In The Woods Somewhere escrita por Vanilla Sky


Capítulo 2
Parte II – Karen Page


Notas iniciais do capítulo

*um mês depois* OI GENTE EU VOLTEI! ... podemos fingir que não se passaram praticamente trinta dias desde o primeiro capítulo dessa two-shot?? Eu peço mil desculpas, aqui, em Perjúrio e Chiaroscuro, só esteve meio difícil de atualizar mesmo recentemente. Espero que esse capítulo encontre todos muito bem ♥

Essa fic estava realmente quase pronta, mas eu dei a famosa "empacada" no final e não conseguia escrever de jeito NENHUM. Olha, eu abria o word e não avançava mais de duas palavras. Na seara das boas notícias: eu terminei de ver Demolidor (todas as três temporadas) e terão mais fics Karedevil vindo aí ♥ além de eu logo continuar com as minhas fics em andamento!

Durante o mês de março teremos novidades. Fiquem ligados! ~

E boa leitura :)

edit: arrumei alguns errinhos que achei, mas nada que tenha alterado a história! (25/02/22)



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Se eu pudesse contar a ele, se pudesse falar com ele... Se eu pudesse sussurrar em seu ouvido.

Eu diria que o medo é um mentiroso. Um ladrão.

O medo rouba a alegria, o amor e a coragem. O medo marca as cartas do jogo, faz você pensar que é melhor nem tentar. O medo diz que pode nos manter em segurança, e nós acreditamos nele, pois queremos desesperadamente acreditar. [...] Eu lhe diria que o amo e que quero que ele ame e seja amado.

Eu lhe diria tudo isso...

... Mas nem mesmo ele, que pode ouvir tudo...

... Nem ele pode me ouvir.

(Daredevil: Man Without Fear #2, por Jed MacKay e Stefano Landini, 2019)

VIII.

 

Deer in the chase

(um cervo sendo perseguido)

There as I flew

(assim eu voei)

Forgot all prayers of joining you

(esqueci todas as orações para me juntar a você)

 

O sofá do apartamento de Matthew Murdock nunca parecera tão confortável.

Karen Page estava deitada sobre as almofadas macias do sofá e, nas fibras do material sintético semelhante a couro do acolchoado, buscava, com a ponta das unhas, todas as memórias que tinha daquele lugar, deixando minúsculas marcas brancas após arranhá-las por alguns minutos.

Lembrava de quando visitara Matt pela primeira vez, ao dormir em seu apartamento após sair da prisão. Ainda sentia o ar sumir de seu peito com seu lindo sorriso, sensação que se tornou uma paixão avassaladora não muito depois. De tempos em tempos, a mente de Karen divagava ao momento que provocava arrepios em sua nuca, da porta aberta, da esperança cedendo lugar ao medo e sucumbindo em desespero quando ele não voltou junto com Jessica Jones, Luke Cage e Danny Rand. O abraço de Foggy fora o conforto imediato que, apesar de trazer alívio, não mudava o fato que Matt estava...

Morto.

Karen balançou a cabeça para afastar aquele pensamento, virando no minúsculo espaço para encarar o teto, o outdoor ao lado de fora iluminando parcialmente seu rosto. Matt não estava morto. Era impossível ele estar. Ela acreditava tão fielmente naquilo que pagava seu aluguel e todas as contas do apartamento enquanto aguardava seu retorno. As várias cores das luzes externas faziam sua pele clara brilhar em diferentes tons, e refletiam nos fios de cabelo atrás das orelhas. Não demorou para o celular sobre a mesa de centro vibrar, um aviso sonoro indicando que era hora de ir.

O alarme marcava um horário mais cedo inicialmente, contudo, ela adiou e adiou até não poder mais fazê-lo, não sentindo a mínima vontade de ir embora. Karen precisava voltar para casa e varar a noite escrevendo um artigo para o jornal, então, por mais que seu lado procrastinador desse tudo para seguir deitado, esperando que Matt Murdock abrisse a porta e a abraçasse, um outro lado, mais sério e profissional, fê-la levantar e pegar a bolsa para ir embora tão logo anoiteceu.

