Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 15
Capítulo 15




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/80537/chapter/15

Não entedia porque estava nervosa. Via ele quase todos os dias, pedia até seus conselhos as vezes, porque agora que o dia estava terminando ela se sentia nervosa? Já tinha até saído com ele!

Sim, tinha saído, mas para ver o que Minato estava fazendo. Desta vez era um encontro! Um encontro de verdade, onde ele seria seu acompanhante. Nossa, o que foi arrumar quando concordou em sair com ele... Não tinha pensado que se sentiria assim. Talvez tivesse imaginado que seria como da outra vez, mas agora sabia que não era. Fechou a gaveta de seu guarda roupa e respirou um pouco. Precisava ficar calma. Olhou a foto de Naruto sobre seu guarda roupa, com aquele sorriso de sempre e fazendo um “V” com os dedos. Ao lado estava Minato com seu time sendo agarrado pelas duas amigas e recebendo um beijo de ambas de surpresa. Sua expressão de susto estava impagável.

Olhou para a foto de seu antigo time com Kiba, Shino, ela e Kurenai-sensei. Pegou a mesma e a segurou um pouco, lembrando-se de uma época com sonhos e promessas. Shino era sempre recluso e misterioso, agindo mais como uma pessoa enigmática e fechada. Mas constantemente reclamava que não notavam sua existência. Era uma forma de agir do clã Aburame, não propriamente dele. Colocou a foto no peito e fez uma pequena prece de agradecimento por seu sacrifício. Normalmente sempre pensava mais em Naruto quando se lembrava do passado, desta vez queria ser mais justa. Ainda era incapaz de ver sua imagem sem evitar de lembrar todos os sonhos que teve sobre viver ao seu lado, de estar com ele, dele estar com ela...

Mas tinha plena capacidade agora de aceitar que era hora de continuar vivendo. Não com um romance, mas pelo menos com alguém para passear um pouco e se distrair, como Sakura fazia as vezes, embora Sakura ocasionalmente fosse muito além da mera “distração”. Pelo menos sempre conseguia selecionar os shinobis mais discretos. Na verdade estava pensando agora se Neji já tinha saído com ela em alguma ocasião. Do jeito que ele podia manter discrição para tudo, não duvidava.

Seja como for, o encontro não tinha nada a ver com Sakura ou Naruto, era dela e de Neji. Ou melhor, era de Neji já que ele a tinha convidado. O que a lembrou que ainda não tinha conseguido decidir o que vestir!

Não queria ser ousada, mas queria ficar bonita. Que droga! O que ia fazer? Se fosse muito ousada, iam surgir comentários demais, e se fosse mais recatada, Neji podia pensar que ela apenas estava tentando não deixá-lo chateado por um passeio que não queria – e ela queria o passeio!

Que se dane! Ia de saia curta e com sua jaqueta, e logicamente a sua bandana que usava como gargantilha. Tinha pedido para um excelente alfaiate para a deixar perfeita em seu pescoço, de tal forma que nem parecia uma bandana, mas sim uma gargantilha com o símbolo da aldeia neste.

Uma hora depois estava pronta, com o cuidado usar o mínimo de maquiagem. Haveriam comentários pelo clã, mas ela não se importava. Já tinham ocorrido muitos outros quando tiveram de fazer toda aquela encenação da vez em que ocultaram a existência de Minato. E ao pensar nisso lembrou-se de que já fazia um tempo que não visitava o tumulo do bebê que tinha sido enterrado como se fosse um Hyuuga. Devia ir visitá-lo. Era graças a ele que ninguém imaginava que Minato era seu filho.

Mas não queria pensar naquilo agora. Neji era pontual com aquela mania de ser sempre certinho e praticamente agir como máquina. Devia estar esperando por ela na entrada da mansão. Deu uma ultima olhada em si mesma no espelho e saiu correndo do quarto.

Como imaginava ele estava ali com as mãos nos bolsos e observando as estrelas de forma descontraída. Com certeza devia estar se perguntando onde ela estava. Bom ela tinha chegado. Parou de correr a pouca distancia dele e começou a andar. Ao chegar mais próxima ele reparou na sua presença e a observou com o rosto ainda mantendo a descontração que devia ter enquanto a esperava.

