Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 48
Capítulo 48




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Ela entrou no quarto com os olhos bem estáticos, claramente pensando em alguma coisa. Seus colegas a cumprimentaram, mas logo perceberam que Hameri estava muito concentrada, e ficaram em silencio a observando caminhar para a poltrona com as mãos nas costas, dando pequenos passos quase que distraídos no trajeto.

Parou em frente a poltrona e apertou firmemente os lábios. Ajeitou o cabelo que estava com o penteado um pouco desfeito – provavelmente de ter corrido até ali – e afrouxou o seu cinto com pequenos sacos de poeira, deixando este cair ao chão balançando sua mini saia no processo. Logo depois ela se deixou cair na poltrona de forma que esta deslizou um pouco para trás, causando um forte ruído quando seus pés arranharam o piso.

Ficou ali enterrada na poltrona, mostrando claramente um principio de pânico em seus olhos. Para ela ter simplesmente soltado todo o seu equipamento daquela forma, era porque estava arrasada com alguma coisa.

- Hameri, o que foi?

Ela o olhou respirando devagar. Apenas seus olhos se moviam, deixando sua cabeça orientada para o chão ainda.

- Nos passaram para trás... – disse ela melancólica.

Os dois se entreolharam e ficaram a sua frente. Toru chegou a sentar no chão diante dela, e Itheri ficou do seu lado, tentando se controlar e não exigir que ela explicasse aquilo.

- Como assim?

- Eu segui os gennins de Konoha... eles descobriram o que são esses tesouros – ela olhou para cima e mostrou os dentes – não acredito em como foram malandros nisto...

- E o que são? Onde estão?

- O que são, Itheri? – ela sorriu de forma sarcástica – são lembranças... lembranças do raikage que até uns anos atrás estavam em um lugar chamado salão de troféus. Ele os devolveu talvez já se preparando para esse exame. Não há mais nenhum registro deles lá agora.

- E como sabe disto então?

- Como eu disse, os gennins de Konoha foram lá e eu os espionei. Descobriram a história conversando com uma pessoa ali, e fiquei imaginando onde haveria uma indicação do que eram e para onde teriam ido quando me lembrei que talvez houvesse algo na biblioteca...

Ela fez uma pausa e fechou os punhos demonstrando raiva agora. Os dois ficaram pacientemente esperando ela continuar.

- Eu fui lá... na biblioteca da academia. Fui conversar direto com as assistentes. Perguntei como eu poderia saber sobre a historia dos troféus e me recomendaram um livro... um livro que não está lá agora!

- O que houve com ele? – perguntou Toru ficando confuso.

- Resumindo? – ela o olhou com aquele sorriso amarelo – um dos times sumiu com ele. Ficou o maior alvoroço ali quando descobriram que o livro sumiu. Me pediram para voltar amanhã, mas os outros gennins que estavam lá perceberam como elas ficaram assustadas com aquilo e já devem saber do que se trata. Não duvido nada que já estejam planejando invadir os quartos dos outros procurando pelo livro. De qualquer forma, mesmo que o livro tenha as respostas que procuramos, vamos estar com um dia de desvantagem. Eu aposto que quem pegou o livro já se mandou da aldeia.

- Então vamos atrás deles – disse Toru se levantando – não podem estar longe ainda.

- E você sabe atrás de quem nós iremos? Ou como rastreá-los? A única que conheço que poderia... – ela arregalou os olhos ao pensar naquilo – a Inuzuka... – murmurou lentamente – o ninken dela pode rastreá-los...

Ela ergueu a cabeça olhando para a frente, mas logo em seguida afundou na poltrona de novo.

- Não... como ela saberia a quem seguir? A ironia é que eu sei que não foi nenhum dos times da aldeia da Nuvem – ela riu levemente – todos ainda estão por aqui, eu verifiquei antes de entrar. Os que não estão nos quartos são o time da Grama, e os dois times da Névoa.

- Os integrantes do time doze também não estão no quarto – disse Itheri cruzando os braços se referindo ao outro time da aldeia da Areia que veio participar do exame junto com eles.

- Aqueles safados... não ficaria surpresa se foram eles que fizeram isso.

- Não teria outra forma de descobrir isso?

- Talvez tentar invadir a sala de registros e rezar para isto estar registrado na ficha do raikage – respondeu ela zombeteira – ou perguntar para o próprio raikage, o que eu duvido muito que possamos fazer.

