Problemáticos escrita por Ghostwriter


Capítulo 5
Terra e Tinta pt 1


Notas iniciais do capítulo

Continuando a história aqui. Esse capítulo é apresentado pela perspectiva do Castiel. Castiel fala um pouco xingando, então estejam avisados. Espero que vocês gostem.



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Castiel POV

 

Sábado de manhã me levantei e levei Dragon para caminhar no parque, já que durante a semana eu estava ocupado com os ensaios da banda, a doida da diretora no meu pé e Hugo e a irmã estranha dele. No caminho pensei na semana, me distraí e acabei indo parar perto da casa do Lysandre. Não tinha mesmo nada melhor pra fazer então toquei a campainha da casa dele. Quem abriu a porta foi Rosalya.

— Você não tem casa não? - Provoquei.

— Hilário, você devia desistir da música e virar comediante. - Ela resmungou, abrindo a porta para mim. - Lysandre está no jardim. 

— Valeu. 

Entrei na casa, o cheiro de chá e pão fresco se espalhava pela casa inteira. Leigh me cumprimentou com a cabeça quando passei por ele na cozinha para sair pela porta dos fundos que dava no jardim. Dragon correu pela porta aberta em direção ao lado de fora, espantando as pombas do jardim.

— Você toma café conosco? - Leigh perguntou.

— Eu topo.

Leigh colocou uma xícara de porcelana branca com chá dentro e um pedaço de pão com geleia de amora, num prato também de porcelana, na mesa. Peguei a xícara e o pão, deixando o prato para trás e indo em direção a porta. Do lado de fora, Dragon comia frutas do chão e Lysandre segurava um coelho nos braços. 

— Você não costuma acordar tão cedo, o que aconteceu? - Lysandre disse.

— Queria sair de casa, só isso. 

— A nova moradora é tão péssima assim? - Ele perguntou, colocando o coelho num cercado, com comida.

— Pra falar a verdade eu só falei com ela no primeiro dia. Não fede nem cheira. 

— E como está Hugo? 

— Parece que ainda mais atrapalhado. Pelo que eu entendi agora ele faz mais hora extra pra poder sustentar a irmã também. 

— Cuidar dos irmãos mais novos é um trabalho em si só às vezes… - Leigh disse, surgindo da cozinha com Rosalya abraçada a sua cintura. 

— Estou curiosa pra saber dessa irmã! Como ela é? Ela é bonita? Ela gosta de moda? - Rosalya perguntou. “Fofoqueira”

— Normal. Pelo jeito que ela se veste eu não diria que ela é a maior fã de moda não. - 

— Mas como ela é então? Altura, cor do cabelo, essas coisas… - Rosalya insistiu. Pensei sobre. 

— Bom, o cabelo é cacheado e escuro que nem o do Hugo. Acho que é da sua altura, Rosa. Você deve ter visto ela andando com Iris e os gêmeos.

Rosalya pareceu pensar sobre, então seu rosto ficou claro.

— Eu sei que é! Ela é uma gracinha, mas realmente eu só vejo ela andando de roupa larga. Nem sei como ela consegue fazer isso aqui, com esse calor. Você precisa nos apresentar! Nós devíamos ir lá hoje. Leigh, aproveite que você queria perguntar sobre o aplicativo da sua loja pro Hugo. 

— Era só o que me faltava. Quem disse que eu quero vocês lá?

— Que frieza, Castiel… - Disse Lysandre, rindo.

— Nós não vamos pra ver você! Vamos pra ver Hugo e a irmã. - Rosalya respondeu irritadinha. - Como é o nome dela mesmo?

— Katrina. Se é só curiosidade é só esperar até segunda. Ela anda com um triciclo amarelo com pompons vermelhos que o Hugo arranjou naquela feira de cacarecos que nós fomos nas férias. Não dá pra não ver. 

— Katrina? Ah sim, eu me lembro de quando Hugo falava da irmã. - Leigh disse. Aparentemente todos estavam ignorando a parte em que eu disse que não queria ninguém em casa. 

— Olha, eu não vim aqui ficar falando da irmã alheia. Lysandre, eu quero falar com você sobre os ensaios da banda. 

— Muito bem então, vamos lá no meu quarto, acho que meu bloco de notas ficou lá. Acho… - Lysandre respondeu. 

