Os meus seus olhos Shoujo escrita por mittchi


Capítulo 1
Supondo que sejam meus...


Notas iniciais do capítulo

boa leitura.



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Eles saíram apressados da escola e rapidamente chegaram ao estabelecimento favorito dos jovens leitores. 

Mais cedo, Takemichi avisou a Chifuyu sobre os novos volumes que a livraria onde trabalhava receberia esta tarde e foi o gatilho que o Matsuno precisava para visitar a loja novamente nesta semana.

Como de praxe, Kazutora estava perto de Baji e, consequentemente, de Chifuyu também, então ouviu sobre os mangás. Ofereceu-se para acompanhar o mais novo, com a justificativa de querer adquirir alguns quadrinhos para sua coleção. Os outros garotos ficaram surpresos (exceto  Baji, ele sabia as intenções do melhor amigo), Kazutora realmente não parecia do tipo de ler, mesmo que fossem mangás ou HQs, no entanto, Chifuyu aceitou.

Assim que pisaram nos limites da livraria, o Matsuno tomou seu caminho mais que conhecido para a seção de Shoujos e comemorou pelos lançamentos estarem bem a sua frente. Por outro lado, seu acompanhante parecia um pouco perdido enquanto andava vagarosamente pelo espaço. 

Ele fitava todas as pequenas estantes enquanto caminhava, tentando capturar todas as informações das capas chamativas e alguns cartazes com personagens estampados. Nada era conhecido para si, talvez não estivesse próximo da seção que o interessava, então seguiu caminho ao que 一 ou melhor, a quem 一 detinha toda a sua atenção. 

Parou ao lado de um Chifuyu pensativo e, por meros segundos, concentrou-se nas feições do garoto. Kazutora não sabia dizer o porquê, mas observar o amigo é relaxante, transporta-o sempre para um estado em que nada mais importa além do outro, especialmente quando ele parecia bem. Ainda não sabia identificar exatamente as emoções de Chifuyu pela sua expressão, mas, contanto que houvesse um brilho singular nas orbes claras, ele sabia que o amigo estava bem, talvez até alegre.

Contudo, o paraíso visual de Hanemiya teve um fim ao ouvir um suspiro e presenciar os ombros pequenos subirem e descerem dramaticamente. Antes que pudesse dizer algo, Chifuyu virou o rosto em sua direção. 

— Você não vai comprar nada? 

Mesmo que a pergunta tivesse soado um tanto rude, ou simplesmente como a fala de um funcionário desinteressado no cliente, Kazutora sorriu de canto. 

— Ainda não achei a parte dos Shounens e Seinens, Fuyu. 

— Não me chama assim, cara — resmungou, antes de raciocinar de fato a resposta do outro. — Aliás, pensei que você só lesse Hentais ou coisas do tipo. 

Chifuyu sorriu vitorioso; Kazutora retorceu os lábios em desgosto. Pela quinquagésima vez, ele teria que explicar que fora induzido e ameaçado a ler tal conteúdo por Baji e Mikey, caso contrário, estaria expulso do grupo deles, Toman 一  o que os paspalhos não esperavam era que Chifuyu e Draken flagrariam-nos no ato e faziam questão de lembrar do acontecido mesmo depois de quatro anos. Todavia, o garoto mais novo apenas girou os calcanhares com um pequeno riso.

Enquanto Chifuyu abria certa distância entre ele e Hanemiya, era seguido timidamente. 

Findaram a caminhada quando chegaram ao fundo da livraria, uma parte com ainda mais cartazes e mangás empilhados e enfileirados. Agora, Kazutora reconhecia certos personagens e títulos. 

— Se quiser ver os hentais, ficam lá. 

Apontou para uma pequena estante — destacada por estar mais vazia que as demais —, sem esquecer de estampar seu sorriso travesso no rosto. 

— Como é que você sabe dessas coisas, hein, Fuyu? Acho que o Mestre Kame aqui é você. 

