A Devilish Christmas escrita por Vanilla Sky


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, gente! Espero que estejam todos bem. E um muito Feliz Natal para todos os eventuais leitores dessa fic!

Essa história começou de uma maneira interessante, porque eu sonhei com o plot dela e acordei sabendo que queria escrever. No início, pensei em fazer a fic com uma personagem original, contudo, acabei mudando de ideia e fazendo com a Karen. Acho bom avisar que essa história se passa imediatamente após o final da segunda temporada, e não tem spoilers de Defensores ou da terceira temporada porque ainda não assisti. Se tiver algum detalhe parecido, é mera coincidência!

Boa leitura :)



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Na véspera de Natal daquele ano, havia apenas dois lugares os quais Karen Page ativamente desejava não estar: em sua casa e dentro da própria cabeça.

Nova York era um lugar incrível para a jovem moça de Vermont. O interior onde crescera, uma viagem de mais ou menos cinco horas saindo de Manhattan, apesar de ter belas decorações na praça principal todos os anos e missas especiais para o feriado, era completamente diferente do fervor que seus olhos encontravam naquele momento. Casais, famílias, presentes de última hora, cheiro de comida advindo dos restaurantes e de dentro dos apartamentos, um caos que passou boa parte de sua vida sem reconhecer, e que agora provavelmente não saberia viver sem. Os pés de Karen deslizavam pelo restante de neve no chão ao mesmo tempo que esticava as mãos para tocar enfeites pendurados em cercas, cobertos por uma fina camada de gelo a qual eventualmente a forçava a assoprar ar quente de suas bochechas na porção de pele logo abaixo das suas unhas.

Seus olhos avistaram um brechó do outro lado da rua; desde que chegara na cidade, portando pouco dinheiro, as lojas de roupas usadas eram as suas favoritas. Aquela, contudo, possuía o destaque de haver uma blusa pendurada no vidro com uma reprodução familiar sobre o tecido branco. Dentre tantos símbolos – escudos, martelos mágicos, teias de aranha –, aquela máscara vermelha com chifres de demônio fê-la sorrir. Em um ímpeto, entrou loja adentro para perguntar o preço, possuindo plena intenção de comprá-la.

Já havia algumas semanas desde que Matt Murdock revelara ser o Demolidor, em uma noite de dezembro no antigo Nelson & Murdock. Karen não imaginava que o advogado, seu chefe, era o homem por baixo da máscara, duas partes de um todo. Os machucados frequentes em seus punhos e rosto passaram a fazer total sentido a partir daquele momento, bem como o fato dele ter perguntado especificamente para ela, entre vários reféns, se estava bem, com cuidado e carinho extraordinários, quando a salvara de um sequestro tempo antes. E, desde então, não haviam mais se visto ou conversado, provocando uma forte sensação de solidão no peito de Karen.

Foggy havia perguntado mais de uma vez se ela não queria passar o Natal em sua companhia, sendo o convite declinado em todas as oportunidades. E Karen já havia trabalhado demais em um artigo no jornal para passar a véspera de Natal na companhia dos quadros e menções honrosas da sala de Ben Urich. Deixando a loja trajando a blusa da máscara do Demônio de Hell’s Kitchen, ela fez questão de deixar todos os casacos por cima abertos para que a cidade inteira visse, ainda que de relance, seu apoio ao herói, já que o próprio não poderia vê-lo.

Karen queria pedir desculpas a Matt. Queria dizer que sentia muito por tê-lo deixado quando ele mais precisava. E queria agradecer pelo carinho no dia do sequestro, pelo jeito protetor que segurou seus braços antes de dizer que deveria ir. Tais pensamentos provocavam dor no seu estômago, tão embrulhado – ou até mais – quanto os presentes os quais via pelas ruas.

O intenso movimento da cidade que nunca dorme aos poucos diminuía, sendo que as pessoas voltavam para suas casas, famílias e amigos, deixando pelas calçadas apenas os que não possuíam para onde ir. A noite estava longe de acabar, mesmo sendo o único desejo de Karen para aquele momento. Ela passou em frente à Igreja de Hell’s Kitchen, onde acontecia uma longa missa de Natal, aproveitando para entrar e procurar pelo rosto de Matt, seus óculos, sua bengala, buscas que restaram infrutíferas. Enquanto o padre dizia sua homília, tal como alguns fiéis a olhavam de maneira estranha devido à blusa, Karen juntou as mãos na frente do peito, fortemente apertando as palmas uma contra a outra e rezando para que Matt, onde quer que estivesse, estivesse bem e em segurança.

No fundo de seu coração, ela pediu para que ele procurasse por ela novamente.

