After Six escrita por isabella_maries


Capítulo 1
Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores!

Espero que vocês - dentro do possível - estejam bem.

Apesar de ter dito em uma história aí que tiraria uma mini férias, minha mente maravilhosa e criativa não deixou. E por isso, com muita alegria, divido essa história com vocês que surgiu num plot aleatório que criei na minha conta do Twitter.

De início, o intuito era que fosse apenas uma one. Mas ela acabou sendo dividida em duas partes. A segunda e última será postada no próximo sábado, dia 22, sem horário definido.

Enfatizo que apesar de ser uma versão alternativa de NM, do Edward não ter voltado, a personalidade da Bella não vai ser fiel aos livros - apesar de que tentei ao máximo para deixar a essência dela e de Edward o mais similar possível.

Enfim, peço desculpas por qualquer erro e espero que vocês gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805304/chapter/1

 

“O tempo passa.  Mesmo quando isso parece impossível. [...] Passa de modo inconstante, como guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. Até para mim.”

 — Lua Nova, Capítulo 4 “O Despertar”, pág. 87. 

 

 

Puxei o ar com força segundos antes de empurrar a porta da cafeteria e logo os sons altos das conversas quase ocultaram a voz do musicista que soava alto em meus fones de ouvido. Minha coluna antes curvada em uma maneira de me proteger do frio, se endireitou ao sentir o lugar quente e aconchegante.

— Olha quem chegou. – a voz de Ruby me recebeu assim que cheguei perto do balcão, pronta para mais um dia de trabalho. Dei um singelo sorriso para a garota que a minha frente sequer parecia ter a minha idade, os meus temidos e odiados 25 anos. – Aquelas crianças adolescentes aprontaram de novo?

Assenti, tirando o fone de volta do meu pescoço. 

—O suficiente para que se eu fosse a professora titular, metade deles já estariam em recuperação. 

— Meu Deus Swan, nunca tinha conhecido esse seu lado malvado. 

A olhei divertida.

— Que lado malvado?

Ela revirou os olhos, rindo desacreditada. 

—Deixa para lá, e vá se arrumar malvadona.  Esse lugar está cheio toda hora e o senhor Wilson acordou com o pé esquerdo, e você sabe o que isso significa. – cochichou a última parte. Meu bom humor acabou ali.

— Dia de gritos. – sussurrei, a vendo suspirar e assentir. Sem trocarmos mais nenhuma palavra, entrei no pequeno vestiário e logo me fechei num pequeno box onde troquei de roupa e sapato rapidamente antes de sair, guardar as minhas roupas no armário. Com meu cabelo preso e terminando de amarrar o meu avental azul marinho bati meu ponto.

— Swan. - Sr. Wilson me chamou, e antes que pudesse me virar rezei para que o motivo pelo qual estava me chamando não  fosse reclamação de cliente. Sua face evidenciava o mau humor do qual Ruby havia me avisado, por isso, me limitei a acenar com a cabeça assim que o encarei. 

— Olá, senhor Wilson. – o cumprimentei e logo emendei:- No que posso ajudá-lo?

— Irá me ajudar a manter suas palavras doces aos clientes. – respondeu ríspido. Mantive a minha cara de indiferença, apesar de já imaginar quem poderia ter ido fofocar sobre a advertência que tinha dado ao garoto que tentou passar a mão na minha bunda. – Hoje você vai ficar no balcão junto com Ruby até o fechamento. 

—Sim senhor. – respondi dando um breve aceno, antes de me virar indo para o balcão ao lado de Ruby que logo sorriu de canto ao me ver. 

— Deixa eu adivinhar, vou ter que te aturar até o fechamento. – disse divertida enquanto ficava ao seu lado. 

—Acertou em cheio. Mas eu sei que apesar do que diz, você adora quando fico aqui te azucrinando.

—Exceto quando você está de mau humor. – pontou fazendo um café expresso ao mesmo tempo em que eu pegava um pedido. – O que agora parece ser qual sempre. 

Prendi um suspiro.

— Culpa dos adolescentes e da faculdade. 

—Mais pedidos, menos conversa. -  cuspiu Ambrey pegando a bandeja com os pedidos prontos e saiu para entregá-los.  Ruby a encarou brava.

— Qualquer dia desses eu ainda vou dar na cara dessa menina. 

—É, eu também. – murmurei atraindo a sua atenção, com uma pergunta muda nos olhos. Ela sabia que não gostava de Ambrey, mas não ao ponto de bater nela. – Acho que ela contou ao senhor Wilson sobre o que aconteceu com o garoto que tentou passar a mão na minha bunda, só que distorcendo a história. 

—Se foi ela, agora mais do que nunca quero dar na cara dessa vadia. – disse pegando outro pedido para fazer e logo em seguida fui chamada por uma pessoa que ainda não tinha sido atendida na mesa.

O movimento da cafeteria continuou insano ao ponto das horas passarem rápido e não termos tempo de respirar direito. Com todas as mesas atendidas e pedidos feitos, Ruby aproveitou para ir ao banheiro enquanto descansava as minhas pernas vendo as pessoas andarem do lado de fora. Mães com seus filhos, mulheres sozinhas com pressa, estudantes perdidos, pais desesperados, namorados apaixonados. 

As bordas do buraco no meu peito arderam enquanto um peso se instalava em meu coração, fazendo-me ofegar baixinho. Apesar de tantos anos terem se passado, a sensação de vazio ainda era a mesma, bem como ainda era a mesma dor que me desorientava e me partia enquanto se alastrava em mim quando ele disse adeus. 

Ela havia amenizado conforme os dias foram se passando, e se tornado um pouco mais suportável quando mudei para Cleveland para cursar Literatura. Para felicidade de Charlie, já que após meses catatônica e com pesadelos terríveis – do qual nem o dia feliz da minha  formatura foram capazes de impedir a noite de tormenta que fui submetida mais uma vez— finalmente estava conseguindo paz. 

