Kilig escrita por pnsyparkinson


Capítulo 1
As borboletas


Notas iniciais do capítulo

Crepúsculo não me pertence.

Queria dizer que foi uma experiência incrível fazer parte desse projeto e me diverti muito escrevendo e vivenciando esses momentos do POSO com todas as crepusculetes.

Essa fanfic é dedicada a minha amiga oculta Pam ❤



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[ANTES DAS BORBOLETAS]

Nova York, a cidade que nunca dorme, naquela data em especial parecia ainda mais acesa.

"Um pouco mais para cá, senhorita Swan!"

"Sorria, Bella!"

"Ei, senhorita Swan, ainda irá trabalhar com Mike esse ano?"

"É verdade que ele te traiu com a dublê, Isabella?"

Isabella apenas endireitou a postura ao passar pelo tapete vermelho, acenando brevemente para alguns de seus fãs que esperavam ali, sem conseguir dedicar-lhes a atenção que desejava. Em seu encalço estava Angela, antiga amiga de escola e uma de suas agentes, empurrando suas costas para que andasse mais rápido. A coletiva de imprensa já tinha começado há alguns minutos e a queridinha de Hollywood havia se atrasado.

Alguns poderiam pensar ser por conta do trânsito incessante da cidade, mas a realidade era apenas uma: Bella não queria ir.

A cadeira vazia ao lados dos outros colegas de elenco parecia quase um aparelho de tortura. Sentou com a coluna ereta e soltou a respiração que estava prendendo, a voz de Angela e Jessica ecoando em sua cabeça como um maldito martelo batendo em um prego, falando que seu comportamento deveria ser exemplar, sem chiliques ou respostas grosseiras. Ser uma dama como a personagem de seu último filme, polida e gentil mesmo que os carniceiros queiram te comer viva.

Apesar de ser a intérprete de uma das principais personagens do filme, pouco era questionado sobre seu trabalho em cena. Os repórteres insistiam em invadir sua privacidade, tentando arrancar informações sobre sua vida pessoal e especulações sobre o término conturbado. Sentia-se sufocada naquele lugar, com aquelas pessoas e aqueles flashs quase a deixando cega. Os celulares e microfones apontados em sua direção como se ela fosse uma exibição, um ato circense. Eram tantas perguntas que não sabia por onde começar a responder, embaralhado seus próprios pensamentos enquanto era metralhada com questionamentos sobre a carreira do ex-namorado e colega de cena no filme recém lançado.

Mike já havia sido um grande amigo, mas agora os bons momentos ao lado dele não passavam de uma lembrança borrada em meio ao caos. Notou os olhares de compaixão que Jasper Hale lhe lançava, como se dissesse que sentia muito. Ele sim era um bom amigo e era incrível como Isabella se sentia calma ao redor dele. Era quase como se uma aura de tranquilidade o circulasse e expandisse para quem estivesse perto.

Cansada daquilo tudo ela se levantou, mas antes pegou o microfone disposto sobre a mesa e encarou a multidão faminta por alguma fofoca.

— No momento em que a minha carreira for o motivo das perguntas, me chamem. Não estou aqui para responder sobre a vida dos outros ou a minha própria, estou aqui para falar sobre o meu papel nesse filme e como foi gravá-lo - sua voz soava áspera e alta, quase uma ordem — Dane-se vocês e essa maldita coletiva!

A última coisa que ouviu antes de dar as costas após largar o microfone, foi o burburinho e a voz estridente de Jessica gritando seu nome. Estava ferrada e sabia disso, mas até mesmo ela tinha limites. E já havia os ultrapassado até demais.

Chamar um táxi naquela cidade não era uma tarefa fácil e sair escondida também não. Assim que pisou do lado de fora do hotel luxuoso em que acontecia o evento, os gritos recomeçaram. Tampou os olhos com uma das mãos enquanto seguia o caminho contrário ao daquelas pessoas, quase correndo pela rua movimentada, afim de passar despercebida. Suas mãos suavam e o sapato de salto machucava seus pés, mas nada era pior que a dor de cabeça que ameaçava chegar em poucos minutos. Quando avistou o carro amarelo estacionar próximo a calçada para que um casal entrasse, saiu correndo e empurrou os dois, se enfiando no carro após gritar um pedido de desculpas.

O taxista a olhava apreensivo, reconhecendo suas feições. Era quase impossível de não o fazer, levando em consideração que Bella estava com seu rosto em outdoors, ônibus, bancos de praça, paredes de estações de metrô e muros. Ela apenas apoiou a cabeça no estofado e passou o endereço, tentando não pensar no escândalo que seriam as redes sociais no dia seguinte.

—//—

Aquela havia sido uma das piores noites de sua vida, com certeza. O gosto amargo em sua boca denunciava as bebidas que havia consumido na escuridão de seu apartamento luxuoso, ao qual não conseguia chamar de casa. Naqueles momentos sentia falta de estar com a mãe ou com o pai, que moravam em Phoenix. A mesma música melancólica tocava há algumas horas, mas não era algo que a incomodava, já que a letra de You're Somebody Else de Flora Cash a fazia pensar em si mesma e no que tinha se tornado. Isabella já não era mais a garotinha que vivia com a cara enfiada em algum livro ou a desengonçada aluna de balé que não conseguia se equilibrar na barra de exercícios — mesmo ainda sendo um tanto quanto distraída. Sequer era a adolescente um tanto calada mas com um vasto círculo de amigos verdadeiros. 

