Espirais escrita por Siaht


Capítulo 1
U: because these things will change


Notas iniciais do capítulo

Querida Nath (Little Alice),
Descobrir que você era a minha amiga secreta foi motivo de muito surto e empolgação. Há alguns anos esbarrei em uma de suas histórias em um desafio de drabbles e me apaixonei. A partir dos comentários e das respostas fui descobrindo mais sobre você e, desde então, minha admiração só cresceu. Amo tudo o que você escreve, adoro suas ideias e a forma incrível e sensata como você as expõe ?“ seja em uma fanfic, uma conversa trivial ou um tweet. Acredito que temos muitas coisas em comum, principalmente em relação aos gostos e foi muito simples pensar no que escreveria para você. Uma Tedromeda, é claro! Alice no País das Maravilhas, Um Dia, Romeu + Julieta (1996), alguns romances de época, um toque de história de natal... tudo isso fez parte das minhas inspirações para construir algo que fosse a sua cara. Ainda assim, a maior inspiração veio mesmo da música “Change” da Taylor Swift. Acho que não a adaptei de forma muito literal, embora tenhamos pequenos flashes de revolução por aqui (infelizmente algo mais focado na Guerra Bruxa exigira um tempo que não tive), essa é essencialmente uma história sobre mudança. Sobre a importância de crescer, sobre a coragem de mudar, sobre como o tempo e as pessoas que encontramos nos transformam. Sei que você já precisou mudar algumas vezes e que tem muita coragem para escolher outras direções. Espero que algo aqui converse com você (guardadas as devidas proporções). No fim, também é uma história de amor e que foi escrita com muito amor! ♥
Espero mesmo que você goste!
Beijinhos,
Thaís



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{espirais}

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ESPIRAL: 

Linha curva que, sem se fechar, vai dando voltas em torno de um ponto, afastando-se dele de forma progressiva e regular;

Processo que não se consegue parar facilmente;

Símbolo de evolução e de movimento ascendente e progressivo, normalmente positivo, auspicioso e construtivo, sobretudo na sua forma. Enquanto plana, a espiral pode ter associado o movimento de evolução e de involução. Na sua versão de espiral dupla, traduz o todo, a união dos contrários, alternância Yang e Yin, o nascimento e a morte.

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GALÁXIA:

Sistema formado por uma vasta quantidade de estrelas, poeira, gases e matéria escura. Esse conjunto de elementos é unido pela força da gravidade.

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GALÁXIA ESPIRAL:

São assim denominadas devido à sua morfologia, pois apresentam uma clara estrutura espiral em torno de seu núcleo quando vistas perpendicularmente.

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METANOIA:

Mudança, transformação de caráter ou na maneira de pensar;

A jornada de mudar a mente, o coração e o modo de viver de uma pessoa; 

O ato de se tornar novo.  

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I

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24 de dezembro de 1970

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“You know it's all the same

Another time and place

Repeating history and you’re getting sick of it”

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(Você sabe que é tudo igual

Em uma outra hora e lugar

Repetindo a história e você está ficando enjoado dela)

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A seda verde se enrolava ao corpo da garota, a aprisionando como um casulo. As pérolas que ornamentavam suas joias cintilavam à luz de mil velas. Os longos cabelos escuros formavam uma cascata de cachos, enquanto olhos igualmente escuros corriam por todo o salão, em uma busca desesperada por algo que não conseguiam definir. Ou encontrar. Um rosto, uma porta, uma taça de champanhe… Uma saída. Andrômeda Black estava entediada. O que não chegava a ser uma novidade, a garota sempre detestara as festas enfadonhas e aristocráticas para quais sua família a arrastava. Ainda assim, nutria um desprezo especial pelo tradicional baile de máscaras que a Mui Nobre e Antiga Casa dos Black sediava toda véspera de natal. 

A moça jamais seria conhecida por seu espírito natalino e não conseguia encontrar propósito em toda aquela celebração fútil. Supunha que houvesse gostado dos presentes quando era criança, no entanto, aqueles dias haviam passado. Fazia sentido. Por que uma pessoa que tinha tudo iria se empolgar com presentes? O que sobrava, então, era uma festa exagerada e exorbitante. Algo que poderia ser interessante, se Andrômeda gostasse de festas e não estivesse tão cansada de seus convidados. Ou melhor, de estar sempre cercada por eles. Sempre os mesmos rostos, os mesmos sobrenomes, os mesmos cenários. 

Viver em seu mundo nobre era viver em um mundo muito pequeno e, mesmo que não compreendesse o motivo, aquilo começava a incomodá-la. Era difícil traduzir em palavras, mas enquanto navegava por aquele oceano de sangue-puro, Andrômeda sentiu uma tristeza inexplicável crescer em seu peito. Aos 16 anos, a menina finalmente entendera que aquela seria sua vida para sempre. Todos os seus natais estavam destinados a caberem em um único salão de baile. As mesmas paredes, os mesmos lustres, as mesmas músicas, as mesmas conversas. De novo e de novo e de novo. A constatação destruiu seu frágil equilíbrio e fez seu barco afundar. Fez com que ela naufragasse e finalmente percebesse o óbvio: estava sufocando. Em breve morreria por asfixia.

Andrômeda desejou fugir, partir para longe dali, correr e correr e correr até que seus pulmões falhassem. Ainda assim, não tinha nenhum destino em mente e sabia que sua mãe a esfolaria se desaparecesse de seu evento especial. Não que a garota achasse que alguém realmente perceberia sua ausência. Entre o carisma magnético e insano de Bellatrix e a beleza e elegância clássica de Narcisa, Andrômeda era invisível.  Algo que lhe caía bem. A filha do meio de Cygnus e Druella Black nunca gostara de ser o centro das atenções. Ao contrário das irmãs, a menina era uma introvertida taciturna que preferia a companhia de seus livros, seu telescópio e suas estrelas a de qualquer outra pessoa. Também não era do tipo que forçava doces sorrisos ou dada a gargalhadas levemente ensandecidas e preferia manter suas opiniões – majoritariamente sarcásticas, astutas ou um tanto cruéis – para si mesma. Em resumo, para desespero de sua mãe, Andrômeda Black era uma jovem bastante antissocial e antipática que começava  a ganhar a reputação de “desagradável” entre os rapazes. É claro que Bellatrix também estava longe de ser a mais adorável das moças. A primogênita, porém, compensava aquele fato atraindo atenção por seu talento com maldições, suas opiniões políticas e o desafio implícito que lançava a qualquer homem que cruzasse seu caminho.  As irmãs sabiam como se fazer desejar, Andrômeda sabia como se fazer evitar. 

— Senhorita Black! Senhorita Black! Andrômeda! 

O que obviamente não estava funcionando naquela noite detestável. A moça suspirou, quando percebeu Rabastan Lestrange tentando chegar até ela. As primeiras notas de uma valsa começam a ecoar pelo salão e as intenções do rapaz não poderiam ser mais claras. Andrômeda se pôs a caminhar ainda mais rápido, fingindo não perceber o chamado. A última coisa que desejava era uma dança lenta com Rabastan, o jovem se assemelhava a um polvo e parecia considerar que o conceito de dança envolvia suas mãos nojentas deslizando de forma pouco lisonjeira pelo corpo da parceira. 

