Era Mesmo Má Ideia - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 1
Capítulo Único - Pior Que Era Mesmo Uma Má Ideia




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Manter uma pose pode se tornar facilmente um costume, mas fazer isso o tempo inteiro é mais cansativo do que se possa imaginar. Maria Joaquina sabia muito bem disso.

Agora mesmo ela estava sentava na cadeira da frente na fileira bem ao centro da sala, os ombros retos e o nariz erguido de leve, sua expressão era a mais neutra possível, quase como se estivesse entediada ao ouvir a explicação da professora Helena. Mas sua vontade era desviar o olhar para uma cadeira atrás e ao lado, onde Carmen estava sentada com aquele par de óculos idiota que só fica ficava bem nela, os cabelos castanhos levemente ondulados que mesmo não tendo nenhum cuidado especial eram lindos e macios, o uniforme perfeitamente alinhado e o sorriso miúdo que ela sempre carregava nos lábios finos e bem desenhados, cobertos por um simples gloss cor de rosa muito barato.

Aquela garota estava dominando seus pensamentos há treze dias. Longos e torturantes treze dias. E isso estava levando Maria Joaquina a um quase surto, porém apenas interno, é claro que não demonstraria suas inseguranças para ninguém.

Mas você dever estar se perguntando o porquê disso.

Bem...

Quase duas semanas antes...

Maria Joaquina havia convidado Carmen para ir a mansão dos Medsen com a desculpa de fazerem o dever de casa juntas, mas as duas eram super inteligentes e resolveram a lição em no máximo quinze minutos, ganhando assim a tarde inteira para fofocar, ouvir música e fazer o que mais estivessem a fim.

— ...falando sobre aminoácidos e vitaminas sem parar e um lado de mim só queria dizer “cala a boca e só me beija, pelo amor de Deus” enquanto o outro tava morrendo de medo dele fazer isso porque, né? Zero experiência. Vai que eu mando mal. — Carmen contava sobre como foi fazer um trabalho em dupla alguns dias antes com um garoto por quem tinha um forte crush, ao mesmo tempo se analisava no espelho com as roupas da amiga que estava experimentando.

— Nossa, esse vestido ficou perfeito em você. — Maria Joaquina comentou passando as mãos pela cintura dela, dando uma última ajeitadinha. — Eu entendo e muito esse seu medo. Você sabe que estou esperando o cara certo pra dar meu primeiro beijo, mas o lado ruim é que quando ele chegar eu não vou ter prática nenhuma pra garantir que vai ser bom.

— É. Uma pena que não tem como treinar essas coisas. — Carmen lamentou se virando de costas para ver como ficava o caimento do tecido atrás.

— Hm. Até que não é má ideia. — Maria Joaquina murmurou em tom pensativo.

— Que ideia? — indagou, olhando para a amiga com as sobrancelhas franzidas.

— Veja bem... Você é minha melhor amiga e sabe de coisas sobre mim que nem o meu terapeuta sabe, certo? — começou a linha de raciocínio.

— Correto. — Carmen respondeu sem relaxar a testa ainda.

— E imagino que a recíproca é verdadeira, certo? — continuou, se sentindo corar antes mesmo de chegar aos finalmentes.

— É, com certeza. — concordou cruzando os braços, curiosa sobre do que isso se tratava.

— Então nós duas sabemos que não sairia daqui se por um acaso decidíssemos adquirir ao menos um pouquinho de experiência. — conforme as palavras iam saindo de sua boca, Maria Joaquina ficava cada vez mais e mais vermelha. — Sabe? Com a ajuda uma da outra...

— Está sugerindo o que eu acho que tá sugerindo? — os olhos de Carmen se arregalaram no mais puro e genuíno choque.

— Sugerindo não, estou propondo mesmo. — Maria Joaquina sabia bem como parecer firme ainda que suas mãos estivessem trêmulas de nervoso.

— Você misturou whisky naquele energético que estava bebendo ou só ficou maluca de uma hora pra outra? — Carmen ficou tão constrangida com aquela ideia que voltou para o closet apenas para fugir da conversa.

Maria Joaquina fechou os olhos e respirou fundo um instante antes de ir atrás dela. — Só... Pensa nisso por um minuto, ok?

— Eu só preciso pensar por um segundo pra saber que essa é uma ideia estúpida. Não acredito que você está mesmo cogitando abrir mão do seu primeiro beijo perfeito com o garoto perfeito pra ficar... Treinando comigo. — resmungou enquanto tirava o cinto e o vestido alheio.

— Eu não vou considerar isso como o meu primeiro beijo. Você é menina! — resmungou de volta, disfarçando que se sentiu estranhamente nervosa pela amiga estar seminua naquele contexto. — É como fazer alguns testes em simulador na autoescola antes de tirar a carteira de motorista. E vai ser totalmente um segredo nosso. Você não quer perder o seu medo de mandar mal? Vai ser bom pra nós duas ter uma base. Além do mais, se for pra beijar uma garota um dia, prefiro que seja você.

