Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 17
Capítulo 17




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Apesar de se sentir ansioso, ele tinha um outro problema naquele momento. O que iria fazer pelo resto do dia? Sua missão seria só amanhã, e ele sempre tinha tudo pronto em sua casa, bastando apenas pegar sua mochila e partir. Depois do fiasco que ele e os colegas tiveram no primeiro dia com o sensei em que passaram fome e frio, aquilo nunca mais iria se repetir. Olhou para o prédio da hokage e pensou por uns instantes em usar o byakugan, mas mudou de idéia em seguida. Se algum ANBU o visse fazendo aquilo, iria ter muitos problemas.

Pelo jeito seria mais um dia nos jardins do clã treinando solitariamente ou talvez com um outro membro da família. Ele bem que gostaria de fazer algo diferente daquela vez. Ficou um pouco corado. Não adiantava tentar desviar os pensamentos, ele queria...

Seu coração pulou quando ouviu as vozes deles enquanto saiam do prédio. Levantou seus olhos e os viu ali, Ayame andava cabisbaixa e arrastando os pés, muito provavelmente emburrada com um provável sermão que o sensei dela devia estar passando. Minato e a linda Haruka andavam um pouco mais atrás e a menina parecia divertida com a situação. Maneou a cabeça. Porque linda? Só porque tinha certeza de que Minato estava mais interessado em Ayame? De qualquer forma, lá estava a menina que estava começando a interessá-lo. E isso desde àquela vez em que estava com Hinata e Neji e tinha se lembrado dela e de Ayame, ficando enciumado porque Minato saia com as duas.

- Mas sensei – conforme se aproximavam, já começava a ouvir o que conversavam – ela ficou debochando da gente por quase uma hora!

- Não importa – dizia ele – desafios assim não são aceitos. Devia ter pensado em outra coisa.

- Espera ai sensei – era Minato que falava – concordou com ela?

- Qualquer um que me chame de sensei invocador de filhotes de sapo merece uma lição – tornou ele irritado. Haruka riu daquilo. E mesmo rindo ela parecia linda.

Será que ele devia tentar? A líder do clã lhe disse que se não tentasse talvez ficasse a vida inteira apenas acompanhando-a de longe. Também disse que poderia se tornar uma obsessão que o faria sofrer muito caso ela se apaixonasse por outra pessoa. Seria melhor tentar agora e receber um não do que aguardar e sofrer. Mas desde que tinha visto a foto em que ela e Ayame davam um beijo apaixonado em Minato que estava sem coragem. Tinha certeza de que ela gostava daquele loiro de olhos azuis. Muito mais do que meramente um amigo.

- Agora está contente porque defendi o seu orgulho? – Ayame estava mais divertida agora – queria saber a especialidade da sensei dela, só para debochar um pouco.

Já estavam mais próximos. Pelo jeito iam passar do lado dele, e o mesmo ficou preocupado. Seus colegas já tinham ido aproveitar o dia de folga, e ele tinha ficado imerso em pensamentos que nem percebeu o tanto de tempo em que ficou parado.

- Isso seria pior – disse ele – ela foi discípula de Orochimaru.

- Sensei! – Haruka o chamou espantada – quer dizer que você, ela e a hokage são os discípulos dos senins lendários?

- Eu me considero mais um aprendiz, não discípulo de Naruto-niichan. Ele sim foi discípulo de um dos senins. Mas sobre a hokage e a Anko você está certa.

Mordeu o lábio de inveja ao ouvir aquilo. Até nisso o loiro estava com vantagem sobre ele, e não só isso! O outro time também tinha um sensei que tinha aprendido com um senin. Que injustiça aquilo! O seu sensei era só um... um...

O que ele era mesmo? Um simples jounin? Espera... ele era um rastreador, como ele. Isso... bom, pelo menos tinham algo em comum... quer dizer.. tinham meios de serem rastreadores, mas o sensei fazia com instintos animais e ele com sua visão. Grande coisa... Aqueles três até sabiam fazer aquele jutsu de clones, tanto que seu sensei já os apelidava de time das sombras. E o que o time dele sabia de especial? Subir em superfícies, saltar longas distancias para movimentação, ele pessoalmente tinha a habilidade de bloquear os pontos de chakra do inimigo – grande coisa, um Hyuuga que não pode fazer isso não serve para nada – seu colega Yoshi era bem ágil...

