Take a Chance escrita por Ela Masen Cullen


Capítulo 1
Capítulo 1




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A luz vermelha do relógio em cima da mesa da cabeceira era a única coisa que iluminava o quarto completamente escuro. Eu não tinha ideia de que horas o relógio sinalizava e já tinha perdido a noção de quanto tempo eu estava deitada encolhida no meio da minha cama.

Como tudo tinha chegado a esse ponto? Era uma das perguntas que eu me pegava tentando responder enquanto abraçava meu corpo em uma tentativa de me manter inteira. Chorando porque meu namorado não conseguia me amar de volta.

....

Alguns meses antes

Já tinha perdido a conta de quantos copos de cerveja já tinha consumido na noite, na minha cabeça estava tudo certo, eu merecia. Depois do dia, ou melhor do mês que eu tive o álcool era a minha melhor distração. Olhei para o meu copo e vi que o líquido que estava ali 20 segundos atrás já tinha sumido, franzi a testa sem entender qual tinha sido a mágica e fui em direção ao bar pegar o meu refil.

Você deve estar se perguntando o que aconteceu comigo para me arriscar a uma ressaca feia, né? Mas já vou logo avisando que a lista de desastres é longa. Para começar, há um mês a minha irmã mais nova se casou com o seu namorado da adolescência, Emmett em menos de e tudo que a minha família sabe comentar é como eles achavam que eu já estaria casada e com filhos a essa altura. Queria poder dizer que não ligo para esses comentários, que além de sexistas são totalmente ultrapassados, mas com a minha mãe no meu pé toda semana tentando me casar com algum morador de Forks me fazia desejar encontrar alguém antes que ela me enlouquecesse.

Então eu tive uma ideia incrível (por favor, note o sarcasmo aqui), depois de ouvir de alguns colegas do trabalho falando sobre um tal de Tinder e criei um perfil no aplicativo de relacionamentos. Minhas amigas eram as piores pessoas para me apresentarem alguém, então por que não confiar na tecnologia? Voltei para casa naquele dia e após uma taça de vinho lá estava eu. Só não sabia que mesmo com a coragem liquida que o vinho tinha me dado ainda ficaria nervosa em criar um bendito perfil. Com os meus 27 anos só tinha tido 2 namorados sérios, um no ensino médio e outro no final da faculdade e casos de uma noite só não eram algo que eu buscava e o medo de só encontrar alguém disposto a apenas sexo foi o que me fez baixar e desinstalar o app mais de 5 vezes em menos de 15 minutos. Agora o desafio era criar a bendita bio, já tinha pensado em deixar sem nada, em fazer alguma referência a minha série favorita, citação de livro ou deixar claro meu posicionamento político (muito importante nos últimos anos). Como fazer caber um resumo seu em poucos caracteres quando você vive mudando e se autodescobrindo?

Por incrível que pareça escolher as fotos foi a parte mais fácil. Usei algumas tiradas na festa da Leah, uma das minhas melhores amigas e que segundo ela, eu tinha ficado muito gostosa nas fotos. Coloquei também uma com o cachorro dos meus pais e uma lendo no parque.  

Comecei a passar imagens de pessoas desconhecidas e aleatórias para o lado enquanto não tentava pensar em como essa situação era estranha, desconfortável, mas aos poucos fui me sentindo mais à vontade para distribuir alguns likes aqui e ali.

Nenhum match foi dado naquela noite e sai do aplicativo antes que começasse a ficar obcecada.

Peguei meu livro e fui ler enquanto o sono não surgia, tentando não colocar muita expectativa ao mesmo tempo que já ensaiava as possíveis conversas que poderia ter com as pessoas que dei like, criando cenários em minha mente. Até hoje é difícil me acostumar com a forma que a minha cabeça funciona. Quando percebi que já tinha lido a mesma frase 5 vezes, resolvi apagar meu abajur e dormir.

Dois dias depois e sem nenhum match já estava pensando em desistir quando de repente meu celular vibrou com a notificação de que um tal de Riley tinha me curtido de volta. Abri o seu perfil para me lembrar do porquê tinha deslizado seu perfil para o lado.

Riley, 26 anos

Online há 26 minutos

Mora em/no Seattle, WA

12 km de distância

No pain no gain

Hm, acho que deve ter sido uns do que eu dei like sem querer, ele totalmente não fazia meu estilo, mas não custava nada tentar ser uma pessoa mais aberta. Voltei para a aba do chat e vi que ele tinha me mandado um GIF de um gatinho dando oi.

Passamos os próximos dias conversando por mensagens e ele parecia ser um cara legal, apesar de ficar falando demais sobre seus músculos. Combinamos de sair para jantar na quinta-feira.

Escolhi um vestido longo e fofo junto a um par de sandálias não muito altas. Mantive a minha maquiagem o mais simples possível, até porque se tentasse algo além daquilo seria um desastre, uma vez que nada além de um rímel, blush e gloss pareciam dar certo na minha mão.

Agarrei minha bolsa e avisei para Leah que estava saindo de casa. Tinha mandado todas as informações do encontro para ela porque cuidado nunca é pouco. Mal sabia eu que era melhor nem ter saído.

Cheguei em casa duas horas depois convencida a deletar o aplicativo do meu celular. Aquilo definitivamente não era para mim e se todos os encontros que tivesse com alguém que dei match fossem um pouco parecidos com o que tinha acabado de ter eu preferia ficar sozinha. Quer dizer, preferir era uma palavra muito forte, mas eu rezava para que aquele não fosse meu destino.

Assim que cheguei no restaurante o Riley já estava me esperando na mesa.

— Você parecia ser mais magra pelas fotos – soltou logo depois de nos cumprimentarmos e se sentar de volta na mesa. Fiquei um tempo o encarando esperando que ele risse e dissesse que tinha sido uma piada, mas isso nunca aconteceu e logo o nosso garçom chegou para nos trazer o menu. Tentei não pensar muito no seu comentário rude, geralmente não tenho problemas com o meu corpo, mas ouvir uma dessas do nada fez com que eu me perguntasse se não era hora de subir na balança de novo.

Daí por diante o resto da noite só pareceu piorar. Riley tentou segurar minha coxa duas vezes 7por baixo da mesa e depois do meu não mais firme quando ele tentou uma terceira vez decidiu se concentrar em flertar com algumas das garçonetes. E como se não bastasse ele fez o pedido do meu prato sem me consultar antes.

— Para ela apenas uma salada e água com gás, por favor – Ainda teve a coragem de me dizer que eu o agradeceria depois pela ajuda com a dieta enquanto devorava o seu prato de filé mignon ao molho madeira.

Até agora não sei o que me prendeu naquela cadeira, talvez foi o choque de não ter conseguido sacar que esse cara era um babaca logo de início.

Comi minha salada enquanto ouvia o idiota em questão falar sobre o quanto a sua ex era maluca e estava tentando fazer com que todos os seus amigos ficassem contra ele. Assenti com a cabeça, concordando com a coitada que teve o desprazer de namorar esse ridículo. Quando ele começou a reclamar do sexo dos dois decidi que já tinha sido muito para uma noite só. Deixei que Riley pagasse a conta, afinal foi ele quem pediu a salada. Meu segundo erro da noite – o primeiro tinha sido continuar nesse encontro depois dele sugerir que eu estava gorda -, já que Riley acreditava que o fato de ter me pagado o jantar significava que eu precisava compensar ele de alguma forma, indo para a cama com ele. Essas foram as suas palavras, acredite.

Depois de dispensa-lo com um “não, obrigado e até nunca mais”, segui meu caminho para casa.

Depois de ligar para Leah e contar tudo sobre o encontro desastroso enquanto acabava com uma garrafa de vinho fui convencida a não desistir do Tinder.

Comecei a falar com outro cara, um tal de Ben e combinamos de ir ver uma exposição de arte de um pintor que nós dois gostávamos. Apesar de Ben não ser nenhum pouco parecido com Riley estava mais do que claro que ele estava interessado em outra pessoa. No final da noite comentei isso com ele que logo se desculpou confessando que estava apaixonado por Angela, sua colega de trabalho, mais ela não parecia o notar. O aconselhei a tentar se abrir com ela e no final combinamos de tentarmos ser apenas amigos. Agora eu o sigo no Instagram e o marco em alguns vídeos de arte que encontro no TikTok. Há um dia ele me mandou mensagem dizendo que Angela tinha aceitado sair com ele.

Depois disso me convenci que o aplicativo realmente não era para mim.

Resolvi me concentrar no trabalho, eu trabalhava como Social Media em uma startup de tecnologia Seattle. Leah tinha escutado de alguém que tinha escutado de alguém que tinha escutado de outra pessoa que teria uma promoção para a área que eu trabalhava. Não queria parecer convencida mais eu dava o meu sangue há 5 anos naquele lugar e só deus sabia o inferno que passava na mão da Jane Volturi, minha chefe, enquanto sempre exibia um sorriso no rosto. Nunca faltei um dia sequer e fazia mais horas extras do que tinha coragem de confessar. Por isso passei a semana inteira confiante de que finalmente poderia me mudar do apartamento minúsculo e quitar os débitos da faculdade que ainda sofria para pagar.

