Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 27
Capítulo 27




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- Vamos passar a noite aqui – disse Anko saltando para a beira da estrada e sendo seguida pelos seus alunos. Estes olharam ao redor e notaram que estavam na entrada de uma aldeia. Na verdade, era a mesma aldeia em que ela os levou quando ainda estavam fazendo a avaliação dela para saberem se seriam aprovados ou não.

- Parece que você gosta daqui, sensei... – disse Outa a olhando.

- Adoro os dangôs que eles fazem – ela piscou o olho para eles – vamos indo.

Seguiram com ela andando calmamente para dentro da aldeia. Anko cumprimentou alguns conhecidos enquanto andavam, e sem avisar nenhum deles, entrou em uma loja de doces. Eles já imaginavam o que ela iria fazer ali. Miyoko decidiu ir até as termas daquela aldeia para relaxar um pouco, ao passo que Umito achou melhor esperar a sensei do lado de fora da loja em que ela entrara. Assim, Outa achou mais interessante ficar um pouco afastado e praticar um pouco mais o jutsu que descobriu enquanto treinava com a sua madrasta.

No entanto, não estava disposto a fazer aquilo abertamente ali na aldeia. Talvez assustasse as pessoas, e nem tinha dito aquilo a sua sensei ainda. Mesmo sua madrasta ficou surpresa quando enquanto o avaliava para saber se ele podia ter facilidade para carregar seu chakra em armas, descobriu que Outa podia fazer um pouco mais que aquilo. Pegou uma folha de árvore seca da rua e começou a se concentrar, a carregando com seu chakra. Até onde apuraram, ele podia carregar seu chakra em qualquer coisa, até mesmo em pessoas.

Depois deixou a folha ser levada pela brisa e andou de volta até a loja onde Umito aguardava a sensei. Sem dizer nada ou olhar para ele, tocou a mão espalmada na parede e se concentrou. A folha tinha aparecido do seu lado, como se tivesse sido invocada.

Pegou a folha no ar e sorriu com aquilo. Até que estava fácil fazer agora. Com isso poderia lançar uma kunai e simplesmente a invocar de volta a sua mão em seguida. Ou – se sua madrasta estava certa – poderia invocar até pessoas, desde que as marcasse com seu chakra antes.

Normalmente para invocações, era preciso um contrato de sangue, como o que Umito fez sob a supervisão da sensei – que na verdade agora era a mestra dele – a carga de seu chakra no objeto ou pessoa agia da mesma forma. Mas nesse caso era temporário. Seu chakra não ficaria ali para sempre, e desapareceria em poucas horas.

- Adoro este lugar  - disse sua sensei saindo da loja com sua mochila de mão cheia. Devia ter abarrotado esta com os doces – vamos procurar um lugar para passarmos a noite. E onde está Miyoko-chan?

- Ela foi até as termas – respondeu Umito maneando a cabeça.

Ela olhou para o céu estrelado e sorriu.

- Querem relaxar um pouco? Chegaremos ao nosso destino amanhã a noite, e não teremos mais folga alguma.

- Eu gostaria – disse Umito sorrindo. Outa também concordou.

Acharam uma pousada onde alugaram dois quartos para a noite, e depois de deixarem suas mochilas ali, foram todos para as termas. Miyoko já estava ali se divertindo. Outa e Umito foram para o lado masculino das fontes de águas quentes e relaxaram na água quente por algum tempo. Mas Umito logo ficou inquieto e se virando para a beira da lagoa montada ali, cruzou os braços e deixou o queixo cair sobre eles, fato que não passou despercebido para Outa.

- O que foi?

- Nada... – disse ele sem se mover – apenas me sentindo ansioso pela missão.

Entendia como ele se sentia. Uma missão de capturar bandidos, ou seja, eles iriam provavelmente lutar contra eles. Sentia-se também excitado, mas também um pouco preocupado. Imaginava que talvez fosse cedo demais dar essa missão para pessoas inexperientes como eles. Mas se considerar como agiram quando a hokage estava com eles e supostamente foi seqüestrada, não eram mais propriamente inexperientes.

Uma hora depois eles retornaram a pousada e passaram a noite ali. Apesar de ansiosos, conseguiram dormir cedo. Na manhã seguinte prosseguiram com a jornada rumo ao seu destino, chegando ali a noite. Na verdade, viram uma plantação de uvas muito grande, verdadeiramente enorme. Ficaram quase uma hora andando pela estrada rodeada pelas plantações até chegarem na aldeia. Imaginaram que ali devia ser feito o vinho de metade do país.

Quando chegaram na aldeia, esta era dominada por grandes construções onde eram abrigados os tonéis de vinho. Algumas das pessoas – pareciam que eram todos fazendeiros – os olharam assustados, e após pedirem algumas informações, foram direcionados para o chefe da aldeia, que os recebeu em sua casa mostrando-se muito contente por terem aparecido. Era jovem para ser um líder, tendo apenas um bigode fino no rosto, e aparentando possuir trinta e cinco anos.

Estavam sentados na sala dele conversando sobre os bandidos que os atacavam constantemente, quando a esposa deste entrou oferecendo um copo de vinho a todos. A sensei deles os autorizou a beber, mas apenas um copo. Ela queria todos eles sóbrios no dia seguinte.

Após um primeiro gole da bebida e de falar das qualidades da mesma, Anko direcionou a conversa para o assunto em questão.

- Há quanto tempo sua aldeia está sendo ameaçada por estas pessoas?

- Vários meses – respondeu ele – no começo, apenas roubavam nosso vinho e nos batiam, mas ultimamente eles têm ficado mais agressivos. Nos somos fazendeiros, não sabemos usar armas. E eles possuem facas e espadas. Solicitamos ajuda no mês passado mas achávamos que ninguém se incomodava conosco.

- Demorou para seu pedido nos alcançar – disse ela sorrindo – mas estamos aqui. Quando esperam que eles voltem?

- Provavelmente amanhã ou depois – disse ele já se mostrando preocupado – me diga... é só você e estas crianças?

- Eles são gennins – respondeu ela – não são exatamente crianças normais. Eles vão dar conta muito bem de alguns arruaceiros.

- Eles tem espadas – disse ele preocupado – e são muito selvagens.

- Ainda bem – ela sorriu – meus alunos precisam de um pouco de exercício.

Outa ficou um pouco encabulado com a fé que sua sensei demonstrava neles, mas também se sentiu lisonjeado. Conversaram para obter mais detalhes da situação atual, e souberam de alguns interessantes. Eles costumavam vir com uma carroça puxada por bois, e a enchiam com quatro barris de vinho. Na verdade já exigiam que estes barris estivessem na entrada da aldeia para perder menos tempo. Obrigavam as pobres pessoas a carregarem a carroça e após fazerem muitas ameaças e baterem em alguns, iam embora com o vinho, sendo que normalmente já partiam bêbados, o que os tornava mais perigosos.

Miyoko sugeriu que eles ficassem escondidos nos barris e os pegassem de surpresa, e Outa por sua vez disse que isso talvez não os impedisse de machucarem as pessoas. Anko preferiu ouvi-los discutir enquanto saboreava o ótimo vinho e se fartava com seus dangôs.

Depois de algum tempo, já tinham pensado em esperá-los na entrada da aldeia, em cima das casas, interceptá-los enquanto se aproximavam e até mesmo ir atrás deles onde quer que se escondessem, mas nenhuma dessas sugestões parecia ser realmente boa para pegar a todos. Quando terminou a bebida e seu doce, a sensei decidiu dar a sugestão dela. E todos a ouviram atentamente. Mesmo o chefe da aldeia ficou impressionado com a ousadia dela, e chegava mesmo a duvidar que aquelas crianças poderiam fazer metade do que ela estava falando para eles. Mas acabaram decidindo pelo plano dela, ou melhor, ela disse que iam fazer aquilo e ponto final.

No dia seguinte, Anko os chamou logo depois do café da manhã para reforçar algumas instruções. A mais importante era não ficarem próximos dos bandidos que tinham espadas. Apesar de serem gennins, eles ainda eram inexperientes, e ela não queria se preocupar com eles precisarem demonstrar habilidade de esquiva. Deviam usar o máximo das habilidades para ficarem distantes deles e evitar um corpo a corpo com qualquer um que estivesse armado. Isso caberia a ela. Depois das instruções dadas, Anko invocou uma serpente de tamanho normal para ficar adiante na estrada e a avisar caso eles se aproximassem. Ela iria fazer um grande barulho com seu sibilar quando ocorresse.

Durante o dia eles ficaram observando como as coisas ocorriam na aldeia, observaram as uvas serem colhidas, separadas, colocadas nos equipamentos que as comprimiam para separar o suco da casca. Também descobriram que a cor do vinho era feita com a casca das uvas, e que enquanto este fermentava em tonéis, apenas o liquido do centro deste era aproveitado. Outa também aproveitou o dia para praticar mais o seu jutsu, mas se arrependeu depois quando percebeu que estava gastando muito chakra naquilo, chakra que poderia ser útil contra os bandidos quando estes aparecessem.

Coisa que não aconteceu naquele dia.

