Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 17
Capitulo 17: Guerra e Amor III


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde! Cá está o novo capítulo para o fiéis leitores que estão acompanhando!



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Quando chegou de volta à casa de Norte na noite passada, Soluço ajudou Merida em tudo o que a mesma tinha para fazer.

Não precisou ajudá-la a cuidar de seus ferimentos, uma vez que Rapunzel já o havia feito, e Jack fez questão preparar o gelo para cuidar das costelas doloridas da amiga.

Então ao castanho restou apenas ajudar com as coisas mais básicas, a alimentação, sede, a vestimenta de casacos no frio do inverno cortante de Filótes. Estava disposto a ajuda-la como podia.

Na manhã seguinte, os quatro estavam fora de seus respectivos quartos, preparando seu café da manhã.

O dia estava frio como sempre, contudo possuía um branco estranho no ar dentro da casa, mesmo com os enfeites coloridos nas paredes antigas e nas árvores belas, aquilo parecia passar despercebido.

A ruiva sentava-se no sofá da sala, diante da mesa de vidro, onde havia um copo de leite alto e fino, ao lado de um prato branco com um enfeite vermelho em seu canto, onde comportava um pedaço mordido de pão. O prato havia sido preparado pelo norueguês. A cacheada fez questão de acorda-lo antes da hora para que o preparasse.

O rosto alvo da cacheada estava limpo, embora houvesse distintas marcas roxeadas de golpes em sua face, mas seu ânimo permanecia o mesmo, comia com o mesmo apetite de sempre. Usava uma escura camiseta verde e uma calça moletom cinzenta. Assistia à TV, vendo um filme de ação.

No restante da casa os demais colegas caminhavam de forma desordenada de um lado para o outro, preparando o próprio desjejum.

Todos usando folgadas calças moletom e camisetas coloridas, os rapazes com os cabelos bagunçados, a loira com os cabelos bem escovados e presos. O platinado estava todo de azul escuro, Soluço usava uma camiseta marrom com uma calça preta, a alemã estava toda de cinza claro.

O fogão estava aceso com várias panelas sobre ele, algumas até transbordando.

— Aí Merida! Da próxima vez que cair em uma briga mortal, chama a gente, nós vamos adorar participar também! – disse o russo enquanto trabalhava.

— Jack, não diga isso! A Merida se machucou muito! – falou a germânica enquanto caminhava com um prato.

— É, e aquela foi uma luta mano a mano – complementou o castanho – Ou mina a mina... Enfim, era um contra um.

— É, mas a Astrid tinha o grupinho dela, não tinha? Nós três poderíamos ter participado da briga também.

— É, só que aí seria o quê?! Seis contra quatro?! – criticou Rapunzel.

— Ah, fala sério! Você ainda não viveu até ter participado de uma briga de gangue! – argumentou o eslavo.

A loira riu dizendo: “Não somos uma gangue!”.

— É, e brigar por aí na rua já trouxe problemas demais, então que tal evitarmos pôr a mão no fogo por enquanto? – disse o norueguês caminhando em direção ao sofá, sendo acompanhado pelos amigos, sentou-se ao lado da celta, que seguia comendo.

— É verdade! – disse a alemã enquanto se sentava ao lado do de óculos– Aliás, Merida, você falou com a sua mãe de novo?

— Como assim? – perguntou o escandinavo voltando-se para a mesma.

— Ah, gente! Podemos mudar de assunto?! – pediu a escocesa se revirando sobre o sofá.

— Ela não te contou?! – questionou Jack sentando ao lado da ferida, olhando com malícia para Soluço – A mãe dela ligou ontem, brigando porque ela agrediu o professor dela e ainda comprou briga com a aluna de outra escola.

O castanho franziu o cenho jovem e sério para Merida e disse: “Por que não me disse isso?”.

— Porque não tem importância!

— “Porque não tem importância”, eu acho que ela tá é com medinho – falou o platinado antes de enfiar o pão na boca.

— Cala a boca Jack! Do que eu teria medo?!

— Eu não sei, o Soluço enfrentou o pai dele ontem à noite e agora você está hesitando em fazer o mesmo. Se uma pessoa que eu conheço tivesse coragem pra fazer algo que eu tenho medo, eu ficaria pelo menos com vergonha que essa pessoa descobrisse – falou e terminou sorrindo, mordendo o lábio inferior, tal qual um verdadeiro zombeteiro.

A ruiva fez careta para o mesmo, franzindo o cenho e o fuzilando com seus olhos azuis.

— Eu te odeio! – comentou.

— Merida, você não precisa ter vergonha de mim!

— Considerando que ele já te viu nua?! – falou o platinado sorrindo ainda com malícia.

O garoto de óculos e a cacheada reviraram os olhos, com raiva, um rubor de leve apareceu em suas bochechas.

— Jack, para! Deixa eles! – falou a germânica.

— Ai, tá bom mamãe! – respondeu voltando-se para a comida.

O norueguês voltou-se para a escocesa e disse: “Você não quer falar com sua mãe?”,

— Ah, e sair pegando fogo de tanto estresse? Não, obrigada, se eu quisesse me estressar eu ia discutir na internet!

— Mas Merida, eu acho que seria melhor se você finalmente falasse com ela. Sua mãe estava furiosa do outro lado da linha, eu achei que ela fosse explodir – falou Rapunzel, olhando-a com seus inocentes olhos verdes.

— Isso é mais um motivo pra eu não querer falar com ela. Quem vocês acham que ela vai querer atingir com a explosão?

— Sim, mas olha, o Soluço, falou com o pai dele, e agora se sente melhor!

— Foi fácil? – perguntou a celta, olhando o escandinavo com olhar sarcástico.

Por um segundo Soluço arregalou os olhos claros sob as lentes de vidro, depois respondeu: “Não foi fácil, mas acho que teria sido pior se isso não tivesse acontecido!”.

— É fácil falar agora, depois que tudo já aconteceu.

— Merida, é sério, isso é até por uma questão da sua saúde psicológica – complementou a loira, mantendo um olhar sereno, mas preocupado.

— Galera, a minha mãe está furiosa, não só com essa situação, mas por eu ter fugido de casa, por eu não ter participado do negócio da família... E se ela partir pra cima de mim? O que eu faço? Eu não estou em condição de me proteger dela, nem fisicamente, nem psicologicamente...

— Protegeríamos você! – respondeu o russo à esquerda de Merida.

Os três voltaram o olhar na direção do mesmo, que agora mantinha uma face serena, e um olhar de fidelidade para a amiga.

A ruiva arregalou os olhos azuis por um instante, não esperava aquela resposta de alguém que há pouco estava brincando com a situação.

O olhar firme do eslavo foi o suficiente para que sua mente clareasse e levasse a sério a possibilidade de fazer aquilo. Olhou para o outro lado, onde estavam seus amigos com olhos de esmeralda, que mantinham um rosto iluminado e um sorriso de apoio.

Em seguida olhou para frente, não para a televisão, mas agiu como se tivesse uma epifania. Sentiu que seus amigos lhe davam força.

— E então Merida, que tal enfrentar mais essa? – perguntou Soluço.

Ela baixou a cabeça, sorrindo de olhos fechados, corando, estava com medo, mas estava feliz por sentir que tinha alguém ao seu lado para enfrentar as adversidades da vida.

— Droga... – sussurrou de cabeça baixa, logo depois ergueu-a novamente – Tá bom! Vocês venceram! Mas vai acontecer como eu quiser e quando eu quiser, entenderam?

— Você manda! – disse a alemã erguendo as mãos em rendição.

— Por mim tudo bem! – disse Jack.

— Tá bom, então! – falou o castanho.

A austera Elinor estava sentada em seu sofisticado escritório, cheio de brasões da Escócia e enfeites caros. Seus cabelos negros estavam presos para trás em uma longa trança, usava um vestido preto com adereços prateados, sua pele estava pálida, e estava menos maquiada que de costume. O semblante estava pesado por suportar as emoções nocivas dos últimos dias devido à conduta de sua filha.

Não queria que as coisas estivessem daquele jeito, mas estavam, e parecia não poder fazer nada para resolver isso. Odiava sentir que não estava no controle de uma situação.

De repente, seu celular tocou. O rosto entorpecido, com olheiras de sono, nem sequer tremeu. Apenas seu cenho acabou se franzindo quando olhou no telefone a foto alegre de sua filha.

Atendeu e disse: “Alô!”.

Aquela palavra soou ameaçadora para a mais nova do outro lado da linha, que olhou os amigos, que a motivaram a continuar falando.

— Oi mãe, como a senhora está?

— Vai direto ao ponto Merida! – interrompeu – Tenho muito trabalho a fazer, e vou fazer tudo sozinha!

Em outra circunstância, a ruiva criticaria a negligência da mãe, mas não daquela vez.

— Eu já estou cansada dessa situação! E quero resolver!

— Quer resolver?! Volte para casa e peça desculpas, é bem simples!

— Pra senhora talvez! Mas não pra mim!

A mais velha suspirou alto.

— Onde quer chegar?

— Me encontra às oito da noite no karaokê da Praça de São Miguel! E é bom seus ouvidos estarem afiados! – disse a cacheada, e logo depois desligou.

Elinor afastou a cabeça do aparelho e olhou o telefone, perplexa.

Pouco antes, todos tomaram banho e se vestiram para ir ao encontro marcado, entre mãe e filha.

Merida estava nervosa, havia colocado um gorro branco e aquecedores de ouvido, ambos vermelhos, vestia uma jaqueta marrom, uma calça jeans clara, e botas pretas com adereços verdes. Além de usar o cachecol que havia tricotado.

Jack usava uma jaqueta azul escura, calças marrons e botas pretas.

Soluço vestia uma jaqueta verde escura, com calças pretas e botas marrons.

Rapunzel saía com um colete cor de rosa e calças violeta.

O castanho auxiliou a ruiva com o que podia, assim saíram juntos.

O karaokê da praça ficava em um edifício baixo e vasto, com luzes quentes e douradas. Por dentro era bem movimentado, muito mais por se parecer com uma praça de alimentação com um palco onde alguns estranhos cantavam, do que por qualquer outra coisa.

Ali várias lojas vendiam de seus doces, salgados e guloseimas. Devido à variedade de marcas era um lugar bem colorido.

Os quatro estavam sentados à mesa de pequeno restaurante da rede da família Corona, com canecas de cerveja parcialmente consumidas, manchadas pela espuma branca e latas de refrigerante.

— Até que aqui é legal! Posso vir visitar qualquer dia desses! – falou Rapunzel alto.

