Despedida escrita por aflmmart


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805506/chapter/1

(POV Spencer)

Era cedo quando escutei o celular tocar, olhei o número no visor e logo reconheci ser do hospital onde minha mãe estava internada. Apesar de achar que já estava preparado mentalmente para essa ligação, afinal na última semana o quadro clínico de sua mãe havia piorado consideravelmente, quando ouvi a frase ser pronunciada desabei no chão. 

Diana Reid havia partido, depois de uma longa vida de muita luta contra as doenças que a assolavam diariamente.  Ainda com o celular escutei as instruções que deveria seguir para lidar com o ocorrido. Uma parte de mim já esperava por isso, trabalhar dezesseis anos no FBI me ensinou muitas coisas na prática, e isso era uma delas. Porém, todo o meu ser só conseguia sentir a tristeza e o pesar pela morte daquela que era minha única referência de família.

Após desligar a ligação fiquei ali sentado no chão ao lado da minha própria cama apenas recordando a última conversa que tive com ela. Sorri ao lembrar que ela estava lúcida enquanto dizia que me amava. Tão pouco havia escutado isso durante toda minha vida, em meio às doenças da mãe e o abandono do pai,  tinha aprendido a ser prático e pouco sentimental, mas, felizmente, respondeu a ela naquela última conversa, tinha expressado meus sentimentos de amor e gratidão como nunca fizera antes.

Tomei um banho demorado, sabia que a hora que saísse do apartamento demoraria muito a voltar. Tomei um café da manhã rápido e fui em direção ao hospital. Assim que estacionei o carro, o celular tocou novamente, dessa vez era Emily.

—Spencer?

— Oi Emily. 

— Temos um caso, você consegue vir em uma hora?

— Hum, na verdade tenho que resolver umas coisas no hospital, já ia mesmo te ligar perguntando se poderia tirar dois dias de folga. 

— Entendo, claro. Tudo que precisar para cuidar da sua mãe. Nós estaremos em Pasadena, qualquer coisa é só nos ligar. 

— Obrigada. 

Desliguei o celular, eu poderia ter contado a verdade a ela, mas sabia que se comentasse a respeito a equipe inteira largaria o serviço e iriam vir até o hospital imediatamente. No fundo, até queria a companhia de cada um, mas sabia que seriam mais úteis ajudando a salvar outras pessoas, ali não havia mais o que ser feito. 

Respirei fundo uma última vez antes de sair do carro. A médica, Dra. Olívia Prescott, que era a responsável pelo caso da minha mãe, me acompanhou até o quarto, dando um momento para uma última despedida. 

Já havia assistido essa cena inúmeras vezes do lado de fora, e achava que entendia a carga emocional que tudo aquilo significava. Se soubesse realmente…

Me aproximei da cama, observando o corpo coberto por um lençol. Ao erguer a mão para puxar o lençol do rosto percebi que tremia. 

O rosto pálido da minha mãe era sereno, toquei levemente as bochechas sentindo a pele gelada sob seus dedos. 

— Obrigada mamãe, por tudo. — Permaneci ali por alguns minutos, ao mesmo tempo que me sentia perdido, sabia exatamente o que fazer. Era confuso, sufocante. 

— Eu sinto muito Spencer. — Me virei a tempo de ver Olívia se aproximar. — Sua mãe foi uma mulher incrível. 

— Ela sentiu dor? 

— Não, ela estava medicada para dor quando aconteceu.

— Entendo. 

Era quase madrugada quando voltei a sair do hospital. Tinha assinado todas as documentações para a liberação do corpo e acertado todos os detalhes do velório que aconteceria dali a três dias. Ao entrar no carro me sentia anestesiado, não sei dizer quanto tempo fiquei apenas olhando para o volante me concentrando apenas na minha própria respiração. 

Não queria voltar para o meu apartamento, era solitário demais. O único lugar que eu poderia encontrar conforto naquele momento era no escritório em Quântico e não precisei pensar duas vezes para me dirigir até lá. Talvez até desse sorte e encontrasse Penélope rodeada pelos computadores, já que todos os outros tinham viajado mais cedo. 

Pelo horário não havia trânsito por isso não demorei a chegar. Meu cartão de acesso foi validado e as portas se abriram me levando direto para um saguão amplo e minimalista, também sem movimento além dos seguranças noturnos. Prestes a entrar no elevador principal dei de cara com minha amiga saindo. 

— Reid? — Penélope me olhou surpresa. — O que houve? Achei que estivesse no hospital com a sua mãe.

— E estava. — Não sei se foi minha voz ou meu olhar, mas no segundo seguinte era envolvido pelo mais caloroso abraço. 

— Sinto muito. — Para alguém tão falante, nesse momento ela estava incrivelmente quieta. A abracei de volta, deixando que as lágrimas finalmente saíssem. 

Ela me arrastou para fora do prédio, alegando ser o pior lugar possível para se estar depois de uma notícia como aquela. Talvez ela tivesse razão, o que eu menos precisava era ver coisas relacionadas a assassinatos. 

[...]

Seria mentira se eu  dissesse que consegui viver naqueles últimos dias, estava anestesiado, em choque ou qualquer modo semelhante e pouco consegui resolver. Felizmente Penélope e os outros, o restante da equipe voltou de viagem assim que souberam, tomaram a frente e organizaram um velório digno de Diana Reid.

Chegado o momento decidi que iria sozinho, me sentia sufocado mesmo apreciando os cuidados dos demais. No cemitério fui cercado pelas pessoas que eu amava e pouco a pouco a cerimônia foi acontecendo. JJ e Penélope tomaram a frente e fizeram ótimos discursos e suas palavras amáveis eram muito significativas para mim. 

Um por um as pessoas se retiraram, me deixando por fim ali sozinho diante da lápide recém instalada. 

— Acho que subestimei a dor que sentiria com esse adeus. Você tão sabiamente me diria que não passa de uma separação física, que ainda vai estar comigo de alguma forma, mas é difícil me despedir dessa versão que esteve presente comigo desde o início e mesmo com os obstáculos jamais me abandonou. Espero um dia poder ouvi-la ler para mim novamente, me perder no som da sua voz recitando Chaucer enquanto sinto o seu leve acariciar nos meus cabelos.  — Sorri tristemente antes de finalizar — Obrigada mãe, por tudo.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Despedida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.