Lua Negra - EPOV de Lua Nova escrita por rkpattinson


Capítulo 12
Capítulo 9 - Sabor Agridoce


Notas iniciais do capítulo

N/A: Esta é uma fanfic EPOV baseada na história original de Lua Nova.
Todos os direitos reservados a SMeyer.
Pertencem à autora deste fanfic todas as novas cenas escritas.

Espero que gostem, esse cap tá do jeito que vocês gostam: grande! ♥



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A CIDADE NO ALTO DO PLANALTO, ERA UMA VERDADEIRA FORTALEZA.

 

Apesar da penumbra que caia com o anoitecer, ainda era possível observar que a paisagem medieval era de se admirar. Nunca tinha observado que as estradas até Volterra eram completamente sinuosas. Rodeadas por colinas recobertas por campos de trigo e cercadas por belos ciprestes. As coníferas estavam posicionadas estrategicamente no entorno da via de asfalto, distante dos campos irregulares e abertos. 

 

As poucas vezes que estive aqui não eram tão definitivas como essa e, por isso, nunca houve motivos que me fizessem notar ao redor. Não significava que a grandiosidade de Toscana não tivesse sua própria beleza. Pelo contrário, sem dúvidas a entrada era o primeiro ponto turístico antes da cidade de pedra. 

 

Intrigantemente, enquanto o vento chicoteava meu rosto sem piedade, percebi que esse era o meu maior ato de humanidade. Porque, assim como um prisioneiro em seus últimos minutos antes da condenação, eu notei detalhes que ninguém com urgência de viver pode notar. 

 

 O perigo eminente de chegar à cidade era meu combustível. Eram tantas hipóteses em minha mente. Implorar por um fim era a primeira opção. Uma existência a menos não faria diferença, apenas somaria aos milhares que os Volturis já acabaram. Mentir sobre uma regra quebrada seria impossível, Aro faria questão de conferir. Assim, restavam poucas opções e quebrar alguma regra parecia uma boa segunda opção, para todo caso.

 

E, por segundos, quando me aproximei do limite da região, lembrei-me de quando contei sobre os Volturis para Bella. Naquele momento, eu poderia ter certeza que a única pessoa capaz de me ferir era ela. Agora estava claro como fui ingênuo e egoísta. Afinal, eu a abandonei e a feri, tornando-me o verdadeiro culpado por tudo, até mesmo pelo meu desprezível sofrimento. 

 

Pensamentos involuntários e tardios, pensei com culpa, colocando-os de lado. 

 

Respirei fundo quando o asfalto deu lugar às pedras irregulares sob meus pés. 

 

Volterra era um local verdadeiramente antigo. A população dos Etruscos, antiga civilização que ocupou e protegeu a região, restringiam-se a uma espécie de labirinto de becos e ruelas. A arquitetura era baseada em pedras e tijolos, além das belas pinturas.

 

E, assim como todo pedaço de terra deste grande mundo, nós invadimos e dominamos civilizações. Antes dos romanos tornarem-se os donos da Itália, outros povos acreditavam que os etruscos eram vampiros devido suas habilidades arquitetônicas, hábitos, mortes e cultos. 

 

De fato, existiam muitos de nós em todas as civilizações e essa era uma delas. 

 

Aro Volturi, o líder do clã, certamente teria histórias próprias ou de aliados para contar acerca disso. Ele era uma verdadeira caixa de surpresa. Com minha estadia nada amigável, não teríamos tempo para colocar as novidades dos últimos cem anos em dia. Além disso, eu seria breve, sem muitas complicações.

 

Do centro da pitoresca Piazza dei Priori 1 completamente vazia e rodeada por prédios medievais, e ao lado de uma fonte desligada, pude ver o famoso Palazzo dei Priori 2. Construído a pelo menos 500 anos, era de fato uma obra gótica que venceu o tempo e permaneceu de pé. Todos os dias, mesmo na baixa estação, a praça e o palácio permaneciam cheios de turistas. Então, em não muitas horas, a minha segunda opção estaria cada vez mais possível.

