Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 61
Capítulo 61




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Seu ferimento estava arroxeado ao redor dos pontos, e mesmo depois de meia hora ainda sentia aquele gosto ruim do remédio que tinham lhe dado. Não estava nada satisfeito de pararem para que ele se tratasse. Só faltava um tesouro e este estava ainda há dias dali. Mas Tomoko tinha razão. Tiveram que pegar os últimos dois tesouros roubando estes de outros times. Felizmente o time da Nuvem foi facilmente manipulado, mas seus compatriotas lhes deram muito trabalho. Toru percebeu como ele sentiu o chute no ombro e acabou lhe acertando mais vezes ali, fazendo o ferimento sangrar e até rompendo alguns pontos.

Tomoko ficou possessa por ele não ter tomado cuidado, mas então até aceitou que não houve escolha. Foram mais devagar rumo ao tesouro mais distante e vendo como seria difícil obtê-lo optaram por aguardar alguns dias e observar a rotina daquele bando, calculando a melhor maneira de agir. Foi uma surpresa sem igual ver um outro time chegar lá e pegar o tesouro com certa facilidade, embora se arriscando demais para isso. Bem, ao menos os ajudou, pois assim como Hameri e os outros, eles não esperavam ser atacados logo em seguida.

Ainda estava preocupado com a Grande Bonsai. Na folha que encontraram com o time de Hameri quando revistaram suas mochilas, havia uma descrição muito mais sucinta e clara dos tesouros – ainda não entendia onde eles tinham conseguido aquilo – de forma que foi graças a ela que descobriram o que procurar. Só que nas coisas do time da Nuvem estava a mesma copia com os mesmos textos. Era também a mesma caligrafia, mas não uma copia exata. Alguém escreveu duas folhas com os mesmos dados, entregou uma para um time da Nuvem e outra para um time de Suna.

Por que?

Toda a dificuldade inicial de obter as informações agora tinha virado uma corrida. Acreditava que a maioria dos times deviam ter aquelas folhas, e temia agora que alguém já tivesse pego seu ultimo tesouro.

Deviam ter tentado arrancar de Hameri de onde tinham conseguido aquela folha. Mas ela já tinha escapado, e ainda tinha pegado seus companheiros. Seria idiotice tentar ir atrás deles quando estes estariam preparados. Mas até então, ele tinha acreditado que eles tinham conseguido aquela lista por eles mesmos. Foi só quando acharam uma lista igual com outro time que isso lhe veio a mente.

Evitou de retesar os músculos do ombro enquanto o médico aplicava uma injeção na área ao redor do ferimento. Não sabia o que ele estava fazendo, mas doía muito, ao menos no começo. Depois sentiu o ombro mais amortecido, mas ainda sentia dor ali. Mais fraca, mas ainda assim dor. Viu ele remover a sutura que estava parcialmente rompida e evitou de olhar quando ele abriu o ferimento com um bisturi. Sabia o que ele devia estar fazendo e não tinha interesse em ver. Depois de dez minutos limpando o corte ele o suturou novamente e disse para mantê-lo coberto por dois dias, bem como evitar distender o ombro.

Ele agradeceu e após pagar o serviço dele saiu do consultório. Na recepção viu apenas Tomoko o aguardando lendo uma revista que parecia ser uma novela.

- E então, para quando é a amputação? – disse ela sem nem lhe dirigir o olhar.

- Não vai ser desta vez. Onde está Tanzo?

- Foi comprar alguns suprimentos – ela colocou a revista sobre a mesa de centro – nossa jornada vai ser longa. Vai levar alguns dias para chegar em Fubalo.

- Mais ainda com meu ombro assim – comentou ele pegando sua mochila colocada ao pé do sofá.

- Então vai tomar cuidado agora?

- A menos que algo inesperado ocorra, sim. Mas estou preocupado de alguém chegar lá antes.

Saíram do pequeno hospital e Kotar sentiu a brisa da tarde. Teriam que se apressar e muito para chegar ao destino o mais breve possível, mas seria inútil se ele acabasse com seu ombro no processo.