- Nossa – ela sorria toda alegre agora – oh... oi Ringo-kun. Não devia estar em uma missão?

Arregalou os olhos e ficou sem fala. Ela tinha lhe dirigido a palavra tão de repente ao passar na sua frente que tudo o que estava pensando desapareceu da sua mente.

- Ringo-kun? – chamou agora Ayame. As duas belezas de sua vida estavam chamando por ele, e de forma tão sensual...

- Ringo! – chamou agora Minato, o derrubando de seus devaneios.

- Hã.. eu... bom dia!

As duas deram uma leve risada. Nossa, que idiota ele acabou sendo.

- Não recebeu uma missão, Ringo-kun? – insistiu Haruka colocando sua parceira no chão que estava ficando inquieta no colo dela.

- Eu... sim! Mas é só amanhã, então estou de folga hoje.

- Que legal, nós também – disse Ayame – alias – ela olhou para o loiro ao seu lado – já faz tempo que não nos divertimos, não é Minato-kun?

Reparou em Haruka olhando de lado e sentiu-se arrasado. Pelo jeito Haruka também estava querendo um programa com o loiro, mas quando ela foi abrir a boca Ayame se adiantou.

- Vamos sair hoje, Minato-kun, desta vez, eu te convido.

- EI! – berrou Haruka se pondo na ponta dos pés.

- Demorou muito – disse Ayame. Minato apenas olhava para uma e para a outra sentindo-se confuso. Que inveja sentia dele por ser assim tão procurado pelas meninas. Soube que até Miyoko tinha uma queda por ele – hoje ele é meu! – e abraçou ele no pescoço – além do mais, foi em mim que ele deu aquele beijo delicioso na orelha, não foi?

Pelo jeito Ayame não era assim muito discreta. Ou talvez tenha dito só para irritar a amiga.

- Pega ela, Shiromaru!

A cadela começou a latir a avançar em Ayame, e esta começou a correr um pouco a frente desta, como que fugindo. Mas para Ringo não parecia uma ameaça não. Estava mais para um tipo de jogo.

- Gostaria de jantar?

Ela se virou lentamente para ele, e Ringo tentou imaginar o porque daquilo. Mesmo a cadela preta sentiu algo afetando sua parceira e parou de perseguir Ayame, ainda que esta tentasse incentivá-la. Minato o olhava de forma distraída e o sensei deles estava com os braços cruzados também o olhando. Mas porque? Alias.. quem foi que tinha dito aquilo?

Fazendo uma analise fria e direta da situação, observando Haruka o olhar e sorrir levemente, o fato de seu coração estar palpitando, seu rosto queimando como brasa, suas mãos suando e tremendo levemente, era provável que o autor do pedido tinha sido ele, e isso sem perceber. O que ele fez? E se ela disser não? Pior ainda, e se ela disser sim?

- Hum... – fez ela sorrindo para ele – Shiromaru – chamou ela e a cadela prontamente ficou ao seu lado – o que acha dele?

Ela moveu-se e cheirou os seus pés, começou a cavocar poeira na frente deles e depois foi para as suas costas. Repetiu o feito e depois se sentou e olhou para cima, para ele que olhava para trás em sua direção. Sem aviso nenhum ela pulou atingindo as suas costas e o fazendo cair para a frente. Ele deu um passo para se equilibrar e com isso quase abraçou Haruka que estava parada observando tudo.

Na verdade, quase que seus lábios se tocaram. Aquela cachorrinha tinha planejado aquilo?

- Não sei não, Shiromaru... – murmurou ela – ele parece assim meio novinho para mim...

Novinho? O que ela queria dizer com isso? tinham a mesma idade, talvez no máximo um ano de diferença – alias, quantos anos ela tinha? – ou nem isso. Sentiu ser empurrado de novo nas costas e Haruka estendeu as mãos e o segurou no peito dele para que não colasse nela agora.

- Está bem, amiga – disse ela o olhando de uma maneira estranha – vou confiar em você. Aceito seu convite.

Ela aceitou? Espera... ele tinha feito o convite? Ele? Assim na maior?

