Mess It Up escrita por gabimts13


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Agatha, assim que vi seus combos e escutei as músicas, sabia que ia escrever a fic inspirada em Naked, do James Arthur. Além dos outros elementos do combo, tentei colocar na história os sentimentos que percebi na letra da música. Espero que você goste tanto de ler quanto eu gostei de escrever, mesmo se não tiver sido nada do que você imaginou!

Chloe, minha beta querida, obrigada pelas ideias, pela capa e por toda ajuda nessa aventura!!

Boa leitura!



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EPOV

 O outono no interior na Inglaterra oferece uma das paisagens mais bonitas que já vi na vida. Apesar de ter nascido no país e ter visitado a região em outras ocasiões, eu não conseguia me acostumar com a beleza que a estação proporciona. As árvores ganham um tom alaranjado e as folhas caídas são um lembrete constante da efemeridade da vida. Em um momento elas estão verdes e vivas, no outro, ao chão.

O ar de outubro está frio e mesmo sabendo que é o esperado para essa época do ano, não posso deixar de sentir a diferença, já que cheguei do hemisfério sul e as temperaturas estão bastante diferentes por lá.

Infelizmente, a rotina pesada das competições de hipismo não me deixa voltar com tanta frequência quanto gostaria e já havia dois anos que eu não passava o Heritage Open Day com minha família. Esse ano, no entanto, minha vitória nos Jogos Olímpicos que aconteceram no verão me permitiram estar livre para a comemoração no Palácio de Belton House, em Lincolshire.

Talvez eu até consiga usar esse tempo aqui para pensar em quais serão meus próximos passos, profissionalmente falando.

O hipismo está tão entranhado na minha vida que já faz parte da minha identidade. Eu provavelmente não me reconheceria sem o título de ginete ao lado do meu nome, e ultimamente essa constatação vem me inquietando.

Há 8 anos, quando entrei na universidade, eu já era uma promessa do hipismo. Na época, nem era realmente uma possibilidade seguir outra profissão, não com minha carreira de atleta dando frutos tão precocemente. Mas, ainda assim, era importante para mim ter um plano B e eu escolhi cursar veterinária. Minha inclinação para essa área veio do meu contato direto com os cavalos com que treinei quando era criança e adolescente, era fascinante para mim a inteligência deles. Sem falar que realmente conseguia me ver trabalhando com animais, cavalos em especial, no futuro.

Mas quanto mais me dedicava ao esporte, menos conseguia focar na minha formação acadêmica e, ainda no segundo ano de estudo, ficou impossível conciliar as duas atividades. Então deixei de lado a faculdade para me concentrar em ser o melhor ginete do Reino Unido, talvez até do mundo se eu me esforçasse o suficiente.

E funcionou. Seis anos depois eu sou, modéstia à parte, o melhor do mundo no meu esporte. E não é só na opinião dos meus pais, eu realmente ganhei todas as competições possíveis em todas as categorias.

O fato é que nessas últimas Olimpíadas um colega de equipe caiu e se machucou feio, com o tempo e fisioterapia ele provavelmente vai se recuperar e voltar a competir, mas sua queda foi suficiente para colocar minha carreira em perspectiva e me fazer questionar se eu fiz a escolha certa quando escolhi o hipismo em detrimento a uma profissão menos arriscada.

Além disso, é engraçado como uma sequência de vitórias pode mexer com sua cabeça. Dedicar tanto da minha vida a um único esporte vem me fazendo pensar que eu só sou bom em uma coisa na vida. Se por acaso fosse eu que tivesse caído e não pudesse mais competir, quem eu seria?

Desde então, sempre que olho para Eclipse, meu atual cavalo companheiro de competições, penso se não seria a hora de deixar o esporte de lado para me dedicar a uma paixão mais antiga.

Quando confessei meus anseios à Zafrina, minha treinadora desde que eu era adolescente, e as vezes minha psicóloga, ela apenas riu e disse que eu estava tendo uma crise de identidade atrasada. Que era normal para todo atleta de alto rendimento se questionar se era bom o suficiente, mas se eu focasse em fazer meu trabalho, veria que minhas inseguranças eram preocupações desnecessárias.

Confiei na sabedoria e nos mais de trinta anos de experiência dela, e apesar dessa conversa ter aplacado um pouco algumas questões, a semente de seguir outras possibilidades estava plantada. E esse tempo em família em um lugar isolado parecia apropriado para achar algumas respostas.

As atividades propostas no Heritage Open Day vão desde a colheita de frutos e passeios pela propriedade até a visitação do palácio em si, já que seu interior é repleto de cômodos e móveis históricos, e dos jardins, que são uma atração à parte. Além do mais, no último dia do evento, um baile beneficente está agendado para arrecadar recursos para a National Trust, uma organização de conservação do patrimônio.

Mas apesar de tudo isso soar divertido, não é a promessa de programas rurais e visitas guiadas que me atrai. Esse ano, a promessa de ver Isabella Swan é a principal responsável por me trazer aqui.

Meus pais e minha irmã haviam insistido para que eu comparecesse, sem saber que já estava nos meus planos retornar. 

Essa celebração é uma das ocasiões especiais em que muitas famílias influentes da Inglaterra se reencontram e isso significa que é quase certeza que verei Bella. A última vez que nos encontramos foi há quatro meses e, sinceramente, não sei o que esperar quando estivermos cara a cara de novo.

Apenas algumas pessoas tinham o privilégio de se hospedarem na própria Casa Belton durante os 4 dias de festividades e nossas famílias têm prestígio o suficiente para ser uma das poucas convidadas.

Os Cullen ganharam seu status há décadas quando em um investimento certo no ramo de automóveis, meu tataravô conseguiu garantir o futuro de pelo menos quatro gerações. Felizmente, seus herdeiros também tinham a mão boa para os negócios e estamos colhendo os frutos até agora.

Os Swan, por outro lado, tinham conseguido seu espaço na indústria têxtil. E eu tenho quase certeza de que o fato de as empresas não serem concorrentes ajudou a formar e manter a amizade entre as famílias.

Meus pais conheceram Charlie e Renée Swan em um evento de caridade quando eu tinha um ano de idade e Renée estava grávida de Bella. A conexão imediata deles foi inevitavelmente transferida para nós e, considerando a idade próxima, e o fato de estudarmos na mesma escola e frequentarmos os mesmos eventos, nossa amizade foi inevitável.

E até alguns meses atrás, era apenas isso: amizade.

Minha mãe e Tia Renée sempre brincavam que Bella e eu um dia acabaríamos juntos, mas os comentários só me faziam revirar os olhos e deixar Bella vermelha de vergonha.

O que eu não imaginava era que um dia eu realmente concordaria com a duas.

Quase posso apontar o instante exato que passei a ver minha amiga com outros olhos, mas na primavera desse ano, alguns dias antes de começar meu isolamento para focar nos treinos para as Olimpíadas, o jeito que ela segurou minha mão pareceu diferente, seu sorriso me afetou de um jeito inesperado, seus olhos castanhos estavam tão perto dos meus olhos verdes que vi um brilho que nunca havia notado.

Agora, em retrospecto, parece que toda a minha vida foi construída para esta realização. Nós sempre fomos como carne e unha, nos metendo e nos livrando de confusões juntos. E eu sempre soube que podia contar com Bella nos melhores e piores momentos.

Era uma tradição nossa deixar um evento quando estava ficando entediante, ainda crianças descobrimos que a companhia um do outro era suficiente para nos entreter. Então, há alguns meses, quando o coquetel no country club começou a ficar chato, com apenas um olhar nós sabíamos que era a hora de sair. Eu estendi minha mão para ajudá-la a se levantar da cadeira e dessa vez seu toque foi tão agradável em minha pele que apenas não soltei e seguimos de mãos dadas até o outro lado do jardim.

Eu poderia culpar o álcool consumido, mas pela primeira vez em anos eu me dei conta do quão linda Bella era, claro que eu sabia que ela é bonita, mas naquele fim de tarde em especial foi como se eu realmente estivesse enxergando sua beleza pela primeira vez. E quando ela comentou sobre o quão absurdo era a quantidade de dinheiro desperdiçada nesses eventos, e que o investimento seria melhor aplicado se fosse oferecido diretamente a ONGs, eu percebi o quanto era ela inteligente. Na verdade, ela sempre foi inteligente, mas naquele momento meu cérebro decidiu que sua inteligência a deixava mais atraente.  

Então ela comentou como seus pais só estavam naquele coquetel pelo camarão empanado, e eu não consegui segurar o riso e ela estava sorrindo também e seu rosto estava tão perto que inclinar a cabeça e beijá-la era única possibilidade daquele momento.

Quando ela respondeu com entusiasmo, a adrenalina e a eletricidade que senti me deixaram um tanto atordoado. Mas de um jeito bom, de um jeito incrível, na verdade. E quando finalmente nossos lábios desgrudaram, a surpresa no rosto de Bella logo se transformou em um sorriso e quando eu sorri também, ela balançou a cabeça de leve como se espantasse um pensamento e voltou a falar sobre o quer que fosse que estava falando antes do beijo.

Mas o impacto do que aconteceu me acompanhou até nos despedirmos e, ao dar boa noite, me perguntei se deveria beijá-la de novo, porque eu queria. E muito. Minha hesitação deve ter ficado transparecida no meu rosto pois Bella me deu um beijo na bochecha e disse: — Você não me deve nada. Boa noite e boa sorte, vou torcer por você.

No dia seguinte eu ia viajar para o centro de treinamento do outro lado do país para começar minha preparação para os jogos olímpicos e infelizmente, isso envolvia me isolar um pouco dos amigos e da família, inclusive diminuindo o uso do celular.

Então não tive muitas chances de conversar com Bella sobre o que aconteceu naquela festa e sabendo que não poderia estar distraído, decidi deixar minhas inquietações sobre o que aconteceu para depois do fim da competição.

Mas agora, sabendo que vou vê-la a qualquer momento, a memória do nosso último encontro não para de voltar à minha cabeça e eu não consigo parar de analisar o que aconteceu entre nós.

XXX

—Tá ansioso, Edward? 

A voz atrás de mim me assusta um pouco e viro rápido em sua direção. Alice vem da escadaria principal do palácio e está com um sorrisinho torto no rosto, o mesmo que eu costumo usar, e pelo brilho travesso em seus olhos tenho certeza de que ela sabe exatamente a resposta da própria pergunta. Conte com a minha irmã mais nova para saber imediatamente quando não estou no meu estado perfeito.