- Tanzo é mais rápido e furtivo que nós dois – disse ela enquanto o acompanhava – ele pode ir na frente e vigiar as coisas até chegarmos. Se outro time aparecer ele poderia segui-los.

Ele sorriu levemente. Era uma idéia excelente. E ainda poderiam chegar lá descansados. Mesmo com Tanzo se esgotando primeiro para chegar, teria tempo para recuperar as forças.

- Só falta convencer Tanzo disto.

- Sem problemas – ela riu – eu só preciso fazer uma marionete da mizukage para ele.

-x-

- A direita chegamos até o “Cristal que sacia a sede”, e em frente vamos até a “Grande Bonsai”.

Nenhuma das duas disse nada, o que o deixou encabulado. Para ele, tinham que decidir em conjunto o que iriam fazer. Não estava disposto a ser o grande chefe do time. Verdade que na época em que faziam traquinagens era quase sempre ele quem começava a planejá-las, mas isso era passado. Olhou para Ayame que o observava de volta toda feliz, e depois para Haruka que parecia mais prestar atenção em sua parceira. Já Shiromaru devia estar se divertindo correndo ao redor deles pulando por entre a grama, mas sabia muito bem que ela estava atenta, bem como os dois clones dela que estavam bem atrás.

- Meninas! – chamou ele – o que querem fazer?

- Eu quero um passeio – disse Ayame se engraçando para cima dele.

- Hoje só quero andar um pouco por ai, sentir o Sol na pele, talvez comer fora...

- Sei que estão cansadas – mas ainda temos dois tesouros para pegar.

As duas olharam para ele e sorriram. Ayame lhe deu um beijo na sua face antes de o soltar.

- Quero pegar o tesouro mais próximo – disse Haruka chamando sua parceira.

Ayame ficou um pouco pensativa. Ela sabia que ele pretendia ir direto até a Grande Bonsai, portanto seu voto daria a decisão. Colocou o dedo na boca e andou um pouco a esmo, dando passos bem longos e lentos.

- Desculpa fofinho – disse ela – mas também quero ir até o mais próximo, e tomar um bom banho quente na aldeia onde ele está.

- Então vamos indo – disse ele virando a direita sendo acompanhado delas.

Andaram por horas mantendo um passo firme e controlado, sempre com Shiromaru - e seus clones - atenta aos arredores. Logo viram a aldeia onde estava seu destino. Imaginavam que este tesouro seria fácil. O cristal era um colar com um pingente vermelho que lhe dava esse nome – embora nenhum deles tivesse sido capaz de imaginar que tipo de pingente poderia ser chamado de Cristal que sacia a sede – que foi dado de presente por um comerciante ao qual o raikage o escoltou por uma região desértica. Talvez de alguma forma aquele pingente tenha ajudado a encontrar água no deserto, mas era apenas um palpite.

Ao chegarem ficaram surpresos. No mapa dizia que era um vilarejo, mas era evidente que tinha progredido bastante desde que fizeram aquela indicação. Era na verdade uma grande aldeia.

Andaram pela rua principal observando as casas. A maioria parecia ter sido construída há pouco tempo, e notaram que haviam muitas construções de comércio. Depois de cinco minutos de caminhada as meninas derem pequenos gritos e correram a sua frente, direto para uma terma. Ele sorriu um pouco e seguiu atrás delas.

Duas horas depois estavam andando novamente pela rua, desta vez todos limpos e perfumados. As meninas saciaram sua vontade de um refrescante banho e ele apesar de não dizer anda, também gostou. Como precisavam de alguma informação observaram as lojas que haviam ali, tentando identificar quais delas faziam entregas. Eram os melhores locais para se obter informações sobre localidades em uma aldeia, conforme tinham aprendido com seu sensei.

- Ali! - disse Ayame apontando com a mão para uma loja de flores.

- Bem pensado – confirmou Minato.

As lojas de flores de Konoha eram maiores que aquela, mas esta tinha variedades que eram bem raras. Gastaram cinco minutos conversando com a jovem senhora que era a dona do lugar e saíram já sabendo onde tinham que ir. Na verdade, o local ficava perto da terma onde tinham ido.

