Cinema escrita por Lola Royal


Capítulo 1
teioso


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Essa é uma fanfic é uma pequena homenagem para todos os fãs de Homem-Aranha, mas sem spoiler de nenhum filme do teioso, podem ler sem medo.
Boa leitura!

ATENÇÃO: ESSA HIST?“RIA MENCIONA A PANDEMIA DO COVID-19



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2017

A ansiedade tomava conta de mim, como grande fã do Homem-Aranha estava louco para assistir ao novo filme do teioso. Queria muito ter ido à pré-estreia no dia anterior, entretanto a garotinha sentada no banco de trás do meu carro não lidava bem em ficar acordada até tão tarde.

— Já chegamos? — Samantha perguntou pela décima vez, eu estava contando, se ela perguntasse de novo minha cabeça explodiria.

— Sam, você conhece muito bem o caminho do cinema, sabe que ainda não chegamos — respondi para minha filha de doze anos de idade.

— Já posso colocar minha máscara? — ela continuou me enchendo de perguntas.

Samantha tinha muito de Tanya, mãe dela e minha esposa… Bom, minha ex-esposa, que faleceu cinco anos atrás. Os cabelos loiros, os olhos azuis e a insistência da minha filha eram características herdadas de Tanya.

— Ainda não, o combinado é usá-la apenas no cinema para tirar fotos. Entendido? Não quer descumprir nosso combinado, não é?

— Entendido — respondeu em um resmungo e começou a cantarolar a música do Homem-Aranha.

Minha filha amava o super-herói tanto quanto eu, talvez por que desde muito pequena assistia aos filmes comigo. Sorri sozinho lembrando-me de quando Samantha assistiu ao filme do Homem-Aranha de 2002 pela primeira vez, ela tinha dois anos de idade e não parava quieta, mas às vezes olhava para a TV e dava gritinhos animados.

Então, ainda pensando no filme de 2002 eu me lembrei da minha primeira vez assistindo. Na estreia, acompanhado de Bella Swan, minha primeira namorada.

2002

Eu não conseguia acreditar que finalmente estava na estreia daquele filme, muito menos com Bella, o nosso primeiro encontro tinha como ser melhor? 

— Gosto tanto do Homem-Aranha! — ela exclamou animada e isso me fez lembrar de que sim, tinha como ser melhor. A garota era tão fã quanto eu, tinha os quadrinhos, camisetas e seu último aniversário teve tema do super-herói do Queens.

— Acho que o filme será muito bom — falei de volta, ainda tínhamos que esperar mais um pouco para ele começar, mas pegamos bons lugares no cinema.

— Sim, eu também amei o trailer. — Bella passou uma mão por seu longo rabo de cavalo de cabelos castanhos, ela era da equipe de torcida da nossa escola e usava aquele penteado com frequência.

Nós tínhamos nos conhecido no começo do colegial, mas sem amigos em comum só nos aproximamos naquele ano quando fizemos dupla em um trabalho de biologia. Um trabalho sobre aracnídeos, foi quando conversamos sobre o filme que estava prestes a estrear e semanas depois coloquei um bilhete no armário dela a convidado para ir comigo ao cinema assistir, surpreendentemente deu certo. E eu estava nas nuvens, Bella era linda e divertida, sair com ela era quase um milagre para um simples garoto da equipe de xadrez.

— Queria muito fazer minha próxima festa de aniversário do Homem-Aranha de novo — ela disse. — Porém, como é meu aniversário de 16, a mamãe quer fazer algo mais chique — reclamou, só que em seguida sorriu. — Quando é seu aniversário mesmo? 

— Mês que vem, dia 20 — respondi. — 16 anos também. 

— Comi um pedaço da barra de chocolate que comprei, Bella tinha a sua — também comprada por mim—, pois detestava o chocolate branco que eu comia e preferia chocolate meio-amargo.

— Vamos fazer sua festa do Homem-Aranha, que tal? — indagou empolgada. — Guardei boa parte da decoração do meu ano passado, podemos aproveitar, o que acha?

