Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 30
Capítulo 30




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Passava os dedos delicadamente pelo fino tecido do yakata, abrindo-o e o deixando em perfeita harmonia sobre sua cama. Fazia muito tempo desde a última vez que tinha ido a um festival de verão.

Talvez tempo demais!

Felizmente tinha um yakata guardado que tinha ganhado de presente de seu pai, e como ainda mantinha o mesmo manequim desde aquela época, ele deveria poder ser vestido perfeitamente.

Foi para o banheiro e tomou uma ducha rápida, e levou um tempo razoável para pentear os longos cabelos e deixá-los perfeitos, sem ficarem embaraçados e extremamente soltos. Vestiu o quimono quase que como se realizasse um ritual, e sentindo ele tocar sua pele de forma macia, observou-se no espelho.

Mantendo o sorriso, saiu de seu quarto e de sua casa, passando pelo jardim onde normalmente Ringo e Neji praticavam um pouco – alias, até sua irmã andou acompanhando o treinamento de Ringo – e foi esperançosa para a entrada principal do distrito do clã Hyuuga, encontrando Neji ali esperando por ela pacientemente.

Sabia que estava atrasada, mas isso era perfeitamente perdoável. Imperdoável seria o homem se atrasar. Mas...

- Você está linda, Hinata-chan – murmurou ele a observando.

- Eu.. – sentiu-se corar, mas controlou-se um pouco – obrigada. Onde está o Ringo-kun?

- Foi pegar a companhia dele – ele estendeu a mão para ela e a mesma aceitou – ou acha que ele ia ter paciência de esperá-la aqui?

- Você teve!

- Sou bem mais experiente – ele riu – e não devemos culpá-lo por estar excitado de sair com aquela bela kunoichi, como ele mesmo a chama quando está sonhando acordado.

Ela acionou seu byakugan e observou ao redor, procurando alguma coisa.

- Minato-kun e Ayame-chan já foram – disse ele. Queriam chegar cedo para se divertirem mais. E ela apostou que ganhava dele para pegar mais peixes.

- Apostou o que?

- Nem imagino – ele riu – acho que vão decidir depois de verem quem ganhou.

Ela sorriu levemente e decidiu deixar o assunto para depois. Estariam todos no festival, e era interessante ser no mesmo dia. Talvez porque a hokage apenas tenha dado uma folga limitada.

Andou com Neji calmamente até chegarem a entrada da aldeia e esperaram um pouco. Ringo e Haruka iriam se juntar a eles, assim como Kiba e a acompanhante dele. Hinata ainda custava a acreditar que ele não a tinha apresentado para os amigos ainda. Já fazia meses que ele se encontrava com ela ocasionalmente.

Começaram a falar sobre outros assuntos, e mesmo tendo decido para si mesma tentar evitar aquilo, acabou lembrando-se do que houve no cemitério. Pelo menos uma vez por dia acabava se lembrando daquilo, e sua raiva necessitava ser controlada.

Dez minutos depois o jovem casal chegava, e Ringo estava bem corado. O que estava acontecendo com essa nova geração de kunoichis? Tinha certeza de que Haruka devia ser a responsável por aquilo, e provavelmente nada tinha a ver com a happi que ela usava. Era até modesta para falar a verdade.

 - Hinata-sama – disse a garota se curvando, quase deixando Shiromaru cair de sua cabeça – boa noite.

 - Boa noite, Haruka-chan – ela lhe sorriu – vamos indo?

- Hã.. – fez ela coçando a cabeça – nós vamos andando? É um pouco longe...

- Vamos pulando pelas arvores como ninjas – respondeu Neji – Sem dúvida alguma vocês dois são hábeis para fazer isso e não amarrotar seus quimonos, certo?

- Claro! – disse ela depressa, mas seus olhos a traiam. Ela estava preocupada.

- Então vamos – disse Hinata sentindo a mão de Neji segurar a sua.

Foi uma meia hora viajando pelas árvores, sendo iluminados pelo luar. Hinata achava aquela noite estranhamente calma e perfeita para um passeio. Talvez Neji estivesse um pouco ousado daquela vez e a levasse para passear mais um pouco depois de se divertirem no festival.

Pararam pouco antes de chegarem a aldeia e foram andando os cem metros que faltavam. A hokage tinha sido clara dizendo que podiam ir se divertir, mas não deviam fazer nada que os denunciasse como ninjas. Lógico que seria um pouco difícil evitar que eles abusassem de alguns dos jogos ali. Já podia ver até kunoichis adultas com alguns prêmios... mas até a sua irmã?! E com um coelho enorme de pelúcia no colo?!

- Pare de usar o byakugan ou vai ficar maluca – cochichou Neji no seu ouvido.