Quando chegaram lá, ficaram  um pouco decepcionados. Era uma simples loja de bijuterias. Ayame sem se esmorecer entrou primeiro, Haruka e Minato a seguiram logo atrás e os três ficaram ali observando o balcão sem ninguém.

- Tem alguém para nos atender? - gritou Ayame sem paciência.

Quase um minuto depois um homem idoso e gordo abriu a porta interna do balcão e os observou com olhos desconfiados. Fechou a porta atrás de si e com as mãos nas costas se aproximou deles.

- Pois não, jovens? Desejam algo de minha humilde loja?

- Na verdade – começou Minato – soubemos que seria possível encontrar um colar com um pingente vermelho aqui.

As duas o olharam surpresas por ele ter ido tão depressa ao assunto.

- Tenho muitos colares aqui como podem ver – ele abriu os braços exibindo seus mostruários repletos das mais variadas formas de colares, mas os preços mostravam claramente que não eram jóias. Um ou outro item parecia ser de um material de melhor qualidade, mas a maioria parecia ser mesmo simples bijuterias. Mesmo os brincos não eram para orelhas furadas, mas de pressão, obviamente para não causar problemas de irritação.

No entanto eles tinham que admitir que para bijuterias muitos itens eram lindamente feitos, especialmente os brincos com temas de borboletas.

- O pingente é feito de cristal – disse Minato o encarando – e eu soube que ele pode saciar a sede de quem o possui.

O homem estreitou os olhos para ele e olhou um pouco de lado em seguida, evitando o seu olhar.

- Aquilo... – ele sorriu tristemente – eu o dei para minha neta pouco depois do raikage me devolver. Mas ela o acabou perdendo.

- Perdendo? Onde? – Ayame não estava acreditando.

- Se ela soubesse, não estaria perdido, não é?

- Digo – ela ficou encabulada – ela sabe em que local o perdeu?

Ele os olhou estreitando os olhos, como se estivesse desconfiado de alguma coisa, talvez os avaliando detidamente. Minato sentiu alguma coisa diferente naqueles olhos, como se estivesse observando mais do meramente a eles, mas como se pudesse até mesmo ver através deles.

- Faz tempo que não vejo alguém como vocês – disse ele olhando diretamente para Minato – talvez vocês consigam.

- Como? – disse Haruka confusa.

- Minha neta perdeu o colar para alguns bandidos que costumam assaltar na estrada rumo ao porto. Basta encontrá-los que o colar deve estar ainda com eles.

- Porque ainda estariam com eles? – perguntou Minato não entendendo – se eles o roubaram, provavelmente já o venderam ou jogaram fora se não tinha muito valor.

- Ainda deve estar com eles – ele insistiu – conheço os locais onde eles vendem o que roubam, e o colar ainda não apareceu. Claro que é possível que o tenham descartado, mas duvido que o fizeram isso. O colar possui doze pérolas e o pingente é feito de um rubi com um diamante incrustado neste. Achem os bandidos que provavelmente acharão o colar.

- E como vamos achar esses bandidos? – perguntou Ayame com as mãos na cintura.

- Ora, ora.. – ele riu ruidosamente – vocês são um time ninja, não? Acha que bandidos não ficariam tentados a assaltar duas belas moças indefesas andando pela estrada?

Ele olhou para o rosto de Haruka e em seguida para Ayame, e ambas ficaram coradas. Não de vergonha por ele as olhar, mas por não pensarem nisto.

- Obrigado – disse Minato – vamos indo.

-x-

Olhava para eles agachados no chão morrendo de medo. Estava tão atônita que nem se incomodava ainda estar vestida daquele jeito diante deles.

- Sensei? – murmurou ela levemente, olhando ao redor a procurando.