— Bella. – a voz de Jamily me tirou das minhas lembranças e por um momento agradeci aos céus pelo senhor Wilson ter saído. Ela me encarou preocupada. – Está tudo bem?

—Está sim, é só cansaço. Os alunos foram bem difíceis hoje. 

— Acaba quando seu estágio? – questionou enquanto fazia um cappuccino.

— Fevereiro, mas existe a possibilidade de estenderem até meados de julho.  – respondi colocando a xícara junto com o pires dentro da bandeja, e em seguida um prato com dois donuts. 

— Boa sorte.

—Obrigada. – agradeci gentil e logo o som do sino da porta atraiu a minha atenção, fazendo-me olhar para frente e paralisar. 

Sentado em uma das mesas vazias do lado de fora da cafeteria, ignorando o vento que o atingia, estava alguém que por anos cogitei que sequer fosse real.  Mas a dor em meu peito  e em minhas lembranças, além de me provarem que ele havia sido, me proibiram de esquecer.  

Meu coração batia forte e rápido ao mesmo tempo em que me debatia mentalmente se aquilo realmente estava acontecendo ou era uma mera ilusão que a minha mente estava criando para compensar o fato que tinha passado meu aniversário bem e sozinha.

Os olhos âmbar quase dourados, me encararam e por um momento senti como se pudesse desfalecer só por tal olhar que ele me dava. Deixando claro que aquele filho da puta ainda tinha o mesmo poder sobre mim do que tinha há seis anos atrás. 

— Bella. – a voz de Ruby me fez sobressaltar e olhá-la, ela me olhava preocupada. – Você está bem? Parece que viu um fantasma.

Ela estava quase certa.

— Está, quer dizer, mais ou menos. – afirmei e olhei para fora, temerosa que ele tivesse sumido e eu estivesse louca. Mas, ele estava lá, imóvel enquanto Ambrey o atingia com todas as intenções possíveis através de suas perguntas. Ela entrou na cafeteria de cara fechada, e como se tivesse sentido meu olhar, ele olhou para mim e sorriu. Com aquele maldito sorriso torto que fez meu coração disparar.

—Bella?

—Já volto. – avisei abruptamente. Peguei meu casaco pesado no vestiário e o vesti por cima do avental sentindo o olhar dela sobre as minhas costas, empurrei a porta fazendo o sino soar e então o encarei. Por um momento tudo pareceu desaparecer, desde as pessoas aos sons ao nosso redor, parecia que existia apenas nós enquanto andava em direção a mesa do qual estava sentado. O sorriso torto cresceu em seus lábios. 

—Olá. – sua voz calma e musical fez desbloquear memórias que tinha lutado para aprisionar com muito afinco quando cheguei a Cleveland. Ofeguei com a dor que elas me traziam tomando todo o meu corpo, deixando-o trêmulo, seu olhar antes calmo se tornou tempestuoso. – Meu nome é...

— Eu sei quem você é – o cortei ríspida. – O que eu não sei é que porra você está fazendo aqui depois de tanto tempo. 

— Acho que mereci isso. – comentou num tom baixo, como se comentasse somente para si. Porém, ergui o meu queixo ao notar a sua intenção com aquilo.  Seu olhar voltou-se na minha direção. – Preciso conversar com você, Bella. Explicar algumas coisas. 

—Explicar o que?  Pelo que me lembro bem, a nossa última conversa, há seis anos, foi bastante explicativa. Inclusive na parte em que você disse que não me amava e não me queria mais.

 A dor inundou seus olhos e sua face antes indiferente demonstrou uma angústia que me confundiu, já que me recordava ter a visto quando acordei no hospital após a caçada de James. Cravei as minhas unhas na palma da minha mão.

—Bella...

— É a minha vez de dizer adeus, Edward. -  ao proferir seu nome em voz alta fez as borboletas antes mortas se mexerem violentamente no meu estômago. 

—Bella, por favor...

—Por quê? – o questionei erguendo o queixo. Sua face se tornou ainda mais retorcida. – Porque deveria ceder a sua súplica se há seis  anos você não cedeu a minha?

— Tem razão, você não deve. – disse após um longo tempo em silêncio apenas me encarando. Antes que pudesse falar, a porta se abriu. 

— Bella.  – Ruby me chamou, fazendo-me olhar para trás e logo notar o seu olhar, 

— Já estou entrando. – a garanti. Ela assentiu e deu olhada para Edward antes de entrar. 

— Bella...

— Isabella. - corrigi o olhando e tendo a surpresa de vê-lo em pé, a alguns passos de distância de mim. O ar fugiu dos meus pulmões e encarei seus olhos dourados enquanto inspirava seu cheiro maravilhoso que apesar das minhas diversas tentativas, nunca soube identificar o que era, mas me remeteu a algo que já não possuía a muito tempo. Uma das suas mãos encurtaram o espaço e fez menção de tocar o meu rosto, mas andei para trás antes que tivesse êxito. – Adeus Edward.

E sem olhá-lo pela última vez, entrei na cafeteria sentindo o seu olhar queimar em minhas costas. Ruby nada me perguntou quando entrei no balcão evitando olhar para fora, mas antes de atender uma leva de calouros universitários apertou a minha mão num singelo e silencioso “eu estou aqui.”  E do qual devolvi o aperto num sinal de agradecimento. 

Depois disso, tudo correu tão normal como qualquer outro dia, isso até ouvir Ambrey conversar com o senhor Wilson, mais uma vez fofocando sobre mim e sobre o episódio que aconteceu durante a sua ausência.

— Ela simplesmente ignorou os clientes para ficar quase uma hora lá fora. – contou. – E eles quase se beijaram...

—Nós não quase nos beijamos Ambrey.  – a corrigi entrando na sala. Ela me olhou assustada, branca feito um papel, senhor Wilson me olhava sério. – Mas acho que disso você sabe, já que estava com a cara colada no vidro para ver melhor e tentar ouvir o que estávamos falando. 

