Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 24
Capítulo 24




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- Kage bunshin no jutsu! – disse ele se concentrando o máximo que podia. Mas apenas dez clones surgiram. E como tinha imaginado, apenas dois eram os seus especiais.

- Acho que é uma questão de prática – disse seu sensei observando o aparelho nas suas mãos – ou talvez seja o seu limite no momento.

- Não importa o quanto eu tente, eu não consigo fazer mais de dois. E eles não agüentam muito golpes como eu gostaria.

Sentiu ele por a mão em seu ombro no sentido de acalmá-lo. E respirou mais devagar devido a isso.

- Minato-kun, você já fez algo que ninguém nunca imaginou ser possível. Clones que podem fazer outros clones. E além disso, descobriu que tem uma grande resistência a genjutsus. Já estive sob influencia de Isaki-chan e garanto que ela é muito competente nisso.

- Mesmo assim, ela me controlou.

- Quer parar de achar que tinha a obrigação de ser capaz de fazer tudo? Não fosse por você eles teriam levado a hokage falsa embora. Haruka-chan e Ayame-chan já tinham sido dominadas por eles. Você fez algo impressionante, e aqui eu só quero entender como você faz esses clones, e acho que consegui. Pelo menos, se estou entendendo direito como ler esses números, seu controle de chakra é muito similar a de um ninja médico. É por isso que consegue criar esses clones resistentes. Você consegue canalizar seu chakra de forma perfeita para isso.

- Mesmo? – ele sentiu uma certa felicidade ao ouvir aquilo. Será que ele seria capaz de fazer o que tanto gostaria?

- Sim. Moegi-chan adoraria te ensinar uma coisa ou outra para aprimorar este controle.

- E eu... – ele sentia um certo receio de ouvir a resposta – seria capaz de copiar jutsus também?

Ele desligou o aparelho e o colocou na bolsa. Seu semblante não estava lhe dando esperanças.

- Você precisaria de um sharigan para isso. Ou de olhos capazes de perceber a movimentação do oponente. Hum... – ele coçou o queixo e sorriu – vamos fazer um teste.

Ele se pos de lado e fez alguns selos com as mãos.

- Katon: Goukakyuu no Jutsu(Técnica da Grande Bola de Fogo) – disse ele lançando uma bola de fogo pela boca que causou um grande clarão ali. – Ok Minato-kun, tente fazer igual.

- Igual?

- Sim, imite meus selos e tente fazer o jutsu.

Ele nunca tinha feito jutsus de fogo antes, e na verdade nem sabia se podia controlar o fogo. Mas era uma chance de saber se podia se igualar ao ninja que ele sempre admirou pela sua habilidade em poder imitar jutsus. Enquanto Haruka e Ayame idolatravam e se fascinavam pelas histórias que ouviam sobre Naruto, ele por sua vez achou que as habilidades do sensei deste eram mais impressionantes.

Ele fez os selos que lembrou seu sensei fazer e tentou duplicar o jutsu.

- Katon: Goukakyuu no Jutsu – disse ele esperançoso, mas apenas uma nuvem de fumaça negra saiu de sua boca quando ele soprou, e engasgou-se um pouco com isso.

Ficou tossindo por quase um minuto enquanto se sentia um idiota por achar que podia simplesmente duplicar um jutsu observando como ele era feito. Apesar de ter uma boa visão e ver como os selos eram feitos, não achava que isso era o bastante para conseguir.

- Para quem nunca fez isso antes, você foi incrível. Imitou os meus selos e postura de forma quase perfeita.

- Eu fui bem então?

- Como eu disse, você me imitou muito bem. Mas não basta fazer isso. Lamento Minato, mas acho que você não vai conseguir dominar tal coisa sem um sharigan.

Ele fez os clones sumirem e ficou um pouco chateado. Foi o que todos os seus amigos disseram para ele. Mas até ele tentar por conta própria, queria acreditar que podia conseguir.

- Queria lhe fazer uma pergunta... você pode fazer uma grande quantidade de clones, assim como Ayame. Teria algum interesse em aprender as técnicas que Naruto me ensinou?

- Invocar sapos? – olhou para ele um pouco temeroso.