- Me pegue as sete – disse ela abaixando a cabeça para a cadela subir nela – mas eu não vou sozinha.

- Como?

- Shiromaru vai comigo – ela fez um carinho na cadela que já estava a vontade na cabeça dela – não se preocupe, ela não vai atrapalhar. Alias, se não fosse por ela, eu nem teria aceito.

- Eu, eu.. certo! – disse ele quase que de forma automática. O que ele ia fazer agora? O que ia vestir? Onde ia levar ela? Que idiota tinha sido!

Viu ela se afastar lentamente e também Minato e Ayame olhando para ele um pouco impressionados. Ele por sua vez não sabia o que falar.

- Leve-a para comer ramen – ouviu o sensei dela murmurando no seu ouvido – lá onde o seu sensei o leva as vezes. Além dela gostar da comida, a parceira dela pode ficar a vontade lá.

- Eu.. obrigado.

- Certo Ayame-chan, vamos continuar nossa conversa – disse ele colocando a mão na cabeça dela e de Minato e os empurrando para longe – não pense que acabamos.

Pegar ela as sete? Espera.. pegar ela as sete onde? Na casa dela? Bom, ela morava na casa de seu sensei, então devia ser lá. Melhor ir um pouco mais cedo para garantir. Se errasse de local teria tempo de procurar.

 

-x-

 

- De novo ela não vem aqui, certo?

- Mãe, vamos parar com isso? Até parece que quer que eu case antes do dia terminar!

- Não precisa casar – tornou ela cruzando os braços – basta conviverem juntos.

Kiba ficou vermelho, e ele já ouvia Haruka rindo dele. Como é que aquela menina tinha tanta habilidade para sair por ai e ele parecia um idiota tímido? Virou-se para ela e pelo jeito a mesma ia passear com o loiro de novo. Estava bem arrumada e até Shiromaru estava com o pelo escovado.

- Vai passear com o Minato de novo? – perguntou sua mãe olhando para ela – pelo menos você eu sei que não vai ficar anos encalhada como seu... como Kiba.

Notou a menina tremer os olhos um pouco. Ele e sua mãe tiveram uma conversa e pelo menos naquele assunto concordavam. Haruka tinha medo de ser adotada por sua mãe. Medo de se sentir como que obrigada a tentar ser o que não era. Mas ela tinha tudo o que Hana tinha, incluindo uma personalidade forte e uma certa independência que ele até invejava. Podia não ter nascido naquela família, podia não ter seu sangue, e talvez jamais pudesse fazer seus jutsus, mas ela tinha o espírito de uma Inuzuka. Talvez um tempo treinando com o seu primo fosse mesmo útil para ela, poderia entender melhor que não devia ficar com tal receio de causar desapontamento enquanto fosse ela mesma.

- Se depender de mim, não mesmo!

- Para você é mais fácil falar – disse ele terminando de arrumar o cabelo – Akamaru, vamos indo.

O Grande cão branco latiu e enquanto se aproximava de seu parceiro parou do lado de Haruka e começou a cheirá-la.

- Ei! Para! É só um perfume novo que estou usando...

Akamaru abriu a boca e com uma velocidade que impressionou ele e sua mãe, ela agarrou a língua de seu parceiro com a mão.

- Não ouse me lamber agora – disse ela séria – fui convidada para jantar e quero causar uma boa impressão.

Akamaru se afastou um pouco e ganiu um pequeno choro. Haruka sorriu para ele e levantou sua parceira para que esta ficasse diante da boca dele. Ele lambeu o filhote e Haruka riu.

- Pode lamber ela a vontade.

- Quem te convidou? – perguntou sua mãe de uma forma um tanto desconfiada.

- Um gennin. Nunca sai com ele, mas Shiromaru acha que vale a pena ver como vai ser.

- Mesmo?

- Bom, ela empurrou ele de forma que quase nos beijamos – ela riu levemente.

- Já vi que as mulheres desta família são bem mais espertas que os homens. Mas nada de beijo no primeiro encontro – ela apontou o dedo sério para ela.

Tanto Kiba quanto Akamaru olharam para ela com os olhos arregalados. Tsume tinha dito aquilo mesmo?