Os gennins ficaram um pouco decepcionados, mas a sensei deles resolveu aproveitar e tentar acalmá-los, dando um dangô para cada um, como recompensa por terem agido corretamente durante o dia. Mas também decidiu dar um treino aos mesmos, chamando todos eles para ficarem um pouco afastados da aldeia, mas próximos o bastante caso os bandidos aparecessem.

Seguiram-na por alguns minutos até ela parar no meio da estrada, se voltando para eles.

- Muito bem, alunos. O dia foi um tédio esperando eles aparecerem, mas vão descobrir que isso pode ser mais comum do que imaginam, ou do que apreciariam. E já que devem estar doidos para fazerem alguma coisa, vou lhes dar algumas tarefas. Umito-kun, treine um pouco mais na invocação de serpentes. Só vou ficar contente quando você parar de trazer cobrinhas – olhou para ele e este ficou um pouco envergonhado – Miyoko-chan... – sorriu ao olhar para ela – hora de praticar um pouco o controle de seu chakra para poder usar raiton – ela ficou bem animada com isso – quero que fique sentada e faça seu chakra fluir para e extremidade de seus dedos. Se fizer direito vão aparecer faíscas entre eles. E Outa-kun.. – ela coçou a cabeça. Até o momento Outa não parecia ter muitas habilidades para ninjutsu – acho que vou praticar taijutsu contigo.

- Tem uma coisa que eu queria praticar – disse ele um pouco encabulado – é um jutsu de invocação, pelo menos foi o que minha madrasta me disse.

- Mesmo? – ela o olhou curiosa – e o que você invoca?

- Acho que qualquer coisa... – ele se abaixou e pegou uma pedra no chão, carregando-a com seu chakra. Depois deu para ela e se afastou um pouco. Espalmou a mão no chão e a pedra sumiu da mão de Anko, aparecendo do lado da mão dele. Ela ficou surpresa ao ver aquilo, e seus colegas também.

- Gostei – disse ela sorrindo – pode fazer também com seres vivos?

-Ainda não testei...

Ela olhou para Umito e pediu para ele tentar invocar uma serpente. Ele conseguiu, mas era uma serpente pequena. Ia demorar algum tempo até ele controlar o chakra utilizado para invocar as maiores, mas para o teste que ela queria ia bastar. Pegou a pequena serpente com a mão e a aproximou de Outa. Este tocou a cobra e a marcou com o seu chakra. Depois se afastou e tentou invocá-la.

Tinha dado certo!

- Nossa! – disse Miyoko – isso pode ser útil. Tente comigo! – ela se animou e ficou perto dele.

- Ainda não – disse Anko colocando a mão no seu ombro – antes iremos testar com um animal do seu tamanho. Mas para amanhã... – ela sorriu – acho que podemos usar isso contra os bandidos. Vocês dois, façam o que pedi. Outa-kun, vamos ver como essa sua habilidade pode ser útil.

 

-x-

 

Isaki se sentou diante do fogo aceso e se deixou aquecer por ele. Seus companheiros estavam sentados ao lado dela e apenas sua líder permanecia de pé de braços cruzados olhando em direção ao seu destino. Ela decidiu acamparem ali na fronteira do país antes de prosseguir no dia seguinte. Não queria acampar no pais do Trovão antes de falarem com o raikage.

Ela tinha lhes dito o objetivo de sua missão, obter informações sobre um contato de uma nukenin procurada no pais do Fogo. Só não entendia porque tinham de ir até lá para isso. Não seria mais fácil pedir para eles interrogarem a pessoa e depois enviar uma carta com o resultado? Não conhecia muito de política, ou como andava a relação entre os paises, mas se estavam indo até lá, devia haver no mínimo uma relação confiável entre a aldeia da Folha e a da Nuvem.

Moegi andou lentamente até o fogo e sentou-se diante deles, em completo silencio. Não era preciso conhecê-la de longa data para saber que estava com alguma coisa ocupando seus pensamentos.

- Sensei – disse Isaki a olhando – parece que está preocupada.

- E estou – ela dobrou os joelhos e os abraçou – o raikage tem agido de forma um pouco preocupante nos últimos anos.

- Ainda por causa do bijuu de nove caudas?

- Não propriamente por causa dele, mas porque acredita que esse bijuu está ainda no nosso pais e que konoha tem o controle sobre ele. Nas duas reuniões de kages das quais participei como segurança da hokage, ele pressionava minha mestra constantemente referente a isso.

- Eu não entendo porque ele acha que ela está conosco - disse Satoki intrigado.

Ela deu um fraco sorriso triste e suspirou um pouco.

- Quando a guerra acabou, as nações ninja concordaram que os bijuus eram perigosos demais para serem deixados soltos, e como todos os nove ficaram livres, houve um receio de que ocorresse uma corrida entre as aldeias para ver quem capturava mais deles. Assim decidiram que iriam capturar eles em conjunto e os deixarem selados em um local onde todos podiam vigiá-los. Três deles foram capturados no primeiro ano após a guerra, mas... todos os outros sumiram. Curiosamente, no fim daquele ano, começou a correr um boato de que as aldeias capturaram em segredo alguns bijuus e os mantiveram para si, inclusive um destes boatos tinha sido muito forte referente a raposa de nove caudas. Foi tão forte que a godaime convidou todas as aldeias a enviarem ninjas sensores para confirmar que não tínhamos criado um jinchuuriki escondido.

- E isso não os satisfez? – Isaki olhou sua sensei pasma.

- Não muito. Argumentaram que a godaime não faria isso se não possuísse uma forma de ocultar o portador da raposa, ou até mesmo que ela estava lacrada em um recipiente e este estaria oculto longe da aldeia. Os boatos a este respeito eram fortes, mas o mais curioso foi que nunca conseguiram determinar a fonte destes boatos. Eles sempre surgiam em locais próximos as aldeias ocultas, e sempre com alguma informação junto que dava certa veracidade ao relato.

- Que tipo de informação?

- Algumas missões secretas, Satoki. Missões que deviam ser apenas do conhecimento dos envolvidos. Até uma de minhas ultimas missões com meu time acabou mencionada nesses boatos. E mais ou menos uns sete anos atrás, os boatos pararam de aparecer.

- O raikage acredita tanto assim nestes boatos?

- Ele sempre foi desconfiado. Nunca gostou de estar em desvantagem em relação as outras aldeias. Claro que não foi apenas os boatos sobre a raposa que o deixaram assim. Houve alguns outros, até antes destes.

Isaki sentiu que sua sensei não estava contando tudo.

- Quais outros?

Ela pareceu ponderar um pouco se devia contar isso, mas não se demorou muito a falar.

- Meses depois da guerra, e logo após o primeiro bijuu ser capturado, houve um boato de que Naruto teve um filho. Não foi um boato visto com maus olhos a principio. Até que as pessoas que o conheceram gostaram de ouvir aquilo. Mas quando o boato da raposa de nove caudas começou, não foi difícil juntarem uma coisa a outra.

- O raikage acha que Konoha selou a raposa no suposto filho dele e o mantém oculto até hoje? – perguntou Isaki.

- Até eu acreditaria nisso – disse Ikkou que tinha permanecido quieto ouvindo tudo até então – especialmente se a raposa nunca aparecesse. Mas como outros bijuus também estão sumidos, fica um pouco mais difícil aceitar tal coisa. Além disso, pelo que eu soube, ele era um adolescente e nem namorada tinha quando morreu.

- É justamente esta a questão – Moegi olhou para o céu e fechou os olhos – o raikage na verdade quer que estes boatos sejam verdadeiros. Seria impossível todos estes bijuus desaparecidos terem sido capturados em segredo pelas aldeias ocultas e ninguém ter descoberto ou deixado vazar nenhuma informação a respeito. Se tivessem sido lacrados em bebes, hoje estariam com idade de já estarem agindo, e sem dúvida chamariam a atenção, e se foram lacrados em adultos, também teria se passado tempo suficiente para os hospedeiros se adaptarem a eles. É por isso que os kages agora fazem questão de estar presentes nas provas chuunin e por esta agora ocorrer em todas as aldeias. Eles querem avaliar os gennins caso algum deles possua algum dos bijuus.

- Já não teriam descoberto eles com alguma pessoa que pudesse sentir chakra?

- Se eles utilizassem os bijuus, sim. Até o byakugan pode ver esse chakra quando em uso. Mas sendo mascarado pelo chakra do hospedeiro, é muito mais difícil.

- Não entendi porque ele quer que os boatos se concretizem, Moegi-sensei.

Ela olhou para a sua aluna e tentou parecer descontraída.

- Foi assinado um acordo entre os paises para não utilizarem mais os bijuus. Mas onde quer que os desaparecidos estejam, provavelmente não se encontram com alguém que tenha feito este acordo. Se por acaso jinchuurikis aparecerem para nos atacar, será assustador. Temos apenas três bijuus lacrados, e colocá-los em pessoas e estas conseguirem os dominar vai levar muito tempo. Como o acordo foi feito na época dos boatos, ele espera que tenhamos a kyuubi conosco ainda apenas para essa eventualidade, uma vez que os outros kages não concordaram com a sugestão dele de usar pelo menos um dos bijuus para criar um jinchuuriki. Mas ele quer que seja oficializado. Contudo, não sei muito mais do que isso, apenas o que minha mestra me contou. Na verdade, cheguei a falar demais. Não quero que comentem nada com qualquer pessoa da aldeia da nuvem caso lhes perguntem alguma coisa. Estamos ali apenas como observadores e não faremos nada.

