Além das Palavras escrita por rkpattinson


Capítulo 1
Desejo - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Se você está lendo essa fic pela primeira vez, saiba que você vai se apaixonar.

Se você está relendo, você realizou meu sonho.

E para todos vocês, essa história agora tem um BÔNUS!!! (08/12/21)

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"Não pela primeira vez na minha vida, eu queria poder fazer meu cérebro desacelerar. Forçá-lo a funcionar na velocidade humana, pelo menos por um dia, uma hora, para que eu não tivesse tempo de ficar obcecado de novo e de novo pelos mesmos problemas sem solução.”

 

A última palavra saiu como um sussurro. Olhei para Lily, sentada na ponta da minha cama. Seus olhos pareciam não entender o peso daquelas palavras. Talvez poucas pessoas no meu mundo conseguissem. Mesmo porque não seria fácil explicar para meus pais sobre estar apaixonada pelo rapaz que disse essas palavras. Ele era alto, inteligente, bondoso e lindo, mas também vampiro e irreal. 

 

Não é como se não vivesse a minha realidade. Não, eu vivia muito bem. Era na verdade um portal de fuga. Todas as discussões em casa, as escapulidas de Renée e a tristeza de meu pai, me sufocavam. Edward me fazia parar de sentir a dor que a vida real provocava. Meu cérebro não era de uma vampira, mas certamente era mais acelerado que a média humana. 

 

“Midnight Sun”, confirmei colocando o livro em suas mãos. “Você precisa ler”. Eu não costumava emprestar minha coleção de livros, mas precisava desesperadamente conversar com alguém sobre a história. 

 

“Não vai me deixar livre enquanto não ler, né?”, perguntou tomando-o de mim, folheando agressivamente. Eu gostava muito de minha prima, mas ela não sairia ilesa se esse livro voltasse com uma página amassada. Tinha ganho da nossa tia-avó Marie no natal passado e poderia contar com as duas mãos cheias as vezes que eu reli. 

 

“NÃ-Não faça isso”, policiei meu quase grito. “Tome cuidado com ele. Por favor, Lilith”, implorei quase o tomando de volta.

 

“Ei, relax. Prometo que voltará intacto”, sorriu. 

 

Seria falta de educação pedir que devolvesse meu livro favorito por que ela parecia descuidada? Acho que sim. Certamente, minha mãe faria questão de me repreender e depois de descontar seu estresse, sairia com “suas amigas”. Amava meu pai, mas como ele poderia não ver o que eu via? Só suportava Renée em respeito ao tempo que me carregou em seu ventre, porque de resto fazia questão de bloqueá-la em minha mente. 

 

“Bella, Lily, desçam”, Charlie chamou do primeiro piso. Podia ouvir meus tios discutindo o jogo frente a tv e minhas tias e minha mãe bebendo cerveja próximo ao ventilador. Havíamos nos mudado para Arizona à pedido da minha mãe quando fiz quatro anos e esse ano o verão estava insuportável. Meu pai segurava o bolo em suas mãos um pouco sem jeito, fechando a geladeira com o pé,  quando chegamos até eles. 

 

“Vamos, Bells. Hora do parabéns”, ótimo. Exibi o máximo que pude de um sorriso e me posicionei por trás do bolo branco, enfeitado com flores roxas e amarelas. No seu centro tinha duas velas, a primeira de número um e outra de número sete. 

 

Depois de apagar a luz, Lily se posicionou ao meu lado. Nos últimos anos, nos aproximamos e ela se tornou minha melhor amiga. Na verdade, minha única amiga. Fazíamos tudo juntas e isso não poderia ser diferente. 

 

Notei que ela colocou minha jóia entre nós duas sob a mesa, enquanto batiam palmas sem muita sincronia. Alguns estavam mais acelerados que outros na melodia também. Meu pai balançava a cabeça como se pedisse desculpas. Sorri de volta para ele, precisando que isso fosse o suficiente para ele entender que o amava e estava grata por tudo. 

 

Olhar para Charlie sorrindo me fazia querer viver. E foi isso que senti. Ao final do parabéns, apoiei uma mão na mesa e a outra sob o livro, suspendi o corpo para frente, sorrindo daquela mesma situação desagradável de todos os anos. 

 

“Faça um pedido, Bella”, disse minha mãe de um canto tão escuro na sala, que nem pude ver seu rosto. 

 

Um pedido. 

 

Fechei os olhos. Mentalizei meu pai feliz ao lado de uma mulher que o fizesse feliz,  Lily fazendo faculdade em Yale como ela sempre quis e eu ao lado de um homem. Era alto, pálido e caminhava de mãos dadas comigo. Eu precisava definitivamente conhecer garotos da minha idade. Isso já estava ficando ridículo. 

 

Sorri de olhos fechados. Que tola. No mínimo eu seria mandada para um hospício. 

 

Mas… desejar que ele fosse de verdade para que eu pudesse viver um pouco da sua história não era crime, era? 

 

Então, assoprei as velas.

 

Todos comemoraram ao meu redor e o som das palmas atravessaram meu ouvidos como um estouro. 

 

As vozes altas e misturadas machucavam meus ouvidos. Abri meus olhos para pedir que minha mãe largasse a cerveja um minuto e parasse de gritar, mas ninguém estava lá. Na verdade, haviam pessoas, mas eram rostos desconhecidos. 

 

Olhei para trás e reconheci o local. Não podia explicar como era possível, mas estava dentro da minha escola. Mais especificamente no corredor lotado do terceiro ano. Costuma ficar assim sempre que saímos de uma sala para outra. Procurei Lily ao meu redor e não encontrei vestígios dela. 

 

Nada fazia sentido. O desespero começava a crescer dentro de mim. Depois da escola, teria que explicar a Charlie que ele gastaria uma fortuna com médicos para descobrir o motivo da minha falta de memória repentina. 

 

“Oi, você é a garota de Arizona. Isabella, huh?, um garoto de cabelo claro perguntou. Seu rosto era desconhecido e ele parecia não me conhecer. Provavelmente um novato, mas não seria estranho que o garoto só tivesse me notado agora. Lily e eu éramos quase fantasmas nessa escola. 

 

“Hm, apenas Bella”, respondi sem muita confiança no que dizia. 

“Bella. A propósito, eu sou Mike”, disse me oferecendo sua mão. Por que ele tava falando comigo? 