— Por que você escolheu esse lugar pra falar com ela? – perguntou Soluço.

— É um lugar movimentado! Cheio de testemunhas! Também é um lugar onde ela não pode perder o recato!

— Está com tanto medo assim? – perguntou Jack sorrindo, mas sem perder a noção da seriedade do momento.

A ruiva respondeu mostrando a língua com uma careta.

— E aí, qual é o seu plano? – perguntou a loira.

— Ela não vai me ouvir se eu conversar com ela naturalmente! Então eu vou subir no palco!

— Tem certeza?! – perguntou Soluço – Você já fez isso antes?

— Não! Nunca vim sequer em um lugar desses!

— E não tá com medo? – perguntou o platinado, agora com mais seriedade, porém, isso não impediu que a escocesa o olhasse de forma desconfiada – De subir no palco!

Então os olhos azuis da celta moveram-se de forma quase instintiva para o lado, notando uma Elinor desnorteada no meio do povo. Quase toda de preto.

— Não é com o palco que eu estou preocupada!

Ao ouvirem aquilo os amigos voltaram-se para onde Merida olhava.

Ela estava ali, a mãe austera e implacável de quem houvera fugido nas últimas semanas. Sentava-se em uma larga mesa vazia, colocando sua bolsa negra sobre a mesma, sorrindo ao fazer um pedido para o garçom com o fino dedo indicador levantado, mas ao ser deixada sozinha logo franzia o cenho e seus olhos castanhos se demonstravam zangados e apressados. Olhava para todos os lados, mas não encontrava a filha no meio da multidão.

A cacheada podia jurar que sentiu sua pressão baixar ao nota-la ali. Seguiu observando-a com olhar inexpressivo com inocentes olhos azuis, o rosto assustado debaixo seus cacheados cabelos alaranjados. Sentiu o ar lentamente sair de seus pulmões e seu coração outrora seguro bater mais rápido.

Nunca houvera se sentido assim, nem mesmo ao enfrentar oponentes maiores e mais fortes.

O castanho notou a reação da escocesa. Sabia bem a sensação de ser intimidado por uma figura de autoridade legítima.

Seus prestativos olhos verdes olharam para baixo, viu a mão alva da celta sobre a perna que balançava sem parar. Por um momento hesitou, mas teve coragem o suficiente para levar sua mão macia até a dela.

Merida assustou-se ao sentir aquilo, os ombros saltaram e bruscamente voltou-se para o norueguês. No início não entendeu muito bem, mas assim que notou seu olhar de apoio acompanhado por um leve gesto com a cabeça, compreendeu o que ele estava fazendo.

Ela sorriu, agradecida, apertou a mão do mesmo entre as suas.

O russo e a alemã não notaram aquilo, estavam mais preocupados com o amador no palco que estava terminando de cantar.

 - Merida! É sua vez! – disse a germânica voltando-se para a mesma.

A ruiva permaneceu em silêncio, respondendo apenas com o olhar, e se levantou dizendo: “Me desejem sorte!”.

Saiu caminhando em direção às escadas do palco fazendo um sinal da cruz.

A mulher escocesa sentada distante e sozinha seguia impaciente enquanto degustava de um bom Whisky, olhava para os lados com as pernas balançando sem parar, torcendo para que em algum momento visse pelo menos um vulto laranja por perto, mas não era o caso.

Então, ouviu uma voz familiar surgindo das caixas de som do estabelecimento, presas nas paredes.

— Boa noite a todos! Eu dedico essa música a alguém muito importante que está aqui esta noite.

Elinor arregalou os olhos quando viu quem estava no palco, logo depois franziu o cenho balançando a cabeça, como se reprovasse a atitude da filha.

A cacheada sentiu uma leve vertigem, não por estar no palco, sua mãe a havia feito aprender oratória, além de teatro, então já tinha experiência. Sentiu as coisas girando por estar prestes a dizer tudo o que sentia para alguém que apesar de tudo, temia perder, e fazendo isso, certamente acreditava que perde-la seria possível.

Começou lentamente a suar e ficar sem ar, lentamente pareceu que seu peito jovem subia e descia, nervoso. Mas de repente olhou para os amigos, que estavam ali, apoiando-a em silêncio, em especial o escandinavo, que sorriu para ela.

Assim, acalmou-se, voltou-se para o responsável por tocar a música e a mesma começou a rodar.

Antes de chegar a parte em que devia começar a cantar, encarou a mãe com o rosto sério e fechou os olhos, pensou que talvez seria mais fácil cumprir esta difícil tarefa se olhasse sua reação.

Então, começou a cantar.

Estou cansada de ser o que você quer que eu seja

I'm tired of being what you want me to be

Sentindo-me tão sem fé, perdida sob a superfície

Feeling so faithless, lost under the surface

Não sei o que você espera de mim

Don't know what you're expecting of me

Sob a pressão de seguir seus passos

Put under the pressure of walking in your shoes

Cada passo que eu dou é mais um erro para você

Every step that I take is another mistake to you

(Presa na correnteza, apenas presa na correnteza)

(Caught in the undertow, just caught in the undertow)

Eu fiquei tão entorpecida

I've become so numb

Não consigo sentir você aqui

I can't feel you there

Fiquei tão cansada

Become so tired

Muito mais consciente

So much more aware

Estou me tornando isso

I'm becoming this

Tudo que eu quero fazer

All I want to do

É ser mais parecida comigo

Is be more like me

E ser menos parecida com você

And be less like you

Você não pode ver que está me sufocando?

Can't you see that you're smothering me?

Segurando tão forte, com medo de perder o controle?

Holding too tightly, afraid to lose control?

Porque tudo que você pensou que eu seria

'Cause everything that you thought I would be

Desmoronou bem na sua frente

Has fallen apart right in front of you

Cada passo que eu dou é mais um erro para você

Every step that I take is another mistake to you

(Presa na correnteza, apenas presa na correnteza)

(Caught in the undertow, just caught in the undertow)

E cada segundo que desperdiço é mais do que posso aguentar

And every second I waste is more than I can take

A escocesa seguiu de olhos fechados, mas lágrimas cintilantes escorreram de seus olhos quando cantou de novo o refrão da música. Soltou a voz como jamais havia feito enquanto se contorceu ao expor a sua dor.

Eu fiquei tão entorpecida

I've become so numb

Não consigo sentir você aqui

I can't feel you there

Fiquei tão cansada

Become so tired

Muito mais consciente

So much more aware

Estou me tornando isso

I'm becoming this

Tudo que eu quero fazer

All I want to do

É ser mais parecida comigo

Is be more like me

E ser menos parecida com você

And be less like you

E eu sei

And I know

Eu posso acabar falhando também

I may end up failing too

Mas eu sei

But I know

Você era igual a mim com alguém decepcionado com você

You were just like me with someone disappointed in you

Eu fiquei tão entorpecida

I've become so numb

Não consigo sentir você aqui

I can't feel you there

Fiquei tão cansada

Become so tired

Muito mais consciente

So much more aware

Estou me tornando isso

I'm becoming this

Tudo que eu quero fazer

All I want to do

É ser mais parecida comigo

Is be more like me

E ser menos parecida com você

And be less like you

Eu fiquei tão entorpecida

I've become so numb

Não consigo sentir você aqui

I can't feel you there

(Estou cansada de ser o que você quer que eu seja)

(I'm tired of being what you want me to be)

Eu fiquei tão entorpecida

I've become so numb

Não consigo sentir você aqui

I can't feel you there

(Estou cansada de ser o que você quer que eu seja)

(I'm tired of being what you want me to be)

 

Quando a canção terminou, passando apenas o restante da melodia, a celta permaneceu por alguns instantes com os olhos fechados. Lentamente os abriu e ficou calada.

Por um momento, se concentrou na plateia em silêncio, seu rosto ferido ficou em dúvida, aparentemente preocupado se a plateia havia gostado ou não. Permaneceu sem falar nada, segurando o microfone preso ao pedestal, com manchas úmidas de lágrimas em seu rosto, que havia escorrido pelas bochechas. Seus olhos azuis se mantiveram inocentes, e pareceu pequena naquela situação.

Os amigos da cantora olharam assustados dela à sua genitora, que não parecia nada feliz com aquilo.

Então, como uma explosão, a plateia vibrou como se estivesse em um estádio de futebol.

Merida brevemente arregalou os olhos e logo depois sorriu. No fundo ficou alegre por alguém ter gostado de sua música, não era sua intenção, e embora não se importasse tanto, gostou de ser aplaudida.

Contudo, seu sorriso se desfez ao notar sua mãe, em pé, parada em meio à plateia eufórica, com suas vestes escuras e um olhar horrorizado. As duas se encararam, ambas com o rosto fechado.

Depois disso, a ruiva desceu as escadas, sendo recebida pelas pessoas, que davam tapinhas em suas costas, vez ou outra alguém a abraçava de surpresa abraçando o pescoço, tirando uma selfie, cegando-a com a luz branca do telefone.

A cacheada sorria para todos, agradecendo-os, como Elinor a havia ensinado quando estivesse em público, e até gostava de toda aquela atenção e receptividade, mas seguia com a cabeça.

Notou sua mãe à porta do estabelecimento, olhando-a fixamente, como se a chamasse para conversar fora dali.

Passou pelos amigos, dizendo que ia estar a sós com Elinor, e que queria que deixassem-nas assim.

Jack, Soluço e Rapunzel, aceitaram o pedido, mas não quiseram ficar no karaokê, indo em direção a uma lanchonete na praça indicada pela loira.

Mãe e filha caminharam pela praça, observando o céu negro, a neve branca, as plantações verdes cobertas pela mesma, e as belas pontes cinzentas de pedra. Todas iluminadas pelos postes de luz branca e pelos coloridos e calorosos enfeites de natal.

Elinor caminhava com a postura sempre ereta e o rosto sério empinado, encolhida em seu casaco preto enquanto segurava a alça de sua bolsa de mesma cor. Ao seu lado, mais afastada, caminhava Merida, com as mãos nos bolsos do casaco, a coluna curvada em timidez, observando a mãe em meio a um pequeno nervosismo.

De repente, a mais velha voltou-se para unigênita, agarrando com força o rosto da mesma, tentando ver as feridas rochas em sua face, enquanto franzia o cenho.

A mais nova tentou recuar o rosto, mas teve tentar usar de sua força para se libertar daquela investida, e a verdade é que não estava muito forte, a luta havia a deixado bastante debilitada. Mas sua mãe cedeu à vontade da filha e a soltou.