Sua dose de auto depreciação chegou ao fim quando o interfone soou de forma incessante, fazendo com que a atriz levantasse sem a menor vontade do chão, deixando a taça de vinho tinto sobre a mesinha de centro. Fez uma careta ao dar de cara com seu reflexo no espelho que ia do teto até o chão, estava decadente. Novamente o barulho irritante do interfone a despertou e Bella correu até a porta, abrindo com uma carranca. 

— Deveria saber que era você, entra logo.

Jasper apenas revirou os olhos de forma teatral e passou pelo espaço aberto da porta branca, a puxando para um abraço desajeitado assim que sua amiga fechou a porta. Os dois haviam se conhecido há sete anos, quando ainda eram estrelas da Disney em uma série infanto-juvenil e desde então se tornaram grandes amigos. Passaram por inúmeras coisas juntos, de boatos estapafúrdios até manchetes audaciosas, mas sempre apoiando um ao outro. Era raro encontrar uma amizade tão forte quanto aquela no mundo dos famosos, mas Jasper Hale e Isabella Swan poderiam ser considerados uma exceção à regra. 

O homem loiro franziu a testa ao ver as garrafas e latinhas amontoadas no chão, em um julgamento silencioso que fora respondido com um dar de ombros. 

— Você prepara um café pra gente e eu limpo isso aqui, Bells. Quero conversar sobre algumas coisas e acho que vai ser importante se você souber primeiro, tudo bem? 

Swan acenou com a cabeça e passou a recolher o que havia deixado espalhado na noite anterior, calçando as pantufas de pelinho enquanto o ouvia xingar por ter derrubado uma colher na pia. Ela balançou a cabeça e riu baixinho, terminando sua tarefa a tempo de vê-lo conversar sozinho ao preparar as duas canecas grandes e cheias do líquido escuro e quente. Pigarreou para chamar a atenção de Jasper, escolhendo se sentar em uma das banquetas altas que ficavam dispostas junto a bancada de mármore escuro. 

— Certo, o que você quer falar? Sou uma mulher curiosa, sabe. 

— Ontem foi um desastre - foi o que ele respondeu — E não digo isso só por sua saída, Bells. Foi uma merda mesmo, ninguém falou algo realmente proveitoso e Mike talvez tenha dito ainda mais porcarias sobre o relacionamento de vocês dois quando soube que, de fato, você tinha ido embora. 

— ELE O QUE? - Bella disse de forma esganiçada, procurando o celular em um dos bolsos — Me devolve, Jasper! 

— Não, você não quer ver isso agora. Angela está tentando fazendo o controle de danos e Jessica está furiosa, soltando fogo pelas ventas. Confesso que eu ri um pouquinho da cara irritada dela, mas fugi antes de sofrer sua ira. Olha, ontem foi um tipo de divisor de águas para mim e queria te contar umas ideias que tive.

Bella ainda não sabia o que pensar. Queria realmente descobrir o que o ex idiota tinha espalhado? Deveria se preocupar com o que isso acarretaria para sua carreira? Sabia que ainda faltava um pouco para se consolidar, mesmo sendo uma das atrizes mais queridas pelo público na atualidade, a mídia ainda caía em cima. Em sua memória eram frescas as manchetes com títulos tendenciosos do tipo "A jovem prodígio da Disney e sua busca desesperada pelo sucesso." A verdade era que sentia um prazer enorme em atuar quando mais nova, participando de seriados legais com outros jovens legais, sem contato com a podridão de Hollywood e as pessoas querendo puxar seu tapete a cada passo. Sentia falta daquela sensação de frio na barriga a cada vez que o claquete batia e a cena começava a ser gravada, sentia saudade do calor e do carinho dos fãs, sentia saudade de si mesma. 

Aos dezoito anos ela nãos sabia nada, mas agora sabia demais e aos vinte e oito se via perdida em algo que já não fazia sentido. 

— Eu preciso de uma pausa - Bella disse após um período curto de silêncio, fazendo Jasper suspirar em concordância.

— Exatamente sobre isso que quero conversar, sua maldita leitora de mentes! Vou viajar para Forks amanhã e pretendo ficar por lá um período, me recarregando e sei lá, despoluindo disso tudo aqui. Ontem foi a gota d'água e percebi o quão desgraçada por ser essa vida de atuar o tempo todo, mesmo estando fora de cena. E se eu já estou de saco cheio, você deve estar muito mais. Sei que não conhece toda a minha família e nem minha cidade natal, mas seria legal ficar offline com você lá, Bella. 

— Tá falando sério mesmo? Sumir do mapa sem avisar a dupla dinâmica e ninguém? 

— Angela e Jess se viram sem a gente um tempo, o mais importante é conseguirmos nos encontrar outra vez e eu sinto falta de casa, dos meus pais e Alice. Estou te chamando já que somos melhores amigos e eu consigo ver por dentro dessa sua faixada de perfeição, sei que chegou no limite há algum tempo e acho que precisa respirar fora daqui, dessa cidade que parece consumir tudo e todos a cada hora. Forks não é grande mas é hospitaleira e todos são gentis, garanto que irá gostar. Além do mais, vai poder agir como uma garota normal e não como a estrela querida por todos. Topa? 

— Eu topo.

—//—

Fazer as malas com roupas de frio e alguns itens pessoais não demorou mais que duas horas devido a ajuda do amigo. Bella e Jasper haviam comprado as passagens de avião até Seattle e de lá pegariam o carro alugado, dirigindo até Forks. Seria eufemismo dizer que a mulher estava nervosa com aquela decisão, por alguns poucos minutos se sentiu a mesma garota impulsiva de antes, que corria de moto como se nada mais importasse apenas para encontrar um lugar bonito para ler em paz, que acampava com os amigos Leah e Jacob, que vivia intensamente de uma maneira saudável. Seu pai, xerife aposentado, havia livrado a cara dela de poucas e boas naquela época. 