Quando Jane me chamou para sua sala no final do dia da sexta tratei de colocar o meu maior sorriso na cara, confiante de que minha hora finalmente tinha chegado.

— Oi Jane, você me chamou – entrei em sua sala e fiquei esperando-a terminar de digitar o que quer que fosse no seu celular.

— Ah, é você Bella. Tudo certo com os conteúdos da semana que vem?

— Sim, já deixei todos programados na ferramenta e agendei a captação dos materiais restantes.

— Ótimo – Jane colocou seu celular sob a mesa e após um longo suspiro me encarou. – Sabe, essa sua agilidade vai fazer muita falta.

Como assim falta? Será que ela tá falando da promoção? Apesar que Jane tem uma viagem programada no final da próxima semana, ela pode estar se referindo a isso.

— Sim, falta. Bella espero que você saiba o quanto você foi importante aqui e está sendo muito difícil para gente te deixar ir, mas entendemos o quanto isso é necessário para o seu crescimento.

— Jane, eu não estou entendendo. Me deixando ir para onde?

— Bella, você está sendo desligada da empresa.

Pera, isso não pode ser possível. Nada disso fazia sentido.

— Foi algo que eu fiz?

Jane se levantou e pegou sua bolsa.

— Não Bella, você sempre foi excelente, mas precisa buscar coisas novas para crescer.

— E eu não posso crescer aqui? Não tinha uma promoção?

— Promoção? Ah sim, o Dimitri vai assumir como novo Community Manager.

Jane falava e não conseguia acreditar que estava sendo mandada embora de um emprego que dediquei 5 anos da minha vida sem mais nem menos. E ainda com a desculpa fajuta que era para o meu crescimento.

— Espero que entenda que não é nada pessoal Bella. Agora será que você poderia arrumar a sua mesa? Precisamos dela vazia para Dimitri se instalar na segunda, você será um anjo se puder fazer isso.

Jane seguiu em direção a porta do seu escritório enquanto eu permanecia congelada no mesmo lugar. Era sério aquilo? Quando viu que eu ainda não tinha me movido ela seguiu e cochichou algo para o segurança, indicando com a cabeça o lugar onde eu ainda estava parada.

Totalmente entorpecida fui em direção a minha mesa e comecei a arrumar minhas coisas lutando contra o choro. Viajar para a minha cidade natal no final do mês seria um inferno.

Acabei encontrando Leah no caminho até o elevador, ela me olhou com as caixas na mão e me seguiu até a saída.

— O que tá acontecendo?

Quando as portas do elevador fecharam não aguentei mais segurar o choro.

— Eu fui demitida.

— O que?

Só consegui assentir com a cabeça, o choro sem deixar com que eu respondesse.

— Ok, vou pegar minha bolsa e você vai me contar essa conversa direito no New Moon.

Vinte minutos depois estávamos no New Moon, um dos nossos bares favoritos, minha cara ainda um pouco inchada de choro, enquanto eu tomava uma vodka com cranberry e Leah com a sua cerveja.

— Olha eu nunca confiei na Jane, mas não esperava uma dessas.

— O que eu vou fazer agora? Vou ter que voltar para Forks e aguentar a minha mãe querendo me arrumar um namorado e ainda sem emprego.

— Olha, eu não queria estar na sua pele agora. Por que você não leva o Jacob?

— Tá doida Leah? Em 5 minutos em Forks ele encontra algum cara e me larga lá.

— Bom, então esteja preparada para aguentar a sua mãe no seu pé tentando te juntar com qualquer cara solteiro.

Deu para entender agora o porquê eu estava enchendo a cara? Exausta com tudo que tinha acontecido nas últimas semanas peguei minha comanda e segui em direção ao bar pedir um novo drink quando percebi que o meu já tinha virado água. Gritei meu pedido para o bartender e fiquei encostada no balcão aguardando. Aproveitei para dar uma olhada geral no bar, que não estava muito cheio, talvez por ser uma quinta-feira a noite. Do meu lado tinha um cara sentado, ele parecia ser alto. Ele vestia um moletom preto com as mangas puxadas e um boné virado para trás. Bebia uma cerveja e parecia chateado com algo, ou ele só era uma pessoa séria. Com o álcool já fazendo efeito no meu sistema fui puxar conversa.

— Noite difícil também? – é não foi um dos meus melhores momentos tentando puxar assunto, mas devido ao nível de álcool que eu já tinha consumido, eu considerava que tinha me saído bem. Mesmo assim, o estranho sentado ao meu lado, que devido a luz escura do bar e o capuz na sua cabeça deixava impossível checar se ele era ruivo ou loiro, ou talvez os dois, apenas me encarou de cima a baixo e voltou seu olhar serio para o copo. Pelo visto alguém não estava tendo uma noite tão boa assim.

— Ok...

Espremi meus olhos tentando focar na sua figura, Leah e eu batíamos carteirinha no New Moon praticamente toda semana por ser do irmão dela, Eric. Então não era sempre que encontrávamos algum rosto desconhecido por ali.

— Nunca te vi antes, você é novo por aqui?

— É sério que você está tentando dar em cima de mim? Acho que é melhor você trocar essa bebida por água.

Minhas pernas tinham virado geleia no momento que ouvi sua voz, nem muito suave, nem muito grave, mais com certeza sexy. Ou talvez fosse a bebida, vai saber.

— Tatuagens não fazem meu estilo, só estava curiosa porque conheço praticamente todo mundo aqui nesse bar e nunca tinha te visto antes. – Mentira, tatuagens definitivamente faziam meu estilo e eu não podia parar de admirar os desenhos em preto que contornavam seus braços a mostra.

Ele soltou um longo suspiro e virou o corpo na minha direção.

— Me mudei há duas semanas para cá.

Foi tudo que ele se ofereceu a responder. Olhei de volta para o bar e vi que ainda não tinham preparado minha bebida.

— E você veio de onde? – me sentei no banco próximo ao dele.

— Você é bem curiosa assim sempre ou é só um efeito da bebida?

— Infelizmente eu sou assim sempre. E vou logo te avisando que desviar o assunto não vai mudar meu foco.

Ele deu outro longo suspiro, aparentemente ele gosta de respirar.

— Eu sou de Portland, vi para Seattle trabalhar no estúdio de tatuagem, depois de largar meu antigo emprego.

— O que você fazia antes?

— Era assistente em uma empresa. Pedi demissão tem 1 ano.

— Eu acabei de perder o meu emprego, esse é o motivo de eu estar aqui afogando minhas magoas. Isso e o fato de eu ter 27 anos e absolutamente nada na vida. Meu nome é Bella Swan a propósito, Isabella, mas todo mundo me chama de Bella.

Estendi minha mão em direção a ele. Depois de um longo momento encarando minha mão, ao ponto de eu quase desistir e abaixar, sua mão veio em direção a minha.

— Me chamo Edward. – Sua mão enorme encobriu a minha e no mesmo estante uma sensação de choques percorreu o meu corpo.

Ao que parecia os choques também tinham atingido Edward, que encarava minha mão como se fosse algo de outro mundo e logo a soltou.

— Só Edward?

— Você é uma completa estranha, por que deveria te dar meu sobrenome?

— Para que eu possa te stalkear no Facebook e Instagram... – respondi com o obvio. – Sabe essa é uma das melhores formas de investigar alguém.

— Mesmo que eu te desse meu sobrenome você não me acharia, não gosto de redes sociais.

— Você ta fugindo de alguém?

— Que?

— A nossa sociedade hoje se baseia principalmente na internet, é quase impossível você existir fora dela. A não ser que você seja um agente do FBI.

Edward me olhou prestes a soltar outro “que?”, mas me adiantei em responde-lo antes que as palavras deixassem sua boca.

— Sabe, minha amiga Leah uma vez namorou um cara que era agente do FBI e ele estava trabalhando em uma missão secreta. Leah não podia nem tirar uma foto com ele com medo que vazasse.

— Eu tenho certeza de que você não deveria estar comentando sobre isso.

— Ei, em nenhum momento eu te disse o nome do cara nem como ele parecia certo?

Edward voltou a beber sua cerveja enquanto eu me esticava para ver se já tinham terminado meu drink.

— Você conhece mais alguém por aqui?

— Não.

— Alguém em Portland?

— Eu não tenho muitos amigos.

— Por quê?

— Deus, você é curiosa demais, já te disseram isso?

— Sempre.

Eu já estava acostumada com as pessoas me achando intrometida demais.

— Ninguém nos conta como é difícil conseguir amigos depois que a gente cresce e quando eu era criança não era muito social.

— Olha sinto muito em te dizer, mas parece que isso não mudou muito.

— Foi para isso que eu me mudei para Seattle.

Fiquei esperando que ele completasse sua frase.

— Para começar de novo.

— Bom Edward, um brinde a novos começos então.  

Logo após nossos copos se chocarem meu celular vibrou no bolso da minha calça. Peguei o aparelho, era uma mensagem de Leah avisando que tinha ido embora com uma tal de Tanya. Pelo visto teria que pegar o Uber sozinha.

