Distante escrita por Lola Royal


Capítulo 1
assassino


Notas iniciais do capítulo

AVISO: ESSA FANFIC É UM DRAMA, COM GATILHOS PARA DESAPARECIMENTO, DEPRESSÃO, ABANDONO, TRAGÉDIA E MAIS.

Oi, gente. Sei que é uma fic pesada, mas eu tava com saudades de escrever algo triste assim. Só leiam se estiverem de boa, ok?



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Ela ainda usava o anel de noivado. Não era nenhuma jóia cara, sequer era um diamante, mas a mulher de trinta anos continuava com ele em seu dedo.

Se meu coração ainda batesse, isso o faria doer. Significava que ela ainda não tinha me superado, e ao mesmo tempo que queria que a arquiteta me superasse, eu também não queria ser esquecido.

Era véspera de ano novo, Bella estava sozinha no apartamento que dividimos, até eu desaparecer.

Aconteceu em uma noite quente de verão em Jacksonville, eu estava em um shopping. Tinha ido comprar um presente para Bella, mesmo que não fosse aniversário dela ou alguma data comemorativa, apenas queria a presentear com algo importante.

Ninguém sabia que eu estava lá, ninguém pensou em me procurar no shopping que desabou, que ficava bem longe do meu apartamento e do trabalho. Ninguém sabia que ali era o único lugar onde eu conseguiria o presente de Bella, um perfume que ela usava quando adolescente, que sentia saudades, mas que tinha saído de linha.

Até eu conseguir localizar, um único frasco, numa loja daquele shopping. As vendedoras tinham o reservado para mim, eu contei os minutos daquele 15 de julho para buscar o presente.

Não consegui sequer pegar o perfume, tudo aconteceu tão rápido. Em um minuto eu estava olhando roupas em uma vitrine, no outro o shopping começou a desmoronar.

Ferido, desesperado, eu clamei por ajuda. Não era o único, mas não conseguia me mover e ajudar mais ninguém.

Foi quando o homem apareceu, loiro, pele muito branca, olhos estranhamente dourados. Sua camisa azul clara estava suja, mas ele não parecia ferido.

Qual seu nome, garoto? — perguntou.

Edward — respondi com dificuldade, todo meu corpo doía.

O meu é Carlisle, sou médico, posso tentar te ajudar.

Por favor, me ajuda — implorei. — Não quero morrer.

O homem pareceu me examinar, os gritos ao redor de mim iam diminuindo.

Edward, você está muito machucado, não sei se…

Me ajuda — insisti. — Não posso morrer, eu não posso.

Meu maior medo, desde criança, era morrer.

Por favor, me salva.

Ele me salvou, mas o preço foi alto. Eu me tornei um vampiro. Um monstro, uma aberração.

Carlisle tinha uma dieta diferente, não bebia sangue humano, tomava sangue de animais. Ele, de alguma forma, conseguia até trabalhar em hospitais, mesmo com sangue por todo lado, tinha muito autocontrole.

No primeiro mês tentei seguir sua dieta, entretanto não consegui. Eu queria sangue humano, precisava, necessitava. Me tornei um assassino, cheguei a matar cinco pessoas numa mesma noite.

Enquanto isso, minha noiva, minha família e amigos procuravam por mim. Cartazes de desaparecido foram espalhados, minha mãe até deu uma entrevista desoladora na TV pedindo que quem tivesse informações sobre meu desaparecimento compartilhasse com ela.

Carlisle pediu que eu não procurasse minha família, mas eu o ignorei, fui atrás de Bella. E quando senti o cheiro do seu sangue, me desesperei.

Era muito melhor do que o cheiro de qualquer um, o dela era tão bom, tão atrativo. Eu o queria. Naquela noite fiquei escondido no closet do quarto que um dia dividi com ela, imaginei que poderia me deliciar de seu sangue, mas quando minha noiva acordou chorando, gritando meu nome, percebi que nunca poderia machucá-la.

Eu também nunca poderia aparecer para ela, Bella não iria me amar se soubesse a verdade. Aquela que me tornei um monstro, um assassino. E se me amasse ainda assim, não iria a colocar em perigo por conta da minha natureza, também não cogitava transformá-la.

Ela não poderia se tornar um monstro também, eu me recusava a condená-la ao inferno.

Na véspera do ano novo, ela escutava nossa música favorita, Clair de Lune. Todas as luzes do apartamento apagadas, tinha desligado seu celular também.

Eu entrava escondido no apartamento toda noite, ficando a madrugada no closet. Minhas roupas estavam ali ainda, ela se recusava a mandá-las para a doação, ainda tinha esperanças que eu voltasse.

