Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 3
Capitulo 3: Eu sou Merida!


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como vocês estão? Espero que estejam bem. Aqui está mais um capítulo! Espero que gostem! Digam o que acharam nos comentários.



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Merida era escocesa, de origem celta. Tinha cacheados cabelos ruivos, alaranjados, livres e vivos que viviam balançando soltos. Seus belos olhos claros eram azuis, tinha um belo rosto e uma bela pele alva.

Era filha da austera Elinor, de belos cabelos negros e longos, e do grande e carismático Fergus, de quem puxava os cabelos ruivos e cacheados, e a personalidade violenta. Tinha dezoito anos.

Estava em uma das escolas de judô de Filotes.

A noite vazia havia caído, estava frio e pálido dentro da escola, Merida usava as roupas brancas de lutadora, com uma faixa preta em sua cintura, caía e rolava no chão com seus colegas masculinos de turma, e os intimidava.

Havia acabado de prender um de seus colegas em uma ude-hishigi-juji-gatame, de novo, apenas um de seu vasto repertório de técnicas.

— Parabéns Merida! Ganhou a luta de novo! – disse o professor sorridente.

A jovem levantou, olhou para ele com um sorriso alegre nos lábios rosados, os cabelos presos com mechas cacheadas grudadas no belo rosto suado, com seus eufóricos olhos azuis e brilhantes.

Seu oponente sufocado, exausto e derrotado saia em silêncio engatinhando para fora da área de luta. Os outros alunos se compadeciam do mesmo ao ver seu rosto cansado e sofrido.

— Obrigada professor! – disse com seu sotaque escocês.

— Agora vá descansar! Dê uma chance aos seus colegas!

— Sim, senhor! – respondeu quando saiu da área de luta.

Havia um longo banco azul, feito de madeira, onde estava a mochila de vários alunos, entre elas a de Merida que caminhava para o mesmo.

Seu coração estava batendo com força quando se sentou. Pegou o telefone plano de capa verde xadrez e o ligou. Estremeceu quando se deu conta da quantidade de ligações e mensagens perdidas de sua mãe, havia silenciado o telefone para impedir quaisquer distrações durante a aula.

— Droga... – sussurrou temerosa.

Puxou a mochila e correu para o banheiro, trocou de roupa o mais rápido que pôde, ignorando o desconfortável suor fedido.

Vestiu sua camiseta de botão verde xadrez com as mangas finas dobradas nos braços e a cobrindo até as belas coxas, suas calças escuras e um par de botas claras e marrons.

Saiu terminando de vestir o casaco palidamente amarelado de mangas compridas enquanto corria levando o uniforme de lutadora na mochila.

— Merida! Onde você vai? Volte aqui! – chamou o mestre da escola.

— Desculpa professor! Mas não dá, agora não! Eu realmente preciso ir! – gritou ofegante enquanto saia pela porta grande da frente.

A ruiva correu o mais rápido que pôde até o ponto de ônibus mais próximo. Ficou parada, esperando pelo transporte, junto de vários outros estranhos silenciosos com seus próprios assuntos a tratar. Olhava o relógio no pulso impaciente enquanto batia o pé, até que de repente não aguentou mais esperar e começou a correr.

Correu sem parar nem por um segundo, forçou seus atléticos membros a trabalharem bem mais do que costumavam.

No meio do caminho viu um ônibus passando a sua frente, reconheceu alguns passageiros que aguardavam seu transporte com ela a alguns minutos. Gemeu de raiva enquanto corria.

Levou bastante tempo, mas finalmente avistou sua casa ao longe.

Quando chegou, com dores no corpo, suada, ofegante de cansaço e vermelha de tanto fazer força, arrombou a porta enfeitada da casa, caindo de joelhos no belo chão de madeira.

— Cheguei! – gritou exausta com os braços estendidos para os lados, os cabelos caídos na face e o busto subindo e descendo.

Olhou para frente, onde jazia uma majestosa figura sombria, a face coberta pela escuridão, pois a luz da sala estava apagada. Mas estava parcialmente iluminada pela fogueira da lareira da sala e mexia com uma peça de metal no carvão. Uma bela e alta mulher, de lado para a mais nova enquanto a mesma se levantava.

— Onde você estava? – gritou virando o rosto parcialmente.

— Mãe... – começou com tom de súplica – Desculpa, eu estava na aula de judô, deixei meu celular no silencioso, não percebi as ligações e as mensagens que a senhora...

— E não pensou em me ligar?! – gritou novamente.

Merida franziu os lábios em silêncio.

Elinor se levantou revelando o rosto raivoso e o olhar irado para a filha, aproximou-se olhando-a de cima.

Fergus estava viajando a trabalho, se não estivesse, talvez poderia amenizar a situação, pelo menos um pouco.

— Agora é tarde Merida! Precisava de você aqui há quase uma hora atrás!

A mais nova suspirou em silêncio jogando o rosto para o lado e franzindo o cenho.

