Casa escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 1
Capítulo único - Casa


Notas iniciais do capítulo

NOTA 1: Algo não para de dar nó na minha cabeça depois desse filme SUPER MEGA GIGA ULTRA MASTER F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O!!! *--------------* (Não me sentia assim desde que o pager de Nik Furry mandou aquela mensagem pra Carol durante o estalo no pós-créditos! *O*) Além de Eternos já ter deixado alguns conceitos de ultimato contraditórios, essa história doida de você "mexer com o passado ser um novo futuro" também faz Homem Aranha 3 parecer um pouco sem sentido, apesar do quão maravilhoso esse filme foi. Se causar alterações não vai mudar nada (segundo Ultimato, sério mesmo, não gostei desse filme), pra que então todo aquele empenho pra curar os vilões? Eles foram devolvidos pra suas realidades originais e morreram do mesmo jeito, só que redimidos? Ou tudo isso gerou uma linha do tempo alternativa pra onde eles foram quando Doutor Estranho os mandou de volta? Essa cura certamente pode implicar na sobrevivência de várias vítimas que seriam mortas no contexto original, não sendo impossível que personagens como Gwen sobrevivam em outra realidade, e até a tia May que perdemos nessa (o que não abordei nessa one-shot, já que a Marvel colocou como regra que essa realidade principal não é afetada da forma tradicional por alterações assim).

NOTA 2: Confesso que a princípio eu não gostava do Aranha de Andrew, só recentemente me apaixonei por ele também. E devo dizer que ele tá um amorzinho nesse filme! *---* E o casal que o Peter dele faz com Gwen é de roubar qualquer coração. Eu escrevi essa one-shot no dia seguinte ao de ver o filme, só terminei agora porque estava tentando achar os filmes do Espetacular Homem Aranha pra ver (já vi o 2, mas nunca vi o 1 completo) e ter mais informação e contexto pra escrever. Não achei os filmes, só cenas soltas por aí, então peço desculpas se algo parecer forçado ou anormal.

NOTA 3: Curiosamente eu escrevi duas coisas nas duas últimas partes da história que eu nem lembrava que realmente aconteceram nos live actions clássicos e nos quadrinhos. XD

NOTA 4: É preciso muito rivotril, chá, calmante, e uma boa consulta com um psiquiatra pra ver esse filme. XD Queria muito ir assistir de novo no cinema, mas questões pessoais me impedem, então vou esperar o DVD.



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Casa

                Peter olhou em volta quando pousou no chão, ainda confuso e maravilhado com tudo que tinha acontecido, mas porque parecia que parte de suas lembranças estava em branco? Talvez a viagem de volta o estivesse atordoando. Se deu conta dos arredores quando o silêncio do início da manhã o atingiu, interrompido apenas pelo canto dos pássaros nas árvores lá embaixo. O céu começava a clarear acima da cidade e do prédio onde ele e Mary Jane moravam, agora num apartamento maior e com a vida encaminhada, apesar de seu eterno ofício de herói secreto.

                Sacudiu a cabeça para afastar um pouco a confusão em sua mente e tocou o lugar onde fora esfaqueado, ficando surpreso ao sentir o dano no uniforme, mas ferimento nenhum.

                - Será que foi tudo um sonho? Não... É impossível. O que eu estava fazendo mesmo quando ele me esfaqueou?

                Tinha sido esfaqueado pelo próprio Norman Osborn ao tentar protegê-lo de algo ou alguém, mas o que era um mistério.

                Correu para a beirada do prédio, saltando e se prendendo ao topo por uma teia, descendo como de costume até a janela de seu quarto e de Mary Jane, que estava aberta, permitindo que ele visse a ruiva sentada e preocupantemente pensativa na beirada da cama. Peter ficou alguns instantes a observando antes de entrar, esperando que ela o notasse.

                - Peter! – Ela exclamou quando finalmente o percebeu entrando pela janela, e correu para abraça-lo e beijá-lo – Onde você esteve?! Devia estar em casa ontem à tarde. Ben queria sair pra procurar você, mas eu mesma fui, o convenci a ficar com May.

                - Querida... Me desculpe – disse ao abraça-la de volta com força – Vamos nos sentar.

                Ela o olhou da cabeça aos pés ao se afastarem e perceber que ele usava o uniforme.

                - Não me diga que temos mais um cientista descuidado que virou um psicopata com poderes.

                - Dessa vez não... Foi uma coisa muito mais... Complexa. Onde estão Ben e May?

                - Dormindo. Não param de perguntar por você, especialmente May.