Um suspiro saudoso escapou de seus lábios quando se virou para a janelinha do avião, observando o céu e as nuvens conforme subiam mais e mais. Não tinha medo de voos, mas ainda sim sentiu um friozinho na barriga antes de encaixar os fones nos ouvidos e imergir na música que tocava. As vezes Bella imaginava seu final feliz, mesmo não tendo esperanças de vivê-lo. Um dia, talvez, encontrasse seu verdadeiro propósito e conseguisse viver de forma plena como seus pais, sem relacionamentos fracassados, sem cobranças excessivas de pessoas que sequer a conheciam direito. Apenas ela e sua felicidade, em algum lugar longe de todo aquele alvoroço.

—//—

— Imaginou que fosse assim? - Hale perguntou enquanto dirigia pelas ruas da pacata cidade interiorana. Poucas pessoas estavam pela calçada, correndo para se esconder da chuva torrencial dentro das lojinhas e estabelecimentos — Se acostume com a chuva. 

Ela o olhou de soslaio e sorriu de maneira leve, pela primeira vez em um bom tempo sem o peso em seus ombros. Por mais incrível que parecesse, Bella gostava da chuva e do cheiro de terra molhada, do barulho das gotículas batendo no telhado e do céu parcialmente escuro. Se sentia abraçada pelos trovões, era seu momento favorito de leitura quando mais nova. 

— Minhas pesquisas me mostraram que era a cidade com mais índices de chuva - deu de ombros, despreocupada — E essa foi mais uma razão que me deixou feliz de ter escolhido vir. 

Ele batucou os dedos no volante conforme o ritmo da música animada que tocava na rádio e o assunto se encerrou ali, mas ao contrário do que parecia, o silêncio que se formou entre os dois não era estranho. Era um silêncio contemplativo e cúmplice, o possível recomeço que os dois queriam e ansiavam. 

Jasper estacionou em frente a um prédio antigo e saiu do carro com Bella espelhando seus movimentos. A fachada coberta parcialmente por trepadeiras com tons bonitos de verde e lilás chamaram a atenção da mulher, assim como os vasos de flor dispostos na calçada e na escadinha usada como estante. O aroma de café misturado com flores era detectável até mesmo daquela distância, que não era tão curta. Ele a chamou com a mão para que adentrassem o estabelecimento e foi o que ela fez, dispersa por estar observando com atenção a decoração.

— Meu Deus, não queria bater em você! 

— Merda - ela resmungou ao tropeçar contra alguém, que a segurou pelos ombros afim de mantê-la no lugar. 

Como se voltasse a órbita, Bella piscou algumas vezes ao encontrar o par de olhos dourados fixados em seu rosto. O sorriso brilhante que recebeu a fez engolir em seco, tentando se recompor. Ouviu brevemente o som de algo caindo no chão e agradeceu por não ter sido seu traseiro pelo menos aquela vez.

— Ótima maneira de chegar em uma cidade nova - ela resmungou, se desculpando logo em seguida — Estava distraída e não te vi, sinto muito. Não queria derrubar suas coisas no chão e quebrar alguma coisa, nossa eu sinto muito mesmo! Posso pagar pelos danos, vou te ajudar a juntar tudo e arrumar de novo... 

— Não foi sua culpa, eu quem não prestou atenção no caminho - a tranquilizou, estendendo a mão para tocar no antebraço da desconhecida — Me chamo Edward e você? 

— Isabella, mas prefiro Bella - se apresentou, respirando fundo ao olhar novamente o estrago que tinha feito — Olha Edward, desculpa pela bagunça. Cheguei agora de viagem com meu amigo e é tudo novo aqui, sabe? Minha cabeça está um caos e esperava encontrar paz aqui, mas já cheguei destruindo estabelecimentos alheios e falando pelos cotovelos, você pode me mandar calar a boca se quiser e eu juro que paro de falar. 

O tal Edward parecia estar se divertindo já que o sorrisinho não saía dos lábios dele, mas Bella estava realmente nervosa com aquela situação. 

— Fica tranquila, Bella - ele insistiu — Foram só dois vasos de planta e a contabilidade da semana, nada que não possa ser restaurado em um passe de mágica. 

— Amor, o que está acontecendo? - uma mulher loira e bonita perguntou, se aproximando dos dois — Ah, você deve ser a amiga do Jas. Prazer, Tanya- disse de forma amigável, estendendo sua mão — Ele está lá atrás com Alice e Esme, estranhou você estar demorando e pediu para eu checar.

Se pudesse cavar um buraco e se enfiar dentro, com toda a certeza Isabella o faria naquele exato momento. Talvez sumir como uma mosquinha, voando para longe dali o mais rápido possível. Seu sorriso vacilou um pouco quando viu a loira passar o braço pelo de Edward e se xingou mentalmente por aquilo. Havia conhecido o cara em uma péssima circunstância e ainda por cima se sentiu triste por ele ter alguém. 

"Acorda, Isabella! Você nem sabe nada sobre esse cara e já estava pensando em chamá-lo para jantar como forma de desculpas pelo incidente." 

— Eu meio que esbarrei no seu namorado e derrubei tudo aqui - sinalizou com a mão antes de coçar a nuca, mordendo o lábio — Não era minha intenção, mas me distraí olhando as glicínias e as rosas, então... Tropecei e cai por cima dele.

Tanya riu baixinho, cobrindo a boca com a mão livre. 