Seu rosto antes branco ficou vermelho incandescente. 

—Quem ele era, Swan?  Para você ficar quase uma hora lá fora em horário de expediente.

—Fora apenas 15 minutos, e ele era o meu ex-namorado que veio a cidade numa viagem com a família e veio pedir algumas informações. – menti tentando soar o mais natural possível. Algo que tinha aprendido durante os anos. 

—Você está mentindo. – acusou Ambrey, a encarei cínica. 

—Estava lá fora conosco para dizer isso? Ou está dizendo isso, porque o acha bonito demais para ter dado uma chance a mim, mas não para você? – revidei, e a vi apertar os lábios com força. Sorri presunçosa. – Eu sabia. 

—Chega vocês duas. – esbravejou senhor Wilson, impedindo Ambrey de retrucar. – Não quero ouvir mais nenhum um pio sobre isso e nem quero que fiquem de briguinha por aí. E Swan, seja quem ele for, espero que na próxima vez que ele vier para pedir informações, você esteja em horário de almoço. 

— Fique tranquilo, senhor Wilson. Ele não irá mais aparecer aqui. 

 

***

—Sabia que tinha prometido cedo demais. – reclamei ao ver Jonathan encostado na minha moto, que ficaria sobre a sua responsabilidade pelos três dias seguintes enquanto teria que me virar com ônibus e Uber, já que o tempo frio tomava conta de Cleveland há algumas semanas. . –  Já saiu suas notas?

— Não. Mas graças a sua brilhante ajuda, tenho quase 100% que passei nos exames finais. – respondeu com um sorriso maroto nos lábios do qual devolvi. Jonathan morava a dois andares acima do meu, e foi um dos poucos amigos que fiz em Cleveland, mas ao contrário de mim, ele estava fazendo o curso preparatório e obrigatório para ingressar em medicina. E numa de tantas conversas no campus, ele pediu a minha ajuda em literatura e é claro, a minha moto – uma Harley Davidson de 1980 restaurada por Jacob e por mim. – emprestada por três dias caso passasse. Joguei a chave para ele que logo se inclinou para pegá-la, sorrindo igual uma criança.

— Obrigada Bella.

— Porém, se daqui a três dias ela voltar com qualquer riscado ou amassada...

— Você irá me torturar, arrancar meu fígado e pâncreas, fritar e comer. – interrompeu acrescentando a minha fala. – Eu sei, e pode ficar tranquila que isso não vai acontecer.

—É o que eu espero. – reforcei, já olhando para o meu relógio de pulso para ver que horas eram. – Bom, já deu a minha hora. Preciso ir.

—Espera, quer uma carona para faculdade?

—Oh, não precisa.  Vou ter que ir mais cedo ao estágio, então nem vou ir para faculdade hoje. – expliquei, e ele revirou os olhos.

— Deixa disso, Bells, é caminho.  Eu te deixo na frente da escola, é o mínimo que posso fazer por ter me emprestado a sua moto. – falou me estendendo meu capacete. Peguei o vendo subir na moto.

—Tudo bem. – concordei designada e soquei o seu ombro, antes de colocar o capacete. – Mas não me chame mais de Bells. 

Ele riu ligando a moto.

—Como quiser. – disse enquanto segurava o seu peito, para em seguida sair com a moto e para minutos depois estar na frente da escola particular onde estagiária. Com uma breve despedida, entrei na escola sentindo-me ser observada – como os demais dias daquela semana – mas segurei a vontade de olhar para trás.  Entrei na escola sendo logo recebida pela diretora afável que me guiou rapidamente para sala do primeiro ano, respirei fundo e sorri para a turma que me olhava com curiosidade enquanto arrumava as minhas coisas.  Após uma breve apresentação, comecei a dar aula que tinha preparado na noite anterior e que entusiasmou os alunos até o final dela.

Algo que também ocorreu com as demais turmas com uma abordagem diferente – é claro -, o que me fez sair feliz quase risonha das salas dos professores. Tão feliz ao ponto de ignorar a chuva forte que caia e que provavelmente iria me molhar inteira até chegar ao ponto de ônibus. Mas eu não estava feliz o suficiente para ignorar o Volvo prata estacionado bem na frente da entrada. 

Apesar do modelo ser diferente, eu sabia quem era, eu sempre saberia.  Assim como eu soube pela maneira que ele tinha estacionado o carro que havia algo de errado com ele no dia a minha vida ruiu.

Com o coração acelerado, sendo consumida por lembranças das quais não queria lembrar, e com uma vontade insana de sumir, saí da escola sentindo a chuva me molhar assim que passei pela porta. Minhas roupas ficaram ainda mais molhadas a cada passo que dava longe da escola e perto do ponto ignorando uma voz melodiosa que me chamava desde o momento que passei pelo Volvo. 

— Bella. –  a voz de Edward soou mais perto dessa vez, despertando uma raiva avassaladora que me fez sentir ferver. 

—Que porra você quer Cullen? – cuspi grossa, o olhando. Devido a minha parada brusca ele quase trombou comigo ao mesmo tempo em que me encarava surpreso pela minha fala, ele assim como eu estava molhado da cabeça aos pés.  – Aliás, que porra você está fazendo aqui? Não deixei claro o suficiente que não temos nada para conversar?

—Deixou. Mas nós precisamos conversar, Bella.

— Conversar sobre o que, hein? Que você não teve tanto êxito em se distrair e me esquecer como disse que faria há seis malditos anos atrás?  - disse quase gritando, sua face se retorceu em agonia. – Ou veio enfatizar que eu não pertenço ao seu mundo, Cullen?

— Não, eu não vim dizer isso. – garantiu firme, porém, como um tom sofrido como se as minhas palavras o tivessem machucado. Seus olhos dourados tempestuosos me encararam, acelerando de maneira involuntária meu coração.

Coração idiota!