Ela ficou corada imediatamente. Não por causa de seu aviso, mas porque sentiu seus lábios roçarem na sua orelha. Sentiu-se na verdade um pouco excitada, tinha que admitir para si mesma. Mas não para ele!

- Já parei! – disse ela respirando devagar.

Haruka pegou Ringo pela mão e o puxou para o corredor das barracas. Iam se divertir pelo jeito. Ela ia procurar onde estariam as pessoas fazendo as danças do festival quando se lembrou do que Neji falou sobre Minato e Ayame. Se iam pegar peixes, deviam ser os dourados. Com um sorriso ela puxou Neji também para as barracas e ambos olharam distraidamente os jogos daquele festival. Alguns eram clássicos, como os de arremesso, mas ela não estava interessada neles. Por fim, após andar um pouco naquele lugar que estava apinhado de pessoas, achou o que queria.

Neji maneou a cabeça de um lado para o outro quando viu o que ela procurava, mas ele também estava curioso. Seguiu com ela até ali e tão surpreso quanto ela, viram Kiba e aquela moça com quem ele andava saindo ali. Ela segurava uma cuia na mão direita já com quatro peixes, e com a esquerda mantinha uma espátula redonda enquanto mirava o seu próximo alvo.

- Kiba-kun – disse ela sorridente ao vê-lo.

- Hinata! – respondeu ele lhe dando um abraço – faz tempo que não te vejo – e após ver ela e Neji de mãos dados completou com os olhos abertos – acho que tempo demais!

Neji limpou a garganta, tentando levemente soltar a mão de Hinata, mas ela apenas a apertou mais firmemente.

- Bom, você tem seu time para tomar conta, e tenho minhas obrigações no clã – ela olhou para a bela mulher ali que ainda estava totalmente concentrada no peixe que queria tirar do tanque para por na cuia – e parece que você também tem outra coisa para te deixar ocupado agora.

- Hã.. eu.... quer dizer... – ele estava corado – esta aqui é Nayuko, minha amiga...

- amiga? - disse ela virando o rosto subitamente para ele. Parecia que seus dentes estavam formando presas e a expressão de seu rosto também estava levemente animalesca. Além disso, parecia que havia um rosnado mascarado nas palavras dela.

- Eu, eu... bom... é uma amiga íntima e... hã...

Ele ficou mudo de repente quando recebeu um peixe na cara que ela arremessou usando a espátula. Depois moveu a cuia para pegar o peixe que estava caindo no chão o salvando e agora tendo cinco ali dentro.

- Fale a verdade! – rosnou ela voltando a se concentrar no tanque com os peixes. Ela queria pegar todos os dez – ou vai ver como eu trato quem tem vergonha de mim!

- Não tenho vergonha de você, eu já disse, minhas ultimas namoradas...

- Fugiram de você, eu sei, mas agora parece que você é quem foge de mim – retrucou ela decidida – e sua quase irmãzinha parece que está vindo ai.

Irmãzinha? Hinata ficou pensativa com o que ela quis dizer com aquilo. Mas logo descobriu quando viu Haruka abraçar Kiba por trás. Será que ela tinha sido adotada e esqueceram de lhe contar?

- Haruka-chan! – disse ele um pouco surpreso – pensei que vinha amanhã...

- Amanhã o Ringo-kun vai jantar lá em casa – respondeu ela o olhando nos olhos.

- Mesmo? – coçou a cabeça, e todos ali o viram começar a suar – bom... eu...

- Oi Nayuko-chan – disse Haruka a abraçando no pescoço. Mesmo sem tirar os olhos do peixe que estava olhando, ela retribuiu o abraço – agora o Kiba não escapa!

- Já estava na hora mesmo – ela sorriu e jogou mais um peixe para a cuia – já faz meses que saímos. E então, Kiba-kun – disse ela o encarando e sorrindo mostrando seus caninos pronunciados – como vai ser? Ou vai deixar a sua quase irmã ai levar um pretendente para jantar em casa antes de mim?

- Eu, eu... – Hinata levou a mão a boca para contar seu riso. O pobre Kiba parecia um garotinho diante de sua primeira tentativa de convidar alguém para um encontro, de tão vermelho que estava – Nayuko-chan.. gostaria de... de.... jantar em casa amanhã?

Ela não disse nada imediatamente, mas seu sorriso traia o seu silencio. Ela estava claramente encantada com aquilo, embora nem Hinata ou Neji conseguissem imaginar o porquê.

- Então hoje vai me pedir em namoro? – murmurou ela. E o estranho era que parecia haver uma vibração em sua voz – sabe muito bem que só entro lá sendo sua namorada.