De repente, enquanto caminhavam, a ruiva perguntou: “Cadê o papai?”.

— Está a semanas me evitando, sem me ver direito e a primeira coisa que você me pergunta é sobre seu pai?! – respondeu a morena com voz raivosa, franzindo o cenho.

A cacheada ficou com o rosto calmo e retrucou: “E cadê ele?”.

Suspirou, bafejando espectro, revirou os olhos raivosa e respondeu: “Eu disse pra ele que queria conversar com você a sós. Então pra ele me esperar no carro, mas se conheço ele bem deve estar passeando pela praça.”.

Merida olhou para o lado, procurando se o via, mas a paisagem não ajudava.

— Fergus! – gritou a filha para o pai.

— Já vou! – a voz carismática e distante do patriarca respondeu.

— Fica aí! – corrigiu Elinor.

Olhou para a filha a reprovando, mas a mesma já não se importava, e manteve o mesmo olhar tranquilo.

— Quem são aqueles garotos com quem você falou antes de vir falar comigo?

— O albino é o Jack, a loira é a Rapunzel e o de óculos é o Soluço.

— Está dormindo na casa de algum deles?

— Bem... – franziu os lábios.

— Quem são os pais deles?

— Bem, digamos que nenhum de nós está dormindo na casa de nossos pais nesse exato momento.

Elinor olhou bruscamente para a filha, franzindo o cenho, aos poucos sua face cansada e séria assumiu um aspecto hostil de reprovação no meio do escuro de uma região do parque mal iluminada.

— Está dormindo debaixo do mesmo teto com dois rapazes?!

— E uma garota.

A ruiva respondeu, demorou a compreender do que a mãe estava falando, então seguiu com olhar sereno, olhando-a, até que de repente notou e soltou um riso, dando um salto, respondeu: “Relaxa mãe! Eu sou uma cavaleira de Cristo! Sou casta! Isso significa que pretendo continuar virgem até a minha lua de mel, depois do meu casamento. Se me conhecesse melhor, saberia disso.”.

A castanha fungou, e voltando o olhar para frente respondeu: “Isso até que explica o porquê de seu pai não se preocupar que você saia com garotos.”.

Seguiram caminhando, chegaram até uma ponte clara e cinzenta, coberta pela neve alva, com marcas de pisos. Abaixo estava um rio com seu fino gelo imaculado. Por perto haviam árvores altas, escuras e verdes, salpicadas de branco. Havia também um alto poste negro, iluminando a mesma com sua forte luz branca. Estava vazia e não havia nenhum enfeite de natal por ali.

As duas adentraram a mesma e apoiaram os cotovelos sobre o corrimão de pedra, uma ao lado da outra a mãe à esquerda, a filha à direita. A unigênita estava exausta, devido às suas atuais limitações físicas, bafejou recuperando o fôlego, o ar virando espectro.

— Estão em algum hotel?

— Não, senhora, estamos em uma casa do avô do Jack.

A mais velha novamente fungou, logo suspirou alto e fundo. A cacheada a olhou de baixo com um pequeno nervosismo, perdeu um pouco de sua serenidade.

— Então, naquela música tinha tudo o que você sentia e queria me falar.

— Bem, é... Quase tudo – falou um tanto sem jeito.

— Você cantou muito bem, parte de mim está orgulhosa.

A mais nova de repente baixou o olhar, fez um breve sorriso, aquela aprovação, no fundo teve um significado.

— Mas agora eu também gostaria de dizer o que eu sinto – falou voltando-se para Merida, apoiando o cotovelo agasalhado esquerdo sobre a pedra, olhando-a de frente, com seus fortes olhos castanhos.

A ruiva virou-se calmamente defronte à mesma e a encarou no fundo dos olhos, embora manifestasse desconforto e seu rosto aparentasse timidez.

— Recentemente encontrei dois amigos do meu tempo de escola, um casal, hoje estão casados e tiveram um par de gêmeas que já estão trabalhando. Eles me contaram a história deles. Me disseram que parecia que uma das filhas não queria nada da vida, enquanto a outra queria estudar, ter sucesso e ser alguém. Me contaram como os dois trabalhavam muito, entravam pela manhã no serviço e saíam tarde da noite, em um emprego que os dois odiavam e que eram sujeitos a vários abusos de colegas e superiores, mas eles tinham que pagar a escola das filhas e garantir à elas a melhor educação possível. Depois pagaram a faculdade das duas, a que parecia não querer nada da vida acabou não concluindo o curso e não pegou o diploma, mais tarde descobriram que ela só estava se sentindo pressionada, e estava com muito medo, medo do futuro. A outra terminou o curso e pegou o diploma. Hoje, as duas trabalham no mesmo lugar, realizando o mesmo serviço de baixa patente.

A cacheada permaneceu em silêncio enquanto era encarada pela mãe. Depois, a cacheada continuou.

— Sem querer dar sermão da minha época, mas...

— Ah, mãe... – suspirou a mais nova, balançando o rosto levemente para os lados e baixando a cabeça.

— Não! Escuta! – advertiu a mais velha – A minha época era mais árdua do que a sua, não tínhamos os confortos que vocês têm hoje, nem conseguíamos encontrar aquilo que queríamos de forma tão imediata. Mas ainda assim, na nossa época era mais simples ganhar a vida. Uma vez eu ouvi o ditado, “dê um peixe a alguém e ele vai sentir fome de novo, ensine-o a pescar e ele nunca mais sentirá fome”. Eu conheço pessoas da minha época que nunca fizeram um curso superior, algumas que nem mesmo terminaram os estudos e que hoje são bem sucedidas e estão melhores do que as duas filhas dos meus amigos. A sua geração sofre de uma terrível decadência moral...

— Eu não sou assim! – comentou Merida.

Elinor seguiu como se não tivesse ouvido.

— ... mas eu certamente não queria ter que enfrentar essa dificuldade que a sua geração enfrenta! Antigamente era possível subir na vida apenas trabalhando! Hoje não! Nem mesmo um diploma garante seu sucesso! Uma gêmea se formou e a outra não! Nenhuma delas sabe se vai subir na vida!

— Mãe! Onde quer chegar? – questionou a ruiva, impaciente.

A castanha ergueu o dedo indicador, olhando para filha de cima.

— Você faz parte dessa geração Merida, mas você não tem que lidar com o drama que a maioria das pessoas da sua idade enfrenta! Você é rica! Você é nascida em berço de ouro! Não precisa se preocupar com o dia de amanhã ou com diplomas ou com o que vai estar no seu currículo para tentar conseguir um emprego e o seu pão de cada dia! Você vai herdar a nossa empresa de bandeja e mão beijada! Você reclama que eu a pressiono para você seguir os meus passos, mas a verdade é que você é privilegiada por não ter que lidar com a pressão de ser alguém na vida! Você já é! Então me desculpe se não levo a sério essa reclamação! Mas saiba que essa não era a minha intenção!

A ruiva parou por um momento, em silêncio, suspirou alto, sua respiração virando espectro, colocou as mãos nos bolsos do casaco, olhando para os lados lentamente, sentindo a mãe encara-la, reconhecendo que aquele era um argumento válido.

— Tá, talvez isso seja verdade, mas isso não justifica as exigências que a senhora faz de mim! – parou por um segundo a observando, os olhos azuis zangados – A senhora acha que está certo querer que eu me case com alguém que não conheço e não quero só porque a família do cara também tem uma empresa?!

A mais velha respondeu, mais calma: “Eu só quero que você se case com uma pessoa apropriada com o seu dever! Por exemplo, vamos pegar a Idade Média que você tanto ama! Os nobres só se casavam com outros nobres! Eram pessoas que tinham o dever de reger e defender um território, que eram educadas desde a infância para isso! E se casavam com pessoas que eram igualmente educadas para esse propósito! Inclusive os reis, mesmo após o fim do Feudalismo na Europa! Nenhum deles se casava com pessoas despreparadas para o cargo que exigia os mais diversos tipos de conhecimento! Nosso é basicamente como o dos nobres daquela época! Temos que manter e zelar para que as pessoas mantenham o seu sustento! E se você casar com um vagabundo ignorante que não quer nada com a vida! Que não vai te ajudar em nada e sim ser um peso nas suas costas! É isso que quer?! Ou então morrer sem se casar e ter filhos! O trabalho de toda a minha vida e da vida de seu pai terá sido jogado fora, como algo sem valor e um estranho vai assumi-lo! É isso o que você deseja!

A cacheada parou por um segundo, em silêncio, a respiração tornara-se quente e pesada, estava furiosa, e comparação entre os nobres medievais e seus deveres modernos a pegaram de jeito.

— Tá, mãe! Talvez faça sentido o que a senhora me disse! Mas escuta! É a minha vida! E eu devo fazer as minhas escolhas! E para isso eu devo ter a minha liberdade! É só o que eu quero! Liberdade e a senhora está tirando isso de mim!

— Merida, eu lhe deixei fazer o que queria toda a sua vida! Por mais que eu não concordasse! Deixei você aprender a lutar, atirar com arco e flecha, entre várias outras coisas! Eu não estou tirando a sua liberdade! – Merida voltou-se para o corrimão nevado da ponte, apoiando os cotovelos no mesmo, segurando a testa alva com as mãos, suspirando em estresse.

— Não! Só o meu futuro! – respondeu voltando-se para a mãe, um sorriso sarcástico em seu rosto e lágrimas infelizes querendo brotar de seus olhos – Escuta mãe, eu queria muito que a senhora tivesse outra filha, ou filhos! Alguém que quisesse sentar aos seus pés e escuta-la, alguém que quisesse seguir o caminho que a senhora predestinou, mas essa não sou eu!

Elinor suspirou alto, baixando a cabeça com a mão na cintura, ergueu a face, e a olhando, perguntou: “Então nada do que eu disser vai te fazer reconsiderar? Você pretende mesmo deixar que o trabalho da minha vida e o da vida do seu pai se perca apenas para usufruir da sua liberdade? Você não quer mesmo pagar o preço que a sua liberdade custaria e sustentar a vida de várias pessoas?”.

— Pessoas que nunca vão me conhecer?! – respondeu quase questionando – Pessoas que é bem mais possível que me odeiem do que me amem?!

— Nem por mim? Ou pelo seu pai? Nada? – perguntou já com lágrimas em seus olhos.

— Mãe, eu vim a esse mundo e em tudo eu dependia da senhora! Porque eu era pequena e dependente, mas a partir de um certo momento nós crescemos e precisamos trilhar nosso próprio caminho, e eu acho que esse momento já chegou para mim! – suspirou, hesitando – Eu sei que o que eu vou dizer pra senhora vai magoa-la, mas... Eu prefiro morrer pelas minhas escolhas, do que viver pelas suas.