- Desculpe, fiz você esperar muito?

Ele a olhou detidamente e ela se sentiu estranha, quase tremendo.

- Não... – ele parecia estar ocultando algo – estava apenas olhando a bela noite. Uma noite da qual você emprestou a beleza...

Sentiu-se corar. Realmente ela estava com calor nas faces, e isto significava que estava vermelha como um pimentão. Como isso foi acontecer? Só porque ele a elogiou? E nem foi um grande elogio, apenas foi um pouco romântico, mas o seu tom de voz mantinha a discrição característica.

- O-obrigada – disse ela sentindo falta de ar. Não devia ficar assim, mas não estava conseguindo evitar. Estava mesmo nervosa, e do lado do primo com o qual estava tão acostumada a conversar sobre qualquer assunto.

Qualquer assunto com exceção dela própria.

Seguiram lentamente pelas ruas da aldeia, e ela já percebeu alguns olhares para eles. Neji também usava uma roupa não comum a ele, e ela nem ao menos comentou aquilo, que desfeita...

- Você também está apessoado, Neji-san.

- Como a líder do clã disse, preciso manter minha aparência de “adulto chato”.

- Vai ficar repetindo isso sempre? – agora ela estava um pouco irritada.

- Só para fazê-la ficar com uma cor mas rósea – ele sorriu para ela, e a mesma voltou quase que em seguida a ficar vermelha e acanhada.

- Não sei o que está havendo comigo – disse ela olhando para todos os lados menos para ele – parece que é meu primeiro encontro...

- Você fica assim quando está pensando muito em alguma situação que não tem controle – disse ele colocando a mão em seu ombro e apontando com a outra para a sua frente. Ela olhou e viu suas mãos fazerem aquele movimento que ela própria já tinha esquecido como era. Mas do que depressa pegou a mão dele para deixar as mãos ocupadas.

- Me sinto uma menininha!

- Ainda bem – ele sorriu – porque também estou me sentindo acanhado.

- Você?

Ele olhou para baixo e hesitou um pouco antes de prosseguir.

- Eu te convidei apenas para que se distraísse um pouco, e também para que eu mesmo agisse de uma forma mais.. mais normal. Eu acabei concordando contigo. Eu estava ficando um adulto chato. Mas confesso que não esperava que aceitasse meu convite.

- E eu não esperava que o fizesse. Na verdade quando o aceitei ainda estava com o outro passeio na cabeça. Esse de agora não vai ser a mesma coisa.

Ele a olhou surpreso.

- Quero dizer.. que.. – estava ficando vermelha de novo – Neji! – disse ela desabafando.

- Vamos esquecer tudo isso e apenas passear um pouco, como daquela vez. Talvez tenhamos sorte e Minato-kun vai estar por perto de novo, coincidentemente.

Ela esperava que não. Na ultima coincidência faltou pouco para chamar a companhia dele de nora... claro que não ia fazer isso, mas quando se lembrou de tudo que fez e como fez... riu por um bom tempo da situação. Talvez depois quando se lembrasse desta noite iria rir também. Mas no momento estava um pouco tímida, uma emoção que tinha chegado a esquecer como era.

Chegaram ao restaurante que ele tinha em mente e entraram sem muita cerimônia. Ela demorou um pouco para decidir o que queria, mas estava sentindo água na boca ao olhar as fotos dos doces. Chegou a se lembrar do sorvete que Minato tinha lhe dado após sua primeira missão – e comprado com o primeiro pagamento dele, que lindo! – e de como o tinha apreciado. Pena que não tinha sorvete do mesmo sabor ali.

De qualquer forma, primeiro precisava comer algo decente e só depois pegar as guloseimas, mas estava se sentindo meio menina mesmo com a velha timidez que tinha resolvido visitá-la para lhe lembrar dos velhos tempos. Pelo menos tinha certeza de que não ia ficar repetindo Naruto-kun sem parar agora.

- Você realmente adora Sushi – disse uma voz conhecida mas um pouco distante.