 

Não havia percebido, mas estava toda agasalhada com alguma roupa que eu não conhecia. Todos que passavam pelo corredor, inclusive o garoto, também. Estranho. Completamente incomum para Phoenix.

 

“Ah, que ótimo”, falou com alívio depois de apertar minha mão. “Você também tem aula de biologia agora. Pelo menos você acertou a sala…”, disse apontando para minha outra mão. Não sei por quanto tempo estava segurando aquele papel amassado. Realmente eu teria essa aula, mas fiquei surpresa por perceber que era a mesma turma de biologia do ano passado. Agora tudo fazia sentido. Por isso eu não reconhecia ninguém nem mesmo Lilith estava aqui. Além de louca, eu havia repetido de ano.

 

Mike, assim como todos ao meu redor, entrou na sala ao nosso lado, então segui o fluxo. Ao passar pela guarnição da porta, nenhuma surpresa me esperava. Apenas alunos gritando e um professor pedindo silêncio. Senti minha pele arder e pude jurar que algum inseto me beliscou quando tirei o casaco.  

 

“Bella, que ótimo ter você conosco”, disse o sr. Molina, notei seu nome escrito no canto quadro. “Esse é seu livro. Pode procurar uma bancada livre e sentar-se”. Obedeci olhando para frente. Mike sentou junto a outro garoto. Uma garota com o cabelo preso em rabo de cavalo não parava de falar perto do ouvido dele, sentada na bancada atrás dos dois. Procurei do outro lado do corredor de carteiras, havia um garoto sozinho. Seu corpo estava completamente esquivado para a janela e tenso. Muito tenso. Suas mãos fechadas relaxaram quando sentei. 

 

Ele era diferente. Por um momento pensei que o conhecia. Seus olhos tinham cor de caramelo queimado, sua pele era mais pálida que a dos outros e estava muito bem agasalhado. Que merda tinha acontecido esse ano para todos usarem roupas de frio? 

 

Estendi minha mão para puxar o microscópio quando a sua invadiu meu campo de visão. Como um flash, senti sua pele na minha e me assustei com sua temperatura. Baixa demais para quem mora numa cidade ensolarada. Recuamos.

 

“Desculpa”, pedi sendo fuzilada pelo seu rosto. Eu podia entender a invisibilidade que tinha, mas não conseguia entender por que ele tinha raiva em seus olhos. 

 

“Me perdoe”, sua voz era rouca e ao mesmo tempo tão suave. 

 

“Você pode começar”, sugeri mudando de assunto. Seus olhos diziam algo que eu não conseguia entender. Focado em algum ponto abaixo da minha orelha, ele me encarava cegamente. 

 

“Não”, balançou a cabeça. “Deixe que me apresente como devia”.

 

Fitei nosso material de trabalho em cima da mesa. Sua mão pousou na mesa relaxadamente. O pulso estava coberto por uma munhequeira com um leão de garras abertas gravado, destacando o couro preto. Uma espécie de brasão, provavelmente. Talvez representasse um time de baseball, eu não tinha esse tipo de informação. Ou até mesmo… uma família. Então lembrei sobre a história de um brasão. Era o mesmo símbolo que um dia imaginei, só que de verdade. Levantei o rosto até o seu, pronta para perguntar se ele tinha lido Midnight Sun, quando ele continuou sua apresentação. 

 

“Meu nome é Edward Cullen. Você deve ser Bella Swan.”, e um tímido sorriso surgiu no canto da sua boca. O que diabos estava acontecendo nessa escola… todos pareciam me conhecer. 

 

Isso só poderia ser uma piada. Virei rapidamente em busca de algum tipo de zoação em conjunto pela minha sala. Talvez os famosinhos da minha, bem, antiga turma quisessem me perseguir por ter reprovado um ano.

 

“Você já pode parar. Sei que eles te mandaram fazer isso, então vou fazer cara de susto e no final do dia fingirei que nada aconteceu”, respondi sua gozação.

 

“Desculpa...”, disse e surgiu uma ruga entre as sobrancelhas. Seus olhos eram turvos igual o sentimento em seu rosto. 

 

“Eu sei o porquê fazem isso. A culpa é minha, mas não diz respeito a ninguém. Avise para que que cuidem de suas vidas”, respondi puxando o microscópio bruscamente.

 

“Não há ninguém fazendo nada, Bella”, seus olhos eram complacentes, mas seu corpo continuava tenso. Sua narina inflou a cada palavra que saiu de sua boca. 

 

“Como é que é?”, questionei. “Qual seu nome de verdade?”, podia sentir minhas mãos tremerem. 

 

“Eu sou Edward, vivo em Forks com minha família e você é Isabella Swan, filha do xerife Swan, e se mudou há poucos dias”, suas palavras flutuavam em minha cabeça. 

 

“Forks?”, gaguejei. Como pude me esquecer que havia me mudado para esse fim de mundo? Sabe lá Deus os motivos que tivemos, implorei para que Charlie tivesse uma explicação melhor do que a minha memória podia dar. 

 

“Sim, essa pequena e fria cidade”, a descrição da cidade despertou minha atenção para a temperatura. Por isso minha pele ardeu. Olhei de fato para janela atrás de Edward e chovia. 

 

“Como sabe sobre mim?”, pressionei.

 

“Bem, como eu disse, a cidade é pequena, então existem poucas novidades por aqui, se é que você me entende”, sua cabeça indicou para as vozes atrás de mim. 

 

Por cima do ombro vi Mike observar nossa conversa, enquanto a mesma garota de antes conversava com outra garota de óculos olhando pra mim. Ótimo. Edward havia iniciado nossa prática, observando a primeira lâmina no microscópio. 

 

“Você não pode ser Edward Cullen”, decretei. 

 

“E quem eu seria? Não tenho motivos para mentir, Bella”, meu nome já era íntimo em sua boca. Foi na sua afirmação que tive uma ideia.

 

“Prove”, o desafiei. Testaria o plano de quem que fosse. 

 

Edward trouxe ao seu rosto um semblante confuso e tenso. Parecia que estava gostando de conversar comigo, mas que a qualquer momento também sairia correndo. 

 

“Se você é mesmo quem diz ser, responda algumas perguntas”. 

 

“Você não sabe quem eu sou, como pode ter tanta certeza sobre algo?”, ele perguntou claramente chateado.

