Como se fosse mágica escrita por Anna Carolina00


Capítulo 3
O grande truque




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O grande Truque

 

Nada trazia tanta satisfação à Hermione quanto ver a expressão de surpresa de Fred Weasley. Foi assim quando crianças, foi assim em seu reencontro. 

Era impossível negar como se afeiçoou ao ruivo logo na primeira noite, na primeira troca de sorrisos. As escapadas aos olhos dos pais lhe renderam bons momentos juntos… Foi ele que lhe apresentou a sensação deslumbrante de perder o fôlego voando pelos céus com os tecidos no picadeiro; que lhe ensinou a segurar firme no trapézio e se deixar levar pela gravidade, sentir o frio na barriga e, num misto de loucura e liberdade, se soltar para cair… Numa cama elástica, é claro. 

Ali a morena se sentia livre, palavra que aqui se aplica em múltiplos significados: se sentia senhora de si e de suas ações, capaz de escolher o que fazer sem medo; sentia que não estava sob o jugo de ninguém, que não precisa seguir as ordens de outrem, como seus pais; e sentia, mais do que tudo, a liberdade na sua forma mais pura: sem estar presa ao chão, de olhos fechados, seu corpo flutuava como se apenas a brisa acompanhasse seus movimentos.

Livre, o que Hermione definitivamente não era e tinha plena consciência disso. Mas enquanto lia as histórias de Fred e os Weasley viajando pela Europa…Era capaz de se enganar o suficiente para ter a mesma sensação de liberdade enquanto estava no internato.

 

—Hermione! Querida! Você não vai acreditar na excelente notícia… Seus testes, você foi explêndida!

E com o sorriso típico de sua professora de boas maneiras, Dolores Umbridge, a jovem logo descobriu que não voltaria para casa. Mais que isso, não era permitido comunicação externa às interinas, isto é, sem cartas. Sem Fred.

 

—Hermione… Querida…Não sei como lhe dizer isso, mas… Seus pais… -Com olhos marejados e braços abertos, sua professora de arte(e astronomia), Minerva Mcgonagall, revelou que seus pais foram convocados para a equipe médica da recente  1ª Grande Guerra nos limites de londres… - …Sequer chegaram à base militar. Os transportes foram bombardeados por zepelins, ninguém sobreviveu.

 

Diferente de suas ideias inocentes de liberdade, naquele momento Hermione se sentiu absolutamente sozinha.

 

Um tio distante assumiu as finanças, vendeu a fazenda para pagar seus estudos e logo lhe arranjou um casamento com um jovem de um família enriquecida pela mesma guerra que levou seus pais. Draco Malfoy. Guerra, é claro, é um negócio muito lucrativo a quem não está de fato em combate.

Hermione sabia o que fazer, como se portar, como cuidar de um marido seguindo as regras a qual foi treinada. Nunca mais teve contato com os Weasley, a liberdade se tornou apenas mais um sonho distante na infância.

 

Assim seria, se o destino, o acaso, ou mesmo muita sorte, não tivesse colocado uma cabeleira ruiva em seu caminho dez anos depois, apesar de não ser a cabeleira que tanto sentia saudades.

 

***

Lucius Malfoy parecia sedento para encontrar a nora. Vingança, desejo e sadismo enquadrados em um olhar completamente maléfico.

Seguiu seus capangas até o estacionamento onde um trailer puxado ainda por cavalos estava com as portas abertas. Weasleys. É claro que um bando de ciganos marginais não teriam carros de verdade, assim o lorde pensava.

Uma jaula. Um leão. Uma jovem de cabelos castanhos montada no animal.

—A gente… Não… Não conseguiu tirar ela daí, mas o Goyle sabia conduzir cavalos,né… Aí só…

—CALADO! - um grito foi o suficiente para silenciar o local e toda a atenção se voltar para o loiro -  Boa noite, minha cara nora. Estou surpreso de descobrir suas habilidades circenses… Até mesmo uma montaria exótica como essa?Claro que eu já havia reparado em sua curiosa maleabilidade…

Um dos capangas tossiu e isso foi o suficiente para que Malfoy ordenasse que fossem deixados a sós. Precisava ter uma pequena reunião familiar com sua… nora.