Passaram a noite sem tocar mais no assunto. No dia seguinte partiram cedo rumo ao seu destino. Logo a paisagem começou a mudar das árvores comuns no país do Fogo para uma floresta mais esparsa, até que as arvores ficavam longe demais uma das outras para continuarem pulando, necessitando irem a pé. Mas estavam correndo. Moegi não queria levar mais um dia para chegar. O terreno foi ficando mais montanhoso e acidentado, o que de certa forma facilitou a jornada, já que podiam utilizar as escarpas cada vez mais íngremes para irem saltando longas distancias.

Finalmente ao fim da tarde já podiam ver as grandes montanhas que marcavam a topografia da aldeia da Nuvem. Isaki ficou impressionada com aquilo. A aldeia inteira parecia ter sido construída ao redor e no interior daquelas formações altas. Mas ainda levariam algumas horas para chegar lá.

 

-x-

 

Andava displicentemente com a espada sobre o ombro direito, e até se movia com certa arrogância ao lado da carroça que estava sendo puxada por um boi apenas – o outro eles tinham matado e feito um belo churrasco uns dias atrás – que até mancava um pouco. A carroça tinha quase o dobro do tamanho da outra que costumavam usar para pegar os barris de vinho.

Ainda tinham vinho com eles, mas queriam se divertir. Quando tinham encontrado aquela aldeia alguns meses antes, foi uma decepção perceber que poucos valores possuíam. Imaginavam que tantos campos cultivando uvas pertenceriam a um rico fazendeiro, mas não... eram terras comunitárias. Todas as pessoas da aldeia trabalhavam nelas e o dinheiro obtido com a venda de vinho era quase que imediatamente convertido em suprimentos, ou seja, nada de riqueza ali.

Mas pelo menos encontraram um bom lugar para se abastecerem de vinho, e como eles faziam muito, não iam ter dificuldade em continuarem com sua vidinha tranqüila, desde que pagassem a eles o tributo ocasional. Claro, eles precisavam se divertir também. Só esperava que por estarem indo um pouco mais tarde do que o normal eles ficassem seguros o bastante para não esconder as belas moças que já fazia tempo que não via na aldeia.

Havia outro andando do outro lado da carroça, também usava uma espada mas estava na bainha as suas costas. Na carroça estavam os outros três do grupo. Um deles tinha uma faca e os outros dois nem se incomodavam em carregar armas. Deixavam estas soltas dentro da carroça mesmo. Aqueles aldeões nunca esboçaram nenhuma reação.

Já estavam andando por entre as plantações fazia algum tempo, quando ouviram um sibilar alto, como se uma serpente estivesse por ali. Olhou ao redor intrigado, mas manteve a espada no ombro de forma displicente.

- Mikori? – chamou seu colega sacando a espada das costas – o que acha que é isso?

- Uma serpente talvez no meio das uvas – respondeu ele dando de ombros – mas esse sibilar é muito alto mesmo. Vamos indo. Serpentes costumam evitar as pessoas.

Recomeçaram a andar pela estrada e quase uma hora depois já podiam ver as casas da aldeia. Mas também notaram outra coisa. Não viam os aldeões andando pelas ruas. Nem mesmo viram ninguém na plantação de uvas. Isso era muito incomum. Será que eles cansaram de suas visitas e abandonaram a aldeia para não terem problemas? Se fosse isso, Mikori iria pegar todos os barris que conseguisse e iria destruir os que sobrassem, como lição para eles. Não gostava de ser desafiado.

Mas conforme se aproximavam mais das casas, notaram que havia uma pessoa ali na rua, na entrada da aldeia. Era uma garota jovem, talvez com no máximo quinze anos. Mikori olhou para a menina e sorriu de forma divertida, antecipando alguma diversão. Fazia muito tempo que não tocava em uma moça tão jovem e que provavelmente teria uma pele muito macia. Enquanto seus colegas paravam a carroça e de forma desajeitada desciam desta, ele continuou andando com o sorriso safado no rosto com os olhos fixos no corpo dela, parando a menos de dois passos da mesma.

Seus cabelos negros eram longos e esvoaçavam um pouco na brisa, e os olhos castanhos levemente azulados lhe davam uma aparência ótima. Uma pena ainda ser tão jovem, seu corpo ainda não exibia muitos dotes. Ela também usava uma faixa preta na cabeça, talvez para não deixar os cabelos balançarem muito. Usava uma camisa verde escuro que deixava seu umbigo a mostra e uma saia curta também verde. E por baixo desta saia usava ainda uma calça que ia até os seus joelhos.

Mas era justamente perto dos joelhos que algo lhe atraiu a atenção. havia uma faixa amarrada pouco acima do joelho direito, e uma bolsa presa nesta. Já tinha visto aquilo uma vez, mas não se lembrava onde.

- Onde estão seus pais, mocinha? – começou ele sendo bem sarcástico – que tal dizer para eles que vai demorar para voltar para casa hoje?

- Demorar? – ela colocou o dedo nos lábios agindo como se estivesse confusa e fosse inocente – porque eu vou demorar?

Ele riu divertido mostrando seus dentes sujos e amarelados pelo tabaco.

- Coitadinha... não sabe nada da vida ainda, não é? – esticou a mão e tocou nos seus cabelos, acariciando-os e a olhando agora de uma forma lasciva – acho que estou ficando apaixonado. Vamos beber um pouco esta noite e ai, quem sabe você se diverte bem mais do que jamais imaginou?

- Desculpa – ela deu um passo para trás se afastando das mãos dele – mas não posso beber em serviço. Minha sensei vai ficar brava comigo...

- Sensei? – ele parou de sorrir e ficou confuso. Olhou para seus colegas e dois deles já estavam arrombando a porta do deposito onde geralmente pegavam os barris de vinho, e os outros dois olhavam também para a menina a sua frente.

Ela levou as mãos até a faixa na cabeça e depois de a afrouxar um pouco, a girou e logo surgiu uma bandana que estava nas costas de sua cabeça. E isso ele se lembrava muito bem o que era, bem como agora também se lembrava de onde tinha visto aquela faixa amarrada na perna dela. Aquela menina era uma ninja!

- Sim, minha sensei – disse ela observando a ele e os outros dois mais distantes – agora, que tal irem embora antes de se machucarem?

Gritando de raiva, ele moveu sua espada indo na direção dela, mas esta apenas pulou e ficou no alto de uma das casas. Que maldição! Não esperava que a aldeia contratasse ninjas para defendê-la. Ele nem mesmo tinha terminado o movimento com sua espada quando ela jogou kunais contra ele.

Não ia ser tolo! O pulo que a menina deu mostrava que não era amadora, portanto não tinha a menor chance contra ela. Correu para a carroça e para a sua surpresa viu seus colegas irem na direção da casa em que ela estava. Eles eram idiotas?

Claro! Nunca enfrentaram ninjas antes. Não deviam acreditar que uma criança seria perigosa para homens com espadas. Bom, iam acreditar agora, mas não seria ele que os ajudaria a convencê-los. Gritou para os outros dois deixarem o vinho de lado e para fugirem. Mas precisou parar quando um garoto pousou na sua frente segurando uma kunai.

Eram em dois? Gritando de raiva, moveu sua espada contra ele, mas este se mantinha distante, longe do alcance desta. Mas notou uma coisa... ele não estava avançando! Continuou indo na sua direção movendo a espada de um lado para o outro, e seus colegas que pararam de arrombar a porta também se aproximavam dele, mas tinham apenas seus punhos para lutar. O garoto logo percebeu isso e foi na direção deles, pulando para o alto e acertando um deles na nuca com um chute, mas não ficou para enfrentá-los. Jogou algo no chão e desapareceu em uma nuvem de fumaça.

Não entendeu aquilo. Porque ele fugiu? Não estava em vantagem contra eles? Ou desta vez ele estava superestimando os ninjas? Olhou para onde a moça tinha pulado e não a viu ali. Os dois que foram atrás dela estavam voltando com as espadas na mão. Aquele que o garoto acertou estava desmaiado – só com um golpe!

Enquanto pensava, sentiu um impacto na sua espada e surpreso deixou esta cair. Um pouco afastado dele estava o causador do impacto. Outra kunai. Abaixou-se para recuperar sua arma mas assim que a tocou, um pé pisou sobre ela. Ao erguer a cabeça deparou-se com uma mulher sorrindo para ele, segurando um doce de dangô na mão.

- Juro que não pensei que podia ser tão fácil – disse ela o olhando.

Esta devia ser a sensei da qual a moça tinha falado.

Ele ouviu passos atrás dele, e percebeu que eram seus colegas indo atacar a mulher. Esta pegou uma kunai com a mão esquerda e usando-a, continha facilmente as espadas dos dois homens que tentavam atingi-la. Recuperou sua espada e olhou ao redor. Enfrentar aqueles dois mais a sensei dos mesmos era certeza de que acabaria preso. Assim decidiu correr por dentro da aldeia para fugir pelo outro lado desta. Eles deveriam estar tentando cercá-los ali na entrada.

