A Garota que Eu Conheci na Igreja escrita por Binishiusu Sensei


Capítulo 43
R. Barão do Rio Branco 370




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805065/chapter/43

Era a manhã de domingo da terceira semana do mês de julho. Às 8h00 Yumi já tinha tomado o café da manhã, mas estava passando o seu tempo livre no quarto do dormitório, junto com a Rute. Como sempre, Rute estava usando o seu tempo livre para ler. Yumi, por outro lado, não sentia vontade de ler naquele momento. Ela estava deitada na cama, olhando pra cima e pensando na vida. Já fazia mais de trinta minutos que estavam ali e Rute, quando aparentemente terminou de ler um capítulo, foi tentar puxar conversa.

— Amiga, você é sempre mais quietinha, mas hoje você não trocou nem duas palavras comigo… O que tá acontecendo, você tá bem? - Disse Rute, de uma forma calma e afável que Yumi poucas vezes ouviu.

— Eu tô bem sim amiga, é que hoje era pra ter acontecido uma coisa… - respondeu Yumi, ainda olhando pro teto.

— Yumi, para de graça - respondeu Rute, quebrando quase que totalmente a tranquilidade de antes. - Conta logo o que tá acontecendo com você.

— A primeira etapa do vestibular que eu quero fazer é hoje, mas minha mãe não me deu resposta dizendo se eu vou poder participar ou não - respondeu Yumi, dessa vez olhando pra Rute, enquanto se sentava na cama.

— Você se inscreveu no vestibular pra estudar piano quando? Você tinha falado que queria estudar piano, mas não falou que ia fazer vestibular nesse ano - respondeu Rute, parecendo incrédula.

— Foi minha namorada que fez a inscrição pra mim…

— E sua mãe sabe disso? - Perguntou Rute, quase começando a rir.

— Sabe sim, foi minha namorada que contou pra ela e pediu pra eu poder fazer o vestibular que eu quero. Mas minha mãe não respondeu ela e nem falou nada pra mim sobre isso. Por isso que hoje eu tô frustrada - respondeu Yumi, voltando a se deitar.

— Desculpa… Não sabia que era sério - disse Rute, com um pouco de remorso por ter sido sarcástica. - Mas, se você já sabe que ela sabe que foi a sua namorada que fez a inscrição, e se você tem certeza de que não vai poder fazer a prova hoje, porque você não liga pra sua mãe e pede pra ir fazer a prova? O pior que pode acontecer é ela dizer não, e o não você já tem.

— Não é tão simples assim…

— Claro que é. Quanto tempo demora o caminho da sua casa até o internato? - Disse Rute, de forma pragmática.

— Demora duas horas e vinte minutos…

— Que horas o portão do prédio do vestibular fecha?

— Fecha às 13h00 da tarde. Daria tempo se o meu pai saísse de casa agora, me buscasse na frente do internato e me levasse direto pro local da prova, sem nenhuma parada.

— Amiga, vai ligar pra sua mãe já. Corre pra secretaria e pede pra ela deixar você fazer a prova - disse Rute, com um brilho nos olhos que Yumi nunca tinha visto.

— Rute, não funciona assim… - respondeu Yumi, enquanto se virava para o outro lado da cama.

— Amiga, você não tem nada a perder se a sua mãe te disser não, mas você tem algo a perder se você não tentar falar com ela. Sua namorada fez a inscrição pra você, ela deve ter feito isso com carinho porque ela te ama. Você vai desistir do gesto de amor dela porque não tem certeza do que a sua mãe vai te falar? - disse Rute, colocando uma entonação de urgência e de incentivo na mesma frase.

— Você tem razão… Não sou digna de namorar a Sara se eu desprezar o gesto de amor dela. Vou falar com a minha mãe agora. Independente do que acontecer, preciso falar com a minha mãe. Rute, você é uma amiga de verdade, obrigada - respondeu Yumi, que imediatamente se levantou da cama e saiu do quarto.

— Apois - disse Rute com um sorrisinho, no momento em que Yumi saiu pela porta.

Yumi foi direto para a secretaria, correndo o mais rápido que pode. Quando chegou lá, disse pra secretária que precisava ligar pra mãe urgentemente. A moça, sem questionar, deu o telefone para Yumi no mesmo momento, que digitou o número do telefone fixo de casa sem demora.

— Aqui é a Yuzu Suzuki, quem gostaria?

— Mãe, é a Yumi, preciso falar com você e é muito importante - disse Yumi, esbaforida e ofegante.

— Filha… Tem certeza que você quer ter essa conversa? - indagou Yuzu, com uma voz neutra.

— Mãe, eu sei que você sabe… É o meu sonho, por favor deixa eu ir - respondeu Yumi, ainda ofegante, mas com uma entonação na voz que era claramente a de alguém que estava implorando por algo que precisava muito.

— Eu sei que você sabe que eu sei, filha. Mas antes de eu responder, você está totalmente ciente das consequências que isso vai ter na sua vida? - indagou Yuzu, com a mesma entonação de antes.