—Continuando… Eu já imaginava algumas dessas habilidades… - o loiro comentava enquanto lambia os lábios de um jeito grotesco - …Um belo par de pernas como esse, os quadris, os s… Era de esperar que soubesse se contorcer para um truque de mágica, não nego. Mas não achei que usaria esse tipo de truque comigo, não depois de nos divertirmos tanto essa manhã, Hermione.

Um silêncio desconfortável surgiu como uma pausa densa. Milésimos de segundos, mas o suficiente para a pressão forçar a morena a abaixar o rosto, gerando uma expressão triunfal no loiro.

—Oh, achou que eu não perceberia? Sua tentativa vulgar de me seduzir para me trazer a esse show desprezível? De querer usar as joias de minha falecida esposa para representar a “glória” dos Malfoy? Por favor, sua vadia tola!! É claro que imaginei que tentaria me dar um golpe! Era evidente que alguém da sua laia se aproveitou da inocência do meu querido Draco. Mas ele estava feliz, eu não poderia simplesmente te matar e escolher uma esposa melhor para ele…Esse foi meu único arrependimento. Se eu o tivesse feito logo, você não teria a chance de fazê-lo primeiro… Meu… Pobre Draco… Enfeitiçado por uma traiçoeira como você!

O loiro tocou por um segundo na jaula e já foi suficiente para o leão rosnar revelando sua arcada dentária deslumbrante, uma perfeita máquina de matar. O suficiente para afastar o intruso da sua jaula.

—Calma, Arnaldo!

Mais uma vez, silêncio. Agora, com notas menos densas e mais… Humoradas, sarcásticas. Como se uma luz se acendesse na mente do Lorde Malfoy.

—Você não é a Hermione…

Uma constatação pasma.

—Dois fatos para você, seu velho nojento: primeiro… Hermione não é uma vadia tola. Eu diria que seria pelo menos uma  vadia genial. Segundo… - a morena tirou a máscara arremessando-a para frente em direção às barras - A jaula está aberta, otário.

Com um delicado aperto de pés, o leão rugiu e saltou, abrindo a jaula e concedendo a devida liberdade para a jovem Gina Weasley, agora retirando sua peruca revelando seus clássicos fios escarlates.

Malfoy, caído no chão, ainda se preparou para apontar uma arma para a criatura, com as mãos tremendo.

—Se eu fosse você, nem tentaria… Arnaldo aqui já comeu um cavalo inteiro mesmo depois de levar 5 tiros na época do treinamento dele. Essa bala aí? Vai fazer cócegas nele…E se eu fosse você, voltaria correndo para casa. Com sorte, Hermione deixou alguma migalha no cofre que você teve a gentileza de lhe mostrar como se abre essa manhã… Desejo-lhe boa sorte e um belo vá a merda, lorde Malfoy!

E com uma última saudação, a Escapista escapou mais uma vez, cavalgando em seu querido leão de estimação, deixando uma Londres completamente alvoroçada pelo caminho em que passava até encontrar o Excêntrico Jorge no caminho.

—Belos dentes, mano.

— Um mágico faz de tudo para guardar seus segredos… - o ruivo subiu às costas do leão e fez uma última pergunta antes de continuarem a cavalgar - Será que ela conseguiu?

— Saberemos quando chegarmos lá.

 

***

 

Voltando no tempo, mais uma vez, a história segue para o grande truque do espetáculo: 

a morte do mágico!

Depois de tantos truques mirabolantes, o público não se contentaria com um truque simples como tirar o coelho de uma cartola ou mesmo algo cheio de aparatos tecnológicos como o teletransporte humano. Não… Eles precisavam de mais intenso, mais orgânico, mais… fatal.

 E é com esse pensamento em mente que um Weasley trás para o palco  palco o último adereço: uma corda pendurada, mais precisamente, uma forca.

—Senhoras e senhores… Agora chegou o momento que todos esperávamos. Precisamos saber se nossa querida assistente conseguiu de fato alcançar os domínios da mágica. Para isso, terá de me trazer de volta à vida!

Fred entrega sua própria varinha para Hermione, o sorriso em seu rosto era inegavelmente mais apaixonado, afinal de contas, agora ele tinha certeza que era ela.

O truque exige uma iluminação focada na forca. É para o Extraordinário que todos olham quase sem respirar, ansiosos para verem um milagre diante de seus olhos…Não estão felizes por verem a morte de alguém, mas pela expectativa de serem iludidos, ao menos um pouco, com a ideia de que humanos podem superar a barreira entre a vida e a morte.

