April Fools escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Esta fanfic pertence ao projeto Headcanon Month (@hcmonth) do Twitter.



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Fred e George comemoravam o aniversário todos os anos da mesma maneira: pregando pegadinhas mais elaboradas do que costumavam pregar o ano inteiro. Eles realmente se esforçavam para isso, e foi assim que A Toca começou a se tornar um caos.

De alguma forma, todos os irmãos Weasley acabaram envolvidos nessa tradição, às vezes até Arthur ajudava os filhos com alguma coisa que precisassem. Era o pior dia do ano para Molly por causa disso, mas ela fingia que não via por ser o dia do aniversário dos gêmeos. Era um único dia no ano em que ela não podia gritar com eles. Quando Ginny ainda não estudava, o feriado de páscoa era o momento em que podia se divertir com os irmãos antes dos próximos meses escolares.

Em algum momento, Bill sugeriu que eles fizessem disso uma competição e que tivessem um vencedor, o que só tornou as coisas bem mais interessantes, considerando que cada um dos irmãos era competitivo ao extremo, até mesmo Percy. Imagina só poder pedir o que quisesse de cada um dos seus irmãos e eles não poderem recusar? Tentador, muito tentador.

O problema é que os gêmeos eram realmente muito bons naquilo, então na contagem geral, eles sempre estavam em primeiro lugar. No ano anterior, os Weasleys tinham se unido para tentar derrotá-los, mas não tinham tido sucesso. Bill tinha dado a ideia de que, naquele ano, Fred e George teriam que lutar sozinhos, o que poderia desestabilizá-los, já que estavam sempre juntos. Sendo assim, Ginny poderia ter finalmente uma chance. Mesmo que fosse a segunda no ranking, logo abaixo dos gêmeos, fazia muitos anos que não ganhava, e estava cansada de todo ano ter que fazer as suas vontades.

Os gêmeos batalhariam separados, Charlie e Bill estavam em casa naquele ano, tudo correndo para que aquela batalha de pegadinhas fosse inesquecível. O único problema era que Ginny não conseguia decidir o que fazer, até escutar os gêmeos conversando entre si, comentando qual dos irmãos seria o primeiro a sair do armário. Foi aí que ela teve a ideia.

Ia fingir ter uma namorada.

E sabia perfeitamente bem quem toparia fazer parte disso.

Atravessou com facilidade o campo de Ottery St. Catchpole, ignorando as galinhas soltas do celeiro, que bicavam a grama à frente da casa. Eram poucos metros que a separavam da casa de Luna, sua melhor amiga desde a infância. Bateu apenas algumas vezes na porta antes de ser atendida pelo Sr Lovegood, que estava trabalhando em mais alguma edição do Pasquim.

— Já dissemos que não precisa bater na porta, Ginny, você é sempre bem-vinda — disse o homem antes de voltar para a sala, onde ficavam os seus itens de trabalho — Luna está no rio pescando dilátex de água doce.

— Eu vou até lá então, obrigada — ela respondeu antes de fechar a porta.

Sempre esquecia de conferir se ela não estava do lado de fora antes de procurá-la dentro.

Com a barra da calça capri erguida mais próxima do joelho, Luna estava agachada procurando pelos dilátex no rio. Poderia ser mais um animal inventado pela família Lovegood, mas eles tinham aulas sobre eles em Trato das Criaturas Mágicas. A única coisa bizarra era pescá-los para fazer uma sopa. Mesmo que fossem peixes, eram peixes de aparência bem diferente, a ponto de poucos terem pensado em usá-los para a culinária.

— Olá, Ginny — a loira disse antes que ela pudesse anunciar a sua presença, segurando uma cesta com alguns peixes, já que ela não era muito a favor de usar um anzol — Pensei que estaria ocupada hoje.

— Preciso da sua ajuda — ela disse, mergulhando os pés descalços na água.

— Precisa de dilátex de água doce? Ou talvez zonzóbulos? Eu tenho certeza de que eles confundiriam a todos — Luna exibiu um sorriso encantador sob a luz do sol, que deixava o seu cabelo ainda mais claro e angelical.

Sentiu uma sensação estranha no estômago, como se tivessem ativado uma chave de portal, aquele puxão pelo umbigo. Não existia uma única pessoa no universo capaz de não gostar de Luna Lovegood. E, se existia, era um ser amargurado sem amor à vida.