Além disso, desde que o noivado de Bellatrix fora anunciado com seu irmão mais velho, Rodolphus, Rabastan parecia estar seriamente considerando um casamento com Andrômeda. Não nutria qualquer afeição especial pela moça, mas ela era suficientemente bela, tinha um dote imenso e uma união como aquela selaria uma aliança perpétua entre Blacks e Lestranges. A menina compreendia que aqueles eram motivos suficientes para um casamento – afinal o que eram casamentos senão contratos de negócio? –, sua única ressalva residia no fato de Rabastan ser o mais intolerável dos homens. Andrômeda não acreditava em amor ou esperava encontrá-lo em sua vida, aquele tipo de trivialidade podia ser deixado para os livros, contudo, esperava dividir a vida com alguém dotado do mínimo de inteligência e raciocínio lógico. Alguém que fosse mais do que um par de músculos beberrão. Rabastan Lestrange claramente não era essa pessoa e a ideia de desposá-lo a enojava. A garota seguia em sua fuga, quando colidiu com um corpo alto e masculino. 

— Perdão, senhor. — se desculpou mal humorada, mesmo que sua vontade fosse tirar aquele homem de seu caminho com um feitiço letal. Ainda assim, algumas convenções sociais precisassem ser seguidas. 

— A culpa foi minha… senhorita. — o rapaz disse com um forte sotaque do leste de Londres. Mais do que isso, um sotaque trouxa. Andrômeda estreitou os olhos, a máscara cobria a maior parte do rosto do “cavalheiro”, deixando apenas cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso com covinhas para seu escrutínio. Teria sido o bastante, se Rabastan não houvesse se aproximado nesse ínterim. 

— Senhorita Black! Senhorita Black! Andrômeda! Andrômeda! 

— Inferno! — ela amaldiçoou de forma nada apropriada para uma dama. Então colocou os olhos no estranho e ordenou — Dance comigo! 

— O que?

— O senhor tem problemas de audição?

— Não. 

— Então me entendeu muito bem. — ela disse com autoridade, tomando a mão enluvada do rapaz. Os olhos dele se arregalaram por um breve segundo, mas ele fez o que ela ordenou (as pessoas sempre faziam), com um sorriso debochado nascendo em seus lábios. 

— Andrômeda. — Rabastan finalmente a alcançou.

— Senhor Lestrange, posso ajudá-lo? — perguntou tentando soar tolerante. 

— Iria convida-la para essa dança. 

— Oh, sinto muito, porém, já prometi a dança a este cavalheiro.  Teremos que deixar para a próxima. — a Black utilizou toda sua dissimulação e saiu praticamente arrastando o estranho para a pista de dança. 

— Bom, Andrômeda, acredito que esse seja um bom momento para informá-la que não sei valsar. 

A afirmação era um disparate. Qualquer rapaz de boa família e bem educado saberia valsar. Aquela era uma habilidade básica aprendida pelos filhos e filhas da aristocracia assim que aprendiam a andar. Ainda assim, a forma como o sotaque do desconhecido fez seu nome soar anuviou sua mente por um segundo. Ela já havia ouvido aquela combinação de nove letras em diferentes tons e vozes, mas ela nunca lhe soara tão diferente. Como o nome de outra pessoa. 

— Apenas siga meus passos. Sou uma excelente dançarina. — disse com sua costumeira autoridade. 

Dessa vez o rapaz gargalhou. Alto e verdadeiramente. Ele deveria ter uma idade próxima da dela, o que tornava tudo ainda mais absurdo. Já deveria ter aprendido a polir seus comportamentos exagerados em público. Um membro de uma importante família puro-sangue não gargalhava no meio de um salão de baile. E, no entanto, aquela risada tão autêntica ecoara por paredes encharcadas de insinceridade e fizera morada no peito de Andrômeda, fazendo com que ela desejasse sorrir. De verdade. 

— Você é sempre tão autoritária? — ele indagou, cometendo um novo erro. Deveria se dirigir a ela como “senhorita”. Não haviam sequer sido apresentados, pelo amor de Morgana! E, apesar disso, ela gostara da informalidade. 

— Sim. O senhor é sempre tão descuidado com a etiqueta. 

— Sim. Sou descuidado com tudo o que é irrelevante. — afirmou despreocupado e a apresentou com um novo sorriso. Um sorriso que sozinho seria capaz de iluminar todo o salão. 

A valsa fora desajeitada, para dizer o mínimo. O rapaz tropeçara três vezes e pisara nos pés de Andrômeda em dois momentos. Estava claro que não sabia o que estava fazendo. A dança também permitira que a moça observasse outros detalhes destoantes sobre seu parceiro. Suas vestes, por exemplo, embora fossem apropriadas e bem feitas, não eram novas. Não era algo que alguém perceberia de longe, mas a proximidade e a experiência permitiam que a garota notasse a falha. Nenhum cavalheiro que se prezasse aparecia no baile de natal dos Black sem vestes recém-saídas do alfaiate. Tudo isso, juntamente com o fato de que ela não conhecia aquele homem (e ela conhecia todo mundo que era importante conhecer) a fizeram constatar que havia algo errado. Em um primeiro momento, Andrômeda chegara a acreditar que ele fosse o acompanhante de algum dos convidados ou um dos novos amigos de Bellatrix, aqueles que estavam sempre cercando o imponente Tom Riddle. Porém, o tempo de uma valsa fora suficiente para que a jovem constatasse a própria ingenuidade. O rapaz a sua frente era obviamente um penetra. Um farsante. Um misto de ultraje e  expectativa se agitou dentro dela. 

 Antes que o garoto tivesse chance de se desvencilhar e se perder na multidão, a menina o puxou pelo braço e marchou determinada em direção a uma das portas de vidro que levava a uma das sacadas. 

—  Preciso de ar — afirmou daquele seu modo inquestionável. O jovem não teve opção a não ser segui-la. 

Assim que chegaram ao destino, Andrômeda fechou as portas atrás de si, de forma discreta – não queria gerar nenhum escândalo, afinal –, porém, determinada. 

— Quem é você? —  interrogou, não permitindo que o desconhecido conduzisse aquela conversa. 

—  O que? —  ele devolveu a pergunta, mas para a surpresa da garota não parecia assustado. Na verdade, havia um brilho de diversão em seus olhos. Olhos que pareciam ainda mais azuis à luz da lua e das estrelas. 

— Não se faça de desentendido. Eu sei muito bem que o senhor não foi convidado para essa festa. Então, tenha a dignidade de me dizer quem é você. 

— Eu... Eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento. Pelo menos eu sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então. — o garoto respondeu com uma risada nos lábios, enquanto se movia despreocupadamente pela sacada. 

Andrômeda estreitou os olhos, irradiando irritação.  

— O senhor perdeu a cabeça?

— Oh, não, ainda não chegamos na parte sobre perder cabeças, Andrômeda

— Senhorita Black! — ela corrigiu automaticamente, sentindo novamente aquele estranho calor ao som de seu nome nos lábios daquele desconhecido — E do que diabos  o senhor está falando? É louco?

— Oh, não, esse é o chapeleiro. 

O olhar que Andrômeda lhe enviou foi mais cortante que qualquer maldição imperdoável. O garoto, no entanto, apenas gargalhou daquele seu modo genuíno e pouco preocupado. Como alguém poderia soar tão leve?

— Alice no País das Maravilhas. — ele contou, por fim. 

— O que? 