                - Alguém mais notou minha falta?

                - Os vizinhos, o porteiro, poucas pessoas... Eu não quis acionar as autoridades sem ter certeza do que estava acontecendo, mesmo porque você é muito mais forte e competente do que eles.

                Peter riu e acenou com a cabeça em concordância.

                - Você fez bem.

                - Eu disse que você tinha precisado viajar de repente pra ajudar alguém da família pra os que perguntaram.

                - Meio que foi isso mesmo que aconteceu.

                Os dois passaram duas horas sentados ali enquanto Peter relatava tudo que havia acontecido desde que ele fora transportado de repente após sair do trabalho no dia anterior, e Mary Jane mais ouvia, abismada, do que comentava.

                - Então preciso que me diga, porque agora não sei...

                - Então... Foi você, e mais um Homem Aranha e outra pessoa de quem não se lembra que fizeram isso? Oto, Osborn, Harry... Todos iam morrer se não fossem vocês.

                - Então deu certo? Estão vivos?

                - É estranho você não se lembrar, mesmo eu sabendo porquê. Eles estão vivos, Peter, cumprindo legalmente por tudo que fizeram, no entanto.

                Ele ficou mudo, mas sorriu.

                - Será que isso ainda vai ser estranho pra você amanhã? Ou vai parecer que sempre soube como aconteceu como o resto do nosso mundo agora? Será que tudo isso vai afetar alguma coisa aqui?

                - Eu não sei... Acho que se fosse já saberíamos. Eu não lembro direito o que tava acontecendo quando o cara da magia me mandou de volta, só que... Esqueci alguma coisa muito importante que aconteceu lá, mas que não nos afeta diretamente.

                - E esse outro Peter? Ele se parece com você? – Ela perguntou, querendo levar a conversa para um rumo mais animador.

                - Não muito. O cabelo dele era um pouco mais escuro e meio arrepiado, os olhos eram castanhos, e ele é muito gente boa como eu já te disse. Seria legal encontra-lo de novo um dia... Mas acho que seria melhor e mais seguro só eu e você sabermos disso. May ainda é muito nova, Ben tem muito mais juízo do que eu tive, mas não quero que ele fique com preocupações que não precisa agora, por mais que ele fosse amar essa história. E as outras pessoas...

                - Eu sei – ela disse segurando sua mão – Eu concordo com você. Só... Vamos inventar uma história convincente pra os dois e pra quem notou sua falta.

                Ele sorriu e concordou.

                - Papai?! – Ouviram a voz infantil e os passinhos de May vindo pelo corredor.

                O casal se olhou em alerta, e Mary Jane apontou apressada para o guarda-roupa, onde rapidamente Peter escondeu sua máscara e luvas, e conseguiu cobrir o restante do uniforme com roupas comuns.

                - Estamos aqui, Tigrinha! – Ele gritou de volta.

                Em menos de dois segundos a porta do quarto foi velozmente aberta e a criança de dez anos, cabelos castanho claros que iam até pouco acima dos ombros, e olhos azuis, pulou em cima de Peter, jogando-o na cama enquanto os três riam.

                - Onde estava?

                - Já falamos sobre isso. Às vezes emergências acontecem e preciso viajar de repente.

                - O que estava fazendo?

                - Ajudando um amigo. Ele teve uns problemas no trabalho dele, e infelizmente demoramos muito a resolver, mas conseguimos. Eu tentei avisar à mamãe, mas o telefone não tinha sinal.

                - Pai?! – Ben apareceu na porta do quarto.

                Em seus quatorze anos, quanto mais ele crescia mais ficava parecido com Peter, apesar de ter o cabelo ruivo da mãe, e olhos também azuis como os outros três membros da família.

                - Ben – ele sorriu ao também abraçar o filho, e trocou um olhar cúmplice com a esposa, que sorriu e acenou positivamente sem que os filhos percebessem.

******

                Peter submergiu em pensamentos e nas lembranças do que tinha acontecido no dia anterior, apesar da sensação de estar esquecendo de parte do que tinha vivido no outro universo. Ele encontrou coisas diferentes ao voltar. Vilões mortos novamente vivos, cumprindo suas penas pelos danos causados. Pessoas mortas por eles, vivas, e nenhuma lembrança aparente das pessoas que indicasse que tinham percebido a alteração nos acontecimentos. Sabendo disso, Peter só conseguia pensar em uma coisa, mas ainda não tivera coragem para verificar, não sabendo se teria força outra vez para sentir o chão abaixo de seus pés desaparecer, ou para encontrar mais dúvidas ainda do que respostas. E outro questionamento pairava em sua cabeça. Haviam sido devolvidos a sua linha do tempo original, ou criado uma alternativa? Isso não importava muito para ele agora, uma vez que tantas vidas estavam salvas.