 

“Eu sei que eles querem me atingir. Acham tudo isso besteira de criança. Eles sabem que eu o amo do fundo do meu coração”, dessa vez respondi mais para mim mesma do que para ele. 

 

“Não sei o que você quer dizer, nem vejo porque disso tudo. Também não devo permitir que tomem conta da minha vida. O que há com você?”, sua boca se fechou em um bico irritado.

 

“Eu sabia!”, gritei. Sr. Molina me enviou um olhar julgador, me obrigando a voltar ao volume de antes. “Se você fosse Edward Cullen não haveria problema algum”. 

 

Antes que eu pudesse voltar à nossa bancada novamente, ele soltou um sorriso torto extremamente sarcástico. Edward ou não, ele era ridiculamente lindo. 

 

“Certo. Faça-me as perguntas que quiser. Não sei como isso vai ajudar”, disse calmamente, se ajustando a cadeira. Ele parecia seguro de que eu não falaria nada comprometedor ou que não adivinharia a brincadeira de mal gosto.

 

“Ótimo, vamos jogar esse jogo”, falei com o máximo de deboche que pude.  “Edward tem outro sobrenome. Diga-me qual é”, perguntei finalmente.

 

“Masen. Edward Anthony Masen Cullen”, seus olhos focaram no vazio entre nós. 

 

“Essa foi fácil. Deixe eu ver… Qual o nome da mãe biológica de Edward?”, continuei. Quase tive certeza que suas emoções estavam socando seu interior, porque o rosto de Edward estava  contorcido de dor.

 

“O que?”, ele parecia querer desistir. “Elizabeth Masen”, respondeu revirando os olhos quando percebeu minha sobrancelha levantada. Seu corpo que havia relaxado um pouco, agora estava tenso de novo. O que diabos estava acontecendo com ele? A todo momento se esquivava até a parede e estufava o nariz. Será que eu estava fedendo?

 

“Andou estudando ou só decorou mesmo?”, enviei um olhar convencido. Espiei a sala de aula. Ninguém nos ouvia. Estava agitada pela atividade prática. Entre minhas perguntas, Edward olhava uma única vez no microscópio e rapidamente fazia anotações em nossa folha de exercício.

 

“Essa é a última. Entre os Cullens, quem mais podia ler mentes além de Edward?”, sabia que essa pergunta era pretensiosa. Estava induzindo aqueles lindos pares de olhos ao erro. Uma pontada de culpa me atingiu, afinal ele era apenas o fantoche de um teatro porco. 

 

O suposto Edward se transformou. Se eu não estivesse tão perto e ele não tivesse sentado, perfeitamente equilibrado, diria que era uma estátua. Seu rosto parecia travado em um tipo de transe. Seria possível o ditado "petrificado" se tornar realidade?

 

Em segundos, sem que eu tivesse tempo de pensar, Edward segurou firmemente meu cotovelo por cima da blusa. Seus dedos não exerciam força alguma, mas o olhar dizia o contrário. Assim como raiva, havia pavor em seus olhos.

 

“O que você disse?”, perguntou desfazendo seu toque sutil e preciso.

 

“Quem mais podia ler men…”, ele interrompeu.

 

“Eu sei o que disse, mas não consigo entender”, as palavras do rapaz em minha frente saiam entre os dentes. Ótimo, ele realmente tinha raiva de mim. Ainda por cima me achava fedorenta e estava me zombando. 

 

“Não consegue entender o que?”, precisei repetir. Queria ver até onde iriam chegar. Ele  hesitou por alguns segundos até falar novamente. Enquanto isso, o professor Molina recolhia a folha de nosso trabalho concluído que Edward colocou na lateral da nossa bancada. Havia começado o ano da reprovação muito bem, completamente apoiada em um aluno aleatório. 

 

“Como sabe sobre o que acabou de falar?”, seu tom era extremamente baixo, forçando-me a aproximar o rosto da sua boca. Seu recuo foi imediato. “Se você sabe disso, deveria saber também que é perigoso ficar tão perto de mim”. Isso bastava.

 

“Olha aqui, se você tá dizendo que eu fedo, quero que vá para a casa do caralho”, disparei todas as palavras. Alguns garotos ao nosso redor riram, mas não liguei.

 

“Isso é tão confuso. E você não fede. Tem na verdade um cheiro inebriante”, respondeu sem mágoa e com um sorriso discreto. Aquilo era um elogio? 

 

“Como assim?”, perguntei realmente confusa. A poucos minutos estávamos falando sobre sua fracassada carreira de cosplay e agora ele estava flertando?

 

“Aqui não. Encontro você no estacionamento depois da aula”, suas palavras mal haviam saltado da boca e ele já estava se levantando e saindo pela porta da sala. Meio segundo depois, o sinal que avisa a todos o fim da aula tocou. Sua rapidez me atingiu de uma forma desconhecida. Era impossível que ele fosse meu Edward, mas a cada minuto ficava mais difícil dizer que ele era um humano normal. 

 

Depois da aula fui para o corredor e perambulei em turmas que Lily provavelmente estudaria, mas falhei. Ela não estava em lugar algum. Em contrapartida, havia muitos rostos novos. Andei ao lado do meu único “conhecido”, Mike, até o estacionamento. No caminho, acompanhados por seus amigos, pude ouvir alguns nomes que me chamaram atenção. Jessica era a de cabelo preso em rabo de cavalo, Angela a garota de óculos. Eric era o garoto com quem Mike fez a aula prática de biologia. Eram quatro nomes comuns, a não ser quando ditos em conjunto.

 

Ao chegar no estacionamento, me perguntei o que fazia ali. Em Arizona voltava de bicicleta ou a pé para casa, mas aqui seria impossível. A chuva era incessante e o chão uma armadilha para desastres como eu. Enquanto o grupo de amigos conversava próximo a seus carros, encostei no canto traseiro de uma picape e comecei a procurar em minha mochila alguma chave ou algo que me ajudasse a saber como ir embora. Ou explicasse porque eu não conseguia lembrar de algumas coisas básicas. 

 

Levantei meu rosto sem sucesso e observei Jessica. Ela parecia bem íntima de Mike, enquanto ele jogava bolinhas de papel em Eric. Meninos, bufei com a lembrança. Angela era a mais tímida, sempre se escondendo atrás de uma câmera. 