— Era só uma reunião de negócios! Precisava de mim aqui pra quê? – questionou de forma hostil.

—  “Pra quê?”! Um sócio vem aqui com o filho dele, o herdeiro de sua empresa, para fazer uma reunião, eu garanto a presença da minha filha e no fim passo vexame porque você não estava aqui! E ainda me pergunta “pra que” ?! – respondeu indignada.

— Isso não tem importância! – respondeu Merida exaltando a voz.

— Como não?! Você vai herdar a nossa empresa um dia! É bom que você já conheça seu futuro sócio de imediato! Assim como foi comigo e seu pai! Quem sabe até não arranje um bom namorado!

— Ai, meu Deus! Então é isso?! – a jovem gritou enquanto esfregou as mãos no rosto – Eu sei que eu vou herdar a empresa, sei que vou ter que lidar com nossos sócios, não porque eu queira, mas porque é obrigação! Mas sério?! Empurrar os filhos deles pra cima de mim?!

— “Empurrá-los pra cima de você” ?! Se você ao menos aparecesse nas reuniões quem sabe isso não acontecesse!

— Qual deles era hoje que eu não me lembro! O gordão do McGuffin? O efeminado Macintosh? Ou o sonso do Dingwal?

— Não fale assim deles! Eles praticaram judô na mesma escola que você!

— Sim, eu já derrotei todos eles, grande porcaria!

— Cale a boca!

Ambas ficaram em silêncio, raivosas e com caretas em suas faces femininas. Merida olhava sua mãe de lado, enquanto Elinor a olhava frontalmente, sem esconder seu desgosto e fúria.

Ficaram envoltas pela escuridão da casa, e de repente um trovão gritou alto no céu e um tenebroso raio azul cortou o firmamento, brilhando pelas belas janelas vastas da casa, ouviu-se o barulho da forte chuva fria.

Depois de um tempo, já abrandadas, Elinor sussurrou: “A única razão pela qual permiti que praticasse artes marciais foi porque achei que isso faria você se aproximar deles...”.

— É mãe, eu já sabia desde aquela época que a senhora não queria que eu praticasse judô.

— Eu falei que você poderia praticar se honrasse com seus compromissos, mas vejo que me enganei.

— Lamento, não posso fazer nada!

Elinor respirou alto e se calou, surpresa com a resposta da filha. Sua raiva e indignação aumentou, e um olhar maligno surgiu no rosto raivoso da mais velha.

— Mas eu posso! – Elinor respondeu.

A mais velha agarrou a mochila de Merida, que tentou resistir enquanto gritava: “Para! O que está fazendo?!”.

A mais nova poderia se livrar daquela situação se sua agressora não fosse sua mãe, mas ela era, e a ruiva também estava exausta, então não pôde fazer muita coisa. A mochila fora arrancada a força de suas mãos vermelhas.

Chocada, Merida viu sua mãe olhar o uniforme dentro da bolsa, e logo depois, jogar a mesma no fogo da lareira acesa.

A ruiva arregalou os olhos enquanto gemia de susto, fez a leve alusão de ir salva-lo, mas já era tarde demais. A jovem escocesa viu seu amado e antigo uniforme branco sendo consumido pelas chamas ardentes da lareira já meio enegrecido com o carvão. Aquilo feriu seu coração como se o mesmo tivesse sido empalado.

Elinor olhou para a filha ainda mergulhada em cólera.

Mas Merida a olhou sentindo várias coisas, raiva por causa da atitude de sua mãe, tristeza por ver algo que amava arder em chamas, e logo depois decepção enquanto seu rosto branco ficava contorcido, choroso e mais vermelho ainda.

Caminhou lentamente de costas para a porta enquanto olhava sua cruel algoz, mas logo depois lhe deu as costas e correu para fora de casa, para os trovões e para a chuva, batendo com força a porta de madeira.

— Merida! – gritou Elinor, ainda mais furiosa, mas a filha não ouviu, e ainda que tivesse, não pararia.

A mais velha seguiu para fora. A ruiva seguiu chorando aflita pela calçada, correndo instável, o corpo da mulher de cabelos escuros considerou seguir a filha debaixo da chuva, mas os olhos da mesma perceberam algo dentro da casa, e ela voltou correndo para a mesma.

Depois de um tempo, após já estar bem longe de casa, Merida seguiu caminhando sob a chuva, abraçando a si mesma com frio e de cabeça baixa. Não voltaria para casa, mas já sabia para onde ir. Para a casa de alguém que não a julgaria, mas que a ajudaria, um velho amigo.

Seguiu todo o caminho a pé, estava raivosa e precisava se movimentar, não queria ficar sentada num ônibus. Mesmo que raivosa, suas lágrimas quentes e salgadas escorriam, e se misturava à água grossa e fria da chuva noturna. Enquanto isso, uma música familiar lhe ressoava na mente.