 

Era difícil imaginar um futuro sem a ajuda de Alice. 

 

Um problema, pensei alerta demais no meio da escuridão que tomou completamente a cidade italiana. 

 

A esta altura, ela já podia ver minha decisão, por mais confusa que estivesse e menos precisa possível. Na pior das opções, ela partiu ao lado de Jasper para meu resgate, mesmo sabendo que não conseguiria mudar nada. Era minha irmã, afinal, mas insistente demais para parar até que a última opção fosse testada. Nem mesmo Jasper conseguiu esse feito. Com sorte ela não avisou os outros… com sorte.

 

Caminhando para o norte da praça, o silêncio era quase absoluto. Respirações humanas não eram tão relevantes. Haviam poucas vozes ao leste que acompanhavam o cheiro de fermentação, queijo e uva. 

 

Ao lado do edifício histórico, estava um beco escuro e humanamente insalubre. Meu faro alertava para a história daquele beco que, um dia, fora um verdadeiro mictório a céu aberto. 

 

Observei o estreito e escuro caminho. 

 

Antes de conseguir ignorar os aromas que pairavam no ar, um teor ferroso atingiu meu nariz. Não era totalmente doce. Existia uma mistura de sabores, ora doce, ora salgado. Atrevia-me dizer que era um tanto ácido. Mas da mesma forma que a pimenta machuca, também provoca prazer. 

 

O sabor agridoce apunhalou meus sentidos, permitindo que minha boca transbordasse. Percorri todas as mentes agitadas no menor raio possível, buscando pela fonte daquele liquor. Sentia como se minha cabeça repetisse um mantra fervoroso segundo após segundo para me embriagar da viscosidade de sangue humano. 

 

Praticamente sem culpa, percebendo meu erro, penetrei algumas mentes até encontrar a premissa. A pessoa estava inquieta e seus olhos vasculharam afobadamente o chão acarpetado cheio de poças de sangue. Conseguia ouvir a respiração ofegante e notei que a minha havia cessado por completo para tal concentração. Através dele tentei procurar o motivo do ferimento, mas não existiam pistas. Também não houveram gritos nem pedidos de socorro.

 

Após um longo período de olhos fechados, a pessoa agora fitava o teto de um cômodo muito iluminado, apesar de completamente fechado. Não havia luz natural e pelo ângulo, estava deitada. De repente, um murmúrio de agonia me despertou. 

 

O que eu tô fazendo?, questionei-me.

 

Sabia que àquela altura não fazia diferença alguma, mas lembrei dos meus pais. De algum jeito, aquilo significaria algo para eles. Eu não havia feito nada, então por quê me sentia estranhamente culpado?

 

Ainda conectado com aquela mente inquieta, seus olhos me apresentaram o cenário completo. Depois de outra pausa no escuro, eu pude ver por detrás da visão emprestada um rosto conhecido. 

 

A pele translúcida e os olhos vermelhos, apesar de nublados e duvidosos, vibraram ao devolver o olhar. Eles eram tão desprezíveis quanto os meus. Nojentos de desejo. 

 

Aro Volturi divertia-se ao perceber que sua guarda se aproximava, amontoando-se ao redor da vítima como urubus. Ele tinha um sorriso predatório, apesar de não existir vestígios de sangue em seu rosto. 

 

Buon viaggio 3 — disse Aro com sua voz flutuante. 

 

Desvencilhei-me daquela mente rapidamente. Meu peito subia e descia em uma frequência desregulada. Talvez por costume ou mania, parecia até que meus pulmões voltaram a depender de oxigênio devida tamanha urgência. 

 

Apoiei-me na parede de pedras que, apesar de desniveladas, eram escorregadias devido ao lodo. Esperando um milagre, tentei me acalmar repassando meu único e último objetivo. O fim.

 

Eu podia imaginar Bella dizer que eu “não era como eles”. Mas, qual argumento poderia reforçar essa negação? Eu causava medo e mortes tanto quanto eles. As vítimas eram as únicas diferenças. E, a testar pelos meus últimos minutos e os anos que me permiti ser uma besta incontrolável, eu era tão capaz de provocar dor aos humanos quanto um Volturi. 