— Estou citando o livro. 

Aquilo não dizia nada à Andrômeda, algo que deveria ter ficado expresso no rosto dela. 

— Bom, talvez a senhorita não esteja familiarizada com os clássicos. Uma pena. — o rapaz deu de ombros. 

— É claro que estou. — ela quase bateu os pés como uma criança mimada, mais ofendida do que nunca. 

Era claro que estava familiarizada com os clássicos, sua educação fora primorosa e os livros sempre foram uma de suas maiores paixões. Havia lido todos os clássicos bruxos disponíveis em inglês, francês e até mesmo em alemão. Além de sempre ter tido contato com os clássicos gregos. Os mais conservadores condenariam tal fato, considerando aquilo muito trouxa. Os Black e algumas famílias próximas, no entanto, sempre defenderam que foram os sangue-ruim que se apropriaram do que era por direito história bruxa. Não havia como saber quem tinha razão.

— Chega desse disparate! Quero saber o seu nome. 

— O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem.

Andrômeda definitivamente iria matá-lo. Ele apenas riu novamente. Estava obviamente se divertindo. À custa dela. 

— Romeu e Julieta. Shakespeare. Você já deve ter ouvido falar do grande William Shakespeare. 

E havia. Nunca fora autorizada a ler nada escrito por ele, porém, sabia que o homem fora um grande escritor. Trouxa. Aquele penetra estava tendo a audácia de citar literatura de sangue-ruim para ela. 

—  Você é um sangue-ruim.

Pela primeira vez o sorriso deixou os lábios do rapaz, enquanto sua expressão se contorcia em um misto de raiva e dor. 

— O termo correto é nascido-trouxa. E, sim, eu sou. —  ele ergue o queixo e lhe lançou um olhar de desafio —  A pergunta agora é o que você fará sobre isso, Andrômeda

Se Bellatrix estivesse em seu lugar, o garoto já estaria morto. Sua arrogância e sorrisos escorrendo rubros na neve branca. Narcisa, por sua vez, teria feito um escândalo, atraindo a maior atenção possível para si mesma e revelando o farsante, como se estivesse em uma peça de teatro – das mais patéticas – e deixando para outros a tarefa de sujar as mãos de sangue. Andrômeda, contudo, não era nenhuma das irmãs. Não tinha estômago para torturas ou assassinatos. E abominava a ideia de ter todos os olhos voltados para ela, fora esse o motivo de ter resolvido lidar com o penetra de forma privada e sigilosa.

 Acima de tudo, Andrômeda Black tinha uma alma curiosa e uma tendência a se entediar com facilidade. Curiosidade e tédio, uma mistura perigosa. Sendo assim, ao encontrar um nascido-trouxa na festa mais exclusiva e puro-sangue do ano, a garota se viu se questionando como ele conseguira tal façanha. Como, quando, por que, quem. As perguntas rodavam por sua cabeça e a menina precisava de respostas mais do que de qualquer outra coisa.  Ela podia denunciá-lo ou expulsá-lo de sua propriedade com discrição, mas se fizesse isso nunca teria as respostas que almejava. Tudo o que lhe restaria seria voltar para o mais tedioso dos bailes e dançar meia dúzia de valsas com Rabastan Lestrange. Qualquer coisa soava mais agradável do que isso.

Foi a vez dela erguer o queixo e empregar toda arrogância aristocrática no olhar. 

— Nada. Se o senhor responder minhas perguntas. 

Ele riu. 

—  Responderei suas perguntas, Andrômeda. Mas não aqui e não agora. Receio que você não seja única farejando a minha presença. Tenho que ir. 

— Não… —  ela não conseguiu se impedir a tempo e deixou a palavra escapar. Não queria que ele fosse embora, mesmo sem entender totalmente o motivo. 

—  Preciso ir. Já é quase meia-noite, de qualquer forma. E a meia-noite eu viro abóbora. — ele piscou para ela, sabendo que compreenderia a referência. —  Me encontre amanhã, ás 9h, na Blackfriars Bridge. Prometo que estarei lá e responderei tudo o que você quiser. Por ora, terei que deixá-la apenas com algo tão insignificante como um nome. 

O rapaz pegou uma das mãos enluvadas da garota e depositou um beijo suave sobre ela. 

—  Edward Tonks, senhorita Black, ao seu dispor. —  então ele riu novamente. Como conseguia? Será que nunca ficava sem sorrisos para distribuir? —  Mas todos me chamam de Ted. 

O relógio bateu meia-noite. Ted Tonks lançou um último sorriso para Andrômeda Black.

—  Feliz Natal, 'Drômeda. 

E aparatou. 

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II

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24 de dezembro de 1971

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“Because these things will change

Can you feel it now?

These walls that they put up to hold us back

Will fall down”

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(Porque essas coisas vão mudar

Consegue sentir isso agora?

Essas paredes que eles colocaram para nos deter

Vão cair)

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O suéter amarelo a envolvia como um abraço. Ficava largo no corpo da garota, tinha as mangas puídas e estava impregnado com o perfume dele: sabonete, livro antigo e chocolate. Andrômeda Black nunca sentira tanto afeto por uma peça de roupa. O suéter de Ted Tonks a fazia se sentir mais em casa do que sua própria pele. Enroscada em uma poltrona igualmente amarela e com um velho exemplar de Alice no País das Maravilhas no colo, a menina sentia uma felicidade ímpar se agitar dentro dela. A lareira crepitava e, em um dos cantos da sala, um imenso pinheiro transbordava de enfeites natalinos. Andrômeda nunca fora do tipo que se importava com o natal e seria a primeira a revirar os olhos ao ouvir alguma baboseira sobre a “magia” daquela maldita época do ano. 

A moça conhecia magia, conhecia o poder e as sombras que vinham com ela, e sabia que não se assemelhava em nada com sentimentalismo piegas e bugigangas baratas. Ainda assim, quando Ted entrou em seu campo de visão, carregando duas canecas de chocolate quente e um prato de biscoitos – cortesia dos elfos domésticos –, e a presentou com seu maior sorriso, a menina quase acreditou que os tolos estavam certos. Talvez houvesse algo especial sobre o natal. Talvez existisse alguma coisa – não magia, porém, algo suficiente próximo – sobre aquela data. 

Estava sendo estúpida, é claro, contudo, não conseguia evitar. Ted tinha aquele efeito sobre ela. Um efeito que Andrômeda deveria detestar, mas que por algum motivo resolvera adorar. Era assim com tudo o que se referia ao rapaz. Ela deveria odiá-lo. Eram inimigos naturais, afinal. O ódio, no entanto, se recusara a florescer em seu coração. Desde o primeiro encontro, há exatamente um ano, Tonks despertara uma miríade de sentimentos novos e conflitantes em Andrômeda. Nenhum deles fora ódio. Teria sido mais fácil se houvesse sido. E infinitamente mais tedioso. 

Não fora justamente aquele misto de curiosidade, tédio e algo que a moça ainda não sabia nomear que a impulsionara a ir ao encontro do rapaz, após o baile de natal do ano anterior?  Se encontrar com um nascido-trouxa, que havia invadido sua casa, era uma completa insanidade. O garoto poderia ser perigoso e seus pais a matariam se descobrissem tamanho disparate. Andrômeda, no entanto, precisava de respostas e a ideia de perigo a excitara de forma surpreendente. Sua vida inteira fora um oceano calmo, pequenas ondas de mesmice. Na calmaria ela se afogava, enquanto ansiava por nadar livremente em uma tempestade. 

