Brotherhood escrita por Lorelai Gipsy Danger


Capítulo 6
Capítulo 3 Part.I




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— Estou chegando lá. — informou a quem estava do outro lado da linha. — Aviso quando tiver algum status sobre a situação. — Desligou o celular e o colocou no bolso da jaqueta preta de couro. — Mas que merda é essa? — disse ao ver a porta semiaberta. — Rose? — chamou, desconfiando que algo pudesse ter acontecido. Rose nunca deixava portas abertas. — Rose! — chamou mais uma vez e continuou sem respostas.

Entrou lentamente no apartamento e observou a bagunça, se sentiu mal por ela e imaginava o quanto estaria péssima por ver o lugar daquele jeito, porém, não esperava se deparar com o que viu à sua frente. Assim que cruzou a porta do quarto, encontrou Rose caída no chão.

— Rose! — falou em espanto e correu até ela, se ajoelhando ao seu lado. — O que você foi fazer, garota? — Examinou a cabeça dela e pegou a primeira coisa que viu para estancar o sangramento. 

— Você? Quem é você? — perguntou fracamente, como um sussurro, seu corpo começou a tremer, seus olhos reviraram, para, em seguida, ficar inconsciência.

— Fica comigo. — pediu. — Rose, abre os olhos, por favor! Merda!

Percebendo a falta de reação e o que poderia estar acontecendo, rapidamente, tirou seu celular do bolso e ligou para a emergência. Esperava que o socorro chegasse a tempo, pois Rose não teria nenhuma chance se demorassem. Esperou pela ajuda e rezou, mesmo sem acreditar, pedindo para não ser tarde demais. Quando os paramédicos chegaram, aproveitou a assistência que davam a Rose, para procurar pistas do que havia acontecido. 

— Meu Deus, a quão desesperada você estava? — perguntou para ninguém vendo o estado que estava o banheiro, da porta do cômodo observava o trabalho rápido dos paramédicos. Sentiu seu celular vibrar e olhou o visor. — Sim. — disse ao atender.

Qual a situação? — A voz masculina perguntou do outro lado.

— Acredita em milagres? — Em sua voz não havia nenhum sinal de emoção, mas sua expressão corporal, demonstrava alguém sem esperanças. — Então peça por um. — falou assistindo aos paramédicos realizarem a massagem cardíaca.

Por todo o caminho, do apartamento até o hospital, segurou firme na mão de Rose, enquanto paramédica tentava trazê-la de volta a consciência, com dificuldades.

— Vamos, garota, abra esses olhos para mim. — disse a paramédica. — Não desista. — E realmente era como se Rose não quisesse acordar e tivesse desistido. — Você é uma guerreira, e guerreiras não desistem. — Ao chegaram ao hospital, o atendimento foi rápido, os médicos receberam Rose na entrada e, dali mesmo, começaram o atendimento. 

Algumas horas se passaram até alguém da equipe médica aparecesse para conversar e esclarecer o acontecido e contar qual era a situação de Rose.

Diga o que está acontecendo? — perguntaram assim que a ligação foi atendida.

— Ainda está inconsciente, mas estável. — disse um pouco aliviado. — Estão preocupados com o trauma na cabeça.

Alguém a atacou? — Quis saber.

— Não. — Respirou fundo. — Overdose. — Lembrou das palavras dos paramédicos quando chegaram no apartamento. — Mas... — Fez uma pausa, buscava as palavras, o que estava prestes a contar não era nada fácil de se dizer.

Mas? — A pessoa do outro lado o encorajou a continuar.

— Não acredito que foi acidente, mas quem sabe? Ninguém estava lá com ela. — Bufou. Queria estar errado. — No exame toxicológico os médicos identificaram cocaína e álcool. — disse por fim. 

E o que acha que significa? 

— Que estava desesperada e tomou uma decisão desesperada! — A era difícil falar aquilo em voz alta.

Acha que ela tentou se matar? — Esperava por uma resposta mais direta.

— Não posso confirmar nada, mas o comportamento dela deve ser considerado. Ela visitou seu antigo fornecedor, após descobrir uma traição dupla, no dia seguinte a uma recaída.  — Fazia uma análise da situação. — Vimos as imagens da sala de depoimento, ela parecia bem desesperada. É uma hipótese a ser considerada, porém, como ela ainda está em coma, não há como o psicólogo do hospital fazer uma avaliação.

Fique com ela e nos mantenha informados. — Deu a ordem.

Dois dias e duas noites se passaram até Rose recobrar a consciência.