 

Eu tentei te alcançar, não posso esconder
I tried to reach you, I can't hide

Quão forte é a sensação quando nos entregamos
How strong's the feeling when we dive

Eu atravesso o oceano da minha mente
I crossed the ocean of my mind

Minhas feridas estão se curando com o sal
My wounds are healing with the salt

Todos os meus sentidos se intensificam
All my senses intensified

Sempre que você e eu conversamos
Whenever you and I, we dive

Eu atravesso o oceano da minha mente
I crossed the ocean of my mind

Mas no final eu me afogo
But in the end I drown

Você me puxa para baixo, para baixo
You push me down, down

Cheia de vergonha
All the shame

Quando você chama meu nome
When you called my name

Eu senti dor
I felt pain

Quando você veio
When you came

 

Ainda chovia quando ela chegou onde queria.

Merida estava totalmente encharcada, seu casaco macio gotejava com as águas da chuva, e ela estava iluminada pelas luzes alaranjadas e saturadas da calçada.

Tocou a campainha, e um idoso desgostoso abriu a porta. Viu o belo rosto molhado da jovem, com pequenas gotas de águas presas na superfície de sua face alva, viu também seus místicos olhos azuis enquanto erguia a cabeça, abandonando aos poucos uma expressão que indicava um pedido de desculpas.

— Merida?! Já está de madrugada! O que está fazendo aqui?! E por que está debaixo da chuva?! Entre!

A jovem entrou, e Norte colocou sobre seus ombros uma grande toalha vermelha e macia.

Sentaram-se ao balcão da cozinha, Merida tirou os calçados molhados e sentou-se no banco de metal.

Notou um estranho jovem deitado no sofá, dormindo tranquilamente debaixo de uma coberta confortável, a cabeça repousando sobre um pequeno travesseiro, enquanto os assustadores raios brilhavam e gritavam através das finas cortinas em frente à alta janela atrás da grande televisão antiga. À frente do sofá, no antigo chão atapetado, jazia um par de botinas marrons com macias meias brancas enfiadas dentro delas, um gato preto dormindo serenamente próximo aos calçados e uma bolsa no chão sobre o tapete caro.

Tirou o telefone do bolso, por alguns instantes se preocupou, mas se tranquilizou quando viu que o mesmo estava funcionando, Merida o protegeu bem da chuva.

— O que aconteceu? – perguntou Norte enquanto entregava uma caneca de café para a jovem.

— Eu briguei com minha mãe – ela respondeu calmamente.

Norte sorriu com certa ironia.

— Desculpe, mas a verdade é que eu já esperava algo assim. Até onde eu sei o seu relacionamento com sua mãe é como o de dois leões na savana, vivem lutando por território – disse manifestando seu sotaque.

— Ah, bom saber que pensa assim... – respondeu sarcasticamente – Enfim... Eu posso ficar aqui por um tempo?

— Quanto tempo exatamente?

— Eu não sei...

Norte olhou dela para o rapaz no sofá repetidas vezes.

Suspirou de olhos fechados e disse: “Não pode ficar aqui, mas sei de um lugar onde pode ficar o tempo que for necessário.”.

— Ótimo! E onde...

— Amanhã eu a levo lá – respondeu antes que perguntasse.

— Obrigada – respondeu ela enquanto sorria simpaticamente.

— Não agradeça, agora vamos, termine de tomar o café e tome um banho, no meu armário ainda tem algumas roupas da minha mulher, devem ficar meio grandes em você, mas é melhor do que essas roupas molhadas, pode dormir no meu quarto, e deixe que eu mesmo ponho suas roupas para secar.

— Não precisa senhor Norte, eu durmo no sofá...

— Não seja boba, não vou deixar uma moça dormir num sofá enquanto tem uma cama confortável, macia e quente para dormir, que tipo de homem seria eu se fizesse isso?!

A ruiva aos poucos sorriu com sua agradável gentileza.

— Obrigada...

— De nada... – respondeu antes de bocejar e sair andando, ainda foi possível ouvi-lo comentar – Hoje é o meu dia de acolher jovens problemáticos...

Caminhou para o quarto, saiu dele com uma coberta e uma grande almofada branca.

Quando terminou de beber o café, a ruiva seguiu as ordens do velho, despiu-se de sua roupa fria e molhada, e entregou para o idoso que estava parado de pé diante da porta, de costas para a mesma recebendo as roupas dela.

— Boa noite, Merida!

— Boa Noite, Sr. Norte, obrigada! – disse com profunda gratidão.

— De nada!

Já na cama, usava uma fina camisola leve, branca e antiga, que já serviu para cobrir o corpo da falecida mulher de Norte.

Merida parou, mais calma, lembrou-se de sua mãe, de seu uniforme, da ausência de seu pai, sentiu-se triste e assim chorou com toda a situação. Chorou até dormir.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Nome da Música:
Can We Kiss Forever? - Kina.
É isso aí, a música do meme. Eu acho ela muito bonita.
Aí está, espero que tenham gostado do capítulo! Digam o que acharam nos comentários!



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