Aguardaram por algumas horas até chegar o horário em que os meninos deviam estar em posição. Abriram a porta daquela sala e dominaram facilmente os guardas que estavam do outro lado dela. Ao irromperem para fora da casa ela e sua sensei atacaram todos os que viam pela frente, embora fosse quase impossível nocautear eles com apenas golpes. E na verdade ela não conseguiu mesmo fazer isso. Nesse ponto, sua sensei tinha acertado em cheio. Aqueles brutos eram muito talhados no trabalho das minas para serem derrubados assim. Só os sufocando ou usando outras técnicas de nocaute teriam sucesso com isso. Mas não era intenção delas os nocautear, mas fazê-los se render, e de preferência antes que quebrasse os dedos das mãos.

- SENSEI! – gritou ela mais alto olhando para cima e pressionando os punhos.

Segundos depois que começaram a lutar, os rapazes apareceram, fazendo pressão e tentando mostrar que eles estavam com toda desvantagem possível. Usaram muitas tarjas explosivas para controlá-los e os direcionar para onde queriam. Ela chegou a ser agarrada por fortes mãos e pelo menos uma vez não teve meios de escapar, mas Umito a ajudou, e com isso conseguiu uma satisfação pessoal. Quebrou pelo menos um dos dentes daquele abusado que estava claramente interessado nela mais cedo e que até tinha se recusado inicialmente a lhe pedir desculpas.

Tudo indicava que ia ser uma luta bem complicada. Outa a tocou no ombro lhe marcando com seu chakra para poder invocá-la mais distante, mas nem foi preciso. Impressionando até mesmo a sensei, Umito acabou invocando a gigantesca serpente Miara, que quando foi vista por eles rapidamente se entregaram de medo.

E era por isso que gritava pela sensei. Por que diabos ela não pensou em fazer aquilo em primeiro lugar? Não precisariam passar por tudo aquilo, oras.

- Não sou surda!

Olhou na direção da voz e a viu no alto de uma das casas, olhando sorridente para baixo.

- Não teria sido mais fácil se tivéssemos chamado Miara desde o começo?

- Sim – disse ela sorrindo mais abertamente – a não ser por dois detalhes... Miara não é um animal de estimação – ela pulou do alto da casa e pousou ao seu lado – ela tem uma vida própria, com seus próprios problemas do dia a dia. Eu a chamo em casos extremos, e caso não saiba, ela também pode me chamar, pois o contrato é para as duas partes.

Ela cruzou os braços e ficou um pouco emburrada. Ainda assim Umito a tinha chamado e controlado as coisas facilmente com isso.

- E qual seria o outro detalhe?

- Isso? – ela sorriu e foi se afastando dela – bem... nem passou pela minha cabeça.

Arregalou os olhos. Ela se vestiu e agiu como prostituta a toa?

- Se não se comportar, vai ficar sem jantar, “filhinha” – disse ela debochando – além do mais, você adorou essa roupa, não pensa que me engana.

- Assim como você – disse ela ainda emburrada, mas um pouco mais calma agora – e os dois ai com certeza adoraram também – disse olhando para eles que estavam vigiando seus prisioneiros.

Umito olhou na sua direção e sorriu levemente, o que a deixou um pouco encabulada, mas isso foi por causa daqueles homens que ainda acabavam olhando com um desejo oculto na sua direção.

- Ainda sou humano – disse Outa sem olhar para ela – mas se quer saber o quanto nós adoramos, Umito-kun comentou comigo que mini saia de couro preta não combina com calcinha azul.

- Nem com calcinha rosa – disse ela em seguida olhando para a sensei, que pela primeira vez desde que a conhecera ficou ruborizada.

- Nós já iremos nos trocar – comentou ela para dar um basta naquilo – Vocês dois, comecem a amarrar eles, e Miyoko-chan, vá verificar se nosso amigo ainda esta bem preso dentro da casa.

Ela sabia que seus alunos estavam satisfeitos agora que o trabalho tinha sido concluído, e que muito provavelmente queriam apenas se descontrair. Mas não estava disposta a se arriscar com aquelas briguinhas amigáveis deles com tantos mineiros ali ainda que podiam se rebelar de repente.

-x-

  

Ela estava com pena. O vestido era mesmo lindo, do tipo que adoraria usar para sair com Ringo para um encontro, mas o estava usando apenas para realçar seu aspecto de indefesa. Ele não iria durar muito em uma luta.