— Na verdade, não — minto.

— Nem tenta, mano, eu te conheço — fala se aproximando. Não consigo evitar o sorriso quando ela levanta a cabeça para me olhar, já faz anos que ela reclama que eu fui egoísta e roubei toda a altura da família para mim.

— Ok, talvez eu esteja um pouco — admito bagunçando seu cabelo. Agora está na altura do queixo e com uma franja, o olhar irritado que ela me lança enquanto arruma os fios no lugar me faz rir.

— Não se preocupa, eles já estão chegando.

— Quem?

— Quem mais? — Alice revira os olhos. — Os Swan, é claro. É por isso que você tá nervoso, não é? Por causa da Bella?

Se estivesse bebendo alguma coisa com certeza teria me engasgado com a pergunta tão certeira da baixinha. Mas eu nunca contei do beijo que aconteceu entre Bella e eu, então não tenho certeza se é a isso que ela está se referindo.

— Co-como assim?

— Edward, ela é uma das suas melhores amigas, e vocês não se veem há meses, é obvio que você tá doido pra colocar a conversa em dia.

— Ah, claro — falo soltando o ar que nem sabia que estava segurando. — Claro que é por isso.

— A não ser que não seja? — Ela pergunta desconfiada.

— Não, não, você está certa, eu realmente preciso falar com ela. Inclusive, vocês têm conversado ultimamente?

Alice e Bella também são muito próximas e essa é minha chance de descobrir se talvez Bella já não tenha compartilhado a informação e Alice só está disfarçando e rindo internamente da minha cara.

— Sempre, mas nós conversamos o tempo todo. Você sabe disso. — Ela estreita os olhos e passo a mão pelos cabelos enquanto respiro fundo. Talvez seja melhor perguntar diretamente o que estou morrendo de curiosidade para saber.

— Ela por acaso não falou nada de mim?

— Claro que falou, — responde e meu coração dá um salto, é agora que Alice abre o jogo e me conta que Bella enfim confessou seu amor eterno por mim e que eu sempre fui... — ela me ligou quando você ganhou a medalha, gritamos juntas no telefone, foi incrível.

Ok, ela definitivamente não sabe do beijo.

 — Nossa, que cara de decepção é essa?

— Nada, é só... Quer saber? Deixa pra lá. — Minha irmã abre a boca para protestar, mas antes que saia alguma coisa, eu mudo de assunto. — Então, me conta, o que é que tem de bom pra gente fazer aqui?

E foi o suficiente para ela começar a tagarelar sobre todas as atividades possíveis de fazer na região e sobre como o baile seria perfeito e que ela já tinha escolhido o vestido dela e até meu smoking. Mas a voz de Alice vai se distanciando quando o barulho de um carro se aproximando chama minha atenção. Quase como se estivesse sendo guiados até lá, me vejo parado diante da porta enquanto os Swan saem do automóvel e caminham na minha direção.  

Tio Charlie vem na frente com seu terno elegante, cortesia da Casa Swan. Se ele chegou aonde está, é porque além de garantir a alta qualidade das suas roupas, ele sabe fazer uma bela propaganda do seu negócio. Com seus cinquenta e tantos anos, alguns cabelos grisalhos já ocupavam uma boa parte da cabeleira castanha, e ele pareceria mais jovem se não fosse o bigode cheio chamando atenção no seu rosto. Eu lembro de dizer quando era criança que teria um bigode igual ao dele. Infelizmente, ou felizmente na opinião da minha mãe, minha barba nunca vingou e eu nunca tive a oportunidade.

— Edward, filho, cadê a medalha? E aquele último salto? Incrível, depois você precisa me contar tudo daquela prova.— Tio Charlie fala entusiasmado enquanto me abraça. Tendo me conhecido quando eu era bebê, ele é mesmo como um segundo pai para mim.

— Oi tio, eu vou bem e você? — pergunto rindo. Ele me solta e dá umas batidas no meu ombro.

— Charlie, não acredito que você só quer saber da competição! Meses sem ver o garoto e a primeira pergunta que faz é onde está a medalha? — Tia Renée o repreende e rio ainda mais com o fato dele ficar vermelho com a puxada de orelha. — Como você está, querido? Ficamos tão felizes por você!

Ela me abraça e beijo o topo da sua cabeça. Renée Swan é sempre elegante e com seus cabelos castanhos curtos e olhos azuis, aparenta ter menos idade do que tem. Bella é uma perfeita combinação do rosto em formato de coração da mãe com os olhos castanhos do pai.

— Obrigado, tia! Estou bem, consegui descansar depois dos jogos, mas já estou quase pronto para voltar à ativa.  

— Onde estão seus pais? — pergunta depois de cumprimentar Alice.

— Não tenho certeza, mas acho que na sala de leitura.

— Ótimo! Tenho novidades para compartilhar com Esme.

— Vamos, eu vou com vocês. — Alice oferece.

Tio Charlie me lança um olhar como se pedisse socorro, mas mesmo a contragosto segue a esposa. Acompanho-os com o olhar até eles sumirem pelo corredor à direita.

Arfo quando me viro em direção a porta e encontro Bella ali. Seus pais estavam tão eufóricos e ela tão silenciosa que esqueci que ela chegaria junto com eles.

Sendo filha de quem é, Bella sempre está impecavelmente vestida. Não que eu entenda muito de moda, mas tendo Alice por irmã e Bella por melhor amiga, ainda que eu esteja querendo mudar esse título, eu tenho uma noção de como apreciar um look bonito.  

Bella tem a elegância da mãe, mas seu estilo é sempre mais casual. Hoje ela está com uma calça jeans, um top branco e um cardigan longo da mesma cor, feito de lã. Seus cabelos castanhos estão soltos e na altura da sua cintura, e sinto um impulso de passar minhas mãos por entre os fios. Eu nunca tinha reparado antes, mas quando a beijei, senti o quanto eles eram sedosos e meu corpo parece querer repetir a experiência imediatamente.

É estranho que durante anos eu só a achava bonita e agora, como um passe de mágica, eu não consigo deixar de admirar os detalhes que descobri naquele dia, meses atrás, e que a tornam ainda mais linda.

— Swan. Achei que não ia aparecer mais — falo apontando para meu relógio de pulso. Ela nem estava tão atrasada assim, mas qualquer oportunidade de provocá-la é válida. Faz parte da nossa dinâmica.

— Isso tudo é saudade de mim, Cullen? — rebate com um sorriso travesso.

Parece que minha preocupação sobre as coisas estarem constrangedoras entre a gente é em vão. A familiaridade da nossa amizade está intacta e se de um lado estou feliz com essa constatação, não consigo deixar de me perguntar se nosso beijo não teve efeito nenhum sobre ela.

Abro os braços e ela aceita o convite sem hesitar. Seu corpo pequeno é quente e se encaixa perfeitamente no meu. Sua cabeça está apoiada no meu peito e seus braços ao redor da minha cintura. Ela suspira e sei que, pelo menos nesse momento, nossos pensamentos são parecidos. Bella também está contente em me ver. Beijo sua testa e ela ergue a cabeça me oferendo o sorriso mais lindo que já vi.

— Parabéns pela vitória, Edward. Senti tanto orgulho de você.

Aperto-a um pouco mais forte antes de soltar e puxo-a pela mão em direção as escadas que levam aos quartos.

— Vem, vou te mostrar a medalha, você vai poder se gabar para o Tio Charlie que viu primeiro.

Ela ri alto e me segue sem protestar. Sua mão ainda na minha é um lembrete do que podemos ser, mas agora vou apenas apreciar o momento. Assuntos mais sérios podem esperar um pouco.

XXX

Mais tarde, à mesa do jantar, com as famílias reunidas me dou conta de como senti falta da companhia de cada um aqui. Quando estou concentrado nos jogos, é difícil focar minha atenção em outra coisa que não sejam os treinos. Mas ouvir meus pais rirem com seus amigos me traz uma nostalgia que eu não sabia estar guardada em mim.

— Sentiu falta, né? — Alice pergunta como se lesse minha mente.

— Sim — respondo e indico com a cabeça para Tia Renée e minha mãe cochichando do outro lado da mesa. — O que você acha que elas tão fofocando?

— Provavelmente planejando o casamento de vocês. — Ela fala enquanto aponta o dedo de mim para Bella e vice-versa.

— Alice!! — protesto ao mesmo tempo que Bella cospe o vinho ao meu lado. 

— Mas por que a surpresa? É o que elas fazem desde que vocês eram crianças. — Se defende levantando as mãos num gesto de rendição.

Ela não mentiu, eu tenho certeza de que se pedisse Bella em casamento agora, um planner com sugestões de datas, locais e flores seria colocado na minha frente antes mesmo de eu ouvir um sim como resposta.  

Nossos pais olham para a gente com a comoção, mas Alice logo avisa que nada demais aconteceu.

— Essa garota ainda vai me matar de vergonha um dia. — Bella reclama estreitando os olhos para minha irmã. Eu acreditaria se não fosse pelo fato de que agora ela tem um leve sorriso nos lábios. Mas Bella nunca conseguia ficar com raiva de Alice e quando ficava era por pouquíssimo tempo, então eu sabia que ela tinha falado brincando.

As duas têm uma relação fraterna muito bonita e eu sempre uso o fato de ser mais velho para provocar Alice dizendo que Bella me considera seu melhor amigo porque a conheci primeiro e que a considera só a irmã mais nova irritante.

— Ei, como estão as coisas com seus pais? — sussurro perto do ouvido da morena. — Ainda pedindo para você fazer mais pela Casa Swan?

Era uma queixa constante de Bella que muitas vezes seus pais lhe tratavam como uma mera funcionária da empresa. E não teria o menor problema se trabalhar para eles fosse sua maior ambição, mas não é. Ela já disse muitas vezes que preferiria o afeto dos seus pais, mais que a confiança deles em sua habilidade de ser a porta voz da marca. E pelo jeito que ela os olha agora, essa vontade persiste.

— Ai, Edward — responde com um suspiro. — Sinceramente, eu nem sei mais o que eles querem.

—  As coisas estão ruins nesse nível?

— Pra ser justa, eles continuam do jeito que sempre foram, eu que não tô tão disposta a fazer tudo sem reclamar.

— É difícil para mim conciliar a forma como eles te tratam com o que eu conheço dos dois.

Bella dá de ombros e volta sua atenção para o prato. Ela não falaria mais nesse assunto hoje, mas talvez nos dias seguintes ela se abra um pouco comigo. Não é muito do seu feitio esconder as preocupações de mim e esse é um aspecto do nosso relacionamento que eu espero que não mude. O que me lembra...

