Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 1
Capítulo 1: Meu nome é Jack Frost!


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos ao primeiro capítulo. Depois comentem o que acharam.



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Jack era russo, de origem eslava, e tinha alguns parentes ucranianos. Seus olhos místicos eram azuis, e seus cabelos e pele eram belos e alvos.

Morava em Filótes, uma aconchegante cidade fria, era grande e costumava ser banhada pelo dourado do sol quando findava o dia.

Vivia com a mãe e as duas irmãs, que assim como ele, tinham cabelos brancos e olhos azuis. Seus cabelos eram alvos como a neve, como a geada bela e branca sobre as árvores das florestas, por isso, eram apelidados de “os Frost”.

Sua fria e bela mãe era Rubi, uma mulher alta, magra e austera. Seu belo rosto mesclava a juventude ainda evidente em sua aparência e a seriedade de sua maturidade. Seus cabelos imaculados eram compridos e lisos.

A atraente irmã mais velha de Jack era Esmeralda. Sempre bela e desejada, seus carnudos lábios róseos derretiam os homens, e seus cabelos cacheados viviam presos em um rabo de cavalo. Tinha vinte anos e também era alta, não tanto quanto a mãe, mas o suficiente para ser considerado mais um de seus atributos.

E a dócil Emma era a irmã caçula de Jack, de oito anos. Gentil, inocente e atenciosa. Sempre diziam que era idêntica à mãe e à irmã, e que se tornaria uma mulher tão bela quanto ambas, para o desgosto do irmão.

Jack era o filho do meio e o único homem dentre a prole de seus pais, tinha quinze anos. Era considerado o mais bem humorado pois sempre conseguia fazer os outros rirem de suas brincadeiras, mas mesmo com tamanho poder, era infeliz, e sua família sabia disso.

O pai da família era o único que não possuía cabelos brancos. Ele já havia falecido bem antes de Jack atingir sua atual idade, fora atropelado.

Quando Rubi e seu amado marido tiveram seus filhos, acabaram por definir o contrato silencioso de que ela criaria as duas filhas, e que Jack seria criado pelo pai, não por conflitos de interesse para que tal acordo se tornasse pacífico, mas pelo alinhamento das tendências de seus respectivos gêneros.

Rubi era mulher, gostava de fazer coisas relativas a feminilidade, da mesma forma suas duas filhas, o que tornava o vínculo entre elas mais fácil. A mãe as levava em salões de beleza, lojas de roupas e as vestia sempre de princesa, não era o tipo de coisa que pudesse fazer com Jack.

Já o marido, gostava de fazer coisas de homem, ver filmes de ação, brincar de tiroteio, espada, e coisas de tal natureza, o que era muito mais fácil com seu filho.

Rubi acabou por nunca criar de fato um vínculo estável com seu menino. Enquanto seu marido não teve problemas em fazê-lo com suas meninas, não foram poucas as vezes que elas lhe enfeitaram os cabelos e a face com adereços femininos, nem as vezes em que ele as tratava como princesas.

Todos da família o amavam, ainda mais Jack, que o tomava por um herói, como jamais enxergaria outro homem de tal maneira, nem mesmo seu avô materno. O garoto platinado foi quem mais sentiu quando um carro descontrolado colidiu contra o corpo jovem e saudável do mesmo, ceifando sua vida.

Rubi era uma mulher mais alegre antes da viuvez, mas após o ocorrido nunca mais sorriu como já sorrira um dia, não voltará a se casar, nem irá deixar de amar seu marido.

Emma e Esmeralda também sentiram muito a perda, mas não foram tão afetadas quanto a mãe e o irmão.

Embora tendo se tornado uma mulher fria, a matriarca da família permaneceu a fazer coisas de mulher com suas filhas, embora já não encontrasse o prazer que sentia antes e também assumiu o papel de chefia na casa. Mas não foi capaz de ser para Jack aquilo que seu marido o era. Não importava o quanto tentasse, nem o quanto o amasse, não era capaz de realmente se divertir ao lado do filho, nem de criar com o mesmo uma ligação saudável e semelhante à que seu amado possuía.

O filho do meio assumiu o papel do homem da casa, herdando o cavalheirismo de seu pai, sempre carregava as coisas de sua mãe e suas irmãs, carregava as compras mais pesadas, andava do lado da rua, e ficava de pé para que as mulheres sentassem.

Talvez por isso Esmeralda e Rubi tivessem superado com mais facilidade a partida do pai altruísta, ele havia deixado alguém tão bom quanto ele em seu lugar. Jack também brincava com Emma de suas brincadeiras femininas, e protegia a irmã mais velha de todas as formas que podia de cafajestes.

Embora não conseguisse se aproximar do filho, Rubi se orgulhava dele, e se sentia culpada por sempre se ver incapaz diante da solidão do mesmo.