- Foi impressão minha ou ela ronronou? – cochichou Neji em seu ouvido.

Hinata prestou atenção nos seus olhos, e em como seus caninos eram pronunciados. Aquela mulher seria de um clã com algum tipo de ligação com felinos? E estava se envolvendo com Kiba, que era de um clã relacionado a cachorros? Considerando que a personalidade dela parecia ser forte como a de Tsume, começou a sentir pena do Kiba.

Bem como uma vontade de rir ao mesmo tempo.

- Eu... – começou ela olhando ao redor. Tinham várias pessoas andando por ali, e pelo menos três os olhando. Ele estava encabulado.

- Vamos Neji – disse Hinata puxando seu acompanhante – acho que isso é particular. E Haruka-chan – olhou para ela que parecia ter um enorme interesse em Kiba e em Nayuko – vá procurar o Ringo-kun. Não fica bem deixá-lo sozinho.

- Já, já – disse ela com um sorriso aparentemente aguardando Kiba se declarar para a mulher.

- Agora! – ela pegou na orelha dela e a puxou levemente dali.

- Não e justo – reclamou ela quando estavam distantes – eu queria ouvir ele tomar vergonha na cara e a pedir em namoro. Eu não tenho vergonha disto!

- Nem todos são como você, Haruka-chan – disse Neji – mas porque ela a chamou de quase irmã de Kiba-san?

- Bom, eu moro na casa deles, e me tratam como filha agora... mas... – ela ficou um pouco hesitante – eu não acho que consigo carregar o nome do clã, por isso ainda não quero ser adotada.

Hinata sorriu ao ouvir a palavra ainda. Já fazia um tempo que muitos na aldeia estavam reparando em como Kiba e Tsume estavam um pouco diferentes desde que Haruka tinha ido morar com eles. Ambos pareciam mais dispostos que o normal.

- E vocês dois? – perguntou ela os olhando – já se declararam? Todos da aldeia comentam que estão saindo, conversam bastante, e até ganhei a aposta contra Umito-kun que disse que não viriam ao festival juntos.

Todos da aldeia... ela ouviu isso mesmo? Olhou para Neji mas ele também estava corado, ajeitando seu yakata para que deixasse entrar mais ar, e graças a Deus que ela estava segurando a sua mão, pois já sentia que ambas queriam se tocar e fazer aquele movimento com os dedos.

- H-haruka-chan... – começou ela tentando se controlar, mas o calor que subia em seu pescoço a lembrou das vezes em que desmaiava diante de Naruto – e-eu...

- Qual o problema de vocês? – ela pos as mãos na cintura – até os membros do seu clã estão querendo saber quando vão assumir de vez.

- O que?! – exclamou Neji com os olhos totalmente arregalados – nós só saímos algumas vezes... para fazer companhia um ao outro... nada demais.... por que... por que iam pensar tal coisa?

- E porque não iriam pensar? – ela pos as mãos na cintura – nossa, deviam assumir seus sentimentos de vez.

- Haruka-chan – chamou Neji mais controlado do susto inicial – estamos ainda descobrindo que sentimentos podem ser esses, e... preferimos fazer do nosso jeito.

Resposta boa, exceto que ambos já sabiam o que sentiam. Depois daquilo que houve no cemitério e no qual ela e Sakura contaram para Neji onde estava o corpo real de Naruto, ele acabou agindo mais como um irmão protetor, tentando fazê-la se esquecer do assunto ou a ajudando a encarar aquilo. Mas durante as semanas em que ele o fez, lentamente ambos perceberam que algo estava surgindo entre eles. Tanto que Hinata não queria deixar nada oficial ainda pelo simples motivo de seu filho ser ainda um gennin, e portanto não totalmente independente. Claro que crescia dentro dela o desejo de ser cortejada por Neji, e os anos em que passou sozinha e concentrada em saber o que ocorria com Minato agora estavam cobrando a falta de amar alguém o tocando que sentia.

 Ela apenas não se sentia segura de ir adiante com aquilo sem Minato saber a verdade. Ainda tinha treze anos – na verdade, doze, pois precisaram mentir sobre o seu nascimento para ficar de acordo com os outros bebês encontrados após a guerra. Foi bom ele ter crescido um pouco mais que os outros – e ia fazer aniversário em breve.

Na verdade ela morria de medo de contar tudo a ele e o mesmo odiá-la pelo que fez. Por tê-lo deixado crescer em um orfanato.

- Haruka-chan! – chamou Ringo se juntando a eles. E naquele momento Hinata ficou pensando em quem teria contado para Haruka que “todos do seu clã” estavam curiosos sobre ela e Neji. Precisava ter uma conversinha com o garoto qualquer dia.