 

Do outro lado do estacionamento, por trás da cabeça de Angela, avistei o falso Edward apoiado em um Volvo. Ele viria falar comigo ou esperava que eu fosse até lá? Ao seu lado, haviam mais quatro pessoas. Eram dois casais a julgar pelas mãos dadas de ambas as duplas. Havia uma moça alta de cabelo ondulado e loiro; a outra de cabelo espetado era menor, bem menor e delicada. O rapaz ao seu lado tinha cabelo loiro mel e era magro; e o maior de todos, com as mãos na cintura da loira, tinha cabelo curto e era muito forte. 

 

Interrompendo minha admiração, um guincho agudo atingiu meus ouvidos. Olhei para frente, assustada. Tudo aconteceu tão rápido e mesmo assim consegui ver todos os detalhes. Uma van azul-escura derrapou no gelo do asfalto, travando os pneus e vindo em minha direção. Eu seria esmagada entre ela e a picape. Antes de conseguir fechar os olhos e da van me alcançar, alguma coisa fria e sólida me atingiu. Sem qualquer controle do corpo, minha cabeça bateu no chão. Por um momento, tive dúvidas sobre a chuva. Eu sabia que não tinha diminuído, mas ou ela havia aumentado ou estava com sérios problemas de vista. Tudo estava embaçado e claro demais. Senti meu corpo ser remexido algumas vezes. Foi quando tudo começou a girar. Pisquei os olhos algumas vezes para tentar ver melhor. Um palavrão me atingiu de surpresa, avisando que eu não estava sozinha e me fazendo reconhecer a voz. Levantei minha cabeça e foi a última coisa que vi. Era Edward.

 

Abri meu olho e de cara reconheci o ambiente familiar. As paredes brancas, barulhos silenciosos e irritantemente baixos, movimento de vai-e-vem e jalecos. Eu estava no hospital. Busquei ao meu lado alguma informação e ao não encontrar me sentei. 

 

“Você devia ficar deitada”, pela segunda vez reconheci sua voz. Encontrei seu olhar preocupado tão rápido que não pude disfarçar minha surpresa. Edward estava sentado em uma cadeira do outro lado da maca.

 

“Achei que só eu tivesse me machucado”, iniciei a conversa. Agora que estava mais ciente, apesar da dor na cabeça, pude lembrar que ele não estava tão perto de mim. 

 

“Estou bem. Logo meu pai vai retornar para te liberar”, presumi pelo tom da sua voz que já havia feito exames e que estava tudo bem.  

 

“Deve ser por isso que você tá aqui ainda”, conclui sentando na cama.

 

“Também”, Edward se aproximou para continuar a falar. “Tem algo em você que eu não consigo entender nem explicar. Desde a semana passada, quando te vi pela primeira vez”. 

 

“Semana passada? Eu não lembro de ter te visto semana passada. Pensei que as aulas tinham começado hoje”, estava completamente perdida. Em menos de 12 horas, já havia me confundido mais de cinco vezes pelas minhas contas.

 

“Sim, as aulas começaram hoje, mas eu te vi quando veio se matricular. Eu estava tentando mudar meu horário de biologia”, respondeu.

 

“E por que você queria isso?”, perguntei.

 

“Notei que o monitor se aproxima sexualmente de uma aluna”, disse rispidamente. Senti meu rosto queimar. 

 

“Acho que não entendi o ponto”, confessei.

 

“Você não sabe o que ele pensa fazer se ela o recusar”, essa foi a vez dele assumir. Ele estava mesmo mantendo o papel? 

 

“E você pode?”, desafiei com os olhos levemente cerrados.

 

“Isso nos leva a conversa que teríamos se você não tivesse funcionado como um imã para tragédias esta manhã”, soltei uma respiração petulante. Edward me encarou esperando que eu falasse alguma coisa. 

 

“Ótimo. Estarei ouvindo, mas antes de você continuar a me ofender, pode me explicar quantas vezes desmaiei no local do acidente?”, ouviria suas historinhas, mas precisava saber sobre coisas reais.

 

“Uma vez”, respondeu calmamente. 

 

“Impossível”, soltei uma única risada desanimada. “Lembro de te ver próximo ao Volvo longe de onde eu estava, depois a van, então desmaiei e quando acordei você tava me segurando. Foi quando bati a cabeça, desmaiei novamente e estamos aqui agora”, falei mais para mim a fim de confirmar a ordem dos fatos do que para ele.

 

“Não, Bella. Você desmaiou uma vez, em meus braços. Digo isso porque observei você de longe antes daquela van quase te matar”, seus olhos tremeram ao dizer a última palavra. Pela primeira vez, tive a certeza que o conhecia de algum lugar.

 

“Então.. co-como você poderia ter chegado tão rápido?”, caguejei. Eu estava louca.

 

“Era sobre isso que queria conversar com você. Imagino que alguém deva ter lhe contando, então vou direto ao ponto. Quem lhe disse sobre nossa espécie?”, suas mãos estavam fechadas em forma de punho, apoiadas em minha maca.

 

Espécie? Do que ele estava falando? Éramos dois loucos.

 

“Bom, acredito que porque o espécime reconheça outro da mesma espécie”, respondi virando de costas para ele, tentando levantar. Tão rápido quanto a brisa do seu cheiro me atingiu, ele estava a minha frente. 

 

“Você não entende”, se curvou para falar olhando em meus olhos. “Seria tão mais fácil se eu conseguisse ouvir sua mente”, murmurou tão baixo que quase não pude ouvir a última palavra de sua frase.

 

“O que? Você consegue ler mentes mas não consegue ler a minha?”, bufei. “O que você fumou, cara?”, pela primeira vez pude ver Edward rir genuinamente. E que sorriso lindo.

 

“Que bom que te divirto”, respondi emburrada. Eu estava dando a eles o que tanto queriam: motivos para me zoar. Estava pronta para questionar novamente sua sanidade e xingá-los com palavras que seriam facilmente censuradas em um programa de tv, quando alguém puxou a cortina que separava os leitos.

 

“Isabella Swan”, disse o médico de voz doce e segura. Seu cabelo penteado para trás destacava os fios loiros e sedosos. Pensei em corrigi-lo, mas desisti cansada de repetir isso tantas vezes em um único dia. Se ele não tivesse escolhido medicina, teria sido um astro de cinema famoso. “Eu sou o doutor Cullen, mas você já deve saber”, seus olhos pousaram em Edward próximo a mim. 