—  Vim conversar sobre o porquê tive que dizer todas essas coisas, e sobretudo, mentir ao dizer cada uma delas.  – acrescentou como se escolhesse as palavras com cuidado, a raiva e incredulidade cresceu sobre mim.

Você o que? 

— Bella, eu vou te contar, mas por favor, tem como entrar no carro?

— É Isabella, Cullen. E não, não tem como entrar no seu carro e você vai me explicar essa história direito, agora.  -  respondi arrumando a minha bolsa.

—Continua sendo a mesma teimosa. – resmungou, mas antes que pudesse mandá-lo se lascar fui puxada por ele até ser deixada na frente da porta do passageiro do Volvo. O encarei puta.

— E você continua o mesmo mandão babaca de sempre. – cuspi, ele revirou os olhos. 

— Entra no carro, Isabella.

—Não. – respondi atrevida, o fazendo fechar a porta do carro e me encarou. Ergui o queixo. – Quem você pensa que é para voltar do nada e achar que manda em mim? 

— Não penso.  Só estou querendo evitar que fique doente pegando toda essa chuva. -respondeu. – Agora será que tem como entrar no carro?

— Não.  – vi ele respirar fundo.

— Entra no carro, Bella. 

— Não.

— Entra no carro. – mandou pausadamente.

— Eu não vou entrar na droga do seu carro, Cullen.  – rebati grossa, cruzando os braços. – Sem que você me dê um bom motivo para entrar nele sem ser essa desculpa esfarrapada.

Ele suspirou e me olhou.

— Se você entrar nele, vou embora depois que conversarmos e nunca mais me verá, se assim desejar. – garantiu fazendo meu coração perder a batida diante da promessa. – Mas por hora preciso que você entre na droga desse carro. – acrescentou. Continuei o encarando ignorando a dor que se alastrava no meio peito, sem dizer uma palavra e completamente encharcada, entrei no carro com o máximo de dignidade possível. Edward entrou em seguida desligando a música que tocava que sequer prestei atenção em qual era e ligando o aquecedor no máximo, porém, isso não impediu que espirrasse algumas vezes quebrando o silêncio entre nós.

Ignorando o olhar que de vez ou outra dirigia a mim, fiquei olhando todo o percurso tentando colocar meus pensamentos em ordem mediante a revelação de suas palavras. Mas que logo estava sendo convencida pela minha mente que só foi uma tática básica em me deixar curiosa e ter-me em suas mãos.  Em contrapartida dos meus pensamentos, senti-me eufórica pela presença dele, deixando-me presa numa confusão de emoções e mente.  

Edward parou numa das vagas perto do meu apartamento o que me fez engolir a pergunta de como ela sabia que morava ali, ao perceber que não gostaria de saber a resposta. Mas apesar de parte minha implorar por um banho quente e a minha coberta felpuda, não consegui me mover. Não por conta do frio causado pelas as minhas roupas molhadas, mas pela presença de Edward do qual outra parte de mim desejava apreciar cada segundo, ainda mais se ele cumprisse a promessa. 

Puxei o ar, era o que eu queria, não é? Depois de anos de dor e sofrimento. 

Sem mais aguentar, o olhei notando seu olhar analítico quase curioso sobre mim. Seus cabelos arruivados bagunçados e tão molhado que pequenas gotas d' água caíam deles, seus olhos dourados me encaravam entre a dor e adoração, e por um momento fui pega de surpresa ao notar que os vidros estavam fechados, e ele não parecia estar sendo torturado pelo meu cheiro.

—Quando nós iremos conversar? 

— Assim que estiver pronta após um banho quente. 

— Onde nós iremos conversar?

— Você irá descobrir quando chegarmos lá. 

— Onde nós iremos conversar? – repeti a pergunta, ele apenas me olhou. Ergui as sobrancelhas. – Edward, onde nós iremos conversar?

— É uma surpresa, Bella.

Soltei um riso desacreditada ao perceber que lugar poderia ser pela resistência em me responder.

— Eu não sou obrigada a passar por isso.  – murmurei saindo do carro, fechando a porta com força.

—Bella, por favor. – me chamou, mas o ignorei antes de ser puxada pelo braço. Um arrepio passou pelo meu corpo ao sentir aquela típica corrente elétrica que somente sentia com ele, porém, ao invés de me derreter de amores, quis explodir de raiva. – Qual é o seu problema? Você pode ficar sem responder o que digo, mas eu não?

— O meu problema? O meu problema Cullen, é que fui abandonada seis anos atrás ouvindo você dizer que não me amava, mesmo tendo dito semanas antes algo totalmente ao contrário.  E pior, ter me jurado que não me deixaria. – explodi, fazendo-o se encolher com a culpa se pesando em seus ombros ao mesmo tempo em que meu coração ardia, assim com meus olhos.  Eu não vou chorar, eu não vou chorar.  O encarei com raiva. – E agora, está atrás de mim igual um cachorro implorando por atenção, como se sua vida dependesse dessa maldita conversa.

— Bella, por favor, me escute.  – implorou tentando pegar meu braço, porém, me esquivei. 

— Não, Edward, me escuta você. Eu não sei que mentira contou para mim naquele dia, mas saiba que independente do irá contar nada vai apagar os piores meses da minha vida onde cheguei a duvidar que você e sua ilustre família foram reais. – rebati alto, o vendo paralisado enquanto sentia as lágrimas cair sobre o meu rosto. – Não vai apagar a dor e o vazio que sinto desde que você virou costas para mim naquela maldita floresta, não vai curar as feridas que sua ausência causou. – gritei socando o seu peito, ele sequer se me impediu ou se moveu. Ele apenas me olhava, com a dor transbordando seus olhos e pesando seus ombros.  Afastei-me, limpando as lágrimas que ainda insistiam em cair.

— Bella...

— Vá embora, Edward. – o cortei após inspirar fundo, e olhei.  – Volte para onde esteve nesses seis malditos anos. Você e sua adorável família.

— Bella...

— Adeus, Edward. – disse me virando e entrando no prédio, deixando-o mais uma vez para trás.