Andava pela estrada escura e fracamente iluminada pelo luar oculto pelas nuvens ralas, com Shiromaru ao seu lado andando como qualquer animal de estimação o faria, sem ficar atenta a todo instante aos seus sentidos. Algo bem fora da realidade por sinal. Ela sentia os instintos da parceira, de uma certa forma, ela podia farejar e ouvir através dela, embora não fosse uma descrição real do que ocorria.

Carregava uma lanterna a óleo que longe de ser necessário para ajudar a iluminar o caminho, era na verdade para ela ser mais facilmente vista pelos ladrões. Sabia que eles estavam por ali e já fazia um bom tempo, acompanhando-a a distancia, ocultando-se nas arvores que ladeavam o caminho. Estava até entediada daquela situação para falar a verdade. Já estava sendo acompanhada por eles por mais de meia hora e nada deles atacarem. Será que estavam desconfiados? Bom, era possível. Afinal pelo que tinham descoberto eles atacavam aquela estrada já fazia algum tempo e uma moça andar por ali sozinha e a noite devia mesmo parecer estranho.

Mas isso não justificava essa covardia deles. E daí que era mais do que obvio que ela andar sozinha ali era estranho? Eles eram ladrões acostumados a roubar, a fazer emboscadas. Certamente deviam ser arrogantes e tolos o bastante para a atacarem mesmo tendo certeza absoluta de que era uma armadilha.

Começou a andar mais devagar numa tentativa de atrair um ataque da parte deles, mas por mais quinze minutos nada ocorreu. Súbito, ela parou de andar e ficou estática observando a frente, a lanterna erguida por sua mão como se fosse tentar visualizar melhor alguma coisa.

Percebeu um movimento deles indo de uma árvore para outra, mas ainda assim nada indicava que iam atacá-la. Por que estavam tímidos? Ela estava ali, sozinha exceto por Shiromaru, andando despreocupada e indefesa em um caminho totalmente deserto e escuro. O que mais faltava para eles terem alguma iniciativa? Um convite por escrito? Pelo jeito, não estavam dispostos a trabalharem naquela noite. Devia ser a folga deles.

Ou...

E se estes não fossem os bandidos? Concentrou-se um poucos nos sentidos de Shiromaru e confirmou que eram apenas três deles. Não era um numero grande para assaltantes de estrada, mas se escolhessem bem suas vitimas, era mais do que suficiente.

Contudo ela estava duvidando disto. Voltou a andar mais depressa desta vez, seguindo estritamente a estrada para ver o que iria ocorrer. Seus observadores a distancia recomeçaram a andar para acompanhá-la, e depois de mais um bom tempo – quase quarenta minutos para ser preciso – parecia que estavam agora tentando ir a sua frente. Talvez fossem armar uma emboscada mais adiante. Para ela isso era um alivio, pois estava bem entediada de ficar apenas andando por ali sem nada ocorrer.

Notou eles quase correndo agora bem adiante dela, mas estavam ainda a sua esquerda. Dez metros depois ela percebeu que a estrada ia nesta direção, e pelas sombras que obscurecia as nuvens no horizonte ela viu que haviam arvores bem próximas agora de onde a estrada ia passar. Era ali que iam atacá-la.

Mas... apenas tres deles? Duvidava cada vez mais que fosse um assalto. E se fosse o que imaginava, já estava até com pena deles. Ela abaixou a mão que segurava a lanterna e prosseguiu pelo caminho, até chegar no  ponto em que a estrada quase que tinha arvores crescendo no meio dela. Não foi surpresa nenhuma eles se anunciarem ali.

Ouviu sons de folhas e de cascalho sendo arrastado com seus passos e movimentos rápidos. Dois ficaram a sua frente e o terceiro atrás. Ela ergueu os olhos e viu ali dois adolescentes – mais velhos que ela, talvez dezesseis ou até dezessete anos – mas ainda assim adolescentes. Eles sorriam de forma debochada para ela e faziam gestos com as mãos, como se fossem querer pega-la.