 

“Carlisle, você acha que Bella terá alta agora?”, Edward perguntou.

 

Carlisle?

 

“Sim, só preciso que alguém assine sua liberação”, ele me encarou. 

 

“Ah por favor, não ligue para meu pai ou minha mãe. Isso só iria perturbá-los sem necessidade”.

 

“Desculpa, Bella. Mas eu já chamei o Chefe Swan”, e com isso ganhei uma noite de sermão. 

 

“Certo. Obrigada de qualquer forma…”, interrompi minha frase ao lembrar de seu nome. Eles não seriam capazes de comprar um médico para mudar seu nome apenas por uma brincadeira de adolescentes, seriam? “...Carlisle”, conclui com dificuldades.

 

“Logo estarei de volta. Passar bem”, disse ele acenando com a cabeça e dando um breve sorriso. Antes que ele virasse por completo, alonguei o pescoço e consegui ver que seu crachá correspondia ao seu nome, confirmando sua identidade.

 

“Não”, Edward apenas falou. Eu, que estava calçando meu tênis, olhei para seu rosto esperando que ele continuasse. “Eu não consigo ler sua mente e não fumo”.

 

“Que bom que estamos conversando de verdade agora”, respondi aliviada, virando-me para ele, ainda sentada.

 

“Consigo ler todas aqui nessa ala”, falou e sentou ao meu lado na maca, certificando-se de manter uma distância. “Aquela enfermeira está feliz porque conseguiu um aumento. A outra ali no balcão está odiando o nosso falatório. Enquanto aquele médico está pensando em sexo com a enfermeira que está feliz”. Sua cabeça inclinou para cada pessoa que ele leu, enfatizando sobre quem ele falava. Sobre as enfermeiras era difícil confirmar, mas o médico deixava pistas. Seu cabelo desgrenhado, o último botão da camisa aberto, o cinto um pouco frouxo para seu corpo e seus olhares para a enfermeira, confirmaram a acusação.

 

Edward olhava para mim de forma serena, mas sem esquecer a tensão. Seus olhos agora na luz do hospital refletiam ainda mais a cor âmbar da sua íris. Então, como um choque, liguei os pontos. Como neurônios ligados por terminações nervosas, tudo fazia sentido. Eu não havia repetido de ano porque esse era o meu ano correto dentro do meu contexto. Entendi porque estava em Forks e porque Lily não estava comigo. Os quatro nomes faziam sentido. A garota loira era Rosalie, a pequena era Alice, o magro era Jasper e o alto era Emmett. Conseguia ver porque Edward inflou as narinas quando me aproximei, sua pele fria e sólida e sua rapidez. Entendi como ele me salvou. Edward era um vampiro, o meu vampiro. Tudo era como eu tinha imaginado. Parecia minha escola, porque foi ela quem eu vi desde a primeira vez que li o livro e eu não me lembrava de nada por que… estava dentro do meu livro favorito. 

 

“Como pode ser possível?”, perguntei tão baixo e mesmo assim Edward ouviu. 

 

“Finalmente uma reação normal”, seu rosto pareceu aliviado. Ele não entendeu o sentido da minha pergunta, é claro. Como podia ser possível estar dentro de uma história?

 

“Edward. Você é Edward Cullen?”, perguntei com a voz trêmula. Minhas palavras eram uma mistura de animação com loucura. Meu rosto era o oposto do seu.

 

“Sou tudo isso que você já sabe, infelizmente”, então o alívio se dissipou. 

 

Olhei para Edward parado ao lado e não consegui acreditar no que via. Pela primeira vez, desde quando o vi na sala de biologia, essa foi a primeira que enxerguei ele de fato. Seu cabelo incomum estava igual como imaginei quando li sua autodescrição ao se olhar no espelho no livro. Na história, Edward se descreve como um monstro frio e rígido, mas sempre tive a memória criativa de que sua pele pálida era como mármore. Lindo.

 

Por um breve momento, e também pela primeira vez, me surgiu a preocupação de como conseguiria voltar para casa sem dizer a Edward, agora que compartilhamos esse segredo. 

 

Desviei minha atenção para o pequeno burburinho próximo a porta. O Dr. Cullen se aproximava com papéis nas mãos e um sorriso digno de capa de revista.  Senti uma pontada de raiva pelo tempo que levei até perceber tudo ao meu redor.

 

“Parece que você está com sorte. Seu pai está preso em uma ocorrência próximo a saída de Forks e não vai conseguir vir lhe buscar”, Carlisle era tão bonito quanto imaginei. Na verdade, ele era igual. Muito provavelmente isso se explica por eu ter criado a fisionomia dos personagens e cenas em minha mente. Esse era o melhor retroprojetor da humanidade. 

 

“Então como vou sair daqui?”, disse com um pouco de dificuldade e voltei a observar Edward e Carlisle em silêncio. Quase sorri com a ambiguidade da pergunta. Se eu não estivesse olhando para Edward, poderia dizer que ele nem estava ali. Seu corpo estava completamente imóvel enquanto ouvia seu pai falar, com um semblante sutil apesar de atento.

 

“Não se preocupe, ele pediu para um amigo que trabalha como segurança do hospital para assinar por ele”, os benefícios de ser filha do Chefe Swan estão vivos. “Esses são seus, Bella. Você tem como ir embora?”. ele continuou.

 

“Na verdade, não”, assumi.

 

“Eu levo”, disse Edward. “Se você quiser, é claro”, seus olhos estacionaram nos meus.

 

“Tudo bem”, agradeci por estar sentada e poder olhar para baixo, porque tinha certeza que minhas bochechas estavam vermelhas. Ele era EDWARD CULLEN. 

 

“Certifique-se que ela estará bem ao chegar em casa”, Carlisle advertiu Edward, que por sua vez assentiu com a cabeça. “Qualquer coisa retorne ao hospital, Bella. Tenha um bom dia”, disse o médico antes de sair e causar comoção nas enfermeiras próximo a porta novamente.

 

E é claro que ele estaria no seu Volvo que eu, tão cegamente, não associei os pontos pela manhã. Edward manteve uma temperatura confortável e permaneceu calado todo o trajeto até minha casa, ao som de Clair de Lune. Será que meus gostos reais refletiam nos de Edward? Queria tanto poder conversar sobre tudo que sei a seu respeito, mas tinha medo de não ter uma desculpa plausível para isso. 

