Breathless escrita por Fanfictioner


Capítulo 1
I can't breathe


Notas iniciais do capítulo

Amiga, a ideia original era outra como você já sabe, mas quando você demonstrou ter gostado de All you left Behind e em como eu escrevo sobre o luto, e por eu estar numa fase propícia, surgiu Breathless, com essa pegada triste e cinza, mas que tento fazer ser otimista, ao fim das contas...

Espero que goste da sua história, foi completamente fora da minha zona de conforto, e, ao mesmo tempo, foi delicioso escrevê-la!

Em tempo, feliz Natal a todo mundo que ler essa história! Que 2022 seja um ano melhor para todos nós! É a última fic do ano, e foi um prazer estar com vocês em todos os mais de 200k de fic desse ano! ♥



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Parecia irreal, sentia de um jeito irreal, e enquanto Draco deixava a plataforma 9 ¾, tudo em que conseguia pensar era Nela. Ele lembrava Dela bem demais.

O rosto de Astoria estava impresso em seus olhos de tal forma que, ainda que fechasse as pálpebras, veria nitidamente os cabelos escuros, o rosto magro e aristocrático, que escondia toda aquela bondade gentil capaz de fazê-lo sorrir mesmo sem querer.

Não era para aquilo estar acontecendo, não era para terem se despedido, passarem toda aquela tristeza trágica e quase incomensurável de tão dolorosa. O ar estava gelado, e o fazia sentir que era uma metáfora bizarra de como suas entranhas encontravam-se aqueles dias todos.

Ele poderia engolir, poderia tentar fingir estar okay. Mas ele não estava bem, sob qualquer hipótese. A presença de Astoria era mágica, única, e agora, sem ela, era como se a magia de tudo tivesse desaparecido. Draco daria toda a fortuna de sua família para que Astoria tivesse ficado. 

Só não era simples assim.

E isso o deixava sem ar, sufocado, preso em si mesmo. Não estava nas mãos dele ou de sua fortuna salvar Astoria. Salvar sua Astoria. Ela havia ido embora e agora tudo parecia ter chegado em um ponto irreversível de dificuldade. A vida sem Astoria era insuportável.

As memórias eram torturantes, e Draco lembrava de tudo bem demais. Lembrava-se da ruazinha monótona em que Astoria morava com os pais, para onde ele a levava de volta depois dos primeiros e tímidos encontros.

A sensação do vento bagunçando seu cabelo ao sair da estação fazia a memória ser viva demais, os olhos de opala de Astoria encarando-o. Lembrava-se de como ela cativara a sogra rapidamente, passando tardes na mansão Malfoy vendo fotos vergonhosas de um Draco de 12 anos, em sua Nimbus 2001, com os cabelos ridiculamente retos.

Aquelas memórias doíam, porque pertenciam a um passado que nunca se repetiria. Eram a certeza de um futuro inexistente, porque um futuro sem Astoria não era algo mensurável para Draco. 

Nada era o mesmo, as últimas três semanas tinham sido infernais

Mais do que nunca, Draco precisara dos outros e, honestamente,  ele nem sabia se, no meio de seus sentimentos partidos e devastados, havia espaço para sentir-se humilhado pela vulnerabilidade de precisar de ajuda.

Astoria não teria achado humilhante. Ela teria dito que eram demonstrações de afeto e cuidado, mostras de amor. Astoria era doce, acreditava na bondade das pessoas, desprezava qualquer regra social sobre orgulho, o que fazia dela a sonserina mais diferente que Draco conhecera.

E o mundo era melhor porque Astoria era daquele jeito. Ao menos o mundo de Draco era. No entanto, agora, sem Astoria, deixara de ser, e isso era sufocante. Ele queria lembrar-se de todas as coisas, reter todas os momentos vividos, pois agora não havia mais qualquer outra coisa que fazer.

Dias e noites pareciam a mesma coisa, Draco forçava-se a um piloto automático desesperador de rotina e obrigações, mesmo que, às vezes, ele sentisse como um corpo sem vida transitando pelo mundo, porque sabia que, para além de ele ter perdido um dos amores de sua vida, havia Scorpius.

O outro amor de sua vida. Que perdera a mãe.

A cunhada de Draco trouxera empada de rins no dia seguinte ao enterro,  Narcisa os chamara para o jantar quando completara uma semana da ausência de Astoria, e Rose Weasley fizera uma torta caramelizada para Scorpius três dias antes da volta às aulas, quando viera ajudá-lo a arrumar as malas.

Draco quase achava fofo o companheirismo da namorada do filho, se a garota não o lembrasse, torturantemente, de Astoria. Havia sido a mulher quem primeiro acolhera a filha de Hermione Granger-Weasley na casa deles. Draco não costumava gostar de como a presença da primogênita da Ministra da Magia o recordava de épocas e comportamentos de sua vida dos quais não se orgulhava. Os quais queria esquecer.

Mas Astoria era um anjo, melhor que ele, e soubera fazer a namorada de Scorpius sentir-se acolhida quando apareceu para um almoço, no último inverno.

Astoria, já ali, estava no início de suas despedidas, eles só não sabiam ainda. Draco recusava-se a crer que aquele fora o último Natal dos três juntos. Havia tanto ainda que ele não tivera tempo de aprender com a esposa.

Draco não sabia preparar as tradicionais bebidas de natal, e duvidava que iria ser capaz de montar as decorações, que eram a parte favorita de Astoria, sem ela. Ele nunca mais dançaria com Astoria enquanto ela tentava cozinhar algo, como na casual noite em que ela anunciara a gestação de Scorpius.

O mundo era uma obra-prima até a morte de Astoria rasgar tudo ao meio, dividindo a vida de Draco em um dramático antes e depois. Ele não sabia se sabia seguir sem a esposa.

Ele não sabia como respirar agora que os pulmões de Astoria não respiravam o mesmo ar que ele, agora que não respiravam ar algum.

Scorpius estava em um trem, a caminho da Escócia, para três meses inteiros na companhia de amigos e um mundo de preocupações adolescentes em Hogwarts. Em luto, destruído, mas com amigos e uma namorada adorável e atenciosa, que Draco aprendera a amar ver na companhia do filho.

Ele, no entanto,  estaria ali, preso em um mundo sem Astoria. A honestidade cruel daquilo estampada nas roupas que ela não mais usaria, ordenadamente expostas no guarda-roupas. O tempo simplesmente não passava. Aquilo o fazia querer morrer.

Astoria era a única coisa que ele sabia ler como a palma de suas mãos, e era justamente por isso que sentia-se perdido, vazio, devastado. Astoria que era sua eterna namorada,  sua melhor amiga,  sua salvadora das culpas e dos traumas de uma juventude na guerra. 

Ele perdera a única pessoa que conhecera genuinamente. E agora, a única coisa que sabia era que precisava continuar.

Havia um filho a quem ele amava, um emprego de que gostava, e apesar de nada daquilo preencher o buraco desolador que a morte de Astoria deixara, ele sabia que precisava continuar. 

Era brutal, repentino, cruel, inexplicável. Como o câncer que a levara. Draco ainda não sabia como continuar a correr aquela vida estando sem seu oxigênio. Como seguir estando completamente sem ar.

Mas ele lembrava-se bem demais de Astoria, e tudo Nela o fazia sentir em casa. Das memórias ao cheiro. Por isso ele apertou o cachecol um pouco mais no pescoço antes de aparatar a caminho do Ministério.

Por o perfume de Astoria que ficara ali era a única coisa que Draco queria permitir que o deixasse sem ar, ao menos naquele dia, para variar.


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