Ergueu os olhos ao ouvir aquela voz e sorrindo levemente usou o seu Byakugan. Era ele mesmo, Kiba, e acompanhado de uma bela moça que olhava sorridente para ele. De repente ela jogou um pedaço de sashimi para o alto e beijou Kiba no momento exato em que este ficou entre seus lábios e os dele. Ao mesmo tempo em que beijava, ela apreciava a iguaria na boca. Ficou com vergonha por observar escondida o seu amigo e parou de observá-los. Olhou para o seu acompanhante em frente e este olhava ao redor procurando alguma coisa.

- Não era o Minato-kun – disse ela sorrindo mas ainda sentindo vergonha – apenas ouvi a voz do Kiba-kun. Ele esta aqui também, e bem acompanhado, devo dizer.

Ele a olhou agora um pouco mais sério e sua vergonha aumentou um pouco.

- O que posso fazer? Sou curiosa! – defendeu-se. Mas ele nada disse, apenas sorriu e maneou a cabeça desistindo.

Acabaram dividindo um prato de arroz e camarão empanado, conversando distraidamente sobre vários assuntos. Um deles foi referente ao Ringo, o novo gennin do clã que parecia ter um certo receito de fazer algo errado que pudesse desagradar ao clã. Hinata chegou a discutir com Neji qual seria a melhor forma de tentar diminuir este receio dele, pois isso devia estar o torturando. Mas no fim não conseguiram chegar a um consenso. Ademais já sabiam que Sakura daquela vez tinha dito que ela faria a avaliação final dos times, coisa que fez ambos tentarem levantar motivos para isso. No fim acabaram concluindo que talvez fosse devido a Minato. Sendo gennin ele ia enfrentar situações perigosas mais cedo ou mais tarde, e sempre havia o fato de que ele acabaria desenvolvendo algo que era marca registrada do pai. Já tinha começado com o clone das sombras. Com certeza ela queria que aquele gennin fosse realmente capaz de encarar o que o futuro lhe reservava.

Ambos também queriam tal coisa, mas tinham que ser cuidadosos. Ainda iriam tentar descobrir se ele tinha alguma capacidade de usar as habilidades que devia ter herdado da mãe. O que imaginavam era que ele tinha um controle sobre o próprio chakra muito superior ao do pai, visto que segundo Konohamaru ele tinha feito uma alteração no clone das sombras dando-lhe mais chakra e com isso o deixando mais resistente, mas quando o fazia seu limite de clones era muito baixo. Talvez no máximo dez, e ainda assim em média apenas dois deles eram mais fortes.

Mudaram de assunto quando viram Kiba passar por eles e os cumprimentar com a bela ruiva que o acompanhava. Hinata podia jurar que ela tinha uma forma um tanto independente de agir, mas não conseguia explicar para si mesma o porque de achar tal coisa. Quando se despediram já estavam praticamente terminando o jantar.

E apesar dela querer que fosse uma noite para se distrair, acabaram foi falando mais de seu filho. Mas não estava incomodada. Era bem melhor do que falar sobre Naruto ou sobre Tenten. E de qualquer forma era o primeiro encontro verdadeiro deles, não seria sensato querer mais do que um jantar para começar.

Apesar de que o encontro anterior que era não oficial foi uma dança, e ambos acabaram se divertindo.

- Faz tempo que não te vejo sorrir assim – disse ele de repente a tirando de seus pensamentos de tal forma que estava corando de novo.

- Ora... obrigada – disse abaixando os olhos. Porque estava tímida de novo?

Quando olhou as suas mãos arreganhou os dentes e sentou-se em cima delas. Esses dedos já a estavam traindo muito ultimamente. Neji a olhou de forma discreta, mas tinha certeza de que ele segurava uma risada.

- Acho melhor levá-la de volta, antes que alguém peça a hokage para descobrir o paradeiro da líder do clã Hyuuga.

- Acha que fariam isso?

- Considerando que me certifiquei de que não saberiam onde íamos... – ele sorriu para ela.