Como dizer não a um pedido daqueles? Ou para os olhos castanhos e brilhantes da líder de torcida? Ou ao sorriso em seus lábios pintados de rosa?

— Claro que sim! — concordei, ela sorriu mais e pegou um pouco de pipoca do balde que eu carregava.

— Vai ser seu melhor aniversário, Cullen.

— Mal posso esperar por isso.

As luzes apagaram, os trailers começaram, estava chegando a hora.

2017

Consegui uma vaga péssima no estacionamento do cinema, mas pelo menos era algo. Deixei o carro ainda pensando em Bella, abri a porta para Sam e ela foi logo perguntando:

— Por que esse seu sorrisinho, pai?

— Não é nada. Vamos logo, temos que tirar suas fotos.

O cinema estava uma loucura, por sorte eu já tinha comprado nossos ingressos online, a pipoca e bebidas também, só precisávamos retirar tudo. Com tempo, Samantha colocou sua máscara e ficou mais agitada do que já era sem ela.

Outras pessoas, inclusive adultos, estavam usando fantasias do Homem-Aranha. Minha filha até parou para tirar foto com outra criança fantasiada, depois ela me arrastou para perto dos banners do filme e outros itens de decoração e interação que o cinema tinha colocado ali.

— Mais uma! — Sam pediu, eu assenti, ajustando a configuração da câmera em meu celular, foi quando ouvi uma voz que chamou minha atenção.

— Agora uma foto minha. — Olhei em direção a voz, mais ao lado esquerdo e achei ter visto Bella, mas isso era loucura, não poderia ser ela. Minha primeira namorada tinha mudado de país cinco semanas depois do meu aniversário de 16 anos, indo morar com os pais na França. Nós nos falamos por ligação algumas vezes, apenas como amigos, já que terminamos o namoro quando ela mudou. E paramos de nos falar de vez quando eu comecei a sair com Tanya, que também estudou comigo no colégio.

— Outra, eu saí piscando nessa, certeza. 

Eu ainda estava mexendo na configuração do meu celular quando ouvi a voz outra vez, olhei novamente, tendo dificuldade com tanta gente por perto, mas quando um cara saiu da frente vi Bella. Era ela, com certeza, posando para uma foto, fazendo o sinal da paz. 

— Bella — sussurrei, chocado em estar vendo a garota… A mulher, ela não era mais uma adolescente.

— Ei, Cullen! — Samantha gritou, tinha aprendido aquilo com minha irmã mais velha.

Foi quando Bella olhou para mim, talvez o sobrenome tivesse chamado sua atenção. Ela parou de sorrir e de fazer o sinal da paz, também estava em choque. Então, sorriu mais uma vez, o sorriso era o mesmo de 15 anos atrás.

Ergui uma mão e acenei, Bella fez sinal para eu ficar onde estava. Chamei Samantha, que estava reclamando que queria mais fotos, ela não tinha visto a mulher.

— Ai meu Deus! — Bella chegou até mim, trazendo pela mão um garotinho que devia ser pouco mais novo que Samantha, ele usava uma camiseta do Homem-Aranha. — Edward! — Ela soltou a mão do menino para me abraçar. 

Eu sorri e abracei ela de volta, Bella ainda usava o mesmo shampoo de antes, percebi aquilo. Ela também estava com os peitos maiores, foi impossível não notar, não com eles ali grudados em mim enquanto nos abraçavamos com força.

— Tem quanto tempo que não te vejo mesmo? — perguntou ainda com os braços ao redor do meu pescoço. 

— Vai fazer 15 anos em breve.

— Caramba. — Me soltou, eu a deixei se afastar, mas só porque queria olhar para ela. Seus olhos castanhos brilhantes fixaram-se nos meus, mas logo se voltaram para Sam, que ainda estava de máscara. — É seu filho?

— Filha.

— Sou a Sam-Aranha. — A garota pulou, com os braços abertos, batendo em mim sem querer.

— Ai — resmunguei.