Carmen deixou um sorrisinho tímido tomar seus lábios. — Sério?

— Claro. Você é minha melhor amiga e... Sempre soube que você era bonita, mas nunca tinha parado pra reparar no quanto. — aproveitou-se de tê-la deixado lisonjeada para amaciar seu ego e assim convencê-la. — Prometo que não vai ser nada de mais. Topa?

— Ainda acho uma ideia idiota, mas eu confio em você o bastante pra fazer se for o que você realmente quer, mas... — Carmen ergueu o mindinho, propondo o pacto mais sagrado já criado pela humanidade. — Isso nunca, jamais, sob nenhuma circunstância sai daqui.

— Sim, com certeza. — respondeu entrelaçando o próprio dedo no dela.

— Certo... — murmurou contradizendo seu sentimento de incerteza. — E então... Como a gente faz?

Maria Joaquina fez um expressão pensativa, mas logo deu de ombros. — Acho melhor a gente começar pelo básico, já que nenhuma de nós tem experiência. Que tal um selinho longo?

— De acordo.

As duas se aproximaram, suas respirações aceleraram de leve só pelo nervosismo e pela expectativa. Maria Joaquina tomou a iniciativa de pôr uma mão na cintura de Carmen e com a outra fez um carinho de leve em seu rosto antes de aproximar e unir seus lábios de vez, fazendo uma leve pressão.

— Bom... Eu não senti seus dentes, acho que isso é uma coisa positiva. — concluiu sem afastar muito suas bocas ao fim do beijo.

— É. Foi... Surpreendentemente agradável. — Carmen concordou.

— Ah, então você esperava que eu beijasse mal. — Maria Joaquina brincou, dando um soquinho no ombro da amiga.

— Não é isso, sua boba. — resmungou sorrindo e empurrando-a de leve também. — Eu só não sabia o que esperar, mas até que foi legal. E agora?

— Vamos continuar devagar. Beijo de boca aberta, tudo bem? — propôs com um sorriso carinhoso.

Carmen respirou fundo e acenou positivo com a cabeça, dessa vez colocando os braços ao redor do pescoço de Maria Joaquina, deixando aquele momento mais íntimo. Seus lábios se tocaram mais uma vez, agora se encaixando devagar e se abrindo lentamente. Era macio e tão delicado o jeito que suas bocas se acariciavam, o beijo as envolveu rapidamente de forma que nenhuma das duas poderia imaginar.

— Isso foi... Bom. — murmurou baixo, abrindo os olhos devagar.

— É verdade. Até que estamos nos saindo bem pra uma primeira vez. — Maria Joaquina falava com mais confiança, mas estava tão corada quanto a outra garota. — Então... Você quer treinar isso mais um pouco ou arriscar e tentar com a língua?

— Ah, isso é treino, acho que podemos nos aperfeiçoar antes de ir adiante. — respondeu tentando disfarçar que estava nervosa para o próximo passo.

— Tá bom, vamos continuar sem língua mais um pouco. — concordou tentando disfarçar o alívio, pois também não se sentia pronta.

E assim foi por alguns minutos, elas se beijaram mais umas cinco ou seis vezes até que ambas se considerassem prontas para tentar subir o nível mais outra vez.

Foi Maria Joaquina quem tomou a iniciativa de tocar o lábio inferior de Carmen com a língua suavemente, como um pedido educado de passagem ao qual ela cedeu abrindo um pouco mais a boca. E então suas línguas se tocaram por fim e ambos os corpos estremeceram. Foi tão natural que mal parecia ser a primeira vez; claro que as garotas estavam indo devagar e sendo cautelosas, mas ao mesmo tempo elas se exploravam com curiosidade e vontade, as mãos de Maria Joaquina deslizavam devagar sobre a pele da cintura e costas de Carmen que por sua vez enterrava os dedos entre os cabelos castanhos, macios e cheirosos, vez ou outra passando suas unhas curtas de leve pela nuca alva, fazendo-a arrepiar.

— Estamos progredindo bem. — disse Maria Joaquina, se afastando alguns centímetros e respirando fundo para acalmar o coração disparado.

— Sim, então não para agora. — mas Carmen já estava tão envolvida que não queria ir com calma, ela puxou a amiga pela nuca e voltou a beijá-la.

Não foi difícil Maria Joaquina se deixar levar também. Na verdade, foi até fácil demais. Uma parte de sua mente estava desligada demais para se lembrar que Carmen não usava mais que a calcinha e o sutiã, a outra, mais inconsciente e instintiva, desejava estar com menos roupas também para que toda sua pele tivesse o mesmo deleite que suas mãos e braços sentiam ao ter um contato direto com aquele corpo tão lindo e macio.