                - Tio Ben... O senhor sempre sabia dar os melhores conselhos nas piores horas. O que me diria agora? – Ele perguntou para a lápide ao ar livre, sendo respondido apenas pelo vento soprando as folhas das árvores – Se eu me lembrasse de tudo que aconteceu lá, será que seria menos confuso e mais fácil? Será que Peter, Oto e Mark estão bem?

                - Você nunca me contou que conhece outro Peter. Eu acordei com uma sensação muito estranha, eu sonhei com aquela noite, é tudo que consegui lembrar. Então fui te procurar, mas você não estava... Me disseram que você não estava bem, e que tinha vindo pra cá.

                Ele ouviu tudo congelado, não querendo olhar para trás até ter certeza de que não era sua mente lhe pregando peças. Ele não estava mesmo bem quando foi transportado de repente para o outro universo, e tinha ido visitar seu tio quando sumiu, e agora ao voltar.

                - Peter? Você está bem?

                As lágrimas vieram imediatamente quando ela chamou seu nome de forma tão doce, e finalmente olhou para trás, vendo Gwen Stacy viva e bem, seu cabelo dourado, os olhos verdes, e seu sorriso radiantes como sempre.

                - Gwen... – sua voz saiu num fio.

                - Peter – a expressão dela se tornou preocupada ao vê-lo chorar, e Gwen começou a andar em sua direção.

                - Gwen!! – Ele completou a distância entre eles e a abraçou com toda a força que podia sem machucá-la.

                Mesmo sem ter certeza do que estava acontecendo, ela o abraçou de volta e acariciou seu cabelo enquanto Peter chorava em seu ombro. Afagou as costas do Homem Aranha enquanto esperava que ele se acalmasse, e virou o rosto para beijar a bochecha de seu herói.

                - Ei... – falou baixinho – Eu amo você – disse no mesmo tom antes de beijá-lo novamente no mesmo lugar – Por que não vamos a outro lugar, a um dos nossos lugares, e você me conta o que está acontecendo? E eu conto a você porque estou aqui.

                Peter respirou fundo e concordou com um aceno de cabeça, criando outra pergunta em sua mente agora. Ela ainda sabia que ele era o Homem Aranha? Talvez sim, pela sugestão que acabara de dar.

                Finalmente encarando seus olhos verdes, ele segurou o rosto dela com as mãos, enquanto Gwen o olhava de volta e sorria, tão linda e saudável quanto ele se lembrava. Provavelmente mais tarde ela brincaria sobre como o cemitério era um local estranho e inapropriado para parecer que estavam em um encontro, mas não protestou quando ele a beijou profundamente, como se não fizesse isso há mil anos. Embora não tivessem se passado tantos, cada dia sem ela fora como uma eternidade para ele.

Gwen o beijou de volta com a mesma intensidade, enredando os dedos em seu cabelo e o puxando para mais perto. Olhando uma última vez na direção da lápide de tio Ben em respeito, habilidosamente, como se os anos nunca tivessem passado, os dois se abraçaram, respondendo seu pensamento anterior, e Peter lançou uma teia para levá-los para fora do cemitério, por um caminho que não seriam vistos.

Durante os minutos que ficaram em silêncio Peter se concentrou no movimento da respiração dela contra si, na bochecha repousada em seu ombro, e como ela parecia tão aliviada e ansiosa quanto ele. Finalmente chegando a um local seguro, com terra firme abaixo de seus pés, e devidamente longe de toda a sociedade, eles afrouxaram o abraço, mas sem desfazê-lo.

                - O que você disse que sonhou? – Peter perguntou com a voz um pouco mais estável do que antes.

                - Com aquela noite... Que você conseguiu me pegar durante a queda, e nós quase nos espatifamos juntos no chão. No sonho pareceu ainda mais alto e mais assustador, e que você estava longe demais pra me alcançar a tempo. Eu fiquei com medo que nem quando aconteceu. De não te ver mais. De você ir e eu ficar. Ou o contrário.

                Peter sentiu as lágrimas arderem em seus olhos mais uma vez, e voltou a abraça-la.

                - Isso não vai acontecer, eu não vou deixar – ele disse, confortado por senti-la em segurança dentro de seu abraço outra vez.