- É meu encontro – ela a olhou determinada – se eu quiser beijar ou não é minha escolha.

- Não senhora! Nada de ser oferecida.

Haruka mostrou a língua e saiu da sala com sua parceira no colo. Jeito interessante – e não muito sábio – de encerrar um inicio de discussão com sua mãe.

- Ela me lembra sua irmã – disse para ele sorridente – detestando meus palpites.

- Já notei. Mas não acho que deva ficar preocupada com ela não. Haruka já acumulou uma boa experiência com encontros com Minato.

- Quem disse que estou preocupada com ela? – olhou incrédula para ele – estou preocupada com o garoto, quem quer que seja. Se ela quiser vai colocá-lo numa coleira bem depressa. E se ela se casar antes de você, eu te expulso de casa! Agora vá pegar logo sua amiga e não me volte sem conseguir com que ela jante aqui em casa qualquer dia.

Saiu de casa ainda atordoado com o que ela tinha dito e parou por uns instantes. Casar antes dele? Impossível. Pelo menos achava que sim. Mas a intimação para trazer Nayuko para jantar em casa estava pesando. Respirou fundo e recomeçou a andar, mas parou surpreso quando viu Ringo ali diante do portão de sua casa. Será que ele queria falar sobre a missão quer iam fazer amanhã?

- Oi Ringo – disse ele enquanto Akamaru saia também da casa e parava ao seu lado – algum problema?

- N-não sensei. Eu... eu... eu.... quero dizer.. não. Nenhum problema.

Ele estava muito empertigado, e temeroso também. Olhou para ele e até que estava bem vestido, sem a tradicional roupa dos Hyuugas. Na verdade, parecia até que ele ia... Ficou espantado e olhou para a sua casa, e depois olhou para ele de novo, que ficou corado.

Será mesmo...?

- Ringo... por um acaso você veio... pegar Haruka para jantar?

- Eu... eu.. eu... s-sim! Sim sensei, sim!

- Calma! – disse ele colocando a mão em sua cabeça – fique calmo. Ora vejam só... Bom, então vá em frente. Ela já esta te esperando. E pensar que eu te achava mais tímido que Hinata.

- Hinata-sama? Tímida?

- Vai logo pegar sua companhia – disse ele cruzando os braços.

Ele pediu licença e foi até a porta da casa. Ajeitou-se um pouco – obviamente para disfarçar o nervosismo – e bateu na porta. Esta se abriu logo depois dele ouvir um latido de Shiromaru. E assim que Haruka passou por esta, cumprimentou o garoto com um beijo simples na boca. Ele ouviu o grito de sua mãe chamando ela, e segurou o riso. Haruka quando queria determinar o que ela podia ou não decidir, dava um jeito de fazer logo. Mas precisou se apressar em sair para não cair de vez na gargalhada com a expressão que Ringo fez após aquilo. Coitado do garoto. Ou talvez fosse melhor dizer que sorte que ele tinha. Seja como for não estava interessado na paquera de sua irmãzinha. Tinha seu próprio encontro para se preocupar.

 

-x-

 

Mais um dia como hokage encerrado, pensava ela enquanto andava distraidamente no terraço de seu escritório. Mais precisamente andava na amurada deste. Fazia tempo que não fazia aquilo só para se divertir. Parou por alguns segundos e começou a andar do lado de fora da parede circular do prédio. Quando tinha agido como ninja pela última vez?

Parou de andar e abaixou a cabeça. A ultima vez fora quando sua mestra tinha sido assassinada. Ela a estava ajudando a organizar as fichas dos novos genins daquele ano, coisa que todos sabiam que Tsunade detestava. Várias vezes ela comentou que odiava não poder usar katon, do contrário daria um jeito naquela papelada infernal.

Agora não a culpava mais por ficar falando estas coisas. Às vezes a burocracia do seu escritório a sufocava tanto que por mais de uma vez jogou os papeis pela janela, para desespero de Shizune. Pelo menos nisso era diferente de sua mestra. Ela ameaçava, Sakura simplesmente fazia!