 

Bella estava errada. Eu, nós, éramos como todos os outros da nossa espécie. Bastaria um frenesi e seria o suficiente para abrir a jaula ou os portais do inferno. Era a mesma coisa e seu aniversário era uma prova disso. Salve Carlisle, mediante tantas vidas que já salvou. 

 

Era aquela criatura de cabelos longos e pretos que eu enfrentaria. Seria um caminho sem volta e que, por mais que tentasse desistir, uma decisão seria tomada. Sem pensar mais que o eventual, me afastei da parede enlodada e adentrei o primeiro metro do estreito local. 

 

Existia uma descida sutil à medida que me afastava da entrada do beco. Após uma breve curva, avistei o paredão de tijolos. Aquele era o símbolo de que, de fato, deixava para trás o mundo dos humanos. 

 

Em poucos segundos, encontrei a entrada enodoada do esconderijo. Simplesmente um bueiro vil, ironicamente protegido por uma grade de esgoto. A sarjeta era como o porão imundo que me escondi, escura e pequena.

 

Empurrei a abertura e saltei. Esperava que houvessem estacas à minha espera, capazes de me rasgar de fora para dentro ou até mesmo a guarda dos Volturis. Diante da exposição, poderiam me confundir e resolver o problema com as próprias mãos. Assim, não havia tantos problemas. Eles teriam que explicar o acidente e nunca saberiam o que um Cullen fazia por ali. Exceto Alice e, certamente, Jasper.

Mas não existia espaço para erros, muito menos para criaturas com a experiência dos Volturis. Supostamente, a palavra erro não existia em seus vocabulários.  

 

O cheiro de sangue e urina, impregnados historicamente na parede, ainda me rondavam. As obras monumentais não eram as únicas heranças medievais. Era fácil encontrar uma quantidade inexplicável de túneis sob o território italiano. 

 

Perguntei-me se realmente era necessário todo aquele caminho. Um humano, no mínimo sensato, não entraria em um esgoto. E mesmo que não fosse tão sujo quanto valas ativas, era uma verdadeira gozação. 

 

Atravessei uma segunda grade, dessa vez mais pesada. Irritado demais para caminhar, corri até uma porta de madeira. Seu peso era coerente para a largura. 

 

Inimaginavelmente, jurei sentir meus olhos arderam para a vista que tive. 

 

Duas pessoas, um homem de pele clara como leite e uma mulher de pele queimada pelo sol, limpavam o palco dos horrores. Era possível perceber o coração agitado e a mente inquieta. Haviam poucas respostas para tantas perguntas hesitantes.

 

Enormes poças de sangue pintavam no chão, mas nenhum tipo de respingo nas paredes próximas ao local. De certa forma, eles tinham sido limpos e organizados, imaginei horrorizado. 

 

A vasta iluminação do ambiente fechado vibrou em minha memória. A poucos minutos um cadáver estava ali, mas talvez tenha sobrado pouco para presumir-se que se tratava de um corpo. 

 

O mais surpreendente não era o que tinha acontecido, mas sim os dois humanos servindo à realeza bestial. Ao passar entre eles, apenas balançaram as cabeças como cumprimento, mantendo os olhos grudados na direção do chão. 

 

Minha surpresa era tanta que não percebi a presença de outro rosto conhecido à frente do elevador, desta vez uma mulher.

 

Sua postura era libidinosa, apoiando todo o longo corpo sob a perna direita, enquanto a esquerda descansava lateralmente. Os braços estavam em sua cintura, como se esperasse por alguém que estava atrasado. O cabelo de cor amadeirada caia sobre o rosto, cobrindo um olho, mas não o suficiente para esconder o sorriso manso. 

 

Benvenuto 4, Cullen — disse ela lascivamente.

— Olá, Heidi. 

— Não fui avisada que receberíamos nossos amigos. — sorriu — Precisará nos desculpar por essa bagunça. — disse com os olhos apontados para os humanos quietos — Você pode entender que existem coisas que precisam ser feitas e nós não colocamos em risco a confiança que vocês colocam em nós. 

