Ainda faltava 1 mês para o fim das ferias de fim de ano (ou começo dele). Era janeiro, em pleno inverno de Washington D.C. Sammuel, popularmente chamado de Sam, é um garoto alto com corpo atlético (embora meio sedentário). Possui o cabelo em corte médio, tipo 1 ou 2A, em tom escuro e brilhante. Seus olhos eram negros e a pele fina e corada. 

Em seu colegial era bem popular por ser o "padrão" de garoto. Era daqueles que gostava de flertar, mas nunca ia além disso, tanto que seu primeiro beijo foi aos 17 anos (e ele simplesmente não sabia o que fazer). Embora parecesse um moleque mulherengo e abobalhado (piadas excessivas e geralmente sem graça eram seu forte), Sam era inteligente. Nunca precisou prestar muita atenção nas aulas, lia somente uma vez a matéria escolar em casa e isso era o necessário para ficar bem acima em questão de notas ( e isso conquistava os professores que, por mais bagunceiro que Sam poderia ser no "High School", eles nunca tiveram que chama-lo tanta atenção. É claro que Sam Também nunca faltou em respeito diretamente com eles).

— Você já chegou? - disse Lukas, dava pra ouvir a musica tocando através da ligação.

— Chegou aonde? - Sam sabia exatamente onde era. Hoje é a calourada para quem vai iniciar na Universidade Axoon's College. Ele não estava tão animado para a calourada, teria que se juntar aos calouros de enfermagem (que foi o curso que escolheu. Sempre gostou da área. Não curtia medicina e via algumas oportunidades de seguir para a área de pesquisas  partir da enfermagem) antes de encontrar Lukas e Thiago, que entraram para Direito. 

— Você é muito vacilão - Lukas agora gritava para a voz se sobressair ao som.

— Olha, é sério. Meus pais vão fazer um jantar (~~mentira~~) e eu vou precisar cuidar da minha irmanzinha porque depois eles irão ter uma noite só pra eles (~~a irmã dele já estava dormindo~~).

— Pera já te ligo -

— Okay-

Alguns minutos depois, Sam escuta alguns passos até a porta de seu quarto. Michelle a abre sem delicadeza com o celular na mão.

—Bote a sua roupa agora! - Ela estava séria de fato, mas Sam percebeu sua leve expressão de animação no rosto - Por que você não avisou que a calourada é hoje? E por que está mentindo pro Lukas dizendo essas coisas?

— Mãeee, ta quase nevando la fora. E outra, 70% dos estudantes de enfermagem são meninas. Provavelmente todas são patricinhas que não sabem curtir uma festa- 

E ele tinha bons motivos para pensar isso. Axoon's College é uma das universidades mais cobiçadas de Washington. Os bolsistas eram verdadeiros crânios, pessoas com desenvolvimento intelectual altos demais para suas idades. Por outro lado existiam aqueles que só tinham dinheiro e entraram porque os pais pagaram. Okaaaay, tudo bem, Sam entrou sem bolsas, mas não via tanta graça em fazer parte da elite. Achava fútil.

Michelle o ignorou e foi até o guarda roupas de Sam, jogando varias camisas e casacos, gorros e luvas para a cama de Sam. O celular dela tocou e ela olhou para a tela, foi até Sam e disse: 

— É o thiago, é pra você.

— Alô?

— Você é brochante - Thiago estava ao lado de Lukas, conseguia ouvir sua voz também. O som estava mais baixo.

— Ta eu vou, parem de ligar pra minha mãe ou vou mandar as fotos de vocês dois usando o sutiã da Thayna para a mãe de vocês. - Michelle que estava ainda caçando roupas virou com um olhar de desaprovação/"esses meninos" para Sam. Esse evento ocorreu quando Lukas chamou Sam e Thiago para a casa da ex dele. Era uma social e Lukas e Thiago ficaram tão bêbados que encontraram os sutiãs por lavar de Thayna e o vestiram. Talvez esse tenha sido um dos motivos do termino dos dois. 

