All I Ask escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 1
If this is my last night with you...




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I will leave my heart at the door

Engoliu em seco no momento em que o salto soou no último degrau da escada que levava ao familiar corredor. A mão já suada apertou o corrimão de madeira envernizada e seu interior tremeu por inteiro em ansiedade, mais consciente do que gostaria sobre o que a esperava do outro lado da porta do n°. 04. 

Costumavam dizer que moravam em um prédio vintage apenas para não concordar com os amigos sobre quão antigo o imóvel era, mas não muito secretamente gostavam da energia tranquila do bairro e do charme de toda a construção. Ainda repleto de detalhes de arquitetura que remetiam aos anos 1920, o prédio de apenas cinco andares possuía corredores largos com grandes e conservados painéis de madeira ladeando-os na parte inferior, abaixo do papel-de-parede bege desenhado com pequenos arabescos azuis. Lustres amarelados iluminavam o caminho de cerâmica preta e branca até os apartamentos e, ao final das três portas, havia uma janela que dava para a escada de emergência, do lado de fora. 

Tudo era tão bucólico e deliberadamente não tecnológico que soava irônico, considerando a realidade deles. Entretanto, gostavam do contraste, precisavam dele quando o mundo lá fora se tornava insuportavelmente caótico. Agora, mesmo que sentisse a necessidade de se resguardar do lado de dentro daquele frágil refúgio, sabia que nada seria como antes, nem mesmo a sensação de segurança. 

Desviando os olhos para a bolsa, procurou as chaves com certa aflição e se encaminhou até a porta, mas hesitou num morder de lábios. Fechou os olhos por um instante, tentando acalmar o coração e a angústia crescente na forma como seu estômago retorcia, respirando fundo em nome do autocontrole pelo qual sempre prezou. 

Aquilo passaria. Aprenderia a lidar e deixaria para trás, do modo como fizera com todos os outros imprevistos em sua vida. Engoliu em seco e, então, destrancou a porta, lentamente girando a maçaneta fria.  Não deveria ser daquele jeito, mas adiara aquilo por, literalmente, horas sabendo exatamente o que esperar. 

O apartamento estava completamente silencioso, notou inicialmente, fechando a porta atrás de si e colocando as chaves sobre o aparador, ainda examinando como tudo parecia tão em seus devidos lugares que, por apenas meio segundo, imaginou que ele não estava em casa. Contudo, não precisou se concentrar muito para ouvir os passos baixos contra o carpete do quarto. 

Correu os olhos para o corredor de apenas duas portas, notando que aquela do quarto que dividiam se encontrava apenas encostada e a luz do lado de dentro, acesa. Então, se voltou à cozinha perfeitamente arrumada, constatando a primeira quebra de rotina: ele sempre preparava o jantar. 

Todos os dias, praticamente podia contar com uma mesa posta e alguma louça suja na pia, mas, dessa vez, apenas a iluminação embutida junto aos armários planejados estava ligada e o elegante vaso de flores secas, que ele alegava atrapalhar sua dinâmica na cozinha sempre colocando-o sobre o parapeito da larga janela junto à pia, se encontrava perfeitamente disposto sobre a ilha de mármore claro. 

Sem tirar os sapatos como normalmente faria, seguiu para o quarto, propositalmente ignorando a familiaridade dos porta-retratos expostos na parede e em móveis estratégicos, totalmente visíveis, até empurrar a porta lentamente, mentalmente preparando-se para o que veria, silenciosamente pedindo a qualquer poder superior que aquilo fosse apenas um pesadelo. 

Há uma semana acordava sozinha naquela cama, todos os dias imaginando que tudo passaria assim que abrisse os olhos, que aquilo não poderia estar acontecendo com ela. Mas estava e, a cada dia que passava, uma situação diferente evocava a verdade. 

I won’t say a word

They’ve all been said before, you know

No primeiro dia, não conseguiu sequer trabalhar ao lado dele, abalada e inconformada com o que ouvira na noite anterior; no terceiro, se encontrava aérea, completamente descolada do que acontecia, de fato, no laboratório - Cisco a mandou para a casa e ela dormiu no sofá, exausta de tanto chorar a abrupta ausência. No quarto dia, percebeu que não sabia responder onde ele estava quando Kara questionara, sem saber o que acontecia entre eles. No sexto, o perfume masculino com o qual estava habituada pelos últimos cinco anos, já não aparecia mais no travesseiro de linho ao seu lado.