Enquanto corria, ouviu alguns sons passando perto dele. Pelo jeito estavam atirando alguma coisa nele, mas não estava acertando. Talvez tivessem péssima pontaria, ou – o que era mais provável – não o queriam ferido. Mas isso mudou quando sentiu um corte sendo feito do lado esquerdo das costas, na altura do rim. Levou a mão ali e sentiu por entre o sangue quente que havia algo com dentes. Retirou aquilo do corpo com muita dor e quando observou melhor, viu que era uma shuriken com sangue.

Seu sangue.

Não era um ferimento fatal, mas estava doendo muito. Podia sentir o sangue quente e úmido escorrendo pelo ferimento. Olhou para trás e notou que a mulher não estava mais sozinha ali. A moça e o rapaz também a estavam ajudando, e seus colegas estavam levando uma surra. Mas ele teria chance de escapar. Entrou por detrás de uma das casas e pulou o muro desta, apenas para dar de cara com mais um garoto usando bandana. Mas esta não estava na testa, estava no seu ombro, como se fosse uma alça de uma mochila.

Desesperado para fugir, brandiu sua espada contra ele, tentando acertá-lo de todo jeito possível. Como o outro, ele se mantinha distante, não se arriscando a ficar ao alcance da lamina. Chegou inclusive a andar pela parede da casa cujo muro ele tinha pulado, e ficou ali na parede afastado dele. A única forma de alcançá-lo seria arremessando a espada, e se fizesse isso estaria desarmado e ele sem duvida iria nocauteá-lo. Assim ele deu meia volta e continuou a correr em direção a plantação de uvas, esperando poder despistá-lo por lá. No entanto, teve uma nova surpresa ao vê-lo pular por sobre a sua cabeça e pousar diante dele há uma distancia segura.

Rangendo os dentes, foi em direção a ele, contando que ele se afastaria como tinha feito antes. Mas desta vez ele bateu a mão no chão e ao redor dele apareceram três pessoas. Aquelas mesmas três que tinha visto antes, a sensei, a moça e o garoto.

Ficou olhando abobado para eles e mal conseguia pensar. Como eles apareceram ali tão rápido?

- Só para que saiba – disse a moça sorrindo de forma feroz para ele – sei muita coisa da vida, e não gostei quando você pos a mão no meu cabelo!

Ele deixou a espada cair lentamente no chão e devagar caiu de joelhos, sentindo todas as forças do corpo o abandonarem. Seria loucura enfrentá-los agora, ainda mais quatro ao mesmo tempo. Pelo menos daquela vez ele não estaria todo ferido como tinha ocorrido antes.

- Miyoko-chan – disse Anko a segurando no ombro – nada de bater em quem se entregou.

- Você ouviu o que ele insinuou para mim? – tornou ela irritada – só um pontapé, sensei, por favor...

Ela riu levemente daquilo enquanto observava o homem praticamente tocar a testa no chão, implorando silenciosamente por piedade.

- Hoje não – repetiu ela – Outa-kun, você não se lembrou de preparar algumas cordas para poder invocá-las, certo?

- Não as achei – respondeu ele se mantendo atrás dela, de forma que se o bandido tentasse algo, a sensei estaria com o caminho livre para detê-lo.

- Vai ter que ser com as roupas deles mesmo – ela suspirou – tire a sua camisa – disse para ele em tom autoritário – e nem sonhe em fazer alguma coisa. A propósito alunos... parabéns. Fizeram direitinho o que eu pedi.

 

-x-

 

- Me lembre de matar aquela bruxa de cabelos rosas – disse Ayame andando emburrada ao largo dos mais de cinqüenta porcos que estavam acompanhando. Essa tinha sido a parte fácil, acompanhar aqueles animais e mantê-los seguros até chegarem ao abatedouro. O difícil – e terrivelmente inesperado – foi descobrir porque porcos tinham a fama de serem sujos. Eles não eram sujos propriamente, mas tinham um mal cheiro terrível! Especialmente suas fezes. Tanto ela como Haruka ficaram nauseadas logo nas primeiras horas em que a missão começou. Shiromaru então quase que ficou desesperada. Devia ser pior para ela com um olfato sensível como tinha.

E isso até que a ajudou. Era a desculpa ideal para sempre ficar a favor do vento para que este não levasse esse odor em sua direção – e de sua parceira – para assim poder rastrear melhor a região em que estavam. A única coisa que esperavam que pudesse acontecer seria um ataque de lobos, coisa que estava ficando comum quando aqueles suinocultores iam levar sua criação para ser transformada em lingüiça.

- Entre na fila – disse Minato também não agüentando aquilo – não é a toa que lobos podem atacar os animais... devem poder sentir o cheiro deles até de outro país.

- Deixem para xingar a Sakura-neechan depois que a missão acabar – disse o sensei deles um pouco afastado. Ele também não gostou muito da missão, e até se questionava se estava sendo punido por alguma coisa.

- Porque depois? Prefiro xingar agora. Ou acha que sou burra para falar essas coisas perto dela? .

- Pelo menos dá para descarregar a raiva – disse Minato.

Ele achou melhor não discutir, e para o bem de seus ouvidos, se afastar um pouco. E o pior era que até Minato estava apoiando ela.

Apenas os donos dos porcos pareciam bem a vontade ali. Eram dois conduzindo todos eles, e Ayame ou Minato precisavam criar alguns clones as vezes para levar um dos desgarrados de volta. Tirando o inconveniente do mal cheiro, a missão até que estava indo bem.

Mas não iria ficar por muito tempo. Haruka voltou junto com Shiromaru para perto do sensei e estava muito ofegante.

- Sensei! – chamou ela assim que se aproximou – tem uma matilha com sete lobos vindo pelo sudeste – ela apontou com a mão – estão já rodeando os porcos.

Ele ficou pensativo e depois olhou para Ayame e Minato a distancia, e se aproximou deles.

- Prontos para trabalharem? – perguntou ele sorrindo – Haruka localizou uma matilha se aproximando.

- E o que vamos fazer? matá-los? – questionou Minato.

- Não vai ser preciso chegar a isso ainda. Lobos não atacam quando são superados em numero. Vamos fazer o que eu disse para vocês antes da missão começar.

Meia hora depois, os lobos se aproximavam mais de suas presas. Já tinham identificado um e iriam em breve atacá-lo para separá-lo dos outros e então dar o golpe final. Mas um som de gritaria chamou a atenção deles. Logo várias pessoas pulavam das arvores e corriam na direção da matilha, gritando e agitando as mãos. Eram mais de cem pessoas e eles em pânico correram desesperados. Demorou um bom tempo até eles, exaustos, pararem de correr quando se certificaram de que não havia mais ninguém os perseguindo.

Longe dali, tanto Ayame quanto Minato tiveram de se sentar quando cancelaram o jutsu. Ainda eram afetados quando vários clones desapareciam ao mesmo tempo e todas as informações que tiveram eram retornadas a eles. Estavam se acostumando, mas era um processo lento.

- Deu certo? - Perguntou Haruka olhando para eles.

- Se você fosse um lobo, e dezenas de Ayames e Minatos fossem correndo atrás de você, por acaso seria louco de enfrentá-los? – Konohamaru riu – mas acho que eles vão voltar quando a fome apertar mais, e talvez não seja tão fácil dissuadi-los. Se tivermos sorte, talvez eles procurem por uma presa que considerem menos arriscada, mas eu duvido.

- E apenas vamos esperar por eles? – Perguntou Ayame se levantando já se sentindo melhor – se eles atacarem nossos clones, eles vão desaparecer bem depressa.

- Os criadores de porcos estão acostumados a perder alguns quando os estão conduzindo. Acontece que quando lobos atacam, eles pegam apenas um porco e muitos outros fogem, ficando perdidos. Podíamos deixar um porco para eles se saciarem, mas não creio que eles – apontou para os dois que estavam acompanhando os porcos – vão gostar disto.

Minato fez um novo clone e este partiu na mesma direção em que a matilha fugiu.

- Minato-kun?

- Mandei um clone ficar de olho neles. Pelo menos saberemos se estiverem voltando.

- Se estiverem com fome, vão voltar logo, especialmente porque a noite está se aproximando. Vão atacar os porcos assim que acamparmos.

Os gennins olharam para seu sensei esperando que este possuísse alguma solução. Não estavam muito dispostos a enfrentarem lobos, mesmo usando só clones. Se eles ficassem desesperados por comida, iriam fazer qualquer coisa para conseguir isso, até mesmo atacar uma multidão de clones.

- Haruka-chan, quando acamparmos, faça clones de sua parceira para vigiar melhor a redondeza. No entanto eu temo que não teremos escolha além de matar os lobos. Eles caçam os porcos porque é mais fácil que as outras presas. Se depois do segundo ataque não forem procurar comida em outro lugar... vai ficar difícil.

Algumas horas depois, eles montaram um acampamento em uma clareira que era repetidamente utilizada pelos viajantes, considerando que o local para o fogo já estava preparado com pedras para manter as brasas da lenha no local. Eles apenas colocaram a madeira ali e a acenderam. Os gennins pegaram sua porção de comida que trouxeram com eles, e Haruka fez os clones da parceira conforme fora instruída pelo sensei. Konohamaru mesmo tinha feito um clone para ajudar nesta vigília.