— Tá, estamos no Campus perto da portaria D4. Tem umas gatas aqui e umas coisas feias, venha rápido.

Sammuel já havia tentado corrigir o jeito que Thiago se referia as meninas varias vezes, mas não tinha jeito. De qualquer forma ele é uma boa pessoa. Tomou um banho quente o mais rápido que conseguiu. Secou o cabelo, escovou os dentes e ao invés de pegar uma das roupas que sua mãe escolheu, abriu novamente o guarda roupa e escolheu a sua. Estava com um moletom todo preto por cima de uma camisa branca lisa. Gorro branco também e luvas de tecido grosso e preto. As calças jeans rasgadas e um Air Jordan preto com branco.

Era quase 22:00. Foi até o quarto dos pais, disse que voltaria mais tarde e se despediu. Pegou as chaves do carro e pôs o endereço no GPS. Em poucos minutos naquela cidade movimentada chegara até o campus, passou alguns minutos rodando com o carro procurando a entrada D4. 

O campus estava lotado, havia pessoas em todos os lugares. Eles fizeram varias fogueiras em tambores, deveria haver centenas. E a calourada se estendia também para dentro da universidade, uma verdadeira festa. Havia também varias cabanas de palhas, poderiam acometer uma centena de pessoas pelo menos, com o teto alto e sem grades para qualquer um entrar, cada uma com uma um cubo de fogueira eletrônica no centro. Uma grande mesa cheia de bebidas diversas, luzes e lasers. Os estudantes bebiam e dançavam entre si, alguns só olhavam a festa como Sam.

Ele chegou até uma cabana e viu Lukas beijando uma garota loira. Preferiu não intervir no momento, subiu a cabana e foi até a mesa de bebidas. Ao chegar percebeu que as bebidas vinham dos próprios estudantes, chegavam trazendo aos montes e colocavam em cima da mesa. Como o dito, eram podres de ricos, aquilo não era praticamente nada. Botavam Vodkas, cervejas, energéticos, whisky e vinhos caros como se aquele fosse o preço a pagar para entrar na festa, bebida a vontade. Sam pegou um copo plastico vermelho ( daqueles de beer pong) e pôs vodka com energético. O primeiro gole desceu rasgando, o segundo já foi melhor.

Observando o pessoal ao redor, viu de fato varias meninas bonitas. Ficar dentro da cabana trazia calor, conseguia ver meninas de vestidos e caras somente com camisa/blusa e calça, todos pirando na festa. 

— Você perdeu a apresentação da sua turma, oh gênio. - Thiago apareceu em meio a multidão.

— Graças ao bom Pai - respondeu Sam

— Pensei que estivesse animado em finalmente poder fingir que estuda de novo - disse Thiago rindo.

— Eu estou - disse também rindo.

Thiago já tinha feito algumas amizades, logo se afastou e Sam ficou sozinho de novo. Não conseguiu ver Lukas e foi então que decidiu adentrar mais para o centro do campus, ver como estava a área interna. Enquanto andava, presenciou duas ou três olhadas entre as meninas, a beleza dele de fato chamava um tanto atenção, mesmo só usando preto e branco. O cabelo fino e liso caía até a bochecha com um corte estiloso.

Chegou até uma das entradas da universidade. Lá o clima mudara ainda mais. Sam via lasers verdes e vermelhos por toda parte. Musica eletrônica rolando em salões, devia ter passado por no minimo uns quatro. Passou por um corredor onde tiraram a luz comum e colocaram luz negra, conseguia ver os dentes das pessoas brilhando. 

Ficou cerca de uma hora inteira dançando parado e assistindo como a galera se comportava. Algumas vezes algumas pessoas chegavam nele e se apresentavam. 