Apenas passos eram ouvidos, no resto reinava o silêncio.

O mágico posiciona sua cabeça e segura a corda com suas mãos enquanto é erguido… 

Então se solta.

A plateia estremece.

Seu corpo se debate em busca de ar.

A assistente atônita, sem saber o que fazer, toca a barra de sua roupa escarlate suspensa.

—Você não disse…Fr…Senhor Extraordinário! O que preciso dizer? O que preciso fazer?!

Silêncio, de novo.

Um tom mórbido dessa vez.

Ainda que no fundo todos soubessem que é um truque…Era impossível não se comover. Ali, diante de seus olhos, jazia um homem morto.

A assistente, então, lembra da varinha em suas mãos e a agita em direção ao mágico, mas sem saber o que falar, apenas esperando o milagre acontecer por si só.

Ouve-se da plateia:

—Pateta! Chorão! Desbocado! Beliscão! 

Então outros recitam as mesmas palavras. Logo aquilo se torna um couro e o holofote também ilumina a assistente como se cobrasse da mesma uma reação, até que a mesma levanta a varinha e o público se silencia:

—Pateta…Chorão…Desbocado…Beliscão! 

A varinha explode em uma bomba de fumaça ao redor do mágico.

A corda se rompe e a assistente corre em direção aonde o corpo deveria cair, mas quando a fumaça se desfaz, o palco está completamente vazio, apenas a corda deixada para trás.

—E é assim que se traz um mágico de volta à vida!

Todo o público olha para trás e lá está ele, Fred, o Extraordinário, nos braços da assistente caminhando da entrada do circo em direção ao palco com o ambiente completamente preenchido por palmas e gritos eufóricos. 

O show, é claro, foi um sucesso!

Nos túneis abaixo do palco, enquanto Fred voltava para os bastidores para tirar os ganchos de sua roupa que o mantiveram vivo durante o espetáculo, Hermione corria para outra saída, aquela que a levaria direto para as ruas.

Tudo estava planejado, logo o aristocrata notaria seu sumiço e lhe procuraria. Enquanto lhe ganhavam tempo, a morena voltou para a mansão que um dia imaginou poder chamar de lar… 

…E até chegou a soar como um. Draco Malfoy era, apesar das aparências, um homem bom. Indesejava aquele casamento arranjado tanto quanto Hermione Granger. Seus sentimentos pertenciam a outra pessoa, assim como os dela; e nessa cumplicidade, tornaram-se amigos. Aliados. Cada um desejando uma liberdade inalcançável… Até que Draco pegou gripe espanhola. Sem poder ver o homem de sua vida uma última vez, o loiro fez sua companheira prometer que não definharia ali, como ele. Ela precisava encontrar uma rota de fuga, devia fazer isso  pelos dois.

 

 Sem receio ou peso na consciência, pegou até a última pepita de ouro, até o mais singelo diamante… Como Lucius Malfoy não confiava em bancos, conseguiria deixar o magnata alguns milhões mais pobre. Se a Guerra lhe tirou o que restava de sua infância, soava justo à morena que retirasse do Malfoy tudo que ele ganhou com ela.

 

—Hermione…

Ouviu a janela do quarto se abrindo. Ela não estava mais sozinha…Mas ao se virar, seu rosto não demonstrava medo ou raiva.

—Fred!

Por um segundo, a troca de olhares criou um silêncio capaz de congelar o tempo. Não havia mais os sons urbanos de uma Londres acordada, não havia mobília estalando, nem mesmo o som de passos nas ruas. Só haviam Fred e Hermione. O mágico e sua assistente.

O silêncio se prolongou, de um modo que causava confusão: não deveriam estar felizes? Comemorando um reencontro onde agora realmente poderiam se abraçar? 

Talvez… Esse reencontro também signifique que enfim terão de resolver tudo o que foi acumulado, toda a angústia e dúvidas. Colocar sob a mesa toda a verdade não comunicada. Era isso que queria? Seus olhos ponderavam até que uma decisão silenciosa foi tomada:

—Senti sua falta...- Senti sua falta…

Se beijaram.

A luz da lua entrava pela janela iluminando um encontro profetizado pelas estrelas, o caçador enfim havia alcançado sua menina.