 

“Eu moro aqui?”, perguntei quando ele estacionou o carro em frente à casa branca de madeira, dividida em dois andares, simplesmente igual a minha na realidade.

 

“Sim. Precisamos avisar algo novo ao meu pai?”, seu tom era de preocupação, mas precisei morder os lábios para esconder meu sorriso. Era engraçado.

 

“Não. Eu só… estava me certificando de não ter esquecido nada”, menti. Seu rosto iluminou um pouco e se virou para mim. 

 

“Preciso saber quem te contou sobre nós”, disse.

 

"Ninguém me contou”, era uma meia verdade, afinal de contas. 

 

“Posso ouvir um coração bater e sua barriga falar”, disse concentrado em suas mãos inquietas no volante.

 

Travei meu rosto em suas mãos também. Edward conseguia mesmo ouvir meu coração e, ridiculamente, minha barriga roncar. Já estava com fome desde quando saímos do hospital e agora queria poder enterrar minha cabeça em algum lugar. Sua frase fez o efeito contrário em meu estômago, deixando-o tímido. Mas teve o efeito de adrenalina em meu coração. Mais uma rodada de constrangimento. 

 

“Pele rosada e macia, temperatura quente. Com certeza você é humana”, fiquei chocada com sua linha de raciocínio e corada com a parte da pele macia. “Você é medium?”. 

 

“Não”, ri da sua suposição. "Não tem a ver com isso. É… complicado”, falei depois de voltar a cabeça para frente. 

 

“Acho que posso entender”, pressionou ele. 

 

Na minha realidade, me apaixonei pelo seu personagem. Sempre sonhei conhecer alguém como ele, mas garotos da minha idade não costumam chamar minha atenção. Nunca imaginei como seria ver seus olhos, ao invés de olhar para eles. Agora, na sua frente, tudo parecia possível e real. 

 

Como contaria para ele que seu universo não existe? Que tudo são apenas histórias de um livro? Queria manter uma linha mais sincera de omissões. Tudo me confundia, então falei sem pensar verdadeiramente.

 

“Você já quis muito uma coisa mesmo sabendo que ela seria impossível de acontecer?”, perguntei virando para vê-lo.

 

“Sim. Você não pode imaginar o quanto as coisas são impossíveis pra mim”, seus olhos profundos caminharam até minhas mãos, agora apoiadas nas pernas.

 

“Eu desejei isso no dia do meu aniversário e assim chegamos ao nosso presente”, contei sem mentir. 

 

"Você desejou saber se vampiros existiam?”, havia uma grande interrogação em seu rosto, mas tentei focar no meu plano.

 

“Desejei conhecer você”, tive que admitir, notando meu rosto queimar. 

 

Existem muitas diferenças entre mentiras e omissões, e apenas uma semelhança. Ambas, em algum momento, se tornam insustentáveis. Edward abaixou o rosto, mas acho que ele sorria porque sua bochecha estava levantada. 

 

“Não sei como, não sei de onde nem desde quando…”, começou a falar sem levantar a cabeça. “... mas sinto que te conheço”, seus olhos morderam meu rosto ao falar a última palavra. 

 

“Eu também”, sem dúvidas eu conhecia Edward. 

 

“Então, você desejou conhecer um vampiro?”, sua conclusão era em partes verdade. De resto, omissões. 

 

“Tipo isso”, concordei um pouco sem jeito. 

 

“Você parece ser uma péssima mentirosa, Isabella Swan”, disse ele devagar.

 

Tentei fugir daquela verdadeira acusação e me permiti sorrir. Sabíamos quem ele era sem precisar de mais explicações, apesar da minha curiosidade. Em vários momentos questionei se ainda voltaria para minha realidade e agora a pergunta era outra. Eu queria voltar à vida que eu tinha?

 

Edward me deixou em casa naquela tarde e notei que a casa não apenas por fora, mas por dentro também era igualzinha a minha casa verdadeira. Meu quarto tinha todos os detalhes que usei pra decorar, menos as fotos da minha mãe. Com o passar dos dias, com a ausência dela, criei uma teoria de que ela provavelmente estaria bloqueada em minha mente e por isso não a via em lugar algum nessa história. Charlie era o mesmo que eu conhecia. Poucas palavras, amor em gestos, pescarias e cerveja, faziam parte da personalidade que eu tanto amava.

 

Não tive sinal algum de Lily e também não consegui criar nenhuma teoria acerca dela. Sentia sua falta, precisava contar tudo isso para uma melhor amiga. Foi quando, na escola, me aproximei de Alice Cullen. No livro original, Edward e ela costumava implicar um com o outro, mas só assim pude perceber a grande amizade que eles sustentavam. Ela se tornou minha nova amiga.

 

Depois daquele dia, Edward e passamos a ter mais momentos juntos. Na aula de biologia ele se tornou minha dupla oficial, apesar do grupo de Mike não gostaram muito da nossa aproximação. Agora eu me sento junto aos Cullens. Ele me apresentou aos seus pais e eu o apresentei ao meu pai. Se aquilo fosse um sonho, pediria para ninguém me acordar. 

 

Nosso lugar favorito era a campina, um local que ele ia para se concentrar em seus pensamentos sem a intromissão da voz de outras pessoas. Foi lá que Edward me beijou pela primeira vez. Pensei que não poderia sobreviver a isso, quase desmaiei. Apesar de tudo estar perfeitamente bem, não conseguia esquecer que ele não sabia a história completa. Um dia eu sumiria sem dizer adeus e toda a nossa história, que já tinha alguns meses, iria acabar. E se eu nunca mais conseguisse ver Edward? Agora eu o amava e sabia que era recíproco. A dor de imaginar sua perda atormentava todas as noite em forma de pesadelos. 

 

Em uma noite, tive um dos meus piores sonhos no qual eu via Edward me chamar, mas nem ele conseguia me ver nem eu conseguia falar. Acordei com as mãos dele em meu rosto, chamando realmente meu nome. Seu nome estava entalado na minha garganta e eu voei em seu colo chorando. Assim que me acalmei, perguntei o que fazia ali e ele disse que gostava de me ver dormir tranquila e segura. Depois daquele dia, Edward passava a noite comigo desde o crepúsculo até o amanhecer. Todos os dias. 

