Era um domingo, meus amigos me chamaram para um evento que aconteceria no bairro ao lado do meu.

Nesse dia estava chovendo muito, eu não estava afim de sair, mas mesmo assim fui.

Lembro das minhas amigas insistirem de irmos combinando, se não fosse por isso talvez eu não tivesse chamado a sua atenção.

Você veio com sua amiga, ela que puxou assunto com uma das minhas amigas. Você não disse uma palavra, mas eu tinha reparado em você. Você era lindo.

“Vocês estão com roupas iguais, isso é tão fofo” ouvi sua amiga dizer. “Seu amigo está solteiro? O meu amigo aqui também está”

Por impulso eu disse “se ele quiser, eu também quero”. Mesmo levemente alcoolizado, me senti um idiota dizendo isso. Mas, ainda sim, com Zeca pagodinho tocando no fundo, você me beijou. E foi o melhor beijo que eu ja recebi.

Não lembro quanto tempo durou o nosso beijo, mas lembro de você voltando pouco tempo depois de ter ido embora. Você me beijou novamente e disse “Quer anotar o meu telefone?” Eu deveria ter recusado, mas eu apenas disse “Tem algum ex para superar? Se tiver eu recuso” Rimos como dois idiotas. Talvez, se não fosse tão estranho, eu tinha te pedido em namoro ali mesmo. Você sabe.

Você não era de estar online no whatsapp. Lembro que minhas mensagens só eram respondidas por você duas semanas depois. Eu não me importava, afinal eu também tinha uma vida bastante corrida por causa do meu trabalho e da minha faculdade. Só que eu sempre estava a espera da sua resposta.

Três meses tentando te ver, três meses sem conseguir. Até que soube que você tinha conseguido uma vaga para trabalhar numa loja de roupas perto da empresa onde eu trabalhava. De surpresa fui te ver. Você estava em horário de trabalho, distraído arrumando algumas roupas da loja. Fingi que era um cliente e que precisava de ajuda. Você então percebeu que era eu. Senti que você ficou nervoso, mas não sabia se era algo bom ou ruim. “Apenas passei para dizer um oi”. Não demorei muito, deixei você trabalhar. Antes de eu ir embora, você me disse “Não esquece de me mandar uma mensagem”. Mas eu acabei esquecendo. Porém você me mandou mensagem dizendo que estaria de folga no final de semana e que adoraria ir ao cinema comigo.

Lembra que você me disse que bebeu uma taças de vinho por que estava muito nervoso para me encontrar?

Lembra que eu te disse que escovei meus dentes duas vezes no banheiro do shopping minutos antes de te encontrar?

A sessão do filme que você queria assistir era o último filme da noite. Não me importei, estava ali por sua causa e não por causa do filme. Lembra entramos numa loja de roupas e que decidimos brincar de montar um look para acertar qual era o estilo do outro? Você ganhou.

Quando entramos na sala do cinema, você me disse “É agora que nós nos beija?”. Eu não sabia se você queria me beijar até esse momento. E, assim que o filme acabou, pedi para te beijar de novo antes de ir embora.

Te levei ate o ponto do seu ônibus. Lembra que você me disse que eu podia ir pois ja estava tarde? Eu não fui. Quando seu ônibus chegou, pedi para que você levasse meu casaco pois sabia que você sentiria frio dentro do ônibus que era refrigerado. Assim que você chegou em

casa, você me disse “Realmente você estava certo. Estava muito frio dentro do ônibus. Obrigado por me emprestar o seu casaco”. Brinquei dizendo “A intenção era te ver de novo e, de quebra, ainda ficaria com o seu cheiro nele” você riu.

Depois desse dia começamos a sair mais vezes. Toda vez que nos encontrávamos, você me deixava um elástico “roubado” do seu trabalho sem querer. “Talvez eu use isso como desculpa para te ver também” você me disse. Eu tenho esses elásticos ate hoje.

Ficamos de outubro até dezembro aproveitando cada minuto que tínhamos livre juntos. Eu te disse, sussurrando enquanto te beijava “Acho que estou apaixonado por você”? e você me disse “Eu também estou”.

Quando foi que nos perdemos?

O final do ano tinha chegado, você tinha me dito que não sabia onde iria passar a virada de ano e eu disse “Irei com os meus amigos para praia, vem comigo?”. Você foi. Essa foi a primeira vez que eu tive um “Beijo da virada”. Foi a sua primeira vez também? Sim, claro que foi.

Depois dali, não aguentava mais segurar o que ja estava na minha garganta. “Eu acho que… te amo” foi a mensagem que te mandei assim que cheguei em casa no dia seguinte. Você me respondeu “Eu também acho que te amo”. Meu coração nunca ficou tão feliz por ouvir isso de alguém. O seu também ficou assim?

Eu estava decidido a te pedir em namoro, ja estava tudo organizado, tinha comprado nossas alianças, tinha organizado quando seria e aonde seria. Você lembra aonde seria? Lembra que nunca conseguimos ir até lá?

Houve um imprevisto, mas não foi um ruim. No dia que iria acontecer o pedido, você me disse “Tenho que te falar… Vai ter um evento de família e não vou conseguir ir. Mas eu queria te chamar para esse evento. Aceita?” Eu aceitei. Foi quando eu conheci toda a sua família. Você lembra que eu estava nervoso?

No fim do evento, fomos pra sua casa. Antes de eu ir embora, ficamos no seu quarto conversando sobre tudo. Em um momento de distração sua, coloquei a caixinha com as nossas alianças atrás de você. Você lembra que pedi para que você se virasse para pegar algo mas em nenhum momentos você se virou? tive que dizer “Pelo amor de deus, olha para atrás de você, seu lerdo” E foi quando você finalmente viu. “Aceita namorar comigo?” e a resposta foi “aceito”.