— Sabe, Bella, — começo. — Eu acho que a gente precisa conversar sobre um assunto.

— Um só? Tem meses que a gente não se vê e você só quer falar de uma coisa comigo? — Ela coloca a mão no peito fingindo indignação.

— Não, engraçadinha, — Reviro os olhos. — Um assunto especial que precisa ser discutido — enfatizo.

— Parece sério. — Ela rebate erguendo as sobrancelhas.

— Porque é — falo chegando mais perto ainda e a vejo ofegar.

Esse é o primeiro sinal de que minha presença a afeta de alguma forma. Quando nos abraçamos, nada fora do normal estava acontecendo porque abraços eram comuns na nossa relação de amizade. Mas sua reação agora me faz pensar que talvez eu tenha alguma chance de ser visto como mais que amigo.

— Então fala logo. 

— Agora não, o que a gente tem que conversar precisa de privacidade.

Me afasto e Bella estreita os olhos. Não resisto e dou uma piscadinha, irritando-a mais ainda.

— Pode pelo menos dar alguma dica?

— Hum, envolve a última vez que a gente se viu pessoalmente.

— Aquilo foi só um momento, não tem o que conversar sobre. — Ela responde rápido demais para alguém que não quer falar sobre o assunto.

— Isso é o que a gente vai ver. Eu aposto que você está curiosa, não vai aguentar muito tempo sem me perguntar nada.

— Você está me desafiando, Edward Cullen? — Ela pergunta erguendo a sobrancelha, mas o sorriso em seu rosto me mostra que ela vê o humor da situação.

— Talvez, tá com medo de eu estar certo?

— Nunca! — Ela ri.

— Ótimo, — concordo — porque não tem motivo para se assustar.

Ela fica séria novamente e coloco uma mecha de cabelo que está fora do lugar atrás da sua orelha. O movimento é estranhamente íntimo e me lembra do beijo que compartilhamos meses atrás. Se tudo der certo, aquele terá sido o primeiro de muitos. Com sorte, a gente vai conversar e ela vai deixar nossa relação avançar para o próximo nível.

XXX

Depois do jantar de ontem, cada família foi para um cômodo diferente e não tive a chance de falar com Bella. Mas foi um espaço bem-vindo já que me deu tempo de refletir sobre como falar com ela.

A resposta que ela deu ontem à noite foi um indicativo de que tocar nesse assunto não será fácil. A verdade é que uma vez que eu ganhei os Jogos Olímpicos e minha cabeça ficou livre para pensar em qualquer outra coisa, Bella e aquele beijo foram os primeiros a invadir minha mente. Desde então eu me acostumei com a ideia de explorar nossa amizade e eventualmente buscar um relacionamento com ela.

Eu tive um total de dois relacionamentos sérios na minha vida. Kate Denali, quando eu tinha 17 anos, foi minha primeira namorada, minha primeira vez e meu primeiro coração partido. Nós nos conhecemos na escola, mas com um ano de namoro e dois dias antes de eu começar a faculdade, ela me disse que havia se apaixonado por outra pessoa. Na época eu sofri muito tendo que me adaptar a uma nova rotina da faculdade e ainda lidar com a decepção de perder minha namorada para outro cara.

Depois, com minha atenção focada totalmente na carreira, só tive encontros casuais que não levavam a nada. Aos 23, meu pai me apresentou Lauren Mallory, a filha de um cliente dele. Resolvi dar uma chance e fomos jantar, ela era legal o suficiente e eu pensei que era o momento de tentar de novo. Mesmo sem estar apaixonado, eu fui levando esse relacionamento por dois anos até que um dia ouvi sem querer Lauren no telefone com uma amiga dizendo que se não fosse pelo meu status e pelo meu dinheiro ela já teria me deixado.

Isso foi há um ano e meio e desde então não tive nada sério de novo. Até hoje meu pai se desculpa por ter nos apresentado e acho que o trauma foi tão grande para a família que ninguém mais cogitou apresentar alguém para mim.

Nesse meio tempo, minha mãe só reclamava que eu estava perdendo tempo tentando algo com outras pessoas quando a pessoa certa para mim estava bem debaixo do meu nariz.

— No dia que sua ficha cair, meu filho — Ela costumava dizer — eu vou assistir de camarote e levar uma plaquinha escrito “EU JÁ SABIA”. E Renée vai estar segurando a placa comigo.

Eu não deveria ter duvidado de suas previsões, porque agora tudo o que eu conseguia pensar é em como eu fui cego de não notar Bella ao meu lado todos esses anos, competição após competição, celebrando ou me consolando sem nunca pedir nada em troca.

Depois daquele beijo, finalmente fez sentido porque nunca deu certo com nenhuma outra. Agora parece obvio que Bella é a única mulher possível para mim. Eu só preciso mostrar que eu sou o único homem possível para ela também.

O café da manhã é bastante agradável, mas dessa vez apenas com a minha família. Bella ainda não acordou e seus pais precisaram sair por algumas horas.

Resolvo caminhar para espairecer um pouco e vago pela Casa Belton até achar o celeiro. Não importa em qual propriedade eu esteja, se houver um celeiro as chances são de que vou encontrá-lo. É um local que sempre me oferece conforto e familiaridade e ultimamente tenho precisado bastante disso.

O hipismo faz parte da minha vida desde sempre. Meu talento para a montaria foi descoberto quando eu ainda era criança e o que começou como diversão logo se transformou em algo sério.

Eu me tornei ginete profissional aos 17 e, nessa idade, já havia ganhado os principais prêmios nas categorias infanto-juvenil.

Quase dez anos depois, eu também tenho os troféus do Mundial e da Copa do Mundo de hipismo, bem como uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, completando minhas vitórias nos torneios mais importantes do esporte.

Estou nos estábulos acariciando um dos cavalos do palácio quando sinto uma presença atrás de mim.

— Sempre perto deles, né? — Bella fala baixo quase que para não assustar o animal.

— Sim, — falo me virando em sua direção. Ela levanta a mão, mas antes de tocar no bicho olha para mim, entendo seu pedido de permissão para acariciá-lo e assinto com a cabeça. — Nunca falha em me acalmar.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunta com preocupação em sua voz.

— Não exatamente, só pensando em como minha vida toda foi voltada para o hipismo.

— Eu sempre soube que você se tornaria profissional.

— Por que eu era muito melhor que você? — brinco.

— Muito engraçado, — Ela revira os olhos — mas infelizmente é verdade. 

Rio da sua indignação, e lembro de quando eu tinha 13 anos e Bella 12 e eu a convenci a tentar montar. Àquela altura eu já treinava há anos e sempre falava para ela o quão incrível era. Claro que eu não entendia que só era incrível se a pessoa levasse jeito ou soubesse o que estava fazendo. Bella não tinha uma coisa nem outra. Ainda assim, ela não faltou nenhuma aula sequer que fizemos juntos e sempre me incentivava quando eu errava alguma sequência de saltos e me chateava. 

— Até hoje não sei por que você parou.

— Foi só uma fase. — Ela dá de ombros — Um passatempo de criança, eu claramente nunca tive seu talento.

— Mas você parecia gostar quando a gente andava junto.

— Era um pouco divertido. — Ela fala corando. — Mas deixo isso para você. 

Ficamos em silêncio por alguns instantes até que uma ideia surge na minha cabeça.

— Quer dar uma volta?

— Uma volta? — Ela franze a testa.

— É, eu posso selar um cavalo e a gente passeia pelo jardim atrás da Casa.

— Eu não sei, tem tempo que não monto, não acho que vai ser uma boa ideia.

— A gente pode ir junto, eu não vou te deixar cair. — Meu coração acelera com a ideia de ter Bella perto de mim mesmo que seja de um jeito inocente.

— Ok. — Ela responde ainda um pouco hesitante. — Mas se você me deixar cair eu vou roubar sua medalha olímpica.

— Feito.

Depois de perguntar para um dos cuidadores qual era o cavalo mais manso ou o que estava mais acostumado com humanos, descubro que é New Moon, o mesmo que estávamos acariciando antes. Então o selo e ajudo Bella a subir primeiro, montando em seguida atrás dela. Ela está com as mãos apoiada no pito e eu estou segurando as rédeas, de forma que meus braços a envolvem num abraço e sinto suas costas no meu peito.

Contato físico nunca tinha sido um tópico desconfortável entre a gente, a não ser nos anos que passamos pela puberdade e eu descobri que algumas partes do corpo de Bella tinham se desenvolvido, mas logo a novidade passou e eu me esqueci que Bella também tinha os atributos que eu tanto apreciava em outras meninas.

Mas agora, sentindo seu corpo perto do meu, só consigo lembrar da última vez que estivemos tão perto e que eu preciso urgentemente achar um jeito de declarar meus sentimentos, preciso pelo menos contar sobre a confusão na minha cabeça e torcer para ser correspondido. Eu vi o sorriso que ela deu depois do beijo, mas se realmente foi só um momento aleatório entre dois amigos meio bêbados, eu quero saber também.

Cavalgamos por mais alguns minutos até achar uma campina longe do palácio, mas ainda dentro da propriedade. New Moon está pastando por perto e Bella e eu nos sentamos no meio do terreno. Ela está com os cotovelos apoiados no chão, os olhos fechados e o rosto levantado para o céu, é uma pena que o dia está nublado ou tenho certeza de que ela já teria aberto um sorriso ao sentir os raios de sol.

— Bella — chamo.

— Sim — responde ainda sem olhar para mim.

— Sobre o que aconteceu na primavera...

— Foi um erro. — Ela me interrompe e sinto instantaneamente uma pontada no peito.

— Um erro?

— É, Edward, — Ela muda de posição se sentando e finalmente me olhando. — A gente se deixou levar pelo momento, mas não significou nada. — Ela baixa a cabeça ao dizer essa última parte e eu olho a paisagem ao lado para tentar assimilar o que ela acabou de falar.

— Nada? Eu me lembro de você retribuiu com gosto — digo tentando tornar o clima mais leve. Funciona e ela ri um pouco.

— Ok, isso eu não vou negar, mas um beijo é um beijo. — Ela fala com indiferença.

— Não acredito que não te deu vontade de me beijar de novo.

Suas bochechas ficam vermelhas e me pergunto se ela realmente acredita no que está afirmando.  

— Poxa, Bella me dá uma moral e diz pelo menos que eu beijo bem.