Como um cavalheiro ele lhe pagou a conta e saíram do restaurante juntos. Ela ocasionalmente pegava em seu cotovelo conforme conversavam sobre a época em que eram gennins, lembrando alguns eventos interessantes ou outros até cômicos lembrando agora, como uma vez em que Rock Lee para imitar o sensei queria carregar Neji nas costas até a aldeia. Podiam lembrar dessas coisas sem dor agora. E talvez por isso mesmo tinham decido conversar um pouco com os velhos companheiros.

A partir daí eles seguiram pelas ruas da aldeia de mãos dadas. Ela tinha que ir ali. Mesmo que uma ou até duas vezes por semana o visitasse, daquela vez ela queria ir ali lhe dizer que estava começando a retomar a sua vida, algo que sem dúvida ele gostaria que ela fizesse.

Entraram no cemitério de mãos dadas e após alguns passos eles soltaram as mãos. Olharam um para o outro com um sorriso e sem dizer nada foram cada um para seu destino. Era queria falar um “oi” para Shino e dizer para não ficar chateado da irmã ter sido reprovada como gennin, afinal ela iria ter outra chance. E Neji com certeza iria conversar um pouco com os antigos colegas de time, e acreditava que principalmente com Tenten. Claro que ela também iria visitar o túmulo do loiro.

Neji estava diante do tumulo de Tenten se recordando daquele tempo em que estavam juntos quando ouviu o grito dela. Correu entre as lápides e deu um grande salto para ficar ao seu lado. Ela estava de joelhos e com as mãos na face. E diante dela estava o motivo dela estar assim. A lápide de Naruto estava afastada, um buraco tinha sido cavado ali e podia-se ver parte do caixão usado para enterrá-lo para fora e com a tampa e parte de baixo deste danificado como se alguém tivesse dado vários golpes de machado, sem se incomodar em apenas abrir a tampa do caixão.

O interior do caixão contudo, estava vazio, apenas com alguns sacos abertos que pareciam ter areia. Olhou ao redor e viu algumas marcas de pegadas ali que foram feitas quando alguém pisou na terra úmida. Segurou Hinata nos ombros e tentou fazê-la se acalmar. Ela estava nervosa e em choque, não havia duvida, mas também podia notar pelos seus olhos que uma raiva enorme estava crescendo dentro dela. E não podia culpá-la por isso. Talvez seu primeiro pensamento tenha sido o de que Naruto tinha ressuscitado e saído do túmulo, mas as evidencias que via ao redor indicavam claramente que alguém tinha na verdade roubado o seu corpo.

- Isso aconteceu há pouco tempo – murmurava ela olhando com os olhos cheios de agonia – ainda devem estar por perto.

Ela se levantou e olhou para ele. Estava preocupado com ela, mas parecia que naquele instante ela estava se controlando. Acionou seu byakugan e ele fez o mesmo. Ambos olharam ao redor detidamente, indo até onde era possível ver. Mas nada detectaram. Mesmo morto há tanto tempo, Naruto ainda devia ter resíduos do chakra da raposa em seu corpo. Ambos procuravam por isso, mas nada encontraram.

- Melhor garantirmos que a aldeia fique fechada por enquanto – disse ele –vou para a ANBU, vá falar com a hokage – disse ele a olhando.

Ela o olhou de volta e sentiu uma grande dor a ver a agonia que sua face transmitia. Com certeza ela estava imaginando quem poderia querer o corpo de Naruto, e ambos naquele momento já tinham um nome em mente.

 

-x-

 

Que chateação! Não podia ter um mínimo de tempo razoável para ficar tranqüilo em sua casa e brincando com o seu filho? Porque quando algo totalmente inesperado acontecia ele era chamado? E sempre com um ANBU aparecendo na porta ou na janela – quase sempre assustando o seu filho – simplesmente dizendo “Shikamaru-sama, sua presença é necessária”, e nenhuma outra informação, muito menos onde ele era necessário.