— Foi mal, pai.

— Legal, quero uma fantasia assim, mãe — o garoto disse para Bella.

Mãe, caramba, ela tinha um filho. Nós tínhamos mesmo crescido, 15 anos, mas eu ainda me lembrava do gosto de seus lábios quando nos beijamos em 2002.

— Harry, esse é o Edward, ele e eu estudamos juntos na escola quando éramos adolescentes — Bella contou para o filho, eles dois não se pareciam em nada. O garoto parecia ter ascendência indiana, deveria ter puxado ao pai. — Diga oi.

— Oi, Edward! — Harry sorriu para mim. — Te vi nos álbuns de fotos da mamãe uma vez. — Aquilo também me pegou de surpresa, como fez Bella corar. E vê-la corar me fez sorrir, isso sempre foi algo fofo nela.

— Então, Sam-Aranha? — Ela se voltou para minha filha. — Posso ver seu rosto para ver se você herdou o combo olhos verdes e cabelos ruivos do seu pai?

— Eu sou loira. — Samantha tirou a máscara, revelando seus cabelos loiros que estavam presos em um coque baixo para ela não ter problemas com a máscara. — E olhos azuis, assim como a mamãe.

— Você só pode ser filha da Tanya, acertei? — Bella sorriu gentilmente para minha filha, tinha se abaixado um pouco para estar quase na altura dela.

— Sou sim. — Sam sorriu, amava falar da mãe. — Você conheceu a mamãe?

— Na escola, ela também estudava comigo assim como estudou com seu pai.

— Legal — Samantha comemorou. — A mamãe era legal na escola?

— Nós duas não éramos muito próximas, mas lembro de achar ela um arraso nas peças da escola. Ela está aqui com…

— Não — a cortei rapidamente. — Tanya faleceu há cinco anos.

Bella olhou para mim e depois de volta para Sam.

— Eu sinto muito, querida. — Afagou o braço de Samantha.

— Ela está melhor agora — Sam disse. — Ficou muito doente e com muita dor, agora está descansando e tomando tequila no céu. — Bella riu. — Você toma tequila, Bella?

— Não tenho mais idade para isso. — Bella se levantou.

— O papai diz a mesma coisa, agora ele só bebe cerveja. Eu quero fazer 21 logo para saber o gosto.

— A mamãe bebe vinho — Harry contou, Bella voltou a segurar a mão do menino. — A vovó Renée também, elas amam.

— Ei, como estão seus pais? — perguntei para Bella.

—  Estão bem, continuam na França.

— E você está morando em São Francisco?

— Tô sim, desde o começo de 2014.

— Tá brincando, né? Sam e eu mudamos para cá em 2014 também, antes ainda estávamos morando em Seattle.

A cidade em Washington foi onde eu nasci, cresci, conheci Bella, conheci Tanya, entrei para a faculdade, tive minha filha, casei e perdi minha esposa.

— Não acredito que estamos morando na mesma cidade por três anos! — Bella exclamou. — Onde você tá trabalhando?

— Na agência ArMaCa, me formei em publicidade. E você?

— Sou professora de francês e tradutora. E motorista do Harry. — Beliscou a bochecha do filho que riu. 

— Pai, posso comer doce? — Sam perguntou.

— Hum, pode. — Mandar ela comprar doces me daria mais tempo para falar melhor com Bella. — Toma. — Tirei alguns dólares da minha carteira e entreguei para ela. — O Harry pode comer? — perguntei para Bella.

— Pode, ele vai passar a noite acordado, mas hoje pode. — Riu suavemente.

— Sam, leva o Harry com você para comprar doces.

— Beleza! — Samantha e ele foram até a lanchonete comprar os doces. 

Bella e eu os seguimos, mas os deixamos na fila e ficamos do lado de fora do cercadinho. Podíamos vê-los de onde paramos, só que sem estarmos perto suficiente para que eles nos ouvissem.

— Posso perguntar o que Tanya teve?