Karen caminhou sem pressa alguma pelas ruas de Hell’s Kitchen, abraçando o próprio corpo por baixo de um sobretudo mais largo que seus braços, praticamente anulando o pensamento de que tinha um prazo a cumprir. Às vezes, deixava que seus pés a guiassem por caminhos diferentes, relembrando os dias no antigo Nelson & Murdock, as noites no bar da Josie, tudo tão distante de sua nova vida. E, nesse percurso, viu a Igreja Clinton ao seu lado, as portas abertas como se a convidasse para entrar, mesmo sem ter nenhuma missa em andamento.

Antes que pudesse se virar, porém, ela viu uma sombra pelo canto dos olhos. Não deu tempo para seu coração mostrar alguma alegria julgando ser o retorno de Matt, pois imediatamente notou a faca brilhando contra a escuridão. Um homem de capuz a encarava.

Seria o cúmulo, morrer na frente da Igreja com as portas abertas.

— A dona vai passar o dinheiro ou não?

Ela remexeu na bolsa, fingindo procurar sua carteira enquanto, na verdade, estava à procura da arma a qual costumava levar para proteger a si e a outras pessoas, mulheres amedrontadas pelas ruas de Nova York na maioria das vezes. Os dedos da mão tremiam quando ela segurou a área à frente do gatilho. Karen aprendera a atirar muito cedo, tendo conseguido o porte da sua pistola antes mesmo de tomar (legalmente) sua primeira bebida alcoólica, mas, ainda assim, todas as vezes que precisava empunhá-la eram um tormento.

Contudo, a jovem nem precisou apontá-la para o homem, pois algum objeto ágil foi jogado diretamente em sua cabeça, fazendo-o correr horrorizado em seguida. Era algo vindo da Igreja. Karen olhou para o lado, aflita, apenas para encontrar uma figura conhecida que mal se aguentava em pé usando roupas pretas e um pano de mesma cor ao redor dos olhos.

Era Matt. Matt estava vivo.

Algo em seu subconsciente a impediu de gritar seu nome, uma maneira de preservar sua identidade, ainda que, junto com as lágrimas correndo imediatamente por sua face, ela quisesse chamar seu nome em voz alta, garantir que aquilo não era um sonho. A figura mascarada se ajoelhou no chão. Ela se agachou em sua frente, envolvendo seus ombros em um abraço apertado. Matt estava prestes a desmaiar ali mesmo.

— Entrem. – Uma voz feminina, a qual Karen viu ser de uma freira, ecoou em seus ouvidos como a salvação, literalmente. – Ele está hospedado por aqui.

 

IX.

 

I clutched my life

(eu me agarrei à minha vida)

And wished it kept

(e desejei que assim continuasse)

My dearest love, I'm not done yet

(meu querido amor, eu não terminei ainda)

 

A respiração de Matt era tranquila. Ele tinha os olhos fechados e os lábios relaxados, sendo que o ar exalado de seus pulmões ocasionalmente mexia alguns fios do cabelo solto de Karen. Já devia ser o pico da madrugada, e ela não pregava os olhos, deixando-os bem abertos para observar cada detalhe do rosto de Matt Murdock, vivo e ao seu lado.

Eventualmente, suas mãos tocavam delicadamente seu rosto, sentindo um arrepio cada vez que a pele encontrava sua barba por fazer. A minúscula cama de solteiro apenas dava espaço para um e, já que ele se ajeitara na beirada da cama, Karen se ajoelhou no chão, próximo à cabeceira, posicionando os lábios atrás do antebraço para esconder um sorriso insistente. Matt estava vivo. Não se cansava de repetir aquilo. Matt estava são e salvo.

O sorriso parecia ser contagiante para ele, o qual teve um despertar inusitadamente tranquilo e a cumprimentou com um sorriso antes mesmo de abrir os olhos. Matt chegou o corpo para o lado, abrindo espaço para Karen se deitar.

— Oi. – A voz dele soou extremamente baixa, fazendo com que Karen sorrisse.

— Você fica um tempão escondido embaixo de uma Igreja e, quando aparece, só diz “oi”. – Ambos gargalharam levemente. – Isso é a coisa mais “Matt Murdock” que existe.

O sorriso de Matt transparecia carinho. Cuidado. Ele levou uma das mãos ao rosto dela, lentamente afastando uma madeixa de cabelo. Karen aproveitou a deixa para se aninhar ao seu lado, encostando a testa no tórax do rapaz e ouvindo o calmo batimento de seu coração.

— Você está vivo. – Foi sua primeira fala em voz alta, após um longo minuto quieta apenas ouvindo seus arredores. A frequência cardíaca de Matt, os trens em alta velocidade, uma máquina de lavar antiga batendo roupas. – Por favor, diga que isso não é um sonho.

