A estrada é longa, interminável, não permite inflexões ou dúvidas. O caminho faz-se entre investidas e recuos, passos pequenos e hesitantes, com o horizonte infinito adiante, a meta a atingir, o prémio a conquistar. A fuga deixou de ser possível, deixou sequer de existir enquanto conceito plausível naquela teimosia de prosseguir andando sem olhar para trás. Não posso desistir e sinto-me cansado, tenso. Falta-me o teu abraço, penso, mas abandonei-te sem remorsos para fazer-me a esta aventura, imaginando que seria capaz e, se não o fosse, já nada mais valia a pena, seria um reles cobarde como todos os miseráveis que vi tantas vezes empacotados em comboios e autocarros a caminho do emprego maldito.
Por cada passo tenho medo, experimento uma dor, algo fundo a enfiar-se entre as costelas e a furar-me os pulmões, roubando-me o ar. Onde estás? Onde te meteste?, grito ao ar quedo e saturado, morno como a tua pele que eu recordo com desejo. Perdi-te, abandonei-te, empurrei-te e fiz-me à estrada que percorro, na solidão do eco das minhas passadas titubeantes. Espero que estejas depois da próxima curva, após aquele monte, a seguir ao obstáculo que me tapa a visão momentaneamente. Espero, sinceramente, que estejas lá… Quando a estrada terminar, tu vais estar na linha de chegada a segurar o ramo de flores a dedicar ao vencedor e serei eu, sorrindo, a recebê-lo das tuas mãos lindas.
Sou egoísta e continuo, sempre para a frente, sempre sem parar.
Sou cego e não quero ver.
Encontrarei o que busco no fim da estrada. Serás tu? Ou serei eu?
É o meu sonho de liberdade. Um sonho que fede a pesadelo.