A castanha arregalou os olhos, chocada, a filha a olhava com o rosto fechado e levemente franzido, havia acertado em cheio, aquilo a magoou.

Se encararam por alguns instantes em silêncio. Ambas já bem feridas por aquela conversa, mas a jovem ruiva sabendo disfarçar melhor através de uma carranca única.

De repente, sem ninguém esperar, apareceu um estranho, um senhor de idade com barba branca mal feita, usando um grande casaco marrom com calças jeans surradas e botas velhas pretas, carregava uma grande lata prateada sobre um carrinho de duas rodas, dentro dela estava uma velha pá de neve. Assoviava naturalmente, indiferente às duas que conversavam na ponte. Estava ali para jogar na ponte.

Mãe e filha o olharam sem entender e logo depois voltaram-se para o idoso assoviando, que sequer as notava.

— Senhor! – chamou a mais velha.

O barbado a olhou saltando os ombros, tirou um boné azul e desgastado em reverência.

Elinor fez um sorriso mal feito em respeito a isso.

— Boa noite madame! O que deseja? – sua voz era muito pouco séria para alguém daquela idade.

— Será que o senhor poderia fazer isso outra hora? Estamos tendo uma conversa muito importante e ela não pode ser nem adiada, nem interrompida!

— Ah, sinto muito madame, mas estou sendo pago para jogar sal na neve nos lugares mais importantes onde as pessoas passam, e as pontes estão na lista.

— Mas será que o senhor não poderia passar aqui mais tarde? – replicou a mulher.

— Sinto muito madame, mas não vai dar! Sabe como é, se eu fizer isso por um, vou ter que fazer isso por outro, e mais outro, e mais outro, e mais outro, e vou deixar de jogar sal em muitos lugares e isso é bem contraproducente para com o meu serviço, além de que isso pode me prejudicar financeiramente. Sem mencionar também que eu já fiz vista grossa para as senhoritas, deixando de passar aqui para ir em outro lugar, coisa que eu nem devia ter feito. Por que as senhoritas não vão para outro lugar?

A cacheada já estava estressada com aquele diálogo.

— Por que a praça é pública! E a gente fica onde quer!

— Caramba! – saltou o homem – Te atropelaram menina?

A mais nova sorriu sarcasticamente com o rosto ferido enquanto o encarava com as mãos enfiadas nos bolsos.

— Devia ver a outra. Mas voltando ao assunto, com tanto tempo para jogar sal na neve, tinha que jogar logo agora?

— À noite a praça tem menos movimento, princesa! – respondeu, com ênfase no apelido, aquilo não soou como um elogio.

— E por que vocês não usam um veículo, como se faz no resto da cidade?

— Porque aqui não pode operar veículos nem maquinas pesadas, princesa!

— Mas mesmo assim! – interveio a castanha, com verniz diplomático e voz calma – A praça é muito grande e tem muitas outras pontes que devem estar cheias de neve e precisando de alguém para jogar sal nelas, será que o senhor não poderia deixar essa daqui por última?

— Essa é a última, madame, eu pretendo jogar sal nela, depois disso ir pra casa. Por que as duas simplesmente não saem e vão pra outra ponte?

— Porque a gente não quer! – respondeu Merida, raivosa.

— E também... – interveio a mulher escocesa novamente, agarrando os ombros da filha, puxando para trás – Como o senhor percebeu, a minha filha está muito ferida. Já foi difícil pra ela chegar até aqui andando, este é o máximo que ela consegue caminhar.

— Peraí, como é?! – questionou a olhando por cima do ombro – Eu não sou tão fraca!

— Madame, escuta, eu lamento, mas só estou fazendo o meu trabalho.

— Ai, saco! – praguejou a ruiva – E que tal se você deixar a pá e o sal aí que depois nós duas jogamos o sal na neve pra você?

— Jura?! – franziu o cenho, colocando a mão esquerda na cintura – Fariam isso?!

— Você já atrapalhou bastante a nossa conversa! Se não percebeu só queremos termina-la, então sim! Se é necessário, faremos! – concluiu a cacheada.

— Seja mais educada, Merida...

— Então está bem! – falou encostando a lata na parede do corrimão da ponte, com a pá dentro – Depois que jogarem o sal na ponte é só deixar o material perto de um poste qualquer.

— Sim, senhor, entendemos, muito obrigada! – falou Elinor, sorrindo para o mesmo.

O idoso voltou-se para a mais nova e disse: “Se eu vier aqui amanhã, e ouvir a reclamação de que eu não joguei sal em todas as pontes, e encontra-las aqui de novo, eu não irei fazer isso outra vez!”.

Depois virou-se de costas e foi embora.

Merida franziu o cenho para o mesmo, depois gritou: “Eu vou reclamar dos seus modos com o seu patrão!”.

O homem não parou de caminhar, e de costas, respondeu: “Pode reclamar! Eu não sou contratado, princesa! Só estou sendo pago de maneira informal por prestar um serviço!”.

— Aposto que o cara que tá te pagando não vai gostar de saber que anda expulsando as pessoas das pontes da praça! Seu velho feio!

— Pelo menos o meu rosto está intacto! Se eu fosse você eu tomaria mais cuidado com o seu!

A ruiva fez careta, daí não o viu mais, havia pego antipatia por aquele sujeito.

Voltou-se para a mãe ainda com a carranca no rosto, mas se surpreendeu ao notar que a mais velha a observava com um frio olhar de reprovação.

— Que foi?! – questionou sem entender.

— Ele está certo.

— Hein?!

— Eu estava quase me esquecendo do porquê eu liguei pra você ontem e sobre o que eu queria conversar, mas aquela música me fez esquecer disso, e estava o tempo todo bem na minha frente! – falou gesticulando para o corpo debilitado da filha.

— Pois é, pra senhora sempre foi fácil se esquecer de mim, mesmo eu estando aqui o tempo todo! – falou colocando a feminina mão esquerda na cintura magra, sorrindo sarcasticamente enquanto se apoiava na pedra.

Elinor ignorou aquela resposta, manteve o olhar de reprovação, mas desta vez, mais fraco.

— Eis que eu estou trabalhando e recebo uma ligação dizendo que você agrediu o seu professor e saiu brigando com uma menina na escola de artes marciais! Me explica como isso aconteceu!

— Ah, por onde eu começo?! A história é tão longa... – disse a cacheada colocando os dedos finos no queixo enquanto olhava para cima com tom de ironia.

— Então vamos por parte! – a castanha exaltou a voz séria – Quem era essa menina?

— Os amigos dela a chamavam de Astrid, uma loirinha mimada...

— E por que as duas estavam brigando?

— Ela humilhou meu amigo! E ia continuar humilhando se eu não fizesse nada...

— Ah, Merida, não é assim que se resolve esse tipo de coisa! Violência só gera mais violência! Ela nunca é a solução.

— Ah, não?! Então a senhora acha que os serviços do papai ao país foram coisas erradas?! A oposição dos nossos irmãos de fé aos vikings, aos mongóis, ao Império Otomano. Os Aliados contra o as forças do Eixo?! A violência não era a solução?! O que devia ter sido feito era deixar todas essas ameaças continuarem a existir e crescendo...

— Merida, não é disso que estamos falando! Uma garota humilhar o seu amigo não é a mesma coisa que as investidas militares dessas figuras que você citou! Estamos falando apenas de um problema de relacionamento entre dois adolescentes! Pra começar, você nem tinha porque se envolver.

— E fazer vista grossa?! Fingir que não vi?! Se a senhora acha que eu faria isso, então a senhora realmente não me conhece mesmo!

A mais velha suspirou alto.

— Eu nunca gostei que você lutasse! Tinha medo que você se envolvesse em alguma confusão e terminasse... Assim! E agora, o meu maior medo se realizou!

— Mãe, relaxa! Eu venci a briga! O professor não mencionou isso?

— Ah, Merida, eu espero que você tenha uma filha como você! Porque só sendo mãe para entender o que eu sinto olhando pra você assim!

A cacheada suspirou no calor da discussão, e com um sorriso sarcástico, respondeu: “Se algum dia minha filha chegar dizendo que brigou com alguém para proteger a honra do amigo eu diria ‘muito bem filha, eu estou muito orgulhosa de você’.”.

— E é isso que você queria que eu dissesse?!

A mais nova fez um breve pausa, olhando a mãe com os olhos azuis, depois respondeu: “É, pra falar a verdade eu gostaria que a senhora me dissesse algo assim! Mas é esperar demais da senhora!”.

— Da mesma forma que ajudar nos negócios da família também é esperar demais de você! – respondeu gesticulando.

As duas pararam um pouco, um acordo silencioso de darem um tempo. Voltaram a ficar de frente para o corrimão da ponte, observando a paisagem noturna e urbana, que apesar de tudo, possuía certa beleza, vindo muito mais dos enfeites de natal, das pontes e da natureza do que de qualquer outro lugar. Elinor e Merida não se atreviam a se olhar nos olhos, atirando a visão da direção contrária uma da outra.

Ficaram assim até recarregar as forças para voltarem a discutir. Viraram-se ao mesmo tempo, encarando uma a outra com o rígido rosto fechado.

A castanha começou: “Merida, eu queria que nós duas pudéssemos voltar a ser como éramos como quando você era pequena, mas para isso, você tem que mudar...”.

Enquanto ouvia aquilo com a cara raivosa, acumulando ira, a ruiva lentamente desviou os olhos claros, notando algo estranho atrás de sua mãe.

Uma figura estranha e alta se aproximava de maneira sorrateira sob a forte luz branca sobre a ponte, caminhando de maneira incomum, com o rosto meio baixo, usando uma touca e coberto por cumpridos agasalhos de frio. Não era possível ver o seu rosto, pois o escondia na sombra de seu próprio corpo.

A cacheada notou em dois segundos, aquele não era um homem de bem. Já não ouvia a voz da mãe, apenas sabia que queria protege-la. Respirou fundo pela boca, o ar virando vapor frio, preparando-se para o que viria.

O desconhecido aproximou-se em silêncio de ambas, até que parou atrás da mais velha e fez um movimento sugestivo com o braço.

Neste instante a mais nova reagiu, empurrando a mãe para o lado, investindo sobre o estranho.

— Paradas! Isso é um assalto! – falou enquanto apresentava uma pistola com a mão direita.