Então, ele avisou que buscaria suas coisas no sétimo dia. Uma mensagem de texto que tentava ser educada e sensível, mas que, para ela, parecia forçada. Desde o primeiro instante, começou a colocar em perspectiva as últimas semanas que passaram juntos e tudo parecia um grande teatro mal contado e mal atuado.

Tentando ignorar o bolo em sua garganta, correu os olhos da cama perfeitamente alinhada em lençóis e fronhas brancos, rodeada por dois abajures acesos, ao homem saindo do closet com uma mochila de mão negra. Ele se manteve sério ao imediatamente notar sua presença, apesar de claramente hesitar enquanto examinava suas feições como apenas Barry Allen sabia fazer. 

— Ei. - O tom suave e cotidiano a dilacerou por dentro. - Você demorou hoje. 

Pressionando os dedos contra a madeira da porta, o viu olhar ao redor no quarto, como se procurasse algo apropriado para dizer - como se não soubesse que, naquela situação, não havia nada que se pudesse ser dito. Tudo já havia sido discutido antes, ele decidira pegar suas coisas naquela noite e Caitlin tivera de deixar seu coração na porta para vê-lo fazer isso. 

— Eu sei. 

Minutos antes se encontrava inerte no Mirante de Central City, observando a cidade em completo e teórico silêncio. Embora sentisse a brisa contra o rosto e tudo lá embaixo parecesse pequeno, das luzes da cidade ao movimento de carros e pessoas, dentro de si algo retumbava alto e dolorido. Já havia chorado tanto antes que seus olhos apenas refletiam o brilho da iluminação, tão cansados quanto se sentia fisicamente. 

Seus músculos doíam em tensão e antecipação, embora estivesse ali tentando adiar parte da dor pelo que inevitavelmente viria. Durante todo o dia tentara encontrar pretextos para não voltar tão cedo para a casa. Assim, talvez Barry desistisse de ser tão irrevogavelmente correto e cansasse de esperá-la para se despedir. Contudo, lá estava ele, fazendo as malas sem pressa, como quem a esperaria por toda a noite caso fosse necessário, pois sabia exatamente como ela funcionava. Era o único que sabia. 

Fechou a porta e adentrou o quarto sob o olhar cauteloso dele, preparando-se para uma possível contestação. Porém, diferente da outra noite, sentia como se a energia de seu corpo tivesse sido absolutamente drenada. Não tinha forças para brigar, gritar, chorar ou mesmo culpá-lo por seu coração partido. O risco era todo dela, não havia como negar. 

Deixou a bolsa sobre uma das poltronas próximas à lareira de pedra, tão clara quanto todo o resto do cômodo, e foi até a porta do closet, verificando os armários dele completamente vazios, apenas com os cabides no lugar. Imaginou que o banheiro se encontrava do mesmo modo, mas não quis checar. 

So why don’t we just play pretend

— Coloquei comida para a Flossie. - Tirou os olhos das gavetas esvaziadas e se voltou à Barry, os dedos da mão esquerda nervosamente brincando com a aliança ainda presente. - E vi que não tem mais água para o resto da semana, então coloquei um recado na geladeira…

— Por favor, pare. - O cortou de forma rígida. - Você não tem que fazer isso. 

Era como se tentasse fingir que a rotina estabelecida entre eles por todos aqueles anos não fosse deixar de existir assim que saísse pela porta e efetivamente a deixasse. No fim da noite, não seria Barry quem permaneceria naquele apartamento repleto de lembranças que apenas eles tinham de si mesmos. 

Percebeu pela forma como apertou os lábios e a encarou em contrariedade, as mãos na cintura demonstrando seu inconformismo latente, que o velocista se sentiu um tanto ofendido, como se fosse o único que estivesse se esforçando ali. Contudo, pareceu ter chegado a uma conclusão particular qualquer sobre sua atitude em meio a um meneio de cabeça mantendo os olhos baixos. 