Que decepção! Mesmo Shiromaru que em situações assim estaria latindo e ameaçando os agressores, acabou se sentando e dobrando a cabeça olhando para eles. Não eram ladrões, apenas um grupo de adolescentes querendo alguma diversão não muito educada. Típico de quem estava desesperado e não tinha sorte com garotas.

- Não acha perigoso ficar por ai andando sozinha? – disse um deles começando a se aproximar.

Ela largou a lanterna que bateu no chão sem se virar e cruzou os braços encarando os dois ali, sem nem se incomodar com o terceiro. Tinha se produzido toda para atrair ladrões e apenas taradinhos inúteis se apresentaram? Que coisa. Estava se sentindo até ofendida. Ayame e Minato deviam estar por ali entre as arvores rindo dela.

Mas...

Se era uma estrada perigosa, do tipo que atualmente só se andavam em caravanas grandes para garantir proteção, porque aqueles adolescentes estariam ali? Seria perigoso para eles também, a não ser que soubessem quando os ladrões estavam por perto e quando não estavam.

- Não estava em meus planos cortar o tesão dos outros – começou ela com a voz fria – mas acho que vocês podem ser uteis no fim das contas – ambos já a olhavam de forma estranha, talvez não entendendo o porque dela não estar assustada – mas antes de mais nada... Ninken kage bunshin no jutso!

Os tres pularam para trás quando apareceram mais de dez clones de Shiromaru, que imediatamente pularam sobre eles agarrando mangas de camisa, cintos, pernas de calça e até cravando os dentes em carne para mantê-los imóveis no chão. Menos de cinco segundos depois os tres estavam dominados e olhando apavorados para ela.

Sem se incomodar muito com o medo deles, ela se aproximou do mais velho se ajoelhou do seu lado.

- Já faz um bom tempo que minha amiga não tem uma refeição decente – disse ela acariciando a única cadela ali que não estava empenhada em mantê-los imóveis – assim, se não quer que ela arranque algo precioso de vocês, que tal me contarem como puderam se aventurar em uma estrada visada pelos ladrões e ainda assim estarem ilesos?

Os lábios dele tremeram quando ela disse aquilo, e em seguida ele começou a se contorcer quando a cadela negra – rosnando – começou a farejar sua perna, subindo por esta lentamente.

- Tudo bem – disse ela – tenho mais dois que podem me responder. Você eu vou usar para mostrar que não estou brincando.

- EU FALO! – gritou ele quando viu a cadela abrir a boca e agarrar-se em seu cinto, torcendo e roendo este para rompê-lo – eu falo, eu falo! – ela tinha acabado de romper o cinto e agora rasgava a calça dele, expondo sua carne – por favor, eu falo! Temos um acordo com eles – ela pegou mais um pedaço de tecido e começou a puxar, rasgando ainda mais a calça na cintura – nós falamos quando tem alguma coisa boa para eles roubarem.

Haruka estreitou os olhos para ele e precisou de muita força de vontade para sequer considerar pedir para sua parceira parar. O problema era que ela não queria isso, e mesmo que pedisse, Shiromaru talvez não atendesse.

- Shiromaru! – chamou ela, e sua parceira a olhou um pouco confusa. Ela entendia que devia parar, mas também sentia as intenções de sua parceira. Haruka respirou fundo e ficou bem do lado da cabeça daquele rapaz que agora ela estava realmente desprezando – como vocês falam com eles?

Viu ele engolir em seco e com isso preferiu interrogar outra pessoa. Assim que deu dois passos, o rapaz gritou de dor e desespero quando Shiromaru o mordeu com força. Ela ainda tinha a intenção que um bom pedaço de carne fosse arrancado dele, mas sua consciência pedia para se controlar, e apenas por isso sua parceira não terminou o serviço, apenas deixando a marca de sua arcada dentária.

- Você ai – disse ela colocando o pé no pescoço do outro rapaz também dominado pelos clones de sua parceira – minha amiga já teve um aperitivo. Se não quiser ser o prato principal, pode responder como entram em contato com os ladrões desta estrada.

Ele hesitou por alguns segundos e Haruka se moveu para o terceiro ali.

