíssem mais uma vez. 

 

A casa era mais bonita do que nas imagens que Esme tinha na cabeça. Nenhuma outra supera a anterior, claro, e isso me surpreendeu. Havia criado um vínculo com aquela casa, mesmo sabendo que o verdadeiro motivo sequer morava lá. 

 

Na atual, havia uma longa entrada de calçamento, rodeada por um pequeno bosque, que levou-me à frente de casa. Era possível ver uma escada de madeira na lateral da casa. Imaginei que levava ao lago espelhado por trás do casarão, escondido em uma área rebaixada na superfície. 

 

A casa era afastada dos bairros mais próximos, numa zona menos urbana da cidade. Apesar de ter muito verde, o clima não era o mesmo durante todo o ano, como em Forks. 

 

Então, é verdade. Ouvi a mente surpresa de Alice em algum cômodo enquanto desacelerava. Estacionei do lado oposto da casa e fui a pé até a porta de vidro e madeira. Respirei fundo. 

 

Não senti os pensamentos de Carlisle e Jasper em nenhum lugar. Antes que eu pudesse trapacear um pouco e ouvir o que se passava dentro da casa, Alice arrancou a porta do fecho com seus dedos delicados, permitindo que o vidro roçasse na madeira prestes a quebrar. Um olhar preocupado e arregalado ocupava o rosto de pedra. Ela avançou, parando alguns passos à minha frente.

 

— Eu… precisava ter certeza que era você mesmo… — a preocupação deu lugar à mágoa novamente quando suas narinas inflaram — … Você tem o cheiro dela. — assenti sem coragem para continuar olhando. 

— Oi, Alice. — foi tudo que consegui responder, fitando o chão.

 

Esme e Emmett se aproximaram tão rápido quanto ela, enquanto Rosalie caminhava em ritmo humano. 

 

— Pensei que nunca chegaria, cara! — cumprimentou Emmett enquanto espalmava meu ombro com uma força acima da média e um sorriso grande no rosto.

 

Passando entre meus irmãos e diferente deles, Esme me abraçou sem medir esforço. O conforto que ela me ofereceu foi quase a gota d'água. O pouco de força que tinha estava por um fio. 

 

Como ele está diferente. Isso é possível?

— Oi, mãe. — minha voz saiu rouca enquanto a abraçava de volta.

— Por onde você esteve, Edward? — perguntou séria após me soltar. — Carlisle tentou contactar você e ninguém atendeu... — disse com um olhar triste.

Sabia da mágoa de Alice, mas isso estava indo longe demais.

— Por que não disse a eles onde eu estava? — lancei um olhar feroz para minha irmã. Entendia os motivos para a chateação, mas não era justo privá-los de uma informação tão básica. 

 

Esme e Carlisle sabiam que eu poderia ficar sozinho sem problema algum, assim como qualquer outro membro da nossa família. Mas, de qualquer forma, eles sentiam o amor que os pais de verdade sentem. Podia ver a preocupação na voz de Esme e isso estimulou minha cota de culpa mais ainda. 

 

Alice me olhou indignada.

— Porque eu não sabia onde você estava. — a acusação ecoava no bosque — Você sumiu por uma semana, Edward! Por que não atendeu o celular? 

Eu não vi você… a mente de Alice repetia em looping

Não me viu?

— Não sei onde está… — admiti — Na verdade, não procurei. 

— Ha. — Rosalie queixou-se atrás deles. Se não fossem os pensamentos revoltados, teria me esquecido dela. 

— Alice nos contou que não conseguia ver seu futuro. — revelou Esme triste com a lembrança.

— O que? — perguntei surpreso — Você não viu que quase bati o carro?

— Bater? — Esme e Emmett perguntaram juntos.

— Não somos compatíveis com o erro. Isso seria impossível. — foi a vez de Rose se assustar. Apenas balancei a cabeça em negação. Não queria explicar o contexto.