— Bom, acabei de perder minha companhia para voltar para casa. – disse ao ler a mensagem. Edward arqueou uma sobrancelha e continuei respondendo: - Minha amiga Leah, com quem eu divido o apartamento acabou de ir embora para a casa com alguém. Melhor eu ir pedir um Uber antes que fique tarde demais. Foi bom te conhecer Edward.

Gritei para o Eric fechar minha conta e segui em direção a frente do bar enquanto pedia o carro pelo aplicativo.

Pelo canto do olho pude ver que Edward havia me seguindo para fora.

— Você também já vai?

— Eu não ia deixar você esperando o carro aqui sozinha, essa cidade é perigosa. – respondeu enquanto colocava suas mãos no bolso da calça.

Antes que pudesse fazer qualquer outra pergunta, meu carro chegou. Edward abriu a porta de trás em silencio. Entrei no carro e o encarei esperando que ele dissesse algo.

— Boa noite Bella. – Foi tudo que ele respondeu ao fechar a porta do carro, enquanto o veículo se distanciava do New Moon vi Edward tirando um maço de cigarro de seu bolso e acedendo.

Meu final de semana passou comigo protelando contar para meus pais que eu tinha sido demitida. Do jeito que os dois são superprotetores já podia imaginar que a conversa terminaria com eles tentando me convencer a voltar para minha cidade natal. E voltar para lá seria assumir que eu tinha falhado e não estava pronta para isso agora.

No final acabei não dizendo nada. Decidi ligar para o Eric perguntando se não podia trabalhar na folga de alguém nos sábados no bar. Isso me ajudaria a não enlouquecer enquanto procurava outro emprego durante a semana.

Passei a semana inteira entregando enviando currículos por e-mail e me cadastrando em sites de vagas. Também fugi de todas as ligações da minha irmã, que ao contrário dos meus pais, conseguiria identificar que eu estava mentindo com 1 minuto de ligação. No final me senti culpada por estar evitando-a. As vezes ela parecia ser a mais velha e não o contrário.

Sábado chegou e lá estava eu trabalhando no mesmo lugar que trabalhava quando estava na faculdade. Pelo menos eu já tinha alguma experiência e sabia como lidar com os clientes abusados. Estava servindo um cliente quando avistei Edward vindo em direção ao balcão em que eu estava.

— Pelo visto você conseguiu um emprego rápido.

— Ajuda quando o dono do bar é irmão da sua melhor amiga. – Peguei o copo para servir a mesma bebida que tinha visto ele tomando na semana passada e coloquei a sua frente. – Então, já conseguiu fazer algum amigo por aqui?

Ele apenas deu de ombros, escolhendo não responder a minha pergunta verbalmente. Os sábados eram um dos dias mais movimentados no bar por motivos óbvios, logo não podia passar meu turno inteiro conversando com Edward por mais que quisesse fazer com que ele se abrisse comigo, o cara certamente precisava de um amigo.

Uma hora depois encontrei com ele sentado no mesmo lugar, sem nenhuma companhia.

— Você nunca me disse o nome do estúdio em que trabalha.

— Twilight’s Tattoo.

— Tem alguma ligação com os livros? – perguntei achando pouco provável que um estúdio de tatuagem fosse baseado em um livro de vampiros.

— Que?

— Nada, deixa pra lá. Talvez eu passe lá qualquer dia, fazer minha primeira tatuagem. Qual o seu Instagram para dar uma olhada no seu traço?

Edward me encarava como se não estivesse entendendo o que eu estava falando. Peguei meu celular do bolso de trás da calça e abri o aplicativo de fotos.

— Vai me dizer que você não tem um perfil?

Ele negou com a cabeça. – Eu te disse que não gosto de redes sociais.

— Mas faria bem para o seu trabalho, além de ajudar a divulgar o estúdio.

— Nunca parei para pensar nisso.

— Eu posso te ajudar sabe, modéstia parte sou uma boa fotografa. Posso passar no estúdio qualquer dia desses e fotografar alguns dos seus trabalhos, assim a gente monta um perfil para você divulgar seu portfólio.

Ofereci esperando sua resposta curta negando, mas me surpreendi quando ele aceitou.

— Como você acabou se tornando tatuador? Já fazia isso antes?

— Eu trabalhava na empresa do meu pai. – Pela forma que sua boca mal abriu para compartilhar essa informação desconfiava de que aquilo não era algo do qual ele se orgulhava.

— Ah entendi.

Edward se aproximou mais do balcão e deitou sua cabeça sobre suas mãos. Me afastei um pouco surpresa com a sua aproximação e do quanto ele era mais lindo de perto.

— Como assim?

Desviei meu olhar para longe dos seus grandes olhos que pareciam duas piscinas verdes hipnotizantes, checando se algum dos clientes precisava de mais alguma bebida. Depois de concluir que não tinha como escapar respondi:

— Agora faz sentindo a mudança de estado e profissão. Pai controlador?

— Você tem experiencia com isso?

— Um pouco, mas nada que me faça atravessar o país para ficar longe deles. O máximo que coloquei foram algumas horas de distância e apenas um telefonema por semana, as vezes a cada 2 semanas se eu achar que eles foram longe demais.

Mais uma vez sou presenteada com o silencio do Edward. Eu sei que isso deveria ser um sinal para que eu não insistisse, o cara definitivamente não estava a fim de conversar com ninguém, sabe-se lá por quê. Mas tinha alguma coisa nele, além de sua beleza e braços repletos de tatuagem que me atraia e eu queria descobrir o porquê. Antes que as respostas chegassem até mim, me encontrei ocupada com um grupo comemorando despedida de solteiro e passei o resto da noite servindo bebidas sem mais tempo para falar com ele.

...

Apesar do Edward não ter um perfil no Instagram – eu procurei mesmo ele falando que não tinha -, o estúdio que ele trabalhava possuía um. Passei a manhã inteira de domingo stalkeando o perfil enquanto protelava a limpeza do meu apartamento. Minha cama tinha virado um deposito das roupas que tinha desistido de vestir durante a semana, misturadas com as que tinha tirado da máquina de secar. Minha mesa da cabeceira tinha todos os copos que eu possuía e eu não fazia ideia de quando eu tinha aspirado essa casa pela última vez. Mas focar em formas como eu poderia melhorar a imagem do estúdio em que Edward trabalhava e montar seu portfolio pareciam mil vezes mais interessantes do que arrumar a minha bagunça.

Depois de trabalhar em um plano de ação para os dois perfis que resultou em um pdf de 25 páginas, reuni coragem para pelo menos me livrar das mosquinhas que rondavam a louça acumulada na minha pia. Um paço de cada vez.

Passei a segunda inteira arrumando o resto do apartamento e melhorando a apresentação que eu tinha feito. Estava orgulhosa do meu trabalho e ansiosa para apresentar ao Marcus. Sim, eu fiz minha pesquisa e descobri o nome do dono do estúdio em que o Edward trabalhava.

É no Twilight’s Tattoo que Edward me encontra na terça-feira, não para agendar minha primeira tatuagem, mas fechando um acordo com Marcus.

— O que você tá fazendo aqui? – é a maneira como ele me cumprimenta ao entrar no local, tirando sua touca da cabeça, ao entrar pela porta, deixando que seus dedos baguncem ainda mais seus fios ao invés de coloca-los em ordem.

— Ed que bom que chegou, você não tinha me dito que tinha uma amiga que cuidava de Medias Sociais. – Marcus respondeu ao levantar-se da mesa onde tínhamos nos sentado enquanto eu fazia minha apresentação. Ele deu um tapa nas costas de Edward como cumprimento e logo um vinco tomou conta do espaço entre as sobrancelhas do ruivo a minha frente (é assim que vou chama-lo até descobrir qual sua verdadeira com de cabelo).

— Ela não é minha amiga.

Edward falou tão baixo por entre seus dentes que tenho certeza de que Marcus não conseguiu ouvir. O cara definitivamente precisava se soltar mais.

— Enfim, a Bella apareceu aqui e apresentou um projeto para melhorar nosso alcance nas redes sociais e atrair mais clientes. Eu pensei que tinha te dito para abrir uma conta no Instagram, não precisa ser pessoal, mas as pessoas sempre gostam de ver o trabalho dos tatuadores.

Edward continuou parado me encarando enquanto Marcus enchia uma xicara de café e me oferecia o copo d’água que tinha aceitado antes dele chegar.

— Ela vai trabalhar com a gente pelos próximos meses, tirando fotos e criando conteúdo. Bem-vinda a equipe Bella.

Com uma “toca aqui”, Marcus nos deixou sozinhos no hall de entrada do estúdio. Comecei a juntar as minhas coisas enquanto Edward permanecia parado.

Me assustei quando ele finalmente resolveu quebrar o silencio.

— Agora você vai me seguir no meu trabalho?

Fiquei um pouco surpresa com o tom áspero na sua voz, mas resolvi levar na brincadeira.

— Na verdade você que anda me seguindo. Já foi no meu trabalho 2 vezes nos últimos dias.