 

Esta manhã, no sábado que não haviam trabalhos da escola, Edward e eu fomos até a campina. 

 

“Alice gostaria de saber se irá às bodas de Carlisle e Esme amanhã?”, Edward me perguntou descontraído, pondo seu rosto no sol refletindo o brilho incrível da sua pele. Eu nunca me cansaria de olhar para ele. 

 

“Porque ela pergunta se pode me ver chegar lá?”, perguntei empurrando seu ombro. Sua risada ecoou na minha cabeça.

 

“Relativas, às visões são relativas, lembre-se”, respondeu com um sorriso aberto em seus lábios, ao me olhar.

 

“Muito bem, eu irei”, acompanhei sua gargalhada. 

 

“Pergunto-me se um dia iremos comemorar nossas bodas”, meu devaneio era completamente verdadeiro, apesar de Edward saber apenas parte do todo.

 

“Bom, espero que sim. Talvez daqui alguns anos Alice consiga ver”, confessou ele.

 

“Eu diria sim. Mas sabe do que estou falando”, respondi um pouco irritada. De umas semanas para cá, estive perguntando a ele sobre a possibilidade de me tornar como ele. Edward negava a ideia de me transformar, alegando que monstros não tinham alma. Talvez eu devesse dizer para Edward que ele era meu anjo. Essa não era minha única dúvida, não era apenas a imortalidade e possibilidade de casar com ele que me deixava aflita. Não saber quando tudo isso acabaria ou se acabaria me torturava. 

 

“Eu sei que sim, minha Bella”, suas mãos emitiram um choque ao encostar em minha pele. Fechei meus olhos aproveitando sua aproximação e colecionando mais um momento em minha mente. 

 

“Você não sabe o quanto eu queria ficar aqui com você pra sempre, Edward”, eu pensei. 

 

Imaginar uma eternidade ao lado de Edward me fazia acreditar que tudo seria possível. Ele me transformaria, casaríamos e depois viveríamos nossa eternidade. Talvez eu não merecesse tudo isso, mas queria. Queria com todas as forças do meu âmago. 

 

“O que você disse, Bella?”, sua voz interrompeu minha imaginação, obrigando-me a abrir os olhos. Edward tinha um olhar corroído por aflição e dúvida. 

 

Permaneci muda por alguns minutos. Não sabia que poder isso tinha, mas a voz dele exercia algum tipo de força sobre mim. Apesar da fala calma, seus olhos eram tensos. Minha omissão já era insustentável. 

 

“Eu sinto muito, Edward”, comecei a falar. Minha voz tremia no mesmo ritmo que minhas mãos. Conseguia sentir meu coração pulsar na garganta. Ele permaneceu intacto. “Naquela noite dentro do seu carro, na frente da minha casa, eu não te contei tudo”, confessei.

 

“Por favor, fale. Não consigo te ouvir, Bella...”, seu olhar era suplicante. Agradeci por ele não poder ler minha mente. 

 

“Sei que pode se lembrar. Eu realmente pedi pra conhecer um vampiro, mas... ele era você porque eu já te conhecia, Edward”, confessei. Senti meus olhos começarem a arder. “Não se assuste por favor, mas eu já te amava muito antes de te ver… assim, pessoalmente”, enfatizei minha frase com um olhar arregalado para ele, sentindo as lágrimas caírem finalmente. Edward estava exasperado e preso dentro de uma cápsula de mármore. “Você… é parte de… um-do meu… livro preferido”, revelei sem conseguir o encarar. Ele não disse nenhuma palavra.

 

Depois de alguns minutos em que nada mudou, levantei minha cabeça e lá estava Edward, parado com a mesma expressão desesperada de antes. Mais uma vez ele parecia uma estátua. Seu rosto estava pausado em um tipo de confusão mental. Seria possível vampiros entrarem em choque? Edward talvez fosse o primeiro.

 

“Edward, diga alguma coisa”, supliquei ao tocar seu rosto. Ele recuou como quando nos conhecemos e se pôs de pé. 

 

“Vou levá-la para casa”, ele suspirou sem me olhar.

 

Tentei não invadir seu espaço e correspondi ao seu comando. O caminho até minha casa foi silencioso e frio, apesar do aquecedor ligado. Nenhuma música clássica tocava dessa vez. Era como se estivéssemos no vácuo. 

 

“Vejo você mais tarde?”, perguntei ao abrir a porta do carro. 

 

“Hoje não. Amanhã venho lhe buscar às 16h, pode ser?”, respondeu ainda sem conseguir me olhar. Aquilo estava me corroendo.

 

“Está ótimo”, respondi e quando vi que ele não se despediria, continuei. “Tchau”.

 

“Seja prudente, por favor”, então ele me lançou um olhar duro. Sai do carro e rapidamente Edward não estava mais lá.

 

À noite, foi impossível dormir e assim como no dia seguinte, passou vagarosamente. Edward chegou no horário marcado, lindo e com o cabelo bagunçado como sempre. Eu amava tudo nele. 

 

Seu rosto estava menos tenso que no dia anterior e conforme me aproximei, ousou soltar um meio sorriso. 

 

“Você está linda”, disse. 

 

“Não como você. Uau”, mordi os lábios ao sentir seu cheiro viciante. 

 

Na casa dos Cullens havia uma mesa com comida italiana, que seria só minha, claro. Durante a confraternização, os anfitriões fizeram questão de narrar algumas de suas histórias e aventuras ao longo das décadas. Diversas vezes percebi o olhar de Edward focado em meu rosto, apesar de conversar sem dificuldades com Emmett e Jasper. Mais tarde, Alice e Rosalie trouxeram um álbum de fotos de todos os casamentos de Esme e Carlisle ao longo das décadas. Era um casal lindo, igual nos filmes de cinema. Estava pronta para levar o prato que usei até a cozinha, quando Edward percorreu sua mão em minha cintura assegurando um arrepio em minha vértebra.

 

“Deixe aí, venha comigo”, disse depois de agarrar minha mão. Estava com saudades da sua temperatura consumindo a minha. Andei com ele até a varanda no segundo andar de sua casa. A vista era linda, apesar de simples. Altas árvores fechavam a floresta verde à nossa frente. 

 

Edward envolveu meu rosto em suas mãos antes de falar. 