Toru se levantou do chão e foi andando apressado para a porta.

- Onde vai?

- Falar com os guardas que ficam na entrada da aldeia – disse ele sem olhar para trás – eles podem pelo menos saber se algum dos gennins do exame passou por lá.

Ela ficou um pouco pensativa, rangendo os dentes. Logo depois agarrou seu cinto e chamou Itheri para ir com ela. Ao menos teria algo para ocupar o tempo.

-x-

Ela olhava para os três gennins ali a sua frente – e a ninken do lado deles – tentando imaginar quando foi que enfrentou alguma situação parecida. Mas não se lembrava. Gennins de outra aldeia querendo uma audiência com o raikage? E descaradamente para saber sobre onde ele tinha enviado suas lembranças?

- Não – disse ela simplesmente cruzando os braços – isso é para vocês descobrirem, não para ser meramente fornecido.

A secretária do raikage ignorou-os e voltou a se concentrar em suas tarefas, separando e definindo o que da burocracia diária deveria ser levada ao raikage no dia seguinte. Logo percebeu que os gennins não tinham ido embora.

- Eu acho que já fui clara – disse olhando para eles com uma expressão nada amistosa.

- Foi sim... mas agora estamos pensando em como te convencer a nos contar sobre isso. Como secretária dele, tenho certeza de que sabe.

Que ousadia a deles! Ficou olhando para aquele garoto loiro que tinha falado aquilo e precisou se controlar um pouco para não ser áspera na resposta.

- Não sou uma das pessoas disponíveis para dar esta informação – respondeu determinada.

- Hum.. – começou a moça que estava com o ninken do lado – pelo que me lembro, o raikage disse que podíamos usar qualquer meio para conseguirmos a informação...

- Sim, vocês podem – ela sorriu – e o que vão fazer? Me seqüestrar e me torturar para isso? Vocês podem usar quaisquer meios sim, mas vão ter que enfrentar as conseqüências disto, sejam quais forem.

- Temos uma imaginação melhor do que isso – disse a outra fazendo um jutso e para sua surpresa, se transformou em uma copia exata dela – do jeito que você parece certinha, deve ter alguma reputação para zelar, não?

Ela se pos de pé e espalmou as duas mãos na mesa, a olhando com fúria e quase que soltando raios pelos olhos.

- Não ouse sequer me ameaçar disto, entendeu?

Ela deu dois passos para trás assustada e caiu sentada, voltando ao normal em seguida.

- Eu já cuidava de novatos como vocês quando nem tinham nascido ainda – continuou ela com os olhos apertados – agora sumam daqui. Todos vocês!

Observou-os saírem da sua sala e bufou desgostosa. Não esperava ter de enfrentar tal coisa, mas devia ter previsto isso considerando qual tinha sido a tarefa do exame. Devia se preparar para quando algum outro grupo de gennins chegasse.

Levou a mão ao seu bolso para pegar uma barra de chocolate para ficar um pouco mais calma e não a achou lá. Procurou no outro e nada. Curiosa, voltou a procurar no primeiro e notou uma coisa...

Ele estava totalmente vazio... as chaves do seu arquivo ali na sua sala, o selo para entrar em alguns locais críticos da aldeia, mesmo sua carteira tinha desaparecido!

Tentou se acalmar. Aqueles três não teriam sido capazes de roubá-la. Poderiam até ter habilidade para pegar as coisas do seu bolso sem perceber, mas não tiveram tempo para isso. Saiu correndo para fora e não os achou em parte alguma. O que mais tinha no seu bolso?

Sentindo o pavor crescer dentro de si, voltou para sua sala e abriu suas gavetas, procurando desesperadamente por algo, algo que sempre deixava no seu bolso, mas as vezes esquecia nas gavetas.

Nada. Não estava nas gavetas.

Aquela menina se transformou em uma copia perfeita dela. E o seu selo de identidade pessoal tinha desaparecido. Com ele ela poderia ir para qualquer parte da aldeia!

Em uma situação normal, ela daria o alarme e os três seriam presos quase que imediatamente, mas ela estava muito, mas muito envergonhada de falar que simples gennins poderiam tê-la roubado. E muito provavelmente eles contavam com isso.