* * *

 

A cavalaria da polícia de Londres logo alcançou os grandes portões da mansão Malfoy. Lucius, em toda influência que o dinheiro e poder comprar, seguiu em sua caça às bruxas atrás de uma golpista e um bando de ciganos… Sem chamar a atenção dos jornais, é claro. Tudo não passava de uma denúncia sobre um assalto caso fossem questionados por colunistas.

O casarão já estava vazio. O salão, as pratarias, os quadros… Nada parecia ter sido alterado, exceto pelo quarto do grande magnata, onde as cobertas estavam desorganizadas e um cofre suntuoso escondido por um quadro jazia aberto e completamente vazio.

 

—Ahhhhhhhg! Quero cavalos, patrulhas, até mesmo os soldados do rei da inglaterra se forem necessários! Mas quero que encontrem esses bastardos! Vivos ou de preferência, mortos em pedaços…

 

Longe dali, sem poderem ouvir o grito do tirado ecoar sobre as paredes da mansão, dois jovens enamorados chegavam no grande píer de Londres. A neblina cobria parcialmente seus tornozelos, mas os corpos colados ferindo a moralidade alheia os mantinha aconchegados. Longe o suficiente dos bairros nobres londrinos, escondidos pelos galpões de mercadorias, poderiam, enfim, conversar.

—Como me encontrou?

—Gina é péssima guardando segredos. Ela me disse onde lhe encontrar e eu… Só vim até você. Como não me contou? Por que não me procurou? Por que ela e não… eu?

—Fred… Pelo que te conheço, sua irmã não deve ter lhe dito não mais do que poucas palavras e você já correu em disparada até mim, certo?

O ruivo parecia sem graça, mas a morena tocou-lhe delicadamente a bochecha onde haviam alguns arranhões, sorrindo.

—Gosto de você exatamente assim. Corajoso, impulsivo… Meio cabeça-dura…E estranhamente charmoso.

 Era fácil para Fred se perder naqueles olhos castanhos, pareciam mágicos…

—Hermione… Eu… Preciso de respostas, de verdade. Por favor…

A jovem se acomodou em uma caixa de comprar e indicou para que seu acompanhante fizesse o mesmo.

—Encontrei Gina em uma reunião sufragista há alguns meses atrás. Vocês estavam em uma cidade aqui perto e é o tipo de assunto que se espalha entre nós. Ela sabia tanto quanto eu como era importante fazer parte. Eu havia acabado de me tornar viúva e ver um rosto conhecido me fez eu me abrir com ela… Eu precisava fugir dali e Gina estava disposta a me ajudar… Em troca de um favor.

—Que favor?

—Você, Fred. Da chance de poder salvar você.

O ruivo lhe encarou sem entender o que ouviu.

—Gina me contou como se tornou perigoso. Criando truques, Rony foi eletrocutado, Gui foi mordido e seu gêmeo…Jorge perdeu a orelha, a sensibilidade em uma mão e ainda não pode mais se apresentar para que você pudesse ser um SUCESSO!

—Você não sabe… É sobre o show ser um sucesso, não eu! E ele concorda com isso!

— E Rony? Até onde sei, seu caçula quase abandonou o circo! - Ele correu atrás de um rabo de saia e voltou! - Sem falar que você passou a comandar o show no lugar de seu pai-Ele está velho, alguém tinha que fazer isso! - Você perdeu o controle, até exigiu que sua cunhada ficasse ruiva!- É uma marca dos Weasley! - …E desde quando é você quem dita o que é a marca dos Weasley!? - Você entenderia se tivesse família! Eu preciso mantê-lo juntos!

Quando o ruivo percebeu suas palavras, já era tarde demais. Poderia haver um silêncio cobrindo aquele momento, mas era possível ouvir as ondas do mar no píer a sua frente e as poucas lágrimas que Hermione não foi capaz de guardar.

—Eu… Eu sei que não tenho algo a proteger, como você. Mas seus irmãos tem. Eles temem por você… Temem que em um dos seus shows, o gancho falhe e você realmente morra no palco. Que você leve um tiro em algum espetáculo… Que você aguente a pressão e… Talvez termine isso você mesmo.

— É isso que eles pensam de mim? Como nunca vieram falar comigo?!

—Fred…

E numa viagem no tempo pela mente, Fred vê as várias tentativas de abordagens de seus irmãos e seus pais, tentando diminuir os riscos, ainda que isso diminuísse o sucesso. O mágico não mudava de opinião, nem mesmo com os pedidos angustiantes de sua mãe.