- Isso ele não me ensinou, eu é que persegui isso depois que ele morreu. Mas se quiser... Ayame-chan quer aprender tudo o que Naruto podia fazer, e você?

Pensou um pouco a respeito. Não tinha definido se ia seguir um estilo ou criar o seu próprio. Mas ele descobriu que como Naruto podia criar muitos clones. Mas será que era só isso o que podia fazer? De qualquer forma, havia algo que ele gostaria de poder fazer, mas não era de Naruto.

- Como faço para poder invocar ninkens? – perguntou para ele sorrindo levemente.

- Ninkens?! – ele parecia pasmo – quer um parceiro ninken como Haruka=-chan?

- Não, aqueles ninkens que Kakashi-sama podia invocar.

- Há... – ele parecia desapontado – pelo jeito você é fã dele, não é mesmo? Primeiro queria saber como copiar jutsus, e agora isso. Bem... – ele cruzou os braços – você é meu aluno, não meu discípulo. Pelo que sei, Kakashi-sensei treinou seus cães desde filhotes, e fez um contrato de sangue com eles para poder invocá-los. Ou seja, se quiser um, vai ter que verificar com o clã Inuzuka a disponibilidade de cães para isso.

- E os cães que ele invocava? O que houve com eles?

- Eu não sei – disse ele após pensar por um longo tempo – realmente não sei. Com seu mestre morto, eles devem ter se espalhado pelo mundo, ou talvez tenham encontrado outro mestre, mas realmente eu não sei.

Ficou mais chateado com isso. Pensou que seria como os sapos, bastaria fazer um contrato e pronto. Pelo jeito, por enquanto teria de se contentar em aprender as coisas de Naruto, apesar de não ser seu interesse principal.

- Vai aceitar Ayame-chan como discípula? – perguntou ele de repente.

- Olha – ele riu sem jeito – ela não pediu minha opinião sobre isso, mas bem que achei interessante ela já se declarar como tal. O que acha de procurarmos por ela? Já deve estar cansada de tentar achar meu bunshin.

Ele riu um pouco. A tarefa que o sensei deu para Ayame para ela se aprimorar e descobrir o limite de seu jutsu de clone das sombras foi tentar localizar um bunshin que ele fez lhe dando vinte minutos de vantagem. Assim que o prazo terminou, ela fez o máximo de clones que conseguiu e foi procurá-lo em todas direções.

Mas foi interessante um daqueles clones permanecer com eles e ficar se engraçando para Minato. Mas ele acabou sumindo quando o sensei a olhou torto.

- Onde acha que ela está agora? – perguntou para ele.

- Não faço idéia. Que tal você fazer clones para procurá-la? Deve ser mais fácil, já que deve haver uma centena delas por ai.

- Hum... vou tentar outra coisa antes.

Ele fez um clone e este se abaixou concentrando chakra nos pés. Fazia tempo que imaginava fazer aquilo. Se podia ter um impulso enorme para saltar longas distancias pelas arvores, também devia poder saltar bem alto. Deu um salto enorme e o clone chegou a quase cinqüenta metros de altura, podendo ter uma boa visão das coisas ao redor. Logo em seguida ele desapareceu e Minato sorriu.

- Ela está na direção do riacho, mas não parece que está procurando seu clone não...

Foram naquela direção e seu sensei ficou de boca aberta quando a acharam. Ela estava deitada na beira do riacho, um de seus clones estava cuidando de assar peixes que devia ter pescado, e outro estava fazendo massagem em suas costas. Konohamaru sem cerimônia foi até ela e socou a mesma na cabeça, que para a surpresa de ambos, desapareceu em seguida.

- Te peguei! – gritou ela saltando de uma arvore e agarrando o seu pescoço – hã... Minato-kun?

- Eu sou o original – disse ele contendo o riso – então isso aqui era uma armadilha?

- Claro! – disse ela o soltando – onde diabos foi parar o seu clone?

- Vamos saber já, já – disse ele fazendo um movimento com as mãos cancelando o jutsu – ele estava perto da aldeia, cochilando em uma árvore.

- Nem pensei em ir para aquele lado. Droga! – reclamou ela cancelando seu jutsu também, e logo em seguida ficou tonta, tendo de ser amparada por Minato para não cair no chão.