Há um mês tinha começado a terapia, também tomava remédios controlados. Seus amigos lhe forçaram a buscar ajuda, ela tinha melhorado bem pouco. Meu desaparecimento estava destruindo Bella, isso me destruía também.

Estava tão perto, mas não podia ser visto e meus poderes me garantiam facilidade em ficar escondido. Eu também não podia ler sua mente, conseguia ler a de todos desde que fui transformado, segundo Carlisle era um dom, mas os pensamentos da mulher que amava ainda eram só dela.

A arquiteta tinha uma janela aberta, estava apoiada ali enquanto fumava. Voltou a fumar em setembro, depois de quase seis anos sem colocar um cigarro na boca.

Apoiei uma mão na porta do closet, que tinha frestras, isso me permitia olhar para Bella. Sozinha, fumando, no escuro. Tudo minha culpa.

Desejei ser egoísta, aparecer para ela, transformá-la. Viveríamos para sempre juntos, nada iria nos separar. Mas, eu não queria roubar a vida dela.

Depois da transformação meu maior medo não era mais morrer, sim temer que Bella me visse daquele jeito, um monstro de olhos vermelhos. Um assassino, alguém que nunca deveria chegar perto dela. 

Queria que ela se lembrasse de mim como o cara que lhe ajudou a carregar suas malas na faculdade, que a levava para tomar sorvete e tocava piano. O homem que lhe pediu em casamento, no primeiro dia de janeiro daquele ano. 

Que ela lembrasse das nossas conversas por toda madrugada, escolhendo nomes dos filhos que queríamos ter. De quando ela insistiu em viajarmos para o Alaska, nossas melhores férias. Do dia em que dançamos na chuva, eu escorreguei e quase quebrei o pé, mas não conseguimos parar de rir por um segundo que fosse.

Eu tive uma vida incrível ao lado dela, infelizmente terminando muito antes do que planejamos. Mas Bella, ela ainda precisava viver mais, não poderia se entregar aquela dor.

Só não sabia o que fazer para ajudá-la. Carlisle falava que eu precisava me afastar, que continuar perto só iria me fazer sofrer mais e nada disso ajudaria Bella. Ele estava mudando para uma cidadezinha em Washington, um lugar que mal fazia Sol e queria que eu fosse junto. 

Assim, ele conseguiria ter uma vida de dia, sem precisar só aceitar plantões noturnos e fingir dormir pela manhã. Mas, o que seria de mim lá? Um assassino, eu não seguiria sua dieta, não conseguia.

Bella apagou o cigarro, sozinha começou a contagem regressiva, ela também conseguia ouvir os vizinhos comemorando no apartamento ao lado. Seu choro começou antes de chegar ao cinco, fechou a janela, deitou na cama e encolhida começou a chorar.

Chorou até dormir, eu lutei contra cada parte de mim que quis ir consolar minha amada. Não podia, não a merecia mais.

— Edward, Edward — chamava meu nome em seus sonhos.

Pouco antes do Sol nascer, eu deixei o closet, me aproximando dela. Tão perto de mim, ao mesmo tempo tão distante. 

Toquei em seus cabelos, ela não acordou. Sussurrei o quanto a amava, ela não acordou. Beijei sua testa, o corpo dela era quente diferente do meu frio, ela suspirou, ainda dormindo.

— Feliz ano novo, meu amor — desejei.

Tirei do meu bolso o perfume, colocando em sua mesinha de cabeceira. Ela não iria entender como ele parou lá, não saberia que eu tinha roubado ele do estoque de uma loja, um frasco velho de exposição, quase no fim, esquecido.

Não saberia que o encontrei com meu olfato aguçado. Não saberia que eu matei uma pessoa para invadir o depósito. Não, ela não saberia nada disso.

Em seguida fui embora, voltaria na próxima noite. E quando voltei, ela não estava mais lá.

— Se mudou para a casa de uma amiga. — Ouvi uma vizinha contar para a outra. — Parece que algo assombrou a pobrezinha da Bella.

O perfume. Ela não sabia como ele parou ali.

No quarto, que por anos foi nosso, a mesinha de cabeceira continuava no lugar. O perfume estava ali, junto com um bilhete.

Foi você, Edward?

Uma caneta foi deixada ao lado, esperando uma resposta. Eu não toquei em nada, aquilo tudo tinha passado dos limites, não queria ser um fantasma.

Na noite seguinte fui embora de Jacksonville com Carlisle, nunca mais procurei por Bella. Ela merecia uma vida sem monstros, sem fantasmas, sem um vampiro.

Eu deveria ficar bem distante.


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Notas finais do capítulo

Beijos! Dia 31 teremos uma one de ano novo mais animadinha haha
Lola Royal.
29.12.21



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