— Isso não é um sonho, Karen. – Os braços de Matt a enlaçaram, ao mesmo tempo que as pontas de seus dedos faziam desenhos por suas costas os quais, ao invés de fazerem seus pelos eriçarem, provocaram alguns bocejos. – Eu nem sei como cheguei até aqui, na verdade. Eu não tenho lembrança nenhuma depois que o prédio explodiu.

Lembranças surgiram na mente de Karen, especificamente, o abraço reconfortante de Foggy quando Matt não retornara de Midland Circle. Lágrimas incômodas apareceram em seus olhos e caíram por sua face até encontrarem o colchão.

— Quando aquela porta estava aberta e você não voltou, Murdock, eu juro por Deus...

Suas palavras ficaram impedidas após um soluço mais alto, rapidamente confortado pelo abraço apertado do rapaz e um beijo no topo da sua cabeça.

— O Foggy sabe? – Karen virou o rosto para cima mantendo o queixo encostado no tórax de Matt, observando a cabeça dele se mexer de um lado para o outro em negação.

Ela engoliu em seco, um tanto receosa do que poderia dizer. Apertou o corpo dele o quanto pôde sem machucá-lo, uma maneira de ter certeza que Matt não sairia dali tão cedo, e esperou que ele explanasse como chegara àquele lugar, o que demorou alguns minutos.

— Aqui é o lugar onde eu passei boa parte da minha vida desde que meu pai morreu. – Karen aproveitava para sentir o cheiro de lavanda advindo das suas roupas, escutando cada detalhe pois era a primeira vez que Matt era tão honesto com ela em todo o tempo que se conheciam. Ela se sentia especial em ter todas aquelas confidências, a sensação de terem o mundo só para eles intensificando em seu peito a cada palavra dita. – Quando Midland Circle explodiu, eu aceitei o meu destino. Aceitei morrer. Porém eu não contava acordar aqui. De alguma forma, a Irmã Maggie e o Padre Lantom sabiam que eu era o Demolidor e me acharam na margem do Hudson.

Matt umedeceu os lábios, e eles puderam ouvir alguns barulhos de trem acima deles. Karen apenas sabia que eram trens, correndo pelos trilhos levando alguns passageiros, enquanto Matt facilmente identificava quais linhas passavam por ali.

— Eu passei algumas semanas em um sono pesado, recuperando pouco a pouco a sanidade. E tive uma espécie de pesadelo... onde pingava sangue ao lado da minha cama, eu estava em uma floresta, e escutava você gritar.

A moça segurou mais fortemente a roupa dele, enterrando o rosto em seu casaco.

— No fundo, eu sabia que não era você. Mas algo dentro de mim despertou. Como... uma vontade imensa de protegê-la. – Os dedos de Matt entraram pelos fios finos de seu cabelo, acariciando levemente. – No fim, eu apenas presenciei Elektra morrendo na minha frente.

Ela não precisava perguntar quem era Elektra, pois a reconhecia do dia em que fora na casa de Matt durante o julgamento de Frank Castle.

— Sinto muito. – Karen disse ao apertar seu bíceps, ao passo que Matt exalava o ar de seus pulmões pesadamente. O coração dela mantinha um ritmo estável, sem mentiras. Mesmo com os momentos de tristeza advindos daquele dia, ela demonstrava condolências honestas.

— Ela disse algo interessante antes de partir. – Continuou Matt. – Disse que eu tinha motivos para viver. E eu só percebi esse motivo quando apareceu um demônio enorme e disse que ninguém mais se lembrava de mim, e que eu não poderia salvá-la.

— Parece ter sido um pesadelo horrível. – Karen franziu o cenho.

— E pior: parecia totalmente real. – Matt se ajeitou na cama de modo que seu rosto ficasse em frente ao de Karen, segurando sua bochecha. – Você foi o motivo para eu não ceder, Karen. Foi o motivo para eu continuar correndo e sair daquele pesadelo.

Ela encostou sua testa na dele, apenas suas respirações soando em meio à escuridão do pequeno depósito.

— Depois eu acordei no orfanato, e a Irmã Maggie me trouxe para cá. Aqui eu posso treinar e voltar às ruas de vez em quando.

— Você sabia que eu estava lá em cima? – Perguntou ela, mordendo o lábio.