"Esse deve ser bem diplomata, tem cara de quem vai se inscrever no Grêmio Estudantil"

Sam gostava de rotular quem visse. Pode parecer um habito feio, mas se conformou que era uma forma de aguçar sua percepção sobre as pessoas ao seu redor. Era bom em fazer isso, gostava de associar as ações em suas personalidades e tentar encaixa-las em alguns padrões, assim tirava algumas conclusões precipitadas sobre elas e, algumas vezes, errava, mas muitas vezes dava certo.

Ele enjoou do lugar e decidiu sair dali, procurar mais lugares para observar. Apos andar um pouco, viu uma escadaria perto de uma mesa com bebidas, ao lado de um corredor meio vazio. Ali devia haver no máximo umas 6 pessoas, todas conversando e fofocando. Ele se pôs ao lado da mesa e encheu novamente o copo com vodka e energético. Olhou ao redor e disse a si mesmo "Já que estou aqui né" e virou o copo cheio. Bebeu todo aquele gosto amargo da vodka junto ao energético. Pôs o copo novamente na mesa e começou a encher de novo.

— Vai com calma aí, calourada é as boas vindas da faculdade. Nesse ritmo, Jesus é quem vai te dar as boas vindas. - Disse uma voz por trás de Sam.

Ao virar ele deparou com um garoto que deveria ter a mesma idade que ele. Cabelo loiro e olhos claros. Vestia uma camisa branca social e uma calça jeans preta, um casaco amarrado na cintura. Seu rosto era delicado e sua expressão parecia de alguém divertido, mas seu corpo era de um atleta magro e definido. Lembrava algum surfista de cartão postal da Califórnia. 

Sam percebeu que ultrapassou o limite do copo com a vodka após se distrair olhando pra trás. Pôs de volta a garrafa na mesa e virou para olhar de frente.

— Posso? - Ele disse pedindo licença para pegar as bebidas da mesa. Sam só afastou-se de lado para dar passagem. O garoto passou e pegou um Whisky que ali estava e botou uma pequena dose. Voltou a olhar para Sam e disse - Você é caladão?

Olhos claros dele eram de cor azul celeste, seu cabelo também em corte médio com fios finos e caiam sobre o rosto.

— Só preciso me enturmar - Comentou ao garoto.

— Você é calouro de que?

— Enfermagem. - Sam respondeu, mas logo percebeu que o garoto já não prestava mais atenção a ele. O seu olhar tinha se redirecionado para o inicio do corredor, onde dois seguranças passavam procurando por alguém vindo até nossa direção.

— Não é por nada não, mas eu preciso sair daqui - O garoto comentou rapidamente e virou de costa. Seguiu para a direção contraria dos seguranças. Sam não entendeu muito bem, e nem entendeu o porquê de começar a dar passos e seguir o garoto. 

O garoto virara no corredor a direita e Sam o seguiu. Deu algumas passadas largas e logo estava do lado do garoto de novo. - Você é algum fugitivo ou algo assim? - comentou e bebeu um gole da bebida enquanto caminhava rapidamente.

— Sim, mas estou fugindo dos meus próprios seguranças. - Ele comentou sem olhar para Sam 

 - seus próprios seguranças?

— Minha mãe é meio super protetora - Ele comentou. Sam o seguiu em passos rápidos até outro corredor e entrou em uma das salas de aula, onde nesse momento haviam pessoas jogando Beer Pong, algumas sentadas conversando, outras se pegando.

Adentrou a sala e pousou o copo de bebida em cima de uma das cadeiras da sala de aula, que estavam espalhadas pelos cantos para dar espaço para os calouros festarem. Sam tirou o moletom preto e o amarrou na cintura, estava começando a sentir o calor, ou o efeito da bebida.  Ele olhou para o garoto loiro, ele estava em pé apoiado em uma das cadeiras, olhando as pessoas jogarem Beer Pong levemente alcoolizadas.

— Você cursa o que?

— Biologia - Ele olhou para Sam, com aqueles grandes olhos azuis - Quero me especializar em engenharia genética. 

— Você não tem cara de nerd.

— Você também não tem cara de enfermeirozinho humanitarista virando vodka a 40% assim.