Logo em seguida ela ficou surpresa ao reparar que Shiromaru estava na cabeça de Ringo!

- Obrigada, fofo – disse ela pegando a casquinha de sorvete que ele trouxe – eu disse que Shiromaru ia achar onde estavam vendendo.

A cadela deu um salto e ficou na cabeça de Haruka agora. E para a surpresa de ambos os adultos, Haruka deu uma lambida no sorvete e beijou Ringo em seguida na boca, dando um pouco do sorvete para ele daquele jeito. Hinata sentiu uma inveja enorme da despreocupação dela. E uma grande pena de Ringo que ficou muito mais vermelho do que ela quando ele os olhou ali.

- Divirtam-se – disse Neji puxando Hinata pela mão – e Ringo-kun! – olhou sério para ele – nada de arte antes de ter idade para casar!

Hinata teve certeza de que o garoto ia desmaiar considerando o quanto ficou assustado com as palavras dele.

- Você foi malvado – disse ela quando estavam um pouco distantes.

- Eu sei, mas ainda preciso manter minha reputação perante a líder do clã, a de ser um adulto chato...

Ela acabou sorrindo com o que ele disse.

- Vai me jogar isso na cara sempre agora?

- Bem – ele parou de andar e a olhou diretamente, mostrando um sorriso – talvez um beijo me faça esquecer...

- Isso é chantagem – disse ela o olhando de lado.

- Então talvez – ele começou a se aproximar de seu rosto – a líder do clã – ela podia sentir sua respiração roçando em sua pele – devesse tomar alguma providencia...

Ele se movia mais e mais lentamente. Nas outras vezes em que ele se aproximou dela assim, ela virou o resto educadamente e o deixou beijar sua bochecha. Na boca apenas um mero toque de lábios e quando ela queria. Sentia-se ainda presa a certos receios – todos infundados – mesmo tendo saído com ele várias vezes. No começo para se distrair do que houve no cemitério, e depois por conta própria porque queria sair com ele. Chegava mesmo a se sentir solitária quando ele ficava muito ocupado com seus afazeres.

Neji estava quase parando de se mover na sua direção, e para a surpresa dele, ela abriu a boca lentamente. Ele chegou a se mover um pouco para trás, o que a fez ir ao seu encontro, consolidando o primeiro beijo apaixonado que executaram. Hinata chegou a temer esse tipo de beijo, pois acreditava que as imagens de Naruto iriam invadir a sua mente. Mas para sua total surpresa, apesar de haver uma imagem de naruto diante de seus olhos, ele estava sorrindo, como se estivesse contente dela estar retomando sua vida que por mais de uma década ficou praticamente parada nos relacionamentos.

- Hinata-sama – murmurou Neji quando seus lábios se afastaram.

- Quieto! – disse ela sorrindo e tocando a testa dele com a sua – apenas... fique quieto...

Ficaram assim por um tempo, as testas se tocando, os braços dela nos ombros dele, e as mãos dele em sua cintura, quase como se estivessem dançando. Mas na verdade o que faziam era tentar compreender o que tinham feito e até onde iriam. Hinata não sabia. Ela novamente se sentia uma menina diante do primeiro namorado, talvez porque nunca tinha tido realmente uma relação amorosa no sentido de apenas estar presente com outra pessoa. Sempre se encontrava com Naruto no tempo livre e ambos tentavam fazer de tudo pois não sabiam se haveria amanhã. Nada parecido com a forma calma que estava agindo com Neji, podendo curtir cada momento com delicadeza.

Em um impulso, talvez mais para satisfazer algum desejo secreto, agarrou a cabeça dele com as mãos e forçou um outro beijo, este um pouco mais selvagem. Paravam de se beijar e ficavam com os rostos próximos. As vezes Neji fazia alguns carinhos em sua cintura.

Ela sabia que estava indo além do que tinha planejado para a noite, e nem tinham se divertido em nada do festival ainda. Mas para todos os efeitos aquela noite para ambos já tinha sido excelente. Tornaram a se beijar mais devagar desta vez e após conversaram um pouco decidiram que era hora de voltar ao festival antes que começassem a falar deles de novo.

Ela também queria saber em que barraca de jogos sua irmã tinha conseguido aquele enorme bicho de pelúcia. Tinha amado ele assim que o viu. E logicamente, iria querer que Neji ganhasse o premio para ela!

Um pouco longe dali, Konohamaru e sua namorada estavam observando atentamente uma barraca de arremesso. E estavam tendo algumas idéias interessantes. Talvez acabassem fazendo algo mais divertido do que apenas aqueles joguinhos a disposição no festival. Depois de conversarem um pouco, foram procurar Kiba e Anko.