Contudo, foi interrompido por Merida, que com um rápido jogo de mãos, golpeando-lhe o pulso e puxando o instrumento, desarmou o homem, roubando-lhe a arma, apontando-a para o mesmo enquanto afastava-se dele, com a mãe atrás de si sem compreender direito o que estava acontecendo.

O homem não compreendeu direito o que havia acontecido e ficou em silêncio observando aquilo.

A ruiva parou por um instante, a situação estava sob controle, porém não acreditava naquilo, estava assustada, e seu coração batia acelerado.

— Vai embora! Se não eu atiro! – ameaçou.

Mas o estranho, que permanecia com o rosto escondido não fez, nem falou nada, apenas pendeu o rosto para o lado, com o corpo aparentemente tranquilo, era possível ver um sorriso maligno surgindo em sua face sombria.

A cacheada, franziu o cenho, sem compreender, até que olhou para a pistola em suas mãos e demorou a notar que se tratava de uma pistola de brinquedo. Após isso, ainda puxou o gatilho, até mesmo temendo um possível disparo, mas nada, também não tinha munição, seja lá o que devesse carregar a mesma, nem sequer fez o som metálico de um gatilho.

Um horror terrível caiu sobre a face da mais nova, Elinor congelou, e o medo tomou conta das duas.

— Arma de brinquedo – disse o marginal sorrindo, depois disso puxou um canivete longo – Mas essa faca é de verdade! – e lentamente avançou na direção das duas.

Embora assustada, Merida foi capaz de reagir, atirou a pistola de mentira contra o criminoso e empurrou a mãe para trás gritando: “Mãe! Sai daqui! Chama o papai!”.

A arma acertou a face do assaltante, fazendo cair a touca, revelando um jovem rapaz com cerca de vinte anos, cabelos castanhos curtos, olhos escuros e um rosto forte. Agora furioso porque a pistola acertou-lhe diretamente no nariz, deixando sua face vermelha.

A castanha congelou, não conseguiu nem mesmo atender ao pedido da filha, só saiu do lugar quando a mais nova recuou para trás para não diminuir a distância entre elas e o desconhecido.

Contudo, Elinor não era apenas um empecilho que a ruiva poderia simplesmente contornar para seguir evitando a lâmina, então tinha que empurra-la também, mas aquilo era algo que a atrasava, então, o jovem estranho e raivoso estava perto de alcança-la.

A cacheada saltou e o chutou no peito com os dois pés, coisa que funcionou tanto quanto um simples empurrão.

Caiu sobre a ponte dura de pedra, cuja neve fria acumulada ali não serviu tanto assim para amortecer sua queda. Gemeu de dor, pois seu corpo ainda estava muito debilitado e ferido, talvez se não estivesse em tal condição, e se sua mãe não estivesse ali conseguiria resolver aquilo em um minuto, mas ela estava e cada membro de seu corpo não possuía nem metade da força e agilidade que costumava possuir, fazer movimentos bruscos era terrivelmente doloroso.

Ao notar o criminoso aproximando-se, Merida amedrontou-se e ainda no chão, recuou para trás, seu corpo doía, mas seu instinto de sobrevivência falava mais alto.

Distante dali, Jack, Soluço e Rapunzel estavam em uma cafeteria. Era relativamente pequena, mas aconchegante, era quente e uma calorosa e agradável luz dourada caía sobre os três. Também era mais calmo e silencioso do que o karaokê onde estavam antes.

Os jovens sentavam-se em confortáveis cadeiras de madeira, enfeitadas com seus agasalhos coloridos, defronte a uma mesa viçosa e marrom, enfeitada com losangos brancos com belos entalhes.

Havia sido servido para eles uma grande bandeja de biscoitos com canecas brancas de chocolate, de onde subia um fino vapor. O platinado e a loira comiam e bebiam sem parar, degustando do momento, também paravam às vezes para conversar, estavam de frente um para o outro, um de cada lado da mesa.

À cabeceira da mesa, estava Soluço, a coluna magra curvada para frente, abraçando o próprio tronco enquanto sua pernas jovens não paravam de pular. A caneca à sua frente não possuía menos chocolate do que tinha quando chegou.

— Qual é o problema Soluço? – perguntou a alemã, voltando-se para o mesmo – Você nem tocou no chocolate.

— Se você não quiser, é só me falar Soluço, eu tomo pra você! – disse o russo pegando um biscoito.

— Ah! – reagiu arregalando os olhos verdes, deixando o corpo ereto, pegou da caneca e deu um gole – Desculpem, é que eu estou preocupado com a Merida.

— Relaxa! É só a mãe dela! O que de pior poderia acontecer?! – questionou o eslavo.

— Jack! Seja mais compreensivo! O Soluço sabe como é ter problemas com o pai. Você e eu temos sorte de não termos que passar por isso!

— Olha, não é como se a minha relação com a minha mãe fosse às mil maravilhas.

— Ela está demorando demais, eu não demorei tanto assim pra conversar com meu pai ontem – falou olhando em direção à porta de vidro atrás de si, onde era possível de se ver os campos da praça sob o céu noturno, iluminados por enfeites de natal distantes.

— Escuta Soluço, se a Merida precisar de algum apoio psicológico depois dessa conversa com a mãe dela, está tudo bem! Pois ela tem a nós! E eu conheço um ótimo psicólogo! O doutor Benjamin, ele pode ajudar com qualquer coisa!

— Mas você acha mesmo que a Merida pode precisar disso?! Afinal, é a Merida, ela não fica abalada com qualquer coisa! – disse Jack.

— Talvez sim, só os filhos sabem o quanto nossos pais podem nos afetar – respondeu ainda olhando para a porta.

— Soluço, olha pra mim! – chamou o platinado, o castanho atendeu a seu pedido – Vai ficar tudo bem! Se elas duas se amam, então vai tudo acabar bem! O que você acha que a mãe da Merida faria com a própria filha?!

— Rapunzel! Você falou que a mãe da Merida tentou levar ela pra casa à força naquele dia! E se ela tentar fazer isso de novo? Naquele dia você estava lá para ajuda-la, mas agora ela está sozinha! E está machucada! Não poderia sair correndo dali nem se quisesse!

O norueguês parou um tempo, os olhos de esmeralda olhando para baixo, arregalando-se aos poucos, notando algo que havia lhe passado despercebido. O russo e a alemã o observaram em silêncio, trocaram o olhar por um breve instante.

— Eu tenho que ir até ela! – falou o escandinavo, erguendo-se de repente, empurrando a cadeira para trás.

Os outros dois ergueram-se na mesma hora, correndo até o mesmo e o segurando pelas roupas.

— Soluço, espera! A Merida não queria que ninguém a atrapalhasse enquanto conversava com a mãe dela! – disse a germânica.

— É! Se você não pretende honrar esse pedido, nós pretendemos! Então senta, por favor, se não vamos ter que arrastar você de volta pra cadeira na frente de todo mundo! – completou o eslavo.

— Vocês não entendem! Ela está machucada por minha causa! Se algo ruim acontecer a culpa é minha!

— Soluço, a Merida já disse que brigar com a Astrid foi escolha dela! – disse Rapunzel.

— Se ela não tivesse me conhecido ela não teria feito essa escolha, e não estaria assim agora!

— Soluço! – tentou advertir Jack.

— Eu prometi pra mim mesmo que iria cuidar dela enquanto ela não melhorasse!

— Soluço! – chamou o platinado mais uma vez, olhando ao redor.

Os outros dois repetiram o gesto, notando que estavam sendo observados por todos na cafeteria, clientes e funcionários.

— Vamos parar de fazer cena e nos sentarmos – concluiu o russo.

Soluço e Rapunzel seguiram à orientação.

Quando sentou-se na cadeira, o castanho sentiu um forte arrepio subir pela espinha.

— Sentiram isso? – perguntou ele.

— Isso o quê?! – questionou a loira.

— Eu estou com um mal pressentimento! – respondeu o norueguês.

A alemã e o eslavo se olharam, compartilhando de uma estranha e nova sensação. O rosto de ambos não estava alegre.

— É, a gente também sentiu! – respondeu Jack – Mas mesmo assim, sua briga com seu pai era algo que você tinha que fazer sozinho, e a briga da Merida com a mãe dela também é algo que ela precisa fazer sozinha, então independente de qualquer coisa, não vamos arredar o pé daqui, e não vamos deixar você ir também!

Com o rosto fechado, o escandinavo puxou seu aparelho telefônico, e após mexer brevemente nele, levou-o ao ouvido encarando os dois amigos.

— O que está fazendo? – perguntou a germânica.

— Estou ligando pra Elsa pra dizer que vocês dois não estão me deixando ir ajudar a Merida!

Os dois amigos se olharam, depois voltaram-se para Soluço, com olhar questionador.

— Você não faria isso! – disse o platinado.

O castanho apenas mostrou a tela do telefone, onde mostrava uma foto de sua conterrânea no meio de uma chamada. A face seguia cerrada e o olhar determinado.

Os dois amigos do norueguês também fecharam o rosto diante daquilo. Fora um golpe baixo ligar para a amada de um e a irmã mais velha de outra.

— Vai! – disse o russo fazendo careta e com raiva na voz.

Ao ouvir aquilo, o escandinavo encerrou a ligação, tomou o chocolate em um gole, pegou o agasalho e saiu correndo para fora da cafeteria.

Na ponte, o marginal se aproximava de Merida erguendo a faca, contudo, foi interrompido, por quem menos se esperava entrar no meio de ambos.

Era Elinor, alta, que apareceu erguendo os braços magros e agasalhados para os lados, tal qual uma muralha para proteger a filha.

Tanto o assaltante, quanto a ruiva arregalaram os olhos diante daquilo.

— Espera! Por favor, senhor, espera! – falou com os arregalados olhos castanhos, o rosto pálido suando frio e o coração acelerado.

O estranho parou, olhando-a.

— Perdoe a minha filha! Ela não sabe o que faz! É imprudente igual ao pai! – a bolsa pendia em seu braço direito, logo depois a puxou jogando-a no chão, aos pés do jovem desconhecido – Toma! Pode levar minha bolsa! Só vá embora!

— Mãe! Para com isso e foge daqui! – gritou a ruiva.

— Merida! Cale a boca! – sua voz saiu mais alta, e soou com muito mais autoridade, e nem sequer havia se virado ainda olhando o marginal, falou – Ela é minha filha, escuta, pode levar a minha bolsa, se quiser me sequestra, faz o que quiser comigo. Me mata, mas por favor, não machuca ela!

O criminoso a olhou em silêncio sobre a neve, com o olhar sereno sob a luz branca, ainda segurando a faca. Não parecia ter a intenção de atacar.