— Até onde eu sei, você também pode não ter gostado do meu beijo, não me beijou de novo quando a gente se despediu.

— Eu queria, mas você disse que eu não te devia nada, fiquei confuso na hora e achei melhor não beijar.

— O que? — Ela pergunta com os olhos arregalados. — Você perguntou se deveria me beijar, eu não queria que você se sentisse obrigado.

— Eu não... — começo a falar confuso, mas ela continua.

— Quer saber? Vamos apenas deixar para lá e virar essa página.

— Eu não queria deixar para lá e virar a página, Bella. Queria conversar sobre, porque tive a sensação de que você também poderia ter sentido algo a mais. 

Ela franze a testa e abre a boca como se fosse fazer uma pergunta, mas muda de ideia e logo a fecha.

— Desculpe se dei a impressão errada. — Ela fala suavemente.

— Talvez eu tenha visto o que eu queria ver — pondero. — Me desculpe se fiz você se sentir desconfortável.

— Tá tudo bem.

Olho para ela e sua testa ainda está um pouco franzida.

— Tem certeza?

— Tenho, tá tudo bem mesmo. 

O caminho de volta à Casa é percorrido num silêncio um pouco constrangedor, mas pelo menos eu tinha colocado aquele assunto para fora. Agora me resta esquecer o que aconteceu e seguir a vida desfrutando da amizade dela. É um privilégio, e eu saberia valorizar a relação que temos sem duvidar que tudo o que ela sente por mim é amizade também.

XXX

No tempo que passamos fora, mais algumas famílias chegaram para desfrutar dos eventos do Heritage Open Day. No almoço, vejo que entre os convidados estão os Stanley. Eles são um grande nome da indústria do metal e embora tenham alguns negócios com a Cullen Company, a relação entre nossas famílias nunca se aprofundou. Meu pai fazia questão de manter um bom relacionamento profissional com eles, mas nada além disso.

E apesar de não fazermos esforço para nos aproximar deles, sempre acabávamos nos trombando em outras ocasiões. Jeremy e Anna Stanley eram um casal discreto e cordial, a filha deles, Jessica, no entanto podia ser inconveniente.

Ela e eu temos a mesma idade e chegamos a frequentar a mesma escola, mas Jessica sempre foi a garota popular que gostava da atenção que recebia e as vezes abusava da sua popularidade fazendo comentários maldosos sobre qualquer pessoa que não fizesse parte do seu grupinho de amigos.

Eu não fazia parte do grupo mais próximo a ela, mas ela não ousava falar qualquer coisa ruim sobre mim só pelo fato de eu ser popular também. Não que isso fizesse diferença para mim, pois dedicando tanto da minha vida ao hipismo, não me sobrava tempo para me importar com concursos de popularidade da escola.

Meu carma era que quando éramos adolescentes, e antes de eu começar a namorar Kate, Jessica fazia de tudo para chamar minha atenção, mesmo eu deixando claro que não estava interessado. Ela insistiu por algum tempo, mas depois que apareci namorando outra pessoa, ela finalmente me esqueceu e nunca mais tocou no assunto.

Já faz alguns anos que não a encontro pessoalmente, mas as notícias dos meus términos foram bem públicas, então tenho certeza de que ela sabe sobre meu atual estado civil. Tremo só de pensar que depois de todos esses anos ela pode tentar alguma coisa. Mesmo sabendo que não tenho chances com Bella, não estou disposto a me jogar na primeira opção que aparecer na minha frente.

Antes da refeição começar, Bella e eu estamos em pé conversando e ela me conta um pouco de como foi o seu verão e nesse momento sinto alívio ao saber que nossa amizade pareceu sobreviver à conversa um tanto constrangedora da manhã.

Mas então, na hora de nos sentarmos à mesa, Bella escolhe sentar-se do lado oposto a mim. Acontece que, normalmente, Bella e eu nos sentamos perto um do outro em todo e qualquer tipo de evento, então o fato dela escolher ficar tão longe me causa estranhamento.

O único motivo que me vem à mente para ela ter feito isso foi nossa conversa mais cedo. Apesar de ter dito que estava tudo bem, talvez o passeio da manhã tenha mesmo deixado o clima diferente entre Bella e eu.

 Sem minha melhor amiga ao meu lado o local está vazio e quando olho para os convidados na sala e vejo os olhos de Jessica brilharem ao me ver, sei instantaneamente quem vai ocupar a cadeira a minha direita.

— Oi, Edward! Quanto tempo! — Ela fala animada se aproximando e se sentando ao meu lado. Seus cabelos castanhos estão mais curtos que na época do colégio, mas os olhos continuam tão azuis como sempre.

— Oi, Jessica, como vai? — Eu podia não ser o seu maior fã, mas sempre seria educado.

— Parabéns pela vitória nas Olimpíadas, agora posso me gabar dizendo que estudei com um campeão olímpico!

O riso que me escapa é sincero e seu comentário não me chateia, pois ela não é a primeira colega de turma a contar vantagens sobre me conhecer. Não que eles precisem, já que a maioria é tão rica e bem relacionada quanto eu. 

—  Obrigado, eu acho que também me gabaria se fosse ao contrário — falo ainda rindo e mais perto de Jessica porque as pessoas na mesa começaram a falar mais alto.

Quando olho ao redor, meus olhos cruzam com os de Bella e ela está olhando para mim com uma expressão tão ultrajada que meu sorriso morre na hora. Murmuro um “Que aconteceu?” mas ela apenas nega com a cabeça. Volto a olhar para Jessica e ela está olhando de Bella para mim com uma expressão curiosa.

— Tudo bem entre vocês dois?

— Sim, eu acho — respondo hesitante, minha desconfiança com o fato dela estar sentada tão longe de mim e a reação de Bella de alguns segundos atrás me fazem chegar à conclusão de que podemos não estar brigados, mas com certeza não está tudo bem. Ainda assim, não é da conta de Jessica e não vou explanar minhas preocupações justo com ela.

— Bella parece chateada.

— É, talvez... eu não tenho certeza do porquê.  

— Bem, se eu visse meu namorado rindo e cochichando com outra mulher e eu estivesse longe talvez eu ficasse chateada também.

— Ah, não! Bella não é minha namorada. — Não por falta de vontade, completo mentalmente.

— Jura? Eu vi vocês dois conversando antes do almoço e vocês definitivamente pareciam um casal.

— Como assim?

— Não sei, é o jeito que vocês se olham, que se tocam quase sem perceber... Mas talvez seja coisa da minha cabeça, sempre achei que você e a Swan iam acabar namorando. Aliás, eu tinha certeza de que quando você finalmente arrumasse uma namorada seria ela, e não Kate. — Ela fala o nome da última fazendo uma careta.

— Se você sabia, por que dava em cima de mim mesmo assim?

— Bem, — Jessica dá de ombros — valia a pena tentar.

Rio do jeito desprendido que ela fala e decido que ela não parece ser a mesma garota dos tempos da escola que eu julguei que ela ainda seria.

— Você precisava ver a sua cara quando eu comecei a me aproximar — ri balançando a cabeça.

— Desculpe, é que eu tava esperando a mesma atitude de antigamente.

— Eu entendo e sinceramente não te julgo por esperar isso de mim, eu era mesmo péssima no colégio. Mas pode ficar tranquilo que agora eu voltei minha atenção para a pessoa certa.

— Mesmo?

— O nome dele é Mike — fala empolgada.

— Hum, é alguém que eu conheço?

— Provavelmente não. Ele não vem de uma família privilegiada como as nossas, se é que me entende.

— Ele trabalha com o quê?

— Ele é professor de história.

— Mesmo? Ele ensina onde? Oxford? Cambridge?

Jessica ri, mas seu olhar é triste.

— Se fosse, acho que meus pais não implicariam tanto. Ele é professor de ensino médio.

— Mas é uma profissão muito nobre, talvez até mais do que professor universitário.

— Eu concordo com você, e tenho muito orgulho dele, sabe? Infelizmente não é prestigioso o suficiente para os Stanleys — fala revirando os olhos.

— Você realmente o ama, não é?

O sorriso que ela abre é a melhor resposta que Jessica poderia ter dado.

O resto do almoço passa com ela me contando mais sobre Mike e me atualizando sobre o pessoal da escola e, supreendentemente, me divirto com ela. A parte ruim, no entanto, é que todas as vezes que meu olhar cruza com o de Bella, ela parece irritada. Pergunto de novo o que há de errado e mais uma vez não obtenho resposta.

XXX

A programação da tarde envolve uma visita guiada no palácio, nos cômodos que não estão recebendo hóspedes. Além dos Stanleys, mais algumas pessoas vão chegar e enquanto estamos esperando, me dou conta de que nem Alice nem Bella então no saguão central com todo mundo.

— Mãe, você viu a Bella e a Alice?

— Hum, não querido, talvez elas estejam na sala de leitura... Carlisle — Ela se vira para o meu pai. — Você sabe onde as meninas estão?

— Ah, elas estão na sala de jogos, — responde. —  Você pode chamá-las, filho? O tour já vai começar.

— Claro.

Estou quase chegando na sala de jogos quando escuto as vozes femininas conversando. Em outras circunstâncias, eu não bisbilhotaria, mas ouvir meu nome me faz parar no lugar para saber o que elas estão falando.

— ... e o Edward nem se importou!! — Reconheço a voz de Bella e ela soa revoltada.

— E por que ele se importaria? — Ouço a voz de Alice dessa vez.

— Não sei, talvez porque ele não gosta dela?

— Eu não acho que ele não gosta dela, eu acho que ele só não se incomodou o suficiente para pedir para ela mudar de lugar. — Minha irmã responde.

— Ele não precisava pedir, podia ele mesmo ter mudado.

— Mas Bella, ia ficar chato se ele trocasse de lugar por causa dela. — Alice contrapõe.

— Discordo, era só pedir para tocar com você, por exemplo. Ninguém ia perceber.

— Mas ele não parecia querer mudar de lugar, aliás, eu olhei os dois conversando e ele parecia estar se divertindo com ela.

— Claramente. — O tom que ela usa me faz ter certeza de que ela falou revirando os olhos. A imagem mental me faz rir de leve, mas logo lembro que não quero ser descoberto e paro.

— Por que essa implicância com a garota, Bella? — Alice pergunta e quero entrar na sala naquele momento para agradecê-la por fazer a pergunta que eu queria tanto saber a resposta. — Admito que não sou a fã número um dela, mas também não é como se ela fosse uma pessoa horrível, chatinha talvez, mas suportável por uma refeição.