Então, Barry desviou a atenção para as malas amontoadas junto aos pés da cama e decidiu começar a carregá-las. Em qualquer outra época, provavelmente usaria velocidade para tornar tudo aquilo mais rápido e impessoal, menos dolorido, mas já não eram jovens brincando de ter responsabilidades adultas. 

Enfiando as duas mãos nos bolsos do casaco negro ainda firmemente fechado por um nó bem feito, o acompanhou retirar a bagagem em três viagens completamente silenciosas e pesadas, o único ruído a preencher o ambiente sendo o das malas pesadas deixadas junto à porta de entrada do apartamento - couro, fivelas e rodinhas contra o piso de tacos. 

Abaixando a cabeça, observou distraidamente o caminho que a bota de salto alto fazia contra o carpete do quarto. Verniz negro e bico afinado, ele gostava daquele par em específico, mas tinha vários deles. Seus olhos, porém, se fecharam quando os chaveiros que Barry mantinha junto à cópia das chaves do apartamento fizeram barulho, alto demais em comparação a todo o nada que era o resto, e o velocista retornou ao quarto. 

I don’t need your honesty

It’s already in your eyes

And I’m sure my eyes, they speak for me

A tensão escorreu entre eles ao levantar os olhos, magnética no sustentar dos olhares, afiada demais para quem eles costumavam ser um com o outro. Não precisava dizer qualquer coisa, pois, embora não quisesse parecer magoada, toda a dor certamente se encontrava no tipo de olhar que só ele saberia ler. 

Não adiantaria erguer a cabeça e tentar encará-lo de cima pela escolha que fizera, pois queria apenas se encolher e Barry a conhecia o bastante para ter certeza disso. Não queria, também, ouvir qualquer palavra dele que tivesse a intenção de mascarar a bela tragédia na qual, há anos, se vira cada vez mais enredada. 

No fim do dia, eles não passavam disso: um romance trágico preparado em água morna até ebulir naquele algo maior fadado ao fim iminente desde o primeiro instante em que deixaram de, deliberadamente, ignorar o óbvio. Lá no fundo, Caitlin tinha consciência de que conceder ainda mais espaço a Barry significava correr o risco de toda a dor de mais um coração quebrado. Não estava errada. 

O acompanhou colocar as chaves sobre a superfície de madeira do cômodo logo ao seu lado, os chaveiros ruindo alto pelo quarto enquanto guardava as mãos nos bolsos das calças jeans e suspirava, observando-a.

— Não quero que… - O velocista procurou as palavras corretas por um momento, pensativamente. - Sejamos estranhos daqui para frente. 

— Jamais seremos estranhos um para o outro, Barry. É o nosso fardo. 

Apesar de ter se mantido firme e ereta, quis gritar que aquela havia sido a escolha dele, que apenas concordou com um sorriso um tanto amargo, pequenas rugas do tempo se espalhando ao redor dos olhos. Todos eles propositalmente seguiam reféns dos caminhos, bons ou ruins, que Barry Allen escolhia percorrer. 

— Ouça. - Ele pareceu meio ansioso e incerto. - Se soubesse que tudo terminaria assim, talvez nós não… 

— Eu realmente não preciso desse tipo de honestidade agora. 

Pela forma como a encarou em resignação, provavelmente captara a fria barreira reconstruída em torno de si mesma e, principalmente, de seu coração. Seria mais fácil assim, se fingisse que estava tudo bem, que a amizade deles seria maior que o divórcio, embora naquele momento fosse muito difícil imaginar como ultrapassar os dias sem aquele que melhor a conhecia e para quem poderia correr quando as coisas dessem errado. 

Suspirou num espelho do outro, mordendo os lábios em incerteza. Não queria ser cruel ou tóxica, mas não procurava por desculpas nem queria ouvir como poderiam não ter sido, pois Barry e Caitlin eram mais do que bons juntos. Ele fazia com que fosse o único que importasse e a conhecia tão excepcionalmente que um olhar de entendimento bastava no meio de uma sala lotada. 

— Eu apenas não queria machucá-la.

Ele murmurou, tão sincero e tão caracteristicamente como Barry que não conseguiu odiá-lo como vinha tentando. Mais rápido do que gostaria, seus olhos marejaram e Caitlin alcançou a mão ainda sobre a cômoda, seus dedos reconhecendo a familiaridade dos dele, mas se entrelaçando de maneira desajeitada quando apertou os seus de volta. 