- Espere! – urrou o rapaz em pânico – nós sabemos onde... – não foi capaz de terminar pois começou a gritar de pânico com Shiromaru começando a rasgar a calça dele. Se contorceu com tanto desespero que livrou suas mãos dos clones que o seguravam pelas mangas da camisa e se arrastou no chão gritando em desespero por ajuda enquanto os clones e a original se encarregavam de dominá-lo novamente.

- Você é o ultimo – disse ela para o ultimo dos rapazes, este bem mais jovem que os outros dois, talvez com quatorze anos – estava tão apavorado que tinha até urinado nas calças – vou perguntar apenas uma vez, como entram em contato com os ladrões desta estrada?

- Sabemos onde eles acampam – disse ele gaguejando e entrecortando as palavras.

- Bom menino – disse ela da forma mais sarcástica possível. Ela se ajoelhou e colocou a mão na sua testa, fazendo uma pequena carícia – e onde ele fica?

- Não sei explicar bem... – murmurou ele quase chorando.

- Já chega disso – disse ela cruzando os braços e bufando – Ayame-chan, Minato-kun – gritou ela para o alto – chega de ficar só olhando.

Os dois desceram da arvore em que estavam observando tudo e a encararam por algum tempo.

- O que foi? Está com pena deles? De um bando de tarados que ainda por cima entregam as caravanas para os ladrões?

- Não – disse Ayame – estamos é impressionados que você não deixou os três eunucos!

- Não podia fazer isso com minha parceira – ela bufou de novo – bom, o idiota ai sabe onde eles acampam, mas não sabe dizer bem como chegar lá.

- Perfeito – disse Minato o agarrando pela camisa e o puxando para deixá-lo em pé – vai ser nosso guia. Os outros acho que Shiromaru pode ficar se divertindo com eles.

Haruka sorriu e batendo palmas, chamou todos os clones para junto dela. Aguardou os outros se levantarem e depois incitou todos os clones atrás deles, que começaram a correr em pânico pela mata a noite. Com sorte, iriam ficar bem machucados correndo daquela forma no escuro.

- Pode ir para o acampamento deles – disse Minato retirando uma kunai de sua bolsa e colando esta nas costas dele – e se tentar bancar o esperto, ainda temos outros dois para usar no seu lugar.

Pela expressão nos olhos do garoto, era mais do que obvio que ele não ia tentar ser esperto. Ele começou a andar e não demorou muito para ele ficar sozinho no solo andando enquanto ela os outros o acompanhavam a distancia. Apesar de reconhecer que agiu talvez de forma um pouco dura demais, Haruka não se arrependia. Ficou mesmo ultrajada daqueles três não apenas ficar observando a estrada para identificar algo interessante para ser roubado, mas também serem estupradores. E o pior era que tinha visto pelo menos um deles na aldeia quando tinha saído desta como chamariz.

Seguiram o rapaz por mais uma hora pela mata escura, confiando mais nos instintos de Shiromaru para localizá-lo. Através desta Haruka também percebia como ele ainda estava apavorado, e como seu batimento cardíaco aumentava mais e mais agora. Deviam estar se aproximando do seu destino.

Poucos minutos depois, viram uma luz avermelhada a distancia, com o inconfundível rebrilhar de uma fogueira. Ela se adiantou e posicionou-se bem próximo àquele local, ocultando-se com cuidado. Segundos depois seus companheiros se juntaram a ela e todos observaram o que iriam enfrentar.

Contaram pelo menos quinze deles, muitos já estavam dormindo, sendo que apenas quatro estavam de pé comendo algo perto do fogo. Haviam carroças cheias de mantimentos rodeando a fogueira, bem como barracas espelhadas. Um pouco do lado haviam muitas caixas e baús fechados – certamente produtos roubados que iriam ser vendidos aos poucos.

Mas algo que incomodou muito Haruka era uma mulher sentada do lado do fogo segurando uma kunai com um pedaço de carne nesta. Shiromaru não farejava chakra nela, mas o fato dela ter uma kunai perturbava. Todos eles tinham espadas, e havia apenas uma única mulher entre eles. Não fazia muito sentido a não ser que ela fosse a líder, e se era mesmo, devia ser habilidosa para manter todos eles sob controle.