Ao sair da Igreja, sentiu uma lágrima correr por sua bochecha, deixando um rastro fino de gelo sobre a pele devido ao frio intenso, mesmo que não estivesse nevando naquele instante. Lembranças rodeavam sua mente; seu trabalho, as noites de festa na Josie’s, os primeiros encontros com Matt e a saudade que tinha de sentir os lábios dele sobre os seus, à medida que andava para algum lugar, qualquer lugar, que pudesse trazer um pouco de conforto.

Mais alguns minutos de caminhada levaram a jovem moça a um estacionamento vazio perto do cais, onde havia um único carro estacionado. Carro, este, o qual passara por alguns maus bocados, e cujas prestações estavam vencidas há meses, mas que ainda, pelo tempo que os órgãos de trânsito lhe permitissem, era seu. Um pequeno porto seguro em meio ao caos. Karen buscou as chaves no bolso e o destrancou, entretanto, ao invés de abrir a porta do motorista e dirigir, mudou de ideia e abriu a porta de trás. Talvez fosse possível descansar um pouco por ali mesmo.

Tirando o casaco sobreposto acima dos outros, ela o dobrou como um travesseiro, empurrando pelo banco até que este encontrasse a porta oposta. A moça, então, sentou na extrema direita e acomodou o corpo esguio nos bancos, arqueando as costas e dobrando as pernas em posição fetal – problemas de ser alta demais em um carro pequeno –, antes de fechar a porta e, por fim, trancar o veículo.

Poderia ligar o rádio, mas as estações certamente tocariam músicas natalinas em looping, e ela não estava exatamente no clima para a festividade. Poderia pegar o celular e ver um filme, porém não possuía ideias do que assistir, e, para piorar, já havia sentido o aparelho vibrar diversas vezes durante sua caminhada – mensagens de Foggy, Mitchell, e dos seus familiares, inundando a caixa de entrada com o carinho que não se encontrava pronta para retribuir. Na manhã seguinte, certamente iria se recompor e conversar com as pessoas normalmente, contudo, precisava de um descanso antes. Lentamente fechou os olhos, observando o céu coberto por nuvens escuras através do vidro, sentindo o sono a embalar em um descanso tranquilo até que as festividades natalinas terminassem.

Karen cruzou os braços sobre o abdômen, como se quisesse abraçar a máscara estampada na camiseta, uma maneira de se sentir mais próxima de Matt naquela noite. Os barulhos da rua pareciam distantes, porquanto seu sono alternava entre momentos nos quais sabia estar acordada e momentos de repouso profundo, surpreendentemente calmos dada a sobriedade na qual se encontrava.

Em dado momento, Karen abriu os olhos devagar, sentindo algo áspero sob sua bochecha no lugar do macio travesseiro improvisado. Piscou algumas vezes e notou que as mãos, antes dobradas ao lado do rosto, seguravam o que parecia ser o joelho de uma pessoa; antes que pudesse se assustar, um afago nos cabelos loiros precedeu um acalento o qual acalmou completamente seu coração:

— Shh, shh.... Não se assuste, sou só eu. – Confortou a voz, e ela virou o rosto para cima e imediatamente reconheceu um sorriso familiar.

— Matt? – Ela sentou no banco do carro e olhou na direção dele.

Os braços de Matt Murdock a envolveram em um abraço carinhoso, e Karen apenas se deixou levar pela sensação, encaixando o rosto no vão entre o pescoço e o ombro dele. De relance, notou a roupa vermelha de guerra e a máscara no chão do carro ao lado de pacotes os quais ela não reconhecia. Ela estava tão feliz de tê-lo ali, com ela, que nem pensou em perguntar como ele havia entrado, ou se esperou muito tempo, apenas juntando forças para questionar em meio a um bocejo:

— Que horas têm?

Com o rosto virado na direção do rapaz ao seu lado, ela pôde ver que ele dobrava o braço para consultar um relógio imaginário no pulso, mirando-a novamente e dando um sorriso debochado que, Deus, ela sentia falta. Era algo que ele costumava fazer em tom jocoso, quando ela perguntava as horas e Foggy não ouvia, ou quando simplesmente esquecia e perguntava a ele sem querer. Aquela brincadeira fazia com que ela não se sentisse tão mortificada pelo erro.

— Ainda... Ainda é Natal? – Perguntou ela, balançando a cabeça e coçando os olhos.

— Você quer dizer a véspera ou o dia de Natal? Porque eu não tenho mais tanta certeza quanto à véspera.

Karen buscou o celular no bolso e disse a data e hora em voz alta:

24 de dezembro, 23:48.