Ted claramente possuía a mesma ausência de autopreservação, pois realmente comparecera ao encontro. Na época aquilo surpreendera a moça. A empreitada não era mais segura para ele. Ela era uma puro-sangue, cuja família flertava abertamente com ideias supremacistas, poderia ser perigosa, poderia ter avisado alguém ou planejado uma armadilha. Mas Ted Tonks, Andrômeda em breve descobriria, dera sua palavra e nunca descumpria suas promessas. 

Sim, aquele encontro fora uma loucura, os dois jovens, contudo, estavam curiosos e fascinados demais um pelo outro para não correrem o risco. E eram, no fim do dia, apenas adolescentes. Andrômeda provava o gosto do proibido pela primeira vez e Ted amava o sabor do controverso, do arriscado ou do anárquico. Algo que ficara claro por suas roupas. As vestes de gala da noite anterior haviam sido abandonadas, em seu lugar haviam jeans desbotados, suéter amarelo, jaqueta de couro, coturnos imponentes, cachecol e luvas escuras. Os cabelos loiros estavam desgrenhados e boa parte deles se escondia abaixo de um gorro cinza. Na orelha esquerda, o rapaz trazia um brinco. A garota nunca havia visto algo mais desleixado, rebelde ou trouxa. Completamente alinhada em suas vestes bruxas, sapatos e luvas caras e sem um único fio de cabelo fora do lugar, ela deveria ter repudiado a visão à sua frente. Deveria repudiar tudo sobre  Tonks. Mas apenas se sentira mais atraída por ele. A ausência da máscara revelava um rosto vagamente familiar, era provável que os dois já houvessem se esbarrado em Hogwarts e até que compartilhassem algumas aulas. Estavam no mesmo ano, afinal. A menina, porém, não costumava prestar atenção em lufanos, socializar fora da sonserina ou dedicar qualquer atenção a nascidos-trouxas. Até aquele momento. 

Aquele fora o começo de algo. Os dois trocaram algumas ofensas, discutiram um pouco, responderam às perguntas uns do outro, conversaram sobre trivialidades. Juraram que era o fim daquele absurdo. Mas no dia seguinte voltaram para mais. E continuaram voltando. De novo e de novo e de novo. Um ano chegou ao fim e outro nasceu. O recesso de inverno se encerrou e as aulas em Hogwarts retornaram. A neve cessou e as flores da primavera renasceram. Logo o verão reivindicou o mundo, pintando tudo em tons vibrantes e amarelos. Tudo se alaranjou e se preparou para adormecer no outono. Um novo inverno chegou. E Andrômeda Black e Ted Tonks continuaram a se encontrar. Todos os dias. 

Por muito tempo, nenhum dos dois saberia explicar exatamente o que era aquela relação. Eles foram estranhos que se encontraram em um baile e então se tornaram algo mais. Esse algo mais evoluiu para uma amizade improvável e eventualmente se tornou amor. Andrômeda não saberia dizer quando se apaixonara por Ted Tonks. Fora repentino e gradativo. Um temporal que despenca de uma vez e te encharca até os ossos, sem deixar chance de fuga. Mas que já dava indícios de sua chegada há horas, na forma de nuvens escuras que tomavam lentamente o céu azul, o pintando de cinza. E agora era tarde demais. A chuva se infiltrava por seus poros e corria por sua corrente sanguínea. 

Os dois estavam apaixonados. O que era uma novidade para ambos. Uma novidade que Ted abraçou sem hesitar, mas com a qual Andrômeda precisou de um tempo para se acostumar. Amor nunca fizera parte de seus planos. Embora, se fosse honesta, admitiria que Ted nunca fizera parte dos planos e essa era parte do apelo. Amor, contudo, era outra história. Uma história para qual ela não sabia se estava preparada. Uma história que ela temia.

Amor lhe era  um desconhecido. Um sentimento que a garota não compreendia e que não sabia sentir, porque achava que nunca o havia recebido. Não de verdade. Não com pureza e altruísmo. Não como Ted lhe dava. Os Black não eram uma família amorosa. Estavam unidos por laços de sangue, por legado, tradição, autoproteção, mas qualquer sentimento entre eles era estranho, distorcido, egoísta. Nesse sentido, Andrômeda não era diferente. Também era uma serpente prateada de sangue negro. Também era autocentrada e ambiciosa. Também havia nascido quebrada. Ou talvez sua família a houvesse quebrado e moldado seus cacos em algo errado e disforme. Uma criatura errada e desajustada que não sabia amar e não merecia amor. Especialmente de alguém como Ted. 

O rapaz, é claro, pensava de forma diferente. O que não chegava  a ser uma novidade. Ele e Andrômeda não poderiam ser mais díspares. Enquanto ela era uma introvertida taciturna e fechada; ele era um livro aberto irradiando sorrisos e iluminando o mundo com sua empolgação e bom humor. Andrômeda era uma noite tempestuosa. Ted era uma tarde ensolarada de verão. Era também um idealista, um rebelde com causa, um encrenqueiro nato, sempre se rebelando contra o que julgava injusto, sempre pensando fora da caixa, sempre começando alguma confusão. Andrômeda desejava parar o tempo e reorganizar o mundo de uma forma que lhe fizesse sentido. Queria ordem, calmaria, medidas proporcionais. Ted queria virar o mundo de cabeça para baixo. Sonhava com caos, barulho e liberdade. Ele era uma música  animada de rock 'n' roll. Ela era um soneto lúgubre. 

Não deveriam funcionar, mas, de alguma forma, ali estavam. Porque Ted Tonks estava convencido de que havia algo bom e luminoso em Andrômeda Black, algo que nem mesmo ela conseguia enxergar, e não estava disposto a deixá-la arruinar aquele relacionamento. Talvez ele houvesse se encantado por ela justamente por todas as formas em que eram diferentes. Opostos complementares. Luz e sombra. Ordem e caos. De qualquer modo, em algum ponto, a garota desistira de lutar contra o inevitável. Ted havia tocado seu espírito  e contaminado sua carne. E todos os seus passos a levavam a ele. De novo e de novo e de novo. 

Isso não queria dizer que a relação entre os dois era sempre fácil. As diferenças eram magnéticas e também responsáveis por abrir rasgos no frágil tecido que a união de suas almas formava. Às vezes, tudo o que os separava parecia mais forte do que tudo o que os unia. Em alguns dias eles não eram Andrômeda e Ted, eram uma puro-sangue e um nascido trouxa. E isso tinha um peso. Aquele ano mostrara à Black que havia muito  que ela não sabia. E que muitas de suas certezas estavam equivocadas.

Nascidos trouxas não eram criaturas perversas que haviam se apoderado da magia de bruxos inocentes, como ela ouvia desde a infância. E trouxas não eram inúteis ou insignificantes ou inferiores. Eram apenas… pessoas. Pessoas diferentes dela e que viviam de formas que lhe pareciam estranhas, mas apenas isso. Na verdade, ela entendia agora, que poderiam ser bastante engenhosos, criativos e fascinantes. E que nada justificava as coisas terríveis que eram ditas ou feitas com eles. 