Felizmente estavam com sorte. Os lobos não fizeram nada naquela noite.

 

-x-

 

O formato da aldeia era muito inusitado para os ninjas de Konoha. Não era plana e continua, mas sim dividida entre vários picos, onde plataformas e terraços foram construídos para abrigar as pessoas. haviam pontes de uma plataforma para outra, e de onde observavam, não haviam dúvidas que as montanhas deviam ter sido escavadas para também servirem como moradia. Estranhamente não era possível ver nenhuma casa. Provavelmente todos deviam morar no interior das construções. No centro da aldeia, protegida por varias toras de madeira podia ser visto no topo muitas árvores, como se um jardim suspenso estivesse ali. Imaginaram que lá devia ser onde o raikage devia ficar.

Mas ainda precisavam aguardar serem autorizados a entrar na aldeia. Estavam parados diante de uma grande ponte de cordas que era a única entrada normal para a aldeia. Ali ficava um posto de guarda que verificava a identidade de todos os que se aproximavam. Antes mesmo de se aproximarem demais, foram interceptados por ninjas da aldeia e questionados sobre o motivo de estarem ali. Agora esperavam o mensageiro informar o raikage e retornar com a autorização – ou não – para prosseguirem.

Enquanto seus colegas ficavam esperando no posto de vigia, Isaki preferiu ficar sentada na ponte de cordas balançando seus pés sobre o abismo enquanto observava a paisagem. Era muito exótica para ela, mas não acreditava que conseguiria morar ali. Apesar do local extremamente aberto, também se parecia com uma prisão sem muros. Alias, os muros eram os abismos que cercavam a aldeia e também estavam no meio dela.

Logo foram liberados para prosseguir e seguiram um guia que os levou pela aldeia. Em alguns locais que passaram, viram praças escavadas dentro das montanhas, terraços com jardins bem cuidados, uma área que sem duvida devia ser o distrito comercial. Não demorou para notarem que estavam dando voltas demais, provavelmente evitando locais mais confidenciais da aldeia, como a academia, áreas de treinamento, a policia interna, e outras particularidades que eles sem dúvida preferiam manter ocultos de olhos estrangeiros. Mesmo as três vezes em que o exame chuunin integrado das cinco aldeias ocorreu no país do Trovão, ele não tinha ocorrido na aldeia da nuvem, mas em um local que fora construído especialmente para este fim na base daqueles picos. Ali ao menos os visitantes e apreciadores do evento podiam andar a vontade, sem o risco de serem confundidos com alguma ameaça.

Finalmente chegaram a uma ampla sala interna abobada – Isaki teve a certeza de que andaram em círculos pelo menos por duas vezes – onde o guia pediu para esperarem, os deixando ali.

- Estranho... – começou Satoki depois de aguardar pacientemente por quinze minutos – por que nos deixariam sozinhos aqui depois de várias voltas ao redor da aldeia?

- Não pergunte o óbvio, Satoki. É claro que estamos sendo vigiados  - disse Moegi enquanto aguardava de braços cruzados – ou o raikage está ocupado agora, ou ainda estão confirmando se somos quem dissemos ser.

Após aguardarem mais meia hora, ouviram passos vindo das escadas a direita. Os chuunins se posicionaram atrás de sua líder e aguardaram assim. Observaram uma sombra se formar no chão e esta logo foi seguida por um homem alto e de aparência imponente, aparentando ser muito forte fisicamente. Ele também aparentava não ser nem um pouco amigável com as sobrancelhas flexionadas e os lábios formando um inicio de sorriso invertido. De fato, parecia que naquele instante ele estava furioso com algo, e Isaki ficou temerosa do que podia ser.

- Saudações, raikage-sama – disse Moegi dobrando um joelho e colocando sua mão sobre este, ao mesmo tempo em que mantinha a cabeça erguida fixa em seus olhos – trouxe uma carta de minha hokage para o senhor.

Ela retirou um envelope do bolso e estendeu a mão com ele. Os chuunins permaneceram de pé atrás dela, indecisos sobre que ação tomar. O raikage contundo, não pareceu se incomodar com isso. Pegou a carta da mão de Moegi com um movimento rápido e a abriu com certa violência, causando um estalo no papel quando foi desdobrado. Agora podiam notar que haviam duas pessoas mais atrás dele, provavelmente sua escolta.

Logo após terminar de ler, ele amassou a carta fazendo uma pequena bola e a jogou no chão.

- Já faz um tempo que não a vejo, aprendiz da lesma rosada... – disse ele com voz alta, mas o tom de voz era de murmúrio.

- Eu estava ocupada – disse ela de volta e sorriu de forma ferina – porque todo mundo parece ter inveja dos cabelos da minha mestra?

Seus chuunins ficaram assustados quando ela disse aquilo e o raikage franziu ainda mais o cenho, ficando mais feroz ainda. Mas em seguida ele bufou duas vezes e acabou gargalhando divertido. Mas mesmo assim ele assustava.

- Preciso tomar cuidado com o que digo quando você está por perto – rosnou ele. Vamos ao ponto. Foi informada do conteúdo desta carta?

- Não – respondeu ela simplesmente enquanto se punha novamente de pé.

- Sua mestra está ficando mais esperta... o acordo que fiz com a hokage de Konoha foi a de que vocês teriam todas as informações que obtivermos desta pessoa, mas não irão interferir nos nossos métodos. Em troca, vocês devem fazer duas coisas: Primeira, um dos membros de sua equipe deve ficar aqui e acompanhar o interrogatório. Nada será fornecido por escrito. E Segundo... o resto de vocês deverá cumprir uma missão para a aldeia da Nuvem.

- Missão? – murmurou Isaki involuntariamente.

- Qual seria esta missão?

- Antes, quero que me diga o nome de quem seria o suposto contato dessa nukenin na aldeia da Nuvem – disse ele cruzando os braços e os encarando ferozmente.

Moegi mordeu seu dedo fazendo-o sangrar e após alguns selos, bateu uma mão na outra, fazendo uma invocação – ela quase nunca batia a mão espalmada no chão – e uma lesma de trinta centímetros com as costas negras apareceu em pleno ar. Ela se agitou surpresa mas logo foi pega pelas mãos daquela que a invocou.

- Porque não me invoca no chão como todo mundo? – ralhou ela com clara irritação.

Isaki deu involuntariamente um passo para trás. Tinha quase que uma fobia de lesmas, e aquela em especial era muito antipática.

- Oi para você também, Jitsuy – disse ela sorrindo – preciso daquele pergaminho.

- Sempre faz isso comigo – reclamou ela bufando – qualquer dia eu invoco você numa poça de lama para ver como é divertido.

Moegi balançou a cabeça enquanto do corpo da lesma era expulso um pergaminho. Ela o pegou e a lesma desapareceu em seguida, no meio de uma reclamação. Isaki não imaginava porque parecia que elas não se davam bem. Só a tinha visto invocar a lesma umas poucas vezes, e mesmo em situações criticas ela sempre reclamava.

O kage pegou o pergaminho que ela arremessou e o abriu. Os chuunins repararam que sua líder começou a andar para trás, e por instinto fizeram o mesmo. Na verdade, até a escolta do kage deu alguns passos para trás. Logo isso se provou ser sábio, pois o homem literalmente explodiu de raiva despedaçando o pergaminho e soltando raios pelo seu corpo. Gritou várias palavras em tal tom que ninguém entendeu. Ao fim, ele abaixou os braços e ficou olhando para frente bufando. Seu rosto era puro ódio, o que deixou os jovens chuunins completamente apavorados.

- Porque ainda estão aqui? – rugiu ele ao olhar para os dois que o acompanhavam.

- R-raikage?

- Eu mandei prenderem Hori Shii – urrou ele. Devia ser aquilo que ele disse enquanto explodia, mas estava totalmente ininteligível da forma como tinha dito antes.

- Não tínhamos entendido – disse a outra pessoa. Um segundo depois, nenhum deles estava ali.

- Posso perguntar o porque de tanta raiva? – questionou Moegi gentilmente.

- Eu o conheço – rosnou ele ainda com fúria – espero que a informação de sua hokage seja confiável, ou isto poderá ter severas conseqüências. Que provas vocês têm a apresentar?

Ela fez uma careta e o olhou de lado, agindo de forma levemente sarcástica.

- Estavam descritas no pergaminho – disse ela olhando para alguns pedaços deste que ainda podiam ser vistos no chão.

Ele rosnou de novo e socou o chão, causando uma rachadura neste.

- Está me dizendo que mandei prender uma das mais importantes pessoas responsáveis pela segurança de minha aldeia e não tenho nenhuma prova de sua traição?

- Não – ela sorriu de forma azeda – estou dizendo que você destruiu a informação detalhada a respeito. E com certeza não a leu antes.

Moegi parecia divertida de cutucar a fera ali com as conseqüências de seus atos impensados, mas para Isaki e seus colegas isso não parecia ser muito sábio.

- Quem é a outra pessoa suspeita aqui no país do Trovão?

- Também estava no pergaminho – ela apontou para os pedaços no chão.