— Um problema renal — respondi e engoli em seco. — Ficou mesmo doente por muito tempo.

— Eu sinto muito, Edward. Vocês estavam casados?

— Sim, casamos pouco depois da Sam nascer.

— Pelo tamanho dela, julgo que isso rolou quando você ainda era novo, né? 

— É, Tanya e eu praticamente tínhamos acabado de entrar na faculdade. Por sorte tínhamos escolhido uma universidade perto da casa dos nossos pais, sem eles e a minha irmã ajudando a gente nem tinha se formado.

— Imagino a loucura.

— Harry parece ter mais ter uns 10, você o teve…

— Não, não — ela negou. — Harry é adotado, ele está comigo há um ano. O processo da guarda foi finalizado mês passado.

— Você tá casada? — Eu não tinha visto uma aliança, mas isso não significava muita coisa, ela poderia ter tirado, perdido ou simplesmente não costumava usar.

— Não, eu nunca noivei, muito menos casei. Adotei o pequeno sozinha.

— Tá falando sério? Você sonhava em casar, ter filhos…

— Bom, eu ainda quero casar. — Deu um sorriso tímido. — Mas não encontrei ninguém que quisesse. — Colocou as mãos nos bolsos de sua calça jeans preta. — E tinha um apartamento de dois quarto, com o segundo quarto vazio, dois bons trabalhos e não podia ir ao shopping sem ficar querendo ver coisinhas de bebê, minhas opções eram adotar ou inseminação artificial. Só que inseminação custaria muito e eu poderia adotar um recém-nascido, ainda penso em gerar um bebê, mas queria mesmo era ser mãe.

— E como foi de bebê para um menino de… Quantos anos mesmo?

— Ele tem 10 agora, fez alguns dias depois de ganhar meu sobrenome. — Sorriu orgulhosa. — Não tem um grande motivo, sabe? Sair de um perfil para bebês até passar a aceitar crianças maiores, estava preenchendo a papelada e disse que aceitaria até 10 anos. As roupas de bebê são fofas? Claro, mas eu poderia comprar roupas maiores. Ele é tudo para mim. — Seus olhos se voltaram para seu filho, que tinha colocado a máscara de Sam. — Eu tô tão feliz que me tornei mãe, mesmo que agora não durma mais e você deve lembrar como amo dormir.

Aquilo me fez rir, Bella era terrível para acordar cedo, seus pais sofriam com isso na adolescência dela.

— Como está sua família? — perguntou e passou uma mão por seus cabelos, que continuavam compridos, mas livres de um rabo de cavalo.

— Todos bem, minha irmã tá morando com o noivo em Chicago agora, meus pais se mudaram ano passado para uma cidadezinha em Washington chamada Forks, queriam um lugar sossegado.

— Meu pai costumava pescar lá perto.

— Ai, lembra quando ele me levou para aquela viagem de pesca com vocês e eu vomitei?

— Como não lembrar? — indagou e rimos juntos. — Você vomitou até em mim, eu juro que pensei em te jogar na água aquele dia.

— Foi mal, o barco balançava muito.

— Acho que você foi o namorado que tive que meu pai mais gostou, ele vai adorar saber que te encontrei.

— Não fui o genro favorito da Renée? — perguntei fingindo ofensa.

— Ih, essa você não levou. — Bateu de leve em meu ombro. — Eu namorei o herdeiro de uma vinícola durante a faculdade e mamãe adorava ganhar dezenas de vinhos por mês. Ela ficou mais triste que eu quando o cara me largou.

— Você fez faculdade na Europa mesmo?

— Foi, em Paris. Você sabe, sempre fui a princesinha dos meus pais, queria ficar perto deles. 

— Eu sei, como veio morar nos Estados Unidos de novo sem eles?

— Primeiro fui fazer um curso em New York, na Columbia, ganhei bolsa e não podia perder. Depois apareceu o trabalho aqui em uma escola realmente boa, eu sinto muita falta dos meus pais, queria eles mais perto de Harry, mas foi um desafio bom recomeçar minha vida sozinha em São Francisco e antes de ir para New York um cara partiu meu coração em Paris.