***

—Bella, está tudo bem? - a voz de Charlie me fez sobressaltar e estranhar, mas rapidamente me lembrei da onde estava e porque ele estava no meu quarto, e é claro, o porquê da pergunta.

Ao contrário do ano anterior, Leah - minha meia-irmã— bateu o pé dizendo que não iria viajar para Cleveland para o feriado de Ação de Graças. E como era um dos poucos feriados que passava com meu pai, e Sue não queria passar longe dos filhos, me virei nos trinta para conseguir comprar as passagens para Seattle e Port Angeles. Algo que não foi fácil, mas tinha sido recompensador ao ver Charlie feliz no aeroporto, embora estivesse receoso por eu estar em Forks outra vez, sem saber que meu passado não estava mais ali e sim em algum dos tantos lugares da cidade que parti.

Edward havia literalmente sumido nas duas semanas subsequentes a nossa conversa, mas apesar de não aparecer e evitar pensar nele a todo custo,  eu o procurava. Procurava em cada virada de esquina, em cada ponto que o ônibus parava, em cada rosto no campus da faculdade ou em cada cliente que entrava na cafeteria, seja qual fosse a hora.

Eu o esperava.

Esperava encontrá-lo parado na frente do meu apartamento ou na frente da escola para implicar comigo sobre o quanto era teimosa. Nas minhas pausas de descanso na cafeteria, esperava vê-lo na mesa de fora encarando-me com os olhos beirando o âmbar, quente como inferno, quente como só ele poderia me deixar -  e somente ele me deixava.

—Bella?

Encarei Charlie, permitindo as lágrimas caírem vendo o desespero e a preocupação inundarem seus olhos.

—Ele voltou, pai. - murmurei, e o entendimento caiu em seu olhar. -  E por mais que grande parte de mim o queira o mais distante possível de mim, existe outra parte de mim que não quer resistir, que o quer. Eu… Eu não sei o que fazer.

— Se resistir te machuca, então não resista. - disse e suspirou. - Não faço ideia de como esse garoto te encontrou depois de tanto esse tempo, mas Bells, acho que depois de tanto tempo você merece respostas mesmo que elas sejam boas ou ruins.

—E se eu não aguentar? E se a verdade doer tanto quanto a mentira ao ponto de sucumbir?

— Eu estarei aqui, filha, como sempre estive e sempre vou estar. Junto com Sue e seus meio-irmãos. Nós estaremos aqui por você, e com você. — prometeu, aquecendo o meu coração e me puxando para um abraço inesperado. E pela primeira vez em semanas, suspirei sentindo-me leve. Charlie deus tapinhas nas minhas costas que me fez afastar notando-o todo sem jeito, pela sua demonstração impulsiva, aquilo me fez sorrir. Ele soltou um pigarro quebrando o silêncio. - Mas me avise caso ele te machucar, pois terei o prazer em deixá-lo tão cheio de furos quanto um pedaço de queijo. 

 O olhei desacreditava, e soltei um riso.

—Pode deixar, chefe Swan. - murmurei.

—Agora que estamos acertados, vamos ao mercado antes que Sue nos mate por tê-la atrasado ao fazer o jantar.

Ri com aquilo.

—Tudo bem. Vai indo para carro, que preciso lavar meu rosto, pegar meu casaco e calçar um sapato. - avisei saindo do quarto e vendo o acenar antes de fechar a porta do banheiro. Lavei o meu rosto rapidamente com água fria, para logo buscar o meu sapato que tinha jogado em algum canto do quarto. Quando finalmente o encontrei notei que um dos assoalhados estava meio solto, algo do qual nunca percebi e também não iria, já que o mesmo ficava atrás da cadeira de balanço.

—Bella. - Charlie gritou, fazendo-me bater a cabeça na cadeira que estava empurrando. 

— Já vou.  - gritei de volta. Com a curiosidade me atiçando, me concentrei em soltar o assoalho que ao contrário do que pensava não foi nenhum pouco difícil de tirar, deixando-me ainda mais curiosa e estranhar toda facilidade, que logo ficou explicado o porquê quando a retirei.

Paralisada, encarei o que achei que fora roubado, tirado de mim. Fotos, CDs, as passagens… Tudo estava ali, guardado como se fosse um tesouro - e de alguma era, para nós dois.  Ao ouvir o grito de Charlie e Seth, me pus de pé com rapidez após colocar a tábua de volta com certeza que assim que voltasse, iria retirá-la novamente. Coloquei o meu casaco e logo fechei a porta sendo inundada por outra convicção: estava na hora de ter respostas independente do quão dolorosas elas fossem.  

E pra isso, precisaria encontrar com Edward novamente.

***

—Isso não vai dar certo, Bella. - disse Jonathan, após contá-lo o plano que tinha em mente e precisava da ajuda dele para colocar em prática.  Prendi a vontade de suspirar com seu pessimismo.

— Vai dar , confie em mim. Estarei aqui para te ajudar a dar embasamento na sua mentira. - garanti lhe estendendo o celular.  Ele me olhou sem acreditar.

— Você nem parece que é filha de chefe de polícia falando assim, parece uma bandida. - caçoou, pegando o celular. Revirei os olhos, socando o seu ombro.

—Liga logo.

—Tudo bem. - murmurou digitando em seguida o número que estava no papel, que era de um dos grandes hospitais de Columbus, Ohio,  onde após uma longa busca descobri que era ali que Carlisle estava trabalhando há alguns meses.  Jonathan me olhou apreensivo, e logo percebi que também estava a ponto de roer as unhas, enquanto ouvíamos o número ser chamado. 

Ohio State East Hospital, Laura, boa tarde. Com quem eu falo? 

— Laura, você fala com o George. Tudo bem? - o olhei estranho com o nome escolhido, o mesmo só deu de ombros. 

—Olá George. No que posso te ajudar?

— Laura, eu estava tentando falar com o doutor…Carlisle Cullen em seu consultório, porém, ninguém atendeu. Sabe me informar se ele está atendendo hoje?