A cacheada e a mãe o observaram em silêncio, um pouco mais tranquilizadas.

Então o estranho alto e forte respondeu dando de ombros: “Tá bom!”.

E apunhalou Elinor.

A mulher se encolheu, ao ser golpeada caiu para trás ao lado da filha, gritando alto.

— Mãe! – gritou Merida assim que se deu conta do que houve.

A ruiva levantou-se, furiosa, ignorando as dores de seu corpo. Foi até onde estava a lata deixada pelo idoso inconveniente.

— Você é a próxima, ruiva! – disse o maníaco apontando a lâmina para a mesma com um sorriso maligno no rosto.

Mas de repente a mais nova agarrou a pá de neve, puxou-a com força derrubando a lata e derramando o sal no chão, e usando-a como arma, acertou a mão do marginal, fazendo o canivete voar da mesma, fazendo um som metálico e doloroso.

A mais nova estava com o rosto contorcido em cólera e tristeza, seu cenho jovem estava franzido, os olhos azuis raivosos, os dentes rangendo, e haviam lágrimas escorrendo pelas bochechas rosadas.

A arma do criminoso voou de sua mão para fora da ponte, caindo na água congelada, o dono segurava o pulso dolorido. Merida seguiu atacando, acertou o metal da pá entre suas pernas e o mesmo gemeu se ajoelhando ao mesmo tempo, colocando a mão sobre a área atingida. Então a ruiva acertou-lhe a cabeça.

O maníaco gemeu, colocando as mãos sobre a área atingida, e quando a escocesa o atacou uma quarta vez, conseguiu agarrar a arma da cacheada, e com um puxou a arrancou de seus dedos.

O marginal a olhou por um instante, com sangue escorrendo de sua testa até o meio de seu rosto.

Merida assustou-se diante daquela visão, considerou fugir, os braços levemente estendidos para os lados, as mãos apontando para o chão, o corpo levemente curvado. Mas não se atreveu a ir contra seu orgulho.

O rapaz avançou sobre a mesma, agarrando seu pescoço da mesma, apertando-o, empurrando a mais nova, apertando-a contra a ponte, jogando sobre ela todo o peso de seu corpo, deixando-a curvada sobre o corrimão da ponte.

A castanha seguia no chão, deitada de costas sobre a neve, com a boca aberta e os olhos arregalados, respirando forte e pesado. Estava aterrorizada com o que havia acabado de acontecer, perguntava-se como poderia ainda estar viva, até que lentamente se sentou e notou o sangue que escorria de seu antebraço esquerdo.

Havia se encolhido pouco antes de receber a lâmina, por sorte, tinha levado involuntariamente aquela parte do corpo diante do peito, salvando a própria vida.

Não havia sentido a dor da ferida até o momento em que percebeu a umidade na manga de sua roupa.

Apesar de tudo, estava aliviada em saber que seu tronco estava incólume, mas mesmo assim, tal qual uma criança assustada que chama pela mãe, gritou: “Fergus!”.

— Elinor! – gritou uma desesperada voz masculina ao longe, mas que indicava estar se aproximando o quanto antes.

Merida sufocava com a rosto vermelho sob as mãos de seu agressor, tentava agarrar e torcer os dedos do mesmo enquanto rangia os dentes, agia muito mais pela raiva e tristeza do que pela razão, mas ao ouvir a voz da mãe, se encheu de esperança, e mudou de estratégia.

Enfiou os dedos finos nos olhos do jovem maníaco, empurrando sua face raivosa e sádica para longe de si, e fazendo-o tirar as mãos de seu pescoço para afastar as unhas afiadas da ruiva que parecia padecer sob seu poder.

— Mãe! – gritou a cacheada de mal jeito assim que conseguiu voltar a respirar.

A mais velha ainda sentada na ponte virou o rosto, olhando pro cima do ombro atrás de si e notou o que estava acontecendo com a filha. Abandonou o medo e se ergueu, indo até o perigo.

A cacheada levou um soco mal dado pelo marginal, que estava de olhos fechados devido às córneas arranhadas, mas foi o suficiente para deixa-la atordoada.

Então, com uma força descomunal, foi puxado para trás, enquanto Elinor gritava: “Fique longe da minha filha!”.

O rapaz afastou-se quase uma metro de Merida, sendo puxado pela castanha abruptamente, mas não foi o suficiente para neutraliza-lo, pois mesmo cego, atacou de mal jeito na direção da pessoa que o arrastava de sua vítima, e conseguiu acerta-la, mesmo estando apenas com metade da força, foi o suficiente para faze-la cair.

A ruiva passou a mão no pescoço dolorido, ainda reavendo o ar de seus pulmões, mas ao notar o golpe que sua mãe havia levado, e o sangue carmesim que sujava a neve, foi incapaz de não agir.

Saltou nas costas do agressor, fazendo um mata leão ao mesmo tempo em que tentava prender seus braços com um abraço apertado de suas pernas ao redor do mesmo.

O rapaz cambaleou para trás por causa do peso da cacheada, segurando o braço da mesma, tentando afrouxar o aperto. Tentou tira-la de seu dorso acertando-a nos corrimões de pedra da ponte, o que a feriu, mas não o suficiente para faze-la cair.

A mulher de cabelos escuros lentamente se ergueu do chão, observando a cena bem perto.

O maníaco alto e forte, gemendo, de olhos fechados e o rosto vermelho, rangendo os dentes, segurando o braço de uma garota presa em suas costas, tentando se livrar da mesma, mas com dificuldade para tal.

Ao notar a mãe viva e consciente a pouco mais de um metro, embora com um arranhão no rosto, a cacheada gritou por ela: “Mãe! Me ajuda!”.

Notando a brutalidade do agressor de ambas, recuou alguns passos, a face transbordando de medo, o rosto feminino e amedrontado em negação.

O marginal de repente pensou em outra estratégia ao invés de tentar soltar o braço da mais nova de seu pescoço. Deu uma cotovelada abrupta na mesma,

Merida foi acertada de mal jeito, mas o golpe atingiu suas costelas feridas. Gemeu alto, quase caiu, mas se segurou a tempo, ainda mantendo o mata leão.

— Por favor! – implorou a ruiva.

Elinor ainda estava com medo, mas ver a filha se ferindo mais ainda foi o suficiente para dar à ela força o suficiente para agir.

O criminoso abriu um pouquinho os olhos, fazendo bastante força, tentou acertar um soco na mais velha, mas não conseguiu, pois estava muito longe, e a mesma ainda afastou-se.

— O que eu faço? – gritou com os punhos erguidos.

A cacheada largou o pescoço do mesmo e voltou a ferir seus olhos com as unhas afiadas.

— Acerta a garganta dele! – gritou ela enquanto sentia sangue umedecer seus dedos, e o marginal gritava de dor.

O criminoso puxou os pulsos de Merida, apertando-os com força, afastando as mãos de seus globos oculares vermelhos.

— O quê?! – perguntou a castanha, nervosa.

— Dá um murro na garganta dele! – gritou a ruiva desesperada, olhando-a com o rosto vermelho.

A mãe a obedeceu, desferiu um golpe rápido, abrupto e preciso.

O rapaz pareceu ter soltado um gemido, quase uma tosse, soltando os pulsos da garota que outrora o feria.

A ruiva caiu de costas sobre a neve, aos pés do inimigo, olhou para o mesmo assustada, olhando sua silhueta vasta e forte de costas. Não acreditava no que sua mãe havia acabado de fazer.

Naquele instante, tudo ficou em silêncio. A mais nova na ponte sabia que a luta havia terminado, seguiu encarando o homem atordoado de costas. Elinor estava suada, com mechas de seus cabelos escuros grudados na face pálida, franzindo o cenho, o observando com seus olhos castanhos e assustados.

O maníaco estava parado, de pé, suado e com os cabelos bagunçados, agora seus olhos vermelhos e sangrentos estavam abertos, a dor neles já não importava, segurava o pescoço com as duas mãos, e seu corpo e sua cabeça estavam baixos.

Aquela foi uma estranha serenidade.

O rapaz caminhou até o corrimão da ponte para se apoiar, suas duas vítimas o acompanhavam com o olhar.

Mas naquela vez a castanha não vacilou, ele apoiou-se de costas sobre a pedra, e com a força descomunal de uma leoa preocupada com sua cria, acertou novamente a garganta do inimigo, fazendo-o passar por cima do corrimão e cair da ponte sobre a água, quebrando o gelo fino.

Somente ao ver a ameaça fora de sua vista, foi que Elinor se tranquilizou, caminhou para trás, atordoada, e sentou-se do outro lado da ponte, com o dorso apoiado na pedra fria. Ainda assustada, tentando recuperar o fôlego daquele trauma terrível, chegou a chorar.

A cacheada levantou-se e correu, até o lugar de onde o marginal havia caído, olhou para baixo e o viu, uma estranha forma boiando inerte sobre a água escura, distintamente iluminada pelo poste de luz mais distante, demorou a reconhecer que aquele era seu dorso vasto.

Quando Fergus chegou, viu a mulher sentada de um lado da ponte, conduta esta que entrava totalmente em contradição com o recato da esposa, e a filha do outro lado, olhando para baixo, observando algo na água. Sabia que algo estava muito errado.

— Elinor! Merida!

As duas o viram correndo em sua direção do jeito que podia devido à prótese.

— Fergus! – chamou a esposa, erguendo-se com as pernas bambas na direção do mesmo.

Quando marido e mulher se encontraram, ela abraçou com força seu forte pescoço, chorando.

— Eu vim o mais rápido que pude! O que aconteceu!

— Um cara nos atacou – respondeu uma calma Merida.

— Meu Deus! Vocês estão bem? – perguntou assustado.

— Ele me esfaqueou Fergus! – falou chorando e mostrando o sangue sobre a manga rasgada da jaqueta.

— Minha nossa! – disse ele segurando a mesma, puxando o tecido para revelar a pele pálida, fria e manchada de sangue.

O ruivo notou que também havia sangue em seu pescoço. Usou de seus conhecimentos militares para avaliar a ferida.

— Tá tudo bem meu amor! Você vai ficar bem! Não foi grave, nem atingiu nenhuma artéria! – depois olhou a filha, os olhos azuis transbordando de raiva – Cadê ele?

— Na água – disse Merida gesticulando com o rosto para a mesma.

O pai correu até o corrimão, e ficou surpreso ao notar um corpo na água.