— Sei disso, conheço você. - Sussurrou de modo quebrado, abraçando-o apertado num rompante impensado, mas tão necessitado. Em uma semana, toda a saudade que sentia do conforto familiar do corpo dele contra o seu, do perfume conhecido a enredando e do toque suave da barba macia contra seu rosto transbordava ali, na forma como a segurava e a aceitava, ao menos naquele breve instante, que, certamente, seria perdido em dobras de tempo mais relevantes. - Essa é mesmo a última noite, não é? A última vez que estaremos aqui, no nosso apartamento, com todas as nossas coisas… Lidando com o que resta de nós dois.

— Cait… 

All I Ask

If this is my last night with you

Barry receou quando se afastou unicamente para encará-lo, as mãos finas e frias deixando os ombros para rodearem o pescoço dele, como se tentasse ansiosamente memorizar a textura da pele e da barba rala, pois era tudo o que podia fazer. O velocista, porém, apenas a amparou, permitindo que o toque fosse quase tão igual quanto todos os dias. 

— Podemos apenas… Só por um minuto, fingir que amanhã não seremos mais do que nada um do outro. - O bolo em sua garganta doeu ainda mais ao vê-lo engolir em seco e franzir o cenho, meramente  segurando, embora suas respirações se misturassem em conhecimento e intimidade. Não era um território novo. Pelo contrário, soava como uma forma de nunca mais retornar àquilo eram. Seus dedos escorregaram pela mandíbula bem desenhada de Barry, tateando a barba mal feita de sempre, apertando os olhos para evitar mais uma onda de lágrimas copiosa. - Podemos… Fingir que ainda somos nós? 

Apoiou sua testa contra a dele, se detestando por não antecipar que a noite terminaria daquele jeito, ao mesmo tempo em que desejava realmente aquela memória como ponto final. Seria melhor se fingisse, concluiu, pois assim talvez a dor não parecesse tão latente. 

— Caitlin. - Barry chamou num murmúrio, o tom vibrando contra ela inteira, segurando com delicadeza seu rosto para que pudesse encará-la de verdade. Uma lágrima escorreu de seus olhos sem que pudesse conter, tão insuportável era, novamente, ter tão perto os olhos esverdeados examinando cada feição que tentara esconder por toda a última semana. - Isso… Não seria correto. 

— Por favor. - Voltou a passar os braços pelos ombros mais largos, os dedos alcançando os conhecidos fios macios dele na altura da nuca, inevitavelmente relembrando todas as vezes em que aquela mesma situação não passava de uma conversa íntima demais num evento repleto de pessoas. Dessa vez, porém, os sussurros quebravam apenas o silêncio fabricado do quarto e algo inominado em seu peito. - Barry, eu não pedi nada, apenas… Me importo como isso termina. Me importo com… O que nós somos, mesmo que tenha chegado ao fim. Eu… Mereço ter uma memória melhor do que essa semana foi. Não estou pedindo por um amanhã. 

Sim, estava praticamente implorando, pois não sabia para onde correr, se não tivesse Barry consigo para tanto. Porém, não teve receio de ser julgada pelos olhos próximos examinando cada expressão em seu rosto, secando a lágrima que deixara escorregar na frente dele, depois de tantas outras que encontraram o mesmo caminho por anos. Assim eram eles. 

Mordeu os lábios de forma angustiada, sua mente rapidamente criando cenários sem saída para o futuro, mas acompanhou quando os olhos dele se perderam ali por não mais do que meio segundo e, no momento seguinte, a boca decididamente se fechou sobre a sua. 

Hold me like I’m more than just a friend

Give me a memory I can use

Caitlin sempre gostara de como suas alturas se aproximavam, especialmente quando estava de salto, levando seus corpos a se encaixarem perfeitamente. Seus dedos pressionaram ainda mais os fios na nuca dele e Barry segurou seu rosto, apenas uma mão rodeando seu queixo para manter suas bocas juntas num gesto tão deles que teve de afastar por um instante, ofegante. 