— Sempre tem um cara.

— Pois é. — Ela riu e suspirou. — Era um inglês babaca que morava lá, eu era a amante dele,  sem nem saber. O cara tinha três filhos em Londres e a esposa tava grávida do quarto.

— Tá de sacanagem?

— Não, ele trabalhava em Paris e voltava para Londres todo final de semana, falava para mim que era para visitar a mãe doente. Eu quis ir junto uma dezena de vezes, mas ele falava que ficava muito focado na mãe e blá blá blá, até que um dia a esposa grávida bateu na minha porta e mandou eu me afastar do marido dela.

— Puta merda.

— É, aí veio a bolsa de Columbia e eu caí fora, ele ainda me queria como amante e eu ainda nutria sentimentos, hoje estou curada. Amém.

— Amém! — exclamei junto, ela riu mais e checamos as crianças. — Vocês vão pegar a sessão de 15 horas também, né? Quais poltronas? 

— J7 e J8 — respondeu sem precisar conferir em seus ingressos. — E os seus? Alguma chance de serem próximos?

— Não lembro. — Peguei meu celular para conferir.

— Você era bom de memória.

— Tive uma filha recém-nascida e uma faculdade ao mesmo tempo, eu bebi muito café, isso desgraçou minha cabeça. —  Achei os ingressos no e-mail e me vi mais uma vez em choque. — J9 e J10.

— Tá de brincadeira?

— Não tô. — Mostrei para Bella, que também ficou perplexa.

— Uau, aparentemente o nosso destino está ligado por filmes do Homem-Aranha, Edward Cullen.

— Eu estava justamente pensando na estreia do Homem-Aranha de 2002 enquanto dirigia para cá.

— Foi bom, né? — perguntou. — O filme, o nosso namoro, aquele tempo que tivemos no verão.

— Foi maravilhoso — concordei.

— Acha que teria dado certo se a gente tivesse continuado a distância?

— Não, acho que a gente fez o que tinha de fazer.

— Eu também penso assim. — Assentiu. — Mas fiquei louca quando você contou que tava com a Tanya, por isso não te atendi mais.

— Suspeitei.

— Ainda te amava.

— Minha irmã disse isso quando eu reclamei que tínhamos parado de nos falar.

— Foi bobo da minha parte, a gente podia ter continuado amigos. Pelo menos economizamos com a conta de telefone.

— Nossa, o meu pai reclamava tanto disso — resmunguei. — Vivia perguntando se eu ia ajudá-lo a pagar.

— Ele parou de fumar? Lembro que vivia com um cigarro na mão.

— Que nada, não tem jeito, mas fuma menos agora. Morar em uma cidade menor tem sido menos estressante. O seu pai era chique, fumava charutos ouvindo Frank Sinatra.

— Ele agora escuta música francesa, de forma geral virou bem francês, nem parece que cresceu em pleno Queens.

— O próprio Peter Parker — brinquei a fazendo rir.

— Senti sua falta, Edward.

— Notei, você ainda tem fotos minhas em um álbum — provoquei.

Ela revirou os olhos, mas estava relaxada.

— Harry viu meu álbum do ensino médio, tem umas fotos nossas lá. Você não guardou nenhuma?

— Claro, mas estão na casa dos meus pais, agora em Forks.

— Ai que saco, eles venderam a casa de Seattle? A nossa primeira vez foi ali naquela casinha da árvore — sussurrou corada.

— Meu Deus, sim. Eu gravei a data na madeira.

— Eu desenhei um coração ao redor de um B e um E. Tem como ser mais adolescente do que isso?

— Sim, o sexo foi horrível.

— Foi, né? Você acabou rápido e eu fiquei o tempo todo travada. Um horror. Eu te paguei um boquete naquela noite?

— Não, só no meu aniversário uma semana depois.

— E engasguei.

— Eu nunca nem devolvi, sinto muito.