- Nossa – murmurou ela – como Naruto-sama agüentava tanta informação ao mesmo tempo? Se com noventa clones fico assim...

- Ele era cabeça dura – riu-se ele – mas você se acostuma. Bem, Haruka-chan não vai participar de nossos treinos por alguns dias. O que vocês querem fazer agora?

- Eu já disse, sensei. Quero ser sua discípula, ou melhor, quero aprender o que o Naruto-sama podia fazer. Vou ser a nova senin dos sapos – disse ela confiante.

- Tem idéia de como isso pode ser difícil ou demorado? – disse ele a olhando.

- E daí? Quer que eu desista antes de tentar? – ela o olhou irritada – ou acha que não vou conseguir? Quando nos ensinou a fazer esse jutsu dos clones, eu fiquei muito feliz, mas também bem chateada porque acreditei quando disse que só podia fazer poucos deles, por causa do consumo de chakra. Me mordi de inveja quando vi Minato-kun poder fazer um monte, mas estava satisfeita. Aí para minha surpresa descobri que eu também podia fazer isso. Acha que vou ficar me limitando como antes? De jeito nenhum – ela pos as mãos na cintura e o encarou séria – não vou desistir sem tentar, não mais. Minato-kun não desistiu quando estávamos dominados naquele teste da hokage. É assim que eu vou ser agora, não vou desistir nunca mais!

- “Esse é meu jeito ninja de ser” – murmurou Konohamaru sorrindo levemente.

- Como? – perguntou Minato curioso.

- Nada – ele virou o rosto para não olhar para eles – apenas uma lembrança. Uma velha lembrança. Está bem Ayame-chan, se quer ser uma senin dos sapos, vou lhe ajudar no que puder. Quanto a você, Minato-kun, acho que seu objetivo é poder fazer o que Kakashi-sensei fazia, não é mesmo? Bom, ele foi aluno do quarto hokage, aquele que tem o mesmo nome que você, e este foi aluno de Jiraya. Ele tinha um sharigan que ajudava e muito para duplicar jutsus, mas você tem olhos fenomenais para ver movimentos rápidos, um bom controle de chakra e também em grande quantidade. Sinceramente, acho que você vai acabar criando seu próprio estilo. Talvez até possa aprender o taijutsu do clã Hyuuga. Mas não posso lhe ensinar tudo isso – ele lhe olhou sério – apenas lhe mostrar como fazer para tentar aprender. Mas você precisa definir o que quer.

Ficou pensativo, e Ayame aproveitou aquele momento para gentilmente tirar os braços dele de sua cintura, que ele tinha envolvido quando a amparou antes. Afinal, o que ele queria? Não seria possível seguir os passos de Kakashi, não tinha o necessário para tanto. Por outro lado tinha alguns recursos interessantes, incluindo talvez a habilidade para ser um ninja médico. Mas ele não sabia mesmo. Por enquanto, a única coisa que tinha certeza era que não queria mais ficar indeciso sobre o que fazer.

- A-ayame-chan? – disse ele quando sentiu um beijo dela em sua bochecha.

- Você é tão fofo quando esta assim pensativo... – ela sorriu para ele.

E ainda tinha isso! Talvez fosse hora de definir algumas coisas na sua vida. Ele gostava mesmo de Ayame, e já aceitava que era bem mais do que como amiga intima. Mas uma relação agora talvez complicasse as coisas. Nossa, porque sua vida estava assim? Era mais fácil quando tinha poucas opções. Já era um gennin em definitivo, não tinha mais como ser reprovado. O que iria fazer agora? Tinha que se aprimorar e evoluir. Já dominava o jutsu clone das sombras, e por ai devia usar isso a seu favor para novas evoluções. Assim só tinha uma opção lógica para o momento, aprender o que mais podia conseguir com isso, ou seja...

- Por enquanto, quero aprender o que pode me ensinar sobre os golpes de Naruto – disse ele o olhando – pelo menos parece que posso seguir este caminho.

Sentiu Ayame se enroscando em seu pescoço e o apertando forte, cheia de felicidade. Também tinha isso para decidir.

- Ayame-chan... sei que pode parecer bobo eu falar isso agora, mas estou mesmo gostando de você e...