Eles queriam saber sobre as lembranças do raikage, certo? Se foram atrás dela era porque não acharam isso na biblioteca. Nesse caso só poderiam ter ido agora para um lugar.

Saiu correndo novamente e andou por quinze minutos até chegar a sala de registros. Cumprimentou os guardas da entrada – e não notou nenhum deles confuso por vê-la ali, o que significava que aquela gennin ainda não tinha ido ali a personificando.

Entrou correndo pelos corredores e chegou a uma sala onde ficavam os registros históricos. Abriu um dos arquivos e conferiu que a ficha do raikage de sua época de gennin estava lá ainda. Abriu esta e foi direto para as paginas de recompensas que ele tinha recebido. Lá estava a lista delas, e ali no meio os que agora eram conhecidos com “oito tesouros”. Pegou esta folha consigo e também outra, que detalhava para onde os tesouros tinham sido levados. Recolocou a ficha no lugar e saiu calmamente de lá. Já era noite do lado de fora.

Os gennins podiam ter feito a grande conquista de roubá-la, mas não iam conseguir nada com isto. E depois – ou até durante – o exame, poderia achar uma ocasião para se vingar.

Voltou até a sua sala e ao abrir a gaveta da mesa para guardar as folhas ali, percebeu algo no chão, do lado do pé da mesa. Ao se abaixar viu que era a sua carteira, e presa dentro desta estava aquele molho de chaves de seu arquivo. Se abaixou e ficou olhando no chão da sala, procurando pelo resto. Encontrou seu selo de identificação do lado do arquivo.

Talvez ela tenha ficado apavorada a toa. Imaginava agora que quando avançou na gennin, devia der feito sua roupa subir e descer um pouco, e comforme gritou com ela, não percebeu as coisas caindo no chão. Ela devia mesmo imaginar que meros gennins não seriam assim tão habilidosos.

Ela se sentou respirando mais aliviada e arregalou os olhos em seguida. Ali diante dela estava aquela gennin de novo com as mãos nas costas e sorrindo levemente para ela. E na sua mesa estavam as duas folhas que ela tinha trazido com ela dos registros do raikage. Viradas de forma que ela podia ler perfeitamente.

A gennin olhou para ela e levantou a mão direita, segurando a sua barra de chocolate, fazendo-a ficar sem meios de esboçar qualquer reação. Então eles tinham mesmo a assaltado? E imaginaram que ela iria direto até os registros da aldeia para verificar se a ficha ainda estava intocada? Impossivel!

Apesar disto, foi o que tinha ocorrido. Mas como podiam contar que ela voltaria com a informação que procuravam? Maneou a cabeça e olhou para o alto, imaginando como o raikage iria gargalhar caso soubesse daquilo. Por fim, ela estendeu a mão e após hesitar um pouco, ela a pegou. Depois desabou na cadeira e riu levemente.

- Não acredito que planejaram tudo isso – comentou ela ainda não acreditando.

- E não planejamos – respondeu ela – apenas queríamos que saísse da sua sala para saber se havia algo útil para nós aqui. Os outros te seguiram e me avisaram que você estava voltando carregando algumas folhas. Daí eu apenas coloquei suas coisas espalhadas pelo chão, esperando que você as encontrasse, ficando distraída para eu ver o que seria.

Cruzou os braços e apertou os lábios, ainda sorrindo levemente.

- Chuunins sabem como aproveitar oportunidades que surgem – murmurou ela – agora vejo que não planejaram que eu ficasse desesperada por ter sido roubada por gennins e fosse pegar a informação que procuravam. Mas decidiram descobrir se o que eu tinha era útil para vocês. Aposto que já leu o que queria, certo? Mas porque simplesmente não foi embora antes que eu percebesse sua presença?

- Porque você me viu antes que eu terminasse de ler – ela ficou acanhada.

Ela pegou as duas folhas da mesa e ficou observando a gennin diante dela.

- Se me explicar como fizeram isso, eu deixo as folhas com vocês. Elas não são nenhum segredo de estado. Na verdade, pode muito bem ser que alguns dos idosos ainda se lembre quais eram e onde poderiam estar esses tesouros.

- Bem, quando entramos aqui minha amiga já veio camuflada, sendo que seu clone estava no seu lugar. E quanto ficou brava quando eu te personifiquei, foi fácil para ela pegar as coisas de seus bolsos. Ela só esperou você sair da sala para ir se encontrar conosco calmamente. Com a ninken ela rastreou até onde você foi e meu amigo me avisou com o clone dele que você estava voltando com alguma coisa.