Ajoelhou-se na parede e cruzou os braços. Agora que tinha começado a lembrar, não conseguia mais parar. Era um típico fim de dia em que a irritação pelo trabalho estava no auge. Estava arrumando as fichas quando percebeu uma presença na janela atrás de sua mestra que estava sentada em sua mesa bebendo um saquê escondido, coisa que ela fazia quase sempre quando Sakura estava ali.

Ela viu a kunai na mão do ninja assassino. Uma kunai com não uma, mas cinco tarjas explosivas presas a esta. Lembrava-se de ter gritado o nome de sua mestra ao mesmo tempo em que socava a mesa dela e a arremessava pela janela, atingindo o assassino no trajeto.

Mas as tarjas explodiram assim mesmo, ferindo a sua mestra e jogando a si própria através da porta do escritório. Ficou machucada, mas nada que sua habilidade de ninja médica não pudesse dar conta rapidamente. Mas sua mestra estava em pior estado.

Tinha saltado de volta pela porta arrombada e já a estava tratando quando viu que outra ameaça estava presente na abertura que se formou no escritório após a explosão. Um outro ninja usando roupa preta tinha arremessado algumas agulhas, provavelmente com veneno.

Já tinha se posicionado para seu corpo ser atingido pelas agulhas quando viu um dos dois guardas que sempre ficavam próximos da porta do escritório bloquear as agulhas. Aproveitando a oportunidade, colocou sua mestra nos ombros e tentou levá-la pela porta que seu corpo tinha derrubado antes. Havia muita gente no prédio ainda, e eles ajudariam a bloquear o caminho do ninja – ou ninjas, pois já acreditava que devia haver mais deles.

Mas outra kunai com tarja explosiva atingiu o batente desta. Antes mesmo que esta explodisse, pulou com sua mestra pela abertura feita pela primeira explosão ao telhado do prédio em frente. De lá começou a seguir em direção a sede a ANBU, mas seu caminho fora bloqueado novamente. Agora por mais três ninjas.

Olhou para céu cheio de estrelas. À noite de agora estava muito parecida com aquela de seis anos antes. Depois moveu a cabeça lentamente até que seus olhos se fixaram no busto da godaime. Sua mestra, sua amiga. Aquela que lhe mostrou que tinha que continuar vivendo pelos que morreram quando a quarta guerra tinha acabado.

Sentia falta dela, tanto quanto sentia dos outros.

Não havia dúvidas que tinha sido tudo previamente planejado. Devia ter jogado sua mestra longe e segurado aqueles três. Mas mesmo naquela hora agiu como a discípula obediente desta. Devia ter escolhido aquele momento para desobedece-la, e não o seguinte.

Ela tinha se desvencilhado de seus braços e lhe disse para ir até a sede da ANBU e obter reforços enquanto os segurava ali. E antes que pudesse fazer algo, já tinha começado a regenerar seus extensos ferimentos. A explosão fez com que o vidro e batentes da janela a cortassem desde o ombro direito até a cintura esquerda. Regenerar um ferimento tão grande reduziria ainda mais o seu tempo de vida, mas era impossível detê-la.

Ela hesitou por alguns instantes, mas obedeceu-a. Saltou para a direita e um dos ninjas a seguiu. Já tinha avançado por dois telhados quando ouviu um grande som e percebeu um brilho atrás de si.

Ao virar a cabeça viu sua mestra atingida por um chidori feito por um dos ninjas. O outro estava atrás desta se levantando e o prédio estava desabando. Ela devia ter atingido o telhado e eles de alguma forma conseguiram se aproximar dela e feri-la daquela forma.

Foi quando resolveu desobedece-la. Voltou-se para o ninja que a perseguia e partiu para o ataque, pronta para esmagar o seu corpo ou pelo menos destroçar o teto do prédio em que estava. Isso lhe daria a chance de se aproximar da hokage para ajudá-la.

Apertou os lábios com a lembrança e colocou a cabeça entre os joelhos. O ninja se esquivou como tinha imaginado, e acabou destroçando não só o prédio como todo o solo ao redor, fazendo todas as construções próximas desabarem. Não estava acostumada com o atual nível de chakra que tinha então e o usou de forma excessiva. Alguns dos que estavam naqueles prédios sofreram ferimentos sérios, mas felizmente não houve mortos por isso.