Andrômeda nunca fora um pessoa propensa à violência – a não ser que o assunto fosse palavras afiadas –, ainda assim, era propensa a fechar os olhos para a violência. A ignorar o que não lhe dizia respeito. A acreditar que poderiam haver razões para aquilo. Na maior parte do tempo, a garota era apenas indiferente a qualquer coisa que não a envolvesse diretamente.  Era egoísta. Sempre fora. Mas estava aprendendo. Aprender, no entanto, doía. Construir novas certezas levava tempo e Ted não tinha nenhuma obrigação de educá-la, especialmente sobre coisas que o machucavam. Tudo o que Andrômeda sabia era que não queria que ele se machucasse. Talvez aquilo fosse o bastante, porque, de um jeito ou de outro, eles haviam feito o relacionamento funcionar por um ano inteiro.

Era um segredo, é claro. Ninguém além dos dois seria capaz de entender aquela relação e se algum dos familiares da menina sonhasse com algo assim, ambos estariam mortos. O perigo pairava no ar, trazendo medo e um novo tipo de excitação para o jovem casal. Cada segundo que conseguiam roubar era sagrado. Cada instante compartilhado era um milagre.

Andrômeda, no entanto, sabia que o tempo dos dois estava chegando ao fim. Havia se jogado em um oceano de insanidade, mas – não importava o que Ted dissesse – não havia realmente espaço para amor em sua vida. Ela era terra devastada, nada bom nasceria ali. Seu destino estava selado. Em breve ambos se formariam e tudo estaria acabado. Ela se casaria com Rabastan Lestrange, como seu pai havia determinado, e seria miserável pelo resto de seus dias. Às vezes amaldiçoava Ted mentalmente por ter se atrevido a entrar em seu caminho. Por ter lhe introduzido ao amor e à  felicidade. Seria mais fácil voltar para sua caverna de sombras, se nunca houvesse conhecido a verdadeira luz. 

De qualquer forma, ela aguentaria. Estava resignada. As coisas eram como eram. Antes do fim inevitável, porém, a Black roubaria um último fragmento de luz. Um natal. Havia mentido para a família, alegando que precisava do recesso de fim de ano para estudar, os N.I.E.M.’s estavam chegando e ela tinha que se concentrar. Os pais acharam uma tolice se  preocupar tanto com aquilo, o destino dela era ser uma esposa, afinal. Ainda assim, bastara que mencionasse que um nascido-trouxa era o primeiro da classe para que mudassem de ideia. Era melhor que a menina gastasse cada segundo de seu tempo estudando ou sofreria as consequências. Hogwarts era, de fato, um lugar mais adequado para tal empreitada. A residência dos Black se tornava sempre tumultuada demais naquela época do ano. E Andrômeda era bem conhecida por sua intolerância ao barulho, especialmente quando tentava ler ou se concentrar em suas estrelas. Fazia sentido, portanto, que ficasse no colégio. Ninguém desconfiou dela. E por que desconfiariam? Sempre fora uma excelente mentirosa e sabia cometer seus delitos com discrição. Ao contrário das irmãs, ela sabia se fazer invisível. Sabia agir como alguém tão inocente e tediosa que jamais atrairia um olhar mais longo ou qualquer suspeita. Andrômeda Black era uma serpente, no fim das contas. 

Ted, por sua vez, não precisara recorrer a mentiras. Não era bom com elas, de qualquer forma. Andrômeda era a única inverdade em sua vida. A única ocultação dos fatos. O único segredo. O rapaz era brutalmente honesto. Era uma das coisas que Andrômeda amava sobre ele. Tendo crescido em uma galeria de mentiras, precisando desfiar uma teia de insinceridades para se manter viva, ela apreciava a verdade. Apreciava aquela sensação nova – e um tanto assustadora – de poder realmente confiar em alguém. De uma forma que nunca confiara em ninguém de sua família.

 Sendo assim, o menino apenas disse à mãe que ficaria em Hogwarts para o fim de ano, porque gostaria de passar um tempo com a namorada. Aquela também era uma palavra nova para Andrômeda. Uma palavra da qual ela gostava bastante. A senhora Tonks aceitara bem a notícia. Após a morte do marido, quando Ted era ainda bem jovem, a mulher precisara cria-lo sozinha, se desdobrando em seu trabalho como enfermeira. Os plantões de natal costumavam ser algo que ela não podia se dar ao luxo de desperdiçar. 

Ted, então, passava a maior parte de seus natais sem companhia, inventando formas de se distrair. Fora isso o que o levara até a festa dos Black no ano anterior. Invadir uma festa de puro-sangues lhe parecera um desafio irresistivelmente divertido. Um novo tipo de rebelião. O sabor de saber que havia enganado todas aquelas pessoas detestáveis e as ultrajado da maior forma possível era indescritível. Naquele ano, porém, o menino não precisaria recorrer a empreitadas perigosas para assassinar seu tédio. E Andrômeda não precisaria buscar por salvação em uma sala cheia de pessoas. Haviam se encontrado e aquele natal seria apenas dos dois.

Parecia tão estranho refletir sobre como a vida havia se transformado naquele último ano… 

— “Meu Deus, meu Deus! Como tudo está esquisito hoje! E ontem tudo era exatamente como de costume. Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: "Quem é que eu sou?"” — Ted declamou, após pegar o livro das mãos da namorada e passar os olhos pela página. O rapaz era capaz de citar Alice no País das Maravilhas de cor. Era seu livro favorito, afinal. 

— “Ah, esse é o grande enigma!” — Andrômeda completou, porque estava se tornando uma grande apaixonada pela obra. Estava em sua terceira leitura e cada vez se encantava mais. 

Ted sorriu e se sentou no braço da poltrona, observando a namorado beber seu chocolate quente. Os dois estavam no salão comunal da Lufa-Lufa. Andavam passando bastante tempo ali, uma vez que Tonks fora o único lufano que permanecera em Hogwarts para o Natal. O cômodo mais confortável de Hogwarts era, então, todo deles. Algo que às vezes se assemelhava a um sonho. 

— Você demorou. — a garota disse, se aconchegando ao namorado. 

— Estava conversando com os elfos. — ele deu de ombros. 

Andrômeda sorriu. 

— Tentando convencê-los a iniciar uma revolução?

— Entre outras coisas. 

Os dois riram. Embora a menina tenha se sentido um pouco mal ao se lembrar de como os elfos domésticos de sua casa viviam. E de como nunca se importara com isso antes, apenas assumindo que aquela era a ordem natural das coisas.

— Eu tenho um presente para você. — Ted contou empolgado, varrendo para longe seus pensamentos nefastos. 

A moça ergueu uma de suas sobrancelhas escuras. 

— Pensei que havíamos concordado em não trocar presentes. 

— Sim, mas eu menti— o sorriso dele se entortou, enquanto confessava a tranagressão. Andrômeda sentiu seu coração falhar uma batida. 

— E desde quando você mente, senhor Tonks? 

— Suponho que você esteja sendo uma péssima influência em minha vida, senhorita Black. 

Ela riu. 

— Suponho que sim. E o que você fará sobre isso? — a garota questionou com malícia. 

Ted lhe estendeu a mão. 

— Você verá em breve. 

— Para onde estamos indo?

— Ah, essa é uma surpresa. 

— Detesto surpresas. 

— Prometo que dessa  você vai gostar. 

