Bed Talks escrita por Vanilla Sky


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Oi oi gente, boa noite! Seguindo a ideia de uma oneshot de Natal, resolvi dar a chance para uma ideia de oneshot de Ano-Novo, ainda com o casal Karen Page e Matt Murdock. Essa história é um pouco diferente, e até um pouco menor, mas eu me diverti bastante escrevendo, e eu espero que toque o coração de vocês :)

Esse casal merece mais amor, é isto.

Tem alguns spoilers da segunda temporada de Demolidor da Netflix, e as cenas de sexo não são explícitas, mas resolvi deixar o aviso em todo caso.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805071/chapter/1

Uma noite de folga. Isso era tudo o que Matt Murdock precisava em quase um ano servindo a cidade secretamente como Demolidor.

Pelo menos três estações se passaram desde a primeira noite que ele atuara como Demolidor – das flores nos canteiros abaixo das janelas dos prédios durante a primavera, para o suor excessivo durante as noites quentes de verão e, por fim, as folhas quebrando sob seus pés no outono –, sendo que apenas recentemente haviam ingressado no inverno, com uma camada fina de neve cobrindo seu capacete enquanto estava no alto do próprio prédio naquele exato momento, ouvindo os sons da cidade como fazia todas as noites.

“Todas as noites” talvez pudesse soar como um exagero, contudo, excluídas as oportunidades em que suas costelas doíam tanto e seus cortes eram profundos a ponto dele não conseguir ficar de pé (e, mesmo nesses dias, o Demolidor se arrastava quando ouvia algo urgente nas proximidades, geralmente piorando os machucados), Matt Murdock não tivera, nesse período, uma noite que pudesse chamar de sua. A maioria delas iniciava no bar da Josie e terminava com seus punhos ensanguentados após requerer informações sobre Wilson Fisk ou o Tentáculo – era estranho pensar que absolutamente tudo acontecera no período equivalente a uma gestação. O período mais maluco de sua vida até então.

Ele ouviu passos na escada atrás dele, mas não se incomodou, porque sabia que a voz que viria a seguir era uma a qual conhecia bem até demais:

— Sua namorada está lá embaixo.

Foggy Nelson deu alguns passos à frente e recostou o corpo na mureta ao lado de Matt, que estava equilibrado com os dois pés abertos e os calcanhares encostados um no outro.

— Não adianta nem dizer que ela não é sua namorada, Murdock. – Foggy levantou as mãos no ar, gesto que ocasionou um leve estralar nos seus cotovelos, e não passou despercebido pelo Demônio de Hell’s Kitchen. – Vocês só estão enrolando o que todo mundo já sabe.

Pela primeira vez naquela noite, Matt Murdock abriu um sorriso sincero.

— Eu já vou descer. Estou me concentrando para ouvir algum problema, algo que precise da intervenção do Demolidor, porém essa noite está difícil...

Barulhos de trânsito. Pessoas comemorando, a maioria já bêbada, e aglomerando na Times Square, não tão longe dali. Conversa alta. Música alta. Crianças correndo e pais brigando com elas. Fogos de artifício caseiros. Aquela era a cidade de Matt, contudo, ele não conseguia lembrar de qualquer ocasião em que Hell’s Kitchen estivesse tão... Sonora.

— Não consigo me concentrar. – Disse Matt e suspirou em seguida, desistindo.

— É Ano-Novo, Matt. Pessoas fazem merda no Ano-Novo, e você precisa de um descanso. – Foggy colocou a mão sobre o ombro de Matt, ajudando-o a descer do telhado. – Venha, vamos lá para dentro. Guarda o capacete e amanhã você cuida disso.

Relutante, Matt Murdock caminhou segurando o braço de Foggy, na altura de seu bíceps. Os dois passaram por épocas complicadas com sua amizade, contudo, aos poucos, voltavam a se falar e até pensavam em montar o escritório de advocacia novamente. Matt sorriu na direção do amigo, ainda que este estivesse extremamente absorto no monólogo sobre os planos para o ano seguinte.

— Vai fazer academia ano que vem? – Provocou Murdock. – Ouvi seu cotovelo estralar.

— Ai, Deus. – Riu o outro. – É difícil ser amigo da pessoa com a melhor audição de Nova York inteira.

Ambos riram e desceram as escadas em direção ao apartamento de Matt, um único cômodo amplo que possuía a cozinha, a sala de estar e o quarto na mesma horizontal, e, também, uma escada a qual levava diretamente ao telhado. Era um apartamento que poderia ser considerado grande, possuindo um aluguel até barato devido a um enorme e brilhante outdoor o qual iluminava-o diuturnamente. Ao descer o último degrau, sentiu a presença dela através de uma arritmia em seu coração, do outro lado do cômodo; e a voz de Karen soou fraca ao dizer:

— Oi, Matt.

Ela certamente estava linda.