 

Senti-me culpado por ter julgado Alice de alguma forma. Ela me olhava confusa enquanto falava.

— A última coisa que vi foi quando decidiu deixar Bella. — disse. 

 

Ouvir essa combinação de palavras causou uma onda de tensão em meu corpo. Podia sentir cada músculo travar. Prendi a respiração com a lembrança que Alice me mostrou. Após esconder os objetos e sair da casa de Bella, ela passou a ver apenas relances. Em alguns eu estava dirigindo sentido à Denali, outros para o sul do continente. Mas, na maioria dos flashes, eu vinha para Ithaca e desistia no meio do caminho. Com o tempo, as visões se tornaram cada vez menos apuradas até chegar a um completo quadro branco. Como uma tela de pintura ainda sem nenhum desenho e cor. Era como uma janela em aberto, esperando algo acontecer. A imprevisão permaneceu até eu entrar no terreno da casa minutos atrás. — Você não tinha um destino certo e eu não era mais capaz de ver o que aconteceria. 

 

De quantas maneiras diferentes ela sabia que eu queria desistir? Sentia vergonha por esse sentimento ser tão transparente. 

 

— Desculpem-me por sumir. Eu só precisava… — não terminei, porque não existia palavra alguma que completasse a frase. Eu sabia do que precisava tanto quanto sabia que não merecia. Senti todo o esplendor que podíamos desfrutar se tornar irrelevante. Nada valia a pena se não tivesse com quem compartilhar o que tinha.

 

Não queria uma casa nova, um carro do ano, viagens extravagantes, roupas da estação nem da moda, sentir o calor do sol, de água nem de comidas para sobreviver. Não precisava de ninguém nem nada…. a não ser sangue e Bella. Esse pensamento só deixava clara a minha monstruosidade. Porque, de alguma forma, ter Bella e seu sangue era uma combinação tentadora. E isso me recordava os motivos para deixá-la. 

 

Se não eu, outro faria algo pior. Repeti para mim mesmo. 

 

Nunca, nunca seria capaz de conviver ao lado dela sem lhe colocar em perigo, porque eu era o perigo. Minha família era o perigo e novamente não tinham culpa. Eles não escolheram a vida que tinham, nem se apaixonaram pela humana mais encantadora que existiu em tantos anos. Eles não tinham culpa se eu era um masoquista egoísta e apaixonado. 

 

Senti a mão pesada de Emmett circular meus ombros antes de falar. 

—  Agora você tá aqui. Que bom que chegou! — disse sorrindo. Esme concordou, enquanto Alice forçava o rosto para manter os lábios quietos. Podia ver que, se fosse humana, estaria chorando. 

— Eu… — falei — … só quero que ela viva, Alice. — olhei diretamente para ela. — Não acha que tudo que eu queria era tê-la comigo? — meu peito ardeu. 

— Edward, você sabe que daqui não podemos protegê-la. O que faremos se ela estiver em risco? — uma pontada de desespero atingiu meu corpo. 

 

Repassei todo o plano: com os estranhos longe, acontecimentos estranhos não estariam por perto. Nada aconteceria com ela e assim seria por toda sua vida.

— Não haverá risco. — Minha voz saiu entrecortada. Olhei para cada um deles antes de continuar: — Prometam-me que não irão voltar à Forks enquanto ela estiver lá. Eu imploro por isso. 

Rosalie bufou. 

— Se é assim que você quer. — disse Emmett oferecendo um olhar sugestivo à Rosalie — Prometemos. 

— Não iremos, Edward. — concordou Esme e eu sabia que ela pediria o mesmo a Carlisle, poupando-me de repetir a conversa. 

— Edward, você sabe que isso não é verdade… Não é tudo. — disse Alice. 

— Como assim? — franzi o cenho. 

— No momento não vejo nada de novo na vida dela. Está tudo estático, assim como você. Mas — ela hesitou antes de continuar — há uma diferença. 

— Qual? 