Ela cobriu sua boca impedindo-o de falar.

- Calma ai, fofinho. Sei o que vai dizer mas tem uma coisa... Estou mesmo interessada em você, mas quero me dedicar a outras coisas ainda. Mas quando eu for chuunin, se você ainda estiver livre, não vai me escapar.

- Dois discípulos enamorados.. que ótimo – disse seu sensei.

- Não somos namorados! – disse Ayame para ele inclinando o corpo – não ainda... – e olhou para Minato o deixando encabulado. Quando vai ser o próximo exame chuunin, sensei?

- No ano que vem, provavelmente na aldeia da Névoa ou na aldeia de Nuvem. Ainda não decidiram. Mas não adianta ficar excitada porque apenas eu posso inscrevê-los para isso, e no momento, vocês não tem chance. Nem fizeram uma verdadeira missão classe C ainda!

Minato ficou pensando, e um sorriso se abriu em seus lábios. Ele precisava de objetivos para poder se aprimorar, e tinha acabado de definir um. Na verdade tinha definido um que iria acabar definindo outros. Talvez até mesmo sua vida adulta.

- Ayame-chan, se eu me tornar chuunin, aceitaria namorar comigo?

Ela o olhou surpresa e parecia até assustada. Olhou para o sensei e depois para o chão. Por fim pos as mãos nos ombros dele e se aproximou lentamente, beijando-lhe suavemente na boca.

- Adoraria – murmurou ela.

- Certo, pombinhos – interrompeu o sensei – viemos aqui praticar um pouco, e já que ambos querem aprender o que posso ensinar dos golpes de Naruto e podem fazer muitos clones, quero que façam cinqüenta clones cada um e coloquem todos para treinar taijutsu. Quero os dois com muita pratica nisso. Depois podemos praticar para usar esses clones com estratégia. E nada de ficarem se segurando já que estão apaixonados.

- Mas não vou me segurar mesmo! – disse Ayame já fazendo seus clones – não vou querer um namorado fraco.

Minato sorriu. Fazia muito tempo que não tinha tanto interesse em fazer algo. Ficou um pouco confuso por algum tempo depois que saiu da academia, chegando mesmo a perder uma parte de seu entusiasmo por tanto receio que teve de ser reprovado. Mas parecia que agora poderia voltar a pensar claramente. E depois de saírem varias vezes e agora que Haruka parecia que já estava se interessando por outro, já não tinha receio de querer se relacionar com sua amiga de infância. Ele fez seus clones e o sensei precisou pular para uma arvore para poder observar bem eles praticando. Ambos sabiam que os clones iriam acabar sumindo rapidamente após um golpe forte bem dado, mas enquanto pudessem bloquear ou desviá-los, iriam permanecer. Seria mais uma vitória de quem perdesse menos clones.

 

-x-

 

Finalmente ele podia ver os portões da aldeia se aproximando. Tinha sido uma cansativa viagem, apesar de a fazer regularmente. Chegou a ficar com os nervos a flor da pele, mas tudo correu bem. Fez o que precisava fazer e não levantou suspeitas.

Parou na entrada da aldeia e desceu da carroça. Ficou de lado enquanto os vigias do portão examinavam o que ele estava carregando. Não era desconfiança para com ele, era rotina. Qualquer carga era revistada para se assegurarem de que não haviam invasores ou outro perigo infiltrado. Não seria difícil um shinobi colocar uma armadilha ou se ocultar em uma carroça. Enquanto um deles fazia isso, o outro se aproximou e começou a fazer a monótona sessão de perguntas.

- Seu nome? – disse ele com uma prancheta na mão e uma caneta para fazer anotações.

- Engo Gen. – disse ele flexionando os músculos para reduzir a dor que sentia neles. Ficar tanto tempo naquela posição em uma carroça que balançava muito nos buracos da estrada era desgastante.

- Está um pouco atrasado, o esperávamos ontem a noite.

- A roda estava solta, e eu me esqueci de levar o martelo desta vez. Precisei reparar com pedras que achei no caminho e não foi muito rápido – ele apontou para a carroça e o vigia deu uma olhada. Era facilmente perceptível um reparo feito no pino que mantinha o roda no lugar, bem como marcas nos aros da roda feitos por algum objeto duro. Ele não era muito bom ou paciente para fazer estes reparos quando estava sozinho.