— Chatinha? Você lembra dela na época da escola? Vivia implicando comigo e sempre dava em cima do Edward.

— Ela implicava com todo mundo e o Edward apenas a ignorava.

— Exato! E agora ela aparece e do nada eles são amigos?

— Bella, — Alice ri. — Eles se sentaram juntos para o almoço, Edward devia só estar sendo educado. Devem ter conversado sobre a comida.

— Não sei não, eles estavam cheios dos cochichos e risinhos. E você viu como ela tava tocando o braço dele?! No momento que ela chegou eu sabia que ela iria atrás dele. 

A capa da invisibilidade do Harry Potter seria muito útil para mim agora, já que estou morrendo de curiosidade para ver a expressão de Bella.

— Não reparei em nada disso, mas se você achava que ia ser assim, então por que não se sentou ao lado dele?

Boa, irmã!!

— E-eu... eu, por motivo nenhum.

— Ok, se você tá dizendo...

As duas param de falar e sei que o assunto morreu. Entro na sala e enquanto Alice está sentada no sofá bem relaxada, Bella está em pé e com os braços cruzados andando de um lado para o outro. Limpo a garganta para anunciar minha chegada e ela para de caminhar.

— Meninas, vim buscar vocês, o tour já vai começar.

— Ótimo. — A mais baixa responde e se levanta empolgada. — Tô doida pra saber as histórias secretas desse palácio.

Ela sai da sala quase correndo e Bella e eu nos encaramos pelo que parecem horas. Ainda não sei exatamente por que ela ficou tão afetada, mas juntando os olhares que me lançou no almoço e sua conversa há pouco, ouso dizer que pareceu muito com ciúmes.

Maneio a cabeça em direção a porta e ela me segue sem questionar. O clima entre a gente no passeio é meio tenso, e não sei exatamente o que fazer para amenizar a situação. Mas com a pulga atrás da orelha que apareceu com o novo conhecimento adquirido, decido bolar um plano para saber se posso ter esperanças.

Então antes do jantar, assim que avisto Jessica indo em direção à sala que comeremos, me aproximo para tentar colocar meu plano em prática.

— Jessica, — chamo hesitante —, vai parecer estranho, mas preciso de um favor seu.

— Certo? — concorda sem parecer segura de sua resposta.

— Eu acho que a Bella ficou com ciúmes da gente conversando mais cedo no almoço e eu quero comprovar essa hipótese.

Jessica dá uma gargalhada e acho que minha confusão é evidente porque ela logo se explica.

— Edward, você nem precisa da minha ajuda para isso, ela me fuzilou com os olhos!

— Sério?

— Sim!! Mas tudo bem, eu posso te ajudar, eu sempre quis fazer parte de um plano mirabolante para causar ciúmes em alguém. O que a gente vai fazer?

— Não tenho certeza — admito passando a mão na nuca. — Mas eu sei que ela não gostou de nos ver conversando e rindo à mesa, então talvez a gente possa fazer a mesma coisa agora no jantar?

— Eu topo!

Esperamos Bella aparecer no cômodo e quando ela chega, dou uma piscadinha para Jessica e depois a puxo para os mesmos lugares que nos sentamos mais cedo. Hora do show.

Enquanto conversamos como se fossemos mais íntimos do que somos, posso jurar que sinto o olhar de Bella em nós o tempo todo. E, por mais que eu queira estudar suas expressões, faço uma escolha consciente de não me virar em sua direção para potencializar sua possível irritação.

A refeição toda passa desse jeito e só quando estou prestes a sair me permito uma olhadela. Como esperado, Bella está olhando para nós com a cara fechada, boca comprimida e um vinco na testa. E por mais que eu queira ir imediatamente para seu lado para admitir que é tudo uma grande encenação, sorrio e aceno e saio da sala com Jessica ao meu lado e a satisfação de saber que talvez eu tenha chances com Bella, afinal.

XXX

A manhã de sábado começa com uma colheita de frutas, uma atividade que deveria ser apenas para entrosar os visitantes. Infelizmente, tendo começado a competir muito cedo, eu tendo a transformar tudo em um jogo. 

— Não acredito que você não me deixou ganhar nem essa competição boba de colher frutas!

Estamos nos jardins e Bella ainda está indignada que eu consegui pegar mais amoras que ela.

— Minha querida, nenhuma competição é boba — falo num tom condescendente.

— E nem era uma competição de verdade — continua revoltada —, você que transformou em uma quando decidiu que o objetivo era colher a maior quantidade de frutas. A gente nem estava disputando um prêmio pra você se empenhar tanto.

Dessa vez ela faz um biquinho e não seguro o riso. Ela bate de leve no meu braço e me manda calar a boca. Tenho vontade de sugerir o jeito perfeito de me fazer parar de rir, mas não acho que ela aceitaria bem minha sugestão, não depois de saber que ela provavelmente consideraria como um outro erro.

Andamos em direção a uma das fontes que fica nos jardins e sem mesmo trocar uma palavra nos sentamos lado a lado no mármore. As cestas com as amoras que colhemos estão aos nossos pés e o silêncio entre nós é um amigo antigo de quem eu não percebia que sentia falta até ele aparecer na minha frente. Da última vez que estávamos perto sem nos falar foi quando voltamos do passeio a cavalo e eu não gostei da experiência.

— Sabe, Edward, — Bella fala com um traço de humor na voz. — Você não precisava ser o melhor em tudo, nós meros mortais sem talento ficamos no sentindo um lixo.

— Nem vem com essa, Bella. Você tem muitos talentos.

— Nada que se compare a você, eu jamais vou ser reconhecida como a melhor em nada — comenta baixando o olhar.

— Você quer ser a melhor em alguma coisa?

— Não, necessariamente — responde franzindo as sobrancelhas.

— Então não tem pra quê ficar com esse pensamento baixo astral.

Bella suspira e me olha nos olhos. Vejo uma vulnerabilidade que há muito não via.

— Você vai me achar horrível se eu disser que tenho uma certa inveja de você? — pergunta tímida.

— Eu duvido.

— Desde que eu me lembro você sempre soube o que quis. Enquanto todo mundo estava pensando no que devia escolher estudar na universidade, você já tinha sua carreira no hipismo consolidada, praticamente. Às vezes eu não queria ter tantas dúvidas sobre o que fazer da vida. Eu sei que, na teoria, ajudar nos negócios dos meus pais é o meu legado, mas eu nunca achei que isso ocuparia tanto do meu tempo, da minha vida.

Não sei de onde está vindo essa incerteza em relação ao seu trabalho, mas Bella soa realmente angustiada com a situação em que se encontra. E eu não fazia ideia.

— Você não quer continuar fazendo o que faz agora?

Suas páginas nas redes sociais são atualmente a maior vitrine da Casa Swan. Bella não é só embaixadora da marca, mas, a pedido de seus pais, ela expõe quase toda sua rotina numa tentativa de atrair mais consumidores que se identificam ou querem ter seu estilo de vida.

— Eu nem me sinto no direito de reclamar, mas você não pensa as vezes que nossa vida é perfeita demais? — Ela pergunta quase retoricamente.  

— Mas não é essa imagem que você quer passar? — indago confuso e ela franze a testa — Com suas postagens na internet?

— Ah, aquela vida não é real — responde e desvia o olhar.  

— Você tem que admitir que é um pouco real sim, pelo menos para você, Bella.

— Só para mim? — Ela pergunta voltando a me olhar e erguendo a sobrancelha.

— Tudo bem, é meu mundo também. Mas eu não faço propaganda dele na internet — pontuo.

— É o mínimo que eu posso fazer pelos meus pais, pelo menos é o que eles esperam de mim.

— Mas não é o que você espera de si mesma?

— Não sei, eu... — Bella suspira e consigo praticamente ver o peso em seus ombros. — Eu achei que a essa altura da minha vida estaria fazendo alguma coisa mais significativa. Eu lembro de criticar minha família por gastar tanto dinheiro com futilidades e aqui estou eu, seguindo o mesmo caminho. Eu tinha um plano totalmente diferente para quando saísse da faculdade, sabe.

— Sério? Não é para fazer publi no Instagram que serve seu diploma? — pergunto fingindo indignação. Bella revira os olhos e dá um tapa fraco no meu braço. Ela se formou em administração e apesar de provocá-la um pouco pela formação generalizada que escolheu, sabia que era a melhor escolha para ela, considerando os negócios da família.

— Tá vendo, nem você me leva a sério! — reclama.

— Desculpe, desculpe — rio, mas o pedido é sincero. — Me fala seu plano.

— Nem era um plano tão concreto assim, para falar a verdade. Eu só queria usar toda essa influência que minha família tem e fazer algum bem no mundo. Dar visibilidade a instituições sérias, que realmente ajudam quem precisa.

— Mas você ainda pode fazer isso, aliás agora que você tem tanta gente acompanhando sua vida, você poderia usar essa plataforma.

— Eu até já tentei, mas ninguém se interessa muito quando eu falo sobre assuntos mais delicados. A diferença é gritante. Eu acho que tá na hora de me conformar.

O jeito que seus ombros se encolhem é o que entrega o quão frustrada essa situação a deixa. E eu consigo me identificar com ela, porque também tenho dúvidas sobre continuar sendo ginete ou não.

— Bella, se você realmente acredita que pode fazer mais, confie que você pode. Eu te conheço e posso falar com propriedade que você pode chegar aonde quiser.

Seus olhos estão cheios de lágrimas e nesse momento a única coisa que importa é que minha amiga precisa de um apoio então a abraço forte e a deixo molhar minha camisa, torcendo para que o choro dela libere um pouco da angústia que ela parece carregar dentro de si.

— Quer saber um segredo? — falo. — Não sei se quero mais continuar a competir.

— Mas Edward, — Bella se afasta um pouco de mim e vejo a surpresa da minha declaração em seus olhos. — Você é o melhor! Você não pode simplesmente parar agora!

Balanço um pouco a cabeça, porque entendo seu argumento, mas mesmo concordando de certa forma, sei que não é motivo o suficiente para me fazer continuar.

— Você viu que Nahuel se machucou nos Jogos? — pergunto e ela assente. — Fiquei pensando que podia ter sido comigo e desde estão estou pensando em fazer outra coisa.

— Nossa, por essa eu não esperava. E você quer fazer o que? Já sabe?

— Veterinária, eu já tinha começado algumas matérias e parece certo. — Dou de ombros. — Quero trabalhar com cavalos.