— Bom dia, Rose, como está se sentindo? — perguntou o homem de jaleco ao entrar no quarto acompanhado de uma enfermeira que trazia em suas mãos uma bandeja prateada. — Que bom que acordou. Sou Doutor Charles e essa é a enfermeira chefe Maggie Lockwood. — Os apresentou. — Trouxemos algo para você comer. — Entregando a bandeja a Rose, Maggie sorri.

— Você precisa se alimentar e ganhar força. — Comentou ajudando Rose a se sentar.

— Onde eu estou? — perguntou um pouco confusa, não se lembrava de nada após sair do escritório do FBI.

— Você está no hospital. — disse Doutor Charles, enquanto checava os sinais vitais. — Você deu entrada há alguns dias e...

— Alguns dias? — Interrompeu a fala do médico e algumas memórias começaram a surgir, levou as mãos ao rosto e respirou fundo. — Alguns dias... 

— Sim. — respondeu. — Você precisou de cuidados quando deu entrada na emergência. — contou. — É um milagre você ter escapado sem maiores sequelas. 

— Velhos hábitos são difíceis de desapegar. — disse com descaso e isso chamou a atenção do médico. Charles era um homem alto, de cabelos curtos e castanhos, com alguns fios brancos nas laterais. Era o médico-chefe da psiquiatria do Hospital de Nova Iorque e, para ele, Rose dava sinais claros de não estar bem.

— Maggie, poderia nos dar um instante? — pediu a enfermeira. — Então já aconteceu antes? — perguntou fingindo desinteresse, mas percebeu a não compreensão de Rose a sua pergunta. — Os velhos hábitos. Já lhe trouxeram ao hospital outras vezes?

— Muitas. — Olhava o teto. — Por que minha cabeça dói? — perguntou levando a mão até a lateral de sua cabeça e, só então, percebeu enfaixadas ataduras. — Eu tropecei e caí. — falou ao se lembrar de mais partes dos acontecimentos.

— Você teve um trauma leve e perdeu um pouco de sangue. — contou, sua fala era calma, afim de não agitar Rose. — Porém, você não está no hospital apenas devido à queda e é por isso que eu estou aqui. — Fez uma breve pausa antes de voltar a falar, estudando o comportamento dela. — Rose, você foi trazida para cá, pois teve uma...

— Overdose. — O interrompeu novamente, respirou bem fundo e conteve a emoção. 

— Exatamente. — Silêncio. Charles esperou o que Rose faria em seguida, mas quando nada veio, continuou. — Você teve uma recaída, não foi? Nos foi dito que estava sóbria há dois anos.

— Bom trabalho, Sherlock. — Debochou. — Olha... — respirou fundo, tentando conter a emoção e as lágrimas. — Me dê alta com uma recomendação para sessões de terapia. Eu sigo minha vida e você pode ir atender aos pacientes que realmente precisam da sua ajuda.

— Senhorita Tyler, não sei como outros médicos lidaram com o seu caso, mas comigo não será assim.  — Charles informou. — Quem veio com você na ambulância, nos relatou algo preocupante.

— Que pessoa? — Espantou-se, ela lembrava de alguém, mas não sabia quem era.

— Ele disse ser seu colega de quarto, mas não consigo lembrar o nome... — Charles não entendia o motivo da surpresa. Geralmente, ele era muito bom em “ler” as pessoas e o rapaz mostrou-se realmente preocupado com o bem-estar de Rose e se comportava como alguém que a conhecia bem.

— Eu não tenho colega de quarto. — respondeu séria. — Essa pessoa... Eu lembro dele, mas nunca o vi na vida.

— Bem... — Foi a vez do médico parecer surpreso, porém, por mais interessante que fosse prosseguir no assunto, Charles tinha outro problema em mãos. — Depois esclarecemos esse assunto, agora há algo mais importante para conversarmos. — Trouxe o foco de volta para o assunto inicial. Enquanto Rose estava sentada na cama, Charles sentou-se na cadeira de acompanhante. O que diria a seguir, precisava de um ambiente calmo, para não gerar mais estresse. — Como eu ia dizendo, essa pessoa, disse haver a possibilidade da sua overdose ter sido uma tentativa de suicídio.

— Como assim? — disse espantada. Foi difícil ouvir aquelas palavras.