- Parece que vocês têm experiência em aprontar com os outros – ela a olhou desconfiada e notou como a jovem ficou um pouco encabulada – Bem, obrigada por devolver meu chocolate – disse ela entregando as duas folhas – e boa sorte... vai ser impossível manterem segredo que possuem esta informação por muito tempo.

Ela sorriu e saiu da sala com uma bomba de fumaça. Considerou aquilo totalmente desnecessário, mas ao menos era uma saída com estilo. Olhou para cima e colocou os pés sobre a mesa, abrindo o embrulho de sua barra de chocolate e mordendo um pedaço. Por alguns momentos lembrou-se de quando ela era uma gennin e corria riscos as vezes a toa.

Ao menos poderia contar para o raikage que pelo menos um dos times conseguiu a informação. Ele já estava ficando irritado com essa demora. Mas não ia dizer como o fizeram.

-x-

- E depois você ainda pergunta porque não inscrevi vocês no exame chuunin – disse ela com as mãos na cintura olhando Miyoko de forma reprovadora.

- Ora sensei – ela olhava de um lado para o outro – desculpa... eu realmente exagerei, eu sei disso.

Anko olhou para o corpo fumegante do cavalo caído entre elas, e mais adiante deste estava o assassino que tinham de capturar, ou ao menos entregar o corpo sem vida do mesmo. Anko queria que seus gennins o pegassem vivo, apenas para tornar a missão mais difícil e lhes dar mais experiência em planejarem como agir. E de qualquer forma, não queria ainda que eles executassem alguém. Umito e Outa conseguiram facilmente direcioná-lo enquanto este fugia dela diretamente para onde Miyoko o encurralaria e deveria deixá-lo inconsciente. Percebeu que Outa ficou um pouco reticente pela sua escolha sobre quem faria o quê, mas nada disse e acatou suas ordens.

Mas Miyoko achou interessante arremessar uma kunai com tarja explosiva na sela do cavalo, talvez esperando que ele pulasse fora. Mas ele não o fez. A explosão matou o cavalo e arremessou o alvo deles longe em direção a um tronco de árvore, que agora agonizava com boa parte dos dentes, talvez o maxilar e algumas costelas quebradas e também com lesões da explosão que atingiram bem sua zona pélvica. Ainda não tinha ido verificar o estado dele, muito menos se iria sobreviver, mas estava apostando que ele ficou eunuco.

- Exagerou? – ainda olhava de forma a repreende-la – na ficha dele dizia que era perigoso e cruel, mas isso não indicava que ele tinha alguma experiência contra equipamento ninja como tarjas explosivas. Teria sido mais eficiente atirar na frente dele a kunai, e após o cavalo se assustar com a explosão, o atacar de surpresa.

Ela ficou esfregando as mãos, encabulada pelo seu erro.

- Se eu quisesse que você o matasse, até estaria te elogiando agora. Mas não foi o caso – respirou fundo e colocou a mão no ombro dela, pressionando esta levemente para lhe dar algum conforto – Miyoko, você sabia que eu estava por perto para conter a situação caso ele fosse demais para você. Você é uma boa kunoichi e está aprendendo bem, mas é preciso ainda assimilar quando deve se conter para cumprir uma tarefa. Mesmo se controlando, você ainda quer se sobressair.

Se afastou dela e foi ver o estado em que o homem estava. Ouviu Umito e Outa chegarem assim que se abaixou e virou o homem ali e viu que pelo menos seu maxilar estava inteiro, mas nenhum de seus dentes da frente escapou ileso do impacto contra a árvore. E a cintura onde a explosão o atingiu também não estava em bom estado. Sua calça foi quase que arrancada, e tinha muitas queimaduras graves nas pernas, na pélvis e na barriga. Ia doer um bocado, mas iria sobreviver.

- Vai, pode dar sua bronca – ouviu Miyoko dizer para Umito. Anko aguardou ele dizer algo para interromper uma possível discussão, mas ficou surpresa sobre como ele agiu.