- Haruka-chan? – murmurou Minato quase no seu ouvido.

- Shiromaru não farejou ninguém com chakra – disse ela em voz baixa – mas há uma única mulher ali no meio. Não acha isso estranho?

Ele concordou. A mulher teria que ser atacada com toda força primeiro, enquanto os outros ficavam distraídos. Haviam duas formas de agirem. Uma sendo bem estratégica e outra literalmente usando a força. Como precisavam dominar a mulher depressa – mesmo não tendo chakra, isso não significava que era indefesa – e teriam que manter os outros ocupados enquanto isso, era melhor usar a força.

Alguns minutos depois a mulher que mordia um pedaço de carne parou de fazê-lo e apurou os ouvidos. Tinha percebido alguém se aproximando do local, e saltando. Rosnando, ela deu um grito de alerta mas isso não teve nenhum efeito. Enquanto ainda gritava, o local foi invadido por dezenas de adolescentes que atacaram os que estavam dormindo com força, nocauteando estes quase que imediatamente. Os poucos acordados foram separados – sendo agarrados por várias mãos – e ela precisou bloquear vários golpes potentes – quase lhe partiram os braços – mais por puro reflexo. Muitos do bando já estavam sendo amarrados quando ela percebeu o que tinha ocorrido. Tres shinobis a cercavam, e os outros forma dominados por varias e vários sósias de dois deles.

Ela não esperava ter chamado tanto a atenção para que a aldeia da nuvem mandassem ninjas atrás deles. Mas ficou mais surpresa ainda de ver que as bandanas deles não eram desta aldeia.

Os três a encaravam detidamente e se aproximavam, e ouvindo um rosnado ela viu que havia também um cachorro ali. Resignada, ela suspirou e ergueu as mãos. Não tinha como ela os enfrentar e todos aqueles sósias ali.

No dia seguinte três ninjas de Konoha estavam furiosos diante daquele comerciante que disse para irem tentar obter o colar com os bandidos.

- Eles nunca viram nenhum colar! – gritou Ayame ao fim de um longo discurso contando como sofreram explorando todos os pertences dos ladrões e até interrogando eles a respeito.

Ele a olhou com um sorriso e colocou a mão no bolso, retirando um colar em seguida. Na ponta deste, havia uma pedra – provavelmente um cristal - transparente no formato de um copo, muito bem trabalhada. Era um copo pequeno com tampa inclusive.

- Verdade – disse ele deixando o colar sobre o balcão – sei que usei vocês – disse para os três que olhavam aquilo incrédulos – mas a aldeia da Nuvem estava cobrando um preço muito alto para nos livrar destes bandidos. Eu mesmo não esperava que vocês capturassem a todos e os entregassem no meio da aldeia, apenas que os assustassem enquanto procuravam pelo colar.

- Quer dizer que fizemos um serviço para você e vai nos pagar com o colar em troca? – disse Minato o olhando.

- Sim – ele riu – alguma coisa contra?

- Só o fato de não ter feito este acordo primeiro – disse ele o encarando.

- Vocês são ninjas... poderiam simplesmente terem tomado o colar de mim e partido. Não vejo marcas ou arranhões em nenhum de vocês. Parece que não tiveram dificuldade em prenderem dezesseis criminosos.

- Mas podia não ter sido...

- Chega Ayame-chan – disse Minato pegando o colar e o colocando na mochila – nisso ele tem razão. Somos mercenários, alugamos nossos serviços. Sabíamos disto antes de entrarmos na academia.

Sem dizer mais nada, ele deu a volta e saiu da loja, seguido pelas duas amigas agora mais silenciosas e até pensativas. Mas o idoso comerciante discordava dele. Mercenários alugam seus serviços para qualquer um. Esse não era o caso dos ninjas das aldeias ocultas.


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Notas finais do capítulo

Depois de duas semanas consegui terminar mais um capitulo. Esta mesmo complicado para mim agora. Pelo menos até setembro não tenho idéia de como será o ritmo das postagens.



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