— Mãe, já pensei muito nisso, eu tenho certeza que é isso que eu quero - respondeu Yumi, agora com a respiração mais controlada.

— Filha, por favor passa o telefone pra secretária e espere ela te trazer uma coisa que você vai precisar - disse Yuzu, de forma enigmática.

— Tá bom - respondeu Yumi, antes de entregar o telefone de volta pra secretária. - Ela quer falar com você.

Os segundos que se passaram pareciam uma eternidade. Primeiro, a secretária conversou com Yuzu, sem quase não dizer nada na conversa, apenas respondendo que sim em alguns momentos. Logo, ela se levantou da cadeira onde trabalhava e foi até uma sala fechada, onde Yumi quase não conseguia ver por detrás do balcão. Então, depois do suspense, a secretária voltou pro seu lugar com um envelope. Por fim, a moça entregou para Yumi o envelope e depois o telefone novamente.

— Mãe, você está aí? - Perguntou Yumi, confusa com a situação.

— Sim filha, estou aqui. Agora preste muita atenção no que eu vou te dizer. A primeira fase do seu vestibular será na Rua Barão do Rio Branco, número 370. O portão fecha às 13h00. É arriscado eu pedir pro pai ir até aí te buscar, então você vai pegar esse cartão de débito que está no envelope e usar para pagar por um táxi. Quando chegar lá, almoce no lugar mais próximo dali e entre no prédio para fazer a prova. O horário de fazer a prova acaba às 19h00, então vou pedir pro seu pai te esperar do lado de fora meia pra te levar de volta pro internato - disse Yuzu, de forma assertiva, como se tivesse ensaiado aquilo antes.

— Mãe, como assim você deixou um cartão pra mim? Como você sabe onde vai ser meu vestibular? - Disse Yumi, perplexa com o que tinha acabado de ouvir.

— A Sara me falou que fez a sua inscrição e apelou pra que eu deixasse você fazer o vestibular. Mandei o cartão pro internato pelo correio sem seu pai saber e falei pro diretor do deixar o cartão num lugar reservado na secretaria, para caso você precisasse. Sei do endereço e dos horários porque li o edital com o ensalamento que a Unespar publicou depois do período das inscrições. Já adianto que o local da sua prova não é o mesmo que o da Sara, então nada de sair procurando por ela. Você vai lá pra fazer a sua prova, do jeito que eu falei, entende? - Indagou Yuzu, de uma forma que era impossível contrariar.

— Sim, vou fazer como você falou. Ah, mas se você mandou o cartão pra mim, porque não me contou antes? - Perguntou Yumi, ainda confusa com tudo aquilo.

— A decisão que você tomou hoje vai mudar sua vida. É algo que tinha que partir totalmente de você. Considere o fato de eu não ter te contado como uma forma de aferir a sua determinação e os seus reais desejos. Ago - respondeu Yuzu, agora soando um tanto seca.

— Entendi… Faz sentido. Mãe, qual é a senha do cartão?

— A senha é o dia e o mês do seu aniversário, filha - respondeu Yuzu, agora parecendo calorosa.

— Mãe, obrigada por isso, amo você - respondeu Yumi, que tinha começado a lacrimejar.

— De nada filha… Também amo você - disse Yuzu, num tom de voz que agora era inquestionavelmente doce e amável. - Agora por favor filha, devolva o telefone pra secretária porque eu vou falar pra ela pedir o táxi pra você e vou te dar autorização pra sair do internato. Yumi, boa sorte na prova, você vai conseguir!

— Obrigada mãe - respondeu Yumi, que logo após devolveu o telefone pra secretária.

A secretária recebeu o telefone e conversou com Yuzu por mais alguns segundos, antes de encerrar a ligação.

— Então você vai prestar o vestibular da Belas. Que legal a sua mãe ter preparado tudo pra você hoje, espero que você faça uma boa prova - disse a secretária, sorrindo.

— Muito obrigada moça. Ah, você vai pedir o táxi pra mim?

— Vou sim.

— Ah, e minha mãe te falou o endereço que é pra ele me levar?

— Falou, é a Rua Barão do Rio Branco, número 370. Eu anotei aqui pra não esquecer - respondeu a moça, na mesma hora.

— Perfeito, muito obrigada - respondeu Yumi, que agora estava entusiasmada.

— Ah, Yumi, eu vou pedir o táxi pra você, mas é melhor você já preparar tudo o que você precisa para ir fazer a prova, ok? Volta pro quarto, se arruma, coloca o que você vai levar numa bolsa e depois eu te levo pra onde o táxi vai te buscar, tá bom?

— Tá bom, vou direto pro quarto me arrumar - respondeu Yumi, que voltou correndo pro quarto, fazendo o caminho mais rápido do que da primeira vez.