Via de regra era no escritório da hokage, e normalmente também a rosada já estava tomando algumas providências quando ele aparecia. Assim tinha sido quando o enviado do lorde feudal tinha aparecido. Ele só ficou ali de pé ouvindo, apenas para confirmar o que sempre ocorria. Sakura acabava tomando uma decisão razoável dada a situação. Nem sempre concordava com ela, mas normalmente não tinha problema. Porque haveria? Ela não era tola, muito menos mais um rostinho bonito. Verdade que ouvia que ela as vezes tinha alguns encontros muito discretos com alguns rapazes. Isso não lhe interessava em absoluto, e ficaria na verdade preocupado se ela não fizesse isso. indicava claramente que não era obcecada em cumprir com o seu papel de hokage a risca, se permitindo tempo para manter sua sanidade quando possível. Mesmo quando bebia seu saquê – que ele também apreciava as vezes – ela era discreta, exceto na presença de amigos.

Mas começou a pensar que daquela vez alguma coisa estava muito fora do normal pelas circunstâncias. O ANBU não o estava conduzindo para o local esperado. De fato, ao olhar para trás ele viu que o escritório dela estava com as  luzes apagadas. Será que desta vez o problema seria com a própria hokage? Analisando a situação de forma lógica, podia deduzir facilmente que para ser chamado no meio da noite e não haver nenhum alarme, alerta ou coisa similar significava que não estavam em um ataque, seja ele sutil ou aberto. Mesmo um ataque cirúrgico – como aquele em que assassinaram o godaime - iria acionar mais segurança, incluindo o fechamento dos portões. Deu um salto para o alto de um poste de luz – preocupando o ANBU que lhe mostrava o caminho – e olhou para os portões da aldeia.

Estavam fechados.

Pulou para a rua e continuou seguindo o ANBU que não corria, mas apenas andava a passo rápido. Luzes do escritório apagadas, ele sendo convocado com urgência e os portões da aldeia fechados. Mas nenhum alarme soado e nem segurança excepcional também. Não percebia ANBUs patrulhando pelos telhados das casas. Uma explicação razoável seria a de que algo aconteceu mas não queriam causar alarde. Uma possibilidade seria para poder talvez localizar quem ou o que quer que tenha feito esse algo. Sem alarme o fugitivo – se era isso mesmo, lógico – poderia pensar que estaria a salvo e cometer algum erro. Mas então a questão seria o que teria ocorrido, e isso o ANBU não tinha dito.

Parou de andar quando chegaram ao cemitério da aldeia e o ANBU indicou com as mãos para ele entrar. Sem dúvida alguma ele jamais poderia ter deduzido que algo teria ocorrido ali. Mas agora que conhecia o local começava a pensar nas possibilidades. O que poderia ocorrer no cemitério que chamaria a atenção da ANBU, o faria se convocado e provavelmente teria trazido também a hokage ali? – isso porque ele tinha certeza de que ela devia estar ali dentro também, pelo simples fato de que ele não seria chamado se ela não tivesse pedido isso.

Quando passou pelos portões ele viu algumas pessoas a sua direita, bem perto do meio do cemitério. Reconheceu Sakura pelos cabelos. Pelo jeito havia também dois ANBUs ali, e mais duas outras pessoas. Mas não era nelas que pensava, mas sim em onde aquelas pessoas estavam. Sabia muito bem quem estava enterrado naquela região, e conforme andava para lá, torcia para que o incidente – qualquer que tenha sido – fosse no túmulo de Sasuke.

Mas quando chegou viu que era onde ele não queria. Também descobriu quem eram as outras duas pessoas ali. Neji e Hinata. Hinata estava com os braços cruzados e os olhos indicando que estava muito nervosa, mas não o nervosismo que esperaria dela nesta situação, ah não...

Ela estava agitada, ansiosa, provavelmente querendo uma solução rápida. Neji ocasionalmente a segurava nos ombros e esta agarrava a sua mão se tranqüilizando um pouco, mas não era o bastante. Olhou para o tumulo aberto e para o caixão ali e já começou a se fazer perguntas incômodas.

- Já vi que não é uma situação corriqueira – disse naquele tom de desconfiança costumeiro para Sakura – podem me dizer o que aconteceu aqui?