—Oh, ele está sim. Inclusive está passando por aqui no corredor, só um momento que irei chamá-lo. - disse, e ficamos ainda mais apreensivos quando ouvimos ela chamá-lo.  

—Você consegue. - encorajei mexendo apenas os lábios. Ele respirou fundo. 

— George, doutor Cullen está aqui. Mas antes de passar a ligação, da onde você fala, por favor?

Barnes and Noble de Cleveland. - respondeu. 

— Caralho. - sussurrei ao notar que o texto que tinha montado foi para o ralo.

— Claro, só um momento, por favor!

— Bella. - chamou movendo apenas os lábios, fiz sinal para esperar com a mão tentando montar um texto o mais coerente possível ouvindo uma movimentação e então ouvir Carlisle agradecer. Parei de escrever sentindo meu coração acelerado se apertar ao me lembrar da última lembrança que tinha do vampiro milenar, e do qual Edward tinha como figura paterna.

—É doutor Carlisle Cullen falando, com quem eu falo?  - a voz do loiro encheu o lugar e por um momento pude me lembrar com exatidão da maldita festa de aniversário, dele costurando o meu braço após o desastre. Senti a minha perna ser empurrada, o que me fez olhar para Jonathan de lembranças. Ele me encarou desesperado, o que me fez terminar de escrever e entregar para ele a folha. -  Alô? Alguém está aí?

— Alô, doutor Cullen? Perdão a demora, meu nome é George da livraria Barnes and Noble de Cleveland, tudo bem? -  disse John, fazendo-me respirar aliviada.

—Olá George. É com ele que você fala, no que posso te ajudar?

—Seu filho Edward reservou conosco um livro e pediu para que nós entrássemos em contato, assim que chegasse uma nova remessa da edição que desejava.  - leu o que tinha escrito o mais natural que pode, e logo percebi uma brecha que com certeza faria Carlisle questionar, o que me fez correr para o quarto no segundo seguinte.

— Certo, agradeço o contato. Porém, não entendi o motivo da ligação ainda mais para mim. 

—Ele deixou seu número conosco após perceber que não estava com o celular e não lembrava do mesmo por ter adquirido recentemente. - mentiu enquanto mexia na minha prateleira até encontrar o livro que procurava, e que com certeza faria Carlisle lembrar de ter eu comentando sobre em uma das minhas idas aos Cullens. -Estou entrando em contato, para saber se pode passar o número dele para acertarmos os detalhes sobre a entrega do livro.

—Claro, mas antes de passar, poderia me falar qual é o livro que o meu filho reservou?

Jonathan me olhou desesperado e em resposta entreguei o livro. Ele me encarou, e eu assenti.

O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Brontë. - respondeu e logo emendou:- Mas alguma pergunta, senhor?

—Nenhuma, George. Você pode anotar o número? - disse segundos depois num tom risonho. John anotou, confirmou, agradeceu e logo desligou, passando o número para mim em seguida junto com o livro.

—Está me devendo uma rodada de chopp depois disso. -  falou ficando de pé, olhei desacreditada.

—Na verdade não estou. Consegui o número de Ambrey pra você. - o lembrei, abrindo a porta. Seu sorriso fora substituído pelo olhar pidão, revirei os olhos  - Mas depois de sua maestria como ator, te pago um chopp assim que receber. Aliás, já pensou em fazer artes cínicas  ao invés de medicina?

Ele revirou os olhos.

—Vai trabalhar, Bella. Vai. - resmungou passando por mim. Ri, antes de sorrir.

— Obrigada. - agradeci, ele apenas sorriu acenando com a cabeça me fazendo lembrar por um momento de Jacob.

—Sempre que precisar, Bella. -disse e olhou o seu relógio. - Bom, deu a minha hora. Boa sorte em tentar falar com ele.

—Obrigada, e bom trabalho. - desejei o fazendo acenar antes de descer as escadas. Fechei a porta com a ansiedade corroendo o meu peito, o que me fez puxar o ar com força quando peguei o telefone, rezando para que a outra parte do plano desse certo. 

Respirei fundo e fechei os olhos, tomando a decisão mental de ligar para Edward, dizendo o para me encontrar no dia seguinte no Museu de Artes às duas da tarde, que precisávamos conversar. Com a decisão tomada, soltei o ar junto com o telefone que pressionava na minha mão e mais uma vez rezei para que Alice tivesse previsto e o questionasse sobre uma ligação que nunca existiu. Edward entenderia o recado -  ele precisava entender -  e ela entenderia o que fiz.

Só esperava que apesar de tudo aquilo, eu não saísse tão machucada daquela conversa quanto a primeira e última vez.



Após uma noite do qual sequer havia conseguido dormir devido a ansiedade ardendo no meu peito e os pensamentos que me faziam remoer os e se's, acabei acordando atrasada com o despertador gritando em meu ouvido.

Por causa disso, minha mente estava no mundo da lua,  o que me fez verificar tudo se tudo estava desligado e não estava esquecendo de nada antes de sair de casa. Ao entrar no ônibus confirmei com o motorista de esse era o certo antes de pagar, girar a catraca e me sentar num dos assentos livres sentindo as minhas mãos suarem apesar do frio que fazia  e do qual por um momento me remeteu a Forks, fazendo meu peito pesar com saudades de casa.

Sentia-me insegura, com medo que algo desse errado ou até mesmo que ele não estivesse lá, como passei a noite achando que talvez não estivesse mesmo decorando perguntas, ensaiando respostas e escolhendo a minha roupa enquanto tomava chá às três da manhã, para quase esquecer de usá-las na presa. 

Apesar das aulas tranquilas e alunos silenciosos, a ansiedade que pareceu diminuir durante todo o período pareceu voltar com força assim que soou o último sinal.  Entre respiradas fundas e coração pesado, sai da escola vendo as nuvens pesadas de chuva se moverem e mais uma vez senti falta de Forks. 