A presunção continuava a adornar os lábios de ambos enquanto olhavam os títulos que eram sustentados pela maior estante que Kazutora viu na loja. 

— Prefiro o Jiraiya. 

— Seu mau gosto tá em todos os aspectos mesmo.

Kazutora frequentemente implicava com os gostos do amigo. Ele realmente não entendia como Chifuyu gostava tanto de Shoujo, pois todos pareciam iguais: colegas de classe ou trabalho que, por acaso, se veem interessados um no outro e, mesmo quando os sentimentos estão mais do que escancarados, o mínimo dos toques é apreciado pelos leitores e o aguardado pedido de namoro finaliza a série que perdurou por anos. Todo esse drama parecia mais uma enrolação fajuta e Matsuno não parecia aceitar esse fato tão bem. Era seu entretenimento diário ver Chifuyu tentar acertar socos diretamente em seu rosto por dizer repetidamente que Horimiya ou qualquer coisa que ele gostasse era superestimado. 

— Olha quem fala… O cara que ama Nanatsu e Kakegurui! — Chifuyu deu ênfase no "ama" com uma voz afinada. 

De novo era julgado por escolhas do passado tomadas em momentos críticos, então não tinha outra escolha a não ser entrar no joguinho de aborrecimento do mais novo. Dessa vez, nem perdeu tempo tentando se explicar.

一 DIsse o cara que lê garotinhas dando as mãos e sonha em viver o mesmo! 一 Ele disse e sustentou um dos sorrisos que sabia que Chifuyu odiava por ser creepy demais.

Os olhos azuis já teriam criado a própria rotação se fosse possível, devido a irritação de Matsuno ao revirá-los. Os argumentos do garoto estavam afiados, na ponta da língua, prontos para serem despejados sobre a cabeça de Kazutora, porém preferiu assisti-lo passear vagaroso pelas estantes e mesas, focado em procurar algum título de seu interesse. 

Quando ele permaneceu estagnado por algum tempo de frente para os mangás de JoJo, Chifuyu foi até lá. 

一 Pelo menos elas têm um bom desenvolvimento 一 Ele disse quando Kazutora finalmente o encarou direto nos olhos. 

O contra-argumento foi uma risada, acompanhada pela meia volta do garoto. Típico de Kazutora apenas rir e virar as costas, erro de Chifuyu pensar que seria diferente dessa vez. Apesar disso, seguiu o malandrinho pela loja. 

一 O desenvolvimento da fofura? Os olhos gigantescos ficam maiores ainda? 

O garoto mais velho não poupou volume em sua voz e abriu os braços, como se mostrasse algo extraordinário e gigantesco acima de sua figura. De novo, não revirar os olhos foi inevitável para Chifuyu. 

一 Fala baixo, imbecil, e não, os olhos não aumentam de tamanho, eles só… brilham um pouquinho, dá essa impressão errada.  一 O tom de voz era um tanto repreensivo, o garoto quase se arrependeu de ter falado. 

Kazutora resmungou algo sobre o costumeiro xingamento, voltou a procurar algo entre Berserk e Vagabond, como se não tivesse ouvido o restante da fala de Chifuyu. Um pouco de alívio o acometeu. 

Por segundos, apenas pelos segundos em que pôde deliciar-se com a calmaria de estar em uma livraria praticamente livre de clientes, Matsuno Chifuyu se lembrou de uma coisa que Baji lhe disse uma vez. Antes que ponderasse sobre dizer isso agora ou esperar outra oportunidade onde a Toman estivesse reunida, ele apenas verbalizou.

一 Além do mais, você é a garota Shoujo aqui, impossível alguém ter olhos maiores que os seus. 

O garoto alto que, curvado, passava os olhos e dedos pelos volumes enfileirados congelou. Simplesmente se voltou para Chifuyu de boca aberta e olhar confuso. 

Um arrepio desceu a espinha de Matsuno. Kazutora parecia estar perto de quebrá-lo no soco pela comparação, ou só incrédulo. Mais do que já esteve em sua humilde vida. E, mesmo assim, a boca dele não se calou perante o silêncio constrangedor, como se precisasse explicar a observação. 