— Sim, seu ingrato, você nunca me… Acho que o papo tá pesando, melhor parar.

— Claro.

— Vamos ajudar aqueles dois com os doces e pegar as pipocas logo. Tô ansiosa pro filme, quero fazer tudo com calma.

— Beleza. 

Andamos até as crianças, Samantha falava sobre seu filme favorito do Homem-Aranha, que até aquele momento era o de 2012. O de Harry era o de 2004, o meu o de 2002. E o de Bella…

— 2002, claro, mas talvez o de hoje mude isso. Estou em boa companhia. — Piscou para mim.

Na sala de cinema, Sam e Harry, que estavam se dando muito bem, resolveram sentar juntos. Sendo assim, eu fiquei afastado de Bella durante todo o filme, com as crianças entre a gente, mas os nossos olhares se cruzavam e sorriamos um para o outro direto.

E quando o filme acabou ele se tornou meu favorito. E quando acabou eu também pensei que queria muito beijar Bella como fiz na estreia do outro filme.

2002

Aos poucos as luzes foram se acendendo, Bella continuava com a cabeça em meu ombro onde estava desde os trinta minutos finais do filme. Meu braço já estava um pouco dormente, porém não reclamaria disso. 

Era gostoso ter ela tão perto de mim, fazia meu coração disparar. 

— Eu amei o filme, não acredito que acabou — ela murmurou, ainda olhando para a tela, eu olhava para seus cabelos e rosto.

— Foi perfeito, já quero assistir outra vez — sussurrei de volta, Bella se moveu e olhou para mim.

— Vamos? Podemos vir amanhã, ou depois.

— Eu topo. — Ela assentiu, afastando uma mecha de cabelo do seu rosto.

Não aguentei mais, me aproximei de Bella e depositei um rápido beijo em seus lábios. Senti gosto de chocolate, pipoca e Coca-Cola. Me apaixonei mais um pouquinho.

Quando desfiz o beijo, foi a vez dela de dar o segundo. O terceiro veio logo depois e no quarto um funcionário do cinema pediu para sairmos.

Rindo, nós dois deixamos a sala. Do lado de fora, perto de um pôster do filme, falei para Bella:

— Esse foi o melhor filme da minha vida.

— Foi o melhor da minha também, Cullen.

— Vamos assistir todos os outros filmes do Homem-Aranha juntos, não vamos?

— Estaremos lá em todas as estreias — prometi.

Ela sorriu e fomos para o quinto beijo. Depois o sexto, o sétimo e o oitavo. A conta não parava.

2017

Bella e Harry não tinham planos para o resto do dia, como Sam e eu também não, sugeri que fossemos para o shopping mais próximo comer algo e deixar as crianças brincarem no parquinho que tinha ali. Minha ex-namorada concordou, ela tinha ido para o cinema de táxi, então foi ótimo lhe oferecer uma carona.

Primeiro paramos no parquinho, as crianças brincavam e como bons pais cansados ficamos sentados em um banquinho.

— O que você vai fazer amanhã? — perguntei.

— Ficar em casa com Harry, e você? 

Ela tinha acabado de guardar o celular onde salvou meu número, eu também tinha salvado o seu, não queria perder contato com Bella, não de novo.

— A Sam vai passar o dia na casa de uma amiga e dormir por lá, você não quer ir na minha casa assistir ao filme de 2002? Bateu uma puta vontade de assistir, com você. — Sorri para ela, deixando com que entendesse minhas palavras, mas lhe dei opções. — Você pode levar o Harry.

— Edward, nós dois sabemos que o Harry só ia atrapalhar seus planos — disse, eu admiti a culpa, ela continuou. — Posso pedir para minha amiga ficar com ele, ela adora que o pequeno durma lá.

— Sério? Então, você vai mesmo até minha casa?

— Claro, não perderia a oportunidade de assistir ao segundo melhor filme do Homem-Aranha com você.

— O de hoje se tornou seu favorito, também?