Dentro do carro, ignorando a música baixa que tocava no carro, eu rezei. 

Rezei para que ele estivesse lá, para que independente do que pudesse ouvir eu não voltasse para aquela floresta, para as noites de pesadelos e gritos. Rezava para que a verdade pudesse me fazer saber o caminho de volta do caminho em qual me perdi e não sabia mais encontrar.

Respirei fundo e saí do táxi  vendo The Cleveland Museum of Art  imponente à minha frente. Ouvindo o carro partir para longe, pude sentir a minha respiração se tornar mais ofegante e meu coração bater mais rápido, enquanto a ansiedade angustiava a minha alma ao ponto de me sufocar, enlouquecer. E se ele não tivesse entendido o recado? Ou, Alice não tivesse conseguido contar sobre a visão porque Edward não estava em Cleveland? Ou em Columbus com os Cullens? E se…

A culpa pesava e torturava a minha alma até ver o cabelo ruivo no meio da multidão de adolescentes, e que me fez perder o ar ao me encarar intensamente. Seus olhos dourados pareciam queimar-me ao mesmo tempo em que a ansiedade e o medo parecia se esvaziar do meio peito, sendo mais fácil de respirar e suspirar. Minhas pernas antes pesadas ficaram leves ao ponto de sentir flutuar até Edward.

Meus pensamentos antes em desordem, se resumiam somente a ele.  A contemplar cada detalhes que podia ver e apreciar, como a maneira que seus lábios se erguiam num sorriso, o deixando ainda mais bonito. Mais o meu Edward antes de tudo acontecer, antes daqueles três malditos dias. Antes…

—Bella. - me chamou num sussurro, fazendo-me olhá-lo. -  Respira.

Imediatamente o fiz. Dei um meio sorriso sentindo as minhas bochechas queimarem.

—Obrigada. - agradeci vendo seu sorriso aumentar. Olhei para os lados tentando me recompor, até encará-lo quando consegui.  

— Alice me avisou sobre seu recado inusitado. - disse quebrando o silêncio, antes que pudesse fazê-lo. Edward me encarou curioso diminuindo o espaço entre nós. - O que me fez pensar qual seria o assunto que precisamos conversar para ninguém, além de nós três,  saber sobre esta conversa?

 -Acredito que você saiba qual é o assunto e porque fiz isso, Edward. -respondi séria, para no segundo seguinte não ter mais calor em seus olhos, apenas frio e dor. Dei meio um sorriso. - Espero que ela não tenha ficado brava o bastante para eu precisar fugir do país. 

Ele esboçou um pequeno sorriso, mas não chegou em seus olhos.

— Ela ficou até perceber o porquê disso. - contou, e o silêncio voltou.  Mordi os lábios, puxando o ar e o olhar. 

— Certo. - murmurei, antes de me virar e andar em direção à entrada do salão sentindo tudo voltar com força. Olhei por cima do ombro vi Edward me seguir a poucos passos de mim, seu olhar cruzou com o meu  para então desviar logo em seguida com o meu coração batendo forte contra o meu peito.

Ignorando a certeza que ele tinha ouvido aquilo, continuei andando para a parte externa do museu que devido ao mau tempo estava vazio. Parei observando o lugar até encarar Edward do meu lado que devolveu meu olhar, antes de começar a andar, juntos, para longe do museu. Sem nos olharmos, subimos na ponte que tinha sobre o lago e encostamos na barreira de concreto.

—Não sei se Alice previu, mas fui a Forks no Ação de Graças. - disse ao notar que estávamos sozinhos. Virei-me para ele que encarava com curiosidade e confuso. - E algumas coisas me fizeram perceber que mereço respostas, Edward. 

—Que respostas, Bella?

—Você sabe quais. - revidei, ele apenas continuou me olhando.

— Que coisas que te fizeram perceber isso?

—Além de conversar com Charlie… -  abri a minha bolsa e tirei uma das fotos do meu aniversário, e o estendi. - Foi encontrar isso e outras coisas escondidas embaixo de um dos assoalho do meu quarto.

Edward pegou a foto que Alice tinha tirado de nós dois, encarando-a tão vidrado quanto eu tinha ficado por dias pensando como éramos perfeitos juntos. Ele me olhou e por um momento pude ver o lampejo de dor antes da dureza tomar seus olhos, ofeguei ao lembrar do seu olhar quando acordei no hospital após a caçada de James, e ao me me ver cheia de sangue enquanto Alice puxava Jasper para longe no meu aniversário desastroso.

— Você mentiu para mim, não é? Naquele dia no hospital, mentiu sobre ficar. - questionei  num sussurro e senti todos os pontos das minhas feridas se arrebatarem ao vê-lo acenar positivamente. Sentei-me no chão completamente sem forças, com o choro subindo pela minha garganta, com o buraco se abrindo em meu peito, roubando meu ar.

— Desde o dia que te conheci, desejei que houvesse alguma forma que pudesse ficar ao seu lado, sem colocar a sua vida em risco o tempo todo, sem lhe transformar num monstro. -  sua voz era um sussurro ao vento enquanto sentia o gosto amargo das lágrimas. - Mas ao ver o que James fez com você, me fez perceber que não a merecia, que se tivesse sido melhor nada daquilo tinha acontecido, você não estaria naquela maca, e eu…

—E você… - o incitei com voz rouca. A dor abundava seus olhos quando seu olhar encontrou o meu, era tão claro quanto o sol que se Edward pudesse chorar, ele estaria em prantos como eu estava.

— Não teria que deixá-la. - conclui. Puxei o ar passando o braço envolta do meu torso, sentindo-me partir enquanto as lembranças da sua partida se passavam em minha mente. - Rezei por dias, semanas, para que os dias ao seu lado fossem longos o suficiente para saciar todo o desejo de tê-la perto de mim, porque apesar de acreditar que deixá-la era o melhor a ser feito, era egoísta o suficiente para expor-lá ao risco. 