Matt jogou o capacete para dentro de um armário estrategicamente ao lado da escada e deixou que seu amigo o guiasse até ela para que pudessem se abraçar. Ele pôde sentir o sorriso de Karen se ampliando quando Matt a beijou logo em seguida, a delicadeza dos lábios contra os seus e um suspiro baixo dela, tudo no tempo de um beijo curto.

— Desculpa não estar exatamente bem arrumado. Não como você, eu imagino. – Disse Matt, sorrindo e pondo uma das mãos atrás do pescoço, ligeiramente abaixo da base do cabelo. Karen e ele apenas recentemente haviam reatado o namoro, fato que provocava alguns momentos de ansiedade nas interações entre eles.

— Achei que o objetivo fosse não ficar de roupa... – A moça deu uma risada e se encolheu ao dizer aquelas palavras, cobrindo parcialmente o rosto e oferecendo o outro braço para Matt segurar.

— Vocês podem, por favor, não falar que vão transar na minha presença? Está me deixando deprimido. – Foggy se aproximou com duas garrafas de cerveja na mão, e os três explodiram em gargalhadas.

O rosto de Matt adquiriu um rubor tão vermelho quanto seu uniforme, detalhe que ele rapidamente escondeu aceitando a cerveja que o amigo oferecera e tomando um curto gole no tempo em que Foggy retornou à cozinha para buscar mais uma cerveja.

— Eu proponho um brinde.

A expressão de Karen se iluminou.

— Um brinde a mais um ano que passou... E ao escritório. – Sugeriu ela. – Um brinde pelo Demolidor, que está a salvo conosco. – Rapidamente acrescentou em seguida.

— Um brinde por muitos fins de ano que possamos passar juntos. – Foi a vez de Matt falar, erguendo sua cerveja.

— Um brinde ao futuro casamento de vocês, e que eu possa ser o padrinho. Saúde!

Os dois visitantes aproximaram o pescoço das long necks da base da garrafa do anfitrião, provocando um barulho baixo de “tim tim” absolutamente reconfortante para Murdock, e beberam uma dose generosa antes de sorrirem uns para os outros novamente. Não era o bar da Josie, onde regularmente se encontravam, porém ainda era um ambiente familiar para todos, e extremamente nostálgico. Foi naquela sala de estar que Foggy soube a identidade do Demolidor, e que Karen e Matt tiveram sua primeira interação. Pensar sobre aqueles momentos provocava arrepios na nuca de todos; um silêncio confortável permaneceu por algum tempo até que Foggy pôs sua garrafa sobre a bancada e estalou a língua.

— Bom, hora de ir.

Matt franziu o cenho.

— Não vai comer conosco?

— Não, eu marquei de ir com a Marcy na Times Square e preciso comprar umas flores antes, se achar. Além do mais, vocês dois precisam de privacidade. Mas valeu pelo convite! – Foggy deu um abraço apertado em Karen e segurou o braço de Matt para que esse o acompanhasse até a porta. – Quem sabe amanhã eu apareço para o almoço?

Um pouco confuso, Matt caminhou por um estreito corredor com Foggy e abriu a porta.

— Bom, meu amigo... Feliz ano novo. – O dono do apartamento estendeu a mão para cumprimentar seu amigo de longa data, sendo que este observou sua palma por uns segundos antes de puxá-lo para um abraço.

— Feliz ano novo, Matt. Aproveite a noite de folga. – Foggy sorriu e afagou suas costas com carinho, depois se afastou e, já no corredor, gritou: – Usem proteção!

Matt riu e fechou a porta, trancando-a e caminhando em direção à sala. Apesar de não conseguir ver, conhecia tão bem cada detalhe de seu apartamento que sabia de cor quantos passos o levariam até a quina de parede entre a cozinha e a sala, combinado com quantos passos demoraria até chegar ao sofá e à companhia de Karen, a qual se levantou tão logo ele retornou.

— Então... – Sorriu o homem, já nos seus trinta e alguns anos, passando as mãos pelo cabelo despenteado. – Você quer jantar? Eu fiz lentilha, e o Foggy me ajudou a assar uma carne.

— É muito gentil da sua parte, mas será que poderíamos comer mais tarde? Não estou com muita fome agora... – Respondeu ela. – A não ser que você esteja, claro.

— Não, não. Eu estou perfeitamente bem. Podemos jantar depois da virada, acho... Acho que... – Ele balbuciou algumas vezes, dando um passo à frente e segurando o ombro dela com uma das mãos. – Acho que podemos fazer alguma coisa juntos antes.

Os lábios de Karen se contraíram em uma fina linha, puxada até o final dos dois lados, antes de relaxar e sentir os dedos de Matt tirando o casaco pesado que ela usava, deixando à mostra um vestido dourado com as alças finíssimas as quais ele igualmente puxou para despi-la, deixando a roupa íntima à mostra. O coração dela palpitou dentro de peito, uma mistura de excitação e nervosismo enquanto, com os dedos trêmulos, buscava despir Matt, jogando sua blusa social sobre o sofá.