— No lugar do branco, vejo escuridão. — em sua mente, conseguia ver o que ela queria dizer. O rosto de Bella se desmanchava em uma tela preta absoluta. Não tinha nada ali. Nem a luz. Estava vazio. 

— O que isso quer dizer? — perguntei aflito dando um passo à frente, soltando-me do abraço de Emmett.

— Não tenho certeza, Edward. Mas acredito que por agora nada. — ela respondeu vacilante. 

— A Bella prometeu. — falei olhando para Alice. 

— Isso não vai funcionar, sabe melhor do que nós. 

— Irei tentar e serei mais forte que da última vez. — respondi fechando as mãos em punhos. — Já causamos danos demais. 

— E o que você quer que eu faça? Esperar para ver? — ela disse com ironia. 

— Bella merece uma vida de verdade, Alice. Sei que qualquer problema que ela tiver… — minha voz falhou — … humanos conseguem resolver. 

Preciso confiar, pensei. 

— E não fique olhando o futuro dela também. — pedi. — Não queria te magoar, nunca foi minha intenção. Eu apenas estou pensando na segurança dela. Sei que você nunca a esquecerá… como eu. — admiti. Mas era mentira, porque eu sabia que a vida ao lado de Jasper iria ajudar Alice a esquecer ela em algumas décadas. 

— Não estou magoada com você. — assumiu ela — Estou chateada por sua decisão. 

— Está feito. 

— Isso não é justo, mas… — não imaginei que seria tão difícil assim para ela — irei respeitar. Prometo que não voltarei à Forks. Não posso falar o mesmo das visões, não posso controlar. — disse Alice.

—  Tente, por favor. — pedi.

Alice assentiu relutante.

— Tão teimosa quanto ela. — dei-lhes um sorriso oco e nostálgico. Sempre lembraria da teimosia dela e, apesar de me destruir, aquilo me fazia sorrir. 

— Você poderia ser o líder do grupo. — disse ela. Emmett gargalhou atrás de mim. Ouvi a risada delicada de Esme o acompanhar. Rosalie voltou para dentro da casa de braços cruzados, lembrando-me que ainda estávamos do lado de fora. 

Alice sorriu antes de chocar o corpo contra o meu. 

— Sentimos sua falta. 

— Estou aqui. — respondi. 

Por enquanto.

 

A arquitetura interna da casa era tão bonita, quanto a parte de fora. Uma mistura de mármore e madeira aconchegante. Da sala, conseguia ver o janelão da cozinha, revelando o lago paralisado como eu. Talvez nunca conseguisse expressar o que sentia de fato. As lacunas pareciam crescer a cada segundo, transformando-se em cavidades cada vez maiores. 

 

Emmett subiu o pequeno lance de degraus de madeira atrás de Rosalie. 

— Onde estão Carlisle e Jasper? — perguntei ao atravessar a sala. 

— Estão chegando. — disse Alice convicta. 

— Carlisle ajudou Jasper com a matrícula. — disse Esme convidando-me para sentar ao seu lado no sofá espaçoso cor de oliva. 

Olhei desconfiado para Alice. 

— Sim. — ela saltou até nossa frente, sentando-se no chão com as pernas em posição indiana. — Devida nossa mudança um pouco… conturbada — hesitou enquanto escolhia qual palavra definir aquele dia —, Carlisle escolheu manter o plano de mandar os mais velhos para faculdade. 

— Rosalie e Emmett ainda não decidiram qual curso vão escolher porque o casamento será em Dezembro. 

— De novo? 

Casamento. Essa seria a primeira palavra que eu excluiria do meu vocabulário. Não fazia sentido nenhum.

— Vão manter o enredo de casal apaixonado que se casam após a escola. — disse Alice revirando os olhos. — A parte boa é que tenho muito com o que ocupar minha cabeça… — ela olhou para baixo —  Rose deixou que eu me organizasse.