Abriu os olhos para fitá-lo, a tempo de ver a forma como, dessa vez, sorriu mais como o Barry conhecia, ainda que pequeno, o brilho triste inundando as orbes esverdeadas que amava enquanto jogava para as costas seus cabelos longos e rodeava seu pescoço fino com as mãos quentes. Não deixaria de ser uma despedida, a percepção rolou entre suas respirações juntas no espaço mínimo restante entre eles.

— Oi.

Sussurrou baixo contra ela, o acordo tácito gritando em seu tom, bem como na forma que a segurava e a olhava. Caitlin se forçou a sorrir de volta, incapaz de deixar de tocá-lo ou convencer a si mesma de que se encontrava prestes a adentrar uma realidade onde o corpo e a boca dele deixariam de ser sua rotina. 

— Oi. 

Barry ignorou sua voz prestes a se quebrar como vidro e voltou a beijá-la, mais cuidadoso que com pressa, os lábios concomitantemente exigindo mais um do outro enquanto a mão mergulhava em seus cabelos impondo o ritmo deles. Ofegou novamente quando a língua rodeou a sua tão tentadoramente que precisou cravar as unhas na altura da omoplata dele, sobre o suéter azul escuro, ansiando que sentisse na pele realmente.

O beijo entre eles era sempre tão conhecido, que as mãos estacadas na costela logo abaixo de seus seios, não foram uma surpresa, embora tão provocativas quanto intencionalmente costumavam ser, colocando-a em estado de quase ebulição enquanto a empurrava lentamente de costas em direção à parede onde, antes, estivera encostada.

Agora, o único ruído no quarto eram os ofegos e suspiros quebrando a monotonia dolorida do silêncio e, ocasionalmente, das roupas amassadas por dedos ávidos, embora pesados em nome do prolongamento. Seus braços deixaram de abraçá-lo ao descer as mãos pelo peito e abdômen, sondando o caminho já percorrido milhares de vezes, memorizando em nome de todas as outras vezes em que não poderia fazê-lo.

Apertou o tecido do suéter entre os dedos, puxando-o contra si ao sentir o lábio inferior repentinamente mordido, os dentes dele enviando uma pesada onda de excitação ao seu ventre antes de a boca seguir molhada e convidativa garganta abaixo. 

Caitlin gemeu baixo fechando os olhos, a pele abruptamente mais sensível ao toque, à barba macia deslizando contra sua pele, ao hálito quente desestabilizando-a, tão ofegante quanto ela, que começou a desfazer o nó do casaco, mal se importando com o pouco espaço entre seus corpos junto à parede e a dificuldade de seus dedos trêmulos. Só precisava se livrar de parte da roupa.

À par da ansiedade, Barry afastou sua mão e desatou o nó com mais facilidade do que esperava, afastando o casaco negro e comprido pelos ombros enquanto mordia e chupava um ponto específico em seu pescoço. Segurando todos os suspiros que tinha, Caitlin somente apoiou a cabeça contra a parede e desfrutou dos beijos molhados, fazendo-a se encolher contra ele ao deixá-lo tentar encontrar ainda mais espaço atrás de sua orelha, sem se importar com seus cabelos, afinal costumava adorá-los. 

Foi quando Barry contornou seu corpo novamente, ignorando o casaco aos pés e procurando cegamente o zíper da saia social preta, que conseguiu retomar algum autocontrole, trazendo o rosto dele para o seu e o beijando novamente. Sentia falta deles e do que eram em todos os instantes, mas, mais ainda, sentia falta do que costumavam ser na cama, aquele algo mais deles do que nunca, construído em silêncio, confiança e tanta sincronia. Sabia onde ele beijaria, tocaria, como o faria, como reagiria ao seu próprio toque e às suas provocações. 

Sem esperar pelo repentino retomar de atitude, o velocista desistiu da saia e travou as mãos em seus quadris, mantendo-a junto dele de forma a sentir a urgência de seu ofego e do volume entre as pernas. Sua pele já parecia queimar no instante em que ele rapidamente retirou a camisa de dentro da saia e a tirou por seus braços, os dedos emendando cada toque possível, consciente da necessidade de mantê-los.