Ele não disse nada desta vez, mas seus olhos arregalados com as sobrancelhas flexionadas ao máximo demonstravam claramente sua frustração.

- E o que eu faço agora? Do que irei acusar Hori se nem sei o seu crime real? E não venha me dizer que estava escrito no pergaminho!

Moegi arregalou os olhos surpresa para ele, e o mesmo percebeu o que tinha acabado de falar. Ele apenas rosnou palavras sem sentido e parecia finalmente que estava se acalmando – como se tal coisa fosse possível – seu rosto parecia apenas ser de um mal encarado agora.

- Se houver uma próxima vez, é bom a hokage escrever o nome no final do texto... – murmurou Ikkou para os colegas.

 - Ela escreveu – disse Moegi – mas não adiantou muito...

O raikage a olhou com raiva, mas suspirou um pouco para se controlar.

- Aprendeu muito com aquela hokage rosada – rosnou ele – pois bem, fui impulsivo, satisfeita? Tenho certeza de que sabe qual é a prova de que precisamos.

- Conhecendo seu gênio, tomei a liberdade de ler o pergaminho antes de partir – ela sorriu para ele, e este apenas devolveu um rosto nada amigável – se a prova ainda existir, estará ou com ele ou em um local de confiança, talvez escondido entre suas coisas pessoais. Ele deve ter rolos de pergaminho com águias seladas para enviar mensagens. Se seguirmos essas águias é bem provável que encontraremos a nukenin.

- Muitos aqui usam águias para comunicação – disse ele quase em forma de rosnado. Isso não vai provar nada.

- Vai sim, se ameaçar o suspeito dizendo que vai soltar todas as águias e segui-las para verificar seus destinos.

Ele ficou pensativo por alguns instantes, talvez imaginando como conseguiram aquela informação, ou talvez o porque daquilo não ter sido descoberto antes. Mesmo Moegi não sabia os detalhes, apenas o que tinham lhe informado.

- E se a prova não existir mais?  - vociferou o raikage novamente com uma raiva crescente – isso irá se tornar um incidente sério.

- Me corrija se eu estiver errada... mas quer que eu acredite que o raikage iria mandar prender alguém tão importante assim apenas porque Konoha possui uma suspeita a respeito? Eu acho que você já desconfia dele há um bom tempo mas nunca teve provas.

- Nenhuma definitiva – disse ele simplesmente – vamos! – comandou já se virando de costas e seguindo de volta pelas escadas – vamos esperar nosso prisioneiro na sala de interrogatório.

 

-x-

 

- Nada ainda, Ringo?

- Não sensei – disse ele com o byakugan vasculhando as encostas dos morros próximos – não acho que estão ali.

Kiba pressionou os punhos e olhou para os seus alunos. O braço de Yoshi não estava sangrando mais, Ringo tinha apenas algumas marcas roxas no corpo e Jiro ainda segurava a kunai na mão direita, pronto para qualquer coisa. Os quatros condutores da caravana também estavam bem, quase que ilesos. Estavam recolocando a carga que tinha caído durante a rápida e inesperada luta. Acabou ocorrendo o que ele temia. A missão foi para classe B devido ao ataque de dois nukenins.

A boa noticia foi eles não quererem uma luta arriscada. Sem dúvida estavam acima do nível dos seus gennins, mas não muito – para a sorte de seus alunos – mas isso também lhe chamava a atenção para outra coisa. O que dois ninjas iriam querer com um carregamento de madeira e minério de ferro?

Lembrou-se de como a missão lhe chamou a atenção inicialmente. Os mineiros queriam uma escolta para levar produtos para um entreposto que possuíam, e estavam tendo problemas com ladrões os atacando. Temiam que eles poderiam matar os condutores e roubar a carga. O que lhe chamou a atenção era que a carga tinha prioridade na proteção.

Mas proteger minério de ferro? Aquela história estava mal contada. Nos primeiros dias da viagem não tiveram nenhum incidente, mas ele notou como os condutores das carroças estavam apreensivos durante a jornada, e mais ainda a noite.

Olhou para as carroças com minério e apertou os lábios. Nukenins ou atacam por contrato, ou para conseguir riquezas. Ficou de olho enquanto carregavam as carroças, e não viu ou farejou nada diferente no minério de ferro ou nas toras de madeira. Claro, não podia farejar ouro ou jóias caso houvesse um pouco disto oculto na carga. Mas tinha dúvidas disto pelo simples motivo de que para os nukenins seria mais fácil atacar a mina, e não uma caravana. Não, deviam estar atendendo algum contrato.

- Fiquem aqui, e Ringo, continue vigiando.

- Sim, sensei.

Akamaru ficou com eles. Kiba seguiu até um dos condutores que tinha acabado de recolocar uma das toras de volta na carroça e o agarrou pela camisa, o erguendo no ar e com muita raiva.

- Diga-me o que está acontecendo ou esses bandidos serão a menor de suas preocupações.

Os outros três o olharam assustados, e aquele que ele tinha erguido estava com puro terror no rosto. Seus alunos também olhavam aquilo não entendendo.

- Aqueles dois eram ninjas! – gritou ele – porque eles iriam atacar uma caravana com minério de ferro?

- Não sei – disse ele rápido e com a fala entrecortada.

- Mentira! – gritou o arremessando no chão – desde que saímos todos vocês estavam com medo de alguma coisa. Se tivessem dito toda a história, um time melhor preparado teria sido enviado, e não um iniciante em sua primeira missão deste tipo!

A maneira como seus olhos ficaram arregalados lhe deu a resposta que temia. Eles omitiram alguma coisa, e por causa disso um time despreparado tinha sido enviado. Ele se ajoelhou para se aproximar do homem caído e ao mesmo tempo em que seus dentes e unhas cresciam, lutava para ainda falar como um ser humano. Mas sua vontade era a de eviscerar aquela pessoa.

- O que realmente está acontecendo aqui?

- Eu explico – disse um dos outros condutores, o mais velho que já tinha alguns cabelos brancos. Kiba o olhou mas não alterou a sua postura. Ainda estava com as unhas que agora mais se pareciam garras a meio caminho da garganta do homem.

- Estou ouvindo.

Suspirando para tomar fôlego, ele começou a falar.

- Já faz algum tempo, temos sido ameaçados por outro grupo de mineiros que concorre conosco nas entregas de minérios no entreposto. É um grupo grande, com muitas minas e que faz comercio em muitos lugares. Como a nossa mina de ferro é bem localizada nesta região, eles sempre tiveram dificuldades para concorrer com nossa produção e preços. Primeiro tentaram comprar a nossa mina, depois fizeram algumas ameaças na nossa aldeia. No começo deste ano nossas cargas começaram a sofrer ataques. Normalmente as carroças eram destruídas, atrasando em muito as entregas.

Kiba olhou para as duas carroças que foram viradas no primeiro ataque. Um deles usava doton, e tinha usado um jutsu para fazer aquilo. O ataque tinha sido muito inesperado, apesar dele ter farejado eles antes e de Ringo também os ter detectado. Mas até então ele acreditava que eram ladrões comuns. Foi só quando Ringo disse sobre o chakra deles que ficou preocupado. Recriminou-o por não ter mencionado aquilo antes, mas já não fazia mais diferença. Estavam próximos demais quando percebeu que seriam perigosos. Yoshi fora cortado pela própria kunai quanto atacou um deles, e o outro tinha conseguido espalhar a carga de duas carroças antes que ele e Akamaru fizessem algo e com isso eles decidissem se afastar.

- Contratamos mercenários para nos proteger, e por algum tempo deu certo. Mas no mês passado os mercenários foram mortos, e as carroças destruídas. Nossa aldeia está com poucos recursos, não podíamos pagar pela proteção de shinobis habilidosos que sabíamos que seria bem mais caro. Assim informamos que eram ladrões comuns até o mês passado, que foi quando fizemos o pedido. Têm todo o direito de nos condenarem, mas meus filhos em breve irão passar forme, e estou disposto a fazer qualquer coisa para evitar isso.

Ele tinha que colocar crianças no meio da história? Que droga. Ficou de pé ao mesmo tempo em que suas unhas e dentes voltavam ao tamanho normal e observou seus gennins. Pelo que viu no primeiro ataque, não eram nukenins habilidosos, mas havia um detalhe a mais...

Ele conhecia aqueles nukenins, e infelizmente conhecia um deles muito bem. Era por isso que estava tão irritado com aquilo. Ambos eram de Konoha. Tinham abandonado a aldeia alguns anos atrás, cerca de dois anos depois de Tsunade ter sido morta. Pelo jeito não tinham se desenvolvido muito desde então, mas ainda assim tinham experiência mais do que suficiente para sobrepujar seus alunos.

E com certeza eles iriam voltar.

- Entregar sua carga no momento não é mais minha prioridade – disse ele de costas para o homem idoso – aqueles dois eram ninjas. E devo capturá-los, ou ao menos informar seu paradeiro na aldeia.

Seguiu em direção aos seus alunos que o olhavam tentando entender o que estava ocorrendo. Assim que chegou perto deles, olhou para os três e apertou os lábios com força.

