Império de Paz escrita por Lord Rosen


Capítulo 6
V. As chamas da sabedoria




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O objetivo desse passeio era conhecer e se familiarizar. E o motivo pelo qual o ilustre Akihiro Daiki foi escolhido era por ele parecer o mais agradável, e com menos possibilidade de tentar ser seduzente.

Mas ele também estava se mostrando muito tímido e calado, palavras de verdade ainda não haviam sido trocadas entre ele e Sophia, e naturalmente isso não a estava agradando, estava sendo desgastante.

Em compensação por tudo isso, a visão dos jardins estava sendo muito agradável, era impressionante, haviam árvores que Sophia nunca nem havia visto, a ele era muito natural pacífico, não era como os jardins que ela estava acostumada.

  – É impressionante você não acha?- Apesar de ser desconfortável, Sophia não iria desistir sem lutar, ela iria ser agradável.

  – O jardim? Sim é muito bonito.- Foi uma resposta sincera, mas ele não parecia muito impressionado. Sophia não entendia o motivo, ela nunca iria se cansar de ver essa imagem.– Mas tenho certeza que minha senhora já viu alguns muito mais impressionantes. E li que no ocidente, existem os mais belos jardins.

  – Temos sim belos e impressionantes jardins, o jardim do Palácio de Freyanburg era lindo e muito bem planejado.- E era grande, um grande jardim em estilo francês, com acréscimo ingleses ao longo do tempo.– As roseiras eram minha parte favorita.

  – Então, aí está. Eu estou muito bem acostumado em ver os nossos jardins, é uma visão comum, que lhe é impressionante. Mas tenho certeza que eu iria também ficar muito impressionado com seus jardins.

Uma verdade. Os humanos tinham a grande capacidade de estar sempre muito curiosos com coisas novas, mas se cansavam do que já era comum. Era uma tristeza, muita beleza era perdida assim.

Mas pelo menos com isso Sophia pode saber mais de Daiki, ele era alguém que sabia de muitas coisas, mas Yasuhito tinha dito que o Reino Minami era um centro intelectual, não era uma surpresa.

  – Suas palavras não estão erradas ilustre Daiki. Mas como disse você, é impressionante para mim, principalmente quando não conheço muito as plantas dessa região. Meu ilustre poderia me falar mais sobre elas? Começando por aquela.- Pela primeira vez Sophia pode ver o ilustre sorrir, ele parecia até divertido.

Daiki prontamente descreveu a árvore, era um kaki, uma árvore muito antiga que sempre dava um fruto laranja ou rosa. E ele também descreveu todas as outras árvores, arbustos, flores e frutos que Sophia perguntou.

Sophia pode realmente confirmar que ele era muito inteligente, e que gostava de aprender, ele sempre mencionava um livro ou o que um instrutor disse. Era muito cativante, o modo como ele falava, com alegria e satisfação. Sophia estava realmente se divertindo.

  – E essa é uma cerejeira vinda da Índia ela é brilhante, com uma cor muito bonita e ela em si é muito bonita. É uma pena que ela não seja tão valorizada quanto as que vem do Japão.

  – Eu estou impressionada! Você tem tanto conhecimento e sabe de muitas coisas. Tenho certeza que não há ninguém como você em toda a Livônia.- Com esse elogio o rosto do ilustre focou manchado igual as folhas da cerejeira indiana, ele ficou envergonhado. Sophia envergnhou um homem, e não se segurou e começou a rir muito, isso era engraçado.

A primeira reação de Daiki foi ficar mais envergonhado ainda, mas logo ele também começou a rir, era contagiante o riso de Sophia, era como uma bela música que o fazia repetir.

  – Não sei se minha senhora deveria rir de seus reis.– Logo depois de falar, o sorriso dele no entanto começou a morrer e logo seu rosto estava infeliz.– Mas obrigado pelo elogio, todos temos de ser bons em algo não é mesmo.

Todos temos de ser bons em algo, essa era certamente uma verdade, mas o modo como ele disse isso foi tão triste e desanimado que fez Sophia muito desejar o motivo dessa tristeza.

  – Você fala como ser inteligente não fosse algo bom.

  – Ao contrário é muito bom. Mas nunca foi o suficiente...- E ele parou, parecia relutante.– Não acho que eu deveria a incomodar com isso, eu conheço minha senhora a apenas um dia e já estou a cansando.

Daiki então se levantou do banco onde estavam e parecia desejar ir embora, mas Sophia foi mais rápida e antes de ele se afastar ela pegou a sua mão e ele parou.