Caitlin começou a empurrá-lo para trás, na direção da cama perfeitamente arrumada, sem se preocupar com as peças de roupa deixadas para trás no chão acarpetado, ao passo que ele alcançava um de seus seios cobertos pelo intrincado sutiã de renda negra, transparente e macia. Baixa e arrastadamente, gemeu contra a boca macia que cobria a sua e ali se manteve, de olhos fechados e lábios molhados junto aos deles, os poros se arrepiando ao senti-lo afastar a lingerie e brincar com o mamilo sensível. 

‘Deus, sinto falta disso’, ponderou, desejando que não tivesse falado em voz alta ao notar o breve riso nas feições masculinas bem desenhadas e beijando-o brevemente para afastar qualquer questão sobre a bagunça que vinham sendo além daquele quarto. Encarando-o de perto como gostava, seus narizes juntos e suas respirações urgentes numa mistura sem proprietário, começou a afrouxar o cinto de couro sobre a calça jeans, desabotoando-a sob olhar sério simplesmente acompanhando-a. 

Barry apreciava quando sua habitual autoconfiança escorria entre eles em momentos como aquele, sempre fora assim. Seu retrato, naquele instante, era totalmente bagunçado e excitado, dos fios de cabelo castanhos desordenados até a pele corada do rosto e os lábios inchados, cobrindo os seus com certo carinho antes de ultrapassar a barreira da cueca para agarrá-lo com lentidão e delicadeza. 

Observou, no limiar do desejo, a forma como ele fechou os olhos e buscou a própria respiração, sem se afastar, a mão forte seguindo para segurar sua nuca em confusão seus cabelos compridos embaraçados pelo toque. 

— Cait… - Ele ofegou quando o beijou, rápida e avidamente, apenas pela adrenalina do contato, sem saber onde terminavam e começavam os lábios molhados um do outro. - Você vai me deixar louco. 

Apenas sorriu contra o sorriso incerto dele e deixou que procurasse seu pescoço novamente, os dedos agarrados à sua nuca para tentar expor mais pele, mais perfume, mais fragilidade. Até que Barry, quando sua situação pareceu realmente ter ficado mais complicado, num impulso rápido, se afastou para arrancar o suéter pela cabeça e os virou para a cama, empurrando-a para o colchão mal lhe dando tempo de ajeitar a saia para recebê-lo.

Adorava sentir o peso sobre si, assim como ser completamente inebriada pelo perfume masculino - a primeira coisa nele a deixá-la totalmente extasiada tanto tempo antes não mudara, mesmo depois de tudo -, pela pressão do beijo cada vez mais necessitado e dos dedos pesados em seus quadris. 

Ele também precisava disso, notou, dessa última memória deles como um, especialmente porque eram muito bons nisso de serem mais do que melhores amigos. Caitlin sabia, Barry sabia e talvez isso tornasse tudo ainda mais… Deprimente. 

Take me by the hand while we do

What lovers do

Engolindo para si mesma aqueles sentimentos, concentrou-se na mão pesadamente subindo pelas pernas que o rodeavam, quentes como gostava, até adentrar o que ainda restava de suas saias nos quadris e alcançar sua calcinha. 

Barry era uma visão sob qualquer luz, pensou enquanto a deixava nua sem muita cerimônia, admirando o corpo do velocista entre suas pernas. Os músculos discretos faziam o caminho interessante até onde a calça preta se encontrava solta no quadril, deixando à mostra a cueca baixa e o inevitável volume do membro dele. Mordeu os lábios, sentindo o efeito da antecipação fazê-la latejar e sorriu ao levantar o tronco para se sentar na cama, observando o rosto dele pender para o lado a fim de conseguir alguma visão de sua intimidade, mas no momento em que fez menção de se deitar novamente, o empurrou para a cama e se sentou em seu colo, aberta, excitada, completamente vulnerável. 

Ele não soou nada surpreso, sempre permitia que Caitlin fizesse o que bem queria. Seria injusto utilizar seus poderes para impedi-la de ser a senhora de seus próprios prazeres, haviam conversado tanto tempo antes que parecia fazer uma década. Além disso, não queria que tudo terminasse rápido num retrato frio e distante do que costumavam ser. O sexo entre eles não funcionava assim. Não era o tempo todo repleto de olhares e toques significativos, mas era sempre… Bem feito. 