— Garanto que ele também não estava olhando o caminho - ela acenou como se não fosse nada demais — Deixa que a gente arruma isso, vai lá encontrar com Alice, ela está doida pra ver você de novo. E Esme quer te conhecer também, ela é quase uma mãe para todos nós. 

— Não vai ter mesmo problemas? - com um acenar positivo dos dois, Bella se despediu e passou a caminhar até a outra área da floricultura, onde percebeu ter uma cozinha grande.

Antes de passar pela porta ela virou a cabeça para olhá-lo uma última vez e percebeu que Edward havia tido a mesma ideia. Com as bochechas quentes e os ombros tensos, empurrou a porta, entrando no cômodo que cheirava a café recém passado e panquecas com frutas vermelhas. 

—//—

[DURANTE AS BORBOLETAS]

Estava conversando com Jacob e Leah em uma chamada de vídeo quando seu celular tocou, fazendo-a revirar os olhos. Desligou a ligação impertinente de Mike e voltou a tagarelar com os amigos sobre os últimos acontecimentos de sua vida. Estava em Forks havia quase dois meses e tudo parecia conspirar para que topasse com Edward Cullen em qualquer esquina. Jacob falava sobre contos de fadas e fios invisíveis, como se eles fossem predestinados a ficarem juntos e blá blá blá. Bella achava aquilo uma baboseira sem tamanho já que ele namorava uma mulher linda e simpática que havia se tornado uma ótima companhia quando ia tomar os cafés da manhã com as famosas panquecas com frutinhas de Esme, a mãe de Edward. 

Leah era mais pragmática e falava que a cidade era apenas pequena demais e que aqueles tipos de encontro eram inevitáveis, ainda mais por compartilharem um amigo em comum: Jasper. Que a propósito era cunhado de Edward. 

— Jacob, não adianta você falar esse tipo de coisa agora! Se ele fosse solteiro eu até poderia acreditar, existe uma parte pequenininha minha que acredita em felizes para sempre ainda - suspirou, olhando para a tela do computador — Mas não sou esse tipo de pessoa, então ele está fora dos meus limites até segunda ordem. 

— E você vai voltar a se afundar em auto piedade por conta disso? Ah não, Isabella, você vai aproveitar seu tempo longe daquelas bruxas que chama de agentes e daquele pé no saco do Mike, que depois de falar várias merdas sobre você ainda acha que tem o direito de te ligar e exigir alguma coisa - a voz de Leah preencheu a sala da casa através dos autofalantes, com Jacob ao fundo concordando — Queremos apenas o seu bem e ter ido até essa cidadezinha no meio do nada com cruzamento em lugar nenhum tem te feito ficar mais feliz. Até consigo enxergar a mesma Bella que corria com a gente e mergulhava em cachoeiras. 

— E além disso tudo que a Lee disse, você está longe dos holofotes que começaram a te perturbar. Acredita que estão fazendo teorias sobre qual lugar do mundo você se enfiou? Tem até gente falando que você e Jasper estão tendo um caso - ele riu quando a careta no rosto de Swan se aprofundou — Um bando de idiotas, se quer saber. 

Bella mexeu na borda da caneca e se deixou rir baixinho. Havia feito um acordo com Jasper assim que embarcaram no avião e desde então ficaram sem usar as redes sociais para publicar nada, nenhum sinal de fumaça ou pista. Era realmente uma viagem detox. 

Mudaram de assunto e passaram a conversar sobre o novo emprego de Jacob e mais algumas outras coisas, rindo ocasionalmente. Ela já estava na segunda caneca de chocolate quente quando ouviu batidas na porta, a fazendo levantar o dedo para a webcam, como se pedisse um segundo. Não estava esperando ninguém. Olhou no relógio e franziu a testa, oito horas da noite e tinha alguém batendo em sua casa. 

— Oi - ela disse ao aparecer na porta, percebendo ser ele parado ali. Olhou para os pés cobertos pelas meias listradas e para o pijama azul e deu um sorriso amarelo — O que faz aqui?

Edward usava um casaco grosso e cinza, as mãos dentro dos bolsos e um sorriso grande no rosto quase esculpido por anjos. Não imaginava a razão dele estar ali, mas quis bater em si mesma por soar tão grosseira. Abriu espaço para que ele entrasse em sua casa já que a rua estava fria e o vento parecia chicotear seu rosto. Fechou os olhos quando ele passou ao seu lado, o perfume amadeirado inebriando seus sentidos por alguns segundos. 

— Não quis aparecer assim do nada, só estava passando e pensei "acho que vou ir visitar a Bella" e cá estou - ele sorriu aquele sorriso e Isabella engoliu em seco, mordiscando brevemente o lábio de maneira nervosa — Tô atrapalhando? 

Cullen perguntou ao ouvir vozes baixinhas sussurrando. 

— NÃO - ela respondeu e arregalou os olhos, passando as palmas suadas na calça de pijama — São só meus amigos de Phoenix, é uma vídeo chamada para atualizações. A gente sempre faz pelo menos uma vez ao mês, antes era de forma presencial mas como estou no meu tempo sabático foi online. É bem divertido, sabe? Jacob e Leah são maravilhosos, sou filha única mas eles dois são quase meus irmãos. Jacob é filho do melhor amigo do meu pai e Leah é prima dele então consequentemente nos conhecemos ainda crianças. A gente brincava de castelinho de areia na praia quando crianças e... - ela se calou e continuou olhando para ele — Eu tagarelei, não foi?

O homem deu de ombros.

— Gosto de ver você falando tanto assim, mostra que de alguma forma te deixo confortável ou nervosa. Queria saber qual dos dois...