Jack não tinha mais o pai para ser seu melhor amigo, nem era capaz de ser um livro aberto com as duas irmãs por mais amorosas que fossem, muito menos com sua mãe, e seus traumas o tornaram incapaz de tocar e falar com os outros. Era solitário, era infeliz, nem tinha amigos, ou outra pessoa que pudesse alegra-lo.

Certa noite Rubi falava ao telefone, usava sua fina camisola azul clara com os volumosos cabelos brancos soltos em seu dorso feminino, cercada pela escuridão da casa e as paredes esverdeadas da cozinha. Tentava falar baixo para evitar ser ouvida.

— Pai, me ajuda! Eu não sei o que fazer! – disse ela com seu sotaque russo.

— Acalme-se filha – o sotaque do outro lado da linha também era nítido.

— Eu não consigo me aproximar dele e sinto ele se distanciar mais a cada dia! – sua voz madura estava ficando chorosa.

— Minha filha...

— Não dá pro senhor vir até aqui?

— Adoraria meu amor, mas não dá, sabe que sou muito ocupado.

— E o que eu faço? – disse já chorando.

— Talvez devesse dar asas à ele – sugeriu o pai.

— O quê?! – o tom de voz dela mudou abruptamente, estando agora raivosa – O que quer dizer?

— Você pode usar todos os métodos que deseja para fazê-lo se aproximar de você, mas isso é uma escolha dele, pelas tentativas que fez sabe disso tão bem quanto eu. Talvez devesse deixá-lo se afastar um pouco.

— O quê?! O senhor está falando sério?! Eu digo que ele está se afastando de mim e o que o senhor me sugere é que eu o afaste mais ainda! – disse enxugando a umidade impregnada ao redor de seus olhos azuis, parando de chorar e manifestando sua raiva – O senhor sabe que jovens da idade dele cometem suicídio não é?!

— Eu sei! Mas lembre-se, quando sua mãe se foi, você foi morar por um tempo na minha velha casa, e isso fez bem a você! Talvez ajude ele um pouco também!

— Eu sei... Mas mesmo assim...

— Pense um pouco, talvez isso o ajude, como ajudou você, ficar distante, pensar um pouco, silêncio...

Rubi apenas suspirou, depois ficou um bom tempo calada.

Debateu com seu pai a noite inteira, tentando achar razões consistentes para seu filho não ficar sozinho.

No dia seguinte, enquanto as luzes brancas do sol entravam pela grande janela da cozinha, batendo no verde-musgo da parede agora com mais vida, Rubi conversou com Jack.

Disse a ele que como estava de férias da escola, moraria por um tempo na casa velha de seu avô, afirmando que era necessário que alguém cuidasse dela, e que Jack era capaz de se manter sozinho.

Esmeralda e Emma, a mais velha com uma camisola rosa, e sua irmã caçula usando um pijama com calça e camisa rosa estavam ouvindo a conversa.

Jack não ficou feliz ao ouvir aquilo, mas seu rosto sequer tremeu ao terminar de escutar, apenas concordou.

A inocente Emma era a única que não entendia a real natureza da mudança de Jack. Esmeralda de beleza alva compreendia, se assim não fosse, diria que ela seria a escolha perfeita para morar na velha casa do avô ao invés do irmão, muito mais pela honra e pelo prazer de morar sozinha do que para realizar a manutenção da mesma.

E assim aconteceu. Jack fez as malas e foi junto de sua mãe e suas irmãs até o ponto de ônibus de Filótes, sempre carregando as bolsas das mesmas. Foram logo depois do almoço.

Usavam jaquetas, gorros e cachecóis, pois estava frio, suas faces estavam vermelhas e seus hálitos viravam um frio espectro inconveniente.

Jack usava seu velho casaco azul favorito, dado a ele por seu pai, e um gorro branco com listras azuis e flocos de neve, deixando apenas o cabelo da parte da frente de sua cabeça exposta.

Ao redor deles haviam vários desconhecidos individualistas usando roupas de frio cuidando de seus próprios assuntos, alguns sentados, outros de pé.

Os russos não encontraram lugar para sentar, então ficaram sobre a calçada úmida e fria olhando o asfalto no mesmo estado. Até que finalmente o ônibus chegou.

O garoto entrou na velha lataria prateada quando chegou a hora, as figuras femininas de sua família assistindo o tempo inteiro. Colocou suas bagagens volumosas em seu colo, e olhou pelo vidro gelado para fora do ônibus e para baixo, olhando sua mãe e as duas irmãs.

Seu rosto branco e jovem estava frio enquanto as olhava, o delas estava atento e de olhos bem abertos, vendo-o partir.

Ainda tinha outros passageiros entrando enquanto o ônibus tremia, soltava uma branca fumaça e fazia barulho no meio da fria estrada cinzenta. Finalmente todos os passageiros entraram e o automóvel partiu.