— Claro que quer. — Ela balança de leve a cabeça com um sorriso no rosto. — O que tia Esme e tio Carlisle acham disso?

— Ainda não conversei com eles, mas não acho que vão reagir bem.

— Sério? Eu aposto que vão te apoiar no que você quiser.

— Eu não seria tão confiante, eles investiram tanto do tempo e do dinheiro neles nos meus treinos que eu não os culparia se eles ficassem chateados comigo por desistir.

— Sinceramente, não acho que isso vai acontecer.

— Mas poderia, você mesma reagiu com incredulidade!

— Foi só... o choque inicial pelo que você falou, não significa que eu não apoio sua decisão! — protesta.

 — Então você me apoiaria se eu quisesse parar?

— Claro! Eu só quero te ver feliz. — O jeito que me olha parece dizer mais que as palavras que acabou de proferir.

— Obrigado, Bella.

— Obrigada também, Edward — agradece quase tímida.

— Pelo quê?

— Por me ouvir. Eu sei que sempre posso contar com você para isso.

Ficamos sentados apreciando a vista por mais uns instantes até que o barulho de pessoas se aproximando quebra nossa bolha e decidimos voltar. Meu peito está mais leve por ter falado sobre meus planos de mudar de carreira e só posso esperar que conversar comigo tenha causado o mesmo efeito nela.

XXX

Estamos caminhando de volta para a Casa quando ela toca num assunto que eu até já tinha esquecido.

— Você e a Jessica pareciam bem próximos ontem no almoço e no jantar.

Quero rir da indiferença fingida dela, é de se admirar o empenho que ela tem para parecer não se importar quando eu sei, pela sua conversa com Alice, que ela se incomodou.

— Pois é — falo casualmente —, tinha tempo que a gente não se via, ela tava me contando as novidades da vida dela, também me parabenizou pelos Jogos.

— Hum.

— Eu tinha me esquecido que ela pode ser legal quando quer.

— Você não pode tá falando sério!! Ela era uma das pessoas mais irritantes daquela escola!

Preciso de todas as minhas forças para não rir do seu rosto vermelho e da sua expressão incrédula. Sabendo que não vou conseguir manter essa farsa por mais tempo, resolvo tirar nós dois da miséria.

— Bem, o namorado dela não acha — comento despretensiosamente, mas a olho com o canto do olho para observar sua reação.

— O namorado dela?? — pergunta com a voz mais aguda do que normalmente é.

— Sim, você não sabia? — digo ainda fingindo confusão. — Era isso que a gente conversou tanto ontem.

— Ah, eu pensei...

Mas ela não completa a frase e instantaneamente sei que meu plano funcionou e ela achou que Jessica e eu estávamos flertando. Idealmente, esse seria o momento que Bella admite que tem sentimentos por mim e eu confesso que sinto o mesmo e caminhamos de mãos dadas em direção ao pôr-do-sol. Mas como não estamos no mundo ideal, a morena não fala mais nada e tenho que praticamente arrancar uma resposta dela.

— O que você pensou?

— Não sei, que vocês estavam flertando. — Ela fala dando de ombros como se o fato de eu flertar com outra pessoa não fizesse diferença para ela. Se eu não a conhecesse tão bem, talvez acreditasse.

— Jessica e eu? Qual é Bella, por que você acharia isso? Não é como se eu tivesse demonstrado algum interesse nela antes...

— Você podia ter mudado de ideia, já aconteceu... recentemente inclusive.

Ela baixa o olhar e seu tom de voz ao falar essa última parte e percebo o quão vulnerável ela se sente falando sobre isso.

— Mas não foi Jessica que eu beijei há alguns meses e não é ela que quero beijar de novo.

— Edward...

— Só estou sendo sincero, Bella — falo segurando sua mão, a que não está carregando a cesta de frutas. Ela entrelaça nossos dedos e olha fixamente para eles como se estivesse estudando o encaixe de nossas mãos. Dou um rápido aperto para chamar sua atenção e ela ergue o olhar para mim. — Estou bem aqui, tentando te explicar que eu te quero.

— Eu não... Por favor, Edward.

A súplica em seu olhar é sincera, mas não sei o que significa. Poderia ser “Por favor, não desiste de mim” ou “Por favor, esquece o que aconteceu”. Eu já tinha decidido abandonar essa história, mas a reação dela ao me ver com Jessica e sua conversa com Alice me fizeram mudar de ideia e agora estou disposto a lutar por ela.

Com uma nova resolução em mente, eu primeiro precisava descobrir por que Bella achava que nosso beijo tinha sido um erro e depois precisava fazê-la enxergar que somos perfeitos um para o outro.

Depois da colheita de frutas, o próximo evento era uma palestra sobre a National Trust. Apesar de não ser a atividade mais empolgante para mim, Bella se mostrou bastante interessada no funcionamento da organização, e eu não podia perder a oportunidade de passar mais tempo com ela. Ela prestou atenção em todas as informações fez várias anotações, dava para perceber o quanto era importante para ela, muito mais do que divulgar roupas e bolsas.

A palestra termina, resolvo ligar para Zafrina para mais uma vez sondar a possibilidade de me afastar do hipismo. Além da minha preocupação sobre me machucar e não ser bom em outra coisa, conversar com Bella me fez pensar também que talvez esteja na hora de fazer mais da vida do que acumular vitórias e troféus. Ela já havia me dito uma vez que esses questionamentos iam passar, ainda estou aqui na dúvida de como seguir com a minha vida.

Estou nervoso ao fazer a ligação, por mais que esteja refletindo sobre o impacto da minha decisão, ainda tenho receio de estar me precipitando. Sem contar com a possível decepção que meus pais podem sentir.

— Edward? — A voz de Zafrina pergunta do outro lado do telefone e percebo que estava tão distraído que nem percebi que ela atendeu a chamada.

— Ah, oi, Zafrina, tudo bem?

— Tudo, e com você?

— Também, o que você quer conversar? — pergunta sempre direto ao ponto.

— Como você sabe que quero conversar algo?

— Você me ligou no meio das suas férias, ou está com saudades de mim ou precisa de um conselho, e como sei que sua cabeça estava cheia de dúvidas, imagino que queira o conselho.

— Não consigo esconder nada de você mesmo, não é? — rio.

— Edward, eu te conheço a tempo demais para não perceber quando você está preocupado. Aliás, eu seria uma péssima técnica se não percebesse.

— Você está certa, ainda estou confuso sobre continuar a competir ou não, acho que meu coração não está mais nisso.

Zafrina fica em silêncio por alguns segundo e enfim a ouço suspirar.

— Então acho que você já decidiu, meu caro.

— E se for a escolha errada?

— Eu não pretendo me aposentar por mais alguns anos, estarei aqui se quiser voltar.

— Você não vai ficar chateada, já que sou seu principal atleta?

Ela dá uma boa risada e sua despreocupação me acalma um pouco.

— Eu faço isso desde antes de você nascer, garoto, acho que vou ficar bem.  

Meu coração se enche de gratidão pelas palavras dela. Por mais individual que um esporte seja, ele torna ainda mais solitário se você não tiver uma pessoa para lhe guiar e apoiar. E, ao contrário, se você tem uma boa técnica como eu tenho, por mais sozinho que você esteja no momento da competição, você nunca se sente solitário. Zafrina sempre me falou da importância de cada salto sem nunca me deixar sentir o peso dos torneios nas minhas costas. E seu apoio agora que quero parar só confirma que eu tive a melhor ao meu lado durante esses anos.

Muito da minha hesitação em parar vinha da sensação de estar abandonando Zafrina, ou mesmo traindo sua dedicação a mim. Ainda mais, além de ser minha técnica, ela era muitas vezes minha confidente. Além de Bella, era a única que sabia da minha vontade de mudar de carreira. Então como eu poderia trai-la, quando ela não tinha feito nada além de guardar meu segredo?

— Obrigado, professora.

— Não por isso, querido. Mas aproveite suas férias e depois nos falamos mais, certo? Temos alguns detalhes para conversar.

— Claro. Até mais.

Me despeço sentindo que tirei um peso das costas. No fundo eu sabia o que realmente queria, mas falar em voz alta com alguém que é fundamental na minha vida de atleta tornou tudo real. Agora só preciso falar com minha família e torcer para eles aceitarem bem a notícia.

XXX

Me viro na cama até perceber que não vou conseguir dormir tão fácil. Achei que a conversa com Zafrina ia me garantir uma noite tranquila de sono, mas ao colocar a cabeça no travesseiro, me lembrei que ainda tenho um assunto mal resolvido com Bella e que preciso falar com ela logo.

Desistindo de apenas ficar olhando para o teto do quarto, vou até a cozinha. Talvez um lanche na madrugada me ajude a pensar melhor.

A cozinha da mansão está escura e a princípio penso que está deserta. Mas logo vejo alguém sentada com os cotovelos apoiados no balcão de mármore. A luz da lua entrando pela janela reflete nos cabelos longos da pessoa no balcão e identifico imediatamente o tom de castanho inconfundível.  

— Roubando comida a essa hora, Bella?

Ela levanta a cabeça com os olhos arregalados e coloca a mão no peito.

— Que susto, Edward! Para de rir, não foi engraçado.

— Foi sim e você sabe, tá roubando comida mesmo? — falo me aproximando e me sentando ao seu lado. Ela empurra o pedaço de bolo na minha direção e vai até pia atrás do balcão. Vejo-a abrir e fechar a primeira gaveta e quando ela volta, me entrega um garfo.

— Obrigado. Tava sem sono ou com muita fome?

— Muita coisa na cabeça, não consegui dormir.

— Te entendo, também não estava conseguindo para de pensar.

— É? Sobre o quê?

Respiro fundo e contemplo como falar que ela é o motivo da minha noite em claro. Querendo ganhar tempo, começo por outro assunto.

— Conversei com Zafrina sobre parar — falo. — Agora só resta soltar a bomba nos meus pais.

— Você ainda tá preocupado com a reação deles, não é? Eu já falei, acho que eles vão te apoiar, você não tem motivos para se preocupar com o que eles vão pensar. Se a situação fosse comigo, no entanto...

Bella não completa a frase, mas sei onde seu pensamento foi. Ela está comparando o comportamento dos meus pais com os dela. Os Swan são ótimas pessoas, a amizade deles com minha família é uma prova disso, mas Bella sempre se sentiu um pouco negligenciada pelos pais.