Minha resposta pareceu o deixar mais confortável e quase pude ver um início de sorriso no canto dos seus lábios.

— Na primeira vez que fui ao New Moon você ainda não trabalhava lá e com certeza estava muito bêbada para se lembrar de algo, na segunda eu não esperava te encontrar lá novamente, ainda mais trabalhando.

— Minha memória infelizmente não vai embora com a bebida, por mais que eu desejasse. Iria me salvar de muitas situações constrangedoras.

— Disso eu tenho certeza.

— Ei!

Suspirando ele foi em direção ao cabide e pendurou seu moletom ali. Por 5 segundos pude ver uma parte da sua cintura, que como já era de se esperar tinha duas tatuagens, uma de cada lado do V que ele ostentava. Com certeza ele malhava.

Antes que pudesse ser pega o comendo com os olhos, desviei o olhar para minha bolsa.

— Quando você começa aqui?

Limpei minha garganta antes de responder, ainda um pouco abalada com a visão que era Edward de camisa preta com suas tatuagens totalmente a mostra, se misturando com suas veias saltadas.

— Amanhã, vou trazer meu equipamento de fotografia e gravar algumas coisas. Primeiro vão ser só do pessoal que trabalha aqui. Ainda preciso imprimir as autorizações de uso de imagem para os clientes.

— Então você não vai mais trabalhar no bar?

— Com medo de perder sua bartender favorita? – ele revirou os olhos para mim. Aos poucos sentia que estava conseguindo penetrar a parede que tinha envolta de Edward. Ainda não tinha conseguido derrubar nenhum tijolo, mas algumas rachaduras eu devia ter causado. – Não, vou continuar lá aos sábados. Quanto mais grana melhor, ainda mais agora que não tenho nada fixo.

Incerta sobre o que mais poderíamos falar permaneci ali com a minha bolsa na mão, sem saber como me despedir de Edward. Até que Irina, a recepcionista do estúdio apareceu informando que o primeiro cliente de Edward estava aguardando. Ele seguiu em direção de uma das salas sem olhar para trás. Decidindo que essa era minha deixa para ir embora fui em direção a porta. Quando estava colocando meus pés na rua, ouvi alguém chamar pelo meu nome, me virei e vi Edward no corredor.

— Eu esqueci de dizer tchau.

Minhas palavras saíram quando ele já tinha entrado de volta para a sua sala. Mas o sorriso que surgiu no meu rosto depois disso durou o dia inteiro.

...

Fazia 2 semanas que eu estava trabalhando como Social Media da Twilight’s Tattoo. Depois de construir uma grande quantidade de conteúdos era hora de começar a alimentar suas redes com os materiais que juntei. O resultado veio em poucos dias e agenda do mês seguinte já estava lotada. Outro sucesso foi o perfil de trabalho do Edward. Obviamente não era ele que postava as fotos, mas ele pareceu confiar o bastante no meu trabalho para deixar que eu cuidasse.

Estávamos no meio da gravação de um Reels com um dos meus tatuadores favoritos, depois do Edward claro, o Jasper. Nós nos juntávamos todos os dias em que eu ia até o estúdio a tarde para um café e fofocar sobre nossas celebridades favoritas. Ele é noivo da Alice, a Body Piercing do estúdio, que tentava me convencer a furar os meus mamilos, dizendo que eles ficariam mais sexys assim. Faltava pouco para ela me convencer. Enquanto explicava para Jasper o ângulo que pensava em filmar seu trabalho nas costas de um dos seus clientes recorrentes, Edward passou por mim completamente furioso segurando sua mochila. Dava para ver a fumaça saindo de sua cabeça. Olhei para o relógio e vi que ainda estava um pouco cedo para o seu horário de ir embora. Sim, eu tinha decorado os seus horários, um pouco perturbador, eu sei, mas agora eu tinha a desculpa que trabalhávamos juntos. Mais ou menos.

— Melhor ir ver o que ele tem. – Jasper me disse inclinando sua cabeça na direção que Edward havia passado.

— Eu? Por quê?

Jasper apenas arqueou uma de suas sobrancelhas e balançou sua cabeça, voltando o foco para as costas na sua frente.

Desliguei meu equipamento e corri para a frente do estúdio, tentando alcançar Edward.

Parei assim que o vi encostado na parede de fora, fumando. Tirei alguns segundos para recuperar meu folego. Nossa, eu precisava urgente voltar a praticar algum exercício.

Quando senti que podia falar sem soar como se estivesse corrido uma maratona ao invés de ter atravessado apenas alguns metros, perguntei:

— Tá tudo bem?

— Não tá sendo um dia muito fácil.

— Algo que eu possa ajudar?

— Depende, consegue fazer com que o meu pai deixe de ser um idiota?

— Problemas de família, saquei.

— Pois é. – Edward jogou a bituca do cigarro fora.

Bem na hora avistei justamente quem eu não precisava ver naquele momento. Minha tia Carmen.

Agarrei a mão de Edward e o puxei em minha direção.

— Rápido, me abraça agora.

— O que você ta fazendo?

— Por favor, só faz o que eu tô pedindo.

Abracei Edward enfiando meu rosto no seu peito. Inalando o seu cheiro misturado ao tabaco que ele havia inalado a pouco. Eu não devia gostar do que sentia. Diferente da sua postura rígida, o coração de Edward martelava em seu peito e quando tinha desistido dele me abraçar de volta, senti seus braços enormes me puxarem mais de encontro ao seu corpo, me enclausurando em seu abraço.

Ali, totalmente segura em seus braços eu me sentia como uma gatinha sendo abraçada por um urso. Faz sentido? Bem, pelo menos na minha cabeça fazia, com toda nossa diferença de altura e seus braços musculosos. E aquilo que eu sentia contra meu peito era um tanquinho? Se eu pelo menos pudesse dar uma espiadinha.

— Dá para você me explicar o que está acontecendo? – seus lábios roçavam a minha testa deixando um rastro quente por todo o meu rosto.

— Depois, agora não dá. Aproveitei e puxei um pouco mais do ar tentando absorver melhor o seu cheiro.

Meus pensamentos pervertidos foram interrompidos pela voz da minha tia.

— Bella, é você querida?

Droga, aparentemente a muralha que o Edward é não foi capaz de me esconder da mulher a aminha frente.

— Oi tia Carmen, tudo bem?

— Melhor agora que te vi me amor. – tia Carmen me arrancou dos braços de Edward que por estranho que pareça ainda estavam ao meu redor. – E esse rapaz bonito que te abraçou deve ser o seu namorado que sua mãe comentou.

Namorado? De onde ela tinha tirado isso? De repente me lembrei que tinha dito para minha mãe que estava saindo com alguém na época das minhas tentativas frustradas com o Tinder, querendo que ela me deixasse em paz.

— Nós somos só amigos tia Carmen, esse aqui é o Edward.

— Prazer. – Edward esticou sua mão para minha tia e ainda lhe lançou um sorriso que com certeza tinha deixado as pernas fracas da mulher ainda mais bambas. Aparentemente só eu era recepcionada com o seu tom ranzinza.

— Prazer querido. Ah é uma pena que vocês não estejam namorando. Me diga Edward você não teria nenhum irmão ou primo solteiro para apresentar para minha sobrinha aqui.

— Tia?!

— Querida, já está mais do que na hora de você achar alguém. Sabe Edward pode ser uma irmã ou prima também. Você sabe que te aceitaríamos de qualquer forma né Bella?

— Pelo amor de Deus tia Carmen.

Edward reagiu da forma que eu menos esperava, com uma bela de uma gargalhada que colocou um sorriso sem querer no meu rosto. Ele devia rir mais. Seus olhos sumiam de tanto que seu sorriso repuxava.

— Infelizmente eu sou filho único e meus pais também, sinto muito por isso Carmen.

— Imagina, não custava tentar. Bem, acho que te vejo na sexta no jantar de aniversário do Emmett, certo Bella?

— Sim, tia Carmen. Já confirmei com a Rose.

— Você também é convidado Edward. Todo amigo da Bella é bem-vindo. Todos nós amamos a Leah como se fosse da nossa família.

Deus tudo que eu queria era que um buraco me engolisse se não fosse o fato da minha tia sem filtro estar divertindo o Edward.

— Aposto que ele tem coisas mais interessantes tia Carmen.

Edward me olhou de forma estranha e seu sorriso foi murchando com a mesma rapidez que surgiu.

— Sim, infelizmente eu já tenho um compromisso.

— Bom, o convite está feito. Bella querida, te vejo depois então. Edward foi um prazer te conhecer.

Ficamos olhando minha tia entrar no carro que tinha parado na calçada e quando ela finalmente fechou a porta virei para a pessoa ao meu lado.

— Sabe se isso fosse um livro você teria fingido ser meu namorado para me salvar da vergonha que foi esse encontro com a minha tia.

— Eu não tenho relacionamentos Bella, nem mesmo de mentira.

E com isso ele foi embora, me deixando ali tentando compreender suas palavras.

...