 

-x-

 

Quatro dias após a maioria dos shinobis ter se divertido no festival de verão, Shikamaru foi até ao prédio da hokage para lhe fazer uma solicitação e ficou surpreso de a ver tendo uma excepcional reunião com vários times de uma só vez. Ela pediu para ele a aguardar ali mesmo na sala porque iria resolver o assunto em breve. Sem se incomodar muito, ele se posicionou um pouco atrás dela e aguardou.

Ela tamborilava os dedos sobre a grande mesa. Normalmente àquela reunião ocorreria em seu escritório, mas este era pequeno demais para acomodar todo mundo. Diante dela estavam os três times, cada um com os três genins a frente e o jounin sensei atrás dos pupilos. Do seu lado estava Moegi em absoluto silencio. Todos estavam se sentindo incomodados e sem vontade de dizer nada. Ficavam balançando os pés, olhando ao redor, um ou outro tentava ajeitar a gola da camisa como se sentisse calor. Era mais do que óbvio que todos sabiam porque estavam ali, mas nenhum deles parecia que ia tomar a primeira iniciativa.

- Algum dos presentes pode ter a decência de me dizer como foi que três times pegaram a mesma missão?

- N-não era mesma missão – começou Ayame tentando evitar de gaguejar – a nossa era a de colocar os cavalos que fugiram no curral.

- Tínhamos que alimentar os porcos – adiantou-se um genin do grupo três.

- E nós devíamos ordenhar...

- CHEGA! - gritou ela socando a mesa fazendo todos se calarem – sou eu quem escolhe a missão de todos os times, e tenho certeza que nenhum de vocês deveria estar nessa fazenda! Na verdade estavam todos de folga para poderem se divertir no festival.

Olhou com os olhos semi-cerrados para os jounins atrás dos genins correspondentes aguardando que um deles tivesse coragem de explicar aquilo. As missões eram verdadeiras, mas ela não as tinha selecionado para ninguém. Estava pensando em fazê-lo mais para a frente, e todas para um único time.

- Não eram missões – Konohamaru adiantou-se para explicar – na verdade todos estávamos compensando alguns danos que fizemos na fazenda enquanto aproveitávamos a nossa folga...

Shikamaru que estava atrás da hokage apenas abaixou a cabeça naquela sua típica expressão de enfado.

- Está me dizendo que três times de genins acabaram por coincidência precisando compensar um fazendeiro por danos que fizeram ali no mesmo lugar e no mesmo dia?

- Que coisa incrível, não? – disse Kiba com uma risada forçada.

Ela se recostou na sua cadeira e olhou para cima, com um sorriso que parecia ser de satisfação.

- Quem ganhou? – perguntou ela olhando para o teto.

- O-o que?

- Na aldeia perto da fazenda em que foram ao festival, uma das barracas estava fazendo uma competição de arremesso de kunais – ela os encarou friamente – não duvido que apostaram que seus pupilos poderiam ganhar esse jogo, ainda mais aproveitando um período de folga. Mas devem ter esquecido que com o treinamento deles, esse jogo deixou todos empatados. Então decidiram deixar a competição mais difícil, estou certa? E esse mais difícil acabou por destruir o celeiro da fazenda, uma fazenda que por sinal nos tinha enviado muitas solicitações de missões classe D.

Alguns estavam suando, um ou outro olhava para o chão. Estavam também surpresos dela conhecer todos os detalhes, indicando obviamente que foram vigiados muito provavelmente por ANBUs durante o festival. Era normal eles observarem as coisas que os shinobis faziam durante eventos deste tipo, apenas para garantir que nenhum bêbado fizesse coisas erradas. Tinham se esquecido daquele detalhe.

- Estou muito tentada a enviar todos de volta para a academia.

Todas as crianças abriram a boca de surpresa ao ouvir aquilo, e mesmo os senseis não acreditavam no que estavam ouvindo.

- Mas não vou fazer isso – completou ela – tenho algumas missões para os seus gennins que a ANBU já está me pedindo faz tempo. Mas também tenho uma missão especial para vocês três, senhores senseis...

Todos eles ficaram empertigados. Já fazia tempo que ela não os olhava daquele jeito.

- Os chuunins do time Moegi irão cuidar de seus times por alguns dias. Vocês três vão fazer essa missão aqui – ela pegou uma folha e a jogou para eles, e Kiba a pegou. Anko e Konohamaru ficaram ao seu lado lendo a missão, e os três arregalaram os olhos.

- Sakura-neechan! Isso é brincadeira, não é?