Dragon continuou no jardim, Rosalya me olhou com censura por não dar mais detalhes da Katrina e Leigh tentou distraí-la falando algo sobre a sua loja. Eu e Lysandre passamos pela cozinha, pela sala e descemos a escada para a garagem, que foi convertida em um quarto para ele. A garagem era o melhor lugar, na minha opinião. Tinha uma janela grande que dava para a rua e de onde dava para ver o parque, há alguns quarteirões de distância, e por onde entrava bastante luz. A parede de tijolos expostos, pintados de branco e coberta de quadros e estantes de livros eram altas e faziam o lugar ter uma acústica interessante. 

— Pois bem? O que você queria falar? - Lysandre disse, enquanto buscava com os olhos o bloco de notas no quarto. 

— Eu consegui as chaves do porão da escola. A acústica lá é melhor que aqui e depois que a escola fecha ninguém vai ouvir a gente lá. 

— Eu nem vou perguntar onde você achou essa chave. Mas é certeza que não vamos ter problemas? 

— E quando foi que eu arranjei problema? - Ri com sarcasmo. Lysandre riu também.

— Falando em problema, por que a diretora estava atrás de você essa semana? 

— Você conhece a velha. Ela inventa de ficar levando aquele cachorro dela pra escola e daí ele foge e ela acha que todo mundo tem que parar tudo pra ajudar. 

— Só isso? - Ele perguntou desconfiado. 

— Bom, ela me pegou brigando com a Debrah no primeiro dia de aula. A Ambre fofoqueira contou pra diretora que a gente tava brigando, acho que ela achou que ia dar problema pra Debrah porque ela não estuda mais lá, mas eu que me fodi. - Resmunguei, caindo numa poltrona lilás.

— Debrah? O que ela estava fazendo na escola? - Ele arregalou os olhos. 

— Eu chamei ela. Não me olhe assim. Eu queria conversar sobre umas músicas que ela quer gravar e eu ajudei a escrever. Ela riu da minha cara e disse que não vai dar nada, eu nem tenho como provar que eu ajudei a compor. Desgraçada. Bom, daí nós brigamos, a diretora apareceu do nada, levei uma advertência no primeiro dia de aula e esbarrei na irmã do Hugo, que quase deixou meu cachorro fugir. 

— Um grande primeiro dia, você se superou.

— O que eu posso dizer? Eu tenho um verdadeiro talento pra atrair atenção. Por isso que eu sei que a nossa banda vai se dar bem.

Conversamos sobre a banda, sobre uma nova música que ele estava escrevendo, sobre a escola e sobre as férias. Lysandre era esquecido mas era uma pessoa divertida. Quase 11h da manhã eu decidi voltar pra casa, já que tinha que levar Dragon de volta. Dragon estava deitado no pé de Leigh, enquanto ele costurava alguma coisa na máquina de costura no canto da sala. Rosalya surgiu da cozinha e me disse que, sem falta, eles iriam em casa ainda naquele dia. Bufei. Não era muito fã de gente, especialmente em casa. Hugo era ok porque nem ficava em casa, já que era um workaholic, Katrina não parecia ser lá muito barulhenta até aquele momento mas só de saber que ela estava lá não era a mesma coisa de estar sozinho realmente. “Bom, não se pode ter tudo”. No caminho de volta passei pela farmácia. Decidi comprar uma caixa nova de tinta para cabelo e descolorante, já que as minhas raízes começaram a crescer escuras de novo. Dentro da farmácia encontrei a irmã do Hugo, comprando alguma coisa no balcão. 

— Ah, oi. - Disse ela, recolhendo a sacola.

— E ai? - Respondi, acenando a cabeça.

— O senhor não pode entrar com o cachorro, aqui é uma farmácia, pelo amor de Deus! - Guinchou uma senhorinha surgindo do fundo da loja. O farmacêutico concordou com ela.

— Você… quer que eu compre? - Katrina perguntou. - Eu posso comprar o que você precisa, só preciso do dinheiro. 

— E se eu quiser comprar alguma coisa constrangedora? - Provoquei. 

— Olha, não é muito da minha conta. Eu posso segurar o Dragon lá fora também. Como ele me conhece acho que não vai ficar arisco.