Como eu esperava, minha tia Carmen tinha contado para toda a família sobre o nosso encontro e como eu era amiga de um rapaz muito bonito e educado.

— Sabe eu tinha certeza de que ele era seu namorado pelo jeito que vocês estavam abraçados Bella, ele parecia bastante protetor de você. Tem certeza que vocês não podem tentar ter algo?

— Eu não sei nem se ele é realmente meu amigo tia Carmen.

— Como assim querida?

— Edward é meio complicado, não gosta de falar muito, tá sempre na dele. Eu me sinto como uma chata enxerida toda vez que tento puxar algo dele.

— Bom pela forma como ele te olhava, chata é a última coisa que ele deve te achar.

.......

Meu plano de trabalhar como freelancer de Social Media ainda não tinha gerado muito lucro, além da Twilight’s Tattoo eu também administrava a conta de um restaurante local e uma loja de livros. Por isso, aqui estava mais um sábado servindo bebidas no New Moon. A noite estava um pouco caótica pela final de um dos jogos de Hockey que tinha sido transmitida mais cedo. Estava servindo os copos no modo automático quando Riley apareceu na minha frente.

— Então além de mentir sobre o seu peso você também mentiu sobre o seu trabalho?

É sério, será que a babaquice desse cara não tinha limite?

— Riley que desprazer encontrar você aqui. Não sabia que você tinha se tornado meu nutricionista.

— Sabe depois que percebi que era você no balcão resolvi vir ate aqui te dar uma segunda chance, mas pelo jeito você não merece.

— Escuta aqui seu id....

Antes que eu pudesse completar a frase, Edward apareceu na minha frente me segurando pela nuca.

— Oi meu amor, desculpa demorar. – Foi o que ele disse antes de colar seus lábios nos meus numa tentativa de selinho. Tentativa porque assim que os lábios de Edward encontraram os meus eu não pude resistir. E nem ele. Nossas bocas logo entraram em sintonia esquecendo do lugar onde estávamos, até que eu comecei a praguejar a bancada que nos separava e lembrar que devia estar trabalhando. Infelizmente quebrei o beijo dando de cara com um Edward assustado.

— Er... eu vim ver se você já ta pronta para ir embora?

— Ah sim, eu vou só... vou chamar a Jessica para assumir o meu lado.

Fui para o fundo do bar pegar as minhas coisas enquanto tocava minha boca sem acreditar no que tinha acontecido. Será que eu estava vivendo uma realidade paralela?

Avisei Jessica que estava indo embora e segui para a saída aos fundos do bar. Devia saber que encontraria Edward ali me esperando, mas mesmo assim me surpreendi.

— Então, o que aconteceu com o “eu não tenho relacionamentos, nem mesmo de mentira”?

— Pensei que você precisasse de ajuda com aquele cara. 

Foi sua brilhante resposta antes de me dar as costas.

— Ei, calma aí. Nós dois sabemos muito bem que eu era capaz de lidar com a situação. Não precisava de você aparecendo fingindo ser meu namorado.

— Não era isso que você queria quando sua tia apareceu?

— Eu falei brincando Edward.

Agora que estava de frente para ele pude perceber como seus olhos continuavam desviando para minha boca.

— Sabe Edward, na verdade eu acho que você tava a fim de me beijar e só queria um motivo. Comecei a sorrir quando percebi que tinha o provocado.

— Era só para ser um selinho, você que transformou num beijo Bella.

— É, mas você não se afastou.

Edward enfiou suas mãos em seu cabelo e se afastou de mim.

— Tá tudo bem Edward, eu sei que você só quis ser um bom amigo.

— Pede logo o seu Uber Bella.

— Sabe, você seria um amigo muito mais legal se tivesse um carro para me dar corona para casa. Só dizendo.

— E você seria muito mais legal com a boca fechada.

— Você não teve problema nenhum com a minha boca 10 minutos atrás.

— É porque ela estava ocupada beijando a minha.

— Meu Deus ele sabe fazer piada também.

Edward abriu a porta do Uber para mim novamente.

— Boa noite Bella.

— Boa noite Edward, só para você saber dou um 8,5 pro seu beijo. Eu não tenho nenhum problema com um pouco de língua.

— Anotado Bella. – Edward piscou para mim e fechou a porta. É cedo demais para pensar que ele tentou flertar comigo?

...

Aos poucos Edward e eu fomos nos aproximando. Era comum comermos juntos depois de passar a manhã trabalhando no estúdio. Hoje meu plano era gravar alguns vídeos para o Instagram do Edward. Estava acompanhando o processo de finalização de uma tatuagem na perna e quando vi que já tinha o material necessário comecei a editar no meu notebook sem sair da sala. Nem percebi quando Edward finalizou o trabalho e o rapaz saiu da maca. Dei um pulo quando senti alguém se sentar ao meu lado.

— Com fome?

— Que horas são?

— Duas da tarde. Acabei meu último cliente antes do meu intervalo, ia procurar algo para comer. Quer ir junto?

— Depende... Você vai pagar?

— Vamos logo.

Estava no meu segundo burrito quando Edward finalmente resolveu quebrar o silencio que já estava acostumada.

— Bella, nós somos amigos, certo?

— Depois de você me pagar um lanche como posso negar?

— É sério.

Larguei minha comida e o encarei. Pela primeira vez percebi o quanto ele parecia preocupado. Mas do que normalmente.

— Sim Edward, nós somos amigos. O que foi?

— Eu tenho esse jantar na casa do meu pai e eu queria saber se você não poderia ir comigo. Quinta é aniversário da minha mãe e nós temos a tradição de almoçarmos juntos. Seria muito importante para mim se você pudesse ir comigo. E aí?

Eu simplesmente não sabia como reagir aquilo. Não estava acostumada com o nível de vulnerabilidade que Edward estava mostrando a mim naquele momento. Fiquei tempo demais tentando compreender o que ele tinha falado e ele interpretou isso da pior maneira.

— Pensando bem, deixa quieto. Esquece que eu te pedi isso ok? Então, você já conseguiu terminar aquele conteúdo de Halloween?

— Opa, opa, opa, calma ai que eu ainda não falei nada. Primeiramente, o seu pai mora em Portland, certo?

Edward acenou com a cabeça confirmando. Fiz os cálculos na minha mente e isso significaria passar 3 horas em um carro sozinha com ele, para ir e voltar. Tentei não ficar animada demais com a situação.

— É claro que eu vou com você Edward.

Minha mão foi em direção a de Edward sob a mesa, mas assim que elas se tocaram ele ficou rígido e logo me afastei.

— Obrigado Bella. Nós podemos sair daqui umas 6 da manhã assim chegamos lá há tempo do almoço.

— Eu espero que você seja muito grato a minha amizade e me espere com um copo de café para agradecer por eu acordar tão cedo, ok Cullen?

— Pode deixar.

...

— Não de jeito nenhum.

— Edward você já vetou as outras 3 músicas que eu escolhi. Desse jeito vamos chegar em Portland e não ter ouvindo 1 minuto de música.

— Eu não tenho culpa se o seu gosto musical é horrível Bella.

— E eu não tenho culpa de você ser um indie chato.

— Meu carro, minhas regras.

— Chato. Contanto que você não toque nenhuma dessas músicas depressivas que você ouve, tá tudo certo.

— The Lumineers não tem nada de depressivo.

— Por favor, as músicas deles me dão sono.

Edward me olhou com uma cara como se eu fosse a pessoa mais maluca que ele já conheceu na vida. No final resolvemos conectar nosso perfil do Spotify e deixar que o aplicativo misturasse nossas músicas favoritas aleatoriamente.

Depois que me cansei da paisagem repetitiva de arvores pela minha janela, decidi tentar usar o tempo que ainda tínhamos para descobrir um pouco mais sobre o homem ao meu lado.

— A quanto tempo seus pais se conhecem?

Edward apertou o volante e fiquei com medo de ter perguntado algo de errado.

— Eles se conheceram no final da faculdade. Minha mãe cursava arquitetura e meu pai administração. Dois anos depois eles se casaram.

Não deixei de notar que Edward evitou responder quantos anos seus pais estavam juntos no total, mas preferi não me apegar tanto.

— Como eles se chamam?

— Elizabeth e Carlisle.

— Como você acabou trabalhando na empresa do seu pai?

— Eu sempre gostei muito de desenhar desde pequeno, mas meu pai sempre deixou claro como queria que eu assumisse o seu lugar um dia na empresa. Então acabei cursando a mesma coisa que ele na faculdade. Tentei achar estágio em outros lugares, mas meu pai ficou furioso quando soube. Disse que seria uma traição. – Edward riu, mas não tinha um pingo de humor na sua cara. – Eu estava prestes a terminar meu MBA em negócios quando percebi que nada daquilo era o que eu queria. Tranquei tudo e comecei a estudar o que eu finalmente gostava. Naquela altura eu já tinha algumas tatuagens e me interessei em trocar a tela de tecido para a pele. Obviamente meu pai não gostou nenhum pouco disso e nossa relação só piorou.

— E sua mãe, te apoiou?

— Eu gosto de pensar que sim.