— Imaginei. — respondi sem empolgação nenhuma. — O que Jasper escolheu? — perguntei mudando de assunto.

Desculpe. Pensou Alice. 

— Filosofia. Pude ver que ele se misturará muito rápido na classe. 

 

Ficamos em silêncio e, mesmo sem contar, alguns bons minutos se passaram até Esme interromper. 

 

— Há quanto tempo você não se alimenta? 

— Não se preocupe, resolverei isso hoje. — engoli seco.

— Edward… — Esme fechou o semblante — Não gosto de como isso está caminhando. Sei que não será fácil, mas você não pode arriscar tanto assim. 

Ela estava certa. Coloquei em risco várias vidas durante minha longa viagem.

— Nenhum humano se feriu. — assegurei. Na verdade, havia uma que sim.

— Sei que não, conheço seu autocontrole. — disse sem tirar os olhos do meu rosto — Me refiro à você. 

Ela tocou meu ombro antes de continuar, enquanto Rosalie descia as escadas enfurecida. O cuidado de Esme me comoveu. Eu era sua prioridade, enquanto me considerava a última preocupação viva em minha cabeça. 

 

— Suba, lave-se e troque de roupa. — ela tinha um sorriso materno no rosto.

Não aguento ver ele assim, pensou ela esquecendo que eu estava ao seu lado.

— Você ainda está com… — disse Alice, séria com os olhos fixos em algum ponto na parede atrás do sofá. 

Eu estava em sua cabeça. Vestido com a mesma camisa e um suéter azul marinho por cima. Ao meu redor tudo era branco, vago e instável. Como um piscar de olhos, eu já não era mais sua atenção. 

— Com a mesma roupa de uma semana atrás. — cortou Rosalie — Pelo menos troque essa camisa puída, Edward!

Reaja, ela ficou pra trás. Pensou. 

Quis rosnar para ela, mas não adiantaria. Como conseguiria negar à vontade de voltar para o calor de Bella, se não me permitia deixá-la ir por completo? 

 

Olhei para Alice de relance e me levantei.

— Com licença. — falei avançando para as escadas. 

— Edward! — Alice me chamou em voz alta. Rapidamente colocou-se ao meu lado, e mesmo que não precisasse, ela diminuiu o volume da voz para continuar: — Pode me fazer um favor? 

— Depende. — Estava cansado demais e só precisava ficar sozinho um pouco. 

Ela revirou os olhos quase como se dissesse “escute-me primeiro”.

— Não jogue fora essa camisa. — falou olhando para o tecido branco — Há poucos minutos estava convicta de que você precisaria dela para alguma coisa, mas depois do que Rosalie disse, algo mudou. — ela voltou a olhar meu rosto e eu entrei em sua mente, percebendo que o meu “eu do futuro”, agora vestia uma camisa azul no mesmo fundo branco — Entretanto, não estou segura que esse novo caminho irá se manter.

 

Não havia humor em seus olhos pidões. Apenas um pedido que eu ainda não podia entender. 

— Certo. — ela não sabia o prazer que era alimentar o meu egoísmo por não precisar abrir mão do meu aroma favorito. E, assim como a lágrima, essa seria outra coisa dela que não iria abandonar. 

 

Estava desconfortável no quarto novo. Não me sentia em casa. Tudo o que tinha ainda estava encaixotado e essa não era uma preocupação. Logo não estaria mais aqui. Também não me preocupei em observar o cômodo. Era praticamente irrelevante.

 

Após me lavar e colocar um novo par de roupas, dobrei as peças que estava usando. Antes de guardar, cheirei a camisa na esperança de guardar o cheiro dela em mim, pelo maior tempo que conseguisse. Não me importei em organizar o cabelo. Ele nunca seria domado, tampouco ligava para aparências. 

 

Só precisava sobreviver… sobreviver

 

Ouvi a voz de Carlisle e a insegurança de Jasper ao descer a escada em segundos. 

