I'll Never Love Again escrita por Alexis Rodrigues


Capítulo 1
O Natal Depois do Fim




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Não consigo me lembrar de nenhum momento em toda a minha existência em que eu tivesse dúvidas sobre as minhas capacidades.

Nunca fui do tipo de homem que não tivesse um plano b, c ou d, ou quantos mais fossem precisos. Sempre tive cartas na manga, sempre uma rota de fuga, sempre uma arma surpresa para nunca ser pego desprevenido.

Nunca, em toda a minha existência, alguém tinha me enganado tão bem.

Não até eu conhecê-la.

Não foi como se ela tivesse mentido descaradamente. Não, não, ela fez tudo na minha frente, bem debaixo do meu nariz.

Eu apenas estava ocupado demais com o Inferno para notar o que estava acontecendo. Eu senti, desde o começo, desde o pacto, que ela tentaria me usar de alguma forma, e antes eu não me importava com a ideia, mas, depois de algum tempo, o conceito começou a me assustar, e nada nunca me assustava.

Eu não queria que ela me usasse. Eu tinha medo de ser usado por ela.

Ela foi capaz de me infectar com humanidade, se é que aquilo era possível. Fazer um demônio como eu lembrar de como era ser humano talvez tivesse sido um erro.

Porque eu me pegava observando seu túmulo e questionando minhas capacidades.

A humanidade que ela tinha me devolvido tinha efeitos colaterais, agora. Aquele, de longe, era o pior.

Porque eu sempre fui independente, forçado a ser desde que me entendia por gente, já que minha odiável mãe me abandonara e desaparecera. Eu precisava única e exclusivamente de mim.

Mas agora isso tinha mudado.

Eu percebi, depois de perdê-la, que nunca fui tão dependente de algo.

Da atenção dela, de seu amor, de suas risadas contagiantes e das piadas sem graça, coisas com as quais ela me presenteou depois de dois anos de um casamento por contrato.

E o mais importante: um filho. O Príncipe do Inferno, único do seu tipo, portador da Marca de Cain. O Anticristo, mais forte que um Cavaleiro, mais forte que os antigos Príncipes. Meu futuro sucessor, que agora estava sem sua mãe, a Rainha do Inferno, a Usurpadora do Trono de Deus.

Alexis me deu o mundo e então se foi.

Sua ausência fazia eu duvidar de tudo que eu fazia, de tudo o que eu sentia.

Eu não era o único. Desde que o Trono de Deus estava vago, o Céu estava inquieto. Gabriel e Rafael se esforçavam para manter a ordem, e continuar as coisas conforme as instruções que ela deixou para trás.

O problema era o fato de que todos aqueles malditos anjos foram abandonados por Deus há muito tempo, estavam acostumados – de certa forma – a ficar sem alguém que lhes direcionasse. Quando Alexis veio como a usurpadora daquele posto e se fez presente para todos eles, sendo uma mãe para os frangos celestiais, eles, também, se tornaram dependentes dela.

O Céu sofreu, tingido de vermelho, uma chuva rubra caindo sobre nós.

Deus havia morrido, um evento cósmico, diferente da morte do primeiro Deus.

Quando ela morreu, todos nós sentimos o impacto da ausência, como se laços tivessem se cortado entre ela e nós.

Aquele primeiro natal sem a rainha simplesmente...

O Inferno estava silencioso, havia tensão por todos os cantos.

Alastair, o nosso Príncipe amado, a melhor coisa que aconteceu entre nós, nunca mais foi o mesmo. O rapaz feliz e brincalhão, cheio de planos para o futuro, cheio de amigos, se tornou um demônio cheio de rancor e vingativo, caçando tudo e todos que pudessem ajudá-lo a trazer sua mãe de volta.

Ele tinha matado mais gente que eu em todas aquelas centenas de anos, tudo para tentar trazer Morte de volta, para tentar um pacto, mas Morte nunca veio e eu precisei parar Alastair antes que Gabriel e Rafael decidissem matá-lo.

E agora a única família que me restava, a única coisa que me provava que ela foi real, mal conseguia me olhar nos olhos. Me chamava de fraco, me chamava de incapaz.

‘‘Você alguma vez a amou de verdade?!’’, ele me questionou certa vez. ‘‘Como pode ficar de braços cruzados depois que ela morreu daquele jeito?! Nós temos um inimigo pra caçar e tudo o que você faz é choramingar pelos cantos!’’.

Eu a amava, eu estava certo disso. Nós tínhamos um inimigo, eu estava certo daquilo também, assim como o fato de que provavelmente eu era fraco.

Aquilo precisava parar. Eu sabia que estava agindo como um idiota, manchando a imagem dela. Minha rainha havia me escolhido por um motivo, e não era por eu ser fraco.

— Eu sei que aquela carta que deixou para o nosso filho nos dizia para não tentarmos trazê-la de volta... – suspirei, afagando o rosto de pedra em sua efígie tumular. – Mas eu vou contrariá-la, só mais essa vez. Eu não sei como suportar a sua ausência, minha rainha. Eu nunca amarei de novo. Eu sinto sua falta. Eu a quero de volta.

Aquele relevo nunca faria jus à ela, e mesmo encarar sua representação me doía.

Me afastei, fechando as portas da cripta onde mantínhamos seu corpo no Inferno.

Conforme caminhava em direção à sala do trono, os demônios no meio do caminho baixavam a cabeça e se retiravam recuando devagar. Eu sabia o que pensavam.

Estava na hora de mudar aquilo.

Abri as portas da sala do trono, onde Alastair se encontrava, sentado no trono de sua mãe. Não desviou o olhar do grosso livro antigo que tinha em mãos. Me sentei em meu trono, ao seu lado, respirando fundo.

— Você estava certo, filho.

Percebi, pelo canto do olho, que ele virou o rosto para me encarar.

— Não posso choramingar pelos cantos para sempre. Preciso fazer alguma coisa.

— Me diga algo que não seja óbvio – ele suspirou, recostando a cabeça contra o trono, fechando o livro em suas mãos.

— Morte nunca veio e não virá porque não nos ajudaria nem sob feitiço. Talvez trazer sua mãe de volta não inclua uma ressureição.

— Do que está falando?

— Aquela carta... Sua mãe sabia que ela não podia ficar conosco. Morte veio para trazer ordem ao caos que ela gerou com sua presença entre nós. Reanimar aquele corpo não vai adiantar, filho. Sua mãe está em outro mundo – o encarei. – Nós só precisamos descobrir qual e trazê-la de volta para casa... E eu talvez saiba de alguém que pode nos ajudar.

Alastair franziu o cenho, esperando.

— Talvez esteja na hora de você conhecer a sua avó.


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Notas finais do capítulo

amanhã é meu aniversário, deixa um comentário de presente? ;-;



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