- Lembram daquela simulação da hokage? Pois acaba de acontecer o mesmo aqui, mas não é uma simulação. Aqueles dois são nukenins procurados. Yoshi, como está seu braço?

- Está ótimo - ele moveu o braço em várias direções para demonstrar o que dizia.

- Muito bom. Ringo, eles sabem sobre você e suas habilidades, e também sobre mim e o que posso fazer. Portanto devem estar além do alcance do seu byakugan e contra o vento para nem ou Akamaru os farejarem, ou seja, daquele lado – ele apontou com a mão em direção a um conjunto de árvores esparsas a sua esquerda – Vocês viram que um deles conhece pelo menos dois jutsus de doton, e o outro eu sei que pode usar katon.

- Kiba-sensei – chamou Jiro o interrompendo – como sabe de tudo isso?

- Aqueles dois já foram de nossa aldeia – disse de forma direta, deixando os três em choque – e eu os conhecia. Acho que foi mais por isso que acabaram fugindo, mesmo tendo dominado Ringo e Yoshi. Da ultima vez que os vi, estavam um pouco acima de vocês no desenvolvimento. É claro que já se passaram alguns anos e sem dúvida aprenderam mais algumas coisas, mas não creio que foi muito. Não teriam fugido de mim se fosse o caso.

- Nós vamos atrás deles?

Olhou para Jiro apertando os olhos. Akamaru ao seu lado latiu uma vez, como que concordando. Se eles tivessem feito mais algumas missões ele talvez até se arriscasse, mas não podia fazer isso agora. Por outro lado, ir atrás deles sozinho poderia deixar seus alunos sem auxilio caso um deles atacasse a caravana novamente, e esperar eles voltarem lhes daria a vantagem de escolherem o local e a hora do próximo confronto.

Por mais que não quisesse, tinha apenas duas opções: Abandonar a missão ou ir atrás deles com seus alunos. Eram nukenins procurados, e no mínimo tinha que informar na aldeia que os tinha localizado. Mas se aqueles dois tivessem evoluído nos anos em que ficaram desaparecidos muito mais do que tinham demonstrado, seus alunos seriam um peso, e não um apoio para ele.

O mais sensato seria abandonar a missão.

- Não – respondeu olhando os condutores das carroças que os observavam aguardando uma decisão – vamos nos preparar para quando voltarem. Mas se eu der a ordem para fugirem, não quero ninguém me questionando, entenderam?

- Sim, sensei – disseram os três se empertigando e o encarando de frente.

- Muito bem – ele respirou fundo e pegou um pergaminho de sua bolsa. Nunca tinha precisado usar aquilo antes, mas sempre há uma primeira vez para tudo.

Pegou um pedaço de papel e um lápis de sua mochila e escreveu um pequeno bilhete. Abriu o pergaminho e sobre o selo que este estampava, uma pomba foi liberada. Colocou o bilhete preso na pata dela e a deixou partir.

Ele ainda podia contar com o byakugan de Ringo e com seu faro e o de seu parceiro para ficar alerta. Estava contanto que aqueles dois decidissem não continuar atacando com ele por ali. Mas se tentassem, mandaria seus alunos se afastarem e os enfrentaria. Mas não ia abandonar a missão.

 

-x-

 

Duas cadelas negras corriam ao lado do porco latindo e ameaçando mordê-lo, conduzindo-o de volta para junto com os outros. Ele ainda fez uma última tentativa para correr dali, mas uma ameaça de mordida de uma das cadelas o fez embrenhar-se no meio dos outros, e depois de alguns minutos, ele ficou mais calmo, sem tentar fugir de novo. As duas cadelas se afastaram um pouco e uma delas se transformou em uma garota, que agarrou a outra cadela em seguida lhe dando um abraço e lhe fazendo carinho, a elogiando por ter feito um bom trabalho.

Ser capaz de se transformar em ninken era algo que nunca tinha sonhado até começar a morar no clã Inuzuka. Quando tentou transformar a parceira em uma copia dela mesma, inesperadamente ela teve esse efeito contrário. Mas ficava muito mais ágil daquela forma, infelizmente precisava reverter a transformação para lutar. Mas tinha se acostumado tanto com isso ao fazer o jutsu erótico que era quase que automático. Mas sentia que isso tinha alguma coisa a ver com o chakra da parceira. Só conseguia se transformar em uma cópia dela, nunca fazendo variações. Podia fazer a parceira ficar maior, mas não podia fazer o mesmo com ela própria. Mas realmente não se incomodava. Isso já tinha lhe dado uma técnica única no seu clã.

Estava começando a pensar no clã como se fosse parte dele novamente. Tsume e Kiba se esforçavam para isso, e mesmo os outros da família mostraram que não se importavam com sua real origem. Era sua forma de agir e o seu coração que lhes diziam onde era o seu lugar. E eles já tinham dito que não iam admitir que alguém dissesse que aquele não era seu lugar, principalmente ela mesma. Mas ainda tinha receio de fazer parte dele, quer dizer, de ter o nome do clã.

- Haruka-chan!

O chamado do amigo a tirou de seus pensamentos. Ela se virou na direção da voz e deixando a parceira no chão foi até ele.

- O que foi, Minato-kun?

- Avise o sensei. Os lobos atacaram meu clone. Estão vindo para cá.

- Shiromaru – chamou ela gritando alto e dando um pulo longo – vamos!

As duas foram correndo para o outro lado daquela vara de porcos, enquanto que atrás dela Minato criava dezenas de clones para se preparar para assustar os lobos novamente. Quando se encontrou com ele, deu o recado e este se preocupou. Disse para ela ficar próxima e se preparar para colocarem seu plano em ação caso fracassassem em afastar os lobos.

Haviam dois motivos pelos quais Konohamaru não queria matar os lobos. Um era devido ao perigo de tentar fazer isso. Sete lobos eram algo a se respeitar. O outro era devido ao fato de que apesar deles ameaçarem as criações, também ajudavam os fazendeiros mantendo o número de coelhos e roedores baixos. Se matassem aqueles lobos, em um ano poderia haver um aumento destes animais, ameaçando as plantações.

Claro que havia ainda um motivo pessoal. Ele não gostava de ficar matando as criaturas por motivos econômicos. Se fosse para se alimentar era outra história. Avisou Ayame para ficar junto de Minato e lhe dar apoio. Achava que daquela vez os clones apenas iriam atrasar os lobos. Já estavam há mais de um dia com fome, iam ficar desesperados em breve.

Afastou-se bastante dos porcos e de seus condutores até chegar onde as árvores começavam e saltou para o alto de uma delas, criando um clone para se embrenhar mais nesta. Este clone seguiu para o local aproximado de onde os lobos deviam estar vindo e já ouviu sons altos de rosnados e de Minato gritando. Ou melhor, dos clones de Minato gritando.

Não demorou muito para localizar o centro da ação e observar os lobos atacando os clones e fazendo estes desaparecerem um a um. Minato não os estava atacando, apenas gritando e fazendo barulho. As vezes jogava pedras, mas não estava sendo eficiente. Os lobos já tinham percebido que podiam encarar esses oponentes. Só iriam fugir agora se fossem feridos. O problema era que deixar lobos feridos por aí era como deixar um perigo rondando as matas.

O clone pulou no meio dos lobos e fez um jutsu de katon, lançando uma bola de fogo neles. Alguns uivaram de medo e pavor, ficando dispersados assim. Fez outra bola de fogo e os afastou um pouco mais. Mas eles não estavam indo para muito longe. Ficando preocupado, ele cancelou o jutsu e desapareceu.

Cerca de um quilometro atrás, Konohamaru recebia as informações de seu clone que tinha desaparecido e olhou para trás. Ayame já estava com Minato fazendo seus clones para ajudá-lo, mas provavelmente iria ocorrer o mesmo que antes. Os lobos iriam destruir os clones. Deu um pulo para chegar neles antes que os clones dela partissem.

- Esperem! – gritou ele ao se aproximar – não vai dar certo.

Ele parou do lado deles e ofegou levemente devido a corrida rápida que tinha feito.

- Sensei? – Disse Ayame o olhando preocupada.

- Os clones não vão mais funcionar, precisamos de algo mais assustador agora, ou então vamos ter de matar pelo menos um dos lobos.

Minato o olhou sério. Ele sabia que com vários clones podia matar um lobo, mas não queria fazê-lo.

- E o que vamos fazer?

- Criem o máximo de clones que puderem e façam esses porcos andar mais rápido. Eu fico com Haruka aqui para tentar atrasar os lobos.

- Nós também ficamos – disse Minato.

- Não! Se algo acontecer a qualquer um dos dois, seus clones desaparecem e perderemos os porcos. Sigam com eles. Estamos há poucas horas do abatedouro. Ainda posso dar conta de uns lobinhos.

- Sem interesse de matá-los? Eu duvido – Minato estava decidido, e de certa forma Konohamaru ficou feliz de ver aquele ímpeto dele que ficou retraído durando o longo tempo que foi sua avaliação estar de volta. Mas não era hora de teimosias agora.

- Eu farei o que for preciso – disse para ele – agora, me obedeçam!

Bufando e praguejando um pouco, os dois gennins foram em direção aos porcos. Os clones de Ayame logo tiveram a companhia dos clones de Minato, e juntos os dois conjuntos de clones espantaram todos os porcos e os ficaram conduzindo pela estrada, deixando os criadores apavorados pela possibilidade de perdê-los.