— Cuidado com suas promessas, Ted Tonks. — O rapaz apenas riu e se dirigiu até a porta com a menina em seu encalço. 

Havia algo indescritível sobre correr pelos corredores de Hogwarts de mãos dadas com Ted. Aquela ausência de medo ou preocupação faziam a liberdade crepitar pelas veias de Andrômeda. A garota ainda não havia percebido como passara os últimos meses dividida entre a felicidade avassaladora e o pavor. Porque se alguém descobrisse seu relacionamento com Ted seria um desastre. Porque aquele segredo era glorioso, mas também pesado. Porque desejava gritar para o mundo inteiro que estava apaixonada por Ted Tonks. Queria estar com ele às claras e não apenas em momentos roubados no escuro. Naquela noite, eles podiam ser o que Andrômeda queria que fossem. Estavam libertos do medo e das amarras. A única ameaça era Filch. Mas o que o zelador faria além de lhes aplicar uma detenção? Perto dos perigos que corriam diariamente, aquilo não era nada. 

O casal, de toda forma, não encontrou nenhuma interrupção em seu percurso, podendo correr livremente pelos corredores do castelo, até pararem ofegantes em frente à Torre de Astronomia. Ted guiou Andrômeda cuidadosamente para a sala que se encontrava iluminada por uma série de velas encantadas. Aquele sempre fora o lugar favorito da Black em Hogwarts. No ínterim daquele ano acabará se tornando o lugar favorito de Tonks também.

Havia algo mágico em ver o brilho das estrelas refletido nos olhos escuros de Andrômeda. E a forma como o rosto dela se ascendia enquanto tagarelava sobre astros e astronomia causava uma comoção religiosa no interior do rapaz. Andrômeda fora nomeada em homenagem a uma Galáxia, ele descobrira há algum tempo e se lembrava de achar que um nome nunca antes fizera tanto sentido. A sua Andrômeda era mesmo um amontoado de luz, poeira, fogo e buracos negros, vagando solitária em uma dimensão de sombras e escuridão. Complexa, complicada, completa. Em uma família de estrelas, ela era uma galáxia inteira. Melhor e maior do que qualquer Black jamais seria. 

Enquanto o rapaz se perdia em seus pensamentos enamorados, a menina caminhava em direção ao centro da sala, onde havia um telescópio embrulhado com uma fita amarela. Um telescópio feito por Ted. O garoto sempre fora bom com trabalhos manuais, algo que aprendera em sua criação trouxa, ela apenas não conseguia imaginar quando o namorado encontrara tempo para montar um telescópio. O telescópio de Andrômeda havia sido misteriosamente destruído após uma discussão com Bellatrix, durante o verão. Com a proximidade dos N.I.E.M’s e com todo o caos que tomara conta de seus dias, ela não encontrara um momento para substitui-lo. Mas Ted encontrara. Mais do que isso, havia feito tudo com as próprias mãos. Em outra época a menina talvez desprezasse tal ideia, julgando o trabalho como inferior. Agora o esforço só fazia o gesto parecer mais gentil e amoroso. Lágrimas surgiram nos olhos de Andrômeda. Algo que a surpreendeu, já que nunca fora do tipo de chorava ou se emocionava fácil. Mas ali estava Ted Tonks acordando algo dentro dela novamente. Algo novo e poderoso. 

— Você não gostou? — Ted indagou preocupado. 

— Gostar? Gostar? Ted, eu amei! Eu… eu amo…você. — ela admitiu em um sussurro, surpreendendo até a si mesma com a confissão. 

O sorriso que surgiu nos lábios de Ted poderia ter iluminado o mundo inteiro. Porque se Andrômeda era uma galáxia, Ted era o sol. E a garota estava começando a achar que aquela combinação cósmica havia sido escrita pelas estrelas. 

— E eu amo você, Andrômeda Black. Queria te contar isso há algum tempo, mas fiquei com medo de te assustar com a minha pieguice. 

Andrômeda balançou a cabeça.

— Você é um tolo, Edward Tonks. — a menina afirmou, enquanto rompia a distância entre os dois com um beijo. 

Em algum lugar, sinos soaram doze vezes. 

—  Feliz Natal, 'Drômeda. —  o garoto desejou, quando eles finalmente se separaram. 

Andrômeda sorriu. Era, de fato, um natal feliz. Muito feliz. 

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III

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24 de dezembro de 1972

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“It's hard to fight when the fight ain't fair

We're getting stronger now

Find things they never found

They might be bigger, but we're faster and never scared”

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(É difícil lutar quando a luta não é justa

Estamos ficando mais forte agora

Encontrando coisas que eles nunca encontraram

Eles podem ser maiores, mas nós somos mais rápidos e destemidos)

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O vestido de cetim negro deslizou pelo corpo da garota. Enquanto o tecido escuro se amontoava em seus pés, suas mãos acariciaram inconscientemente o ventre. Ainda era estranho pensar que uma criança crescia ali dentro. E um tanto apavorante. Andrômeda Black tinha o peso do mundo em seus ombros pálidos e frágeis. O peso de uma vida. Ela não havia planejado engravidar aos 18 anos, mas supunha que seus planos não importassem agora. Fazia sentido. Desde que encontrara Ted Tonks, há exatos dois anos, todos os seus planos esfarelaram, enquanto sua história tomava uma direção nova. Uma direção surpreendente, excitante, perigosa e apavorante. Uma direção que a fazia se sentir viva. 

É claro que nada disso tornava aquela situação mais simples ou menos imprudente. Andrômeda e Ted haviam se graduado em Hogwarts há poucos meses. Se os cuidadosos planos da garota houvessem sido seguidos, os dois seriam somente um eco do passado. Eles deveriam ter se despedido antes mesmo da formatura e seguido suas vidas. Retas paralelas que não se cruzariam de novo. O problema era que Andrômeda era  fisicamente incapaz de dizer adeus a Ted. Sua mente dizia “vá”, seus lábios imploravam “fique”. Apenas mais uma hora. Mais um dia. Mais uma semana. Mais um mês. Um ano inteiro em que ela passara mentindo para si mesma. Não fazia mal, a menina era mesmo uma excelente mentirosa.

Então, Ted ficou. Os encontros se tornaram cada vez mais difíceis e arriscados. O rapaz tinha um emprego no Departamento de Execução das Leis da Magia agora. E ela estava noiva de Rabastan Lestrange, tendo todo seu tempo consumidos por detalhes de uma união que mais lhe parecia uma maldição. Seus dias haviam se tornado um borrão nublado e cinzento que só se iluminava nos raros momentos que compartilhava com Ted. Aquele que sempre seria o sol de sua galáxia. 

Em um daqueles encontros luminosos, há aproximadamente três meses, uma semente fora plantada e agora florescia no útero da menina. A descoberta a deixara em pânico. Era jovem demais para ter um filho e se sua família ou noivo ficassem sabendo, ela estaria morta. E Ted também. Aquela gravidez era uma insanidade e, ainda assim, a garota não conseguia se convencer a não ter aquela criança.