— Bem-vindo, filho. — disse ele enquanto pousava as mãos nos ombros da companheira. Gesticulei um comprimento com a cabeça para ambos. Jasper não disse nada. 

Edward, pensou ele.

—  Veja você! — Emmett gritou do canto da sala — Nem parece que um avião te atropelou. — ele gargalhou. Os outros tentaram conter uma risada com a brincadeira dele. 

 

Forcei um sorriso, mas meus lábios permaneceram em linha reta. Andei até a porta e quando pus a mão na maçaneta, Esme chamou minha atenção: Ele voltará? Disfarcei ainda de costas. Não gostava de enfatizar que eles não tinham qualquer privacidade ao meu lado, a não ser que eu fizesse.

 

— Onde me aconselha ir, Emmett? — Virei-me para todos na sala. Queria que ela entendesse sem precisar ser direto.

 

Era palpável o desconforto de todos naquela sala. Não sabiam como conversar comigo nem o que fazer ao meu redor. Mas não tinha o que falar, então fiquei feliz por ninguém insistir. 

 

— Ao sul do bosque. — ele sorriu maliciosamente, deixando claro que entendia do que eu falava. Esme relaxou um pouco, enquanto os outros tentavam passar o tempo com as coisas mais insignificantes possíveis. 

 

Assenti e sai pela porta. 

— Hoje vou te acompanhar. —disse Carlisle surgindo atrás de mim. 

 

Avançamos na direção que Emmett indicou em silêncio. Podia perceber que ele forçava seus pensamentos para sentidos contrários aos que de fato ele queria ter. Sabia que eu estaria atento, então privou-me disso lembrando de alguns pacientes internados e das aulas que começaria a ministrar. Imaginou como incluiria sua vasta experiência com a medicina ao longo das décadas, usando diferentes tipos de tecnologias e metodologias, de forma que os alunos não percebessem que falava de si mesmo. Fazendo um resumo expandido dos últimos dias mentalmente, permanecemos assim durante toda a caçada.

 

Na volta, distante para ouvir o barulho dentro de casa e do movimento quase imperceptível do lago, ele quebrou o silêncio entre nós. 

 

— Alice nos contou sobre o quase acidente. — falou.

Diminuímos o ritmo que corríamos.

— Sim. — olhei para ele, desviando envergonhado — Não houveram feridos.

— E você? 

Você está ferido, Edward. 

— Vou ficar bem. — menti. 

— Sabemos que isso não é algo que possa escolher. — Carlisle me alcançou. Parei olhando para ele enquanto colocava as mãos em meus ombros — Fizera uma escolha que, sinceramente, imaginei que seria impossível de executar. — ele nem imaginava como era insuportável lidar com isso — Mas não podemos escolher quando parar de amar, Edward. Nem nossos dons farão algo por nós. Na verdade, nossa imortalidade só dificulta as coisas, distanciando cada vez mais a possibilidade de esquecer qualquer coisa ou pessoa

— E não acha que eu sei disso? — rosnei sem a intenção de ser rude. — Estou destruído, Carlisle. Sinto que vou desaparecer como poeira a qualquer momento. Mas de forma alguma eu posso voltar. Nem vocês, por favor. — cochichei a última frase sabendo que já tinha pedido demais. 

— Não se preocupe. — o rosto aflito se amorteceu — E o que você pretende fazer? Esme quer muito que fique.

— Isso não é tudo. — voltei a caminhar, agora num ritmo mais humano — Preciso garantir que Victoria saiba que não moramos mais em Forks. Quero que venha atrás de mim e pense que Bella está comigo, deixando-a livre.

— Como pretende fazer isso? Ela sumiu desde a última vez que a vimos… 

— Laurent era um amigo fiel a Victoria, sei que ele deve ter contato com ela. — sugeri.

Hmm. Um bom plano. Pensou ele.

