Foi Bom Te Ver, Mas Você Deveria Ir Embora escrita por AscoX


Capítulo 1
Capítulo 1




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Gritos de cigarras, ondas de vento contra atacando aquele sol pesado de outubro. Naquele dia, Kageyama Shingeko lembra apenas do pulso forte beirando ao ataque cardíaco apertarem as roupas de seu último ano escolar. Aquele suor tornava este momento tão inesquecível, insuportável: mentalmente, fisicamente, não importa. Porque seu arrependimento fora amargo, até hoje.

Reigen ao seu lado, o carro quebrado, a gravata por desfazer a si própria, naquele pescoço bronzeado, esguio, aparentemente macio. Rosa feito as bochechas cansadas e fritas da Arataka. As costas curvadas enquanto se apoia na beira das entranhas do capô,  estressada. Ela também soava, suava muito, dava para ver, isso a morena recorda bem pois nunca soube se era por causa do calor, do coração, ou pelos dois.

Shingeko sabe o quê ela teme, teme a pulsação pesada e descompassada que ela, como menina mais nova, sentia. Reigen sabe dos seus sentimentos, e Mob sabe que Reigen sabe que ela sabe. E todos sabem que Arataka Reigen pode lê-la como se fosse livro infantil, extremamente infantil, qual basta apenas um olhar para saber o enredo inteiro.

Mob entreabre os lábios desesperados, apesar de tremidos. Está tímida por que bem... uma confissão é uma confissão, não importa onde. A mulher bate a boca do capô, meio que para parar sua aprendiz. Como se em seu olhar periférico, Mob estivesse nada mais, nada menos, do que em todo lugar, sempre de olho, apreensiva.

Quando isso começou? Ela se pergunta após desistir brevemente. Quando Arataka começou a censurar os sentimentos de Shingeko? Será desde os quatorze anos, quando a puberdade a fazia sentir-se estranha acerca da patroa?

Shigeko lembra desta mesma mulher joga-la para outras amizades, ajudando até em seus romances, ao mesmo tempo que a puxava para perto, deveras perto, de forma quase possessiva.

Entretanto, somente nesses últimos três meses do último ano escolar, parece querer se afastar da aluna.

Reigen se espreguiça, depois repousa as mãos na cintura.

— Assim não dá. Nem tem como chegarmos lá hoje por causa desta pocilga. Vamos voltar um outro dia, Mob. Um outro dia...

Reigen tem olhos castanhos que, se ensolarados, parecem ouro. Muito diferente dos castanhos escuros, quase negros, que afundavam-se na sua fisionomia, raivosos, mas sem ser raiva em si.

— Qual dia? - pergunta. Os aspectos da puberdade deram à criança mais que mentalidade, a voz tinha autônoma, independência. Demanda. - Que dia vamos fazer isso?

Reigen entra no carro. Pende a cabeça para trás, olhos fechados de encontro ao teto de aço. Shingeko espera sua resposta do lado de fora do carro quando a mulher põe o celular em mãos, digitando um numero conhecido - Serizawa-san.

— Não sei. Talvez semana que vêm.

— Semana que vêm não dá.

— Deixa de mania, Mob... dá para arranjar outro dia.

Coração latindo feito vira-lata sem dono, naquela rua de barro, como que abandonada às margens de uma floresta. As cigarras mais um vez roubavam a cena. Os olhos escuros fixam no chão, estáticos.  Ela lembra da angústia sentida, lembra de ter segurado seja lá o que estava sentido, raiva, medo, tristeza... Mob só abre a porta e sentando-se, Reigen faz questão de sair com uma desculpa esfarrapada. Kageyama chama seu nome, fazendo-a parar. Ela vira para Mob.

A forma obvia qual Arataka Reigen estava evitando-a, especialmente nesse dia, a matava.

Sempre foram tão próximas...

—Aconteceu alguma coisa, Mob? - como se não soubesse.

Shingeko cerra os punhos na saia escolar preta.

— Vamos, Mob. Já passamos dessa fase. - comenta a outra, insensível, egoísta.  - Vamos só pensar em sair daqui, okay? Somos duas mulheres no meio da porra do nada. Assim que eu ligar para Serizawa, ele vai vir nos buscar.

— Não.  - diz, quieta. Porcentagens internas aumentando - Sabe que não vou poder ficar muito tempo depois de hoje, esse era para ser o nosso dia! Mas você arranjou um jeito de conseguir mais trabalho! Sabendo que isto é importante para mim, shinshou.

Ela não pôde ver a reação da mais velha. É impossível virar para encarar seu rosto, sua expressão. Ainda agarrada na escuridão do tecido, às mãos nervosas contra o pano. Escuta um riso desconcertado, chacoalhos no couro do banco ao lado.

— Qual é, Mob... Fala sério. Passamos anos juntas, fazemos isso o tempo todo, eu não arranjei um trabalho para propositalmente arruinar nosso tempo juntas. - ela continua, mais baixo - Você está crescendo, Mob...  Um dia ou outro vai se tocar que as coisas nem sempre são como nós desejamos. Logo logo, voc-

— Não, Reigen-shou! Eu sei o que você está fazendo! - Shingeko ousa levantar os olhos e direciona-los a Arataka. Mas a vista está turva pelas lágrimas, o que a impede de ver Reigen de forma objetiva - Não aja como se estivesse agindo como sempre, você não está! Para de fingir que não sabe. Pare de fingir que não é com você,  shinshou!

Quando as lágrimas caem, a vista fica limpa.

Arataka Reigen nem olhava para ela, pelo contrário. Seu foco era aquela longa e triste estrada a frente, o calor que subia do asfalto. E a claridade revelava sua falta de indiferença no semblante triste qual carregava. A loira sorri, abaixando a cabeça, evitando encarar sua companhia.

Então, a boca da mais nova se abre mais uma vez, desesperada e tremida, mas sem rochas ou precipícios pelo caminho.

— Eu gosto de você, Shinshou! Eu te amo!

O carro treme, os poderes vazam do corpo, levitando fios negros em direção ao espaço. Arataka está imóvel, mas quando reage, vira a cara para pista paralela à Mob, de certa forma, incapaz de encara-la.

— Para, para com isso, Mob. - pede. Não pelo carro, não por medo.

Só que Shingeo não pode parar. Nem dentro, ou fora.

— Eu te amo, Sempre amei! Eu nunca vou conseguir te esquecer!

Agora, Shingeko, quase da mesma altura que a outra, está completamente virada para a mulher. Em pernas, tronco, peito, rosto, mãos. Expandindo seu corpo ao assento da mulher, invadindo subitamente seu espaço pessoal sem notar a própria saia, desengonçada, emaranhar-se sob a pele, revelando-a. Seu pescoço esticado até a loira, ignora que ela esteja olhando para fora, em constante árdua negação.

Mob permanece afoita, esperançososa.

— Por favor, Arataka... me dê uma resposta.

Assim sendo, como resposta, Reigen se levanta para fora, ainda sem olha-la, celular em mãos.

— Serizawa-san! E aí? Você ainda tá livre hoje? Eu e Mob tivemos um probleminha a caminho do serviço. Pode vir nos buscar? Sim, apenas nós duas, então é perigoso. Não, não, está tudo bem. O quê? Cara, eu já disse: hoje não é nosso dia. Ahãm. É. Pode dizer que foi mesmo uma péssima ideia. Okay, cala a boca e vem logo, estarei esperando.

 


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Notas finais do capítulo

Cara...

Essa historia faz parte de um desafio de escrita para fevereiro, mas sou anciosa e postei aqui.



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