Estava Escrito escrita por MariGuedes, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Um presente muito especial para Carolina Serra. Foi um desafio e um privilégio. Feliz 2022!



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 Era uma manhã de domingo, o outono já tinha se instalado e as folhas laranjas cobriam o parque. Tio Valter e tia Petunia levaram Duda para o parque. Harry tinha sete anos. Em geral Harry permanecia em casa com severas instruções para não mexer em nada, apenas existir. Porém, por algum motivo eles o levaram também. O pequeno menino ficou encantado com o lugar, tanto espaço livre, outras crianças. Na escola, Duda voltara todas as crianças contra ele, então não tinha nenhum amigo.

Assim que desceram do carro, os tios voltaram toda sua atenção a Duda, ignorando sua existência, então Harry correu para explorar tudo, sabendo que deveria estar de volta antes que os tios percebessem sua ausência, quando fosse a hora de voltar para casa. Ou quando chegassem em casa.

Tudo era novo e encantador, tantos brinquedos, tanta gente. Foi quando Harry avistou as duas menininhas Elas pareciam ter a sua idade, brincando de empilhar folhas, pular no monte e recomeçar a pilha novamente. 

— Você quer brincar com a gente? — a menina loira perguntou.

— Eu? —  Harry se surpreendeu.

— E quem mais seria? — a outra respondeu. Seus cabelos eram castanhos e muito volumosos. Seus dentes eram maiores — Vem logo.

E ele foi. Passaram horas brincando, rindo. Era uma brincadeira tão simples, mas o sentimento que preencheu o coração de Harry era imenso. Quando estava quase escurecendo, Harry despediu-se rapidamente e correu de volta para os tios, que nem mesmo tinham percebido a sua ausência. 

Quando ficou mais velho e passou a vagar sozinho pelo bairro,  Harry voltou ao parque algumas vezes, mas nunca mais encontrou as menininhas. Não até embarcar no Expresso Hogwarts pela primeira vez.

 

O mundo mágico parecia ter saído diretamente de um sonho. Desde que Hagrid aparecera e o apresentara aquele lado de si que não conhecia, Harry precisava se lembrar constantemente de que não estava dormindo. Que era tudo verdade: a magia, a escola, todo esse mundo. 

Conhecer Ronald no Expresso de Hogwarts foi um bálsamo, não estar mais absolutamente sozinho tranquilizou seu pequeno coração ansioso. Então decidiram andar pelo trem para conhecer mais pessoas. Entraram em alguns vagões até que por fim, ele a reencontrou. A menina dos cabelos cacheados e dentes grandes

Estava diferente, já fazia quatro anos desde aquele dia, mas Harry não esqueceria seu rosto, estava marcado em sua mente.

 — Oi, eu sou o Ronald! — Ron se apresentou.

— Eu sou Hermione. Hermione Granger — a menina sorriu. Seus olhos curiosos vasculhavam cada centímetro.

Harry finalmente pôde dar nomes aos rostos de sua memória. A mentalidade infantil dos sete anos estivera ocupada demais se divertindo para se preocupar com formalidades tal qual nomes.

Tudo passou pela sua cabeça, como queria dizer que procurava por ela. Que fez parte de uma de suas lembranças mais preciosas. Mas antes que pudesse abrir a boca, pensou que para ela não deveria ter sido nada demais. Só um dia no parque comum. Só para ele tinha sido um grande evento.

— Sou Harry Potter — ele sorriu e esticou a mão.

 

Parecia que o destino queria juntá-los. Mesmo sem mencionar aquele dia, Ron, Harry e Hermione se tornaram amigos. Grandes amigos. Harry achava a coisa mais legal do mundo tê-los consigo, mas cada vez que olhava para Hermione sentia seu coração florescer..

 

No ano seguinte, os três estavam sentados na mesa da Grifinória, assistindo a seleção da nova turma quando Harry viu a menina loira. Mal pôde acreditar que era mesmo ela. Mais velha, claramente, mas com os mesmos cabelos loiros e olhar sonhador. 

— Lovegood, Luna! — ela foi chamada. Então esse era seu nome.

Harry espiou Hermione ao seu lado, mas ela não esboçou qualquer reação. Ela não se lembrava. Assim como não se lembrava dele.

 

Harry começou a acreditar no destino quando Luna, apesar de estar na Corvinal, fez amizade com Gina, irmã mais velha de Ron que estava na Grifinória, e começou a andar com eles. Não demorou para que Hermione e Harry se aproximassem dela. Ron não tinha muita paciência para os pensamentos sonhadores de Luna, enquanto os outros dois embarcavam na viagem, ainda que fosse para contestá-la com racionalidade, como Hermione fazia. A dinâmica deles apenas funcionava.

 

Conforme os anos passaram, a puberdade chegou e os sentimentos de Harry ficaram confusos. Harry se pegava pensando em suas amigas de formas não tão amigáveis. Parecia absurdo demais ao mesmo tempo que não. Afinal elas eram lindas, inteligentes e engraçadas, qualquer outro menino na mesma situação pensaria o mesmo?

— No que está pensando, com a cabeça nas nuvens? — Hermione perguntou - Por que ao invés de estudar você está olhando para o nada? Esqueceu dos NOM’s?