Ela estava de costas para ele quando tinha falado. Estava de braços cruzados e observava alguma coisa na aldeia. Ela olhava diretamente para os portões desta, apesar de não serem visíveis do ponto em que estavam.

- Não está vendo o que aconteceu? – explodiu Hinata irritada – violaram...

- Hinata! – chamou Sakura em tom firme de comando. Ela se calou no meio da frase e desviou os olhos para ela. Sakura apenas maneou a cabeça levemente indicando uma negativa.

Após isso ela bufou se virou de costas, dando alguns passos para ficar distante. Neji foi atrás dela e colocou o braço ao redor de seu pescoço. Apesar de sua clara irritação e raiva, ela não rejeitou o abraço como imaginaria naquela situação. Shikamaru anotou mentalmente que ela não estava reagindo como seria de se esperar ao ver que tinham roubado o corpo da pessoa que amou e com o qual tinha tido um filho em segredo. Isso porque não acreditava que ela estaria tão controlada assim. Seria de se esperar que estivesse agarrando Sakura pelo pescoço, cobrando providencias para que algo fosse feito, ou que talvez estivesse já fora da aldeia procurando por quem tinha feito tal coisa. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi Sakura ter chamado Hinata de forma que esta se calasse e não dissesse o que tinha ocorrido. Pensou em tudo isso enquanto voltava sua cabeça para a hokage e aguardava esta falar.

- Hinata e Neji vieram aqui visitar os velhos amigos – disse ela ainda de braços cruzados e o observando de forma impassível – e encontraram o local exatamente como você o esta vendo. Procurando ao redor pelo possível culpado e não o localizando, avisaram a ANBU e a mim. Eu pedi para que o chamassem.

Simples assim? Bom, isso já era um bom sinal. Histórias longas e complexas eram normalmente eventos bem elaborados para ocultar detalhes importantes. Mas esta simplicidade acabava sendo pior.

- Que providencias tomou? – perguntou quando se ajoelhou e observou melhor o caixão danificado com o seu estranho conteúdo.

- Uma busca silenciosa. Não há nenhum sinal de invasor, eu já verifiquei, portanto foi trabalho de alguém da aldeia, alguém insuspeito. Apenas os portões estão fechados e um ANBU irá averiguar cada um que questionar sobre isso. Também estão procurando discretamente pela aldeia, mas não acredito que tenhamos algum resultado.

- Porque? – ele colocou a mão dentro do caixão e abriu um dos sacos ali dentro. Era areia mesmo, como imaginava. O saco fora cortado quando quem quer que tenha arrombado o caixão tinha inadvertidamente atingido o saco com a ferramenta que usava, muito provavelmente um machado de cabo curto. Mas era estranho o som dessas possíveis machadadas não terem chamado a atenção.

- Segundo um estudo preliminar – ela tinha dado alguns passos para ficar do seu lado – isso pode ter sido feito até uma hora antes de Hinata e Neji terem descoberto.

- Ou seja, tempo mais do que suficiente para que pegassem o que queriam daqui e ficassem fora de suspeita – ele se ergueu e bateu as mãos uma na outra para limpar a areia dos dedos – mas também quer dizer que não devem ter retirado o corpo dele pelos portões, a não ser que alguém tenha passado por estes antes de perceberem o que houve aqui.

- Segundo os guardas, ninguém passou.

Os dois ANBUS estavam um pouco distantes, apenas observando e em posição para proteger Sakura caso algo ocorresse. Shikamaru teve a certeza de que a função destes que estavam próximos era apenas a de proteger a hokage. Nunca tinha visto aquelas mascaras antes, portanto deviam sempre se manter ocultos. Também significava que seria inútil fazer qualquer pergunta a qualquer um destes.

- Até que a Hinata está encarando bem a situação.

Olhou para ela de lado e de forma descontraída mas esta não alterou seu semblante pensativo e fixo.

- Ela é uma jounin – disse ela quase não dando importância a sua pergunta. Isso apenas atiçou ainda mais o que tinha pensado antes. Estava apostando que tinha sido Hinata quem tinha ido chamar a hokage. Acreditava que Sakura já tinha conversado com ela a respeito de forma a assumir toda a situação. Talvez fosse uma prudente forma de evitar que ela fizesse alguma tolice, mas ainda pensava no que ela tinha dito antes de Sakura a ter feito ficar quieta.