Viu o vigia anotar alguma coisa na prancheta e imaginou que devia ser a justificativa para o seu atraso. Também era rotina isso. Qualquer um que se atrasasse muito teria um shinobi enviado para localizá-lo. A segurança na aldeia era muito estrita nesse sentido. Não se arriscavam a seqüestros de pessoas que podiam dar um mínimo de informações sobre o local. Comerciantes, apesar de terem o acesso a certos locais delicados bem restrito, ainda podiam ser usados como espiões forçados.

- E o que trouxe desta vez?

- Ele fechou os olhos e pensou um pouco. Havia um pergaminho indicando tudo o que ele carregava na carroça, mas ele também tinha que saber o que estava trazendo para terem a certeza de que não era alguém disfarçado. As vezes achava aquela aldeia um pouco paranóica.

- Uma caixa de grãos de cevada, vários sacos de farinha, de arroz, um  barril... não, dois barris com maçãs e dois outros com pêras. E outra caixa daquela coisa que sempre esqueço o nome... ah, droga! – disse ele enquanto apertava os olhos tentando se lembrar – aquela coisa que usam para tempero que eu detesto...

O vigia olhou para o colega que conferia a carga de acordo com o pergaminho que tinha pego na carroça. Estava no momento usando uma cuia para abrir uma das duas caixas. Ele não estava preocupado, e na verdade até já sabia o produto que Gen tinha esquecido o nome. Ele sempre esquecia como se chamava, quase como se fosse uma marca registrada de que ele era quem dizia ser.

- Wasabi! – disse ele suspirando – sempre esqueço o nome disto. É a caixa menor.

O vigia sorriu e marcou algo na prancheta, provavelmente apenas uma checagem da lista.

- Onde obteve esta carga?

- No lugar de sempre, o armazém Saiki.

- Notou algum funcionário novo ali?

- No escritório, não.

- Teria algo a relatar da viagem?

- Sim! Daria para alguém diminuir os buracos da estrada? Quando chegar a época das chuvas vai ficar pior.

Ele maneou a cabeça e riu um pouco.

- Você já é o terceiro a reclamar da estrada. Provavelmente ela será reparada assim que possível – olhou para o seu colega na carroça e este acenou para ele – bom, é isso, Gen-san, bem vindo de volta a Konoha.

Ele agradeceu e subiu na carroça de novo, indo para a sua loja que ele e seu sócio possuíam. Não ficava muito longe da entrada da aldeia, mesmo porque a parte desta em que eram permitidas carroças era muito pequena, de forma que todos os armazéns que vendiam produtos ficavam na mesma rua. Parou em frente ao seu pequeno depósito e foi até a porta, e a chutou várias vezes.

A porta se abriu e seu sócio apareceu mostrando sua barba bem cuidada. Já tinham muitos fios brancos nela, denunciando a sua idade, mas seu porte ainda era musculoso devido a carregar as caixas e sacos dos produtos, assim como Gen.

- Pensei que ia chegar ontem – disse ele dando uma reprimenda e se mostrando ansioso – achei que tinha acontecido alguma coisa.

- E aconteceu – disse ele andando de volta para a carroça e começando a pegar a caixa grande de madeira – você tirou o martelo da carroça. Gastei horas para arrumar a roda sem ele, seu idiota!

Seu sócio riu e o ajudou com a caixa, olhando-a de uma forma diferente.

- É ela?

- Falamos lá dentro, Daichi – murmurou ele ao mesmo tempo que deixava transparecer o esforço por carregar a caixa pesada.

Os dois foram e voltaram do depósito pegando os produtos da carroça. Quando terminaram, Gen soltou o cavalo desta e o levou até o estábulo, onde os animais dos comerciantes eram tratados. Voltou para seu depósito e empurrou a carroça para ficar dentro do seu pequeno cercado. Respirou profundamente e olhou ao redor, como se procurasse por algo. Na verdade queria ter certeza de que daquela vez não deixaram nenhum saco de farinha no chão. Satisfeito com isso, entrou no depósito e trancou a porta.