 

O sorriso permaneceu, mas a irritação era visível em seus olhos. 

 

Preferia não ter percebido que passava um filme em sua cabeça. E apesar de conter muita informação, a vítima parecia ser mais um dos fanáticos em busca de criaturas sobrenaturais. Um homem com uma barba grisalha e longa estava presente em sua mente. E repetidas vezes, o gosto do seu sangue era revivido por ela. 

 

Engoli a seco o veneno que acumulava em minhas bochechas internas. 

 

Há alguns anos ele já estava na mira dos Volturis. Sempre voltava com novas pistas, algumas folclóricas demais. Desta vez, o humano sem nome havia ido longe demais e acabara como todos os outros que resolvessem desafiá-los. 

 

Era praticamente um lembrete de que meu plano daria certo, de uma forma ou de outra. Suspirei.

 

— Claro — respondi. 

— E então, onde estão os outros? — disse ela, flutuando até ao meu lado em busca da resposta para a própria pergunta — Aro ficará desapontado — ela projetou os lábios para frente, como se sentisse pena ou de repente ficasse triste. 

— Estou sozinho — mantive meus olhos fixos nos dela antes de continuar — Anseio por uma reunião com Aro, Caius e Marcus. 

— Intrigante — disse apenas. Heidi circulou em torno do meu corpo e mesmo sem me tocar, pude sentir o frio lânguido projetando-se em minha direção. — Acredito que haja sempre um tempo para oferecer o ombro à família, não é mesmo? 

 

Na última palavra, a mulher rapidamente voou em direção aos elevadores. Apertou o único botão e segurou a porta aberta para que eu entrasse. Antes de fechar, notei que o homem olhou de soslaio para nós dois. 

 

Monstros, a única palavra ecoava na mente do humano. Um lembrete, mais um lembrete.

 

— Eles nos devem alguns favores, mas algumas dívidas são muito altas — comunicou Heidi olhando para os humanos escravizados — Então trocamos favores. 

 

O sorriso ainda estava lá, mas agora ela parecia mais relaxada.

 

— Diga-me — iniciou a conversa novamente, com menos de um segundo — Ainda mantém contato com Tanya Denali? 

 

O nome me pegou de surpresa. O que ela sabia sobre os Denali? E que boato absurdo existia ao ponto de eu nem desconfiar?

 

Existem outros futuros interessantes, ponderou. Quase revirei os olhos, mas continuei a com a mesma expressão decidida de antes.

 

— Sim — respondi encarando o teto — Eles são família. 

Beninteso 5— ela jogou a confirmação no ar — Siamos 6! — proclamou ela quando as portas se abriram. Heidi estendeu a mão para eu adentrar a elegante recepção. 

 

O cheiro de flores inundava minha cabeça. Tão forte que parecia uma falha tentativa de camuflar cheiros tão fortes quanto aquele. O carpete verde-escuro causaria convulsões em Alice, mesmo com belas pinturas penduradas nas paredes.

 

O homem detrás do balcão, que tinha a mesma cor do cabelo de Heidi, era humano. Eu podia ouvir sua respiração e o coração com batimentos calmos. Era visível a diferença dele para os outros dois seres, deixados no ambiente imundo. 

 

— Vincenzo. — Heidi disse em um tom amigável, parando próximo à beirada do balcão — Ainda não começaram os preparativos? — A mão direita dela percorreu a bochecha dele, descendo com aspereza até o queixo. Os olhos do homem estavam extasiados no vestido que ela vestia.

 

Não questionei porque não me importava. Rapidamente, humanos com capuzes e mantos vermelhos ocuparam a mente humana e aquilo me chamou atenção. Algumas imagens, falatórios e orações estavam no combo. Somente quando algumas crianças fantasiadas de drácula surgiram na lembrança de Vincenzo, percebi do que se tratava. 

 

O próximo dia era Dia de São Marcos. A lenda do missionário Marcos que expulsou todos os vampiros de Volterra há mais de mil e quinhentos anos. Seu objetivo era eliminar a nossa espécie como quem elimina uma praga da plantação. 