Konohamaru sabia que logo os porcos se cansariam e não iam correr mais. Mas teriam uma dianteira razoável. Ele gritou pedindo para Haruka se aproximar e pensou no seu plano. Seria muito melhor se Minato ou Ayame estivessem ali para o ajudar com alguns clones, mas não podia retirar a concentração deles dos porcos. Haruka e sua parceira teriam de dar conta.

- Kage bunshin no jutsu – disse ele fazendo dez clones aparecerem. Eles se espalharam formando uma meia lua na direção de onde os lobos provavelmente iriam aparecer.

- Sensei? – chamou Haruka assim que ficou do seu lado.

- Quantos clones consegue fazer de Shiromaru?

- Uns quinze. Se me esforçar, acho que podem chegar a vinte.

- Não. Faça apenas dez clones e coloque cada uma ao lado de um clone meu.

- Ninken Kage bunshin no jutsu – disse ela fazendo os clones de sua parceira, e estes imediatamente foram se posicionar ao lado dos clones do sensei – e agora?

- Quando os lobos se aproximarem, os clones de Shiromaru devem tentar deixá-los todos juntos. Você já aprendeu algum jutsu de ataque?

- Tem um que Tsume está me ajudando a aprimorar, mas não o acho confiável ainda.

- Tudo bem, então fique com shurikens a postos. Se não der certo, vamos ter que ser mais persuasivos.

- Mas o que pretende?

Ele não disse, mesmo porque não ia ter tempo. Ouviram os lobos rosnando já próximos e poucos segundos depois a matilha irrompeu por entre as árvores, latindo alto e mostrando os dentes afiados enquanto corriam na direção deles.

- Agora Shiromaru! – disse Haruka pegando várias shurikens de sua bolsa e ficando preparada para usá-las. Sua parceira original estava ao seu lado e rosnava de forma feroz para os lobos.

Os clones da cadela partiram em direção aos lobos latindo e rosnando alto, mas estes – como esperado – não se intimidaram pelo fato dela ser pequena comparada a eles. Foram imediatamente tentar mordê-las mas esses clones mudaram de direção indo todos para um centro em comum, atraindo os lobos para o mesmo local. Quando estavam todos juntos o bastante, os clones de Knohamaru agiram.

- Katon: Goukakyuu no Jutsu (Técnica da Grande Bola de Fogo) – disseram todos ao mesmo tempo, lançando uma enorme bola de fogo em conjunto acima dos lobos, chegando mesmo a formar um Sol em miniatura ali. O calor foi tão grande que os pelos dos lobos chegaram a ficar levemente queimados.

Ainda com os shurikens na mão preparados para serem lançados, Haruka viu a matilha correr de forma tão desesperada que suas patas chegavam a arrancar nacos de terra do solo, de tão rápido que as moviam. Todos correram de volta para a floresta. Infelizmente não ficaram muito distantes. Ainda estavam relativamente próximos, e observavam a ambos a distância.

- Droga... – murmurou ele – devem estar mesmo com muita fome.

Haruka fez um jutsu mudando a forma de sua parceira, deixando-a bem maior. Esta ficou latindo ferozmente para os lobos, mas apenas um ou outro parecia estar intimidado.

- Consegue fazer os clones de Shiromaru grandes também?

- Não todos eles! Mas... tenho uma idéia. Kage bunshin no jutsu – ela fez um clone de si mesma e seu clone abriu a mochila e pegou um pacote de papel desta. Abriu este e começou a correr em direção aos lobos. Konohamaru sentiu um cheiro de assado, e sorriu quando entendeu o plano dela. Ele devia ter pensado nisso antes.

Os lobos logo passaram a perseguir o clone, atraídos pelo odor de carne assada que era exalado do pacote que ele carregava. Ele e haruka aproveitaram para alcançar os outros que estavam a frente. Quando o fizeram, viram que os porcos não corriam mais, e alguns precisavam ser empurrados pelos clones de Ayame e Minato, de tão cansados que ficaram. Estavam a menos de duas horas de seu destino, e tudo indicava que o clone de Haruka estava conseguindo levar os lobos para longe, pois este ainda não tinha desaparecido.

- Podem ir com mais calma – disse ele para os dois. Acho que os lobos não vão mais ter tempo de se aproximarem.

- Ainda bem – disse Ayame cancelando o jutsu e logo em seguida fazendo cara de nojo – bem que clones podiam não sentir cheiro!

Minato fez o mesmo, e ficou olhando a distancia preocupado. Não estava acreditando que estavam tendo tanto trabalho por causa de lobos. Mas se fosse considerar que apenas estavam se esforçando para espantá-los, era fácil entender isso.

- Pegaram meu clone – disse Haruka de repente – mas estão bem longe daqui agora. Não devem voltar tão cedo.

Por uma hora, continuaram seguindo pela estrada e não esperavam o momento de se livrarem daqueles bunda suja – como Minato já os chamava. Foi quando Shiromaru começou a rosnar e a olhar para trás. Minato que estava próximo notou aquilo e fez imediatamente alguns clones, os enviando correndo para averiguar. Haruka já tinha pego uma kunai e também se preparava. Aqueles lobos realmente não queriam desistir.

Um lobo logo surgiu a distancia, e parecia estar totalmente alienado pela forma como se aproximava. Os clones de Minato foram para cima dele, e  chegaram a atingir o lobo com alguns golpes, mas apesar deste ganir de dor ele revidava violentamente.

- Avise o sensei – disse Minato de repente, começando a correr na mesma direção em que os lobos e seus clones se enfrentavam.

Haruka desesperada viu seu amigo correr sozinho em direção ao perigo, e não acreditou na imprudência dele. Mas quando ele estava a meio caminho fez mais clones, e um deles pulou para o lado segurando uma kunai. Ele devia estar planejando algo. Haruka fez sua parceira ficar maior e as duas foram tentar ajudar Minato. Não havia tempo de pedir ajuda e ela era o apoio dele naquele momento.

Shiromaru rosnou chamando a atenção do lobo por alguns instantes, o que foi o bastante para alguns dos clones atingirem sua cabeça com pontapés, o deixando tonto. Minato estava com a kunai pronta para arremessar nele, mas apertou os lábios e mudou de idéia. Fez mais clones e estes se juntaram a luta, acertando o lobo mais vezes até que este começou a se encolher e a tentar escapar. Mas os clones não deixavam. Dois deles seguraram nas patas traseiras do lobo e os outros o atingiam com chutes. Haruka notou que os chutes não estavam mais visando áreas vitais, como o corpo ou a cabeça, mas sim áreas que iam ficar muito doloridas, como os dedos das patas e as coxas. Completamente agoniado, o lobo tentou morder os que o seguravam, e conseguiu atingir um deles, livrando uma das patas, mas outro clone tomou o seu lugar e continuaram com aquilo. O lobo já gania com tanta dor e choro que Haruka já estava sentindo pena. Shiromaru no entanto continuava rosnando para ele, e se punha a frente da parceira, para protegê-la.

Depois de quinze minutos daquela crueldade adolescente, os clones soltaram o lobo que partiu com o rabo entre as pernas ganindo muito alto. Minato fechou os olhos e suspirou. Não tinha ficado contente com o que tinha feito, mas não feriu o lobo gravemente e ainda esperava tê-lo feito temer se aproximar de pessoas. Quando guardou a kunai e foi caminhar em direção aos porcos acabou quase batendo no seu sensei que o observava com os braços cruzados.

- Acho que você exagerou – disse ele o olhando sério.

- Eu sei – olhou para baixo um pouco envergonhado – não devia impedi-lo de fugir.

Sentiu a mão do sensei em seu ombro e ergueu a cabeça para encará-lo. Ele sorria agora.

- Pelo menos, não fez isso movido pela raiva, e foi prudente usando apenas os clones e ficando afastado com uma kunai caso os clones fracassassem – apertou levemente seu ombro com os dedos – e foi humano o bastante para não usar a kunai e se certificar de que o lobo fugiria quando o soltasse. Só acho que exagerou por atingir os dedos das patas dele. Ele vai ficar um bom tempo mancando por causa disso, mas vai sobreviver.

Sentiu-se um pouco melhor enquanto seu sensei o induzia a se mover em direção aos porcos. Ayame também estava ali e ele colocou a mão no ombro dela também, andando junto com os dois.

- Muito bem alunos, se quiserem, assim que entregarmos os porcos eu posso lhes mostrar como fazer o contrato com os sapos.

Ayame gritou de alegria, e Minato apesar de se manter quieto, sorriu também. Haruka que tinha ouvido a conversa os acompanhava mantendo-se alguns passos atrás. Ela não estava com ciúmes deles. Já tinha seu próprio contrato com sua parceira para o resto da vida. Pegou-a com as mãos e a colocou na sua cabeça, andando com ela assim pelo resto da jornada. Não chegou a ser uma missão perigosa, mas tinha dado trabalho!


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Notas finais do capítulo

Capítulo um pouco maior que o normal, eu sei. Mas preferi fazer assim. No proximo, todos os times devem terminar suas missões.



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