Dois meses depois do pedindo, começou a pandemia. Ficamos seis meses afastados um do outro. Conversávamos por telefone todas as noites.

“Você ainda me ama?” Você me perguntava. “Eu continuo te amando”. Lembra que toda vez que fazíamos chamada de video, você chorava por que dizia que estava com saudades de ver o meu rosto por perto? Eu entendia e ainda entendo.

Quando finalmente conseguimos nos ver pessoalmente, sua casa estava sempre cheia. Era difícil ter um momento só com você. Os poucos momentos que tivemos sozinhos era com o seu irmão mais novo por perto. Lembra que você dizia que seu maior desejo era que eu e ele nos déssemos bem? Eu adorei ele, e ele me adorou. Não só ele como quase toda sua família, principalmente sua mãe. Eu sinto falta dela sabia?

Sua casa atual logo logo seria só sua pois sua mãe ja estava de mudança. “Não vejo a hora de poder aproveitar todos os dias com você sem ter ninguém pra nós incomodar” você me dizia. E foi assim. Aproveitamos muito, vivemos quase como se morássemos juntos. Toda semana estava com você. Passava mais tempo com você do que com a minha própria família. “Você podia morar comigo” Você me disse. “Não sei se é algo que eu desejo agora”. Não era o momento. Eu tinha acabado de ficar desempregado, recebendo apenas o auxílio desemprego. “Você sabe que eu consigo manter a gente por um tempo” era seu argumento. Mas não era verdade. Você sabe que não.

Foram bastante meses de convivência, não tínhamos brigas sérias ate que começaram a surgir. No começo foram por conta de inseguranças da sua parte, lembra? Eu dizia “Não tem o por que se sentir assim. Eu te amo e nunca irei te trocar por ninguém”. Você explicou seus motivos, e eu compreendi todos eles. Eu queria que você tivesse compreendido os meus.

As brigas continuarem, dessa vez por que você não compreendia quando eu dizia que estava nervoso e sobrecarregado com os meus trabalhos de faculdade, e que isso eu não te dava a atenção que você merecia e te respondia seco ou grosseiramente. Lembra que eu sempre te pedia desculpas e toda vez procurei soluções para isso não acontecer de novo? Uma delas foi evitar ir a sua casa em épocas de trabalhos e provas. Se algo te machucava, eu corria atrás para que não acontecesse de novo. Engolia o meu orgulho por você. Tudo sempre foi para te fazer bem.

Depois que essa fase passou, foi a minha vez de precisar de você. “Não consigo pensar em casamento com você” Foi a primeira coisa que me chateou. Você continuou “Eu não sei… não sei se foram coisas que me chatearam. Mas com o tempo eu parei de pensar nisso”. Eu tentei compreender. De verdade, eu tentei. Mas, depois disso, fui começando a cair num buraco sem fim de inseguranças. Ouvia você soltar piadinhas sobre abrir relacionamentos, via você comentando com suas amigas sobre como “outros” eram atraentes. Você sabia das minhas inseguranças, sabia que eu não me sentia bem com o meu corpo, mas ainda sim você continuou. Conversamos sobre. Terminamos.

No mesmo dia você foi até a minha porta me pedir desculpas e disse que a partir de agora seria diferente. Foi pra você? Foi por um tempo para mim.

Você foi mudando, e eu sentia isso. A todo momento eu tentava mostrar a você que eu te amava, mas você percebeu que meu amor era uma sobrecarga pra você. Não dava mais para você me entender, não dava mais para fingir que eu não ficava chateado com você sem dizer para você quando o prometido era dizer sempre o que incomodava. Brigamos de novo e terminamos.

Ficamos afastados por uma semana. Essa semana foi a mais pesada pra mim. Vi tudo o que vivi com você como se fosse um filme em minha cabeça. Foi assim pra você também?

Eu te amava, e eu sempre fui o tipo de cara que tenta até não dar mais. Não queria que tudo o que vivemos fosse jogado fora assim. Você correu atrás da última vez, dessa vez era a minha vez.

Apareci com um buque de flores em frente ao seu trabalho. Lembra que eu fiquei nervoso e disse nada com nada? Mas lembro que consegui dizer “eu não quero te perder”.

Você disse que tínhamos que conversar. Eu não neguei. Você escreveu tudo o que sentia em um texto com a justificativa de que não conseguiria dizer tudo para mim. “Antes de ler, pode me dar um abraço?” Foi o que você me disse antes de me jogar aquela bomba. Você sabia que eu iria embora.

Você me disse coisas que me fizeram me sentir inferior a você. “Não vejo você correndo atrás, tendo sonhos”, “Me sinto sobrecarregado quando você dizer ‘você é o que me faz feliz’”, “Não sei como te ajudar quando você está em crises com a sua família”, “não sei se quero ter um relacionamento monogâmico, tenho atrações por outras pessoas e penso que seria bom se fosse algo aberto”.

Você lembra quando eu chorei quando você me disse “Me desculpa não ter a mesma paciência para as suas crises como você teve com as minhas”?

Pois é, eu chorei. Chorei muito. Ainda estou chorando. Você foi o cara que eu mais amei mas também foi o cara que conseguiu me destruir de uma forma que não sei como conseguirei seguir em em frente depois disso. Será que você ainda está sentido pelo que você fez comigo? Será que se arrepende? Será que suas lagrimas foram verdadeiras?

Uma vez eu li que “As vezes, pra se curar, você deve desejar felicidade para aquele que tirou isso de você”

Então, que você seja feliz.

E, também, espero que um dia eu consiga me encontrar e ser eu mesmo de novo.