- Não, e para provar isso, Moegi-chan irá se juntar a vocês, como líder e responsável por fazer o trabalho bem feito. Vocês quatro vão limpar todos os bustos da montanha hokage das fezes de pássaros e de pequenas plantas que estão crescendo em suas rachaduras. E o primeiro que tentar retrucar vai receber um castigo pior ainda!

Moegi tinha aberto a boca para falar algo. Não acreditou que ela também estava envolvida naquilo.

- Isso vale para você também, Moegi – disse ela a olhando – você também os incentivou. Agora sumam daqui ou já vou preparar uma segunda missão para todos!

Em menos de dez segundos, todos desapareceram da sala. Sakura fechou os olhos e sorriu satisfeita.

- As vezes eu me arrependo de não ter aceito esse cargo – comentou Shikamaru a olhando com um sorriso.

- Que bom... não tem um dia em que eu não me arrependa – murmurou ela de volta – bem Shikamaru, agora que já dei serviço para esses grupos que gostam de usar o jutsu proibido “dar dor de cabeça na hokage”, o que é que você quer comigo?

- É sobre a investigação – Sakura estreitou os olhos e o observou diretamente, prestando toda a atenção possível – quero autorização para efetuar algumas invasões de residências.

- O chefe da ANBU não pode fazer isso?

- Ele pode, mas como uma destas residências é de um dos gennins, ele achou melhor você dar a autorização, pois afinal a estou fazendo por sua solicitação.

- Qual gennin?

- Umito – disse ele mantendo o rosto sério – um dos suspeitos é tio dele. Não preciso dizer que a ANBU fez uma grande investigação sobre o garoto por conta disto. Nada foi encontrado, e o próprio chefe da ANBU acha melhor fazermos o possível para não envolvê-lo nisto.

- Ele sempre quis ser meu discípulo – murmurou ela olhando para baixo – não acredito que possa estar envolvido em tal coisa. Ao menos, não de forma consciente.

- É isso que tememos – tornou ele – caso ele tenha ajudado o tio por ter sido enganado, ele pode ficar descontrolado e acabar matando-o. Não que eu tenha pena, mas isso vai causar problemas na investigação.

Sakura bufou um pouco, mas pegou uma folha de sua gaveta e escreveu um texto dando a autorização necessária. Shikamaru pegou o papel e após lê-lo o colocou no bolso. Mas não fez menção de sair.

- Tem mais alguma coisa para dizer? – perguntou ela.

- Não sei se seria próprio conversarmos agora sobre isso. Mas é sobre quando me visitou em casa e colocou um cavalo no meu tabuleiro de xadrez.

- Sim? – ela sorriu para ele, mas nada disse.

- Quem seria aquele cavalo?

- Isso é para sua mente incrível descobrir, não acha?

Ele fez um bico com os lábios e começou a se mover em direção a porta. Quando estava quase a abrindo, virou-se para ela e perguntou.

- Nunca mais vi Yamato depois que enterramos os mortos da guerra. Ele ainda trabalha na ANBU?

Sakura o olhou de forma inexpressiva, não acreditando em quanto ele era incrível para avaliar as possibilidades.

- Não – respondeu ela olhando para o chão – ele está fazendo um trabalho muito critico para a segurança da aldeia.

- Nos últimos quatorze anos?

- Sim.

- Obrigado – disse ele sorrindo e saindo da sala.

 

-x-

 

Já fazia um ano que não ia ali, quase que esqueceu o caminho. Entrou pelo corredor principal e foi até onde era o seu quarto – ou onde lembrava que era – mas assim que entrou chutou a porta de raiva. Não era ali. Tentou uma segunda vez e também estava errado. Mas na terceira acertou. Acabou contando as portas do lado errado do corredor.

Sentou-se na sua cama e abriu a gaveta de sua cômoda, e a fechou em seguida. Suas roupas estavam cheirando mal. Pelo jeito teria um serviço doméstico no dia seguinte. Ao menos para aquele dia tinha algumas roupas em sua mochila. Esfregou os olhos por alguns momentos e procurou pelos pergaminhos dentro da mochila. Pegou os quatro e saiu do quarto indo pelo corredor até a biblioteca. Sempre o achava ali quando o procurava.

Mas daquela vez foi uma exceção. Na mesa onde normalmente ele era visto estudando pergaminhos e outras coisas, estava sentada uma mulher desconhecida. Esta se virou para ele e fez um aceno com a mão.

- Você.. é...?

- Etsu – disse ela concentrando-se em um caderno que tinha diante dela – se procura o doutor, ele está passeando lá fora em algum lugar.

- Doutor?! – estava surpreso com isso – está falando de Kabuto?

- Esse é o nome dele? – ela o olhou curiosa – bem, ele nunca me disse. O Chamei de doutor porque ele me operou e me deixou andando de novo.