                - Peter, você ainda não me disse o que está te incomodando.

                - O mesmo que você. O que aconteceu naquela noite mesmo...? Depois...

                - Você não lembra? Nós quase morremos. Você me avisou tanto, mas eu coloquei nós dois em perigo. E me sinto tão idiota por minha culpa ter me feito ceder à pressão da minha família pra nos mudarmos todos pra que eu estudasse... Longe de você. Mas eu me cansei. Minha vida é minha agora, e eu vou segui-la, vou ser mais prudente, nós vamos ficar bem. Eu voltei ontem e estava pensando em como falar com você, o que tinha acontecido, como era sua vida agora, se você tinha outra pessoa... Quando acordei hoje, eu não quis mais tomar tempo pensando nisso.

                - Gwen... Gwen! Nunca vai ter outra pessoa... Eu nunca... – ele foi interrompido novamente enquanto tomava ar para controlar as próprias emoções – Eu te amo, Gwen Stacy! E nunca mais quero você longe de mim, a não ser nas batalhas.

                Gwen riu e sorriu para seu herói.

                - Confia em mim?

                Ela assentiu e esperou que ele falasse. Peter não conhecia as consequências de contar os últimos acontecimentos a ela. Gwen era muito forte, e ele confiava que ela lidaria bem com isso. Algo dentro dele temia que se não falasse sobre isso com alguém, essa nova realidade poderia se dissolver de repente.

                - Gwen... Se lembra... De tudo que já conversamos sobre realidades alternativas e deslocamento de matéria?

                - Lembro.

                - É tudo verdade. Eu perdi você... Eu perdi você numa delas. Eu não consegui. Era muito alto e muito rápido. Eu peguei você, mas a queda foi longa demais... Eu não... Eu me tornei amargo e vingativo... Eu...

                Gwen arregalou os olhos ao mesmo tempo em que refletia sobre o que Peter queria dizer e tentava consolá-lo. Isso explicaria porque os últimos anos tinham parecido tão estranhos e ela tinha pesadelos constantemente com aquela noite? Céus! Ela morrera em alguns deles, e parecia tão real que ela acordava chorando pelo desespero de Peter e a sensação sufocante do mundo desaparecendo.

                Olhando profundamente em seus olhos castanhos, ela assentiu enquanto afagava o rosto de seu Aranha.

                - Eu acredito. Eu acredito em você.

                Os dois ficaram em silêncio se encarando enquanto absorviam as informações, Gwen ainda segurando seu rosto, acariciando sua bochecha e capturando suas lágrimas com o polegar.

— Mas eu vi de onde estava, os vilões serem curados, seja lá como você fez isso. E não importa... Eu estou aqui, e nós vamos ficar bem agora. Eu voltei pra ficar com você. Ou você pode ficar comigo. Vamos pensar nisso com calma. Eu amo você, Peter Parker. E vamos encontrar um caminho juntos.

                Peter assentiu, puxando-a para outro abraço e outro beijo, agora longo e aliviado.

                - Casa comigo?

                - O que? – Gwen riu, de alegria e surpresa.

                - O que você ouviu, é só dizer sim ou não.

                Ela quase gargalhou de felicidade enquanto assentia positivamente.

                - Sim... Sim!

                Gwen suspirou aliviada ao finalmente vê-lo sorrir, e o abraçou forte quando voltaram a se beijar.

******

                Peter riu para si mesmo enquanto ouvia MJ conversando com Ned sobre o bandido que tentara assaltá-los na tarde anterior e fora devidamente driblado por ela até o Homem Aranha chegar para detê-lo definitivamente.

                - Eu acho que mesmo sem o Homem Aranha você ia ter dado uma baita surra naquele cara. Você com raiva é assustadora. Mas foi bom ele aparecer, vai que o cara tava armado e só não tinha sacado a arma ainda? – Ned falou antes de dar outra mordida em seu donuts colorido.

                - É, foi legal. Assim tive menos trabalho.

                Peter sorriu, de costas para os dois enquanto tomava seu café.

                - Você tá bem mesmo? Tô meio paranoico desde aquela hora.

                - Tô... Não nos machucamos, tudo que o cara conseguiu tirar de nós foi uma surra, agora ele tá preso... E não acho que isso vai acontecer de novo tão cedo. E se acontecer... Eu confio nele.

                - No Homem Aranha?

                - Sim. Eu normalmente não tô nem aí pra mascarados, sejam heróis ou bandidos. E não espero por ninguém pra cuidar de mim. Mas tem alguma coisa nele que faz eu me sentir em paz, mesmo sem nem saber quem ele é.