Harry deveria estar focando sua concentração em História da Magia e suas mil datas para decorar, mas estava perdido pensando em como Hermione estava particularmente bonita hoje, mas que ele era só seu amigo e amigos notam essas coisas, certo?

— Só estou pensando no que vai ter no jantar — ele desconversou.

— Está parecendo o Ron, só pensa em comida! Agora anda logo que a gente termina antes e chega cedo no jantar.

 

Anos se passaram e os pensamentos não iam embora, pelo contrário, só pioravam. E ali, na formatura, dançando com as mãos na cintura de Hermione, ele acabou dizendo:

— Você já pensou em nós como casal? — talvez fosse o excesso de bebida contrabandeada, mas as palavras escapuliram por seus lábios como se tivessem vida própria.

— Como?! Quer dizer…— ela desviou os olhos, o rosto corado. Estava tão bonita —-Nós dois, juntos?

— Sim. Como casal, namorado e namorada. Seja sincera, não mentimos um para o outro.

— Já. Muitas vezes.

Os dois se olharam profundamente e palavras não foram necessárias. Harry tocou seu rosto e a beijou como desejara fazer por anos. E pareceu tão certo.

 

Três anos depois da formatura, tudo parecia certo. O trabalho de Harry como auror ia bem, Hermione estava se dando muito bem no Ministério, eram bruxos adultos, donos das próprias vidas. Então porque ele não conseguia parar de pensar em Luna?

Ronald estava na Romênia e ficaria por lá por um ano devido ao trabalho do Ministério em parceria com o país. Gina estava em turnê com seu time de quadribol. Restavam só os três, bebendo e conversando no apartamento de Harry. Luna ria de algo que Hermione havia dito e ele só conseguia pensar em ir até ela e beijá-la. 

— Tudo bem, amor? — sua namorada perguntou. A culpa o consumiu imediatamente.

— Nada, acho que vou pegar uma água, quer?

— Eu quero! - Luna disse - Vou com você! — ela pulou da poltrona e o seguiu para a cozinha.

Havia bebido demais, pisava quase cruzando as pernas. Luna não estava muito diferente, o rosto pálido corado pelo álcool.

— Harry… — ela tocou seu rosto.

— Luna, o que está fazendo? — Ele sabia que aquilo era errado de todas as formas possíveis, mas simplesmente não conseguia se afastar.

— Shh, querido, eu sei pelo jeito que me olha que quer também — e o beijou.

Harry gostaria de dizer que foi apenas uma vez, que só aconteceu devido a bebida, mas isso seria mentira. Sempre se sentia o pior namorado, mas a culpa não os impediu. Até que por fim o desgaste que o seu relacionamento secreto com Luna causou entre ele e Hermione fez com que o seu namoro terminasse. Mas ele e Luna não funcionavam como um casal oficialmente, então nem mesmo começaram a namorar. Luna e Harry jamais deixaram Hermione perceber, mas os três acabaram se afastando um pouco.

 

Um ano depois, Harry quase caiu da cadeira ao descobrir que Luna e Hermione estavam juntas. Como um casal. Nunca sequer imaginou que qualquer uma delas gostava de mulheres. 

Apesar do histórico de relacionamento entre os três de alguma forma eles acabavam voltando uns para os outros. Várias vezes Harry acordava de um pesadelo e aparatava na porta da casa de Hermione, que o acolhia. Outras tantas Luna aparecia com uma garrafa de bebida em sua porta e os dois bebiam a noite toda, conversando sobre tudo e nada. Hermione sempre foi do tipo que enfrenta suas batalhas sozinha, mas quando o peso sobre seus ombros era demais, ela buscava um dos dois, mesmo após o fim do seu relacionamento com Luna. Os três se conheciam profundamente e acabavam se atraindo, quisessem eles ou não. Se o universo queria os três juntos, tinha emaranhado o fio do destino deles de tal forma que mesmo puxando, por vezes tentando cortar, eles acabavam unidos.

 

Por fim, eles perceberam que a relação entre eles não funcionava quando existia romance ou tensão sexual. Eles se conheciam intensamente, comunicavam-se pelo olhar, sabiam sobre os traumas de cada um deles, se consolavam na tristeza, comemoravam a vitória e estavam lá uns pelos outros nos momentos que importavam. Quando Harry e Gina se casaram e tiveram seus três filhos, Luna e Hermione estavam lá, na sala de espera por todo o tempo do trabalho de parto. Quando Hermione e Ronald se casaram, Luna e Harry estavam no altar como padrinhos, emocionados pela felicidade genuína da amiga. Quando Luna e seu marido, Rolf Scamander, decidiram viajar pelo mundo e conhecer cada criatura mágica, Hermione e Harry deram a maior e mais criativa festa de despedida que já se teve notícia, do jeito que eles sabiam que a amiga gostaria que fosse.

 

Mesmo décadas depois, Harry nunca contou as duas sobre aquele domingo no parque. Nunca soube exatamente o motivo. Talvez porque achasse que as duas iriam zombar de seu sentimentalismo, mas no fundo ele se sentia especial por saber dessa informação, que desde aquele dia estavam interligados e destinados a serem as almas gêmeas, ainda que casassem com outras pessoas. Estava escrito assim. E ainda bem.




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