Pelo menos isso fez os três ninjas se concentrarem nela. O que tinha se esquivado lançou uma corda fina que se enrolou no seu corpo, e a usou para puxá-la em direção aos outros dois. Um destes usou uma bola de fogo de katon, e o terceiro arremessou várias kunais.

Ela já estava possessa vendo sua mestra cair junto com os destroços do prédio em que estava. Fixou seus pés na laje do prédio que caia e com isso puxou o ninja que a laçara junto. Este sem ter como desviar a trajetória, apenas sentiu seu punho atravessar seu peito, tendo uma morte tão instantânea quanto sangrenta.

Esta lembrança a fez ranger os dentes agora. Estava sentindo o mesmo ódio que daquela época.

Ela foi capaz de ver os olhos arregalados dos outros dois. Nem sua mestra podia causar uma explosão de chakra com os punhos com este efeito. Um deles se aproximou com o chidori enquanto que o outro decidiu ir para a sua mestra caída sobre os destroços. Ela ignorou o chidori e arremessou kunais para aquele que ia para a hokage. Ele se esquivou em pleno ar e com isso perdeu a direção que seguia. Satisfeita com isso, aguardou o que vinha com chidori e esquivou-se deixando este passar a milímetros de seu rosto – sua habilidade de esquiva sempre era subestimada, e sabia se aproveitar disto - agarrando o cotovelo do braço dele em seguida. Seus olhos mostraram que ele sabia o que viria a seguir. Ela iria lhe dar um soco esmagador.

Respirava pausadamente. Tirou a cabeça dentre os joelhos e voltou a fitar as estrelas. Nunca se arrependeu de como agiu então e não se arrependia agora. Apenas se culpava de não ter sido um pouco menos severa. Poderiam ter alguém que respondesse a muitas perguntas.

Ela torceu o braço dele e com sua mão livre atingiu-o no ombro, arrancando este fora. Ele desmaiou quase que de imediato com a perda de sangue e o choque com o ocorrido.

O que tinha aprendido com sua mestra lhe possibilitava causar danos enormes com seus punhos, mas era limitada ao corpo a corpo. Se não tocasse no oponente, era inútil. E naquele dia não era diferente.

Ao se livrar deste ninja, pulou para o que estava no chão e que se aproximava da hokage caída tentando conter o sangue de seu ferimento. Não sabia o que tinham feito com ela, mas devia ter sido algo totalmente inesperado para a mesma estar tão indefesa daquela forma.

O ninja se posicionou diante dela e começou a fazer um jutsu de katon. Desesperada, ela moveu o seu punho como se fosse dar um soco, mas estava ainda há dez metros dele. Esperava loucamente poder lançar o chakra através dos punhos a distancia, mas era impossível. Foi quando sua mestra não tão indefesa atingiu os destroços com o pé fazendo-o perder o equilíbrio. Quando este se recuperou, ela já estava nas suas costas, movendo o punho para acertá-lo.

Devia ser uma missão suicida. Tinha certeza absoluta disto agora.

Ele saltou para a frente esquivando-se de seu punho e fez um jutsu de doton. Uma cúpula de terra a tinha envolvido em seguida, e poucos segundos depois, sentiu que seu chakra estava sendo sugado. Aquele era o jutsu da prisão de terra. Tanto ela quando sua mestra estavam ali, portanto, o chakra de ambas estavam sendo sugados.

Mas sem dúvida, ele não esperava que agora ela possuísse tanto chakra assim. Com um salto, ela aproximou-se o alto da cúpula e a socou, estilhaçando-a em minúsculos fragmentos. Ao quebrar o jutsu, seu chakra tinha retornado. No entanto, ele tinha sugado o bastante de sua mestra. Ela estava desacordada.

Olhou ao redor e não o viu. Devia estar escondido debaixo do solo, já que usava o doton.

Atingiu o solo com força, fazendo este se estraçalhar e com isso obrigando o fugitivo a aparecer. Este em pleno ar arremessou kunais para a hokage desacordada e ela usou seu corpo para bloqueá-las. Ao encará-lo, viu este fazendo outro jutsu de doton e novamente se amaldiçoou por não ter tentado aprender por conta própria algum jutsu de ataque a média distancia. Não era o estilo de sua mestra, e ela não aprovava que ela tentasse aprender isso, mas por vezes sentiu que teria sido útil desobedece-la. E aquela era somente mais uma destas vezes.

