Ela olhou pela janela, a sensação do vento frio que batia de forma leve em seu rosto branco, como a neve que logo começaria a cair por aquelas terras, ficando levemente corado pela queimadura que não a incomodava em nada. Ela sabia, sua aparência logo mudaria e sua pele branca chegaria a ficar translúcida como a de um fantasma e como todos os anos ela mal podia esperar por isso. Já havia se despedido de todos e esperava pacientemente, como era de sua natureza, por ele enquanto olhava o início do frio que assolaria o mundo. O frio, acompanhado da morte daquilo que um dia já foi vivo, ainda assustava os humanos mas tinha imensa beleza no branco puro que cobria o mundo como um véu delicado, impotente e sufocante.

Ela olhava a vida definhar pela janela, muitos não entendiam como podia a primavera ver a beleza na morte de tudo aquilo que ela passou tantos meses cultivando, eles não entendiam que a morte como ela, não sabiam o que ela sabia, não era o fim. A morte nada mais era do que a passagem para o próximo passo, e o outro lado poderia ser tão bonito quanto esse que eles viam, mas esse era o segredo dos dois e o mundo poderia vir à baixo que sempre haveria a beleza da primavera em algum canto, mesmo que esse canto fosse a casa de Hades.