Depois de um tempo ela, sem pensar muito no que estava fazendo, empurrou a amiga contra as prateleiras de seu closet, deixando o beijo cada vez mais intenso. E Carmen pareceu aprovar bastante, pois continuava a lhe arranhar a nuca e puxá-la para si. Ambas agiam quase como se quisessem se devorar.

Mas então algo inesperado aconteceu. Nesse desejo de sentir e querer quase se fundir uma a outra, a perna de Maria Joaquina acabou escorregando por acidente para entre as pernas de Carmen, fazendo com que sua coxa se esfregasse no centro quente por cima da calcinha.

Carmen fechou os olhos com mais força e um gemido baixo subiu por sua garganta ao mesmo tempo que suas unhas involuntariamente cravaram nos ombros dela, fazendo-a soltar um gemidinho também, esse misturando dor e um certo prazer.

E foi nesse momento que Carmen caiu em si, empurrando a amiga para longe de si.

— O que foi? Eu fiz algo errado? — Maria Joaquina perguntou atordoada.

— Não! Não, você... — Carmen murmurou ofegante, não conseguia olhá-la nos olhos. — Você não fez nada. Só acho que já tá bom por hoje. Pra um primeiro dia, foi um treino bem... Interessante. Mas chega.

— É, tem razão. — respondeu, sorrindo corada. — Parabéns, você foi muito bem.

— Você também. — antes Carmen se sentia quente de desejo, agora se sentia fervendo de vergonha. — Se importa de me dar licença um minuto? Preciso me vestir.

— Claro que não, fica à vontade.

Só alguns segundos depois de sair do closet a euforia do beijo passou e Maria Joaquina caiu em si. Ela ficou excitada beijando uma garota. Muito excitada. E ela não tinha certeza por que foi muito rápido, mas ela podia jurar que sentiu o tecido levemente úmido quando sua coxa roçou o centro de Carmen por cima da calcinha. E pensar nisso fez com que seu próprio centro pulsasse e um suspiro involuntário escapou por seus lábios. Precisava de um banho.

Agora

Desde então seu interior estava uma bagunça. Carmen já havia perguntado se elas iriam “treinar” outra vez, mas ela ainda não havia dado uma resposta definitiva e estava evitando que ficassem sozinhas de novo. Durante a semana chamava outras amigas para irem junto para sua mansão e para sua sorte seus pais fizeram uma viagem no fim de semana e Maria Joaquina disse que precisava ir junto, embora tenha sido ela a pedir para acompanhá-los.

Claro que ambos estranharam, pois como qualquer adolescente na face da Terra, Maria Joaquina adorava ficar com a casa só para si. Porém não viram problema em levá-la.

A verdade era que queria beijá-la de novo, queria de verdade. E o que mais a assustava era pensar não só sobre o que isso queria dizer, mas em outros sinais que não havia percebido antes ou que estava ignorando há um bom tempo.

Ela sempre disse que estava esperando o cara certo para dar seu primeiro beijo, alguém que lhe desse borboletas no estômago e a fizesse desejar esse momento com todas as forças, o único digno de ser o seu primeiro namorado.

Mas... Quem seria esse tal “cara certo”?

Maria Joaquina era uma Medsen, ou seja, frequentava só os melhores círculos sociais e já havia ido por praticamente todo o país e feito até uma ou outra viagem internacional, onde conheceu todos os tipos de garoto. Ricos, bonitos, charmosos, inteligentes, atléticos, simpáticos, talentosos... Literalmente todos os tipos e sempre que pensava ter encontrado um cara perfeito, sua mente logo tratava de colocar algum defeito nele, por mínimo que pudesse ser.

Certa vez ela desistiu de sair com um inglês cheio de charme só por ter unhas bem feitas demais para um homem, o que, parando para refletir, foi uma desculpa muito ridícula para não ir a um encontro.

E agora estava ali, louca por outro beijo de sua melhor amiga.

Não era como se não conseguisse ver defeitos em Carmen, mas nenhum deles parecia importar muito quando pensava naqueles lábios deliciosos cobrindo os seus ou naquela pele macia sob seus dedos, só queria beijá-la de novo e de novo até não ter mais fôlego.

Por isso precisava evitá-la. Era uma Medsen e tinha que seguir o check-list: conhecer um rapaz rico de boa família, namorar por pelo menos um ano antes de perder a virgindade, casar com ele ao final da faculdade e construir uma bela e tradicional família, tendo os filhos perfeitos e morando em uma casa perfeita. Não podia se dar ao luxo de se apaixonar por outra garota, e ainda mais uma “plebeia” como Carmen Carrilho.

E como não tinha certeza de que podia se controlar, o melhor era tirá-la de sua vida.

Com esse pensamento em mente e o coração em pedaços, Maria Joaquina finalmente se permitiu sair da pose um instante e lançou um olhar para Carmen, por coincidência no mesmo instante em que ela estava olhando também.

E assim que suas íris se encontraram, Carmen sorriu.

Talvez afastá-la fosse mais difícil do que Maria Joaquina pensava.


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