Luz.

Câmera.

Ação.

                O palco. A vida. O centro de um universo.

Fama.

Dinheiro.

Solidão.

                Você. Eles. VOCÊ. Mais ninguém.

Talento.

Voz.

Ecos distorcidos.

Palmas. Palmas. Admiração.

                Medo? Da máscara, da vida, deles, de você.

Do Real

Irreal.

Palpável.

Distante. Inexistente.

                Para Você. Irrefutavelmente. Insistentemente

Vazio.

                Sonhos. Máscaras. Dinheiro. Dinheiro.

Impagável.

Inconsolável.

Indesejável.

                Platéia. Público. Você.

Que olha distante.

Que faz nada.

Que chora.

Sobrevive.

Apenas existe.

Branco. Gélido. Níveo.

Vazio.

Vazio.

Vazio.

                Eco. Interminável.

Fuga.

Fuga.

Atroz.

                Azul. Roxo. Cálido.Tingido.

Ela.

Você.

Você.

                Buscas. Perguntas. Respostas.

Encare.

Você.

Você.

                Coragem.

Cadeiras

Confortáveis.

Platéia.

Inerte.

                Agora, com vocês.

Rosa Malva.

Apertou com força o braço da cadeira confortável, na qual permanecera sentado por muito, assistindo de longe, da platéia, o espetáculo que se fazia em cima do palco.

Uma insegurança o corroeu em forma de sístoles fortificadas, falta de ar, suor. Sentiu as pernas bambas ao ver que a mulher mascarada sobre o palco descia os poucos lances de escada, percorrendo a extensão do teatro e encaminhando-se para perto de sua cadeira.

Olhou para os dois lados. Ninguém estava lá, apenas pôde discernir naquela escuridão quatro cabeças, bem mais à frente na primeira fila, esperando ansiosos pelo ator principal.

Suspirou, sabendo que não poderia mais fugir. Estendeu a mão para a mulher, que usava sobre o rosto uma máscara que deixava somente à mostra seus olhos castanhos. Sentiu a diferença térmica entre suas mãos.

Quente.

Frio.

                Dois.

                Morno.

                Único.

                Deixou-se levar pelo corredor estreito que separava os dois aglomerados de poltronas. A cada centímetro que se aproximava dos poucos degraus que o levaria ao palco, sentia os pulmões comprimirem-se mais, deixando-o sem ar.

                Um. Dois. Três. Quatro degraus. A mulher o guiou por mais uns metros, sabendo que ele temia a escuridão que se fazia no local. Sentiu-a parar e a imitou. Agora era ele, somente ele.

                Um foco de luz sobre sua existência.

                - Diga, quem és tu? – A voz soou melodiosa para seus ouvidos.

                Fechou os olhos.

                - Por que temes?

                - Não sei. – Foi sincero.

                - Não está vendo, meu caro amigo? A vida passa para ti como um espetáculo, e preferes ficar sentado confortavelmente da platéia, apenas observando.

                - É mais fácil. – Abaixou a cabeça, resignado com sua própria fraqueza.

                - ANDA, DIGA! QUEM ÉS TU?! REAJA! FAÇA VALER À PENA. A OPORTUNIDADE QUE TIVESTES É NEGADA A MUITOS.

                Abriu os olhos, murmurando algo para si mesmo.

                - Sinto, mas não escutei. – A voz da mulher continuava firme. Afinal, o que ela queria? O que ele queria? – Não faça mais a vida passar assim, despercebida por você, Yuu. – Foi a vez de ela abaixar a cabeça, fazendo a voz soar levemente decepcionada.

                O moreno respirou fundo, tentando entender o porquê de aquela presença proporcionar-lhe um estranho sentimento de confiança. Viu-a tirar a própria máscara, e reconheceu de leve o rosto de traços delicados. Lembrou-se de tê-la encontrado em diversas noites. Nos sonhos.

                - Diga-me, quem é você? Muito mais que a Rosa Malva, quem é você? – Porfiou.

                Respirou fundo. Um dia, uma hora, teria de encarar a si próprio. Para então encontrar seu caminho e as coisas não passarem apenas de mais um Ato.

                Levantou a fronte, olhando ainda com certo temor para a platéia. Aquilo o assustava, mas depois de tantos anos, era sua vez de ser o protagonista da própria peça.

                - Shiroyama Yuu.

                Luz. Câmera. Ação.

O Palco.

A Vida.

Ele.

O Foco de Luz.