— Bom, então ainda é Natal. – Constatou Matt, novamente avançando por seus cabelos com a ponta dos dedos.

Antes que ele pudesse dizer mais algo, porém, Karen jogou o peso do corpo para cima dos joelhos, apoiando-se neles para poder enlaçar o pescoço de Matt com os braços e apertá-lo contra seu tronco. Ela sorria tanto que chegava a gargalhar, e a emoção transbordava seu peito e se mostrava na forma de pequenas lágrimas no canto dos olhos.

— Matt, você está aqui! – O rosto de Karen roçava na barba por fazer do homem, o qual igualmente sorria na sua direção.

— Desculpe ter demorado tanto, mas o crime não para, nem na véspera de Natal... Eu também trouxe comida. Certeza que você está faminta.

— Como você entrou no meu carro? – Karen se afastou, usando as costas da mão para secar as lágrimas. – Como você me achou, primeiramente?

— Eu fui até o seu apartamento, mas você não abriu a porta. E você costumava deixar o carro no cais, então apenas dei um salto de fé e achei que a encontraria se viesse até aqui. – Ele deu de ombros. – Quanto à porta, não é tão difícil quando se sabe a técnica correta. – Matt buscou um apetrecho no bolso que ela imaginou ser utilizado para pequenos arrombamentos. – Pensei em bater no vidro, mas, como você estava dormindo, resolvi esperar um pouco e fazer companhia.

A pele branca como mármore do rosto de Karen adquiriu um tom rubro quando imaginou Matt observando-a dormir, eventualmente tocando suas têmporas e afastando mechas de cabelo da frente dos olhos. Ela gaguejou algumas vezes antes de mudar de assunto:

— Eu procurei você na Igreja mais cedo. – Matt abriu os braços, e Karen soube que deveria se aconchegar em seu colo, deitando a cabeça sobre o ombro dele e sentindo seus braços se fecharem em seu corpo. O coração da moça batia pesadamente por dentro do peito, e, se ela se concentrasse, poderia ouvir, por baixo da grossa camada de proteção a qual ele vestia, um coração batendo igualmente rápido. – E eu estou com uma blusa do Demolidor, então acho que os fiéis não gostaram muito...

Ambos riram.

— Eu sei que você está com uma blusa com a máscara. – Matt virou o rosto na direção dela, esticando o braço para tocar o tecido e provocando um choque seguido de arrepio na pele de Karen, intensificando-se à medida que ele subia a palma por seu tronco. – A composição do tecido muda leve, mas bem levemente, dependendo da estampa. É só fazer o caminho para perceber o formato, os chifres...

Matt corria os dedos pelo abdômen e busto de Karen, provocando cócegas e, ao mesmo tempo, suspiros; vagarosamente, os nós de seus dedos correram até o pescoço dela, acarretando em um calafrio através da espinha da moça. A voz dele se tornava mais baixa conforme seus rostos se aproximaram, e ela observou o sorriso dele na sua direção – um sorriso de felicidade genuína, um sorriso de alguém que vira de tudo em sua vida e, ainda assim, decidira se manter otimista. No fundo, Karen desejava que sua companhia tivesse alguma relação com aquele sorriso, tão bonito e tão sincero, ao mesmo tempo que fechava os olhos e inclinava o rosto em sua direção.

O primeiro beijo foi terno, como se os lábios deles precisassem novamente se acostumar ao carinho transmitido pelo ato; em seguida, Matt engoliu em seco antes de delicadamente puxá-la e repetir, beijando seu lábio superior intensamente enquanto Karen buscava manter o ritmo, ativamente alternando entre o lábio inferior e o canto de sua boca. Suas mãos entraram pelos cabelos de Matt, fazendo gentis carícias em seu coro cabeludo e nos fios de cabelo curto castanho, quase uma maneira de dizer que ele estava seguro ali, e que ninguém os interromperia tão cedo. Cuidadosamente, ele usou a ponta da língua para tocar o interior da boca da Karen, fazendo o contorno de seus lábios e chegando até quase sua bochecha, o que provocou um gemido um pouco mais alto, assim como um rubor um tom acima em sua pele.

Após se afastarem brevemente, ele encostou a testa sobre a dela, e ela aproveitou enquanto ambos buscavam ar para dizer:

— Desculpa não ter falado com você depois... Daquele dia...

Matt balançou a cabeça em negação, tacitamente pedindo para que não pedisse desculpas.

— E obrigada por perguntar se eu estava bem no dia do sequestro. – Karen engoliu um punhado de saliva para dizer aquelas palavras.