Quando chegou no quarto pensou que iria poder contar a novidade pra Rute, mas ela não estava mais lá. Então, o mais rápido que pode, Yumi colocou uma calça jeans, uma blusinha rosa, calçou um tênis all star de plataforma e prendeu o cabelo num rabo de cavalo. Na sequência, pegou sua ecobag que ganhou do internato e começou a preparar o que iria levar. Primeiro, dois lápis, uma borracha e duas canetas pretas. Depois, a garrafinha de água, os documentos e a cópia impressa que tinha feito com o seu número da inscrição, um papel que precisaria mostrar para os monitores no momento da prova. Yumi não sabia que sua mãe permitiria que ela fosse prestar o vestibular, mas semanas antes ela tinha usado escondida a impressora da sala de informática, enquanto imprimia um trabalho, para poder fazer a cópia do papel que precisava. Por último, colocou o envelope com o cartão que sua mãe tinha lhe enviado na ecobag e voltou para a secretaria, dessa vez correndo em ritmo de trote.

Quando chegou na secretaria, perguntou:

— Deu certo, o táxi vai chegar daqui vinte e cinco minutos e ele vai te buscar no estacionamento. Mas queria avisar que essa viagem vai sair bem cara… Não é muito normal andar uma distância tão longa de táxi, eles até estranharam quando eu fui pedir o carro. Tem certeza que você tem dinheiro pra isso? - indagou a moça, aparentando sérias inseguranças.

— Bom, minha mãe me mandou o cartão justamente pra isso… Eu confio que ela deixou dinheiro o suficiente pra isso, vai dar certo - respondeu Yumi, que de fato estava confiando na preparação feita pela sua mãe.

— Tá bom então, você que sabe. Vou pro estacionamento junto com você, pra esperarmos o táxi. Você está com o cartão?

— Sim, tá aqui na bolsa.

— Ok, então vamos.

Depois que chegaram lá, a moça explicou que ela tinha pedido o táxi num site chamado inDrive, que era um serviço próprio para viagens para outras cidades. Yumi ficou mais aliviada depois de ouvir a explicação, porque depois que a sua euforia passou, ela percebeu que era realmente muito estranho pedir um táxi normal para uma viagem daquela distância. As duas ficaram lá até 08h53, quando o motorista finalmente chegou. Depois de agradecer a secretária pela ajuda, Yumi embarcou no carro e foi até Curitiba, na Rua Barão do Rio Branco, número 370. Foi uma viagem massante, que terminou às 11h30. Quando finalmente chegaram, tanto Yumi quanto o motorista estavam cansados, pois além da viagem ter sido longa, quase não conversavam. Por fim, Yumi pagou um valor impronunciável pela corrida, ou melhor, pela maratona, e se despediu do motorista.

Feito isso, Yumi foi direto para o restaurantezinho mais próximo que encontrou dali. Sabia que ainda tinha bastante tempo antes do portão fechar, mas não queria arriscar. Almoçou rápido, tomou um pequeno copinho de café, pegou um chiclete no caixa e pagou a conta. Então, voltou para o prédio da Embap sem demora. Como Yumi não tinha celular, não sabia que horas eram, mas sabia que tinha levado bem menos de uma hora para almoçar. Assim, chegou com bastante antecedência para o fechamento dos portões.

Então, depois de muita espera, Yumi finalmente pode fazer a prova. Apesar da importância do momento, não ficou muito preocupada enquanto respondia as questões. Achou a prova de ciências um pouco mais difícil do que os outros cadernos, mas fora isso, não teve muita dificuldade com o restante da prova. Aparentemente, ter sempre sido a melhor aluna da turma tinha suas vantagens. Ela terminou a prova da primeira fase às 18h23, com quarenta e sete minutos de antecedência. Exausta, usou o banheiro e lavou o rosto antes de sair do prédio. No que saiu, viu o carro do seu pai estacionado do outro lado da rua. - Faz meses que não conversamos… Ele provavelmente vai ficar muito bravo por eu ter feito o vestibular da Belas, porque isso vai contra o plano que ele fez pra mim. Mas não importa, no próximo mês eu vou fazer a segunda fase e a opinião dele sobre isso pouco me importa, só preciso aguentar ele por algumas horas agora.

Assim que pensou nisso, Yumi começou a atravessar a rua. - Não foi difícil fazer a prova escrita, mas estou com medo do THE. Mas meu medo também não importa, vou fazer a melhor prova prática que eu puder. Preciso ter mais fé em mim, isso é algo que está em falta desde sempre na minha vida. Se a Rute não tivesse me dado um empurrão hoje, eu não teria vindo aqui fazer a prova. Tenho que agradecer ela quando voltar… A Rute é uma amiga de verdade. - Yumi se aproximou do carro e sinalizou para o pai destrancar a porta. Assim que entrou, seu pensamento imediato foi - quando eu chegar no meu quarto vou mandar mensagem pra Sara, ela vai muito feliz por tudo ter dado certo. E depois vou ligar pra minha mãe… Hoje ela me surpreendeu.

///

Olá meus gays. Obg pela por terem lido esse capítulo. Vou postar o capítulo 44 ainda nesta quinta, até lá ♥


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Garota que Eu Conheci na Igreja" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.