— A Merida me disse pra acertar um soco na garganta dele, e acertei, duas vezes – disse ela se erguendo lentamente, fazendo força, usando a mão cujo braço estava ileso, enquanto manteve o ferido erguido, gotejando vermelho.

Fergus trocou olhares com a filha, que baixou o mesmo quase imediatamente.

— Ele parece que ficou sem ar! Fergus! Você tem que tirar ele de lá de baixo antes que ele morra afogado!

Pai e filha novamente se olharam, a matriarca não havia reparado em algo que ambos já sabiam sem nem precisar olhar.

O ruivo a olhou com desconforto em seus olhos azuis, certamente não sabia como explicar aquilo. A mulher o encarou sem entender.

— O que está fazendo aí parado Fergus? Anda!

— Querida...

— Rápido!

— Ele morreu! – gritou a mais nova ali, chamando a atenção de todos, o casal voltou o rosto para a mesma bruscamente.

— O quê?! – questionou a mais velha arregalando os olhos.

— Ele morreu, mãe, a senhora deu dois socos na garganta dele. Um golpe não é brincadeira, e ele ainda caiu no meio da água funda com um trauma respiratório – a ruiva a olhou agora com medo, sentindo-se fria por dentro – Ele morreu, ainda que o papai tire ele da água não há mais nada que a gente possa fazer!

Elinor caminhou incrédula até a ponte, e viu o criminoso boiando sobre a água, tal qual um anônimo.

Um estranho gelo intenso a consumiu por dentro, ia quase caindo, mas o braço forte de seu cônjuge a segurou.

A castanha demorou a compreender o que havia acontecido, seu coração amedrontado se acelerou, a respiração saiu de seu controle, e só não caiu porque seu homem a segurava.

— Mãe! – chamou Merida.

— Elinor! Querida! Calma! Respire!

Lentamente, a mulher voltou a si, com todas as feridas abertas, olhou para a filha, furiosa, e disse: “Você me fez matar um homem!”.

A ruiva arregalou seus assustados olhos azuis, não esperava por aquela reação.

— Mãe...

— Eu não sabia o que ia acontecer! – gritou afastando-se do marido e avançando na direção da mais nova.

— Mamãe espera! – dizia já chorando enquanto se afastava.

— Querida, calma! – disse Fergus enquanto tentava conte-la, segurando-a pelos ombros femininos com as fortes mãos masculinas, uma delas enfeita com uma aliança dourada.

— Calma nada Fergus! Ela me transformou numa assassina! O que impede a polícia de ir me prender?!

— A polícia não vai prender a senhora por se proteger! – argumentou a jovem ruiva assustada.

— E quem garante que vão saber que eu o matei em legítima defesa?!

— A praça é cheia de câmeras de vigilância! A polícia consegue acessar só com um táblet, eu já vi! Eles vão ver que foi ele que nos atacou e que não tinha outro jeito! E tem também o braço ferido da senhora! – respondeu a cacheada, assustada, quase gaguejando.

A mais velha parou, notando que o argumento da filha era repleto de lógica, mas aquilo não era o bastante para faze-la sentir-se melhor.

— Aquele rapaz devia ter família, quem sabe uma mãe o esperando em casa, eu nem sabia o nome dele! – disse com lágrimas nos olhos – E agora ele não vai voltar pra casa, por minha causa! Por causa do que você me fez fazer!

— Querida, já chega! – falou o ruivo, tentando segura-la, mas não era o bastante para aplacar sua ira.

— Eu matei um homem, Merida! Você me transformou em uma assassina! Você me fez matar um homem! – olhava furiosa para menina assustada à sua frente.

— Mamãe! – disse feito criança, estendendo o braço na direção da mesma, contudo, o recuou quando a mãe deu-lhe as costas.

— Vamos embora Fergus! Eu quero ir pra casa! – falou de costas para a cacheada de forna imponente, segurando a ferida.

— Eu vou leva-la ao hospital primeiro, meu amor! – falou acolhendo-a em seus braços.

Merida franzia o cenho, desamparada, os olhos tristes arregalados e chorosos, seus beiços contorcidos como jamais estiveram, sabia que aquilo era a pior coisa que já havia feito com a mãe.

O pai a olhou com piedade, e caminhou até a mesma, abraçando-a, sussurrou em seu ouvido: “Não se preocupe filha, você não fez nada de errado, eu vou falar com a sua mãe.”.

Aquilo foi o suficiente para que a mesma se sentisse um pouco mais tranquila, mas não para tirar a angustia de seu coração.

— Você está sozinha? – perguntou ele logo após separar-se do abraço, olhando-a de cima.

A mais nova demorou para assimilar a pergunta, logo depois, respondeu lentamente: “Eu estou com alguns amigos!”.

— Quer que eu deixe você com eles?

— Não pai, obrigada.

— Fergus! Vamos! – chamou Elinor, tal qual uma ordem.

O marido obedeceu, abraçando a mulher, sustentando-a, enquanto segurava o braço ferido.

— Boa noite, filha!

— Boa noite, pai!

A cacheada esperava o mesmo da mãe, mas ao invés disso, ela deu início à caminha para ir embora, ficando de costas para a filha, apática e em silêncio.

Fergus a olhou antes de ir, com o rosto triste e empático.

Passaram-se alguns instantes com os três em silêncio, a filha olhando os pais afastarem-se da mesma, a mãe sem sequer manifestar afeto pela própria menina que colocou no mundo.

Ela suspirou triste enquanto tentava não chorar. Estendeu o braço novamente na direção da mãe chamando: “Ma...”.

Mas de repente se interrompeu, porque havia gemido, recuou o braço, segurando o mesmo, que estava com dor.

Não havia reparado antes, mas todo seu corpo estava dolorido. Já estava ferida devido à luta com Astrid, o combate com o desconhecido pareceu ter agravado totalmente a situação, e agora que a adrenalina havia passado, estava sentindo tudo de uma vez.

Caiu de joelhos sobre a neve, pôs uma mão sobre o chão, conseguiu estender a outra na direção de Elinor que ficava menor e desaparecia entre a escuridão da vegetação da praça.

— Mamãe! – gritou feito criança desamparada.

Notou que apenas seu pai olhou para trás, aquela por quem chamava apenas seguiu caminho.

— Mamãe! – chamou de novo, mas sem resposta.

Repetiu aquela frase com a mesma solidão e desespero, mas longe de ser atendida.

Caiu deitada de bruços sobre a neve, de cara no chão, sentindo o frio da mesma, hiperventilando, metade pela angustia, metade pela fadiga.

Teve usar de toda sua força para não permanecer ali, lentamente, conseguiu sentar-se, apoiando o dorso no corrimão de pedra gelada. Tentou se levantar, mas aquilo estava além de suas forças, então contentou-se em pelo menos abraçar suas pernas dobrada na altura do rosto.

Sentiu que não conseguia se mexer, seu corpo estava com muitos traumas físicos para realizar tal feito, estava literalmente paralisada.

Quando deu por si, havia parado de chorar, seu rosto estava levemente vermelho, mas qualquer um pensaria que era devido ao frio.

Até que então estava totalmente calma, ainda ferida por dentro e por fora, mas calma.

Naquele momento, começou a nevar

Seguiu ali, sentada no chão gelado da ponte cheia de neve, iluminada pela forte luz branca do poste, com árvores grandes e escuras enfeitando ao redor e a neve caindo fina em torno de si, que seguia com o rosto triste.

Tudo estava terrivelmente silencioso, passou muito mais tempo do que gostaria no frio. Segundos pareciam minutos, minutos pareciam horas. A neve gelada começou a acumular sobre seu corpo e seu ar virava vapor frio.

De repente ouviu algo à sua direita, olhou bruscamente, mas viu que não era nada. Sentiu que começava a delirar. Considerou que poderia perfeitamente morrer ali, esquecida, congelada ou por hipotermia. Já estava sentindo dormência.

Até que então chegou alguém. Ela ignorou, afinal, poderia ser só um desconhecido passando casualmente por ali, e que poderia confundi-la como uma mendiga.

— Merida? – surpreendeu-se ao ouvir seu nome ser chamado por uma voz estranha e agradavelmente familiar.

Voltou-se para quem a chamava, e viu Soluço, olhando-a com o cenho franzido sobre os olhos verdes, atrás das lentes levemente embaçadas de seus óculos. Sentiu muito mais aliviada ao ver ele ali.

— Você está bem? – perguntou o castanho, com o tom de voz preocupado.

A escocesa sorriu fracamente para ele e depois respondeu: “Não consigo me levantar.”.

Sem dizer nada, ele caminhou até ela, notou a late prateada de lixo cheia de sal, caída sobre a neve. Agarrou-lhe as mãos, e tentou ergue-la com cuidado, pois sabia que qualquer movimento poderia feri-la.

Ela gemeu um pouco enquanto se levantava.

— Qual é a da lata de sal? – perguntou sorrindo para a celta.

A celta estava com o rosto esmorecido e com a coluna curvada. Olhou para a mesma sem manifestar um pingo de empolgação, mas havia se esquecido da promessa que fez. Olhou a pá que estava distante, coberta parcialmente pela neve.

— Eu preciso jogar esse sal na neve da ponte! – falou indo em direção a ferramenta, mancando.

— Por quê?! – perguntou o norueguês, olhando-a caminhar.

— Fiz uma promessa! – seguiu caminhando debilitada, com a cabeça baixa.

— Mas está nevando! Não vai adiantar nada! – falou sem entender.

— Uma promessa de Merida Dun Broch nunca é quebrada!

Merida chegou até a pá, chutando-a de leve, sem querer, tentou se envergar para tentar apanha-la com braço estendido, mas de repente caiu de joelhos, gemendo e segurando o membro ferido, caiu para o lado, apoiando-se na pedra do corrimão da ponte.

— Merida! – chamou o escandinavo correndo até a mesma.

A ruiva respirava forte com a boca aberta, a cabeça baixa, segurando a parte dolorida.

— Caramba! O que aconteceu? Parece que você está pior do que antes! – disse segurando-a pelo ombro.

— Longa história! – respondeu enquanto pegava a pá.

— Espera, Merida! Se isso é tão importante pra você, deixa que eu jogo o sal na neve! – disse agarrando o cabo de madeira velha e a olhando nos olhos cansados.

Em outra circunstância, ela teria recusado, tentado fazer sozinha o que havia prometido, mas as dores e a fadiga a venceram.

Soluço tirou a cacheada da ponte, ajudando-a a levantar e caminhando com a mesma para fora dali.