Entreguei a coleira pra ela, meio em dúvida se ela aguentaria caso Dragon desse um puxão. Seria engraçado de qualquer forma, então apenas deixei estar. Na pior das hipóteses eu compraria uma caixa de curativos, já que estava na farmácia mesmo. Entrei na farmácia e comprei o que precisava e assim que saí vi Dragon puxar Katrina quando viu um cachorro do outro lado da calçada. Ela tentou segurar a coleira, mas Dragon foi mais forte e a derrubou no chão, arrastando a menina por alguns segundos antes de ela soltar a coleira com um grito. Pelo menos ela estava de calça. Corri para pegar a coleira, antes que ele pudesse correr muito longe ou ser atropelado. 

— Você é fraquinha mesmo né? - Disse quando voltei. Ela estava abraçada aos joelhos, os olhos fechados com força e apertando os lábios, com dor. A calça estava rasgada na altura dos joelhos e da pele morena o sangue saía em gotas vermelhas da cor do meu cabelo.

— Eu não imaginava que ele ia dar essa do nada. - Ela respondeu. A voz quase como um gemido de dor. 

— Você consegue levantar? Toma. - Entreguei uma nota pra ela. - Compra um curativo pra você.

—  Além de tudo eu que tenho que ir?! 

— E você quer que eu vá? Se eu for você tem que ficar com ele, você vai aguentar se ele der outro puxão? 

Ela pareceu considerar. Se levantou com dificuldade, pegou a nota da minha mão e foi devagar para a farmácia. O farmacêutico a fez sentar e pegou os curativos e um antisséptico, ela entregou o dinheiro e passou o antisséptico nos joelhos, limpando com uma gaze que o farmacêutico entregou e cobriu com curativos.

— Você me deve uma calça nova, viu?! - Ela disse, saindo da farmácia. 

— A culpa não é minha que você estava dando mole! Dragon não costuma fazer isso.

Ela franziu a testa. Falou algo baixinho.

— O que foi? - Perguntei.

— Quem ouviu, ouviu. - Respondeu.

Voltamos pra casa em silêncio, com as ocasionais latidas de Dragon e alguns gemidos baixos de dor dela. Em casa, Dragon deu a volta na casa e foi brincar no quintal. Katrina subiu a escada com altos gemidos exagerados, talvez pra me fazer sentir culpado. “Ela é exagerada que nem o Hugo”.

Fui para o meu quarto e tomei banho. Sai do banheiro com a toalha enrolada na cintura e sequei o cabelo com o secador da minha mãe. Com ele seco, misturei o pó descolorante com água oxigenada e passei nas raízes escuras do cabelo. A raiz era o pior, com certeza. O couro do cabelo ardia e o cheiro do pó não era tão bom quando fritava o cabelo. Quando a raiz estava clara o suficiente enfiei a cabeça debaixo do chuveiro e lavei o cabelo, tirando todo o produto. Por fim, apliquei a tinta vermelha no cabelo inteiro, já que as pontas começavam a perder a cor.

Tudo sob controle até ouvir batidas frenéticas na porta e um arranhado na porta, que devia ser Dragon. Abri a porta e Dragon pulou em mim com as patas sujas de terra do quintal e me derrubou. 

— O que tá acontecendo com você hoje, cara? - Perguntei, empurrando a sua cabeça cheia de terra e baba de perto do meu rosto. A tinta vermelha tinha manchado o tapete e uma parte do lençol azul, quase como sangue. Dragon, claro, não me respondeu. Decidiu que era uma ótima ideia puxar a toalha da minha cintura. O barulho de uma porta abrindo e passos rápidos me fez perceber que a porta ainda estava aberta. Estendi o braço pra fechar a porta enquanto puxava a toalha de Dragon.

— O que foi esse barulho? - Katrina apareceu na porta, alerta. Fechei a porta na cara dela, antes de Dragon arrancar a toalha. Ouvi sua voz abafada pela porta, rindo. - Pois bem feito, o karma funciona ao que parece. 

“Abusada!”. Dragon pulou com o barulho da porta e largou a toalha. 

— Você é abusado também! E imundo! - Dragon abaixou as orelhas. Ele sabia que imundo queria dizer que o banho estava próximo. - A sua sorte é que hoje eu pintei o cabelo.

No fim do dia, a campainha tocou. Lembrei que Rosalya tinha dito que eles viriam conhecer a irmã do Hugo. Suspirei irritado. “Não tenho um minuto de paz nessa casa”. Desci para abrir a porta pra eles, de má vontade. Dragon corria no quintal, alegre, então não me preocupei em segurá-lo.

— E aí, gatinho? 

— O que diabos você tá fazendo aqui, Debrah? 


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Notas finais do capítulo

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