                Ned ficou pensativo por um instante.

                - Quer saber...? Eu também, embora eu não tenha a mínima ideia do porquê.

                - Você é nerd. Tem DNA programado pra gostar de heróis.

                - Eu sei disso. Mas eu falei sério. E talvez fosse uma boa ser amigo do Homem Aranha, nunca seríamos assaltados outra vez.

                MJ riu.

                - Nós não fomos assaltados. E com uma cidade inteira pra cuidar, você acha que ele ia ser nosso segurança particular?

                Ned deu de ombros e continuou comendo.

                - Você não faz ideia – Peter murmurou baixinho, controlando-se para não chorar como em outras vezes antes.

                Já tinha tentado evitar o lugar, mas não conseguia, precisava vê-los.

                - Jones, vai trabalhar!

                - Mas tudo já foi feito e só temos dois clientes agora, que já foram atendidos.

                - Não me interessa.

                MJ não se deu ao trabalho de responder o chefe, apenas trocou um olhar com Ned, que revirou os olhos, fazendo-a sorrir, e seguiu para verificar o outro cliente, Peter, que começara a aparecer com frequência ali.

                - Você tá bem? – Ela perguntou ao notar um pequeno curativo meio escondido pelo cabelo na testa dele.

                Peter levou alguns instantes para voltar à realidade e perceber que ela estava falando do arranhão que levara no dia anterior ao se distrair por um segundo enquanto levava o bandido embora e bateu de raspão, porém com força, numa parede enquanto olhava para MJ e Ned ao longe, felizmente não perdendo o criminoso, preso em uma teia nessa hora.

                - Tô sim... Eu só... Me distraí ontem e não vi por onde eu tava andando, e bati com a cabeça numa parede no meu apartamento.

                MJ o olhou com desconfiança, parecendo pensar profundamente em algo, mas acenou positivamente e aceitou a resposta.

                - Isso é estranho, e eu nunca digo isso pra ninguém, mas quando você vem aqui, eu sinto que te conheço de algum lugar.

                - É mesmo...? – Peter perguntou o mais controladamente de que era capaz.

                - Quem sabe de outra vida? – Ela falou com humor e sorriu.

                - Talvez – ele sorriu de volta, mas sua atenção foi chamada pelo colar no pescoço dela – Colar bonito. Foi alguém que te deu?

                Os dois segundos que ela levou para responder sobre o pingente preto e prateado, visivelmente consertado com cola, e impossível de Peter não reconhecer, pareceram uma eternidade para ele.

                - É confuso... Uma vez eu fui numa viagem da escola. Aquele cara doido chamado Mistério e outros caras tavam quebrando tudo e fazendo a maior bagunça. Eu e uns amigos até fomos encurralados no meio da batalha e tivemos que nos virar pra nos defender...

                Peter assentiu de olhos arregalados enquanto a esperava continuar e a via acariciar o pingente, como se isso a ajudasse a se lembrar dos fatos.

                - Eu não lembro de tudo que aconteceu, uma parte parece um borrão. Eu devo ter desmaiado. Tudo que me lembro é que alguém muito importante me deu e que ele quebrou no meio da batalha, mas nem eu nem ninguém que eu conheça lembra de quem foi. Me disseram pra jogar fora, mas eu me sinto muito feliz quando uso esse colar. Parece que o mundo é um lugar mais feliz e seguro.

                Peter assentiu sem conseguir falar nada.

                - Isso é muito bonito.

                - Você tá bem? – Ela perguntou com o mesmo olhar desconfiado de antes ao perceber a voz dele tremular.

                Peter assentiu com o sorriso mais convincente de que era capaz.

                - Eu preciso ir agora. E é melhor você arrumar algo pra fazer antes que seu chefe venha te encher de novo.

                Ela escondeu o riso com uma das mãos e assentiu.

                - Obrigado pelo café.

                - Obrigada pela preferência.

                Os dois trocaram um sorriso enquanto Peter saía e olhava para trás uma última vez, vendo Ned olhando para ele. Os dois se encararam por um tempo, até que o nerd ergueu a mão para cumprimenta-lo, e Peter devolveu o gesto antes de se virar e sair. Viu MJ voltar à mesa de Ned para recolher sua bandeja enquanto os dois conversavam novamente.

                - Eu não sei o que vai acontecer, MJ... Mas eu vou continuar aqui pra você e Ned. E vou lidar com tudo isso – disse para si mesmo voltando a caminhar.


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