Usou o sal que já estava no chão e que não havia derretido para atirar no gelo. A escocesa observava o tempo todo de fora da ponte. Depois ela o instruiu a deixar a lata e pá próxima a um dos postes de luz que estavam por perto.

Por fim, saíram dali, o castanho carregando a amiga nas costas, que novamente descansou sobre o mesmo, considerando até mesmo dormir, afinal era mais quente aconchegante do que o lugar onde estava encolhida. Escondeu o rosto nas roupas do mesmo, e sob os cabelos deixando à vista apenas um dos olhos claros.

Naquele momento eram iluminados pelas douradas luzes de natal dos enfeites.

— E então Merida, o que aconteceu?

Ela já havia chorado o bastante, então seu rosto escondido ficou frio quando começou a contar a história.

O norueguês a ouviu com bastante atenção, abriu a boca apenas parar fazer alguns poucos comentários. A história de tudo o que aconteceu seria inacreditável se ele não a conhecesse. Sentiu-se um pouco frio por dentro pelo sangue derramado, e lamentou por aquilo ter aparentemente agravado a situação entre a celta e a mãe.

— Bom, o importante é que está aqui agora, sã e salva! É tudo o que importa!

O olho azul de Merida se arregalou ao ouvir aquilo.

Então, seus braços agasalhados que antes estavam desleixadamente pendurados abraçaram o pescoço do mais novo, até mesmo o apertou um pouco com suas pernas que seguiam penduradas.

Aquilo era tudo o que gostaria de ouvir, em especial de sua mãe, e infelizmente não tinha o hábito. Apesar das desavenças iniciais, aquele garoto escandinavo de óculos se tornou um dos maiores presentes que a vida poderia lhe dar.

— Obrigada Soluço! – disse ainda escondendo o rosto em suas roupas, mas desta vez lágrimas quentes de alegria escorriam de seus olhos.

— Pelo quê? – perguntou surpreso com tudo aquilo.

— A gente se conheceu a apenas algumas semanas, mas parecem anos, na teoria a gente mal se conhece, e mesmo assim você fez mais por mim do que eu esperava! Minha mãe e eu nos conhecemos a vida toda, e com ela é sempre incerto e desconfortável! Você me passa uma sensação de segurança e conforto muito grandes! Por isso! Obrigada! – naquele instante reparou que aquela era a segunda vez que estava sendo carregada por ele, como também, recordou-se das vezes em que o mesmo a defendeu de Melequento, foi busca-la, e fez de tudo para ajuda-la com seus ferimentos, apertou ainda mais o abraço em seu pescoço – Obrigada por cuidar de mim!

Soluço a olhava pelos cantos dos olhos e por cima do ombro, os olhos de esmeralda arregalados, nunca ninguém havia lhe dito aquilo.

Depois sorriu, olhando para o alto, viu o céu escuro, e os enfeites dourados de natal refletiram em seus olhos.

— Eu também tenho que agradecer você!

Ela ergueu um pouquinho o rosto, revelando um de seus olhos claros novamente, mas desta vez, havia um pouco de rubor em suas bochechas.

— Pelo quê?

— Se não fosse por você talvez eu não teria enfrentado o Melequento, nem o meu pai, nem ninguém! Você me deu força e coragem para fazer tudo isso! Obrigado!

A ruiva seguiu em silêncio, e o castanho também, já não sentiam a necessidade de falar mais nada. E aquele silêncio era confortável.

O norueguês seguiu carregando-a sobre suas costas, cercados pelo frio e pelos enfeites da praça.

Estou parada na ponte

I'm standing on a bridge

Esperando no escuro

I'm waitin' in the dark

Pensei que você estaria aqui

I thought that you'd be here by now

Não há nada além da chuva

There's nothing but the rain

Nem suas pegadas no chão

No footsteps on the ground

Ouço algo, mas não é nada

I'm listening but there's no sound

Alguém está tentando me encontrar?

Isn't anyone tryin' to find me?

Ninguém vai aparecer para me levar para casa?

Won't somebody come take me home?

É uma maldita noite fria

It's a damn cold night

Estou tentando entender esta vida

Trying to figure out this life

Você não vai me pegar pela mão?

Won't you take me by the hand?

E me levar para outro lugar?

Take me somewhere new

Nem sei quem você é

I don't know who you are

Mas eu vou com você

But I, I'm with you

Eu vou com você

I'm with you

Procuro um lugar

I'm looking for a place

Um rosto familiar

I'm searching for a face

Há alguém aqui que eu conheça?

Is anybody here I know

Porque nada está dando certo

'Cause nothing's going right

Tudo é uma bagunça

And everything's a mess

E ninguém gosta de ficar sozinho

And no one likes to be alone

Alguém está tentando me encontrar?

Isn't anyone tryin' to find me?

Ninguém vai aparecer para me levar para casa?

Won't somebody come take me home?

É uma maldita noite fria

It's a damn cold night

Estou tentando entender esta vida

Trying to figure out this life

Você não vai me pegar pela mão?

Won't you take me by the hand?

E me levar para outro lugar?

Take me somewhere new

Nem sei quem você é

I don't know who you are

Mas eu vou com você

But I, I'm with you

Eu estou com você sim, sim

I'm with you, yeah, yeah

Oh, por que tudo é tão confuso?

Oh, why is everything so confusing?

Talvez eu só esteja fora de mim

Maybe I'm just out of my mind

Sim, sim, sim, sim, sim

Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah

Sim, sim, sim, sim

Yeah, yeah, yeah, yeah

Sim

Yeah

É uma maldita noite fria

It's a damn cold night

Estou tentando entender esta vida

Trying to figure out this life

Você não vai me pegar pela mão?

Won't you take me by the hand?

E me levar para outro lugar?

Take me somewhere new

Nem sei quem você é

I don't know who you are

Mas eu vou com você

But I, I'm with you

Eu estou com você

I'm with you

Pegue a minha mão

Take me by the hand

E me leve para outro lugar

Take me somewhere new

Nem sei quem você é

I don't know who you are

Mas eu vou com você

But I, I'm with you

Eu estou com você

I'm with you

 

Pegue a minha mão

Take me by the hand

E me leve para outro lugar

Take me somewhere new

Nem sei quem você é

I don't know who you are

Mas eu vou com você

But I, I'm with you

Eu estou com você

I'm with you

Eu estou com você

I'm with you

 

Soluço carregava Merida em suas costas até a cafeteria onde estava com Jack e Rapunzel.

Finalmente chegaram até a mesma, a pedra fria do edifício estava coberta pela escuridão azulada da noite, mas sua grande porta retangular, vasta e baixa brilhava em uma luz clara e dourada, na frente dela estavam os amigos dos dois. Ele à esquerda, ela à direita.

Ambos sorriam, a loira acenava, parcialmente cobertos pela escuridão fria e pelas luzes quentes da loja e dos enfeites por perto.

O castanho e a ruiva também sorriram para os dois, exaustos.

Saíram da Praça de São Miguel, pegaram um táxi. A cacheada contou toda a história do que havia acontecido para os outros, o motorista do táxi olhava várias vezes para trás franzindo o cenho, encabulado com a história.

A alemã fez questão de mesmo sentadas desconfortáveis no banco, analisar as feridas da amiga escocesa, garantiu que não havia nada a mais quebrado. Os rapazes ficaram aliviados ao ouvir aquilo, já a celta não se surpreendeu, disse que saberia se estivesse pior.

Por fim, chegaram à casa. O platinado foi direto para o seu quarto, dando boa noite para os amigos, alegando estar terrivelmente cansado e que queria dormir. A germânica fez o mesmo, mas na verdade só queriam deixar Merida sozinha com seu cuidador.

O norueguês a carregou, sustentando-a com um braço sobre seu pescoço, levando que mancava para o quarto.

Abriu a porta e acendeu a luz.

— Não! Por favor! Acende só o abajur! Deixa que eu mesma apago tudo depois!

— Tá bom! – disse ele indo olhando-a com um pequeno verniz de desapontamento, logo depois atendendo seu pedido.

A fez sentar-se sobre a cama, a ruiva gemeu baixinho no processo.

O escandinavo tateou no escuro com seus dedos jovens, achou o abajur e o ligou, e o quarto ficou iluminado por sua rica luz dourada.

— Fecha a porta por favor – pediu ela.

Soluço atendeu de prontidão. Mas não saiu do quarto, ao invés disso voltou-se para a mesma, que tentava tirar suas botinas marrons com apenas os pés, mas seu corpo debilitado tornava a tarefa impossível.

Ele ajoelhou-se no chão, a surpreendendo, desamarrou os cadarços, e tirou o calçado com toda a delicadeza do mundo, revelando um par macio de meias brancas em seus pés femininos na escuridão.

A cacheada ainda gemeu um pouco fazendo careta.

— Quer que eu também tire as meias?

— Não! Obrigada! Pode deixar assim! Está ótimo!

— Deixa eu ajudar você a se deitar – falou empurrando-a levemente em direção às almofadas.

— Espera Soluço, não precisa! – falou, mas já era tarde demais, já estava deitada em uma aconchegante montanha de travesseiros.

O mais novo ainda pegou a coberta e a cobriu tal qual como se faz com uma criança, cobrindo-a até o pescoço, fazendo-a parecer encolhida.

A mais velha olhou para aquela façanha, depois voltou-se para o castanho e sorriu.

— Está bem confortável?

— Estou ótima Soluço, obrigada! – disse ela.

Então, a escocesa ergueu-se com dificuldade, tentando ficar sentada, olhava-o com um sorriso no rosto o tempo todo.

O norueguês sentiu-se impelido a sentar-se sobre a colcha, para ficar à altura dela.

Se observaram por um instante, a luz dourada e agradável do abajur entre eles, os iluminando no meio da escuridão do quarto.

A celta achava o escandinavo bonito, apesar de ser magro e mais baixo, mas os óculos estavam reluzindo a luz que os revelava, então lentamente ergueu as duas mãos e tirou-lhe os óculos para vê-lo melhor.

Soluço recuou o rosto a início, fazendo-a parar as mãos brevemente, mas depois consentiu, e Merida pôde enxerga-lo melhor.

— Obrigada Soluço! – disse sorrindo.

— Obrigado Merida! – respondeu também sorridente.

Lentamente se aproximaram, e selaram um beijo.

De olhos fechados sentiam o calor dos lábios, da respiração e do rosto um do outro. Apreciaram aquele momento naquele quarto aconchegante.

Ambos sabiam que aquele momento seria inesquecível.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Nome das músicas:
1- Numb - Linkin Park
2- I,m With You - Avril Lavigne
Muito obrigado aos que leram!



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