— Tinha como não ser? — Mexeu gentilmente em meus cabelos, fazendo com que eu me lembrasse de quando ela o cortou dias antes do meu aniversário de 16 anos, foi um desastre, porém nos divertimos. — Ele é tão adolescente, muito mais que os outros, me fez sentir com 15 anos outra vez. Sentada ao seu lado naquela sala de cinema, torcendo para você me beijar quando o filme acabasse.

— O filme acabou, posso te beijar agora?

— Deve. 

Então, tantos anos depois, eu estava beijando Bella de novo. Um beijo calmo, um beijo de reconhecimento, com minha mão em seu rosto e as suas em meus cabelos.

Ela tinha gosto de menta, tinha gosto de passado, presente e futuro.

2021

Deixei o carro, minha esposa logo estava ao meu lado falando sobre termos que nos apressar para comprar as pipocas. Sam e Harry vinham logo atrás, minha filha falava sobre as fantasias deles, Harry reclamava que a sua estava muito apertada.

— É culpa do seu pai — Bella acusou. Eu bufei, já sabia que tinha escolhido o número menor para o adolescente, mas precisávamos superar.

— Valeu, pai — meu filho reclamou.

Um ano depois que Bella e eu casamos, meu sobrenome foi inserido em sua certidão de nascimento e ele se tornou oficialmente meu filho. Coisa que já era para mim desde o comecinho do meu namoro com a mãe dele, amei aquele garoto tão rapidamente quanto amei Sam e anos depois amei Peter.

Bella tinha engravidado, nosso filho nasceu em uma tarde quente de verão. Demos o nome do nosso personagem favorito, ele tinha feito um ano em julho daquele ano.

Naquela dia da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, o pequeno Peter estava em casa com os pais de Bella, que estavam nos Estados Unidos para passar as festas de final de ano com a gente. Enquanto isso, ela, Sam, Harry e eu íamos assistir ao filme mais esperado do ano.

— Vou colocar fones de ouvido, não quero ouvir spoilers de quem viu a pré-estreia, compra nossas pipocas — Bella disse antes de entrarmos no cinema, já colocando seus fones de ouvido sem fio.

Ela odiava spoilers, tinha pavor deles. Para não pegar nenhum, do filme mais aguardado por nós, tinha até desativado todas suas redes sociais.

Com Harry comprei pipocas e doces, Samantha ficou batendo papo com outras pessoas usando fantasia do teioso. O tempo demorou a passar, Bella estava escutando rock para o som abafar o burburinho, mas tirou os fones quando finalmente entramos na sala.

— Você fez bem, peguei um spoiler na fila — falei lhe entregando seu chocolate meio-amargo.

— Não me conta! — exclamou e tirou sua máscara, ainda tínhamos alguns cuidados a serem seguidos por conta da pandemia, mas por sorte estávamos todos vacinados.

Harry e Sam estavam sentados lado a lado, discutindo sobre quem era o melhor Homem-Aranha. Bella e eu sentamos juntos, sem ter mais as crianças impedindo que eu pudesse a beijar.

— Oi. — Sorri depois de pegar ela de surpresa e lhe dar um beijo quando tirei minha máscara. 

— Oi. — Sorriu de volta. — Nem acredito que finalmente estamos em um cinema de novo.

Era nossa primeira vez em um depois do começo da pandemia.

— Recomeçando com o pé direito. — Afaguei seu rosto.

— Sim! — concordou. — Homem-Aranha certamente é uma forma incrível de voltar a um cinema, especialmente com você.

— Especialmente com você — fiz coro e a beijei de novo.

Os trailers começaram, Bella apoiou a cabeça em meu ombro. Eu pensei quantos filmes ainda poderiam ser feitos do personagem, adoraria assistir cada um, especialmente com minha esposa ao meu lado.


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Notas finais do capítulo

ATENÇÃO: SE VOCÊ COMENTAR NÃO DÊ SPOILER DE HOMEM-ARANHA SEM VOLTA PARA CASA!

Espero que tenham gostado, mil beijos ♥
Lola Royal.
20.12.21