Notou que a atmosfera mudou quando, de cima, o observou percorrer com os olhos todo o seu rosto e os cabelos compridos em desordem, descendo devagar para o pescoço, os seios, os quadris e cada pedaço de sua pele nua. Barry estava memorizando, percebeu pelo suspiro repentinamente tenso; memorizando todo o quadro que pintava acima do corpo dele sob a iluminação íntima do quarto deles. 

Apenas tinha certeza disso, pois fazia exatamente o mesmo, concentrando-se mais na maneira como os olhos esverdeados repousavam sobre ela num brilho mesclado de excitação e saudade antecipada; em como fazia um belo conjunto com os lábios vermelhos de tanto beijá-la e barba rala, que adotara há algum tempo; e, mesmo sendo aquele homem que a encarava em expectativa malícia sobre o próximo passo, ainda parecia completamente adorável. Essa era a coisa de Barry Allen. 

Forçando um sorriso pequeno de entendimento mútuo, Caitlin buscou as mãos que se encontravam em seus quadris, distraindo-se ao pacientemente entrelaçar seus dedos. Ele ainda usava a aliança que fazia par com a dela. Observou como se encaixavam sem qualquer esforço, como sempre havia sido, mas se lembrou do exato instante em que ouvira as palavras que mais temera dele, o tom hesitante que jamais esqueceria: ‘não me sinto mais… da mesma maneira por você’. Naquele instante, embora aquilo soasse longe do clima rapidamente instalado no quarto, as palavras ainda doíam numa insistência com ares de permanente. 

Então, num suspiro rendido, quase cansado, Caitlin se curvou elevando suas mãos juntas contra a cama, acima da cabeça dele, o corpo completamente sobre o do velocista e seus rostos a centímetros de forma que seus narizes se tocavam enquanto se ajeitava, sem pressa, prolongando o momento. Barry apenas anuiu, total compreensão escorrendo dos olhos esverdeados que percorriam seu rosto, não hesitando em apertar de volta as mãos que o seguravam firmemente. 

— Eu sempre… - Recuou no reflexo da eterna hesitação dele, os olhos rapidamente substituindo o brilho de admiração, que sempre estava ali quando se tratava dela, por algo mais dolorido e culpado. Assim, Caitlin cerrou os olhos e apoiou o rosto sobre o dele, tanto desfrutando quanto temendo, para sussurrar na imensidão entre eles. - Eu sempre… Terei os mesmos sentimentos por você. Não importa o tempo. 

Era uma promessa chorosa mais verdadeira quando dita em voz alta do que em sua mente. Tinha medo de que ele levasse consigo tudo de melhor que conseguira aflorar na mulher que se tornara, de não alcançar com mais ninguém aquele sentimento tão único deles, de precisar se encontrar novamente sem a ajuda de Barry - por e para si mesma, dessa vez, pois se não conseguisse, estaria tão perdida quanto se sentia naquele instante. 

Lentamente, ele alcançou o canto de sua boca e seguiu pela bochecha e garganta, a intimidade do ato latente como se pudesse tocá-la no abstrato. Ao menos por aquela noite, Barry permitiria que tivesse a memória do homem que, conscientemente, carregava na manga tudo o que se deixara sentir em muito tempo. 

Então, os lábios se arrastaram sobre os seus e as mãos se firmaram ainda mais nas suas, seguras em contrapartida ao suor nervoso de suas palmas, e só por um instante, seguiu em frente sem medo, da forma como os amantes costumam fazer.

It matter how this ends

‘Cause what if I never love again?

FIM


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Notas finais do capítulo

Então... Música da Adele né? kkkkcry

Aos que leram, espero que tenham curtido essa visão mais dramática de snowbarry. Eu não quis dar nenhum background concreto sobre o término, porque concluí que não seria necessário para o que aconteceria aqui, então fica à cargo de suas imaginações.

Tenho que dizer que a história se desenrolou na minha frente quando comecei a prestar atenção nessa música, precisava escrever e saiu BEM MAIOR do que eu imaginava inicialmente. Como é Adele, quis dar esse tom MUITO tão dramático quanto tudo o que ela faz.

Caso tenha curtido, considere deixar um comentário sobre a história, sobre esse casal, sobre a Adele, sobre tudo! ;)

Até breve ♥



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