 

“Bella, desculpe por ontem”, disse pausadamente. “Errei. Eu agi da pior forma que poderia agir com você. Por favor, me desculpe”, seu olhar era mais uma vez suplicante. Conseguia sentir as lágrimas lutarem novamente. 

 

“Edward, eu entendo os seus motivos”, respirei fundo tentando segurar o choro. “Mas, nunca, nunca mais faça isso, por favor”, agitei minha cabeça em desespero. 

 

“Nunca mais”, ele garantiu. Os segundos seguintes poderiam ser os únicos que eu viveria pela eternidade. Edward aproximou seus lábios dos meus e gentilmente me beijou. Conseguia sentir as lágrimas escorrerem mesmo com os olhos fechados. Como da primeira vez, o sangue ferveu em minha pele e minha respiração era incontrolável. Esqueci que éramos tão diferentes e entrelacei meus dedos em seu cabelo, puxando-o para mim permitindo que meus lábios afastassem os dele. O cheiro de Edward era viciante. Ele sorriu em minha boca antes de se afastar. Segurei sua camisa como forma de assegurar que ele não fosse para longe, mas ele já estava o suficiente para que eu entendesse que estava em mais uma das suas lutas internas. 

 

Aproveitei minha curiosidade para mudar de assunto. 

 

"Então, o que você fez ontem a noite?”, perguntei enquanto recuperava o ar e ele o controle. 

 

“Fiquei pensando em como faria para você não sumir. Quando disse que tudo isso fazia parte de uma história que você lia, só conseguia pensar que ia te perder e que precisava resolver isso”, relatou ele. 

 

“Pensei que você tivesse raiva de mim”, aproveitei para assumir. 

 

“Eu tive raiva, mas não de você”, Edward parecia pronto para hiperventilar. “Não vê como tudo isso é injusto, Bella? Esperei oitenta anos para te conhecer e você já me conhecia. Você me amou e agora que me tem, vamos nos perder? Eu esperaria mais oitenta anos se meu prêmio fosse ser de verdade como você é”, suas palavras não ajudaram e eu estava chorando novamente. 

 

“Eu quero você comigo, pra sempre”, foi tudo que consegui responder antes dele me abraçar. Edward acariciou meu rosto e manteve seu corpo abraçado ao meu. 

 

“Você pensou em alguma solução?”, perguntei quando lembrei que ele havia passado mais de 12 horas pensando sobre isso. 

 

“Não. Porém, tenho uma suspeita”, respondeu. Também não respondi, esperando que ele continuasse. “Você disse que tudo que fez foi desejar. Então, eu desejo muito mais do que permanecer existindo que eu possa viver ao seu lado para sempre”. Me ajustei ainda mais em seu corpo, feliz por tê-lo ali. 

 

“Você é minha vida agora, Bella. Eu te amo!”, sua voz apesar de tranquila, tinha uma necessidade gritada. Levantei meu rosto encharcado para lhe responder.

 

“Você sempre foi minha vida, Edward. Eu te amo!”, declarei sinceramente. “E eu desejo muito mais do que a minha vida que eu possa viver ao seu lado para sempre”, repeti. Fechei meus olhos em seu abraço e respirei fundo. 

 

Podia sentir o calor beliscar minha pele e vozes ao nosso redor me chamar. Abri meus olhos e notei que não estava mais de noite, era tarde e acima da minha cabeça estava Lily e meu pai assustados. Sentei rapidamente e olhei o local. Era meu quarto e minha mãe estava na porta incrivelmente surpresa. Edward não estava ali. Eu estava de volta. 

 

“Edward”, falei em voz alta esperando que ele me ouvisse. Silêncio.

 

“Querida, que bom que você acordou. Você nos assustou!”, disse Charlie. 

 

“Estamos tentando te acordar faz algumas horas, Bells. Você se sente bem?”, Lily tocava meu rosto enquanto falava. Minha mãe não falou uma palavra sequer, apesar de parecer aliviada. Não respondi nenhum dos dois. 

 

Eu tive os melhores meses da minha vida e só haviam se passado algumas horas. Edward estava certo, isso era muito injusto. 

 

As lágrimas fizeram por mim. Joguei meu corpo na cama e chorei a maior angústia, desespero e agonia que eu senti na vida. Todos me olhavam aflitos, mas eu não tinha palavras para explicar que tinha vivido o meu sonho e perdido o amor da minha vida. Pra sempre. 

 

Mais tarde, quando consegui controlar minha desesperança, todos me deixaram sozinha. Depois de um banho retornei ao meu quarto e procurei o livro. Até mesmo esse quarto ensolarado me lembrava as noites frias em que ele esteve aqui. Bem, naquele quarto. Lily ainda não havia levado e ele estava sob minha cadeira de balanço. Toquei sua capa e senti as lágrimas brotarem meus olhos novamente. Impedi. Engoli. 

 

Comecei a folhear, pulando para algumas partes marcadas com adesivo e lápis. Estava estranho. Notei que algumas palavras começaram a  tremer em minha vista. Sequei meus olhos, mas continuavam a tremer. Então, como magia, a aula de biologia que antes era cenário de um quase assassinato continha a seguinte frase:

Meu nome é Edward Cullen. Você deve ser Bella Swan.

 

Meu nome pintava as folhas daquele livro. Com as mãos trêmulas continuei a folhear e as mudanças não paravam. Edward e eu, de alguma forma que não sabemos, havíamos transformado a história e agora a nossa história estaria para sempre salva nas páginas do meu novo livro favorito.  

 

Para minha surpresa, a última página estava em branco. Tentei procurar algum tipo de rasura, mas parecia realmente nova. 

 

“Bella!”, ouvi Charlie me chamar depois da campainha tocar.

 

Fechei o livro e o coloquei sobre a mesa, quando percebi que sua capa também estava mudando. A face permanecia preta, mas a romã dava lugar a uma maçã sendo segurada por duas mãos. E o seu nome agora era outro. Crepúsculo.

 

Sorri com a certeza de que o nosso sonho de ser eterno, de alguma forma, havia se tornado realidade. 

 

“Bells”, meu pai chamou novamente. “Tem alguém aqui atrás de você”.

 

Saltei até a porta e gritei: “Já estou descendo. Quem é?”, perguntei. 

 

Sem rodeios e fazendo todas as células do meu corpo vibrar, meu pai respondeu: “Edward. Edward Cullen”. 


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado, porque eu amei escrever.

@rkpattinson



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