Ela tinha uma escolha e sabia disso. Ted também sabia e a havia deixado livre para escolher o caminho que desejasse seguir, garantindo que estaria ao seu lado independente do que decidisse. Poderia interromper a gravidez e fingir que aquilo nunca havia acontecido. Se casaria com Rabastan e manteria a relação com a família, enquanto fechava os olhos e ignorava todas as coisas perversas ao seu redor. Enquanto tentava impedir o desprezo de crescer em seu peito a cada comentário preconceituoso que ouvia diariamente. Enquanto fingia não ver o envolvimento cada vez maior de seus familiares – e futuro marido – com o Lorde das Trevas. Poderia seguir seu caminho maldito e deixar Ted – e toda sua luminosa rebeldia – para trás. Era uma opção. A escolha mais fácil. Aquela que por muito tempo ela julgou que escolheria. 

No entanto, agora que o momento de decidir chegara, Andrômeda percebia como se equivocara e se julgara erroneamente. Porque a ideia de ficar e se casar com Rabastan era simplesmente inconcebível. A garota sabia o que queria. Queria uma vida nova. Queria não ser conivente com crimes terríveis. Queria Ted. E queria aquela criança. Queria conhecer aquela pequena pessoa que ela e Ted haviam feito. Queria e queria e queria. Como nunca havia desejado nada antes. “Se desejar ter essa criança, fuja comigo”, Ted havia dito e naquele instante ela soubera que o seguiria até o fim do mundo. A escolha havia sido feito há dois natais, quando resolvera se encontrar com um nascido trouxa na Blackfriars Bridge. Ela havia procurado por uma saída em um baile lotado e o destino colocara Ted Tonks em seu caminho. Agora a menina entendia. 

A decisão havia sido tomada, as malas estavam prontas, uma carta de despedida repousava em seu travesseiro, tudo o que restava fazer era correr. Andrômeda havia fingido passar mal, durante o tradicional baile de natal dos Black, usando a desculpa para sair mais cedo da festa. O tumulto causado pela celebração tornaria mais fácil sair sem que ninguém percebesse e provavelmente ajudaria a esconder a fuga até o dia seguinte. Nenhum dos familiares se levantava cedo após um baile. 

Então, ela trocou o belo vestido negro por vestes simples, pegou sua bagagem e ergueu a varinha. Hesitou antes de aparatar. Havia algum tempo que sua casa não parecia um lar. Ainda assim, aquela era a única casa que a garota já tivera. Sua única família. Pela maior parte de sua vida, aquele fora seu mundo inteiro. Tudo o que ela conhecia e amava. E agora ela precisava deixar todo um universo para trás. Para sempre. No momento que partisse, não haveria volta. Ela seria uma traidora do sangue e os Black tentariam destruir a ela e ao seu bebê. Mas não havia como conciliar aqueles dois mundos. Aqueles laços de sangue precisavam ser desatados. Andrômeda precisava partir.

Reunindo toda sua coragem e certeza, a garota olhou por uma última vez para a Mui Nobre e Antiga Casa dos Black, deixou que uma lágrima solitária corresse por seu rosto. E aparatou.  Os olhos azuis de Ted Tonks foram a primeira coisa que Andrômeda viu, quando chegou até a casa que o rapaz dividia com a mãe. Ele sorriu para ela e abriu os braços nos quais a garota se jogou sem pensar duas vezes. Ted a envolveu em um abraço apertado. Em algum lugar, um relógio badalou doze vezes. 

—  Feliz Natal, 'Drômeda. 

Todas as dúvidas se dissiparam. Ela estava em casa. 

.

.

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IV

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24 de dezembro de 1973

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“Because these things will change

Can you feel it now?

These walls that they put up to hold us back

Will fall down

This revolution

The time will come

For us to finally win”

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(Porque essas coisas vão mudar

Consegue sentir isso agora?

Essas paredes que eles colocaram para nos deter

Vão cair

É uma revolução

O tempo virá

Para nós finalmente vencermos)

.

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As mangas brancas do suéter eram torcidas por dedos agitados, enquanto a mulher andava de um lado para o outro, na pequena sala de estar. As chamas da lareira crepitavam. A neve se acumulava do lado de fora. Era quase meia-noite e Ted ainda não havia voltado. Andrômeda Tonks apertou a aliança em seu dedo anelar sem sequer se dar conta. O marido havia saído há horas, em uma missão da Ordem da Fênix, e não regressara desde então. Cada minuto sem notícias apenas aumentava a agonia da esposa. Os tempos estavam se tornando mais sombrios e perigosos. E Ted seria um alvo em que qualquer Comensal da Morte adoraria colocar as mãos. Ele havia, afinal, "corrompido" uma jovem de sangue-puro e a afastado de sua família. 

Um suave choro de bebê quebrou o silêncio excruciante da casa, despertando Andrômeda de seu estupor agonizante. A jovem correu até o andar de cima e retirou Nymphadora do berço com cuidado. O colo da mãe foi o bastante para acalentar a menina e pôr fim às lágrimas. Ela era um bebê tão doce! Seu precioso presente das ninfas que chegara ao mundo há pouco mais de seis meses.  

Andrômeda achara que entendia o amor antes de Nymphadora, mas estava enganada. Nada que já havia sentido antes se comparava os sentimentos tão singulares que floresceram nela com a chegada da filha. Às vezes, quando se sentia especialmente melancólica, ela se questionava se a mãe se sentira daquela forma sobre ela algum dia. Se Druella sentia falta de sua filha traidora e rebelde. Não sabia qual resposta traria paz ao seu coração. O que seria melhor: nunca ter sido verdadeiramente amada ou ter aberto uma ferida no coração da mãe? Ainda assim, a moça não se arrependia de sua fuga. Se houvesse  ficado, Nymphadora não haveria nascido, o que lhe soava como uma tragédia. Além disso, sua família não hesitaria antes de machucar a menina, odiando aquele ser humano tão pequeno e inocente apenas por seu status sanguíneo. Aquela certeza sempre varria para longe a melancolia. Doía ser obrigada a romper laços tão importantes e em alguns momentos ela sentia falta dos pais e das irmãs, porém, foram o Black que a obrigaram a isso. Foram eles que declararam guerra contra tudo o que Andrômeda aprendera a amar e achar correto. Haviam sido eles que iniciaram uma cruzada perversa da qual a moça se recusava a fazer parte. 

Uma cruzada contra a qual Ted agora se arriscava. A mulher soltou um suspiro exausto e levou a filha até a árvore de natal que decorava a sala. Era um pinheiro torto e desajustado, carregado de bugigangas coloridas e brilhantes. Estava longe de ser a árvore mais esplêndida que já se vira, Andrômeda, porém, nutria um carinho especial por aquele amontoado de folhas e enfeites. Era sua primeira árvore de natal. Ao menos, a primeira que ela havia decorado pessoalmente. Os Black costumavam deixar a tarefa para os elfos domésticos. E também era a primeira árvore de natal de Nymphadora. A menininha parecia adorá-la. As mãozinhas estavam sempre tentando segurar algum dos enfeites, enquanto seus cabelos assumiam a cor do objeto de desejo. 

A metamorfomagia da filha ainda espantava e encantava Andrômeda. Ela não conseguia entender de onde aquele dom saíra ou como alguém tão nublada como ela conseguira dar a luz a um perfeito arco-íris. Mas talvez houvesse sido justamente culpa de sua tempestade interna, que somada ao sol de Ted, produzira aquele pequeno caleidoscópio. De qualquer forma, fazia sentido que aquela metamorfose em forma de criança fosse fruto de um amor que transformara tão completamente aqueles dois amantes afortunados e suas vidas.  