— Bom, você pode levar um pouco da sua sopa de dilátex de água doce — disse Ginny, movimentando a água levemente com os pés — Mas não. Eu queria que você fosse comigo pr'A Toca. Tipo... — pensando bem, ela não tinha pensado muito bem naquele plano — fingir ser a minha namorada. Essas coisas.

— O seu plano é fingir ter uma namorada? — ela virou a cabeça de lado, aparentando confusão — Você quer ver se os seus irmãos são homofóbicos?

— O quê? Não! — a ruiva exclamou, então parou para pensar nisso.

Será que Percy era homofóbico? Ou Rony?

Ah, ela ia matar um.

— Eu não entendi a pegadinha — Luna comentou, voltando a atenção para a cesta.

— Não é pegadinha pra ser engraçado como na escola, sabe. É uma pegadinha do tipo enganar os meus irmãos, entendeu? — Ginny tentou explicar.

— Ah, então qualquer mentira que você contar...

— É, é isso. Primeiro de abril, lembra? — ela a interrompeu antes que pudesse concluir o raciocínio.

— Ah! — ela exclamou, perdida em seu mundo particular por alguns segundos — O que eu preciso fazer?

Era impressionante como Luna sempre entrava nas ideias de Ginny, mesmo que elas parecessem malucas. Desde que a ruiva foi excluída durante o seu segundo ano por causa dos acontecimentos da Câmara Secreta, quando era apenas uma primeiranista, Luna foi a única que esteve ao lado dela. Harry, Rony e Hermione simplesmente ignoraram o que aconteceu e foram em busca da próxima aventura. Sua mãe era preocupada excessivamente, chegando a um ponto em que era sufocante tamanho cuidado. Bill e Charlie moravam fora do país, mesmo que tivessem enviado algumas cartas para ela, não era a mesma coisa. Percy só se importava com o próprio umbigo, com o seu precioso emprego no Ministério e como o escândalo dela precisava ser abafado ou poderia arruinar a sua carreira e a de todos os seus parentes. Fred e George tentaram animá-la com doces e pegadinhas, mas quando voltaram para Hogwarts, é claro que ela foi esquecida até por eles. Completamente sozinha, sendo julgada por todos ao seu redor, e os professores mesmos não faziam nada, deixando-a para lidar com seus traumas sozinha. Até que apareceu Luna, que sofria nas mãos dos outros alunos apenas por ser diferente.

Durante o primeiro ano esteve tão ocupada sendo controlada pelo diário de Tom Riddle que nem sabia como conseguiu passar de ano — se bem que se até Crabbe e Goyle passaram de ano, duvidava que existisse repetentes em Hogwarts —, quem dirá fazer amigos. Agora ela tinha Luna (e Colin também).

Ajudou-a a pescar alguns dilátex de água doce e então deixou-a voltar para casa para se arrumar e fazer a sopa ou qualquer outra coisa que sua mente criativa pudesse imaginar. Assim que fechou a porta de entrada de casa, os gêmeos pularam da escada lateral direto ao chão, sem realmente surpreendê-la, estava acostumada a lidar com aparições repentinas.

— O que está aprontando? — Fred a olhou com suspeita.

— Nada. E se estivesse, não te diria, não é mesmo? — Ginny ergueu uma sobrancelha, enfrentando-o.

— Atrevida ela, não, Gred? — perguntou George.

— Aprendi com quem?

Ergueu o queixo, passando por eles com uma expressão arrogante.

— Quero ver agir assim quando nós ganharmos — Fred a provocou enquanto ela subia as escadas.

— Só que vocês estão separados dessa vez — Ginny exibiu um sorriso arrogante quando eles perderam o sorriso deles — Ah, eu quero muito ver isso acontecer.

Eles pareciam ter se esquecido desse pequeno detalhe, o que significava que estavam em desvantagem. Aquele dia ficava cada vez melhor.

Ela deveria usar uma roupa diferente para o jantar? Não ficaria óbvio demais o que estava fazendo? Ela não sabia como namoradas deveriam agir.

— Ginny?

Estava sentada na cama do seu quarto, refletindo sobre a vida. A porta estava aberta e sua mãe estava descendo as escadas com um cesto de roupas debaixo do braço. Ela nunca parava de trabalhar dentro de casa e isso não parecia incomodá-la nem um pouco.