— A pessoa expressou profunda preocupação com sua saúde mental, Rose, e, diante de tal fato, precisamos tomar algumas providências e seguir alguns protocolos. — Finalmente abriu a pasta que carregava em suas mãos desde sua chegada. — Por isso buscamos em nossos históricos seus arquivos e descobrimos algo preocupante. Há alguns anos, foram registradas três entradas suas em nossa emergência por overdose, em um curto espaço de tempo e, em todas elas, você conseguiu escapar antes de cumprir com os protocolos, por isso, não assinarei sua liberação hoje.

 — E quem é você? — perguntou grosseiramente. Charles não havia dito a Rose nada além de seu nome.

— Sou o médico responsável pela psiquiatria desse hospital e, como mandam os protocolos em casos de tentativa de suicídio, você ficará em observação por 72 horas. — informou. 

— Eu não sou louca. — vociferou. — E nem estava tentando me matar. — confessou.

— Não acho que seja. — Seguiu para a porta. — Mas acredito que todos nós temos dias ruins e, em face do desconhecido, tomamos atitudes desesperadas sem medir as consequências. Descanse, Rose, ainda temos muito que conversar.

Seis meses depois...

Depois de descer no ônibus, ela caminhou tranquilamente para o hospital, parte de sua rotina nos últimos seis meses, desde a, quase, fatídica noite. Passando pela recepção principal, se encaminhou para a recepção da ala psiquiátrica e se aproximou do balcão, ao checar seu relógio e viu estar no horário correto e se sentia orgulhosa de mais essa conquista.

— Bom dia, Dulce. — Sorriu para a recepcionista. — Tenho hora marcada com o Dr. Charles.

— Bom dia, Rose, só um momento. — pediu, enquanto indicava que Rose fosse se sentar nas cadeiras de espera. 

Assistia atenta no noticiário o caos que estava a cidade de Nova Iorque. A Stark Industries lançava mais uma arma e o mundo estava enlouquecendo. Rose revirou de olhos para toda comoção, Tony Stark era figura fácil nos noticiários do país e ela nutria um sentimento de amor e ódio pelo homem, mesmo sem conhecê-lo. Desviando sua atenção da TV, observou as pessoas que caminhavam pelos corredores e, ao longe, avistou um rosto conhecido.

— Você... — disse se levantando da cadeira e indo em direção à pessoa. Ela não tinha certeza se era a mesma pessoa, mas os olhos eram parecidos com os azuis-esverdeados que visitavam seus sonhos quase todos as noites nos últimos seis meses.

— Rose, o Doutor vai atendê-la agora. — avisou a recepcionista, trazendo a atenção de Rose para si.

— Obrigada, Dulce. — respondeu. — Já vou entrar. — Voltando seu olhar para o mesmo lugar de antes, mas já não havia ninguém lá.  — Olá, Doutor. — O comprimento, passando pela porta e sentando-se no pequeno sofá.

— Olá, Rose. — disse pegando os arquivos dela. — Vamos começar?

— Sim. — Ela sorriu de leve.

— Então, como está hoje? — Charles perguntou.

— Bem. — respondeu de imediato. — Vim de ônibus e cheguei antes do horário da nossa consulta.

— Ótimo, Rose. — Charles sorriu de volta e fez algumas anotações. — Fico feliz que andar de transporte público não seja mais um gatilho como antes. Parabéns, Rose, essa é uma evolução significante. — A olhava com felicidade por sua conquista. — Tem algo mais para me dizer?

— Não, nada de novo. — Foi sucinta. 

— Rose, não tem mesmo nada para me contar? — Refez a pergunta, havia algo a ser dito, mas também sabia que, para Rose, ainda era difícil falar sobre o assunto.

— Talvez. — disse, tentando fingir indiferença, para esconder o nervosismo.

— Então me diga. — Esperou pacientemente.

— Hoje completam seis meses que eu estou sóbria. — falou com certeza e confiança. — Seis meses de uma mudança verdadeira. Hoje eu tenho uma nova visão sobre a minha vida, o mundo e, principalmente, sobre como eu me relaciono com as pessoas. — dizer aquelas palavras não era fácil, mas ajudava muito.

— Isso é ótimo. — Fez mais algumas anotações. — Rose, essa é a mudança mais significativa que observei em vocês nos últimos meses. A forma confiante com a qual fala sobre sua vida, mostra que você está no caminho certo da sua recuperação. — Charles estava impressionado com a melhora. — Como está se sentido com essa nova etapa? — Fazia às perguntas apenas para avaliar o estado mental e emocional de Rose, sua alta dependia do quanto ele acreditava na capacidade dela seguir sozinha.