— Edward! - ela reclamou, soltando uma risada — É só uma mania boba, quando vejo estou falando e falando, sem dar espaço para mais ninguém. Tive que parar quando cresci no meu emprego, as vezes me sentia pressionada a falar muito menos ou ficar calada mesmo. É a vida adulta, né?

— Sei que você trabalha com Jas, então deve ser atriz ou algo do tipo, mas não é justo fazerem isso com alguém tão brilhante. Nunca te vi atuando, Bella, mas digo que você é brilhante por ser tão... você. Desde que esbarrou em mim na floricultura percebi que tinha algo especial no seu olhar. Castanho sempre foi minha cor favorita.

— Você tá mentindo - ela disse sem jeito, revirando os olhos para disfarçar o incômodo — Obrigada mesmo assim. 

— Disponha - Edward fez uma breve reverência e a ouviu rir mais, satisfeito por causar aquelas reações — Está tomando chocolate quente? 

— Como você sabe? - estreitou os olhos — Pelo cheiro?

— Na verdade não, pelo bigode de merengue na sua boca - apontou para o cantinho esquerdo — Bem aqui. 

A mulher começou a limpar freneticamente o rosto e o ouviu gargalhar. Se sentiu uma boba por parar o que estava fazendo apenas para observá-lo se curvar de tanto rir, divertido e sincero. Novamente se pegou pensando em coisas que não devia e reparando em detalhes que apenas a deixariam ainda mais encrencada. A maneira como as ruguinhas se formavam quando ele sorria daquele jeito, o cabelo sempre bem arrumado e o brilho bonito nos olhos. O sorriso de lado que a deixava completamente desestabilizada. 

— Era brincadeira, Bells - ele disse após se recuperar do ataque de risos — Eu vi a caneca ali em cima e os marshmallows do lado. Sua cara foi divertida, vou lembrar de provocar você assim mais vezes.

— Ha ha ha, senhor engraçadão - respondeu. 

O celular dela vibrou em cima da mesa de centro quando se aproximaram, com o nome Mike brilhando na tela. Edward olhou de soslaio e murchou um pouco, mesmo sabendo que não deveria. A viu rejeitar a chamada e digitar freneticamente no aparelho, queria saber o que. 

— Meus amigos desligaram a chamada assim que ouviram nós dois conversando.

Aquilo despertou o interesse dele. Tinha esquecido da chamada em que ela estava e no momento se sentiu um pouco culpado, já que havia aparecido de paraquedas na casa dela tarde da noite e atrapalhado algo importante. Abriu a boca para falar alguma coisa mas foi interrompido por ela, que levantou o dedo indicador.

— Antes que você fale algo, tá tudo bem. Nós vamos fazer outra amanhã e eles não ficaram magoados, na verdade ficaram feliz por ser você já que falei bastante sobre a sua família e como vocês são legais comigo aqui. 

— Isso me deixa mais tranquilo. 

— Você quer chocolate quente? Podemos assistir alguma coisa, sei lá.

— Eu adoraria, Bella.

Edward havia ido embora meia noite após chocolate quente, pizza e episódios repetidos de Teen Wolf regados a conversas sobre tudo e nada. Seria mentira dizer que não haviam se divertido na companhia um do outro e se conhecido ainda mais. Haviam falado sobre os medos e os receios, as expectativas, os sonhos para o futuro e coisas do tipo. Conversaram também sobre suas famílias e relacionamentos, o que deixou Bella um pouco desconfortável, mesmo que fingisse muito bem — fazia parte do trabalho. Com uma promessa de se encontrarem para o café da manhã ele se despediu, deixando um beijo na bochecha dela antes de virar as costas e sumir pela rua. 

—//—

Mais  dois meses haviam se passado e eles estreitaram ainda mais os laços. Estava cada vez pior e Bella sentia que iria explodir a qualquer instante. Seu coração parecia querer saltar pela boca sempre que o via e a culpa a corroía por dentro quando Tanya estava perto, sempre sorrindo e a tratando bem. Já havia chorado o que podia por conta daquela situação, mas para o seu azar, aquele era o tipo de sentimento que não podia controlar mesmo que desejasse. Por mais que tentasse esconder, Alice e Rosalie já haviam falado que estava um pouco óbvio e que era recíproco, o que a deixou ainda mais entristecida. De todos os planos que tinha feito naqueles meses em Forks, destruir um relacionamento aparentemente saudável e feliz não estava na lista.

Se Tanya sabia, não demonstrava nada. 

Durante o período que se alojou na pequena cidade havia se sentido em casa de uma forma que há muito não sentia. A vida ali era mais simples do que em Nova York, sem todo aquele fervor da cidade caótica, sem todas as luzes que pareciam ofuscar as coisas boas. Forks estava aos poucos se tornando seu lar, assim como os Cullen-Hale sua família. Emmett e Rosalie estavam sempre a chamando para jantar, Alice e Jasper viviam em sua casa para tardes de filme, Esme e Carlisle se tornaram seus pais temporários já que os dela estavam longe e Edward estava sempre presente nos cafés da manhã com panquecas fantásticas, nas chamadas de vídeo em grupo com Leah e Jacob, nas caminhadas pela trilha até a reserva, nos piqueniques de última hora e nas noites de cinema ao ar livre. 

Aquela estava se tornando sua realidade a cada dia que passava, aquela cidade e as pessoas que nela residiam e que fizeram morada também em seu peito. Renée e Charlie ficaram aliviados ao saber que sua menina tinha sido tão bem recebida pelos familiares de Jasper, que conheciam há longos anos e amavam como um filho. Bella já não pensava tanto no que havia deixado para trás quando se afastou do trabalho para cuidar de si mesma e do rumo que sua vida estava tomando, apenas se sentia mais e mais conectada consigo mesma, como se estivesse aos poucos restaurando sua essência. Era bom e a fazia feliz, mesmo com as ligações, mensagens e e-mails do ex namorado e os contratos para analisar que Jessica havia enviado para sua nova caixa postal.