 

Graças a lenda, superstições como crucifixos e alhos são usados até hoje. Ironicamente, São Marcos, que na verdade era Marcus, provocou e deu motivos para os vampiros não perturbarem Volterra. O que tem funcionado, séculos após séculos. Até que, com o passar dos anos, se tornou uma celebração regional de conhecimento internacional. 

 

— Ainda faltam alguns detalhes, mas está tudo sob controle, senhora — respondeu ele, um pouco tonto mas sem gaguejar. 

— Obrigada, bambino 7. — ela sorriu para ele e depois se voltou para mim — Então podemos entrar, Sr. Cullen. 

 

Assenti. 

 

Apesar de não precisar, acompanhei a velocidade humana que Heidi caminhava. Isto e o grande salão até a próxima porta me deram tempo para pensar. 

 

Eu precisava de um plano, porque eles fariam questão de confirmar minha história. Então veriam a existência de Bella. Saberiam toda nossa história e os detalhes do rosto dela. Eu mataria para mantê-los longe dos olhos famintos dos Volturis, mas não tinha opção. Ele veria tudo. 

 

Talvez pensasse o quanto irrelevante eram meus motivos, mas todos sabem o quão avassalador o amor pode ser e, por mais incrível que pareça, vampiros tinham esse conhecimento.

 

Deixaria que ele soubesse, essa era a melhor forma de fazê-los entender o quanto necessitava da sua permissão e, principalmente, do seu favor.

 

Após a última porta de madeira, atravessando a antecâmara, havia um grande espaço, oco e, graças a fendas no teto, o ambiente era totalmente  iluminado por luz natural. O piso ainda era um eterno decaimento até o centro do salão. 

 

Sentados em tronos de madeira muito espaçados, estavam três rostos congelados. Ao redor, a guarda assegurava que nada os irritava. Porque, sarcasticamente, seria impossível ferí-los.

 

O homem de cabelo preto e longo, de pele extremamente branca, levantou-se e deu no máximo dois passos largos. E sorriu.

 

— Que surpresa agradável! — anunciou, fazendo com que todos pusessem os olhos em mim — Seja bem-vindo, Edward. 

 

Suas mãos serpenteavam o ar como se tentasse apanhar algo que, claramente, não estava lá. 

 

— Olá, Aro — respondi — Marcus. Caius. — olhei para os outros dois que devolveram o cumprimento.

— Vejo que mio fratello 8 e sua família não o acompanham — sua curiosidade era urgente. 

— Estimo sua lembrança. Carlisle, Esme e meus irmãos estão bem. 

— Alice. — disse ele, com os olhos semicerrados.

 

Ela é extraordinária, ponderou Aro. Os outros permaneciam calados, focados demais em minha postura para pensar em Alice.

— Bem. 

 

Inflei minhas narinas, percebendo que o clima ainda era tranquilo e as mentes estavam apenas confusas. Adiantei-me para não perder tempo:

— Preciso fazer um pedido — medi a ânsia que havia em minhas palavras. 

— Um favor? — falou Caius pela primeira vez desde minha chegada. Era perceptível seu interesse. Marcus permaneceu apático, exceto por sua sobrancelha que moveu-se alguns centímetros. 

— Conte-me mais, meu caro. — exigiu Aro.

 

Antes de contar meus motivos, Heidi correu para o lado de Aro. Desnecessariamente, colocou os lábios em seu ouvido e passou a confirmação que eu estava sozinho e que precisava sair para uma nova caçada. Indaguei mentalmente se ela sabia sobre minha telepatia, porque o cochicho não passava de um capricho inútil. Aro a liberou em seguida.

 

Logo depois, voltou flutuando sensualmente e quando passou ao meu lado, reduziu a velocidade apenas para me cumprimentar. 

 

— Espero vê-lo em breve — sussurrou com um sorriso sagaz e continuou andando porta a fora.

 

A cumprimentei com a cabeça e voltei minha atenção para os líderes. 

— Prossiga. — exigiu novamente, mas dessa vez, Aro estava a poucos metros da minha frente. 