Nesse momento uma das músicas da playlist do Edward começou a tocar, era Dreams do Fleetwood Mac. Quando comecei a cantarolar junto Edward olhou para mim surpreso.

— Ainda gosto de músicas depressivas?

Me neguei a responder seu comentário e aumentei ainda mais o volume da música, o problema é que junto também aumentei o volume da minha voz que mais parecia com a de uma gralha. Percebi que Edward estava tentando segurar o riso e tratei de cantar o mais bobamente possível, até que ele não aguentou e soltou o riso mais gostoso que ele já tinha dado na minha presença. Não consegui desviar meus olhos do Edward enquanto a música ia chegando ao final.

— O que foi?

— Você deveria rir mais.

Algo ainda mais surpreendente aconteceu naquele momento, Edward corou. Resolvi fingir que não tinha percebido e virei minha cabeça para a janela.

— Bella acorda, nós chegamos.

— Ah que? Onde?

— Você acabou pegando no sono, mas a gente já chegou.

Esfreguei meus olhos com os dedos tentando afastar o resto do sono que ainda tinha e aproveitei para verificar se tinha babado. Tudo certo.

— Eu disse que suas músicas davam sono.

— Anda logo, você é um péssimo copiloto.

Desci do carro e finalmente percebi onde estávamos e um arrepio subiu pela minha espinha.

— Edward, por que nós estamos em um cemitério?

Edward surgiu do meu lado segurando um buque de flores brancas.

— Porque é aqui que a minha mãe tá.

Ele seguiu o caminho por entre as lapides e o segui sem saber o que responder. Eu não sabia se podia perguntar há quanto tempo sua mãe tinha falecido. Eu não sabia como reagir em situações de luto. E minha forma de confortar alguém era com piadas o que eu duvido que seria algo que o Edward gostaria.

Depois de alguns minutos andando nós paramos em frente a uma lápide bem cuidada.

Elizabeth Masen Cullen

15/09/1968 – 20/06/1992

Mulher, esposa e mãe, para sempre amada.

Por ter criado uma conta no Instagram para Edward eu sabia muito bem que a data do falecimento de sua mãe era a mesma do seu nascimento. Meu coração doeu ainda mais por ele ao imaginar como foi crescer sem sua mãe.

Pensei em me afastar para dar um pouco mais de privacidade para ele, mas antes que eu pudesse dar um passo uma voz chamou nossa atenção.

— Edward, é você?

Me virei e vi uma versão mais velha do homem que eu considerava meu amigo. Seus cabelos eram loiros com alguns fios grisalhos, o que me levava a crer que Edward tinha herdado a cor de cabelo peculiar de sua mãe. O resto ele com certeza tinha puxado de Carlisle.

— Oi pai.

Os dois se abraçaram no que parecia ser o abraço mais constrangedor que já tinha presenciado, provavelmente os dois não estavam acostumados a demonstrar afeto com o outro.

— Eu não sabia se iria te encontrar aqui filho.

— Eu disse que viria pai. – Edward se virou na minha direção e me aproximei um pouco mais dos dois homens. – Pai, essa é a Bella, uma grande amiga minha. Bella esse é meu pai Carlisle.

— Oi Bella, fico feliz que você tenha vindo com Edward.

— Oi Sr. Cullen. Prazer em te conhecer. Eu preciso fazer uma ligação e vou aproveitar para dar um pouco de privacidade para vocês.

Fui em direção ao carro de Edward enquanto tentava me ocupar com algo no meu celular para não invadir o momento de pai e filho. Um tempo depois os dois vieram em minha direção e meu coração se apertou mais uma vez ao ver os olhos vermelhos de Edward.

— Encontro vocês no restaurante.

Edward e eu entramos em silencio no carro e assim que o cemitério ficou para trás ele resolveu falar.

— Minha mãe faleceu no meu parto. Ela tinha pressão alta e acabou sofrendo uma hemorragia. Eles não conseguiram salva-la. Meu pai acabou entrando em uma depressão profunda e problemas com a bebida. Eu fiquei os 3 primeiros anos da minha vida sendo cuidado pela minha tia e avós maternos. Depois de passar um tempo na reabilitação o juiz permitiu algumas visitas assistidas e minha tia Esme nos acompanhava durante os dias que meu pai tinha comigo. Quando completei 8 anos finalmente fui morar com ele. Só para descobrir 7 anos depois que ele e minha tia tinham um caso.

— Edward, eu não sei nem o que dizer.

— Minha mãe acabou descobrindo tudo quando já estava gravida de mim. Os dois já estavam divorciados quando eu nasci. Eu cresci achando que meu pai me via como culpado pela morte da minha mãe e no final ele estava lidando com a própria culpa.

Tudo que ele tinha acabado de me contar parecia ser tirado de um dos livros mais tristes que eu já li na minha vida. Não conseguia imaginar passar por algo parecido.

— Os dois acabaram se casando quando eu entrei para faculdade. Meu pai e Esme. Depois de muitas seções de terapia consegui manter uma relação ok com os dois, mas ainda é difícil os ver juntos.

O caminho até o restaurante foi rápido e antes que Edward pudesse abrir a porta me joguei na sua direção. Diferente da primeira vez que eu o abracei Edward retribui de imediato.  

— Obrigado Bella.

Por um bom tempo o único som durante o almoço era os dos talheres.

— Bella, você é de Seattle mesmo?

— Não, eu nasci em uma cidade pequena chamada Forks. Fui para Seattle na faculdade e moro lá desde então.

— Você trabalha junto com o Edward? Fazendo tatuagens ou você aplica brincos nas pessoas?

— O nome é piercing pai e a Bella trabalha como Social Media do estúdio.

— Ah isso é tipo cuidar do Facebook né?

— Mais ou menos.

Não demorou muito para o almoço voltar a ficar silencioso. Assim que a conta foi paga Carlisle se despediu da gente pedindo para que marcássemos um jantar com ele e Esme.

Acho que esperando como o dia seria cansativo Edward acabou reservando dois quartos num hotel para passarmos a noite antes de voltarmos para Seattle.

Combinamos de nos encontrar no seu quarto para assistirmos algum filme antes de dormir.

Tomei um banho pensando em como o relacionamento com o pai explicava um pouco do modo como Edward se portava e era tão fechado. Descobrir que a pessoa que devia amar e cuidar dele mentiu sobre algo sério durante tanto tempo devia fazer com que qualquer pessoa quisesse se fechar.

Vesti uma camisa de um dos meus shows favoritos e um short jeans, peguei o meu cartão de acesso ao quarto e celular e fui encontrar Edward.

— Espero que o seu gosto por filmes seja melhor do que o por música.

— Nunca assisti esse aqui, ouvir dizer que é bom.

— Ouviu de quem? Alguém mais além de mim anda de suportando esses dias?

Me deitei próxima de Edward e pelo canto dos meus olhos pude ver que ele tentava não rir. Cutuquei ele com o cotovelo.

— Ri logo que eu sei que você quer Edward. Já assistir A Chegada, é muito bom mesmo. Você vai gostar.

Em algum momento durante o filme algo mudou. Era como se o quarto estivesse repleto de uma energia que me puxava cada vez mais em direção a ele. Arrisquei um olhar em sua direção e vi que ele estava me observando. Nossos olhares ficaram presos um no outro. Até que Edward resolveu encarar minha boca e antes que eu pudesse perder a coragem juntei nossos lábios.

Nossas línguas se entrelaçavam desesperadas, mãos enterradas no cabelo um do outro. Edward me puxou para o seu colo e pude perceber o quanto tudo aquilo estava o excitando também. De repente os beijos que Edward deixava no canto da minha boca para depois chupar meu pescoço foram se tornando pouco. Eu queria mais e logo ele percebeu e nossas roupas trataram de ir para o chão.

Quando aceitei acompanhar Edward nessa viagem não imaginava que acabaria com nós dois transando. A forma como os nossos corpos pareceram se encaixar perfeitamente e como ele conseguiu me levar ao ápice fazendo com que eu sentisse choques por todo o meu corpo ainda parecia ser irreal.

Acordei no dia seguinte e não encontrei Edward na cama. Olhei em direção ao banheiro e percebi pela fresta na porta que a luz estava acesa. Quando estava pensando em ir o acompanhar no banho Edward saiu com uma toalha enrolada na cintura.

— Nem para você me esperar para tomarmos banho juntos. – disse ao me espreguiçar. O lençol que cobria meus peitos deslizou deixando-os a mostra. Afastei o pano em seguida e me levantei da cama. Vi que o olhar de Edward estava preso nos meus seios e sorri me aproximando dele.

— Eu achei melhor tomar primeiro, temos pouco tempo para fazer o check out antes de irmos. – Ele foi em direção a sua mochila pegar suas roupas. Achei estranho sua resposta, mas depois de olhar a hora no meu celular percebi que ele estava certo.

Não demorou muito durante a volta para perceber que Edward estava fingindo como se nada tivesse acontecido. Toda vez que eu tentava perguntar se tinha acontecido alguma coisa ele trocava de assunto. Tentei não deixar com que isso me magoasse, mas era impossível não admitir que aquilo tinha doído.