Sabia que em algum momento precisaria retornar para sua outra vida, caótica e com luxos desnecessários para alguém como ela. Ajeitou sua posição na cadeira macia e estofada que deixava virada para a janela e continuou a leitura de um de seus romances favoritos, aproveitando a sensação reconfortante e o chocolate quente em sua caneca. Viveria seu pequeno sonho particular o quanto durasse, pensando em um príncipe que não teria e uma realidade que não lhe pertencia de forma definitiva. 

—//—

   [DEPOIS DAS BORBOLETAS]

A viagem de natal até a casa dos pais em Phoenix fez com que o nome Isabella Swan voltasse ao auge das especulações, todos querendo tirar uma casquinha da atriz enquanto ela caminhava pelo aeroporto onde desembarcou. Ela acenou para os paparazzi, bem mais tranquila do que quando saiu de Nova York, após ter discutido na coletiva de imprensa. Se encontrou com o motorista particular e o cumprimentou com um abraço, havia sentido saudades de Aro e seus conselhos sábios. Contou sobre tudo que estava acontecendo ao seu redor e o homem mais velho ouviu pacientemente, sorrindo pelo retrovisor do SUV. 

O caminho até a residência dos pais Swan foi mais tranquilo do que ela imaginou que seria e receber o abraço apertado deles depois de tanto tempo encheu seus olhos de lágrima, assim como os de Renée, que chorou de saudade nos braços da única filha. Charlie as abraçou com carinho e foram para dentro, onde Leah, Jacob e outros amigos esperavam junto da ceia e dos presentes. Aquele foi um natal especial e talvez um dos melhores que ela havia passado, mas em um momento da noite após uma taça e outra de champanhe, sentiu falta de Forks e das pessoas que ficaram lá. 

— Você parece pensativa, querida - a voz de Charlie despertou Bella dos pensamentos, a fazendo sorrir e deitar a cabeça no ombro do pai, que a abraçou — O que tanto passa nessa sua cabecinha? Tem algo a ver com aquele rapaz Cullen? 

— Pai... - ela disse baixo, fechando os olhos — Um pouco sim, outro pouco também. 

— Já contei a história de como quase deixei sua mãe escapar? - indagou curioso, a vendo se afastar para prestar atenção — Existem coisas que acontecem e não podemos impedir, isso é verdade. As vezes conhecemos pessoas ao longo da nossa vida e elas parecem ser o que sempre esperamos e até mesmo mais. Como se fosse aquela peça do quebra-cabeças que nós somos e estava faltando. É assim que você se sente com esse rapaz? 

Com um suspiro ela concordou.

— Foi assim que me senti com sua mãe, Bella. E quase a perdi por ser um cego - brincou, segurando a armação do óculos — Quando nos reencontramos ela estava em um relacionamento com Phill e na época fiquei me perguntando o que teria acontecido se fosse eu no lugar dele. Filha, sei que não quer se meter em algo que talvez não vá para frente e tem medo de estragar as coisas, mas ser sincera é a melhor opção. Não só com você, mas com Edward também. E a namorada desse rapaz também merece saber se o que você está sentindo aí dentro é recíproco da parte dele, não acha? 

— Talvez, Charlie. Não vou concordar para não encher sua bola, seu metido - empurrou levemente o ombro do pai, que riu — Quando voltar para Forks será a primeira coisa que irei fazer, prometo ao senhor.

— Querida, não é a mim que você deve prometer algo. 

—//—

A celebração tinha terminado e os últimos convidados já estavam de saída quando Bella voltou para o quarto que ainda mantinha na casa dos pais, deitando na cama com os olhos fechados e o antebraço sobre a testa. Seu momento reflexivo foi interrompido pelo som de notificação do celular, avisando a chegada de novas mensagens. Desbloqueou o aparelho e sorriu sozinha. 

"Vou ligar para você"

Foi o que ela leu na mensagem que recebeu, fazendo-lhe suspirar.

"Estou com saudades da sua voz"

Foi naquele momento que ela soube: estava mesmo perdida. Totalmente e irrevogavelmente caída por Edward Cullen.

—//—

A cidade continuava fria e úmida como ela se lembrava. Quando retornou fez questão de passar nos comércios que frequentava sempre, como a cafeteria e a praça onde jogava xadrez com alguns idosos. Todos a receberam de braços abertos e com sorrisos felizes no rosto, especialmente os donos da Hiraeth - Flores e café. Alice soltou um gritinho e Emmett girou Bella nos braços, comemorando sua volta. Seu sorriso vacilou quando Edward saiu de dentro da cozinha, a olhando de forma séria. 

Esme logo atrás dele com a expressão de quem sabia muito, como se guardasse um segredo importante. A puxou para um abraço maternal e sussurrou em seu ouvido o quão feliz estava por seu retorno, que havia sentido falta da filha adotiva e havia preparado uma fornada de biscoitos e outros quitutes para o café da tarde. 

— Você não vai me dizer oi? - perguntou ao parar em frente à Edward, que tentou manter a pose séria mas falhou ao puxá-la para um abraço apertado — Senti sua falta.

— Também senti sua falta, Bella - respondeu, bejando a testa da mulher ao se afastarem — Mamãe quase nos deixou loucos falando de você e mostrando as fotos em família que mandou para ela. 

Ela riu, ajeitando o cabelo.