Ao contrário do meu pai, que herdou a Cullen Company, Charlie ergueu a Casa Swan praticamente sozinho. Isso significa que enquanto meus pais estavam em uma situação mais estável quando eu nasci, podendo me dar toda a atenção que eu precisava, os Swan ainda estavam na fase de cuidar dos negócios com as próprias mãos, ou seja, a empresa tomava muito do tempo e da atenção deles quando Bella era criança.

Apesar de não deixarem faltar nada para ela, os Swan também não foram os pais mais presentes. Para completar, Bella é filha única e se ela não tivesse Alice e a mim quando crescia, sua infância seria mil vezes mais solitária.

— Bella, eu acho que eles entenderiam se você quisesse se afastar um pouco da empresa.

— Não sei, as vezes eu sinto que aquela empresa é o filho favorito deles. Considerando o quão devotados eles são aos negócios, com certeza é o filho mais amado. — Ela dá uma risada seca.

— Eles te amam, Bella

— Não do jeito que seus pais te amam. Mas não importa, cada dia mais eu chego à conclusão de que não preciso mesmo disso.

— Disso? — rio. — Amor?

Ela dá de ombros e mexe no pedaço de bolo com seu garfo.

— Você não pode tá falando sério — reclamo.

— Está tudo bem, Edward, eu aprendi a me virar bem sem depender de ninguém — fala cabisbaixa. 

— Sabe — digo me inclinando em sua direção e colocando uma mexa de seu cabelo atrás da orelha. — Não é horrível ter alguém em quem se apoiar.

— O problema é que não acho que alguém vá querer. — Ela fecha os olhos e inclina a cabeça na direção da minha mão que agora faz um carinho de leve na sua bochecha.

— Eu não consigo imaginar porque alguém não ia querer ficar com você.

Ela suspira e se afasta um pouco de mim, quando volta a me olhar, vejo tristeza em seus olhos.

— Se meus próprios pais, minha família, não gostam de passar tempo comigo, como é que outra pessoa vai querer?

— Hum, Bella? Não sei como se falar isso, mas eu não sou sua família e escolho toda vez passar meu tempo com você, passaria até mais se você deixasse.

— Edward...

— Bella, me escuta, eu não sei se nosso beijo foi tão especial para você quanto foi para mim, mas você não pode negar que a gente tem potencial.

A morena apoia os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos.

— Por que você tá insistindo tanto nisso? — pergunta ainda sem olhar para mim, mas a dor na sua voz é suficiente para eu perceber que ela realmente acha que não vale a pena.

— Eu perdi muito tempo sem enxergar o que tava bem debaixo do meu nariz. Agora que eu sei que é você quem eu quero, eu não vou desistir sem lutar.  

Quando ergue a cabeça e me olha, vejo seu olhar endurecer e sua mandíbula contrair.

— Não foi.

— O quê? — pergunto confuso.

— Você disse que não sabia se o beijo tinha sido especial para mim... não foi.

Tenho a sensação de ter levado um soco no estômago e não sei o que responder. Depois do jeito que ela se comportou quando eu estava conversando com Jessica, achei mesmo que Bella tinha sentimentos por mim. Mas suas palavras me dizem o contrário. Não acredito que confundi tanto as coisas.

— Eu achei que você quisesse aquele beijo, achei que talvez quisesse tentar de novo.

—Você acha que eu não quero te beijar, Edward? — fala enquanto salta do banco e se aproxima de mim, ainda estou sentado e ela se aloja entre as minhas pernas e sinto meu coração acelerar. — Você acha que eu não lembro que foi bom? — Ela entrelaça os braços no meu pescoço. — Se você quiser eu te beijo agora, mas vai ser só isso, um beijo e acabou. — Ela inclina a cabeça e beija meu pescoço. — Como da última vez, não vai ser especial, não vai significar nada. É suficiente pra você?

Meu silêncio é a resposta. Ela desentrelaça os braços e dá dois passos para trás, ainda de frente para mim.

— Foi o que eu pensei.

— Bella... — chamo seu nome, mas não prossigo pois não sei o que dizer. Um beijo sem compromisso não vai ser o suficiente para mim. Abri meu coração e me mostrei vulnerável e tudo o que ela fez foi colocar paredes entre nós.

— Não vamos bagunçar as coisas entre a gente, tá?

E porque ainda estou sem palavras, apenas aceno com a cabeça e a vejo sair da cozinha, me deixando em um estado pior do que quando cheguei aqui tentando espairecer.

XXX

 O baile beneficente acontece no salão principal do palácio e mesmo tendo passado os últimos três dias aqui, vê-lo todo decorado é uma visão de tirar o fôlego. Todos os convidados estão vestidos formalmente, tornando a ocasião ainda mais elegante. Alice havia separado meu smoking, como sempre faz em ocasiões mais luxuosas, pois está mais acostumada a esse tipo de evento. Mesmo sendo do mesmo círculo social que ela, minha vida é quase toda dedicada ao esporte e me sobra pouco tempo para frequentar festas.

Assim que desço a escadaria principal começo a procurar por Bella. Nossa conversa de ontem está fresca na minha memória, principalmente a última coisa que ela me disse antes de ir embora: “Não vamos bagunçar as coisas entre a gente, tá?”. Depois que voltei para o meu quarto me convenci de que não querer bagunçar as coisas entre nós não era um motivo forte o bastante para afastar qualquer possibilidade de ficarmos juntos como mais que amigos.

Por outro lado, ela disse que não sentiu nada especial quando nos beijamos, mas eu lembro como ela me beijou de volta e lembro do seu sorriso depois. Será que estou tentando ver algo não estava lá só para me convencer de que ela ainda pode gostar de mim?

A linha entre o cara babaca que não sabe a hora de parar e o cara apaixonado lutando por seu amor é mais tênue do que imaginei.

Decido então me dar uma última noite para ser o cara apaixonado antes de ser considerado babaca, e hoje vou mostrar a Bella que nada precisa ser complicado entre a gente.

— Edward, irmão! — A voz estrondosa de Emmett ressoa à minha esquerda. Emmett McCarty é um amigo muito querido, ainda que não o veja com tanta frequência. Apesar das nossas famílias não serem tão próxima dos McCarty quanto dos Swan, sempre estamos nos mesmos eventos.

Foi em uma dessas ocasiões que Emmett e eu nos conhecemos, nós tínhamos 11 anos e foi amizade à primeira vista. Ele também é uma pessoa que eu gostaria de ver mais, porém felizmente conseguimos manter contato por redes sociais e pelo telefone e quando nos encontramos pessoalmente, é sempre uma alegria. Nossa amizade não se abala com a distância e com meus longos períodos de reclusão por conta dos treinos.

— Oi, Emmett! — falo o abraçando. — Quanto tempo, meu amigo!

— Não acredito que nesse tempo sem nos ver você foi lá e ganhou uma Olimpíada. — Ele se afasta e com algumas últimas batidas nas minhas costas me dá parabéns.

— Bem, se eu fui, eu tinha que ganhar!

Noto então a loira ao seu lado e Emmett a apresenta como sua namorada. Ela é Rosalie Hale, uma modelo americana e pelo jeito que a olha, parece bastante apaixonado por ela.

Conversamos mais um pouco e finalmente vejo Bella no salão. Ela está vindo em nossa direção e posso jurar que ela está andando em câmera lenta. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo baixo caindo sobre seu ombro esquerdo, ela está usando um vestido azul claro rodado que deixa sua cintura em evidência e a faz parecer uma princesa.

— Uau! — Emmett se admira ao meu lado. — Sua garota está linda, Cullen!

— Sim — respondo antes de perceber que tenho que corrigi-lo. — Mas ela não é minha garota.

— Mas pelo jeito que você está olhando, você quer que ela seja.

Não consigo negar e ao olhar para Emmett ele me dá uma piscadinha que me faz revirar os olhos. Felizmente, Bella chega no exato momento que eu ia respondê-lo.

— Boa noite, pessoal — cumprimenta olhando para mim e depois se vira para Emmett e Rosalie. Eles trocam abraços e admito que sinto uma certa inveja da recepção calorosa que eles receberam dela.

— Você viu Alice? — pergunto para Bella tentando chamar sua atenção de volta para mim.

Bella abre um sorrisinho antes de responder e tenho a impressão de que não vou ficar feliz com a resposta.

— Ela tá com o Whitlock.

Solto um resmungo como resposta e Bella ri. Jasper Whitlock é uma espécie de bad boy que gosta de esbanjar o dinheiro que tem e troca de namorada como quem troca de roupa. Eu acho que ele pode aproveitar a vida como bem entender, só não quero ele quebrando o coração da minha irmã. Eu sabia que Alice tinha uma quedinha por ele, mas nunca achei que ela fosse realmente tentar sua sorte. Mais tarde conversaria com ela sobre isso.

— Vem, Bella — fala puxando-a pela mão até a pista de dança. — Preciso me distrair dessa notícia terrível.

— Tão dramático! — Ela ri, mas ainda segurando minha mão, me segue.

A música ao fundo é um jazz perfeito para dançar a dois e Bella se encaixa perfeitamente nos meus braços enquanto nos balançamos no ritmo da melodia. Aproveito a oportunidade para colocar meu plano de conquistá-la em prática.

— Tá vendo? — pergunto baixo no seu ouvido. Sinto-a estremecer em meus braços e não consigo evitar o sorriso. — Não é tão ruim dançar comigo, é?

Bella apenas nega com a cabeça e o movimento permite que eu tenha mais contato com sua pele. Não resisto e passo meu nariz pela sua nuca tentando gravar seu doce aroma para sempre. Seus braços, que estão cruzados atrás da minha nuca me segurando num abraço leve, me envolvem com mais força, me prendendo junto a ela. Deixo um beijo suava na base do seu pescoço e a ouço suspirar. Nesse momento é difícil acreditar que ela não sente por mim o mesmo que sinto por ela.

A música acaba e antes que ela possa se desvencilhar de mim, a giro em um passo que casa exatamente com o ritmo da música seguinte. Se por acaso essa for a única oportunidade que terei de segurá-la em meus braços esta noite, não ficarei satisfeito com apenas uma dança.  

Bella não comenta nada e continuamos no salão ao som da orquestra por mais tempo. Cedo demais, ela se solta e dá um passo para trás.

— Será que a gente pode conversar num lugar mais reservado? — Ela pergunta e meu coração, que tinha se acalmado pelo tempo que estávamos dançando abraçados, acelera. É agora. Ela vai dizer que mudou de ideia e me quer também, que finalmente percebeu que nós pertencemos um ao outro.