- E o que você faz aqui?

- Pergunte para ele – ela deu de ombros – ele me deixa andar a vontade por aqui e posso também ler qualquer coisa desta biblioteca, ou usar o laboratório para o que eu bem entender. Não sei bem o porque dele me dar tanta liberdade, mas não me incomodo. É uma forma de passar o tempo. A propósito, como se chama?

- Masaki – disse ele estreitando os olhos para ela – onde está Asato?

- Junto com o doutor, quer dizer – ela sorriu – Kabuto. Foi ele quem me trouxe aqui.

Não era uma situação propriamente nova, já tinha acontecido antes, e com ele próprio foi assim. Kabuto o recrutou e simplesmente o deixou escolher seu quarto e eventualmente acabou conhecendo os outros quando cruzou com eles ali. Mas sentia que havia algo diferente naquela mulher. Ela estava lendo um caderno de anotações?

- Posso saber o que está lendo?

- Alguns jutsus que ele quer que eu aprenda – respondeu ela distraída – mas nem posso fazer isso. Eu não domino fuuton.

Ficou mais intrigado mas nada disse. Saiu da sala e fez o caminho para sair do complexo, e lá nas escarpas subiu o mais alto que pôde e foi para o leste, onde havia um platô com algumas árvores que era o lugar onde as vezes eles iam apenas para esticar as pernas ou testar algo perigoso demais para se fazer em lugares fechados.

Encontrou os dois no centro do platô, e entre eles havia um barril de madeira fechado no qual Kabuto estava fazendo alguma coisa.

- Masaki-kun – disse ele na voz de sempre – fico feliz que tenha voltado. O que conseguiu?

- Aqui tem um resumo das movimentações dos shinobis da aldeia da Areia do ultimo ano - Ele jogou os pergaminhos para ele - nada excepcional, apenas rotina, eu diria. Times fazendo missões, gennins aprendendo, e possivelmente um time que deve ir no próximo exame chuunin.

Kabuto continuou a fazer desenhos na tampa do barril após colocar os pergaminhos dentro de sua capa. Já tinha visto aquele barril antes. Foi o que ele tinha usado com Chizuka anos atrás. Bom, não devia ser o mesmo barril, uma vez que aquele foi feito em pedaços, mas era igual a aquele, inclusive parecia que ele fazia os mesmos desenhos agora.

- Cuidou para deixar as informações que pedi? – disse ele quase em um murmúrio.

- Sim, foi a primeira coisa que fiz – respondeu olhando intrigado o que ele fazia. Asato estava de braços cruzados uns dois passos distante, e parecia estar como sempre entediado – já faz um ano que cuidei que aqueles jounins receberiam a informação.

Até que tinha sido fácil. Tinha contratado alguns mercenários para entregar uma mensagem falsa em um local distante e também para que estes aproveitassem no caminho para causar algumas confusões em uma aldeia, contando que a aldeia pedisse auxilio a Suna e os mercenários fossem capturados e a mensagem interceptada. A mensagem possuía algumas informações delicadas sobre as atividades de um dos shinobis importantes da aldeia da Nuvem. Estava escrita de forma que parecia que um grupo criminoso estava interessado em contratar os serviços de uma nukenin e tinham andado investigando os serviços que ela tinha feito. Muitos eram para essa pessoa da aldeia da Nuvem. Haviam outras informações também, mas aquela era a principal. E o interessante eram que todas elas eram verdadeiras.

Também cuidou de passar o boato para os dois jounins que precisavam saber daquilo, para o caso da administração da aldeia decidir ocultar a descoberta. Sabia onde eles bebiam ou iam para se divertir e plantou em um destes locais a informação necessária.

- Quando Chizuka-chan retornar, saberemos o resultado disto – Kabuto sorriu o observando e começando a andar lentamente para se afastar do barril. Asato fez o mesmo, e ele achou prudente ficar próximo a eles – mas imagino que a utilidade inicial disto tenha sido alterada.

- Como? – ficou um pouco confuso.

- Estava apenas pensando em voz alta – respondeu ele – sugiro que tape seus ouvidos.

Ele fez alguns selos com as mãos e um som agudo começou a vir do barril, quase perfurando seus ouvidos. Na verdade aquele som estava reverberando nos seus órgãos internos. Olhou para o barril mas não via nada de diferente nele. O que ele estava aprontando daquela vez? Da primeira vez que o viu usando um barril assim e com desenhos na tampa, ele tinha colocado Chizuka dentro dele e colocou um vaso de barro sobre o barril. Depois efetuou um jutsu estranho que fez alguma coisa sair do vaso e  ser absorvida pelo barril. Mas agora não havia nenhum vaso ali.