O interior era apenas uma grande sala com os produtos encostados nas paredes. Uma porta interna dava acesso ao balcão onde atendiam os clientes. A loja deles estava fechada ainda. Felizmente ele tinha conseguido chegar bem cedo, de forma que poderia conversar com Daichi um pouco sem ter que se preocupar com a clientela. Mas mesmo assim tinha que preparar as coisas. Foi até o balcão de atendimento e observou as várias divisões onde colocavam os produtos em separado. A maioria estava na metade, mas os de arroz e daquela coisa que ele esqueceu o nome de novo estava perto do fim. Voltou ao depósito e pegou um dos sacos de arroz mais velhos que tinham ainda. Daichi já estava tentando abrir a grande caixa de cevada.

- Dá para me ajudar um pouco? – disse ele irritado – podemos ver isso depois.

- Depois? – ele o olhou de uma forma quase insana – arriscamos tudo para isso, quero ter a certeza de que não fomos enganados.

- E se fomos, vai fazer o que? Dizer para todos o que fizemos no cemitério? – ele tentava se controlar, mas sentia-se como ele, queria abrir a caixa e ver se o pagamento estava ali. Mas sabia que deviam agir com cautela para não atrair atenção. Tinham sido varias semanas agindo normalmente desde que fizeram aquilo. Como não houve absolutamente nenhum comentário na aldeia, com certeza o incidente foi abafado, mas deviam estar procurando pelos culpados – me deixe terminar de abastecer o balcão e nós dois fazemos isso.

Ele não respondeu, continuou a soltar as tábuas de madeira da caixa. Gen foi até o balcão e despejou o arroz no compartimento correspondente. Chegou a esvaziar o saco neste. Jogou o saco em um cesto e voltou ao deposito. Daichi já tinha soltado quatro tabuas, e estava começando a ficar impaciente.

- Tem certeza de que deu o sinal certo? – disse ele o olhando preocupado – eu já devia ter encontrado.

- Você deve ter começado a abrir do lado errado. Jogue a cevada em um barril e vamos ver isso com mais calma – ele se dirigiu a caixa com a raiz que tinha esquecido o nome de novo – abriu esta com uma chave de fenda e pegou algumas das raízes enchendo as duas mãos. Seu armazém as vendia preparo. Deixava isso para os clientes. Voltou até o balcão e as colocou no lugar correto. Olhou as horas no relógio da parede e viu que teriam mais quinze minutos antes de abrirem. Agora podia ajudar Daichi a procurar pela recompensa pelo trabalho que fizeram. Voltou ao deposito e o viu tendo dificuldade em colocar os grãos no barril.

Ele estava tentando levantar toda a caixa para entornar o conteúdo direto no barril, mas não tinha a força para isso. Ele o ajudou e quando o barril ficou cheio, repetiram o ação com outro barril do lado. Logo apenas uma caixa vazia estava em suas mãos.

Enquanto ambos desmontavam a caixa, do lado de fora, embaixo da carroça uma serpente que tinha ficado imóvel desde que começaram a se aproximar da aldeia esticou-se para por a cabeça em uma posição de observar as coisas ao redor. Viu algumas pessoas passando pela rua e uma carroça de outro comerciante se movendo preguiçosamente em direção ao portão da aldeia. Lançou a língua para fora para farejar o ambiente e localizou a direção em que seu destino estava. De forma rápida, ela se deixou cair ao chão e  rastejou até uma das paredes da do deposito. Lenta e metodicamente foi seguindo esta parede até localizar a porta, mas o vão debaixo dela era estreito demais para seu corpo passar. Deu meia volta e seguiu para fora daquele cercado que era mais um tipo de quintal do deposito, chegando a passar por duas outras lojas do lado até encontrar uma árvore próxima a parede. Escalou esta árvore e indo por seu galho, chegou ao telhado desta loja. Ficou um pouco quieta enquanto usava seus sentidos para perceber as coisas ao redor. Serpentes podem sentir o calor emanado dos corpos das pessoas, e graças a isso percebeu que havia alguém oculto no alto de uma casa em frente ao local onde ela tinha de ir. Para evitar de ser vista rastejando pelo telhado, ela foi até o outro lado deste. Protegida pela calha central, aquela pessoa não a veria se aproximando.