—Até que tudo aconteceu. - supus. Ele assentiu.

— O sinal que deveríamos partir, o sinal que eu estava a impedindo de ter uma vida normal sem riscos de ser morta por alguém de nosso mundo. - contou olhando para foto, para então me olhar. - Por três dias, lutei contra mim mesmo, entre permanecer e partir, entre aproveitar cada segundo do seu lado e me distanciar o suficiente para que percebesse o que estava por vir. - apertei os meus dedos segurando o meu corpo, enquanto a dor me partia ao meio e me lembrava de todos eles. - Quando estávamos lá, na floresta, percebi que não iria aceitar, e mesmo não querendo, eu precisei mentir pra você.

—Sobre o que?

—Sobre todas as coisas, sobretudo,que não a amava. - disse. Nós apenas nos encaramos enquanto o vento parecia querer nos levar consigo, seus dedos frios tocaram a minha bochecha fazendo um arrepio passar pelo meu corpo. - E você acreditou tão fácil, meu amor, que todas as horas que imaginei que passaria tentando convencê-la viraram pó enquanto via em seus olhos que você realmente acreditou sem contestar. Sem duvidar das minhas palavras.

— Por que? - sussurrei afastando meu rosto do alcance, completamente sem fôlego, para então olhá-lo novamente. - Por que agora, Edward? Depois de seis anos?

Ele me olhou angustiado.

—Porque apesar dos meses, horas, minutos, segundos de dor, eu precisava ver você. - confessou. - Porém, no primeiro ano que fui a Forks, você não estava lá.  Charlie estava dormindo, e não havia mais o seu cheiro sobre o travesseiro. Quando fui vasculhar a casa, quando ele estava na delegacia não tinha nada que indicasse para onde tinha ido e me recriminei por desejar te procurar pelas diversas faculdades pelo país.  Mas no ano seguinte, eu voltei, tão sedento, desesperado para sentir o seu cheiro, ver o seu rosto e ouvir seu coração bater como todos os dias desde que parti. Mas como da primeira vez, não havia seu cheiro, seu rastro, sua bagunça, você.  - contou, fazendo mais lágrimas caírem pela minha face. - Meses atrás eu fui novamente, e apesar de nada seu estar lá, havia uma foto do qual não tinha no ano anterior em cima da lareira, de Charlie e você  na frente de um monumento escrito Cleveland, e soube naquele instante que já tinha passado da hora de fugir.

Um riso seco escapou pelos meus lábios ao me lembrar daquela foto. Era uma das poucas que tinha tirado com meu pai após a formatura, tinha sido contra no início por achar brega demais - algo que Leah veemente concordava - mas Charlie queria, e fora impossível dizer não. Tinha visto aquela foto sobre a lareira no jantar de Ação de Graças, ela estava ao lado da foto de Leah e Seth em suas formaturas. 

—Bella, - me chamou. Olhei a foto antes de encará-lo com as suas palavras rondando a minha mente como um furacão. -  eu…

—Você esperava que eu seguisse com a minha vida, não é? Um rompimento sem dor. - o cortei ficando de pé, ele assentiu fazendo o mesmo. - Algo que não foi.

—Não, não foi. - concordou. -Você pode não acreditar em mim, mas dizer o que disse a você naquela clareira foi doloroso, assim como existir todos esses anos. -  ele diminuiu a distância entre nós. - Bella, sei que lhe contar tudo isso não vai apagar o que a minha decisão e ausência lhe causou, assim como não vai extinguir o fato que se houve algum momento que merecia você, foi anulado quando te deixei. Eu lamento ter feito o que fiz, lamento por ter mentido para você, e sobretudo ter dito que não amava, a maior blasfêmia que pude dizer durante toda a minha existência. 

—O que você quer de mim, Edward? - questionei em lágrimas. Seus dedos tocaram o meu rosto, e ao contrário da primeira vez não recuei.

— Quero que me permita ficar, mesmo que eu não perdoe, mesmo que não me ame mais como amou um dia, mas permita-me ficar e tentar curar suas feridas. Porém, se não quiser, eu irei entender e compreender.  - suplicou com o meu rosto entre as suas mãos. 

—Edward, eu… preciso pensar. -disse e afastei as suas mãos do meu rosto. - Porque não foram seis dias, não foram seis meses, foram seis anos. 

Sua face antes retorcida, se tornou rígida enquanto colocava as suas mãos no bolso.

—Entendo Bella,e respeito. - murmurou. Respirei fundo sentindo o peso das minhas palavras. - Mas posso te pedir uma coisa?

— Se tiver dentro do meu alcance. - decretei com a voz rouca. 

—Caso queira vê-los, os veja. Eles, principalmente Alice, não têm culpa. Eles fizeram aquilo, pois, os convenci que isso era o certo a ser feito. - falou com os ombros curvados em vergonha. - Carlisle, Esme, Alice, Emmett, Jasper. Todos eles sentem a sua falta.

Ocultei um sorriso sarcástico ao notar que ele não citou o nome de Rosalie, mas dela, nem eu sentia tanta falta quanto sentia dos outros.

—Vou me lembrar disso. - garanti, o fazendo sorrir, mas seu sorriso não chegou aos seus olhos.  Em silêncio, fizemos o caminho de volta até entrarmos, ignorando os olhares que eram direcionados a nós até pararmos de frente ao museu, mais especificamente na frente do Volvo que sequer havia notado quando cheguei. Edward se virou para mim, estendendo a foto que estava na sua mão.

—Pode ficar, eu tenho uma cópia dela. - declarei, ele sorriu.

—Obrigado. Bella -  me chamou, o olhei - Eu amo você.

Inspirei o ar sentindo meu coração disparado, minha boca seca e uma sensação esquisita no meu estômago que parecia irradiar por todo meu corpo, impulsionando tocar o seu rosto sentindo o sorriso crescer em meus lábios antes de declarar e partir.

—Também amo você, Edward.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!