— Eu tive a sensação de ter ouvido seus passos e batimentos cardíacos. – Matt pôs a mão esquerda por cima da blusa de Karen, sentindo uma leve arritmia com o gesto. – Eu conheço seus batimentos muito bem.

Ela riu e deu um empurrão de leve em seu ombro, fazendo-o gemer levemente antes de acompanhá-la nas risadas. Era comum Matt e Karen estarem sempre em meio à uma enorme multidão, e, apesar de não ser o momento à sós que ela imaginava, não deixava de ser especial.

— O que será que houve com o meu apartamento...? – Perguntou ele.

— Eu estou pagando o aluguel e todas as contas. – Interrompeu a moça. – Eu... todos disseram que eu deveria seguir em frente. Se você soubesse quantas vezes eu vim nessa Igreja rezar para você voltar, sem ter ideia que você estava lutando pela própria vida abaixo dos meus pés.

— Desculpe não ter voltado antes – ele arriscou dizer –, apenas precisava melhorar antes de procurar por vocês novamente.

— Eu apenas estou feliz que você esteja aqui. – Sussurrou Karen.

Matt Murdock deu um sorriso em sua direção; um sorriso travesso, feliz, o qual ela sentia uma saudade absurda de ver em seu dia a dia e ocasionalmente via em seus sonhos. Karen não resistiu e moveu o rosto em sua direção, beijando seus lábios carinhosamente. Seu coração palpitou junto de um frio que percorreu toda sua espinha, mas ela não desistiu e, com a respiração entrecortada, beijou-o novamente. Matt pôs a mão que antes estava sobre sua blusa na parte de trás da sua cabeça, aprofundando seus lábios contra os dela, ambos fechando os olhos para ignorar qualquer parte do mundo exterior naquele instante.

Qualquer parte, exceto a voz da Irmã Maggie:

— Tenham decência, vocês dois. – Ela jogou um jornal por cima deles. – Isso aqui ainda é a casa de Deus.

Karen imediatamente levantou da cama, limpando as mãos suadas no casaco antes de dizer, de cabeça abaixa:

— Perdão, senhora.

— “Perdão, Senhor”, acho que você quis dizer. – Maggie sorriu para ela sem mostrar os dentes. – O fato de você ter levantado significa que tinha alguma ideia impura?

— Irmã Maggie! – Choramingou Matt, sentando e cruzando as pernas sobre a cama, ao mesmo tempo que Karen gaguejava alguma resposta.

A freira riu em seguida, trazendo um pouco de leveza para o ambiente.

— Estou apenas brincando com vocês... Mas, por favor, não façam essas coisas aqui dentro.

— Eu já estava de saída, mesmo. – Ela estava tão animada que até esquecera do fato que ainda tinha um emprego e precisava dormir algumas horas antes de ir até a Redação.

— Qualquer amigo do Matt é mais que bem-vindo por aqui. – Maggie sorriu, tendo em suas mãos algumas toalhas dobradas. – Inclusive, você deve ser a Karen que ele tanto chamava enquanto estava desacordado.

Matt tentou balbuciar algumas palavras, enquanto as bochechas da jovem moça se tornaram vermelhas instantaneamente.

— Obrigada por me receberem. – Foi o que ela conseguiu falar, sorrindo na direção de Maggie. – Eu volto aqui amanhã, tudo bem?

— Claro. – Matt disse com um sorriso.

Quando Karen saiu, e os passos dela se tornaram inaudíveis de tão longe que estava, Matt deu um suspiro pesado, sentindo os ombros caírem ao que pesadamente suspirou. Depois de colocar as toalhas em uma gaveta, Maggie sentou-se ao seu lado.

— Você gosta dela, não é mesmo?

Matt nada disse. Sua expressão já entregava o suficiente.

 

X.

 

How many years

(por quantos anos)

I know I'll bear

(eu sei que vou aguentar)

I found something in the woods somewhere

(eu achei algo em algum lugar da floresta)

 

— Eu sempre achei que você fosse como uma porta fechada, Matt.

Alguns dias depois, os dois estavam no telhado da Igreja, logo atrás de uma enorme cruz. Os barulhos da cidade se misturavam nos ainda debilitados ouvidos do Demolidor, o qual tentava não prestar atenção no externo para escutar apenas as palavras de Karen.

— Uma porta fechada? – Ele repetiu a parte final da frase na forma de uma pergunta.