— Claro — respondo pegando sua mão e a levando para a varanda com vista para o jardim. O ar a noite é frio e logo coloco meu smoking sobre seus ombros nus.

— Obrigada. — Bella fala com a voz embargada e franzo a testa sem entender o porquê do seu tom.

— Tá tudo bem?

— Sim, sim, eu só preciso falar uma coisa com você.

— Que aconteceu? É sobre ontem?

— É. — Ela segura meu terno mais forte junto ao corpo. — Edward, eu...

Ela não completa a frase imediatamente e vejo o nervosismo em seus olhos.

— Sou só eu, Bella, você pode falar qualquer coisa comigo.

— Eu quero pedir desculpas pelo que eu disse ontem à noite.

Eu estava certo, ela me ama!!

— Na verdade, queria pedir desculpa pelo jeito que falei. — Ela fala e baixa o olhar. — Não foi a melhor forma de dizer o que estava sentindo.

Ela não me ama. Mas quando ergue a cabeça, a dor que vejo em seus olhos me mostra que não é fácil para ela dizer tudo aquilo. Mesmo assim, eu prometi que esta noite seria minha última tentativa de me declarar e preciso confirmar de uma vez por todas que Bella não sente nada por mim.

— É realmente assim que você se sente? — pergunto e me aproximo para ver seus olhos mais de perto.

— Eu já falei Edward, não quero complicar as coisas entre nós — afirma e sua testa franze.

— Por que você tem tanta certeza de que vai ser assim?

— Porque vai, você vai perceber que eu não valho todo esse esforço e minha vida já é triste o suficiente só com meus pais me ignorando. — Seus olhos castanhos estão mais uma vez cheios de súplica. — Vai ser doloroso demais se a gente tentar e não der certo, eu não aguentaria.

Então tudo se encaixa na minha cabeça. Bella não está se afastando de mim por não ter sentido nada com nosso beijo, ela está protegendo seu coração justamente porque sentiu.

— Bella, se você me falasse que não gosta de mim, que realmente não está interessada, que só quer minha amizade, eu encerraria esse assunto aqui e agora, mas se você gosta de mim e está com medo... — Me aproximo ainda mais, seguro seu rosto entre minhas mãos e apoio minha testa na sua. — Por favor, não tenha medo.

Ela coloca as mãos em meu peito e encosta os lábios nos meus num beijo doce, mas rápido demais se afasta e devolve meu smoking.  

— Desculpa, Edward, mas eu não posso arriscar.

Sei na minha alma que é puro orgulho e medo que a impedem de se entregar. Mas também que se ela não estiver pronta para derrubar suas barreiras, não há nada que eu possa fazer.

Vejo Bella voltar para o salão principal e minutos depois vejo sua forma descer as escadas que levam ao jardim. Acompanho-a até que fica longe e escuro demais para eu enxergar.

Me dou conta, então, de que pela primeira vez em anos nossa tradição é quebrada e não deixamos um evento juntos.

XXX

Quando volto para o baile, as pessoas estão comendo e dançando, a música continua tocando e a festa está mais animada que nunca. Ou seja, o clima não poderia estar mais diferente de como me sinto.

— Que cara é essa de quem caiu do cavalo? — Emmett surge na minha frente. — Nossa, nem uma risadinha da minha piada maravilhosa?

— Foi ótima, Emmett, eu que não tô de bom humor.

— Percebe-se. Foi por que a Bella foi embora?

— Foi mais pelo motivo dela ter ido embora... — resmungo. — Espera, você a viu saindo?

— Sim, ela tava chorando inclusive, vocês brigaram?

— Não exatamente...

Antes que eu explique o que aconteceu, Alice e Jessica se aproximam de nós me encarando feio.

— Edward, por que eu vi a Bella sair da festa há alguns minutos chorando? — Minha irmã pergunta.

— Não me diga que vocês mal começaram e já terminaram? — Jessica repreende.

— Como assim terminaram? — A mais baixa reclama. — Eu achei que vocês finalmente tinham...

— Calma, calma, Alice, calma — peço. — Do que é que você tá falando?

— Todo mundo viu vocês dançando, Edward, mamãe e tia Renée já tão fazendo os planos para o casamento, eu não acredito que você estragou tudo fazendo a Bella chorar.

— Alice, eu nem sabia que ela estava chorando, eu só a vi saindo e ela saiu depois de ter me rejeitado.

— Olha, talvez ela tenha te rejeitado, mas com certeza não parecia muito satisfeita e em paz com a decisão dela. — Jessica comenta.

— Não importa, eu acho que sair correndo de uma festa é um bom sinal de que ela quer distância de mim — argumento e três pares de olhos se viram incrédulos na minha direção.

— E você vai ficar aí parado, irmão? — Emmett pergunta indignado.

— Ela literalmente fugiu de mim.

— Por que ela foi embora? — Jessica indaga.

— Eu me declarei e ela disse que não podia arriscar complicar as coisas entre nós, que eu ia perceber que ela não valia tanto esforço e que ela não ia aguentar se a gente não desse certo.

— Edward, deixa de ser burro, — Alice me vira e segurando nos meus braços me dá uma sacolejada. — Se você não for atrás dela, você estará provando que ela está certa. Ela precisa que alguém não desista dela, ela precisa que você não desista dela.

Então saio do baile e corro pelos jardins como nunca corri antes, meu coração mais acelerado do que em qualquer outra competição que já participei na vida porque essa aqui é a corrida que mais importa. Qualquer outra disputa só me custaria uma medalha, agora, se eu não chegar até Bella, eu perderei a mulher da minha vida.

XXX

Como Bella não saiu de carro, sei que ela ainda deve estar na propriedade. Só preciso descobrir onde exatamente. Enquanto penso onde ela poderia ter ido, vou ao celeiro refletir sobre o que dizer quando finalmente a encontrar.

Para minha surpresa, o local já está ocupado. Bella está de costas para a entrada e não me vê chegando, a luz da lua entra pelas grandes janelas do local iluminando seu vestido esvoaçante e por um momento acho que estou vendo um anjo na minha frente.

Limpo a garganta anunciando minha entrada e quando Bella se vira na minha direção vejo as lágrimas escorrendo por seu rosto. Me aproximo lentamente até estar há poucos centímetros dela.

— Edward... — Meu nome em seus lábios parece um poema, não acredito que demorei tanto tempo para perceber que tudo que eu queria sempre esteve ao meu lado. — Achei que não ia te ver nem tão cedo.

— Eu não devia nem ter te deixado ir embora, baby.

Ela arfa com o nome carinhoso que a chamo, mas espero que se acostume, porque não pretendo parar.

— Eu fui um tolo em não te dizer antes, mas vou dizer agora e espero que acredite. — Seguro suas mãos nas minhas e beijo as costas de cada uma. — Eu estou aqui e quero te dar tudo. Quero estar ao seu lado para o que der e vier e nunca vou desistir de você.

Bella não fala nada e começa a chorar mais ainda, mas quando começo a me preocupar que falei algo errado, ela abre um sorriso e se aproxima ainda mais, inclinando a cabeça para cima para me olhar nos olhos.

— Me desculpe por ter fugido, eu esperei minha vida toda para você me notar como mais que sua amiga e quando finalmente aconteceu, achei que era bom demais para ser verdade.

Junto suas mãos para que possa segurar apenas com uma das minhas, enquanto acaricio sua bochecha com a outra.

— Não tem problema, só o que importa agora é você acreditar que é real.

Ela entrelaça os braços atrás do meu pescoço e diminui totalmente a distância entre nós. Abraço sua cintura e retribuo o beijo sabendo que daqui para a frente nada será capaz de nos separar. Os últimos dias podem ter exigido de mim mais do que eu julguei estar preparado para expor, mas cada conversa em que abri meu coração valeu a pena, porque me trouxe até esse momento com Bella.

XXX

Depois de mais alguns minutos nos curtindo no celeiro Bella e eu contemplemos apenas subir para meu quarto e encerrar a noite por lá, mas a morena decide que hoje é a noite perfeita para contar para seus pais sobre seu plano de deixar a vida de socialite e influencer de lado para fazer coisas que ela acha mais significativas.

Inspirado nela, resolvo contar para os meus pais sobre parar de montar, minha esperança é que eles fiquem tão felizes com o fato de eu e Bella estarmos juntos que nem prestem atenção na outra notícia.

Voltamos ao salão de mãos dadas e vários rostos conhecidos olham para nós, mas vamos direto falar com quem realmente importa. Bella está tensa e só posso murmurar palavras de encorajamento para tentar acalmá-la.

Nossos pais estão em pé conversando e assim que chegamos e eles veem nossas mãos entrelaçadas, as mulheres começam a saltitar como duas adolescentes conhecendo seu ídolo.

— Eu sabia!! Esse é o dia mais feliz da minha vida! — Minha mãe fala.

— Obrigada pela consideração, querida. — Meu pai reclama baixo sem que ela ouça.

Não evito o sorriso e Tio Charlie dá umas batidas nas minhas costas. — Cuide da minha garota, Edward.

— Sempre, Tio.

— Pai, — Bella começa hesitante. — Preciso falar com o senhor.

— Claro, filha.

Bella coloca para fora todas as suas aflições sobre como está vivendo sua vida e seus anseios para o futuro. Explica que sente a necessidade de fazer mais pelo mundo e que por mais que não saiba exatamente como, sabe que continuar trabalhando diretamente para a Casa Swan não é o jeito que conquistará isso.

— Filha, nós sempre soubemos que você está destinada a grandes feitos. — Tio Charlie responde depois de ouvir o relato.

— Vocês não estão chateados?

— Seu pai e eu só estávamos respeitando seu tempo, sempre achamos que no momento certo você atingiria voos mais altos.

— Mas vocês sempre exigiram tanto de mim na empresa.

— Só porque sabíamos do seu potencial, nos desculpe se te sufocamos. — Tia Renée diz.

Eles se abraçam e vê-los me dá coragem para avisar meus pais da minha decisão. Bella tinha razão e eu me preocupei à toa. Quando termino de falar, os dois apenas dizem quão orgulhosos estão de tudo que conquistei e ainda vou conquistar, e que não importa o que eu esteja fazendo, contanto que esteja feliz, eles me apoiarão.

O resto da noite é repleto de risos e beijos, e nem Alice dançando com Whitlock afeta meu bom humor. Com Bella em meus braços, e sabendo que minha melhor amiga agora também é meu amor, sinto que sou a pessoa mais sortuda do mundo e pretendo passar o resto da vida me esforçando para que Bella sinta o mesmo.

FIM. 


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