Dentro do depósito, a caixa já estava totalmente desmontada, e agora ambos examinavam as tábuas de madeira batendo os dedos nestas. Deichi estava ficando mais e mais nervoso, acreditando que tinham sido enganados, e o mesmo estava acontecendo com Gen. Ainda restavam algumas tábuas para examinar, mas ele já se perguntava o que fariam caso não achassem o que procuravam. Tinha sido um risco muito grande aceitar fazer aquele trabalho. Era estupidamente simples, mas logo perceberam que podia ter implicações enormes. Primeiro precisaram de vários meses para avaliar bem o local e se prepararem para agirem. Depois praticaram o trabalho nas vezes em que saiam da aldeia para comprar suprimentos, parando na floresta e cavando o solo, se aprimorando na rapidez de fazer aquilo. Algo que tinha ficado evidente seria a impossibilidade de deixarem o local sem marcas. Não havia como cavarem no solo e depois enterrarem tudo sem que ninguém percebesse o que tinha sido feito.

- Aqui! – disse Deichi ouvindo um som oco na madeira aqui tem um!

Mas bolaram um plano. Usando pequenas enxadas, podiam cortar a grama por baixo de forma que esta parecia um tapete, a colocavam de lado e assim abriam o buraco que queriam e depois que o cobrissem, podiam colocar a grama de volta. Uma boa coisa que o local daquele tumulo ter grama ao redor.

- Tem razão – disse Gen se levantando e procurando por um martelo.

Tudo o que precisavam era de um dia com ninguém no cemitério. Acreditavam que poderiam abrir o buraco para chegar ao caixão em poucos minutos, trabalhando com esforço. Mais algum tempo para tirar a terra ao redor deste de forma a terem espaço para abri-lo, fazer o trabalho e depois enterrar tudo. Com sorte, em meia hora terminariam.

Ele pegou o martelo e colocando a tábua em ângulo na parede, acertou o centro desta, a quebrando. Dois sacos pequenos saíram de dentro da madeira, fazendo-o sorrir e tremer de antecipação.

Mas a sorte não os ajudou naquele dia. Foram seis meses se preparando para executar o plano. Quando tiveram a oportunidade ideal, perceberam que o solo do cemitério era mais duro do que aquele da floresta onde treinaram. Levaram mais tempo do que imaginavam para atingir o caixão. E exaustos e impacientes pelo tempo que levaram, pegaram os machados e ficaram acertando este com força, sem o método calmo e silencioso que planejavam. Também estavam muito apavorados pela possibilidade de serem pegos, tanto que por duas vezes pensaram em desistir.

Ele abriu um dos pequenos sacos e seus olhos cintilaram com o que viram. Pequenos diamantes e algumas safiras. Conhecia um bom local para vender aquilo, mas teria de se controlar e agir normalmente antes disto.

Mas acabaram perseverando devido ao medo do que ocorreria caso aquele que os contratou para fazer o serviço descobrisse. Tinha sido uma tolice aceitar fazer aquilo, mas considerando como tinham se dado bem da outra vez em que fizeram um serviço na aldeia, acreditavam que teriam o mesmo êxito. Toda a eternidade que demorou para abrirem o caixão tinha levado na verdade apenas cinco minutos. Usar a própria terra do buraco que cavaram tinha sido muito eficiente em abafar o som das machadadas. Mas quando Deichi pegou o pergaminho para utilizá-lo naquele que estava dentro do caixão, tiveram uma surpresa. Não havia corpo ali!

Deichi achou a segunda tábua oca e sem esperar o martelo quebrou-a com o pé mesmo, revelando mais dois pequenos sacos. Estes continham rubis e mais alguns diamantes. Tinham recebido o pagamento e deram a mensagem ao mesmo tempo.