Duas colunas ergueram-se uma de cada lado de onde estava. Parecia ser um jutsu de aprisionamento e decidiu saltar para o alto. Mas percebeu que seus pés já estavam envolvidos por terra, a prendendo no lugar. Não conhecia aquilo. Sentiu as colunas envolverem seus braços e conforme se erguiam, ficou como que crucificada ali. Os braços eram de forma incrivelmente dolorosa puxados para o alto, e seus pés presos na terra a puxavam para baixo. Ficou com os dentes pressionados para não gritar de dor.

Mesmo agora, seis anos depois, não tinha descoberto que jutsu era aquele. E ainda se impressionava sobre o quão pouco tempo tinha se passado entre ela pular da janela com a hokage nos ombros e ter ficado presa naquilo. Nenhum dos ninjas do prédio sequer tinha tido tempo de sair para ver o que ocorria. E o guarda que tinha detido o segundo ninja ainda estava ocupado com este.

O ninja que a prendeu a observou de forma atônita. Talvez esperasse que alguma coisa a mais ocorresse com ela alem de ficar com os braços quase arrancados do corpo. Estava usando seu chakra para puxar os braços de volta, e sentia que estes se moviam lentamente. Talvez fosse isso o que o impressionasse. Seja como for, ele pegou uma kunai e correu na sua direção com esta preparada para lhe cortar o pescoço. Ela apenas sorriu com aquilo. Um sorriso feroz e sarcástico.

Muitos pensavam – e ainda pensam – que sua força e a da sua mestra era em efeito muscular. Mesmo quando descobriam que era uma explosão de chakra, não concebiam o que isto realmente queria dizer. O que ela e sua mestra faziam era concentrar o chakra nos punhos e fazê-lo em seguida explodir no momento em que atingiam algo. Desta forma, era o chakra que causava os danos, não os seus punhos realmente. Presa desta forma, ela só precisava concentrar o chakra nas mãos – como já estava fazendo – e o liberar na hora certa, para garantir que seu oponente fosse atingido na chuva de destroços que iria ocorrer.

Coisa que ela o fez momentos antes da kunai chegar ao seu pescoço. As pequenas pedras arremessadas das colunas que a prendiam o atingiram como projeteis, muitos chegando a atravessar sua pele e músculos. Ela também foi atingida, mas não sofreu tantos ferimentos.

Com as mãos livres, segurou o punho em que estava a kunai com a mão esquerda, e com a direita agarrou o seu pescoço. E neste instante fez o mesmo que antes. Concentrou chakra nesta mão e o liberou em seguida, fazendo a cabeça deste ser decapitada com a explosão de chakra.

O sangue dele tinha se espalhado por todo o seu rosto e peito. Sua roupa vermelha ajudou a diminuir esse feito, mas o mesmo não ocorreu no seu rosto. Ao se virar viu alguns ninjas saindo do prédio da hokage vindo em sua direção. Olhando para o teto do prédio viu que a luta com o ninja restante parecia ter acabado.

Voltou-se para a sua mestra e começou a tratá-la. Minutos depois Shizune tinha se juntado a ela e unia forças para curar a godaime.

Mas não conseguiam fechar o ferimento feito com o chidori.

No hospital a hokage recuperou os sentidos por algumas vezes, chamando por ela e tentando balbuciar algo, mas acabava desfalecendo novamente. No quarto dia ela conseguiu se manter consciente o suficiente para dizer o que queria.

Queria que Sakura continuasse com o treinamento e a sucedesse como senin.

Ela ficou em pânico ao ouvir aquilo. Isso significava que sua mestra considerava que estava condenada, e não poderia ela própria terminar o treinamento. E nas poucas vezes em que recuperou a consciência, pedia para que Sakura jurasse fazer aquilo. Jurasse sucedê-la como Naruto tinha feito com Jiraya.

No fim ela acabou fazendo a promessa, e após isso, Tsunade nunca mais recuperou a consciência. Devia ter se dado por satisfeita.