A sua frente, Hermione segurava suas mãos com delicadeza, como se pudesse sentir a grande bagunça que sua mente se encontrava no momento.

—Eu tenho duas passagens para um navio que sairá agora rumo aos Estados Unidos. Mundo novo, vida nova. Uma delas é para você, Fred.

O som do apito de um navio gigantesco ecoava na madrugada. Ele levaria carga e trabalhadores, mas recebeu dinheiro o suficiente para aceitar dois novos inquilinos. 

Ao longe, uma caravana guiada por cavalos se aproximava do porto. As cores vermelhas cintilantes se destacavam menos na pouca iluminação do local. Sem música, mas a pintura de um palhaço sorridente deixava a claro de quem se tratava: o circo! Os Weasley!

—Fred! Hermione!

Gina fora a primeira a sair do trailer e correr na direção dos dois, mas a toda a família para poder comprimentar verdadeiramente a miúda com quem conviveram tanto tempo no passado. Nada como um abraço grupal Weasley para acalentar mesmo os corações mais confusos.

—Aqui, sei que disseram que não aceitariam, mas por favor, levem com vocês. Será o suficiente para emergências, para estarem longe o suficiente do inferno que lord Malfoy tentar criar contra vocês.

Hermione entregou uma sacola cheia de pedras diretamente para o Patriarca. Ainda que seu orgulho lhe fizesse rejeitar, os anos de estrada lhe faziam ter certeza da utilidade daquilo. Depois do terror que passaram durante a primeira Guerra, não poderiam negar a possibilidade de que outra estava a caminho e deviam estar preparados.

—E você, querida? Tem certeza que ficará bem sozinha? Sabe que pode vir conosco.Não temos muito a oferecer, mas… Você é parte da família.

A matriarca propôs e recebeu uma resposta sincera.

—Eu certamente seria feliz com vocês, mas eu preciso fazer isso, não apenas por mim. Preciso conquistar e viver minha liberdade.

—Não precisava ser do outro lado do Oceano, cunhada!

Jorge comentou e todos riram, deixando o casal de rostos corados.

—Eu preciso ir… Você também, antes que nos encontrem. Fred, você…

— Eu lhe desejo toda a sorte do mundo, mas preciso continuar com minha família. Prometo que jamais serei aquele ser você descreveu. Eu…  - comentou olhando para seus pais e irmãos - Sinto muito a todos vocês. Vamos ser uma família de verdade, de novo!

—Fred, eu…

—Eu nunca vou lhe esquecer, Hermione Granger.

— Eu também nunca vou lhe esquecer, Fred Weasley.

Enquanto se encaravam sorridentes e cheio de paixão, ouviram um:

—Beijem-se logo!

A caçula sempre sabia o que falar.

E se beijaram, como se tentassem transmitir tudo aquilo que sentiam e não havia mais tempo para falar. 

O apito  do navio soa mais uma vez, era hora de partir.

 

Com a jovem Hermione Granger no alto da proa acenando uma última vez, os trailer dos Weasley seguiam em direção contrária. Ao longe era possível ouvir o som de carros vindo em direção ao porto, mas nunca chegariam a tempo. Aquele seria o grande fim.

.

.

.

Mas como foi dito, essa não é uma história sobre a mágica do circo, mas sim sobre o amor!

Ali, em meio ao cais preenchido de neblina, onde o cheiro de peixe infestava o local e o navio se soltara da maioria das cordas que lhe mantinham preso ao porto, um louco corre alucinado para a última corda ainda presa. Seus cabelos ruivos balançavam com vento e sua voz tentava a todo custo atingir a jovem que observava pasma a cena.

—Hermione! Eu te amo!

— Eu também te amo, Fred Weasley!

E no último segundo possível, o jovem agarra a corda como sempre fez no picadeiro, mas aqui seria diferente. Aqui era o mundo real. Não haveria cama elástica para lhe salvar, mas valeria o risco. Ter Hermione ao seu lado valeria a pena todo o risco.

O mágico escalou o navio como se sua vida dependesse disso… E de fato dependia. Não apenas de modo literal, mas pelo amor de sua vida que lhe aguardava alguns metros acima.

Logo alguns marinheiros surgiram para ajudar a puxar a corda; e como toda história de amor, essa também terminaria com o casal junto, entre beijos e juras de amor.

 

Ouve-se um tiro.