O som parou e ele sentiu seus ouvidos apitarem por algum tempo. O barril permanecia intacto.

- O... o que está fazendo?

- Ele está preparando um receptáculo – disse Asato  com a voz mostrando seu enfado.

- Como? – Masaki não tinha entendido.

- Masaki-kun – chamou Kabuto – já ouviu falar de bijuus?

- Claro que ouvi! – respondeu o olhando de forma estranha – e também ouvi que todos estão desaparecidos.

- Nem todos – ele riu levemente enquanto andava de volta para o barril e removia sua tampa – três dos nove bijuus foram recapturados pelas aldeias, um deles está desaparecido e os restantes... – ele o olhou com um sorriso enigmático – estão selados em vasos de barro no nosso hall de entrada do complexo.

- Lá tem seis vasos... – olhou para ele confuso.

- Exato, mas um daqueles vasos está vazio agora.

Olhou dentro do barril e viu que ali haviam correntes e grilhões para deixar alguém preso ali. Não estava entendendo muito bem o que ele pretendia, mas lembrava-se muito bem que da outra vez ele tinha colocado Chizuka dentro do barril, e ela não ficou presa ali dentro.

- O que você fez com Chizuka quando a colocou neste barril?

- Uma experiência – respondeu ele fechando o barril e começando a andar lentamente – queria saber ser seria possível lacrar um bijuu dentro de uma pessoa de forma a permitir que apenas o seu chakra pudesse ser utilizado, sem os efeitos colaterais que permitissem que o hospedeiro fosse dominado. Chizuka-chan foi um grande sucesso... mas isso foi antes de eu alterar meus planos.

- Aquilo que você fez com ela anos atrás foi para lacrar um bijuu no seu corpo? – ele estava pasmo com aquilo.

- Perdoe-me se não o participei disto, mas você tinha acabado de entrar em nossa pequena família. E de qualquer forma você não perguntou o que eu tinha feito naquela época.

Chegaram a borda do platô e começaram a andar pela escarpa deste. Ficou imaginando o porque de haver correntes dentro daquele barril agora. Só podia pensar que ele pretendia colocar mais um bijuu em alguém, mas que talvez temesse que perdesse o controle desta pessoa ou talvez fosse forçar essa pessoa a ter um bijuu. Mas não entendia o porquê.

Na verdade, não entendia quase nenhum de seus motivos. Ele tinha uma rede de espionagem que se espalhava por todas as grandes aldeias principais do mundo, mas não vendia informações, e ocasionalmente usava seus asseclas – como ele – para plantar algumas histórias em um ponto ou outro, como se estivesse manipulando as coisas em uma direção.

- Já conheceu nossa nova hóspede?

- Sim, ela estava lendo algo na biblioteca.

- Vou ter uma missão para você e ela em breve – disse sorridente – e para Asato-kun também – ele se voltou para o colega ali que estava quieto demais – mas antes quero que envie uma mensagem para Hiromi-chan no país da Água. É hora dela executar a tarefa pela qual está aguardando.

Hiromi era a mais antiga a estar com Kabuto pelo que se lembrava, só a tinha visto duas vezes, e em ambas ficou com medo dela. Parecia ser uma mulher jovial mas podia facilmente ficar assustadoramente perigosa. Percebeu isso quando ambos treinaram um pouco.

- Em quem vai usar aquele barril? – perguntou de repente.

- Ainda não sei se vou usar, mas você já a conhece.

Que bela resposta! Pelo menos sabia que era uma mulher pelas palavras que ele usou, mas só conhecia duas mulheres ali. Hiromi e Chizuka. Bom, tinha agora uma terceira, a tal Etsu. Chizuka não podia ser pois já tinha feito com ela. Talvez tivesse feito o mesmo com Hiromi também.

Não! Ele disse que apenas um dos vasos estava vazio. Portanto só tinha feito em Chizuka mesmo. Ele tinha ouvido sobre os bijuus, mas não conhecia sua história, nada sabia de jinchuurikis ou de como podiam ser usados como armas de guerra. Para ele era mais uma das experiências que Kabuto fazia. E de Kabuto tinha ouvido falar e muito!

E todas as histórias sobre ele eram assustadoras, embora desde que começou a trabalhar para o mesmo sua impressão era a de uma pessoa isolada que parecia estar mais interessada em aprender jutsus e a obter informações, mas raramente as usando.

- Qual vai ser a missão?

- Não seja apressado – ele riu quando entravam pela porta e ele olhava ao redor do hall para localizar os vasos de barro – ainda não a defini totalmente. Mas vai levar meses para ser completada.

Mais uma missão longa a vista...


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