Relembrando tudo agora, percebia que tanto ela quanto sua mestra tinham uma fraqueza perigosa. Ambas eram ineficazes contra combatentes de média e longa distancia.

Hoje, contudo, ela estava melhor preparada.

O ninja cujo braço fora decepado tinha morrido algumas horas depois. Não tiveram tempo suficiente para extrair nada de sua mente. Sua mestra ainda resistiu por quinze dias, mas por fim, seu corpo exausto acabou perecendo.

Quinze longos dias em que ela e outros ninjas médicos tentaram de tudo para salvá-la, mas não conseguiam entender porque o ferimento não se fechava. Talvez Shizune estivesse certa. Sua mestra tinha usado demais a regeneração e seu corpo tinha chegado ao limite. Talvez fosse por isso que agia como se soubesse que seu tempo de vida estava terminando. Talvez por isso tinha preparado tudo para que sua discípula se tornasse a rokodaime.

De tudo o que houve naquele dia, o que mais incomodava a todos – especialmente Sakura – era nunca terem descoberto nada sobre os atacantes. Descobriram que conseguiram entrar sem serem detectados porque os responsáveis por detectar invasões foram nocauteados com uma bomba de gás. Isso levantava a possibilidade um trabalho interno, de alguém talvez infiltrado, mas nunca descobriram quem poderia ser. E isto indicava que quem quer que tinha sido, ainda podia estar na aldeia apenas aguardando uma oportunidade. Uma oportunidade que talvez tivesse sido aproveitada alguns meses antes, ao violarem o túmulo de Naruto. Era isso o que esperava que Shikamaru descobrisse.

De qualquer forma, haviam algumas certezas. Sua mestra era o alvo, eles vieram especialmente para enfrentá-la. Com exceção daquele que usou o chidori, todos eram combatentes de média distancia, ou seja, perfeitos para enfrentar a sua mestra, ou a si própria. Não havia nenhuma marca especial nos corpos, muito menos qualquer indicativo de qual podia ser a aldeia de origem. Também não tinham nenhum jutsu de selamento, mas todos possuíam uma seringa com veneno mortal, provavelmente para usarem em si próprios caso percebessem que podiam ser capturados.

Ela nunca soube como derrubaram e feriram sua mestra em primeiro lugar. Talvez não tivesse se regenerado totalmente antes de enfrentá-los, ou talvez tivessem usado algo que a deixou de guarda aberta. Ela encontrou marcas nos braços e nas pernas da hokage, marcas similares a que ela tinha após ser presa naquele jutsu. Talvez tenham feito com ela o mesmo que fizeram consigo depois, mas no caso de sua mestra esta não conseguiu escapar antes de ser ferida.

Talvez...  a verdade é que ela nunca soube como aconteceu.

Ela ergueu-se ficando novamente de pé na parede circular do prédio. Todas as construções destruídas tinham sido refeitas exatamente como eram. Não havia agora nenhum sinal daqueles eventos, exceto um mastro colocado no prédio em frente. Ali marcava o local onde a senin Tsunade fora atingida mortalmente.

Ali marcava o local onde tinha perdido a sua mestra, e onde tinha começado a sua própria vida, sem mais ficar a sombra de ninguém. Ela se tornou hokage e acabou provando a si mesma que era capaz, mesmo quando duvidava.

Olhou para a montanha onde estavam esculpidos os rostos dos hokages e ficou observando o seu próprio. Danzo tinha sido literalmente apagado da história de hokages da aldeia depois do que tinha feito. Ela era a rokodaime, não ele.

- Era o seu rosto que devia estar lá, Naruto – murmurou ela segurando uma lágrima – não o meu. Mas já que o destino quis brincar com nós dois, eu aceitei tentar ser o hokage que você queria ser.  Por você, e por minha mestra...


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Notas finais do capítulo

Mais um flashback explicando um pouco do que ocorreu no passado. Quanto ao encontro dos casais, não sei se vou descreve-los ou apenas os comentar. De qualquer forma logo virá a primeira missão classe C do time seis.
Quanto a investigação sobre o que houve no cemitério, lamento, mas é assim que escrevo. Vou esguindo a historia principal e os eventos paralelos são apresentados devagar. mas isso deve sair em mais dois ou tres capitulos.



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