— Pensei em te enviar algo também, mas não quis ser invasiva ou coisa parecida. Tanya podia achar ruim, né? Se a gente parar para pensar eu sou meio que uma desconhecida que apareceu na sua vida e não quis deixar nada estranho em você e ela. 

Antes que pudesse ouvir uma resposta, Rosalie a chamou para conversar e puxou pela mão, carregando-a para longe de Edward. Bella notou que as coisas pareciam diferentes entre eles dois, mas não soube identificar a razão. Sentiu medo de ter feito ou falado algo que o deixou magoado ou irritado, já que era fã de enfiar os pés pelas mãos em ocasiões de nervosismo. Percebeu também a ausência de Denali, que antes estava sempre por ali.  

—//—

Piscou com a claridade adentrando a janela do quarto e resmungou, afundando o rosto no travesseiro. Ainda se sentia cansada da viagem mesmo tendo passado dois dias. Naquele meio tempo não procurou Edward e ele também o fez, o que só a deixou com ainda mais certeza de que havia feito algo. Saiu da cama e fez sua higiene matinal, pegando o ipad para ler as notícias enquanto tomava café em sua casa, não querendo encontrar com Cullen caso fosse na floricultura.  

Sua testa franziu quando viu o nome de Mike em um artigo, não deu atenção e passou o dedo pela tela, procurando algo mais interessante. Ele não tinha mais procurado Isabella e ela se sentia aliviada por aquilo, já que em sua nova fase não havia espaço para ele e seu ego maldito. Queria colocar os pingos nos is com ele um dia, mas não era algo tão urgente. Conseguiria viver sem ver o rosto fingido dele por algum tempo. 

Duas batidas em sua porta a fizeram sobressaltar, ajeitando os cabelos enquanto quase caía ao correr até a porta, na esperança de ser...

Mike.

Na sua porta.

— O que faz aqui, Newton? - ela disse tentando manter a calma, mas seu rosto não estava nada convidativo — Sério, Mike, como você me achou? 

— Jessie me disse onde você estava e eu peguei um vôo para cá, a gente precisa conversar.

— Não, a gente não precisa nada. A gente deixou de precisar qualquer coisa no momento em que você abriu a boca para falar merda de mim e do que a gente teve, Mike. Será que você não percebe? 

— Sei que errei, Bells.

— Não me chame assim, por favor. 

— Desculpa, Bella... Eu não quis magoar você, eu e Jane foi só um lance casual. Ela me seduziu e eu não pude resistir, eu sou homem e tenho necessidades.

— Agora eu quero que você vá embora e esqueça que estou aqui, não preciso de suas explicações ridículas e muito menos te ouvir culpando apenas Jane por algo que fez juntamente dela. Seu babaca machista!

Ela riu com escárnio, batendo a porta na cara de Newton sem qualquer dó. 

Novas batidas na porta a fizeram abrir a porta com raiva, gritando xingamentos.

— Bati em má hora? - Edward perguntou assustado, com as mãos levantadas em rendição.

— Meu deus, Edward! Me desculpa - ela pediu, escondendo o rosto nas mãos — Que droga, não era pra você! Nunca seria, é que meu ex namorado me encontrou aqui e veio importunar, aquele desgraçado. 

— Te faço um chá e você me conta essa história - a empurrou levemente para dentro após tirar as mãos dela do rosto, as segurando entre as suas — Podemos xingar ele juntos, vai ser libertador.

Ela soltou a respiração que prendia e riu, o acompanhando até a cozinha.

—//—

De todas as coisas que poderiam acontecer, novamente, ela não imaginou aquela situação. Mike havia insistido mais uma vez em conversar com ela e para que ele não enchesse mais sua paciência, aceitou. Mas aquele tipo de comportamento baixo ela não esperava nem de seu pior inimigo, se tivesse algum. Os flashs pareciam tê-la travado no lugar, como se um flashback bizarro passasse diante de seus olhos. 

Mike Newton estava sentado em uma mesa de coletiva, com repórteres de diversos veículos de mídia esperando pacientemente por ela: a atração do dia. Ele havia levado toda aquela gente até Forks, onde ela estava, para tentar alavancar seu próprio nome a usando novamente, mas dessa vez em algo completamente por baixo dos panos.

Havia marcado de encontrá-lo no museu da cidade, que era um lugar amplo onde poderiam conversar sem que alguém de fato prestasse atenção em seus movimentos. Bem, fora isso que Mike disse na ligação, mas a realidade era outra e ele tinha optado por aquele lugar única e exclusivamente por poder acomodar jornalistas e fazer seu plano maquiavélico dar certo. 

— Bells, minha querida - ele disse no microfone — Amor, venha! Vamos contar sobre nosso relacionamento e como conseguimos reestruturar nossas vidas aqui em Forks, voltando a ser o casal que sempre fomos. 

A enxurrada de perguntas a trouxe de volta para a realidade e seu sangue passou a ferver nas veias. Como ele ousava fazer aquilo após Isabella ter o expulsado? 

— Venha, amor. Sua cadeira está aqui do meu...

— Cala a sua boca, só cala a boca - ela rosnou, parada no meio do corredor onde as cadeiras não alcançavam — Você armou esse circo só por eu ter te dispensado de novo, Mike? Você é o que, seu idiota? 

Naquele momento sentiu os flashs em seu rosto e os celular em sua direção, mas não se importou. Se fosse manchar de vez sua carreira, que fosse despejando tudo que havia guardado sobre ele ao longo dos anos. 