As reflexões de Andrômeda foram interrompidas, quando a porta da casa se abriu. Todos os feitiços de proteção que envolviam a residência dos Tonks garantiam que apenas uma pessoa pudesse estar chegando. Ted. Coberto de neve, fuligem e um pouco de sangue. Sorrindo daquele jeito que poderia iluminar o mundo inteiro. A esposa quis se jogar nos braços dele e chorar. Quis estrangulá-lo com as próprias mãos e berrar durante horas. Como ele ousava deixá-la em tal estado de nervos? Como se atrevia a se arriscar tanto? Como se jogava em uma situação que poderia tão facilmente tirá-lo da esposa e da filha? Mas Andrômeda sabia as respostas. Já haviam discutido aquilo um milhão de vezes. Então, quando os olhos azuis do rapaz se encontraram com os olhos escuros da moça, nada precisou ser dito. 

Ted não tinha escolha. Ser um nascido trouxa colocava um alvo em suas costas. A opressão lhe fora imposta e ele precisava lutar contra ela se quisesse uma chance de realmente viver. E se quisesse que sua filha vivesse. Ao contrário de Andrômeda, que tinha seu sangue como privilégio e a quem o luxo da escolha fora concedido, Ted precisava lutar ou morrer. E ele sempre escolheria lutar. Lutar por si mesmo. Lutar pelas pessoas que amava. Lutar pelo que era certo. Andrômeda entendia, embora odiasse que aquela fosse a realidade. Sendo assim, e ainda segurando a filha, ela correu para o marido que envolveu as duas em seus braços. 

—  Feliz Natal, 'Dromeda. —  Ted sussurrou, depositando um beijo na testa dela.

Andrômeda finalmente permitiu que o alívio a dominasse. Tudo estava bem. Tudo ficaria bem. 

.

.

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V

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24 de dezembro de 1974

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“Tonight we'll stand

Get off our knees

Fight for what we've worked for all these years

And the battle was long

It's the fight of our lives

But we'll stand up champions tonight”

.

(Está noite vamos nos levantar

Sem ficar de joelhos

Lutar pelo que temos trabalhado por todos esses anos

E a batalha foi longa

A luta de nossas vidas

Mas nos tornaremos campeões esta noite)

.

.

O couro da jaqueta se rasgou ao ser atingido de raspão por um feitiço. A mulher xingou, enquanto maldições continuavam a ricochetear à sua volta. A raiva, no entanto, era bem-vinda, a tornava mais precisa e letal. 

— Andrômeda! —  Ted gritou e logo estava ao seu lado. 

—  Eu estou bem! —  ela respondeu, enquanto continuava a mover a varinha com perfeição.

— Você nem devia estar aqui! 

—  Nós já discutimos isso! 

E já haviam discutido. Um milhão de vezes. Ted ficara dividido quando Andrômeda se filiara à Ordem da Fênix. Uma parte do homem se enchera de orgulho, a outra sufocara em temor. Ele sabia, melhor do que ninguém, que a  esposa era  talentosa e que conseguia cuidar de si mesma. Ninguém teria sobrevivido a uma infância com Bellatrix Lestrange, se não soubesse. Em fato, Andrômeda era melhor em feitiços de ataque do que ele, que costumava ser mais defensivo. Ainda assim, isso não diminuía sua preocupação. Se aliar à Ordem era um risco e toda a traição de Andrômeda a tornava um alvo ainda maior. Para muitos Comensais da Morte a situação era pessoal e nada lhes daria mais prazer do que matá-la. Lenta e dolorosamente. 

Ele não estava errado, é claro. Andrômeda entendia os riscos. No entanto, isso não era o bastante para diminuir sua convicção. Se Ted iria se arriscar pelo que era certo, ela também iria. Seus dias de permanecer em casa em agonia haviam chegado ao fim. A espera era pior do que qualquer batalha. Além disso, a mulher achava que fazer parte da luta era seu dever. Seu marido era um nascido trouxa, sua filha uma mestiça. As pessoas que ela mais amava estavam em perigo e a moça não podia ficar impassível e permitir que algo os tirasse dela. Andrômeda queria viver com Ted, sem receios ou preocupações. Queria um mundo melhor para Nymphadora. Se o preço para isso fosse se arriscar e sujar as mãos, ela aceitava pagá-lo. 

Ted, contudo, estava certo ao afirmar que ela não deveria estar ali. Os dois haviam concordado, após ficar óbvio que o homem seria incapaz de dissuadir a esposa, que nunca deveriam participar de missões juntos. Aquela era uma garantia de que, se algo desse errado, Nymphadora ainda teria um dos pais. Era um acordo bastante razoável, mas que a mulher fora obrigada a quebrar naquela véspera de natal. Porque, após descobrir que a missão de espionagem para qual o marido havia sido designado se convertera em uma  combate sangrento, Andrômeda sequer hesitara. Deixara a filha em segurança, aos cuidados da sogra, e correra para o campo de batalha. Não deixaria Ted lutar sozinho. Não o deixaria morrer sozinho. 

O duelo continuou por um longo tempo, mas o casal formava uma bela dupla. Ele defendia e ela atacava. Com ferocidade e sem clemência. Talvez a Andrômeda fosse mesmo uma Black, no fim das  contas. Por anos, recusara a violência – e ainda não a apreciava –, mas aprendera recentemente que era capaz de qualquer coisa para proteger aqueles que amava. Ela faria o que precisasse fazer para proteger sua família. E jamais se arrependeria disso. 

Já era quase madrugada quando a luta finalmente chegou ao fim e o jovem casal conseguiu escapar. A adrenalina corria pelas veias de ambos e o peso de tudo que acabaram de viver  começava a cair sobre seus ombros. Ted entrelaçou os dedos ao da esposa e a trouxa para mais perto, Andrômeda se deixou enlaçar e se envolver para sensação de morada que sempre encontrava nos braços do marido. Estava tudo bem. Eles estavam bem. Eles estavam vivos. Por ora. Ted tremia um pouco. A moça suspirou. 

— Vamos para casa. Vamos ver Dora. —  ela disse com um sorriso terno. 

Ted também sorriu e depositou um beijo na testa da mulher. 

—  Feliz Natal, 'Drômeda. —  ele disse, quando os relógios começaram a badalar.

— Feliz Natal, Teddie.

Os dois sorriram e aparataram. Juntos. 

Não passava despercebido aos astros, porém, que há cinco natais, em uma noite mágica e escolhida pelos deuses, uma galáxia solitária e entediada, vivendo em um mundo insincero e linear, tivera seu destino entrelaçado ao de um sol rebelde e gentil. Um encontro que varrera para longe certezas e destruíra buracos negros. Retas se tornaram curvas. Letras cursivas passaram a ser usadas para escrever a história. Os fios das Moiras teceram uma espiral. Uma galáxia espiral. Destinada a crescer e se transformar. Para todo sempre.


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Notas finais do capítulo

Bom, tomei algumas liberdades com os personagens (como torná-los membros da Ordem da Fênix, embora não existam evidências disso), mas era algo que fazia sentido para mim e para a história que queria escrever.
Nath, você sabe o caos que foram os últimos dias, então peço perdão por qualquer erro e pelo final apressado. Ainda pretendo revisar mais algumas vezes, mas qualquer coisa é só avisar.
Enfim, espero que você e todos os leitores lindos que se aventuraram por aqui tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís



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