Pouco antes de ir para a casa de sua família, Jack mudou totalmente o rosto, arregalou os olhos mostrando a língua vermelha, fazendo sua irmãzinha caçula rir, pondo as mãos enluvadas sobre a boca.

Esmeralda sorriu ao ver aquilo, sabendo que o irmão permanecia em si apesar de tudo, mas Rubi não reagiu, apenas o viu partir com seus azuis olhos luminosos preocupados em meio ao frio da tarde, e seu belo rosto branco e feminino temeroso por cima de um cachecol vermelho.

A viagem durou horas, já que o ônibus parava para acolher outros necessitados e apressados passageiros, mas Jack não se importava, apenas ouvia música em seus brancos fones de ouvido, enquanto ficava com a face colada no vidro limpo da janela.

 

Deveria ter ficado, havia sinais que eu ignorei?
Should've stayed, were there signs, I ignored?

Posso te ajudar, para não machucar mais?
Can I help you, not to hurt, anymore?

Nos vimos o brilho quando o mundo adormecia
We saw brilliance, when the world, was asleep

Existem coisas que podemos ter, mas não podemos manter
There are things that we can have, but can't keep

Se eles dizem
If they say

Quem se importa se mais uma luz se apagar?
Who cares if one more light goes out?

Num céu de milhões de estrelas
In a sky of a million stars

Ela pisca, pisca
It flickers, flickers

Quem se importa quando o tempo de alguém acaba?
Who cares when someone's time runs out?

Se um momento é tudo que somos
If a moment is all we are

Ou ainda algo mais rápido, mais rápido
We're quicker, quicker

Quem se importa se mais uma luz se apaga?
Who cares if one more light goes out?

Bem, eu me importo
Well I do

As lembranças puxam o chão de seus pés
The reminders pull the floor from your feet

Na cozinha, uma cadeira a mais do que você precisa
In the kitchen, one more chair than you need oh

E você está com raiva, e deveria estar, não é justo
And you're angry, and you should be, it's not fair

Só porque você não pode ver, não quer dizer que não está aí
Just 'cause you can't see it, doesn't mean it, isn't there

Se eles dizem
If they say

Quem se importa se mais uma luz se apaga?
Who cares if one more light goes out?

Num céu de milhões de estrelas
In a sky of a million stars

Ela pisca, pisca
It flickers, flickers

Quem se importa quando o tempo de alguém acaba?
Who cares when someone's time runs out?

Se um momento é tudo que somos
If a moment is all we are

Ou ainda algo mais rápido, mais rápido
We're quicker, quicker

Quem se importa se mais uma luz se apaga?
Who cares if one more light goes out?

Bem, eu me importo
Well I do

Quem se importa se mais uma luz se apaga?
Who cares if one more light goes out?

Num céu de milhões de estrelas
In a sky of a million stars

Ela pisca, pisca
It flickers, flickers

Quem se importa quando o tempo de alguém acaba?
Who cares when someone's time runs out?

Se um momento é tudo que somos
If a moment is all we are

Ou ainda algo mais rápido, mais rápido
We're quicker, quicker

Quem se importa se mais uma luz se apaga?
Who cares if one more light goes out?

Bem, eu me importo
Well I do

Bem, eu me importo
Well I do

 

Ainda estava no ônibus quando o sol se pôs, e o sol grande e dourado iluminava a cidade, bronzeando os prédios, as lojas, as casas e as árvores.

Quando finalmente chegou no ponto definido já era quase noite, e uma triste escuridão fraca caiu sobre tudo e todos. Jack desceu com suas coisas e chamou um táxi.

Não conversou muito com o motorista, apenas falou com ele para informar o endereço e pagar a viagem com o cartão de seu avô.

A viagem durou apenas alguns minutos, o platinado saiu do taxi carregando suas malas diante da casa em frente ao carro, e de repente ficou parado diante da pequena escadaria dela enquanto o taxi ia embora, deixando um punhado de fumaça branca para trás.

A casa era alta e vasta, feita quase toda de madeira antiga, mas ainda assim era resistente, com três andares ao todo, era branca com detalhes vermelhos, além de cobrir nitidamente um território bem amplo.

O velho casarão sorriu para a nova jovem alma atormentada que iria acolher. Possuía um arcaico verniz de sabedoria, e estaria disposta a aceitar tudo de peito aberto.

Jack ficou surpreso ao se deparar com o lugar onde iria morar sozinho, mal se lembrava que a antiga casa de seu avô era quase uma mansão.

Também estava cansado da viagem.

Largou sua bagagem no chão enquanto olhava para o topo da casa.

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Nome da música.
One More Light - Linkin Park. Recomendo que ouçam a versão da última performance na TV.
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