Como se passou alguns segundos sem ele falar nada, ela olhou na direção deles e ficou surpresa de Umito estar segurando-a nos ombros e fazendo um tipo de massagem neles, e falando em voz baixa com ela também. Não podia ouvir o que ele falava, mas a expressão de Miyoko mostrava que ela estava claramente impressionada e agradecida. Ao fim ela olhou para baixo e segurou nos pulsos dele, induzindo-o a parar de lhe massagear e murmurou um obrigada de forma meiga.

Umito estava sendo realmente um bom discípulo, sem deixar suas frustrações controlarem suas emoções. Ela já a tinha repreendido, não havia nenhuma necessidade de mais alguém dizer alguma coisa. Quanto a Outa, ele já tinha demonstrado já fazia tempo que estava mais interessado em evitar que aquele time perdesse tempo com discussões internas.

- Outa-kun, marque ele com o seu chakra – disse Anko se levantando e empurrando o homem com o pé que começou a esboçar uma tentativa de se levantar.

Viu Outa espalmar a mão nas costas dele e se concentrar um pouco. Quando disse que estava pronto, Anko levou seu time rapidamente até o seu equipamento. Não estava disposta a carregar um peso morto com ela, e nem a obrigar Miyoko a fazer isso. Quando chegaram onde tinham deixado suas mochilas com os equipamentos, abriu a sua e pegou uma corda fina que reservava apenas para amarrar prisioneiros.

- Muito bem Outa-kun, pode trazer ele. E vocês dois – olhou para Umito e Miyoko – não quero que ele consiga ficar de pé.

Outa aguardou seus colegas ficarem em posição e invocou o homem com sua habilidade. Saltou para trás rapidamente enquanto Miyoko agia atingindo seus joelhos, e Umito exercitava seu senei jashu fazendo as cobras que lançou de seu punho atingirem o rosto e o peito dele.

Antes dele terminar de cair ao chão, Anko já o estava amarrando, prendendo bem seus pulsos as costas e também seus tornozelos. Ele ainda estava confuso e aturdido com o que tinha ocorrido antes.

- Muito bem – disse ela – verifiquem o estado dele e façam o necessário para que sobreviva – ela pegou um pergaminho de sua mochila e abriu o selo deste, liberando um pombo – vou avisar que o temos e que o deixaremos no posto de guarda mais próximo. Ainda temos nossa outra missão para cumprir, e vocês sabem que esta vai demorar. Ah sim... – ela sorriu – achem um local para passarmos a noite.

Enquanto eles cuidavam das tarefas que lhes deu, Anko escreveu uma mensagem para Konoha sobre o prisioneiro que tinham e a prendeu no pombo, o soltando em seguida. Quando foi ver o que eles estariam fazendo, viu Miyoko bancando a enfermeira e removendo um pouco da pele mais queimada dele, que estava começando a gritar de dor. Podia parecer que era algo doloroso a se fazer, afinal a pele queimada serve de proteção, mas também pode infeccionar. Outa e Umito não estavam lá, deviam estar procurando um local para acamparem.

- Eles te deixaram de castigo? – perguntou se aproximando dela para observar seu trabalho.

- Não, eu me ofereci. Afinal foi minha impetuosidade que fez esses ferimentos desnecessários.

- Sem contar que o cavalo que você matou era caro – ela riu um pouco – mas acho que podemos jogar a culpa nele.

O prisioneiro grunhiu alguma coisa misturado com sons de dor e talvez alguns palavrões. Ainda estava grogue com o que houve, mas parecia estar ficando mais consciente. Não que fizesse alguma diferença agora.

- Sensei... posso perguntar uma coisa?

- Pode – disse ela ainda mantendo sua atenção no prisioneiro.

- Essa outra missão... a de achar os relojoeiros que podem ter feito as engrenagens daquele mecanismo... bem... acho ela um tanto boba.

- É uma missão de inteligência – disse ela a encarando séria – e a maioria das missões assim são tediosas e monótonas. Mas se localizarmos alguns destes relojoeiros, podemos também descobrir quem montou aquilo e talvez até onde ele esteja, caso tenham enviado estas peças para algum lugar depois de prontas.

- Ainda acho que foi kabuto.

- Eu tenho certeza disto – ela ficou de pé ao ouvir um som de folhas nas árvores – mas para o pegarmos, precisamos de uma idéia de onde ele pode estar.

Ela viu que o som tinha sido feito por Outa que tinha passado por ali, provavelmente a caminho de explorar um outro local para acamparem.