— Era difícil chegar em você. Como esmurrar uma porta de madeira e rezar para que ela abra, sendo que foram poucas as vezes que ela mostrou alguma fresta para mim, até para o Foggy. – Houve um suspiro, sucedido de uma porção de ar condensado se tornando fumaça em frente ao seu rosto, antes das palavras seguintes: – Mas eu percebi que você é uma porta aberta. Escancarada, na verdade. Tudo o que você quer fazer fica evidente em todos os seus trejeitos antes mesmo de você falar.

Os lábios dele se contorceram antes de mostrarem um sorriso entre os fios da barba malfeita. Matt sabia que gostaria de voltar a agir como o Demônio de Hell’s Kitchen em áreas da cidade mais distantes da Igreja tão logo conseguisse se colocar de pé, e talvez tenha deixado tão óbvio antes que Karen não esboçou qualquer reação com aquela notícia algumas horas mais cedo.

— Se alguém quiser vê-lo, basta olhar. Você é transparente. – Ela finalizou.

Matt, que estava em pé em uma mureta baixa, tornou o corpo na direção dela, e a moça deu alguns passos à frente para ficar mais próximo dele. O coração dela batia rápido dentro do peito, e o homem com o tecido cobrindo seus olhos ouviu-o imediatamente, uma batida acelerada e suave ao mesmo tempo. Karen lentamente subiu as mãos pelos braços dele, desenhando com a ponta das unhas até tocar suas bochechas, logo acima do maxilar bem definido. Já fazia algumas noites desde o reencontro, mas ela ainda precisava repetir para si mesma que Matt estava vivo quando acordava todas as manhãs.

Ela levou o rosto na sua direção, tocando os lábios sobre os dele – um simples toque que logo evoluiu para um beijo, com Matt levantando sua máscara e deixando que seu nariz tocasse a pele quente de Karen, segurando suas bochechas com as palmas das mãos e aprofundando o toque de seus lábios. Havia um sentimento de urgência naquele gesto, mãos confusas entre tocar o rosto, o pescoço e o resto do corpo um do outro enquanto respirações rasgadas precediam novos beijos, desesperados em ser a última vez que vissem um ao outro novamente.

— Eu vou voltar.

Aquilo era mais que um aviso – era uma promessa, considerando o tempo o qual se distanciaram, que, apesar de serem reduzidas a algumas semanas, pareciam infinitamente maiores pelo fato de um estar supostamente morto.

— Você, Karen – ele manteve a ponta dos dedos segurando suas maçãs do rosto – foi o motivo para eu juntar forças e acordar daquele sonho insano. Você é o motivo para eu começar novamente.

Matt encostou a ponta do próprio nariz sobre a ponte do nariz dela, sorrindo. Karen igualmente torceu os lábios em um sorriso.

— Vá – ela ordenou enquanto Matt plantava um beijo em sua testa –, sabendo que eu espero por você.

E, tão logo Karen terminou de falar, o Demônio de Hell’s Kitchen já se tornara uma sombra em meio à escuridão da noite. Com a mão em frente aos lábios, ela escondeu um sorriso, pensando no quanto ele só queria a aprovação dela antes de ir embora, além de balançar a cabeça devagar enquanto caminhava lentamente de volta para a Igreja.

A brisa da noite, o barulho das sirenes e conversas, a sensação de liberdade ao pular de prédio em prédio se guiando apenas pelo radar proporcionado pelo acidente. Às vezes, em seus sonhos, Matt Murdock conseguia enxergar – apenas às vezes, ele via o azul do céu, o amarelo forte do roupão de boxe de seu pai, até o verde das copas das árvores.

Mas nada seria igual o vermelho sangue cujo calor sentira quando segurara Elektra naquele sonho, ao som estridente dos dentes afiados do demônio, da agonia com o grito o qual jurava ser de Karen. Um grito que ecoaria em sua mente por muito tempo.

Porque ele encontrara algo estranho em algum lugar da floresta.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Eu gosto muito dessa fic e do resultado dela, especialmente porque a série não faz a justiça Karedevil que a gente merece. Eu torço para que o MCU traga mais desses dois futuramente ♥

Logo logo tem atualização de Perjúrio! :) e além de terem mais fics vindo aí. Um beijão, obrigada pela leitura, deixem um comentário se gostaram (ou se não gostaram) e eu espero vê-los em breve! ♥



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