Não havia corpo, e tinha levado muito mais tempo do que esperavam. Ameaçaram começar a tapar o buraco aberto, mas talvez apavorados por poderem ser pegos, acreditaram que ouviram alguém entrando no cemitério e saíram correndo. Pularam o muro e enterraram os equipamentos usados rente a este, e depois correram para um local próximo e ficaram ali esperando o suor do corpo evaporar e ficarem descansados, para poderem andar calmamente até suas casas sem chamar a atenção de ninguém. Aparentemente a improvisação tinha dado certo. Para receber o pagamento e comunicarem o resultado da missão, deveriam fazer um pedido de cevada em caixa no armazém que costumavam comprar todos os produtos. Normalmente pediam cevada em sacos, caixas eram usadas quando o tempo de transporte fosse muito longo, para preservar o produto. Não seria estranho levaram uma ou duas caixas disto para a aldeia. Se pedissem duas caixas, significava que tinha feito o trabalho completo, ou seja, teriam usado o pergaminho no corpo dentro do caixão. Se pedissem uma caixa só, significava que não puderam usar o pergaminho porque não haveria um cadáver no caixão. Acharam estranho essa possibilidade, mas não questionaram. Parecia um trabalho simples que iria pagar muito bem, bem mais do que receberam pelo trabalho anterior. Se bem que este era muito mais simples.

No alto do depósito, a serpente tinha chegado onde queria sem ser detectada, e usando sua cabeça como se fosse uma pá, empurrou uma das telhas para cima e entrou dentro da sala. Observou os dois homens ali avaliando os objetos preciosos em suas mãos e sibilou bem alto, chamando a atenção deles.

Os dois se entreolharam. Sabiam que aquele era o som de uma serpente. Já tinham ouvido este muitas vezes na floresta e até uma vez dentro da aldeia mesmo. Sempre ficavam com arrepios quando ouviam isto, porque sempre imaginavam que seria ele os contatando novamente. Claro que todas as vezes que ouviram isso nos últimos seis anos tinha sido um alarme falso, mas não o seria desta vez.

Os dois pularam para trás quando ouviram um som no centro do deposito. Uma serpente tinha acabado de cair ali. Com os olhos arregalados, Gen tateou o chão procurando pelo martelo que tinha deixado por ali. Mas parou de fazer isso quando o ofídio cuspiu algo da boca. Era um pequeno cilindro. Logo depois ele rastejou despreocupadamente para um canto da sala ao lado dos barris de frutas e parecia que aguardava algo.

Deichi tomou coragem e se aproximou do objeto. Pegou-o com a mão e o examinou detidamente. Para a surpresa de Gen, ele abriu o cilindro e retirou um papel enrolado dentro deste. Ficou lendo-o atentamente e seu sócio o viu começar a ficar branco de medo. Depois de quase um minuto, olhou para ele e esticou a mão com o papel nesta. Gen o pegou ficando de olho na cobra o tempo todo. Não queria acreditar que ele os tinha contatado de novo, logo após receberem pelo trabalho realizado. Desviou os olhos para o papel e o leu devagar. Era bem simples e direto.

Soube que andou fazendo um trabalho para outros. Faça um para mim agora. Meu amigo gostaria de morar na casa da hokage. Já sabe como fazer. Será pago como sempre depois de quatro meses.”

Hokage? Tinha que levar a serpente até a casa dela? Olhou para ela e esta moveu-se na sua direção. Não o ameaçou, passou ao lado de sua perna e aninhou-se ao lado dos sacos de farinha que tinha trazido naquela manhã. Pelo jeito iria fazer como da outra vez, aguardaria que ele dissesse que estava pronto. Até lá ficaria oculta e provavelmente sairia a noite caso sentisse fome para caçar um roedor.

- Gen...

- Eu sei – disse ele – sei muito bem.

Da outra vez em que levou uma serpente para um lugar, a antiga hokage tinha sido morta. Ficou pensando se o mesmo iria ocorrer agora. Mas acreditou que não. Uma serpente não seria capaz de matar alguém como ela. Além disso, o bilhete dizia que seria pago em quatro meses, isso significava que teria de pegar a serpente de volta ao fim deste período. Respirou profundamente e fechou os olhos. Primeiro, uma hokage morreu, depois violou o túmulo do herói da aldeia, e agora faria algo contra a hokage atual, aquela a quem seu sobrinho considerava uma heroína. E ele não tinha mais escolha. Já tinha feito muitos atos de traição para com a aldeia para voltar atrás.

Pegou os sacos de jóias que ambos largaram no chão e olhou para seu sócio. Este parecia muito apavorado. Ele também estava, mas diferente dele, tinha mais medo do autor do bilhete.


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