- Sensei – agora a voz dela estava um pouco trêmula – foi por minha causa que não nos enviou para o exame chuunin?

- Me responda você – ela ficou olhando-a de maneira inexpressiva – por que eu faria isso?

Ela parou o que estava fazendo e ficou sentada de joelhos, contendo as lagrimas que estavam emergindo em seus olhos.

- Estaríamos sozinhos no exame – começou ela com os olhos melancólicos – e se um de nós... quer dizer, se eu fizesse algo como fiz aqui nesta missão, iria acabar fazendo todo o time perder.

Anko colocou sua mão na cabeça dela e sorriu ternamente.

- Dizendo isso você acabou de candidatar seu time para o próximo ano.

- Mas... – ela ficou com os olhos arregalados.

- Você finalmente reconheceu – disse ela – é mais do que bastante para se vigiar de agora em diante. Nem sempre é fácil nos livrarmos da vontade de competir e de se sobressair que adquirimos na academia, esse é um dos motivos de poucos times acabarem sendo aprovados depois que os gennins se formam, e também a razão de menos ainda participarem do exame chuunin. Termine logo com isso que estou ficando com fome... e você vai cozinhar o jantar!

Anko riu quando ela bufou desgostosa.

-x-

Enrolou o pergaminho e o selou com cera. Em seguida o colocou em um cartucho de metal e também selou este, chamando um mensageiro em seguida.

- Entregue ao governador da aldeia de Nandio.

O mensageiro se curvou demonstrando respeito e pegou o cartucho, saindo da sala em seguida. Assim que ele saiu, o nobre se levantou de seu assento e foi até o terraço receber um pouco de luz do Sol e observar os arredores. Seu pai vivia dizendo que um dia ele iria governar o pais da Terra, mas desde que ficou maduro o suficiente para compreender as coisas do mundo, começou a desejar não fazer isso. Na verdade temia se tornar como ele, um tolo mimado que quando muito decidia uma coisa ou outra, mas pouco se incomodava com as conseqüências. E pelo que tinha ouvido, os outros senhores feudais eram iguais a ele.

Claro, ele também foi mimado conforme crescia, acostumado a ter tudo o que queria e como queria, mas nasceu com um instinto arredio de muitas crianças, e entre as coisas que gostava de fazer estava a de espionar os outros. E espionando estas pessoas, foi percebendo como ele estava sendo visto por eles. Ainda se lembrava de um comentário que a cozinheira falou, se o senhor feudal sabia quando custava um pedaço de pão.

Nessa época ele nem sabia que as coisas eram compradas. Para seu mundinho, seus criados lhe davam o que ele queria e pronto. Sempre tinha sido assim e sempre seria.

Também tentou imitar soldados que via treinando, e se machucou muito fazendo isso, compreendendo que tinha coisas que não podia fazer. Acabou ficando com a determinação de saber como era realmente o mundo, e quando era adolescente passou a viajar e muito, acompanhado de uma grande comitiva. Mas surpreendou a todos eles quando exigiu saber como era difícil fazer algumas coisas.

Aprendeu a cozinhar – depois de fazer muita comida ruim e só não conseguir queimar água porque era impossível – a derrubar arvores, a ficar exausto depois de andar, até mesmo aprendeu a lutar naquelas viagens. E até que lutava bem. Não era nenhum expert, mas podia surpreender caso precisasse.

Mas isso lhe deu algo que a maioria dos nobres não tinham. O respeito de seus subalternos e criados. Os outros tinham apenas a submissão destes. No fim as viagens terminaram e ele teve de aprender a arte da política, mas também se interessava por estratégias, indo as vezes conversar com alguns capitães dos soldados para conversar um pouco.

A política era monótona e irritante, e muito, mas muito extenuante. Precisava ponderar bem qual decisão tomar, as conseqüências disto e principalmente como ficaria sua situação perante a população com as ações ou proclamações que fazia.

Ainda estava longe de ter os poderes de sei pai, mas já podia tomar decisões sobre algumas aldeias, e ao menos uma delas era importante para o país devido a ter muitas fazendas.

Não tinha muitas ilusões quanto ao seu futuro. Provavelmente iria se casar por ordem de seu pai com uma mulher que daria alguma vantagem política a este, e esta seria bem treinada para lhe ser bem submissa. E como todos os nobres, aborrecido por tal coisa, iria arrumar uma ou duas amantes...