- Quando descobriram isso?

- Cerca de meia hora atrás.

Tempo o bastante para ela definir alguma história com Hinata. Não fazia sentido pensar em tal coisa, mas era uma possibilidade, e ele sempre explorava possibilidades até estas ficaram totalmente infundadas. Ela impediu Hinata de falar porque não queria que ela desse alguma informação talvez confidencial. E considerando o que ele via diante de si, tinha uma idéia – totalmente insana, tinha de admitir – de que tipo de informação podia ser.

- Considerando o que pode estar em jogo – ele estava muito sério – aconselho a começar uma busca total na aldeia, colocando-nos em alerta máximo.

- Não! – disse ela também de forma casual, isso sim chamou sua atenção – não quero que essa notícia se espalhe. Pode piorar nossa chance de descobrir quem fez isso e com que intenção.

- Não?! É de Naruto que estamos falando, talvez até de Kyuubi! Sakura! Até hoje você tem se portado de forma extremamente exemplar neste cargo, de tal forma que sempre confiei que já estaria tomando as decisões certas antes de pedir meu conselho, mas... – ele parou de falar quando ela segurou no seu ombro e aproximou-se de seu ouvido.

- Então continue confiando em mim, por favor – disse ela em voz baixa, e se afastou em seguida.

Porque ela estava agindo assim? Aquela sua insana idéia podia estar correta? Por qual outra razão ela não mandaria todos os shinobis da aldeia procurar quem poderia estar com o corpo de Naruto?

- Shikamaru – começou ela com uma voz mais amena agora – quero que cuide para que não haja rastros disto, e procure investigar cada aspecto do ocorrido. Investigue meticulosamente todos os possíveis suspeitos que podem estar agindo na aldeia desde no mínimo seis anos atrás. Quero que o mínimo de pessoas saiba o que você está fazendo. Me informe quando tiver alguma resposta, ou quando não for mais possível ter uma.

Seis anos? Claro! Quando Tsunade tinha sido assassinada. Agora começava a entender melhor o que ela queria. E até que tinha seus méritos, apesar de considerar ser muito arriscada essa linha de ação. Mas ela era a hokage, e até aquele dia tinha agido de forma correta e prudente. Talvez estivesse sendo prudente demais agora, mas teria que descobrir algo na investigação para convencê-la disto.

Só que no momento, a sua primeira teoria - que ainda considerava ser uma idéia insana - indicava justamente o oposto, a de que ela estava certa em agir daquela forma.

- Como quiser, hokage-sama – disse ele em voz baixa.

Ela agradeceu e andou lentamente até Hinata e Neji. Viu ela por a mão no ombro dela e conversarem em voz baixa. Neji estava próximo ouvindo tudo, agindo mais como um fiel guarda costas do que como primo preocupado agora. Quando voltou a olhar novamente o caixão danificado, percebeu pelo canto dos olhos que Neji tinha dado um passo para trás e olhava ambas com os olhos arregalados. Apertou os lábios e registrou o evento mentalmente em sua linha de raciocínio.

Hinata tinha dito violaram quando Sakura a interrompeu. Violaram. Provavelmente ia dizer que violaram o túmulo de Naruto-kun. E isso contribuía para o que estava pensando. Violaram, não roubaram o corpo ou levaram ele embora, mas sim violaram. Da forma que Hinata amava Naruto, ela não ficaria preocupada com o túmulo dele, mas sim com o seu corpo.

Se aquela sua idéia insana estava correta, realmente não podiam deixar ninguém saber desta violação do túmulo de Naruto. Mas se a idéia fosse verdadeiramente insana e não fosse verossímil, então Sakura estava cometendo o seu maior erro como hokage. E sua obrigação seria a de levar isso para os anciões decidirem.

A única certeza de que tinha era que aquele caixão não continha o corpo de Naruto, e que ele não sabia onde ele estava.

Que chateação aquilo ia acabar se tornando...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sonho Renascido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.