一 E eles brilham mais que estrelas quando você luta com o Baji, Draken e os outros. 

Um calor suave subiu por suas bochechas, ele pôde se sentir queimando; seu amigo não estava muito diferente. 

Para fugir da vergonha, Chifuyu se virou para a estante, fingindo estar interessado nos mangás. Sua atenção estava focada em Kazutora, para falar a verdade. 

Depois de sabe-se lá quanto tempo, ele se mexeu. Coluna endireitada, olhar queimando a nuca do garoto menor e a distância entre os dois reduzida. 

一 São os seus olhos que parecem os de uma garota de Shoujo… 一 Hanemiya Kazutora confessou numa voz baixinha, afinal, era seu pequeno segredo. 

Inevitavelmente, Chifuyu encarou Kazutora, ambos ainda mais corados que antes. Como ele suspeitava, os olhos castanhos continham um brilho, que só contribuia a fazer o garoto parecer mais envergonhado, mas também estupidamente fofo. 

一 Não precisa retribuir o… elogio? 一 Coçou a nuca, incerto de como continuar a conversa e até mesmo o passeio com o amigo. 

一 Eu não tô tentando ser educado, Chifuyu 一 mais sério do que o esperado, Kazutora disse.

一 Tanto faz, Sailor Moon, você é o Shoujo, eu sou o Shounen. 一 Apontou para algum cartaz no fundo do corredor, escondendo a súbita timidez com um sorriso ladino. 

Kazutora riu. 

一 É um Seinen, Fuyu. 

Chifuyu deu de ombros. 

一 Qual é a do apelido, Tora? 

一 Acho que são nossos nomes de garotas de Shoujo, legal, né?

Como uma formiga segue a outra, Kazutora acompanhou Chifuyu quando este lhe deu as costas. Viraram em um dos corredores de estantes à direita, onde estavam há poucos minutos. 

一 Você é o Shoujo e eu que pareço uma garotinha com esse apelido, injusto 一 o Matsuno resmungou. 

一 Porque você é quem tem os olhos Shoujo! 一 Kazutora exclamou, esbanjando um sorriso sincero. 

一 Só aquieta o facho, parceiro. 

O garoto ficou calado. Nesse silêncio, fizeram o que pessoas (normalmente) fazem em livrarias, porém não saíram da parte em que estavam, de alguma forma aproveitando a companhia um do outro. Até que um deles se cansou da calmaria.

一 Mas então… 一 Começou Kazutora, hesitante, quando pegou seu terceiro volume desejado e se virou para o amigo (Chifuyu não tinha certeza por onde os outros dois mangás estiveram por todo esse tempo, visto que eram de outras seções). 

Matsuno suspirou cansado, mas sua atenção foi voltada ao garoto mais alto. O que ele iria falar certamente era vergonhoso, pois suas bochechas estavam rosadas como algodões doces.

一 Supondo que seus olhos sejam meus, eu poderia dizer que os meus olhos são de Shoujo, né? 

A vergonha voltou a Chifuyu, queimando até suas orelhas. Devia dizer que ficou impressionado com o raciocínio de Hanemiya, pois ele estava certo e não podia discordar 一 ele não queria.

一 Eu… acho que sim 一 foi tudo o que ele disse, antes que pensasse demais.

— Caso encerrado, meus olhos Shoujo! — Kazutora exclamou. Passou o braço esquerdo pelo ombro do amigo e seguiram o caminho que ele traçava para onde esperava ser o caixa. 

Não conteve o sorriso bobo que sentiu moldar seus lábios e ficou contente por não silenciar sua própria voz. Chifuyu riu, afinal. 

 — Eu pago os seus mangás e você paga os meus. O cafezinho fica pra outro dia…
 


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Notas finais do capítulo

história também postada no spirit e ao3 sob o mesmo user. obrigada por ler.



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