Um barulho lhe chamou a atenção e ele olhou para baixo bem a tempo de ver alguns pedaços da entrada da mansão se espalhar e alguns soldados serem jogados longe. Pelo menos dois daqueles soldados pareciam não ter cabeça. Em seguida ouviu o som de sinos indicando o alarme de que estavam sendo atacados e ele ficou incrédulo. Quem poderia ser insano para atacar o filho do senhor feudal em sua segura mansão?

Seu desejo era o de descer e ver os invasores serem trucidados pelos seus guardas, talvez até precisando intervir para terem algum prisioneiro para interrogar. Mas talvez isso deixasse a defesa mais dificil ou até poderia causar a morte de alguém que cumpria suas ordens. Não, era melhor esperar terminar.

Voltou a sua mesa e assim que saiu do terraço o som de batalha desapareceu, sendo facilmente abafado pelas paredes grossas da sala. Verificou os despachos que devia fazer com uma certa preguiça. Uma das aldeias estava com problemas com alguns rebeldes. Pensou se iria pedir para o tsukage cuidar disto ou enviar seus soldados. Não gostava de usar os ninjas para tudo como seu pai fazia. Eles eram uma elite voltada para assuntos especializados, não mordomos disponíveis para qualquer coisa. Decidiu que iria enviar uma pequena divisão para avaliar a tal força rebelde antes de decidir. Talvez no fim pedisse para que um ou mais ninjas comandassem alguns soldados.

Quando foi enrolar o pergaminho, toda a sala tremeu, chegando mesmo a fazer o vidro de tinta cair da mesa ao chão. Assustado com isso ele se levantou e abriu a pesada porta, ouvindo através desta os sons terríveis do metal das lanças dos soldados tilintando e também o de seus homens gritando horrivelmente. Alguns dos gritos eram claros sons de ordens sendo dadas, e outros eram de soldados atacando, mas a maioria eram mesmo de agonia que logo silenciavam.

Não podia acreditar naquilo. Quando viu a provável explosão na entrada de sua mansão, não viu nenhum invasor, acreditando que devia ser apenas um pequeno grupo. Não podiam ainda estar causando toda essa luta, não contra seus sessenta soldados da guarda pessoal, sem contar os outros cem que estavam nos arredores e que também deviam estar se juntando a luta.

Apesar disso, continuava a ouvir os sons de morte, incluindo gritos de mulheres. Começou a descer as escadas, colocando a mão na katana que possuía. Suas habilidades de combate eram inferiores a de um soldado, mas contava em surpreender seu oponente que normalmente não esperava que um nobre mimado pudesse manejar uma lâmina.  

- Ora, ora.. você é mais viril do que eu imaginava.

Olhou para cima e chegando a abrir a boca com o susto que teve, viu uma mulher ali com os braços cruzados e com um sorriso muito lascivo no rosto.  Nem pensar ou ponderar no que fazia, sacou sua katana.

- Faca grande essa daí, não acha? – ela riu – que tal guardar isso antes...

Ele saltou para a parede do seu lado e usando os dois pés como impulso foi em sua direção, girando a katana formando círculos e impressionando a kunoichi que obviamente não esperava por aquela reação. Ela usou uma kunai para desviar a lâmina e se deixou cair do teto, acertando um chute lateral no pescoço dele enquanto isso. Curvou o corpo assim que tocou os degraus da escada e quase perdeu o equilíbrio. Mesmo assim mal escapou do contra ataque dele, sendo que sua roupa chegou a sofrer cortes.

Mas foi o máximo que ele conseguiu. E efeito da surpresa passou e ela se afastou dele, jogando uma bomba de luz que o cegou por alguns instantes nos quais ela o desarmou e atingiu fortemente seu coração com o joelho, partindo algumas costelas com isso. Ele desabou no chão sentindo o peito explodir em dor e também com tonturas pela parada temporária que seu coração sofreu, chegando a quebrar um dente em um das escadas.

- Realmente, você é viril – ela passou a língua entre os lábios de forma prazerosa. E desta vez ela não estava representando seu papel sarcástico. Estava excitada de verdade com o que planejava fazer com ele – Kotami-sama, você foi um menino mau, e vou te castigar bastante antes de minha amiga o fazer em pedaços...


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