— Pela primeira vez um futuro. — Sorriu entusiasmada. — E tenho planos para realizar e não só para me agradar, mas também para provar que eu sou capaz de coisas boas.

— Provar para quem? — Quis saber.

— Para mim. — Admitiu. — Por muitos anos fui aquilo que disseram que eu seria, a órfã problemática. — Riu sem graça e sentiu uma lágrima cair. — Eles esperavam que fosse mal comportada, então eu fui seu pior pesadelo. — Suspirou e secou o rosto. — Era o caminho mais fácil e no final só eu perdi.

— Rose, você era uma criança. — Charles a lembrou do fato. — Você precisa de alguém para te guiar e ensinar, mas, infelizmente, você não teve. Porém, Rose, você fez o seu melhor. Nunca esqueça que a decisão de ficar sóbria foi sua, antes de qualquer pessoa surgir na sua vida e é nisso que deve se concentrar. Você sempre faz a sua melhor companhia. — Ele estava satisfeito com a evolução dela.

— Me sinto bem por ouvir isso. — Se permitiu sorrir aliviada.

— Você já conseguiu descobrir quem era aquela pessoa? — indagou, mudando um pouco de assunto.

— Não. Nada. Nenhuma informação. Essa pessoa é apenas um par de olhos na minha memória. — E aquele era o maior mistério na vida de Rose. — Mas tenho a impressão estar mais perto do que imagino, como se fosse um fantasma.

— Fantasma? — questionou.

 — Sim, algo que paira por aí, que você jura não existir, mas tem quem diga já ter visto. — explicou.

— Uma boa explicação. — Riu. — Talvez um dia você descubra a verdade. — Tentou ser otimista. — Afinal de contas, essa pessoa salvou a sua vida, ela merece um agradecimento por isso.

— Talvez eu descubra e, quando o fizer, essa pessoa terá minha gratidão eterna. — Concordou. — Doutor... — Tomou coragem. — Sei que não demonstro, mas queria dizer que sou muito grata por tudo. Obrigada por não desistir de mim, mesmo quando eu já não tinha mais esperanças.

— Não tire o crédito do seu esforço, pois for por si que veio a todas as consultas marcadas, mesmo não acreditando na mudança. — Era complacente com Rose. — Você foi a maior responsável pela sua recuperação.

— Mesmo assim, não teria chegado aqui sem a sua ajuda. — Reforçou seu pensamento. — Por isso, obrigada.

— Fico feliz em ter ajudado. — Estava satisfeito com o progresso dela. — Rose, confesso ter tido algumas dúvidas se lhe diria isso hoje, mas nossa conversa me surpreendeu e, analisando todo o progresso feito, acho seguro e prudente dizer que você está pronta.

— Mesmo? — Rose estava sem reação, havia esperado muito por aquele momento e estava apreensiva, não acreditava em seus ouvidos.

— O seu avanço é visível e sua recuperação surpreendente. Ainda há muito caminho a percorrer. Claro que precisará continuar com a terapia, a alta de hoje é apenas do meu trabalho como você, pois seu convênio nos permite apenas seis meses de tratamento. — Explicou mais uma vez. Charles queria continuar trabalhando com Rose, mas os impedimentos burocráticos não permitiam, por isso, queria garantir a continuidade do tratamento depois da alta. — Aqui estão os números de alguns colegas, já cientes da possibilidade da sua ligação, que estão dispostos a te atender, cobrando um preço mais em conta. — Entregando um papel de recados amarelo, Charles viu quando Rose leu cada um dos nomes e guardo o papel na bolsa. 

— Obrigada, Doutor. — Estava emocionada com alta e com o carinho. — Não fui a melhor paciente, mas obrigada por não desistir de mim.

— Rose, não existem bons ou maus pacientes, existem pessoas com suas particularidades e cada um tem seu tempo para conquistar o que deseja. Meu papel aqui é intermediar esse encontro entre quem você é e quem quer ser. Estou aqui para ajudar vocês a encontrar o caminho, mesmo que isso leve anos, ou alguns meses. — Explicou. — Por isso não pense que foi uma paciente ruim, você foi você, dentro de toda sua complexidade de existência.

— Ok, não tenho certeza se entendi, mas suponho que tenha me elogiado em algum momento e agradeço. — Brincou.

Seis meses de muitos altos e baixos. Rose não estava curada. Longe disso. Para sua doença, a dependência, não há cura, mas é possível viver uma vida normal e isso era o que ela estava descobrindo.


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