— Ele sabe que eu… — minha voz morreu — não abandonaria Bella sozinha. Então preciso convencê-lo de que ela está conosco. Passará a informação para Victoria e ela virá atrás de nós.

Com os estranhos longe, acontecimentos estranhos não estariam por perto, repeti para mim mesmo.

— Estaremos com você. — disse ele e eu agradeci por isso — Irei também. 

Seria bom que soubessem por nosso líder, mas em contrapartida, seria mais fácil criar uma história com base em necessidades humanas. Seria algo medíocre demais para que ele desconfiasse, porque era assim que vampiros como a dupla pensavam sobre as vivências humanas. Esme se colocaria à disposição, mas ficaria triste por deixar Carlisle e eu não faria aquilo com ela. Seria mais seguro levar Alice, mas ela atrairia insegurança para Laurent e isso poderia tornar a situação hostil demais. As visões dela poderiam ser uma ameaça para ele e precisava que fosse algo espontâneo. Jasper também não seria uma opção por dois motivos: primeiro porque ele não viajaria sem Alice e segundo porque seu desconforto ao lado de humanos era visível, então isso seria impossível. Imaginariam uma desgraça tão igual a que aconteceu. Emmett tinha facilidade em conversar, era divertido e tinha a vantagem de ser grande demais. Rosalie por outro lado me odiava, mas não seria oposta à viagem. Talvez o milésimo casamento deles pudesse ser outro argumento.

 

— Acho que seria melhor que Emmett e o Zangado me acompanhassem. 

Ele riu mentalmente, deixando apenas os olhos corresponderem à mente. 

— Não acho que ela queira ir de bom agrado, mas seria um bom disfarce. 

— Ele ainda está em Denali? — perguntei.

— Da última vez que conversei com Eleazar, Laurent estava envolvido demais com Irina para deixar o Alaska. 

Então estava decidido.

 

***

 

— Novamente vou ter que sair para salvar sua donzela. Sua brincadeira não vai acabar nunca mesmo, milorde? — a voz dela era maçante. 

— Estou cansado dos seus shows, Rosalie. 

— Ha! Também estou cansada, Edward. Cansada de sempre caminhar atrás de você, como todos nessa sala, cuidando de todo o lixo que deixa pra trás. 

Voei até Rosalie, a poucos centímetros do rosto dela, quando respondi.

— Nunca mais refira-se a ela dessa forma. — senti a mão de Emmett em meu peito e o rosnar diminuir enquanto Jasper entrava em meu campo de visão. Os olhos de Rosalie pulavam de orgulho para medo. 

— O que eu ganho com isso? — perguntou recuperando o ar esnobe. 

Claro que ela precisaria de algo em troca. 

— Não lhe pedirei mais nenhum favor e nunca mais a verá. — isso seria um castigo para Alice, como era pra mim, mas para ela era um alívio — Estará livre de mim também.

Os pensamentos se agitavam em minha direção.

— Sei que prometi que viria, quis desistir — olhei para Alice, revelando que ela já sabia do meu segredo — mas eu vim. Só que, depois de terminar minhas obrigações com Bella, preciso ficar sozinho. — nenhuma dor seria maior que a minha em precisar ficar longe dela. 

— Sem data para voltar? — perguntou Jasper. 

— Sim. 

Esme se aproximou carinhosamente, pondo meu rosto entre suas mãos para dizer: — Sei que você precisa disso e iremos respeitar. Mas, por favor, nos dê notícias… 

— Alice saberá quando eu vier. Não posso prometer mais nada — estava cansado de ser um fracasso com promessas —, mas terão notícias de mim. 

— Assim seja. — Esme sorriu tristonha e se afastou. 

Fitei o chão, procurando motivos para desistir do plano e seguir sozinho, mas eu precisava de um enredo e cúmplices. Rolei os olhos pela sala e falei:

— Espero vocês na garagem.


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Notas finais do capítulo

O que acharam desse cap???
Conto com os feedback de vcs! Tava com saudades de escrever!



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