 

Procurei as melhores palavras para explicar e poder implorar por seus favores, mas não encontrei. Ele veria tudo. Estava convencido de que essa era a única possibilidade.

 

— Talvez seja melhor lhe mostrar — sugeri. Rapidamente ele aceitou. Não era novidade que ele conseguia ler mentes como eu. Aro precisa do toque físico e isso nos distanciava e debilitava seu dom.

 

Levantei minha mão que logo foi apanhada pela dele. Diante de nosso contato, tentei organizar as informações cronologicamente. Era do meu conhecimento que esse esforço era dispensável, ele veria tudo e todos os detalhes que estivessem disponíveis. Apesar disso, fiz questão de evidenciar os pontos cruciais. 

 

Bella. Perigo. Aniversário. Morte.

 

Recordar-me daquela fatídica festa foi como permitir que dilacerassem um pouco mais do que me havia restado. Respirei profundamente em busca de ar, estava sufocando com a proximidade repugnante da perfeição imortal dele.

 

Aro, por outro lado, parecia catatônico. E apesar da rigidez muscular, havia um sorriso espantado em seu rosto pálido. Os olhos tinham um brilho febril. Podia o sentir apertando minha mão a cada nova cena que era apresentada. Como palestra, ele era uma boa criança, sentada e atenta às informações que eram dadas.

 

O sabor enfurecido por expor Bella me atingia segundo após segundo, assombrando todas minhas expectativas de fazer isso da forma mais pacífica possível. 

 

E quando ele chegou à morte dela, percebi que era o fim, de fato. A repulsa e a raiva foram ultrajantes, apontadas diretamente para mim, mais uma vez. 

 

Antes de me recuperar, senti minhas pernas perderem as forças por um milésimo de segundo. Seria impossível existir daquela forma. Eu precisava disso. A morte parecia doce. O mel mais delicioso é repugnante por sua própria delícia, confundindo com seu sabor o paladar mais ávido 9

 

— Por favor — pedi enquanto seus olhos fixaram-se nos meus. — Não houveram regras quebradas… — e as palavras faltaram — Apenas minha necessidade de acabar com essa dor. 

 

Eu imploro, Aro — implorei mentalmente — Deixe-me perecer na escuridão que nasci.

 

Se ora desço a este leito de morte, em parte é apenas para o rosto ainda ver de minha esposa 10. Lembrei-me de Romeu e não acreditei que um trecho descreveria tão bem os sentimentos que transbordavam em mim.

 

Sem desgrudar do meu rosto, ele soltou minha mão e juntou as dele na frente da própria barriga. Aro respirou fundo, revirando sutilmente os olhos. Minha voz ainda ecoava em sua mente. 

 

— Admira-me saber que não foi você o autor, Cullen — disse ele com sua voz serena — Ela parecia uma verdadeira emboscada ambulante. 

— Aro… — falei com uma voz cólera. Ele levantou o palmo da mão esquerda até a altura da boca e deu-me um sorriso sardônico. 

— Não, caro Edward. — anunciou. Seu rosto assumiu um olhar denso. O silêncio ao nosso redor revelava que todos esperavam por explicações, assim como eu.

 

Irraggiungibile 11, ele confirmou em pensamentos. Esse era o veredito. 

 

Vocabulário italiano:

Piazza dei Priori 1: O centro histórico e uma das praças mais antigas e importantes de Volterra.

Palazzo dei Priori 2: Um dos edifícios medievais mais antigos da região de Pisa, construído entre 1208 e 1257.

Buon viaggio 3: Tenha uma boa viagem

Benvenuto 4: Bem-vindo

Beninteso 5: Claro

Siamos 6: Nós somos

Bambino 7: Bebê, criança

Mio fratello 8: Meu irmão

Trecho 9 e trecho 10: Trecho de Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

Irraggiungibile 11: Inatingível

 


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Notas finais do capítulo

Adicionei ao final, a tradução das palavras usadas no capítulo para facilitar a leitura.
Espero que tenham gostado e me contem nos comentários!



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