— Você acha que tem o direito de falar assim comigo depois de ter me traído a cada porcaria de filme que a gente fez juntos e separados? Acha que pode pensar em mim depois de ter destruído a minha cabeça e o meu coração, me fazendo duvidar de quem era e do que sou capaz? Acha? Está enganado, Mike. Chega, não vou mais te ouvir e deixar que mande no que faço e em quem sou, seu babaca! 

— Bella, por favor - ele disse ainda sorrindo, abanando a mão para que ela ficasse quieta — Você bebeu, querida? Sempre fala demais quando...

— CHEGA! - ela gritou — Até isso você dizia que era errado, como sentia vergonha de mim e da forma como eu agia, sempre falando e falando e falando. Suas palavras me machucaram mais que qualquer coisa, mas eu já superei isso e eu superei a sua existência medíocre. Chega, você pode pegar suas desculpas esfarrapadas e enfiar onde bem entender, eu não ligo pra elas e pra você. Se mencionar meu nome ou inventar coisas sobre mim, meus advogados irão te encontrar.

Assim que se virou para sair, encontrou Edward a encarando com surpresa estampada no rosto. Ele estendeu a mão e sorriu a puxando consigo e os dois correram daquele museu como duas crianças que haviam aprontado algo, sem se importar com mais ninguém ou com algo que pudessem inventar sobre os dois. A única coisa que Bella sentia naquele momento era a liberdade e o calor da palma de Cullen contra a sua.

—//—

— Quando eu vi o que Jasper me mostrou, tive que correr até lá - ele explicou, respirando fundo — Não podia te deixar sozinha naquele momento, mas percebi que você sabe se virar sozinha e pelo visto muito bem, senhorita Swan.

Bella riu e deitou na grama da clareira onde ele havia lhe levado, aproveitando aquele momento de paz depois da turbulência. Depois que saíram da coletiva feito por Mike, vagaram sem rumo pela pequena cidade na picape de Edward e então ele lhe mostrou aquele lugar. Era ali o seu pequeno segredo, onde ia para pensar e espairecer. Os dedos da mulher tocavam a grama e os dentes de leão que nasciam ali, a fazendo sorrir. 

— Nunca pensei que ele fosse capaz daquilo, mas acho que precisava de algo assim para conseguir cortar o vínculo de vez. 

— E ainda ficou tudo gravado - Edward disse divertido — Assim ele não esquece.

— E nem eu. 

Ela virou o rosto para observá-lo, banhado pelo sol, brilhando como um diamante. O sorriso que recebeu a fez suspirar audivelmente, a palma largando a grama apenas para repousar sobre a bochecha com a barba por fazer. Edward era todo bonito.

— Tanya e eu terminamos - ele disse, quebrando o silêncio — Ainda somos amigos, mas ela disse que meu coração já não lhe pertencia mais e não era justo me prender em algo, quando eu só tinha olhos para você, Bella.

— Isso é sério? 

Ele acenou com a cabeça, sem conseguir tirar os olhos do rosto dela. 

— Inclusive ela disse que precisamos visitar sua casa no Alasca - riu nasalado, vendo Swan franzir os lábios — Tanya, antes de qualquer coisa, era minha melhor amiga. Acho que nosso relacionamento era mais amigável do que qualquer outra coisa e ela me quer feliz, assim como a quero feliz. E minha felicidade é você.

— Edward, eu... - ela fechou os olhos para reunir coragem, sentindo dois pequenos beijos em suas pálpebras — Você não saiu da minha cabeça desde que nos conhecemos e isso me pegou de jeito. Não queria estragar sua vida mas foi tão natural e quando percebi, você já povoava meus pensamentos e foi como se algumas coisas finalmente fizessem sentido para mim. Meu pai me disse para ser sincera e é o que estou sendo agora, aprendi a gostar de cada pedacinho seu nesse tempo em que nos conhecemos e nos tornamos amigos. Talvez gostar seja uma palavra fraca para o que sinto, mas você entendeu.

— Eu entendi, Bells. E é recíproco. Senti coisas com você que não imaginei sentir por mais ninguém. Isabella, você virou minha vida de cabeça para baixo em poucos meses e foi de uma forma tão, mas tão boa. Você me enfeitiçou e seu perfume ficou gravado em mim como o aroma de uma rosa vermelha. 

— Fiquei com medo de estar alucinando - disse com um sorriso — Você parecia tão feliz com Tanya, não queria tirar isso de você falando meus sentimentos. Ou então arruinar nossa amizade. Mas era difícil ver vocês juntos e pensar que poderia ser eu ali, segurando a sua mão e beijando seus lábios. Não queria incendiar as coisas com a centelha do que sentia, mas chegou uma hora que ficou insuportável. 

Edward tirou do bolso um pequeno cordão com uma rosa e mostrou para ela, que olhou sem entender.

— Eu comprei essa rosa para você, Isabella - citou a canção de Shawn Mendes, sabendo que aquele era o cantor favorito dela — Você vai deixá-la crescer ou vai deixá-la morrer?

Com os olhos marejados, ela o puxou pelo pescoço e uniu suas bocas em um beijo carinhoso. O primeiro de muitos que pretendia trocar com Edward Cullen em toda a sua vida. Seus corações batendo no mesmo ritmo frenético e as mãos acariciando a pele macia dele, feliz por aquele momento e aquela declaração. 

Se separaram quando o ar foi necessário, mas continuaram com as testas coladas. Bella o olhou nos olhos e disse:

— Eu vou deixá-la viver e brotar, se tornando um jardim tão lindo quanto seus olhos ou o seu sorriso. 

Se você ficar, eu não preciso do paraíso— Cullen disse com carinho, beijando a pontinha do nariz dela.

— Eu não vou a lugar algum.


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