O barulho dos carros na rua se intensificou por alguns instantes de total silêncio antes dele responder:

— Quando eu soube que todas as pessoas que eu salvei tinham sido sequestradas... Quando eu fui ao seu apartamento e você não estava lá... Eu tive tanto medo, Karen, tanto. Eu não queria perder você. – Matt beijou seus lábios brevemente mais uma vez. – Fiquei tão feliz ao encontrar você bem. Obrigado por ter sobrevivido.

— Obrigada por ter voltado. – Foi o que ela conseguiu sussurrar, procedendo a um novo mergulho em direção aos lábios dele. Ela o beijava quase que freneticamente, como se aquilo não passasse de um sonho que iria acordar em breve, contudo, felizmente, não era o caso.

Mais alguns segundos de completo silêncio se passaram, com ambos unidos em um terno abraço; a moça imaginou que já fosse a madrugada de Natal, contudo, ao checar o celular, viu que ainda tinham alguns minutos.

— Não é muito legal passar o Natal no meu carro, não é mesmo? Desculpa. – Ela falou com uma risada.

Matt buscou a máscara no chão e a colocou sobre os olhos; em seguida, indicou que Karen pegasse as sacolas.

— Vamos dar uma volta. Juntos. – Ele abriu a porta do carro e saiu, oferecendo a mão para Karen. – Aproveitar o finalzinho da véspera de Natal.

Ela arregalou os olhos, confusa.

— Como assim?

— Vamos colorir o céu de vermelho, querida.

Tão logo a jovem deixou o veículo e segurou a mão de Matt, este abriu um bastão e jogou a haste, presa por uma corda, em um telhado próximo, segurando firmemente a cintura de Karen com a ponta dos dedos antes de dar alguns passos e pular. A moça precisou suprimir um grito enquanto segurava o corpo do herói e as sacolas, tentando, ao mesmo tempo, aproveitar o passeio o máximo possível. O gesto se repetiu pelo menos duas vezes; o casal voou entre os prédios de Nova York, sobre as decorações de Natal e pessoas distraídas na rua, como se o mundo inteiro fosse só deles.

Eventualmente, pousaram em um prédio alto, sentando na beirada de frente para uma vista incrível das luzes, de decoração e dos próprios prédios, que deixaram Karen estupefata.

— Onde conseguiu esse bastão?

— Presente de Natal de um amigo. – Matt riu, fechando-o e balançando entre os dedos. – Temos muito assunto para colocar em dia, senhorita Karen Page.

— E teremos tempo. – Acrescentou. – Nós teremos tempo.

Karen checou o celular, vendo que faltava apenas um minuto para o Natal. Os dois se acomodaram no chão com a finalidade de abrirem as sacolas e fazerem uma pequena ceia – o cheiro de comida estava maravilhoso –, e Karen logo olhou para cima, percebendo alguns pontos brancos no céu. Neve. Eles teriam um Natal branco naquele ano, o que automaticamente tornava o momento mágico em um verdadeiro conto de fadas.

Esticando o braço ao redor dos ombros de Matt, Karen sussurrou:

— Feliz Natal, Matt.

— Feliz Natal, Karen. – Respondeu ele, beijando o topo de sua cabeça.

No dia de Natal daquele ano, havia apenas um lugar onde Karen Page ativamente desejava estar: no alto de um prédio em Nova York, e na companhia de Matt Murdock.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

O lance do Matt dizer para ele e a Karen colorirem o céu de vermelho e uma referência ao quadrinho Demolidor: Amarelo. Alguém aqui já leu as hqs de Demolidor e quer conversar comigo? Eu gosto muito dessas histórias :') queria conversar com mais fãs!

Eu não era muito chegada em ships em Demolidor, mas comecei a gostar MUITO dele com a Karen a partir da segunda temporada da série. Gostaria muito de ver (talvez na terceira temporada?) um pouco mais dos dois juntos. Inclusive o próprio Charlie Cox shippa os dois, acho isso muito fofo asuhasuha ♥

Bom, eu realmente espero que tenham gostado, e que essa fic tenha deixado o Natal de vocês um pouco mais feliz ♥ esses últimos dias eu ando um pouco ocupada com as correrias normais de final de ano, porém aos poucos vou responder os comentários (obrigada, Max, caso leia essa oneshot!!), e seguir postando as minhas fics; eu tenho muita coisa da Wanda e do Visão, mas, quem preferir Demolidor, estou com duas fics em andamento com o Matt: Perjúrio e Chiaroscuro :)

Um feliz Natal e muita luz para todos! Obrigada por tudo esse ano!! Recebam um abraço quentinho da Vanilla Sky ~ ♥ ~



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