  – Você não me incomoda nem me chateia, eu que perguntei e fiz isso por desejo conhecer vocês, conhecer você.- Daiki continuava de costas para Sophia, o que era tecnicamente uma ofensa, mas pelo simples fato de ele ainda não ter ido embora, mostrava hesitação.– Mas fale apenas se desejar, não se sinta obrigado.

Por mais alguns segundos ele continuou assim, mas ele se virou e se sentou novamente. E ele continuava com o rosto vermelho.

  – Eu não acredito que realmente estou a incomodando com isso mas... eu sempre fui muito comparado com Yasu. Minha senhora já teve ter percebido que somos parentes, primos na verdade.- Realmente poderia ser visível ver esse parentesco, não apenas pela forma como eles se tratavam, mas também pela aparência.– E isso durante toda a minha vida foi motivo para comparações, e uma fonte de tristeza.

  – Uma fonte de tristeza?

  – Não me entenda mal por favor, eu gosto muito de Yasu, ele é como um irmão para mim. Mas desde que eu nasci ouço comentários de como ele é melhor. Ele é um ano mais velho, eu um ano mais novo, ele tinha os pais, eu perdi meu pai duas semanas antes de nascer e minha mãe dois dias depois, ele é carismático, simpático, amado por todos e eu sou cansado, reservado e nada carismático.

  – Deve ter sido muito ruim.- Não era simplesmente algo falado, Sophia quase que entendia.

  – E não era apenas comparações com a personalidade mais também com a aparência, meu cabelo é muito claro, meus olhos não tem brilho, meu sorriso é muito pequeno, eu não sou tão grande. Mas Yasu tem o tom ideal de cabelo castanho, os olhos são de um cinza muito bonito, sua altura é como os céus, seu sorriso é o mais belo que existe e ele é forte. Passar minha vida toda ouvindo isso não foi nada bom, foi desmotivador e me fez viver na sombra de Yasu, porque eu sempre serei isso a sombra de Yasu. Deve ser esse o motivo de eu sempre falar com uma voz paciência e doce, tentando o imitar.

Depois ele parou, parecia ser o suficiente. Não era nada saudável ser comparado com alguém dessa forma, como uma maneira de depreciação.

  – Eu sei como você se sente, na verdade quase.- Daiki parecia dividido entre estar surpreso ou não acreditar.– Eu tenho ancestrais muito célebres, que fizeram muito para nosso império, o imperador Siegfried, as três imperatrizes Christine, meu avô, meu pai todos foram grandes imperadores. E isso fez com que as expectativas para comigo fossem bem grandes e bem formadas.

  – Como minha senhora consegue superar isso?

  – Eu não supero realmente, sou a imperatriz e entendo que tenham muitas expectativas. Mas em certos pontos tais expectativas não são reais, então apesar da decepção, eu tento ser uma governante ao meu modo, com minhas próprias inspirações.- Que geralmente eram a exemplo dos outros monarcas da Europa.
Daiki ficou em silêncio, ele parecia estar pensando.

  – Eu...

 – Daiki, a imperatriz Teimei o chama, chegaram mensageiros de Akihiro parece ser importante.- Daiki não conseguiu acabar, Yasuhito chegou antes com essa mensagem, que informava a chegada de mensagens da capital do Reino Minami.

Mas era mensagem importante, e Daiki parecia agora muito preocupado. Eram mensagens importantes afinal.

  – Peço perdão minha senhora mas terei que a deixar.

  – Quando o dever nos chama, devemos ir.- Daiki então se curvou e saiu.– Mas uma coisa. Não me chame sempre de minha senhora, Sophia é melhor.

Daiki parecia surpreso com isso, e Sophia pode ouvir um "o que?" de Yasuhito mais atrás. Mas era uma ordem da príncesa imperial, deveria ser seguida, e com um assentimento Daiki consentiu.

Porém agora Sophia tinha um problema, ela estava com Yasuhito, o arrogante.

  – Não é muito justo apenas Daiki ter a honra de a chamar pelo nome.

 – Certamente, sinta-se então a vontade para me chamar de Sophia, e se puder compartilhar isso com os outros eu agradeço.

E ele não saiu. Mas ele não parecia estar com receio de falar. Ele queria que ela perguntasse?

  – Uma companhia teatral desejava se apresentar a imperatriz viúva, mas ela não pode assistir. Minha senhora deseja ter a honra de me acompanhar?