A semana seguinte passou com Edward fugindo de mim como o diabo foge da cruz. Durante uma das minhas noites de vinho com a Leah cheguei a cogitar que era mal de cama. Minha amiga logo tratou de tirar essa ideia da minha cabeça ao me lembrar da vez que ela teve que me ouvir transar com um ex namorado quando dividíamos o apartamento.

Infelizmente a noite conversando com Leah não foi o suficiente para acalmar minhas inseguranças e mandei uma mensagem para Edward perguntando se eu transava mal. Assim que apertei o enviar me arrependi e joguei o celular no chão como se o aparelho estivesse pegando fogo. Minhas mãos, aparentemente sobre o meu controle novamente, foram em direção a minha boca enquanto tentava compreender o que eu tinha feito. Por alguma obra do destino a mensagem não foi enviada e consegui cancelar. Acho que eu tinha acabado de presenciar o meu primeiro milagre.

Meu humor foi azedando com o passar dos dias e tive que me segurar para não cuspir nos drinks de alguns clientes no New Moon.

Era mais um sábado no bar e dessa vez alguns dos meus melhores amigos tinham decidido que seria legal passar a noite me infernizando no meu horário de trabalho.

— Bellinha, acabei de falar com o Eric e ele disse que você já pode largar o pano e nos juntar na nossa mesa.

— Eu não acredito que você foi encher o saco do Eric, Jake.

— Não é todo dia que a gente tá com o nosso grupo completo. Anda logo.

Saído do balcão avistei Edward sentado em uma mesa com o pessoal do estúdio, seu olhar fixado na minha mão enlaçada com a do Jacob. Acenei para ele que resolveu virar a cara para mim.

Então seria assim?

Me sentei de frente para Leah que logo se virou para ver o que tanto eu encarava.

— O bonitão ainda não te tirou do castigo?

— Ele acabou de virar a cara para mim. Sabe eu pensava que acima de tudo a gente era amigo, pelo visto me enganei.

— O que eu perdi?

— Nossa pequena Swan transou com o bonitão tatuado da mesa de trás e agora ele ta dando um gelo nela. – Leah tratou de explicar para o primo.

— Ai, sinto muito por você Bellinha. Infelizmente não posso dizer que já passei por algo assim.

Rolei meus olhos para Jacob.

— O pior de tudo é que ele trabalha no estúdio de tatuagem, onde a Bella cuida das redes sociais.

Os dois continuaram comentando sobre a minha difícil vida amorosa quando decidi que minha bexiga já tinha aguentado demais.

Passei por Edward e decidi trata-lo da mesma forma como ele vinha fazendo comigo, fingindo que não o tinha visto.

Tomei um susto quando sai do banheiro e o vi ali parado ao lado da porta.

— Você ta saindo com ele?

— Que?

— Eu perguntei se você ta saindo com esse cara Bella?

— Eu escutei da primeira vez, só queria ter certeza se você realmente teve coragem de me perguntar isso depois de passar dias sem nem olhar na minha cara.

Me afastei dele sem acreditar no que ele tinha dito.

— Bella, espera. – Edward segurou meu braço. – Me desculpa, eu não sei o que tá acontecendo, só sei que não gostei de ver você com outra pessoa.

— Para começar Jacob é meu melhor amigo e é mais fácil ele se interessar por você do que por mim. Além disso, você não pode me tratar como nada e depois agir como se eu te devesse algo Edward. Eu achei que éramos amigos.

Soltei meu braço e segui para a mesa onde meus amigos me esperavam, avisei os dois que estava cansada e indo para casa.

Mal tinha tirado meus sapatos meu interfone tocou. Antes que meu porteiro pudesse falar eu já sabia quem era e liberei a entrada. Alguns segundos depois abri a porta para um Edward totalmente transtornado.

— Antes de mais nada eu preciso confessar que eu não tô pronto para um relacionamento Bella. Toda a história dos meus pais e tia realmente foderam com a minha cabeça e minha psicóloga acha que eu posso ter algum tipo de fobia relacionada a me relacionar com alguém. Eu nunca consegui me apaixonar por ninguém, nunca me permiti isso. Sexo sempre foi mais fácil, mas nunca consegui deixar que nada fosse além disso – Edward juntou nossas mãos e seus olhos pareciam suplicar para que eu o entendesse. – Mas eu não consigo mais negar que eu sinto algo por você Bella e isso me assusta tanto.

Nossas testas se encontraram e me concentrei na sua respiração enquanto tentava raciocinar tudo o que ele tinha dito. Suas mãos foram para o meu cabelo, já as minhas foram para o seu ombro, o trazendo para mais perto de mim e colando nossos lábios. Edward fechou a porta e fui andando para trás até que meus joelhos batessem no sofá. Sua boca começou a trilhar o caminho entre a minha boca e pescoço. Nos separamos apenas para retirar a roupa do corpo um do outro e nos envolvemos em um emaranhado onde não sabíamos onde um começava e o outro terminava. O movimento dos nossos corpos em sintonia me levaram a uma espiral de prazer até não conseguir mais manter meus olhos abertos.

Acabamos dormindo ali no sofá mesmo, com a minha cabeça sobre o peito de Edward.

...

Definitivamente Edward não era fá de demonstrações de afeto em público, eu já devia esperar com tudo que ele tinha me contado. Era eu segurar sua mão ou beijá-lo de surpresa que o homem virava uma estátua. Mesmo assim, todas as noites passávamos juntos. As vezes no meu apartamento, as vezes no dele. Nos conhecendo cada vez mais e quando parecia que nossos corpos já tinham memorizado um ao outro, achávamos algo para descobrir.

Era maravilhoso poder ver Edward se abrindo cada vez mais, seu sorriso raro não cansava de me tirar o ar e sem perceber eu fui baixando as paredes a minha volta e meu coração, sem proteção nenhuma, foi lá e se apaixonou ferrando tudo.

Resolvi ligar para minha irmã a espera de algum conselho, sem ter ideia de como poderia abordar isso com Edward.

— Bella, eu achava que essa altura você já deveria saber que não existe um prazo preciso para se apaixonar. É só ver como foi com os nossos pais, como foi comigo e o Emm, as vezes leva anos para encontrar a pessoa certa e em outros casos depois de um olhar você sabe que quer passar o resto da sua vida com aquela pessoa.

— Eu estou com medo de me machucar Rose.

— E não tem nenhum problema nisso Bella. Mas agora você precisa pensar se vale a pena ou não superar esse medo.

Perdi a conta de quantas noites passei em claro pensando no que sentia por Edward e em tudo que minha irmã tinha me falado. Um dia Edward se mostrou preocupado com o meu cansaço aparente e tentei desconversar dizendo que tinha maratonando Chicago Fire. Ele ficou revoltado por eu ter visto alguns episódios sem ele. Ele só não precisava saber que minha resposta tinha passado longe da verdade. Eu não queria admitir que ele era o motivo de eu ficar acordada até tarde, mas é claro que era.

O Natal não demorou para chegar e estava animada com a chegada de uma das minhas datas favoritas do ano. Por algum motivo Edward tinha concordado em passar o feriado comigo e conhecer a minha família em Forks.

No dia 25 de manhã, Edward e eu nos sentamos no jardim atrás da casa dos meus pais para trocarmos presentes.

— Eu espero que você tenha obedecido o nosso acordo de não gastar dinheiro com presente.

— Eu já disse que ficaria satisfeito se meu presente fosse o boquete que você me deu no seu banheiro antigo mais cedo.

— Por Deus Edward, mais respeito. É Natal seu pervertido.

O descarado continuou rindo. Edward tirou algo retangular de dentro da sacola aos seus pés e entregou para mim.

— Espero que você goste.

Abri o embrulho delicado para encontrar uma pintura. Era um retrato meu, de lado olhando para alguém, provavelmente para Edward pela forma que eu parecia encarar a pessoa ausente na pintura. As lágrimas logo encheram meus olhos.

Sem conseguir controlar mais o que eu sentia, soltei as 3 palavras que estavam implorando para serem ditas há um tempo.

— Eu te amo Edward.

Aos poucos o sorriso em seu rosto foi se desfazendo. Edward ficou pálido. Sua respiração ficou ofegante e pude perceber por uma de suas mãos que eu segurava como ele tinha ficado gelado.

— Edward?

Sua mão me soltou e foi em direção ao seu peito. Ele começou a andar de um lado para o outro sussurrando repetitivamente “não”.

Puxando um pouco de ar de volta para seu pulmão.

— Edward eu não disse isso esperando que você dissesse de volta.

— Mas esse é o problema Bella. Você merece alguém que consiga dizer de volta. Alguém que não surte ao andar de mãos dadas, alguém que não tenha medo de te chamar de namorada. Eu não consigo fazer isso Bella.

— Eu acho melhor eu voltar agora para Seattle.

— Edward por favor...

— Eu deixei isso ir longe demais Bella, desculpa.

Edward foi em direção a casa dos meus pais me deixando ali no meio do jardim chorando. Quando recuperei meu folego corri para casa tentando alcança-lo.