O primeiro toque das peles nuas provocou um turbilhão de emoções em ambos, já que, em outras oportunidades, não haviam ficado tão próximos. Karen, especificamente, respirava pesadamente, e apenas encontrou coragem para questionar, na forma de um murmúrio:

— Quarto?

Matt concordou com um aceno, e ambos caminharam lentamente até o cômodo, com Karen deslizando a porta corrediça atrás de si antes de iniciar uma nova sequência de beijos.

Silêncio.

Enquanto o mundo todo era barulhento, como ele vira do próprio telhado, Karen era o que mais se aproximava do completo silêncio. Os barulhos da rua, geralmente altos para os ouvidos de Matt, pareciam nulos quando ele enterrou o rosto nos cabelos loiros e curtos de Karen, ao seu lado na cama.

Ela era como o céu: brilhante e silencioso.

— Você tem alguma resolução de Ano-Novo? – Perguntou ela timidamente.

Matt correu a palma da mão pela cintura e busto de Karen, fazendo com que seu corpo inteiro tremesse, perceptível através do tato realçado do advogado. Era possível notar os pontos fracos dela, e dar-lhe mais prazer desta maneira. A moça, por sua vez, tinha o rosto acomodado em seu abraço, fazendo círculos com a ponta do indicador em seu peitoral.

— Você possui? – Ele devolveu a pergunta.

— Usando meus argumentos contra mim, senhor advogado? – Provocou ela. A voz de Karen era como diferentes harmonias dependendo do momento, do andagio em momentos descontraídos ao vivace quando faziam amor. – Será que posso ajudar com as suas argumentações?

Em um movimento rápido, ela posicionou o corpo nu por cima do corpo dele, e ambos riram.

— Porém, eu tenho uma resolução, sim. – Ela recostou a bochecha nos ossos proeminentes de seu colo. – Quero passar mais tempo com você.

Matt respondeu com uma risada baixa e um beijo em sua testa. Justamente usara do truque de perguntar a mesma coisa para Karen porque gostaria de tempo para pensar, no fundo de sua mente, em uma resolução plausível. E, quando chegou a sua vez de responder, ele engoliu em seco e falou, com toda a sinceridade possível:

— Eu realmente não tenho outras resoluções além de estar vivo. – Um suspiro pesado sucedeu. – Eu e o Foggy estamos bem, você está viva e junto comigo. Sinto que, aos poucos, as coisas estão se ajeitando, e que será um ano próspero.

A moça apoiou o queixo sobre as mãos, e Matt sentiu sua respiração cálida em contato com a pele de seu pescoço, a maior sensação de paz possível rodeando o jovem casal. Karen lentamente moveu a ponta dos dedos por algumas cicatrizes de Matt, resistindo à tentação de perguntar o que cada uma significava e limitando-se a beijar dois queloides proeminentes acima de seu peito.

— Até faz falta ter uma resolução. – Ele riu, e ela sorriu em seguida. – Podia pensar em fazer uma pausa, mas já tirei um dia de folga, depois de muita insistência do Foggy, que já é meio demais para mim.

— Eu fico muito feliz de saber que tudo está se ajeitando tão bem. – Seu coração, pequeno dentro do peito, tinha um ritmo estável, e ele nem precisava ouvi-lo para saber que ela dizia a verdade. – E eu espero que você tenha mais noites de folga e possa passá-las comigo futuramente.

Na rua, o agito da virada começava; faltava cerca de trinta segundos para o ano velho virar um ano novo. Karen sentou na cama para ficar de frente para a janela, e Matt fez o mesmo, mantendo-a apoiada entre seu braço e tronco. Os gritos queimando a largada fizeram ambos rirem, sendo que a maioria se mantinha na contagem correta: dez, nove, oito...

— Eu te amo, Matt Murdock.

Matt se manteve em silêncio, com a mesma expressão ambígua, deixando Karen um pouco assustada de ter ido rápido demais na declaração; contudo, tão logo o primeiro fogo de artifício explodiu no céu, iluminando seus rostos, e as primeiras pessoas gritaram “feliz ano novo” após a meia noite, Matt puxou seu queixo utilizando de dois dedos para beijar seus lábios. O beijo da virada; podia não ser na Times Square, contudo, ocorria em um lugar ainda mais especial. O selo de um compromisso real entre os dois.

— Eu também te amo, Karen Page.

Karen se aninhou no abraço de Matt, observando o show de fogos da big apple, enquanto ambos secretamente torciam por mais noites de folga do Demolidor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero de coração que tenham gostado! Eu tive essa ideia pensando "hum, conversas na cama" e imaginei que o Matt trocaria o fervor de Nova York por uma noite tranquila com a namorada dele. É uma história mais fofinha ♥

Eventuais leitores, sejam bem-vindos e eu espero que tenham curtido essa oneshot! Desejo a todos um feliz e próspero 2022, com muitas alegrias e felicidades ~ ♥ ~ um abraço carinhoso!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bed Talks" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.