Teatro, Sophia bem sabia que ele tinha as diferenças com o teatro europeu, mas em essência deveria ser a mesmo coisa. E novamente poderia ser uma oportunidade para conhecer, seu povo e Yasuhito, e seria bom ainda mais quando Sophia faria isso com Yasuhito calado.

  – Eu amo o teatro.

 

 

 

 

 

Não era apenas Sophia que tinha companhia para uma amostra de arte oriental. Em um dos vastos pátios do palácio Takeda Yasu também estava com companhia, mas ao contrário de Sophia, ele parecia gostar muito da companhia.

Yasu estava sentado em um banco tocando shakuhachi[1], e em suas volta estavam damas da corte o ouvindo atentamente, alguma a música e outras estavam lá apenas para o apreciar. Mas isso não era nada incomum.

Yasu nunca mostrou incomodo pela companhia delas, pela atenção, na verdade ele até mesmo gostava. Mas também não se poderia desmerecer sua música, ele realmente merecia essa atenção, tocar esse instrumento não era fácil e ele conseguia fazer isso com muita beleza.

  – Ilustre Yasu, meu senhor toca tão bem. É como uma dose de harmonia para nossos ouvidos.

  – Sim ilustre, uma beleza sem igual.

 – Eu só toco bem por causa da presença de minhas damas, ao contrário seria uma desastre.- Isso não era uma verdade, mas elas pareciam ter gostado muito e isso valia a pena.– E agora mais uma música...

  – Meu ilustre, aquele apressado vindo, não é seu primo?

Foi muita falta de educação dela o interromper, mas Yasu não era um bárbaro e olhou para onde ela apontava, e realmente era Daiki que não parecia nada feliz. Será que a príncesa imperial não gostou da companhia dele?

Yasu não iria mentir, ele realmente ficou surpreso com a escolha da príncesa, e ele desejava estar no lugar de Daiki.

  – Meu ilustre olhe para a cara dele. Boas notícias ele não tem.- Era impressionante como elas poderiam perceber algo que nem mesmo ainda tinha sido dito, elas poderiam estar erradas.

Mas logo Daiki finalmente chegou, e realmente pela sua expressão algo ruim tinha acontecido.

  – Daiki meu primo. Você não parece muito feliz. A príncesa não gostou de sua companhia?

A expressão de Daiki apenas ficou mais sombria, nesse momento Yasu percebeu que nada de bom iria sair.

  – Chegaram mensageiros de Akihiro... a Grande Biblioteca... ela...- Daiki parecia realmente muito abalado com isso.

  – O que tem a Grande Biblioteca? Ela foi atingida por um terremoto, os pergaminhos foram roubados?

  – Ela não existe mais!- Surpresa e horror, era isso que Yasu sentia nesse momento. Como a biblioteca não existia mais? Um lugar daquele tamanho não sumia simplesmente.– Yasu, mais de mil anos de conhecimento, não existem mais As cópias dos escritos de Zhou Dunyi[2], dos irmãos Cheng[3], de Lu Jiuyuan[4] todos foram destruídos, viraram cinzas junto com a biblioteca!

O horror foi muito grande entre as damas, elas estavam horrorizadas, quase desesperadas, Yasu estava paralisado com essa informação, e Daiki parecia estar se esforçando muito para não chorar.

O maior símbolo de intelectualidade do Império Heisei era agora cinzas, seu conhecimento estava perdido para sempre.


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Notas finais do capítulo

1. Shakuhachi é uma flauta japonesa e chinesa antiga feita de bambu. Ele tem três versões: kodai shakuhachi, introduzida no Japão pela China no século 7 e morreu no século 10 século; hitoyogiri shakuhachi que apareceu no século 15; no século 16, o fuke shakuhachi foi desenvolvido no Japão; e o Ofuke shakuhachi que floresceu no século 18 durante o período Edo.

2. Zhou Dunyi (1017–1073) foi um cosmólogo , filósofo e escritor chinês durante a Dinastia Song. Ele conceituou a cosmologia neo-confucionista da época, explicando a relação entre a conduta humana e as forças universais

3. Os irmãos Cheng Yi (1033–1107) e Cheng Hao (1032–1085), são considerados os fundadores das duas principais escolas de pensamento do Neo-Confucionismo.

4. Lu Jiuyuan (1139–1192) foi um filósofo e escritor chinês que fundou a escola da mente universal , o segundo neo-confucionista mais influente.



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