— Está tudo bem? — Molly aproximou-se dela.

A preocupação excessiva e sufocante.

— Eu só estava pensando — respondeu.

Sua mãe deixou o cesto no chão do quarto e então sentou-se ao lado dela na cama.

— Tem alguma coisa te incomodando? — ela perguntou, acariciando o seu cabelo.

Tinha?

Percebeu então que o que Luna tinha dito mais cedo tinha lhe incomodado mais do que imaginou.

— Mãe, e se eu... — ela olhou para o chão.

Mas não podia ser. Ela gostava do Harry, não gostava? Ou será que não podia determinar “gostar” o fato de ter uma imagem sobre ele antes mesmo de conhecê-lo? Talvez não tivesse nada a ver com “gostar” do jeito que ela pensava.

— E se eu gostasse de garotas? — perguntou, sem olhar na direção dela.

Molly não respondeu.

Por que isso estava a incomodando tanto? Não é como se ela realmente gostasse de garotas. Mesmo que a incomodasse muito a ideia de que a sua família fosse homofóbica... Isso a incomodaria muito, é claro. Não tinha um “mas” nessa questão. Não seria como se isso fosse mudar alguma coisa para ela, para a relação que tinha com eles, mas o preconceito é errado, e seus pais viviam falando sobre como era errado julgar nascidos trouxas. Seria no mínimo hipocrisia...

— Eu quero te ver feliz, Ginevra.

Ela levantou o rosto, olhando para o rosto de sua mãe.

— Eu sei que temos ideias muito diferentes sobre a vida. Você sempre foi mais independente, mais revolucionária — a mais velha continuou.

Não sabia se alguém que fugiu de casa no meio de uma guerra para casar estava inclusa no seu conceito de “acomodada”, mas beleza. Ser chamada de revolucionária era um elogio, e ela ia aceitar de boca fechada.

— Eu só quero que saiba que as coisas que digo são porque quero o seu bem. Pode ser que eu demore para me acostumar com algumas coisas, mas a sua felicidade sempre virá em primeiro lugar para mim. É a coisa mais importante.

— Será que os meus irmãos pensam a mesma coisa? — perguntou Ginny, olhando para o pôster de Gwenog Jones na parede.

— Se não pensarem, terão que se ver comigo — disse Molly com a voz firme.

Sua mãe levantou-se, dando um beijo na sua testa e pegando o cesto de roupas do chão antes de sair do quarto. A ruiva mais nova deixou um sorriso minúsculo surgir em seu rosto.

Escutou gritos vindos do andar de cima.

Talvez Fred ou George já tivessem dado o primeiro passo deles para a pegadinha.

Não muito tempo mais tarde, foi confrontada por Rony.

— Não vai fazer nada hoje? — ele perguntou casualmente enquanto estavam na cozinha.

Ginny tomou muito cuidado com os talheres e comidas que pegava. Nunca se podia saber quando os gêmeos resolviam transformar alguma coisa em uma varinha falsa, por exemplo, ou enfeitiçar talheres para perseguirem o alvo. Da última vez que checou, estavam ocupados tentando entrar no quarto de Percy, que estava praticamente blindado naquele dia.

— Estou sem muita inspiração — ela comentou, pegando um copo de suco para beber.

Tinha esquecido desse detalhe do seu plano às pressas. É claro que desconfiariam do fato de que ela esteve silenciosa o dia inteiro.

— Sei — Rony disse, olhando-a com suspeita.

— Ou talvez eu esteja aproveitando o nervosismo de vocês, a expectativa de que eu faça algo — Ginny comentou — Talvez eu saiba que Charlie está escondido desde hoje de manhã no celeiro...

Ele hesitou um segundo antes de levantar-se da cadeira e ir para fora pela porta da cozinha.

Seus irmãos eram tão previsíveis às vezes...

Conseguiu passar o restante da tarde intacta das pegadinhas espalhadas pela casa. Estava na cozinha ajudando a mãe a fazer um bolo de chocolate — por mais que fosse um desastre ambulante na gastronomia, ela tentava —, quando Luna bateu na porta do cômodo, que dava para o lado de fora.

— A sua amiga está aí — disse Molly, como se ela não tivesse visto.