 

Do píer, apenas uma cabeleira loira pode ser distinguida, mas se fosse possível escutá-lo do barco, o som de uma risada maligna seria ouvida. A risada do ápice da loucura daquele que não tem nada a perder e tenta levar consigo o “todo” de Hermione Granger.

Mas é claro que Hermione não escuta, sequer presta atenção, toda sua atenção é voltada para o amor de sua vida sangrando no chão de madeira. Era preciso ser rápido. 

Toalhas, álcool, um médico! 

Qualquer coisa!

Qualquer um que pudesse salvá-lo.

Ele aparece.

Longa barba branca, óculos de meia lua, parecia transbordar sabedoria… Com um kit médico em mãos.

—Ele vai ficar bem, senhorita, mas preciso que confie em mim.

 

Enquanto isso, no porto, as risadas do Malfoy logo foram substituídas por gritos dilacerantes quando Arnaldo lhe arrancou o braço direito. Sem rifle, sem pessoas para lhe socorrer, Lucius cai do pier no mar sangrado até  a morte enquanto Gina Weasley cavalga em sua montaria de volta para sua família.

 

* * *

 

Dias haviam se passado, o que no alto mar pareciam semanas.

Um jovem de cabeleira ruiva continuava deitado em sua cabine de olhos fechados.

—... Você nem imagina como foi engraçado treinar com sua irmã seu truque da levitação. Ela parecia mais nervosa do que eu para eu descer com os tecidos… Mas eu tive um bom professor. Você, Fred… Sempre foi você.

Hermione continuava conversando enquanto fazia carinho em seus cabelos. O rosto de Fred parecia maos corado. Era um bom sinal, depois de perder tanto sangue, estava se recuperando aos poucos.

A porta se abre com cuidado. Doutor Dumbledore aparece com uma jarra de águapara oferecer a moça que jamais  saia de seu posto de companhia de Fred.

—Continua conversando com ele? - a morena assentiu - Lhe ouvir certamente vai ajudar a trazer sua consciência de volta. Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia! 

 

Naquela mesma noite, enquanto boa parte do navio dormia e Hermione seguia ao lado de Fred, o ruivo reabriu os olhos pela primeira vez. Soava como um delírio, seu corpo balançava num ritmo estranho e a sua frente havia um anjo lhe segurando as mãos, o mais belo anjo que já  vira em toda sua vida!  

Reconheceu aqueles cabelos castanhos no último momento antes de fechar os olhos e voltar para o mundo dos sonhos, mas ver sua amada ao seu lado lhe encheu de energia e esperança, era por ela que voltaria. Era por ela que viveria.

 

A noite seguia em silêncio, um silêncio reconfortante.

Mas se você prestar um pouco mais de atenção, pode ouvir algumas fracas melodias poluindo o silêncio. As ondas do mar que  atingiam o casco do navio, num movimento fluído que vez ou outra molhava o convés.

...Splash…

...Splash…

A respiração leve do ruivo que recuperava o fôlego da vida aos poucos, deitado numa cama rígida, que oferecia o conforto possível no contexto de navegar sob milhares  de toneladas de água salgada. Sob seu corpo jazia uma figura miúda adormecida lhe abraçando. Isso exigia mais esforço de seus pulmões, mas tudo bem, valia a pena, pois o lembrava que ela estava ao seu lado.

A cada onda espirrando no convés, ouvia-se:

...Inspira…

...Respira…

 

O melhor som a se ouvir na sala, entretanto, vinha do coração pulsando lembrando da vida que insistia em permanecer na Terra, como um aviso de que ainda teria muitas muitas aventuras para se viver, muitas histórias para se contar. 

Aquele som fraco e tão cheio de significado só podia ser ouvido pela jovem deitada em seu peito, mas era exatamente quem precisa ouvir e se alimentar de esperanças.

Assim, o navio seguia rumo ao Oeste, à promessas de uma nova vida, guiado pelas Três Marias que apontavam o caminho em meio a noite escura. 

 

...E há quem não acredite em mágica… Devo avisar...Nada é tão mágico quanto o amor nascido sob as estrelas


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! A história de um romance em três partes como esse me instigava há muito tempo, mas nunca escrevi algo de Harry Potter fora do universo de Harry Potter.
Nosso menino que sobreviveu não aparece na história diretamente, mas os leitores mais atentos sabem que ele foi referenciado aqui ♥

Comentários são sempre vindos!



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