Sam ergueu o copo de bebida e perguntou em surpresa - ISSO AQUI TEM 40% DE TEOR?

O garoto riu com a surpresa dele. Sam sentiu um calor no estomago e sorriu. Continuou a beber mesmo assim.

— Meu nome é Sammuel, mas o pessoal me chama de Sam. Prazer - 

— Prazer, me chamo Lian... Lian Kendal.

Lian falou observando a expressão de Sam. Talvez por conta da bebida ele tenha demorado ligar os pontos, mas quando associou o nome não conseguiu conter a sobrancelha arqueando em dúvida.

— Você é parente da Margot Kendal? A apresentadora famosa de Televisão? - Lian assentiu levemente com a cabeça. - Por isso os guardas? Você é meio famosinho?

— Eles não são pregados em mim. Eles só me atasanam em ocasiões especiais quando acham que vou beber até morrer em calouradas de universidades famosas. E não, gostaria que não espalhasse por ai que sou um Kendal. - Ele olhou agora meio serio para Sam - Por favor.

— Tranquilo - Sam virou mais um gole da bebida - Provável que amanhã eu nem lembre de você - Os dois riram.

Mais um tempo se passou e os dois conversaram sobre as expectativas que seria o decorrer do ano. Sam notou que Lian tinha pontos de vista parecidos com o dele. Em geral os dois acham que os estudantes da universidade de Axoon's College se colocavam num patamar muito maior do que realmente estavam, que na verdade tinham mais dinheiro do que neurônios.

Por fim Sam recebeu mensagens do Thiago dizendo que Lukas estava mal ~~dando PT~~ e que precisava de ajuda.

— A minha dupla de amigos tão se embebedando até cair. - Sam comentou ainda respondendo a Thiago por texto

— Vai precisar sair? - Lian perguntou. Estava corado e sorridente pelo álcool.

— Sim, se não o Tico e o Teco se matam antes das aulas começarem. - Sam se levantou e acenou para Lian, que retribuiu com a cabeça e um sorriso meio bêbado.

— Não vá cair por ai também -

— Cair é para amadores -

Thiago estava ao lado de Lukas que parecia pender entre o estado de acordado/alerta e desmaiando. Lukas estava sentado e Thiago em pé segurando uma garrafa de Vodka pela metade em suas mãos

— Onde você tava? perdeu as gatinhas dando em cima desse otário aqui. - Thiago apontou para Lukas. Ele não parecia tão mais sóbrio quanto Lukas.

— Fiquei bebendo lá dentro, fiz amizades também.

— Quer ir embora?

— Quero.

Uma hora depois estavam os três jogando colchões  no chão do quarto de Sam. Lukas se despiu e ficou só de cueca, deitou no colchão e apagou sem nem ao mesmo se cobrir. Thiago foi até ele e jogou uma coberta. Logo deitou também e sem muita cerimonia adormeceu. Para Sam era mais difícil dormir, ainda que meio bêbado.

Pôs um short e tirou a camisa, entrou para debaixo das cobertas e puxou o celular, rolando a tela e vendo as fotos do instagram. Por um relance lembrou da conversa que teve com o garoto na festa, Lian. Foi na aba de explorar e procurou por Lian Kendal. Lá estava ele.

Seu perfil era algo como Sam já imaginava. Tinha 13K de seguidores, fotos em diversos lugares do mundo. Alguns detalhes o pegou de surpresa como por exemplo o fato de Lian realmente ser um atleta. Apesar do corpo aparentemente definido, não imaginou que ele fosse jogador profissional de Voleibol, pensou que talvez nadasse por hobbie ou praticasse tênis como qualquer outro filho de riquinho. Mas era uma boa surpresa, Sam percebeu que ele era bem inteligente e associar isso a um atleta não é muito comum.

Saiu do perfil de Lian sem segui-lo. Bloqueou a tela do celular e pousou a cabeça no travesseiro. Ainda faltava uma semana para o fim das ferias e começo do inferno letivo.