Então Ginny se sentiu travar.

— Hã... — tentou afastar a visão da loira com os cabelos trançados, sentindo a boca seca — Na verdade, Luna...

O que ela estava fazendo?

— Chamei Luna para jantar aqui — ela disse.

— Acha que é uma boa ideia? Sendo hoje? — perguntou sua mãe.

— Ela aguenta.

Abriu a porta da cozinha pelo lado de dentro, não estava realmente trancada, mas Luna era educada demais para sair entrando.

— Olá, senhora Weasley.

— O que é isso? — Ginny perguntou, indicando a tigela que ela trazia.

— A sopa de dilátex doce.

É, isso ia ser interessante.

Molly lançou um olhar para a filha como quem dizia "agora entendi" ao mesmo tempo em que devia pensar "eu vou ser obrigada a comer isso?".

— Os meus irmãos não precisam ficar sabendo — Ginny pediu a ela.

Não era costume pedir ajuda para sua mãe para enganar os seus irmãos, mas sabia que era a filha favorita, era só fazer uma expressão fofa e pedir por favor, mesmo que já não fosse mais criança.

— Um dia vocês ainda vão desistir dessa "tradição" — foi só o que sua mãe disse, desistindo.

Provavelmente quando um deles parasse no hospital. Caso contrário, até seus filhos iam ser parte daquilo. Pobres crianças traumatizadas.

— Posso ajudar em alguma coisa? — Luna ofereceu.

Como se sua mãe fosse deixar convidados ajudarem na cozinha.

— Oh, não precisa, querida — Molly sorriu — Ginny, faça companhia a ela.

Quando era mais nova, era sua desculpa perfeita para fugir dos afazeres.

— Vamos, deixe isso aí — a ruiva indicou o balcão antes de entrelaçar os dedos aos dela e puxá-la pela mão para dentro da casa.

Adoraria dizer que foi friamente calculado, mas não foi.

Em algum momento naquela noite, Ginny desistiu da ideia de fingir que Luna era a sua namorada. Só não... parecia certo. E a expressão no rosto dos irmãos quando foram obrigados a comer a sopa de dilátex doce tinha sido impagável.

— Luna vai dormir aqui essa noite? — Molly perguntou a um certo ponto, quando estavam na sala de estar apreciando chocolate quente. Bem, pelo menos os que não estavam passando mal.

— Não sei se...

Antes que pudesse completar que não achava uma boa ideia, Luna se pronunciou:

— Não, eu já estou indo. Prometi que ia ajudar o meu pai com o Pasquim — ela deixou a caneca já vazia em cima da mesa — Muito obrigada pelo jantar, senhora Weasley.

— Você é muito bem vinda aqui, Luna, sabe disso — disse Molly, sorrindo — E não precisa me chamar de senhora Weasley, me chame de Molly.

Sua mãe e sua missão frustrada de fazer os outros chamarem-na pelo seu nome.

Ginny levantou-se de seu lugar para seguir a amiga, que ia em direção à porta de saída. Podia não parecer, mas ela teve uma educação, e a educação a mandava ir até a porta com os convidados quando saíssem.

— Por que não falou que éramos namoradas? — Luna perguntou a ela antes que pudesse sequer respirar, assim que estavam afastadas o suficiente.

Ficou olhando-a por alguns segundos, esperando o seu cérebro fazer as sinapses que pudessem fazê-la reagir àquela pergunta.

— Não era esse o plano?

— Sim, mas... — ela olhou para a porta de madeira, que não tinha nada de interessante — Eu não achei que fosse preciso... Quero dizer, você mesma achou a ideia um pouco babaca.

— A ideia de namorar você nunca me pareceria babaca, Gin.

E então Luna aproximou-se para dar um selinho nela.

Foi aí que as sinapses de Ginny Weasley pararam de funcionar definitivamente.

Depois do que pareceram horas, Luna afastou-se, girando a maçaneta da porta e saindo da casa. Ginny pensou que o silêncio e toda a tensão tinham sido coisa da sua cabeça, mas quando ela “acordou”, percebeu que a sala de estar estava silenciosa demais.

Sentiu o rosto ferver de vergonha e então foi direto para as escadas, ignorando os olhares dos seus parentes.

Ela tinha perdido, e não tinha sido para nenhum de seus irmãos.


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