Sob o céu de Paris escrita por Menina do batom vermelho


Capítulo 3
Capítulo 1 - Parte 3: Uma pequena confusão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804784/chapter/3

Olívia não podia acreditar na confusão em que tinha se envolvido. Uma reserva de Hotel, dois desconhecidos com o mesmo sobrenome. Parecia uma receita do caos. Ela observava enquanto a recepcionista, antes simpática e cordial, parecia muito nervosa teclando em seu computador em busca de uma solução satisfatória para a situação, afirmando que não fazia idéia de como aquilo tinha acontecido. Aquele homem, o Sr. Collins que não era seu marido, evitava encará-la, se voltando para a recepcionista. Ela espremeu os olhos tentando afastar a lembrança do momento constrangedor ocorrido há alguns minutos.

— Quem é você? – ele perguntou.

— Quem é você? –  ela retrucou – o que você está fazendo no meu quarto?

— Desculpe senhora, mas este é o meu quarto.

— Não não, este é o meu quarto. Eu fiz uma reserva aqui.

— E eu também senhora, e esta é a minha reserva.

— Esta reserva está em nome de J. Collins, senhor, e este é o meu marido, e o senhor não é meu marido.

— Eu sei que esta reserva está em nome de J Collins senhora, eu sou James Collins, e eu realmente eu não sou seu marido mas esta é minha reserva.

Olívia gargalhou, de nervosismo, e então sentiu uma lágrima quente escorrer pesadamente por sua bochecha até chegar à ponta de seu queixo. Mais uma vez a frustração a atingiu como uma pancada na cabeça, e bastou um segundo de descontrole para que ela desabasse em lágrimas na frente de um completo estranho. Ela tentava inutilmente enxugar as lágrimas com as mãos, e esconder o rosto entre as palmas quando sentiu as mãos daquele estranho pousarem sobre seus braços movimentando-se para cima e para baixo em um gesto pacificador.

— Olha, eu… Tudo bem, se acalme, não… Não precisa ficar assim por favor senhora, está tudo bem – ele repetia em um tom brando – Tudo bem, vamos até a recepção, e vamos resolver isso, ok?

Ela apenas assentiu. Enquanto caminhavam em silêncio até a recepção, ela ainda tentava se acalmar observando-o. Ele parecia tenso, e um pouco constrangido. Olívia queria dizer algo.  “Não estou chorando como uma imbecil por causa de uma estúpida confusão de reservas, não precisa ter pena de mim, eu não sou uma maluca, estou apenas tendo um colapso nervoso mas vou ficar bem, obrigada”. Mas como explicar a situação? Bem, achou melhor ficar em silêncio.

Olívia ainda tinha entre as mãos a xícara de porcelana francesa pintada à mão com o chá que lhe ofereceram assim que os funcionários do Hotel a viram voltar à recepção com a maquiagem borrada, o rosto vermelho e olhos marejados.

— Nós sentimos muito pelo mal entendido, sr Collins e sra Collins – disse a recepcionista, que Olívia descobrira se chamar Emanoelle – Esse tipo de situação nunca ocorreu antes aqui. Se pudermos fazer qualquer coisa para tornar a sua estadia melhor, podem nos contatar a qualquer momento.

Emanoelle entregou uma chave ao Sr. Collins, que finalmente se voltou para Olívia.

— Bem, eu só preciso de alguns minutos para recolher as minhas coisas.

— Ah meu Deus, não, digo, o senhor já se acomodou, eu… Eu não queria causar transtorno, eu…

— Tudo bem, eu faço questão de deixar aquele quarto para a senhora. – ele disse serenamente, como se tentasse tranquilizá-la.

Ele realmente, levou apenas alguns minutos para desocupar o quarto, sequer havia desfeito as malas, ou tirado os sapatos. Finalmente sozinha, Olívia pôde tomar um banho quente, respirar fundo e vestir um de seus pijamas de cetim de seda. Ela abriu bem as portas da varanda deixando entrar a brisa fria da madrugada e se aconchegou na cama entre os travesseiros. Não se importava com o frio, na verdade se sentia tranquila ali observando as luzes da Torre Eiffel brilharem ao fundo da paisagem noturna. Silêncio. Foi quando ouviu o farfalhar de algo se arrastando no chão: uma folha de papel do outro lado do quarto, sendo carregada pelo vento leve que percorria o ambiente. Se levantou e a recolheu, e ao ver do que se tratava se sentiu positivamente surpresa. Era um projeto detalhado do que parecia um salão com uma área ao ar livre, assinado por James Collins. Aquilo fez Olívia se lembrar da época da faculdade, quando ela sonhava em trabalhar como Arquiteta, antes de conhecer Jeremy e se casar, e ter aquele projeto em mãos lhe despertou uma sensação boa de nostalgia. Ela podia imaginar cada detalhe daquele lugar em sua mente. Acabou pegando no sono com o projeto em mãos. “Amanhã o devolvo ao sr Collins”, pensava. 

Um andar acima, James estava recolhido junto à lareira, recostado em uma poltrona, com um copo de uísque lhe fazendo companhia. Havia falado com Samantha e descoberto onde estava a raiz do rebuliço. Não que isso ainda lhe importasse à esta altura, mas ao menos tinha uma explicação. Ele pensava sobre a mulher que havia conhecido naquela noite. Ele se lembrava do sorriso no rosto dela quando ele se virou e a viu, e de como ele gradualmente desapareceu quando ela o viu, e se transformou em uma crise de lágrimas. O que havia se passado pela mente dela para uma mudança tão drástica de humor? Com certeza não se tratava apenas de uma reserva. Ela havia mencionado um marido, mas estava sozinha. Ela parecia confusa e cansada, mas sobretudo melancólica. O celular vibrou com uma mensagem de Camilla.

“Espero que não se importe em passar uns dias sozinho em Paris.. 

A convenção em Londres vai demorar mais do que o planejado. 

Chego em uma semana.

Se cuida”

“Não se preocupe

Se cuida também, maninha

Te vejo em uma semana”

Ele pôs o celular de lado, ainda pensando sobre aquela mulher. Pensava em como instintivamente tinha ido até ela tentar acalmá-la, em como ela parecia frágil em suas mãos quando ele tocou os braços dela, e em como isso o fizera se sentir desarmado. No caminho até a recepção, ele queria ter dito algo, mas não conseguiu pensar em nada que pudesse melhorar aquela situação, então preferiu ficar em silêncio e dar algum espaço a ela. James foi se deitar ainda com este pensamento, e por mais que tentasse, não conseguia se livrar da sensação de que deveria falar novamente com ela. “Amanhã a procuro”, pensava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sob o céu de Paris" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.