Minha mãe se assustou quando cheguei na cozinha.

— Filha, tá tudo bem? Porque você ta chorando? Edward passou por aqui feito um foguete dizendo que precisava ir. Vocês brigaram?

Sem acreditar que ele tinha ido mesmo embora fui para a frente de casa e vi que seu carro não estava mais lá. Peguei meu celular e tentei ligar para ele mesmo sabendo que ele nunca atenderia enquanto dirige. Na terceira tentativa decidi deixar uma mensagem. Minha mãe continuava parada na sala preocupada. 

— Eu disse pro Edward que eu o amava.

— Ah minha filha, mas o que tem de errado nisso? Pelo jeito que vocês se olhavam eu pensava que vocês já tinham dito isso um para o outro.

Sentei no sofá e trouxe meus joelhos em direção ao peito.

— Ele teve uma infância complicada, a mãe morreu no parto e o pai dele estava tendo um caso com a irmã da esposa, enfim. Foi um grande trauma e hoje ele não consegue lidar muito bem com relacionamentos. Mas eu pensava que pelo tempo que a gente estava junto, mesmo antes de começarmos a namorar, ele ficaria ok.

Minha mãe me abraçou deixando que eu chorasse no seu colo.

— Eu não esperava que ele dissesse de volta, eu sabia que ele não estava pronto para isso ainda. Eu só não conseguia mais guardar isso para mim mesma.

Tentei enxugar as lágrimas que caiam, mas nada adiantou.

— Ele terminou comigo mãe.

— Ah Bella. Eu sinto muito querida.

Em algum momento eu acabei dormindo no colo da minha mãe. Acordei e vi que já estava escuro do lado de fora. Me arrastei para o meu quarto e fiquei o resto do dia tentando falar com Edward. A essa altura ele já devia estar de volta em Seattle. Seu celular continuava dando caixa postal e ele não respondia nenhuma das minhas mensagens.

...

— Filha, você precisa comer. Já tem dois dias que você tá assim Bella, vai acabar tendo que ir pro hospital se continuar assim.

Ignorei minha mãe, peguei uma garrafa de água e segui para meu quarto. Sem sinal do Edward.

...

— Você tem certeza que tá bem para voltar para Seattle Bella? Eu e seu pai ficaríamos mais tranquilos se você ficasse mais um tempo aqui.

— Eu tenho uma entrevista daqui há 3 dias mãe, é melhor eu voltar logo. Preciso finalizar alguns trabalhos que eu tinha feito como freelancer de qualquer forma.

— Você tá pronta para voltar no estúdio filha?

— Já faz 1 mês mãe. Eu preciso seguir com a minha vida. A falta de resposta para minhas mensagens e ligações já me disse tudo o que eu precisava saber.

Sem querer acabei lembrando de uma das mensagens que tinha enviado para Edward depois de uma noite afogando as magoas quando a Leah resolveu me visitar.

Dia 110 desde que você me disse adeus. Hoje deletei todas as nossas fotos do meu celular.

Eu sei que são só 15 dias, mas na minha cabeça faz, mas sentido 110.

E eu não apaguei nossas fotos.

Não tive coragem.

Sinto sua falta Edward.

No dia anterior acordei com uma ressaca horrível e quando abri o aplicativo de mensagens do celular só não entrei em um surto completo porque já estava acostumado com a falta de respostas.

Naquela noite Rose veio me consolar:

— Eu não consigo nem imaginar o que você tá sentindo Bella. Mas também entendo como transtornos mentais são difíceis. Ainda mais quando são relacionados a traumas de infância.

— Ele parecia estar indo tão bem Rose. Eu não me importo nem um pouco se ele não andava comigo de mãos dadas ou íamos ao cinema. Nada disso importa contanto que ele estivesse ao meu lado.

— Você acha que não tem mais como vocês voltarem mesmo?

— Por mim a gente nunca teria terminado. Ele partiu meu coração e aos poucos eu tô conseguindo juntar os caquinhos de volta. Mas seria tão mais fácil com ele aqui.

— Acho melhor você não procurar ele quando voltar para Seattle. As vezes tempo é tudo o que a gente precisa.

— E se ele nunca mais me procurar Rose?

— Ai você continua seguindo em frente.

...

E eu continuei seguindo em frente. Queria poder dizer que eu não contava os dias desde a última vez que tinha visto Edward, mas isso seria mentira. Três meses já se passaram.

Quando fui ao estúdio avisar Marcus que eu não poderia mais ajudar eles com os perfis da Twilight's Tattoo, mas já tinha achado alguém que poderia ajudar, ele me contou que Edward tinha pedido demissão. A última vez que eles tinham se falado Edward tinha ido passar uns dias em Portland.

Meu novo trabalho me manteve ocupada. Era bem mais flexível do que quando eu trabalhava com a Jane. Eu só precisava ir para o escritório em dias de reuniões, o restante eu podia fazer de casa.

Estava arrumando o meu apartamento quando o som da campainha me assustou. Eu não estava esperando ninguém.

Abri a porta para encontrar um Edward completamente diferente da última vez que estivemos juntos. Seu peso parecia o mesmo, mas seus olhos estavam mais fundos com olheiras contornando-os. Sua barba também era algo novo.

— Oi.

— Edward...

— Desculpa aparecer assim, mas eu não sabia se você atenderia minha ligação.

Eu atenderia.

— Será que eu posso entrar?

Me afastei da porta dando espaço para que ele pudesse passar. Me sentei no sofá e Edward se sentou de frente pra mim na mesa de centro. Sentei-me por cima das minhas mãos para impedir que eu o tocasse de alguma forma. Ainda não conseguia acreditar que ele estava aqui.

— Eu vim te pedir desculpas Bella. – Edward esticou o braço para pegar minha mão, me surpreendendo. – Não devia ter saído de Forks daquela maneira, não sem conversamos direito. Eu não me lembro nem de ter me despedido dos seus pais.

Não conseguia responder nada. Desde o dia de Natal ficava ensaiando o que eu diria no dia que nos encontrássemos novamente, mas nada conseguia passar pela minha boca.

— Dirigi direto para Portland e acabei desligando meu celular no caminho. Tive alguns ataques de pânico que me obrigaram a parar várias vezes. Assim que cheguei na casa do meu pai fomos ver meu psiquiatra. Foi preciso aumentar a dose da minha medicação, levei um tempo para me adaptar, mas agora parece que tudo está melhorando.

Tudo o que eu consegui fazer foi apertar sua mão. Edward levantou a cabeça fixando seu olhar no meu.

— Nunca tinha percebido o quanto eu era sozinho até que eu te conheci Bella. Vivia a minha vida sem deixar que ninguém se aproximasse de mim. Mas você conseguiu Bella e me mudou tanto.

As lágrimas começaram a correr pelo meu rosto e Edward levantou suas mãos para secá-las.

— O que eu te falei lá atrás é verdade. Você merece alguém que seja capaz de te amar da forma que você merece Bella. E eu pensava que não era capaz disso, mas a verdade é que eu te amo tanto Bella.

Não consegui impedir que um soluço de choro escapasse. De repente eu não era mais a única chorando.

— Vim aqui me desculpar e implorar para que você me dê uma chance. Porque passar esses dias longe de você não tem sido fácil Bella.

Abracei Edward sem aguentar mais a distância entre nós dois.  

— Eu te amo tanto Edward.

— Eu li todas as suas mensagens e tenho um documento inteiro respondendo cada uma delas. Mandei para o seu e-mail hoje. Eu sei que não deveria, mas a que você me mandou falando que tinha apagado nossas fotos me fez rir um pouco. Até eu lembrar o quanto eu tinha te magoado e cai no choro de novo.

— Você chorou por mim?

— Todo dia Bella, todo dia.

Ficamos abraçados por um tempo. Mantando a saudade de estar próximo um do outro.

— Eu tô pronto agora, para te amar, mas ou precisar de um pouco de ajuda Bella. Nunca senti por alguém o que eu sinto por você e já deu para perceber que eu não sou um namorado muito bom. Mas eu juro que vou tentar, todos os dias. Porque já sei como é viver sem você e não quero isso nunca mais.

— Nós temos todo o tempo do mundo Edward.

— Você é o meu para sempre Bella.

Bem, quando ele me vinha com uma declaração dessas como eu poderia resistir?

Sabia que nosso caminho não seria fácil. Tinha plena consciência que a fobia de Edward não iria desaparecer de uma hora para outra só porque ele me amava. Mas pelo menos agora poderíamos enfrentar tudo isso juntos.

E era isso que importava.

Fim!


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Notas finais do capítulo

Valk que desafio você me deu. A característica que você deu para o personagem (ter filofobia), fez com que eu tivesse medo de que a história ficasse pesada demais. Em um dos rascunhos me peguei chorando com o rumo que os personagens tinham tomado e por isso mudei o plot dessa One no mínimo umas 6 vezes e cheguei a pensar que não conseguiria finalizar. Mas consegui e fiquei tão feliz com o resultado. Tentei incorporar um pouco da tradução da música durante a One e no título.

Espero que tenha gostado do presente.